Marilena Chaui: Sociedade autoritária, ética e violência no Brasil

82.91k views8008 WordsCopy TextShare
Quintal Amendola
Conferência no Quintal Amendola - maio/2016
Video Transcript:
[Aplausos] então como eu tava dizendo eu começo a falar e eu vou me entusiasmando e uma coisa puxa a outra eu incum quem quem foi meu aluno sabe que eu faço isso eu preparo sér piro tá reclamando que ele não tá ouvindo ele quer saber se você pode usar o microfone posso posso a CL pode vir pra frente viu geral vamos ver se tá funcionando pera aí porque lá atrás realmente não V Paulo eu vou e a minha voz é excessiva eh eu vou pôr sobre a mesa e você vai me dizer se você tá
escutando e eu vou explicar porque que eu vou pôr sobre a mesa porque eu falo com as mãos eu pensei nisso isso Maravilha pronto você me escuta agora beleza perfeito eu tenho um recado do Michael para você bom então como eu tava dizendo eu vou me entusiasmando e uma coisa puxa a outra e fica meio sem fim então eu tenho eh usado como uma forma de eu me disciplinar é eh trazer o que eu vou dizer trazer por escrito né porque aí eu não perco o fio da meada né evidentemente Eu de vez em quando
vou olhar e prestar atenção porque se vocês estiverem cansados já sem muito interesse eu paro de ler e começo a falar né mas é mais para para não perder o fio da meada que eu fiz o texto eu gostaria de explicar o o o o o a organização desse texto o título é ética política e violência Então como o Espinoza diz que quando a gente conversa a gente traz as conclusões sem trazer as premissas e como o meu foco vai ser a questão da violência na sociedade brasileira eu achei que eu precisava trazer as premissas
do que eu vou falar então há um um primeiro tópico em que eu exponho em linha muito Gerais O que é que se entende por ética depois também em linhas muito Gerais O que se entende por política e em linhas muito Gerais O que se entende por violência porque vai ser a relação entre a oposição entre a ética a política e a violência que vai formar a moldura daquilo que eu vou dizer sobre a sociedade brasileira me referindo ao a um mito que existe na sociedade brasileira que é o mito da não violência né de
que os brasileiros são cordiais generosos acolhedores sem racismo sem machismo sem sem discriminação de classe é uma nós somos uma gente formidável que desconhece a violência Então esse mito que o motorista de táxi repete para você o A cabelereira repete para você o professor no ensino básico e no ensino médio repete pros alunos na universidade as pesquisas repetem coisas desse tipo ou seja há um senso comum na sociedade brasileira sobre a nossa não violência então para ficar claro o por que que eu chamo isso de um mito e em que termos Eu tô tratando da
questão da violência é que eu preciso dessa desse momento Inicial sobre o que seja a ética o que seja a política e o que seja violência tá então a ética numa perspectiva geral nós podemos dizer que a ética define antes de tudo a figura do agente ético e das suas ações e o conjunto de valores que balizam o campo de uma ação para que ela seja considerada uma ação ética o agente ético é pensado como um sujeito ético ou seja em primeiro lugar como um ser racional Ou seja é um ser que é consciente de
si e consciente daquilo que ele faz ele sabe o que ele faz ele também um ser livre que decide e escolhe o que ele faz e um ser responsável porque ele tem que responder por aquilo que ele faz assim consciência ou razão liberdade e responsabilidade definem a figura de um agente ético sem esses três elementos o sujeito em Ação pode ser tudo que a gente queira ele não é um sujeito ético a ação ética é balizada pelas ideias do bom e do mal do justo e do injusto da virtude e do vício Isto é por
valores cujo conteúdo pode variar de uma sociedade para outra ou na história de uma mesma sociedade mas que propõe sempre que existe uma diferença intrínseca entre as condutas que se realizam de acordo com o bem o justo e o Virtuoso e as condutas que não se realizam dessa maneira assim uma ação só será ética se ela for consciente livre responsável e só será virtuosa se ela for realizada em conformidade com o bom e o justo a ação ética só é virtuosa se ela for livre e ela só é livre se ela for autônoma a definição
mais tradicional da Liberdade na filos é que a a liberdade é a ausência de coação ou de constrangimento externo sobre um agente Essa Ideia vai ser acrescida depois pela filosofia estóica pela filosofia de Espinosa pela filosofia contemporânea ela vai ser acrescida de mais uma ideia não é só que para ser livre é preciso que o que o agente não esteja coagido constrangido submetido a uma força externa que o obriga a agir de uma determinada maneira mas é preciso que ele também não esteja coagido submetido dominado por forças internas irracionais que o levam a agir de
uma determinada maneira Ou seja que ele não esteja dominado pelas paixões né que ele não seja guiado pelo impulso pelo instinto e pela paixão porque nesse caso existe uma força interior que domina e coage o agente agir de uma determinada maneira então ele não é livre então a liberdade pressupõe ausência de constrangimento e coação externa e ausência de constrangimento e e coação interna um outro ser humano que age sobre mim ou eu mesma levada pelo meu meu meu instinto meus impulsos e as minhas paixões n uma ação só será ética se for consciente livre responsável
e só será virtuosa se for realizada em conformidade com o bom e o justo a ação ética só é virtuosa se ela for Livre e ela só será livre se ela for autônoma Isto é se ela resultar de uma decisão interior ao próprio agente e não vier da obediência a uma ordem a um comando ou a uma pressão externa externos ou a impulsos e paixões internos como a palavra autonomia indica né do grego autó si mesmo nomos a regra a norma né é autônomo aquele que é capaz de dar a si mesmo as regras e
as normas da sua ação evidentemente isso leva a perceber que há um conflito entre a autonomia do agente ético e a heteronomia dos valores morais da sua sociedade bom deixa esclarecer que embora a gente use ética e moral como termos sinônimos não são né a palavra ética vem de etiqu tá etiqu em grego e que se refere ao estudo e a formação do caráter Isto é obrigada Isto é aquilo que os gregos chamavam de o etos tá ótimo [Música] obrigado tá ótimo melhorou né então o que o o o éos é o caráter de alguém
e a a ética se refere à formação desse caráter para que ele a ação virtuosa Isto é a ação livre consciente responsável moral vem do latim mores que significa os costumes no caso dos dos Latinos A ideia era de que a formação do caráter consistia em educar cada um para se adequar e se conformar aos costumes estabelecidos pela tradição então quando modernamente a gente pensa a questão da ética e da moral a gente é levado a perceber que há um conflito Por quê a ética exige que o agente seja autônomo que ele seja capaz de
raciocinar avaliar deliberar e decidir alguma coisa por si mesmo a moral é o conjunto de normas regras e valores que a sociedade estabeleceu e portanto com relação ao agente a moralidade cria uma situação de heteronomia porque ela está fora do agente e Em vez dele agir em conformidade com a sua razão a sua liberdade a sua responsabilidade ele vai tender a agir para se adequar às regras ordens e costumes da sociedade de tal maneira que nós chegamos a um paradoxo no qual a moral impede a ética bom essa questão ocupou os filósofos por séculos existem
bibliotecas e bibliotecas para resolver esse problema eu vou apresentar de uma maneira muito simplificada o sentido geral da solução que foi encontrada pela filosofia para estabelecer uma uma possibilidade de adequação entre a ética e a moral então vocês me perdoem o que eu vou fazer aqui é um assassinato intelectual porque eu vou resumir em algumas linhas séculos de investigação então evidentemente isso leva a perceber que há um conflito entre a autonomia do agente ético e a heteronomia dos valores morais e dos fins que do exterior obrigam o agente a agir de uma determinada maneira e
por isso operam como uma força externa que o pressiona a agir segundo algo que não foi pensado nem determinado e decidido por ele mesmo em outras palavras o agente não age em conformidade consigo mesmo e sim em conformidade com algo que lhe é exterior e que constitui a moral da sua sociedade bom agora vem a o resumo da solução que foi encontrada esse conflito só pode ser resolvido se o agente reconhecer os valores morais da sua sociedade como se tivessem sido instituídos por ele como se ele pudesse ser o autor desses valores ou das normas
morais da sua sociedade Porque neste caso ele terá dado a si mesmo as normas e as regras da sua ação e poderá ser considerado autônomo por esse motivo várias éticas filosóficas tendem a resolver o conflito entre a autonomia do agente e a heteronomia dos valores e fins Morais propondo a figura de um agente racional Livre Universal o ser humano ou o Homem com H maiúsculo né ou seja este agente Universal é aquele com o qual todos os agentes individuais se sentem em conformidade no qual todos se reconhecem como das regras das normas e dos valores
morais então A ideia é de que é preciso libertar a a moral do caráter de exterioridade que ela tem com relação ao agente isso só pode ocorrer se as normas morais não aparecerem como uma tradição da sociedade como aquilo que a ao longo do tempo uma sociedade estabeleceu através dos seus costumes a os próprios valores da moral tem que aparecer como tendo sido racionalmente e livremente instituidos por um ser humano tomado na sua universalidade aí o que o que esse moviment consiste em transformar a moral num campo de interioridade como é o da ética sem
essa figura de um sujeito ético Universal que institui as regras as normas e os valores da moral nós não poderíamos nunca conciliar a autonomia ética e a heteronomia moral então a conciliação é feita por esse recurso a ideia de uma de uma humanidade tomada como algo Universal e na qual cada um de nós se reconhece e com a qual cada um de nós se identifica né em síntese uma ação só é ética se realizar a natureza racional livre e responsável do agente E se o agente respeitar a racionalidade a liberdade a responsabilidade dos outros agentes
de sorte que a subjetividade é é é sempre uma intersubjetividade a subjetividade e a intersubjetividade ética são ações a ética por isso não existe como um conjunto de um catálogo de valores de normas e de regras que existiria em algum lugar e ao qual nós vamos para saber o que fazer a ética Só existe como ação ela existe pela e na ação dos sujeitos individuais e sociais que são definidos por laços e por formas de sociabilidade que são criados também pela ação humana em condições históricas determinadas então com isso eu espero ter oferecido o primeiro
elemento da moldura que é a noção de ética o helenista Moses finley descreveu o nascimento da política dizendo que foi a invenção da política Isto é um acontecimento que distinguiu para sempre a Grécia e Roma em Face dos grandes impérios antigos por invenção Porque os gregos e os romanos não dispunham de modelos Mas eles tiveram que inventar a sua própria maneira de lidar com os conflitos e as divisões sociais a política foi inventada quando surgiu a figura do poder público por meio da invenção do direito e da Lei Isto é a instituição dos tribunais e
da criação de instituições públicas de deliberação e decisão Isto é as assembleias Gregas e o Senado romano esse surgimento só foi possível porque o poder político se constitui desmontando desfazendo o poder Imperial ou poder despótico que existia até então o poder político foi separado de três autoridades tradicionais que anteriormente definiam o exercício do Poder a autoridade do Poder privado o poder do chefe de família e que em grego se diz despotes Portanto o poder privado do chefe de família é um poder despótico e é por isso que quando se fala nas tiranias se diz que
é um despotismo né é o poder de um chefe sobre os outros n e é um poder de vida e morte então a autoridade do Poder privado ou econômico do de família em grego o despots de cuja vontade dependiam a vida e a morte dos membros da família dos membros da família a do Chefe militar que detinha o poder da guerra e da Paz e a do Chefe religioso que detinha o poder de estabelecer a relação entre o mundo e o sagrado essas três figuras da autoridade nos impérios antigos estavam unificados num chefe único o
rei então o rei Era o pai o comandante e o sacerdote ele en fechava nas suas mãos todo o poder e é isso que a invenção da política desmancha a política vai nascer para separar essas formas de autoridade né então a política nasceu portanto quando a esfera privada da economia e da vontade pessoal do pai a esfera da guerra e a esfera do Sagrado ou do Saber foram separadas e o poder político deixou de identificar-se com a figura do governante como Comandante e sacerdote representante humano de poderes divinos transcendentes a Grécia bom quando quando a
gente pensa na invenção da política e olha o Brasil Você tem vontade de chorar e de gritar né porque a ideia da Separação dessas formas de autoridade e a ideia de um poder público d e sobretudo a ideia de que não há uma Dominação e um controle de um sobre o outro é a ch do nascio da política ela nasce contra ISO e nós estamos vivendo uma situção em que a política se torou impossível ela seou impossí nesse momento no Brasil é como se todos os elementos do mundo Imperial tivessem aqui o boi portanto a
economia e o chefe de família a bala Portanto o comandante o chefe militar e a Bíblia a o domínio do Sagrado bom a Grécia inventou a democracia todos os homens adultos nascidos na Pólis eram cidadãos com isonomia e isegoria isonomia igualdade perante a lei isegoria igualdade de do direito à palavra na Assembleia né eles eram membros natos das assembleias e dos tribunais participantes da força militar que se realizava sob a forma da milícia Popular Isto é dos cidadãos armados Roma inventou a república pública ou a coisa pública era o solo de Roma distribuído entre as
famílias fundadoras da civitas os pais fundadores ou os Pates de onde vinham os patrícios os únicos que possuíam a cidadania assim a República Romana não era democrática como a Pólis grega mas era uma república oligárquica os homens adultos membros das famílias patrícias eram os cidadãos Isto é os membros do Senado das magistraturas e comandantes militares a pleb excluída da Cidadania ou da participação direta no governo fazia-se representar no senado pelo tribuno da plep ela elegia um Patrício que a representava e ela atuava politicamente por meio do plebiscito por meio do qual ela manifestava se manifestava
diretamente a favor ou contra uma decisão do Senado ou fazia propostas ao Senado além de participar da força militar na qualidade de comandada o que portanto é criado é o espaço público né o espaço público da discussão da deliberação e da decisão né nós estamos acostumados a aceitar a definição Liberal da democracia como regime da lei da ordem para garantia das liberdades individuais embora a democracia apareça justificada como um valor ou como um bem de fato ela encarada pelo critério da eficácia que é medida no plano legislativo pela ação dos representantes entendidos como políticos profissionais
e no plano do Poder Executivo pela atividade de uma elite de técnicos competentes aos quais cabe a direção do Estado a democracia em termos liberais é portanto reduzida a um regime político eficaz baseado na ideia da Cidadania organizada em partidos políticos festa no processo eleitoral de escolha dos representantes na rotatividade dos governantes e nas soluções técnicas para os problemas econômicos e sociis ora existe na prática democrática e nas ideias democráticas uma profundidade e uma verdade muito maiores e superiores ao que o liberalismo percebe e deixa perceber e em particular a o significado para além do
liberalismo dos três grandes direitos com os quais a política nasce a igualdade a liberdade e a participação nas decisões por exemplo o que significam as eleições O Liberal dirá que é a rotatividade dos governos alternância no poder não é isso as eleições simbolizam um dos pontos essenciais da democracia ou seja que o poder não se identifica com os ocupantes do governo não L pertence é sempre um lugar vazio que periodicamente os cidadãos preenchem com representantes podendo revogar seus mandatos se não cumprirem O que foi delegado para representar então a eleição não é a rotatividade alternância
no poder a eleição significa que Eu determino quem detém a soberania quem é o soberano o soberano é o povo o soberanos são os cidadãos é isso que que a que a democracia real significa é também uma característica nuclear da Democracia que somente se torne Claro o princípio Republicano da separação entre o público e o privado de fato com a ideia e a prática da soberania popular na democracia se distinguem o poder e o governo o poder pertence aos cidadãos que o exercem instituindo as leis e as instituições políticas ou estado e o governo é
uma delegação de poder por meio de eleições para que alguns no legislativo e no executivo assumam bom numa verdadeira democracia no judiciário também né assumam a direção da coisa pública em outras palavras somente na democracia os governantes não podem identificar-se com o poder nem apropriar-se privadamente dele o poder é um lugar simbólico sempre vazio pois pert aos cidadãos que significam as ideias de situação e oposição maioria E minoria cujas vontades devem ser respeitadas e garantidas pela lei significam que a sociedade não é uma comunidade una indivisa voltada para o bem comum e esse bem é
obtido por consenso ao contrário a democracia é admissão de que a sociedade está internamente dividida que as divisões são legítimas e que elas devem expressar-se publicamente em outras palavras a democracia é o único regime político que considera o conflito legítimo e institui meios para que ele possa se exprimir e é por isso que uma das outras tragédias que nós estamos vivendo é o fato de que nós não podemos trabalhar o conflito ele foi transformado em confronto E como diria Maquiavel do conflito nós passamos a guerra né então novamente a perda da política e da política
democrática né ou seja nós estamos vivendo um momento trágico trágico né da mesma maneira as ideias de igualdade e liberdade como direitos civis dos cidadãos vão muito além da sua regulamentação jurídica formal esses dois direitos significam que os cidadãos são sujeitos de direitos e que onde esses direitos não existam ou não estejam garantidos tem-se o direito de lutar por eles exigi-los e instituí-los é esse o ação da Democracia a criação de direitos e por isso mesmo como criação de direitos ela está aberta aos conflitos às disputas e aberta ao novo o que é um direito
um direito difere de uma necessidade ou uma carência e difere de um interesse uma necessidade uma carência é alguma coisa particular específica por exemplo alguém pode ter necessidade de água um outro grupo necessidade de comida um outro grupo necessidade do transporte um outro tem carência de hospitais um outro de escolas Há tantas necessidades e carências quanto os indivíduos e grupos sociais e elas são sempre específicas né um interesse também é algo particular e específico dependendo do grupo ou da classe social que o defende as necessidades ou carências assim como os interesses tendem a ser conflitantes
porque eles exprimem as especificidades de diferentes grupos e classes sociais um direito porém ao contrário das necessidades carências e interesses nunca é particular e específico um direito é geral e universal ele é válido para todos os indivíduos todos os grupos e todas as classes sociais E mesmo quando eu quando a gente fala no direito de uma minoria né direito das mulheres o direito dos homossexuais o direito dos indígenas o direito dos negros etc esse direito é universal porque ele é conhecido como um direito pela sociedade inteira então a marca de um direito é a sua
universalidade seja porque ele é universalmente válido para todos seja porque ele é universalmente reconhecido como Válido por todos e por isso um direito não se confunde com uma necessidade uma carência e um interesse e nós vamos ver que além de não se confundir com isso ele vai se opor a alguma outra coisa assim por exemplo a carência de água e de comida manifesta algo mais profundo o direito Universal à Vida o direito de moradia ou de transporte manifesta algo mais profundo o direito a boas condições de vida da mesma maneira o interesse por exemplo dos
estudantes exprime algo mais profundo o direito à educação e à informação em outras palavras se nós tomarmos as diferentes carências e os diferentes interesses nós veremos que sob eles estão pressupostos direitos e um direito justamente por sua universalidade se opõe ao privilégio um privilégio é sempre particular e nunca pode se universalizar um privilégio que se universaliza não é um privilégio o direito é aquilo que vale para todos o privilégio é aquele que é posse só de alguns onde houver privilégio não tem democracia justamente porque opera com o conflito e com a criação de direitos a
democracia não se confina a um setor específico da sociedade no qual a política se realizaria o estado mas ela se ela se determina como ela determina a forma das relações sociais e de todas as instituições ou seja ela é aquele regime político que é também uma forma social da existência coletiva a democracia mais do que um regime político se refere a sociedade democrática dizemos então que uma sociedade e não um simples regime de governo é democrática quando além de eleições partidos políticos divisão dos três poderes da República respeito a à vontade da maioria e das
minorias institui algo mais profundo que é condição do próprio regime político Ou seja quando a sociedade institui direitos e essa instituição é uma criação social de tal maneira que a atividade democrática social é verdadeiramente uma atividade histórica isto éa está aberta ao tempo ao possível às transformações ao novo e ela se realiza como um contrapoder social que determina dirige controla e modifica a ação estatal e o poder dos governantes Isto é os movimentos sociais em outras palavras só há democracia com a ampliação contínua da Cidadania e por esse motivo a cidadania que nas chamadas democracias
liberais se define apenas pelos direitos civis numa democracia social real ao contrário amplia o sentido dos direitos abrindo o campo das lutas populares por direitos econômicos direitos sociais direitos culturais opondo-se aos privilégios da classe dominante bom se é isso a ética e se é isso a política vamos ver um dos elementos que bloqueiam a ética e a política e se opõem a ela que é a violência posso continuar s etimologicamente violência vem do latim vis força e significa um tudo o que usando a força tudo que age usando a força para ir contra a natureza
de algum ser violência é desnaturar dois todo ato de força contra a espontaneidade a vontade e a liberdade de alguém violência é coagir constranger torturar brutalizar três todo o ato de violação da natureza de alguém ou de alguma coisa que é valorizada positivamente por uma sociedade A violência é o ato de violar alguém ou alguma coisa quatro todo o ato de contra aquelas coisas e ações que alguém ou uma sociedade define como justas e como um direito a violência é espoliar e praticar deliberadamente a injustia quinto consequentemente a violência é um ato de brutalidade sevícia
abuso físico abuso psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e relações sociais definidas pela opressão pela intimidação pelo medo e pelo terror A violência é a presença da ferocidade nas relações com o outro Enquanto o outro por ele ser um outro ela é o oposto da coragem e da porque Como já dizia Mont A violência é o exercício da Crueldade se é isso A violência é evidente que ela se põe se ela se opõe à ética porque ela trata seres Racionais sensíveis dotados de linguagem de responsabilidade Liberdade como se eles fossem coisas Isto é irracionais
insensíveis mudos inertes passivos ou seja tratar um outro ser humano como uma coisa tratar um Sujeito como um objeto é uma violência que torna impossível a ética né na medida em que a ética é inseparável da figura do sujeito racional voluntário livre responsável tratá-lo como se fosse desprovido de razão vontade liberdade e responsabilidade é tratá-lo não como um humano mas como uma coisa fazendo-lhe violência nos cinco sentidos que nós demos a essa palavra da mesma maneira é evidente que a violência se opõe à política a política democrática uma vez que essa se define pela figura
do sujeito político como um sujeito de direitos que age pela EA de direitos contra a dominação dos privilégios e que impede o exercício do Poder pela força pela opressão pela intimidação pelo medo e pelo terror bom se é isso a violência que acontece agora conosco eu passo então ao meu penúltimo tópico O Mito Da não violência brasileira há no Brasil um mito muito Poderoso o da não violência brasileira Isto é a imagem de um povo Generoso Alegre sensual solidário que desconhece o racismo machismo a homofobia que respeita as diferenças étnicas religiosas e políticas sem preconceitos
porque não discrimina as pessoas por sua classe social nem por suas escolhas sexuais religiosas ou profissionais por que eu estou empregando a palavra mito em vez de simplesmente falar numa ideologia na ideologia da não violência eu estou empregando a palavra mito com os seguintes sentidos são os sentidos que vêm da antropologia e da psicanálise então em primeiro lugar como indica a palavra grega mitos O mito é uma narrativa da origem que é reiterada em inúmeras narrativas derivadas que repetem a matriz da primeira narrativa a qual entretanto já é uma ante de uma outra narrativa cuja
origem se perdeu então o mito é a narrativa da origem que repete uma narrativa sobre a origem que se perdeu lá na origem né então o grande mito brasileiro ou nosso mito fundador elaborado desde a época das grandes descobertas marítimas é o de que o Brasil é uma terra abençoada por Deus destinada a um grande futuro cadinho de todas as raças generoso com os seus e acolhedor com os estrangeiros essa narrativa da origem que começa já no século X opera no 18 e se consolida no 19 e no 20 tem a função de assegurar que
a sociedade brasileira conserva sua identidade originária so as transformações históricas em segundo lugar segundo segundo motivo de usar o mito como explica a antropologia o mito opera com antinomias tensões e contradições que não podem ser resolvidas sem uma profunda transformação da sociedade no seu todo e por esse motivo essas antinomias essas tensões essas contradições são transferidas para uma solução imaginária que torna suportável e justificável uma realidade que é tensa conflituosa e contraditória o mito tem assim uma função imaginária de Compensação eu não posso resolver efetivamente as contradições no plano da realidade eu os resolvo no
plano imaginário no plano simbólico através do mundo mantendo portanto as contradições as tensões e os conflitos em terceiro lugar o mito cristaliza-se em crenças que são interiorizadas num grau tal que não são percebidas pelos sujeitos sociais como crenças mas são tidas não só como uma explicação da realidade Mas como a própria realidade ou seja o mito substitui a realidade pela crença na realidade narrada por ele e torna invisível a realidade existente e em quarto lugar o mito resulta de ações sociais e produz como resultado outras ações sociais que o confirmem Isto é Umo produz valores
ideias comportamentos e práticas que o reiteram na e pela ação dos membros da sociedade ou se o mito não éles um simples pensamento simples crença O mito é forma de aos indagar como o mito da não violência brasileira pode persistir sob o impacto da violência real cotidiana conhecida de todos e que nos últimos tempos é ampliada por sua divulgação e difusão pelos meios de comunicação de massa ora é justamente por ser um mito no sentido que demos a esse conceito que a não violência pode ser mantida a despeito da realidade em outras palavras O Mito
Da não violência permanece porque graças a ele admite-se a existência factual da violência e ao mesmo tempo se podem fabricar explicações para denla no instante mesmo em que ela está sendo admitida assim é exatamente como um modo de interpretação brasileira da violência que o mito encontra meios para se conservar olhemos por um instante o fenômeno Espetacular em que a violência é negada no instante mesmo em que ela está sendo exibida produção de várias imagens da violência que ocultam a violência real esse ocultamento é impressionante porque ele ocorre no próprio instante em que os meios de
comunicação de massa expõem e exibem atos de violência se nós fixarmos a nossa atenção no vocabulário empregado pelos meios de comunicação televisão imprensa rádio nós observaremos que os vocábulos se distribuem sempre de uma maneira sistemática fala-se em chacina e massacre para se referir ao assassinato em Mata em massa de pessoas indefesas como crianças favelados encarcerados indígenas sem terras fala-se em indistinção entre crime e polícia para se referir à participação das forças policiais no crime organizado particularmente o narcotráfico e os sequestros fala-se em guerra civil tácita para se referir ao movimento do sem terra aos embates
entre garimpeiros e indígenas policiais e narcotraficantes aos homicídios e Furtos praticados em pequena e larga escala mas também para se referir ao aumento do contingente de desempregados os habitantes de rua e para falar dos acidentes de trânsito fala-se em vandalismo para se referir a assaltos a lojas mercados Supermercados depredações de edifíci públ quebra quebra de ônibus e trens no transporte público fala-se em fraqueza da sociedade civil para referir-se à ausência de entidades e organizações sociais que articulem demandas reivindicações críticas e fiscalização dos poderes públicos e fala-se em debilidade das instituições políticas para referir-se à corrupção
nos três poderes da República a lentidão e o segredo no poder judiciário e a falta da modernidade política essas imagens TM a função de oferecer uma imagem unificada da violência que seria uma espécie de núcleo de todas essas imagens da violência chacina massacre vandalismo guerra civil tácita e indistinção entre polícia crime pretendem indicar qual é o lugar onde a violência se situa e se realiza é lá ou seja essas imagens t a tarefa de circunscrever a lugares onde existe violência a a as expressões fraqueza da sociedade civil debilidade das instituições políticas são apresentadas como impotentes
para coibir a violência que portanto estaria localizada num outro lugar e não nas próprias instituições sociais e políticas assim o conjunto dessas imagens indica que a que há uma divisão entre dois grupos de um lado estão os grupos portadores de violência e de outro lado os grupos impotentes para combatê-la Então tá tudo organizado é tudo Claro não há problema nós podemos falar da violência e exibi-la porque nós estamos circunscrevendo nós estamos determinando Quem são os seus portadores e estamos lamentando que não haja força para combatê-la e ficamos tudo como Dantes no de Abrantes né ora
essas imagens operam de maneira a assegurar a conservação do mito da da não violência por intermédio de um conjunto de mecanismos que agora sim são mecanismos ideológicos que afirmam e negam a presença da violência na nossa sociedade o primeiro mecanismo ideológico é o da exclusão afirma-se que a nação brasileira é não violenta e que se houver violência esta é praticada por gente que não faz parte da Nação mesmo que tenha nascido no Brasil e viva no Brasil o mecanismo da exclusão produz a diferença entre um nós brasileiros não violentos e um eles não brasileiros violentos
eles portanto não fazem parte do nós e eles estão excluídos da boa gente brasileira o segundo mecanismo é o da distinção distingue-se entre o essencial e o acidental por Essência os brasileiros não são violentos portanto a violência é a Mental é um acontecimento efêmero ela é uma onda uma epidemia um surto é essa Essas palavras são muito significativas que essas palavras indicam que se trata de algo passageiro algo que acontece na superfície da sociedade por um tempo limitado e se vai E por que que isso pode ir embora porque é por Essência a sociedade não
é violenta né Então ela é uma doença passageira uma epidemia um surto localizado na superfície de um tempo e de um espaço definido Ou seja a violência é um episódio limitado no tempo e no espaço superável e que deixa intacta a nossa essência não Violeta o terceiro mecanismo é jurídico a violência fica circunscrita ao campo da da delinquência e da criminalidade o crime sendo definido como ataque à propriedade privada o furto o roubo seguido de assassinato o latrocínio esse mecanismo permite por um lado determinar Quem são os agentes violentos de um modo geral ladrões e
assassinos que como todos sabem pertencem às classes populares e por outro lado legitim ação policial contra a população pobre os sem terra os negros os indígenas as crianças sem Infância os moradores de rua os favelados eles todos fazem parte do Bloco do eles e são eles que são os portadores da criminalidade e a e a violência se reduz a criminalidade né a ação policial Pode às vezes ser considerada violenta ela recebe então o nome de China massacre quando de uma só vez e sem um motivo Claro o número de assassinados é muito elevado Se for
pouca gente não precisar nem tomar conhecimento no restante das vezes Portanto o assassinato policial é considerado normal e natural uma vez que se trata de proteger Contra Eles proteção também conseguida por meio dos agentes de segurança fornecidos por empresas privadas pela presença de cães e dispositivos eletrônicos o quarto mecanismo é sociológico atribui-se a onda epidemia o surto de violência ao momento definido no tempo aquele no qual se realiza uma transição para modernidade das populações que migraram do campo para a cidade ou das regiões mais pobres o norte e o Nordeste para as mais ricas o
sul e o Sudeste a migração causaria o fenômeno temporário da anomia no qual a perda das formas antigas de sociabilidade ainda não foram substituídas pelas formas novas modernas fazendo com que Os migrantes poes tendam a praticar atos de violência que desaparecerão quando estiver completada a sua transição para a modernidade aqui não só a violência é atribuída aos pobres aos migrantes aos desadaptados como ela é consagrada como alguma coisa temporária que terminará último mecanismo ideológico é o da inversão do Real Graças produção de máscaras que permitem dissimular comportamentos ideias e valores violentos como se eles fossem
não violentos assim por exemplo o machismo é colocado como proteção natural a natural fragilidade feminina proteção que inclui a ideia de que as mulheres precisam também ser protegidas de si próprias pois como todos sabem o estupro é um ato femino de e SEDU o paternalismo branco é visto como proteção para auxiliar a natural inferioridade dos negros e dos índios a repressão contra os homossexuais é considerada uma proteção natural aos valores sagrados da família e agora evidentemente da saúde e da vida de todo o gênero humano ameaçada pela ID trazida pelos degenerados a destruição do meio
ambiente é orgulhosamente vista como sinal de progresso e civil ação etc eu poderia prosseguir Bastando eu elencar os pontos com que o boi a bala e a Bíblia pretendem destruir todos os direitos conquistados é é esse conjunto aqui que está na boca de todos eles né Em resumo a violência não é percebida ali mesmo onde ela se origina ali mesmo onde ela se define como violência propriamente dita Isto é como toda prática e toda ideia que reduza um sujeito à condição de coisa que viole interior e exteriormente o ser de alguém que perpetue relações sociais
de profunda desigualdade Econômica social política e cultural Isto é a ausência de direitos mais do que isso a sociedade brasileira não percebe que as próprias explicações oferecidas para a violência são violentas porque ela está cega para o lugar efetivo da produção da violência Isto é a estrutura da sociedade brasileira dessa maneira as desigualdades econômicas sociais políticas e culturais as exclusões econômicas políticas e sociais a corrupção como forma de funcionamento das instituições a o racismo o machismo a intolerância religiosa sexual e política não são consideradas formas de violência Isto é a sociedade brasileira não é percebida
como estruturalmente violenta e a violência aparece como um fato esporádico na sua superfície e com isso então eu passo ao meu último tópico tô tô acabando o fundamento da violência brasileira a sociedade autoritária para nós compreendermos o que se passa na nossa sociedade nós precisamos passar da violência física à violência simbólica Isto é a maneira como a nossa sociedade se estrutura em termos de e agora estou me referindo efetivamente aos mores né a a essa moralidade vigente como senso comum nosso né valores normas e regras que organizam as relações sociais e políticas em outras palavras
nós precisamos passar à cultura no sentido amplo do termo Isto é como definição simbólica do espaço o próximo e o distante o alto e o baixo do tempo o passado o presente e o futuro as distinções entre o bem e o mal o verdadeiro e o falso o justo e o injusto O Belo e o feio o sagrado e o profano o possível e o impossível Esse é o campo da Cultura né evidentemente nós não podemos aqui percorrer todos esses valores mas simplesmente supor a presença de alguns deles como estruturantes das relações de violência no
Brasil conservando as marcas da sociedade Colonial escravista a sociedade brasileira é marcada pelo predomínio do espaço privado sobre o espaço público e tendo no Centro A Hierarquia familiar é uma sociedade etimologicamente e sociologicamente despótica fortemente hierarquizada em todos os seus aspectos nela as relações sociais e intersubjetivas são sempre realizadas como relação entre um superior que manda e um inferior que obedece isso aparece na na pergunta mais simples durante uma altercação Você sabe com quem está falando meu marido é estadunidense E ele disse isso seria incompreensível para um estadunidense porque numa numa altercação o um fala
pro outro quem você pensa que você é aqui não você sabe com quem está falando imediatamente a relação é uma relação de hierarquia entre um superior e um inferior na coisa mais simples na padaria no supermercado na feira no trânsito é assim a relação social a relação social básica é entre um superior e um inferior né então nela as relações sociais intersubjetivas são sempre realizadas como relação entre um superior que manda e um inferior que obedece as diferenças e assimetrias são sempre transformadas em desigualdades que reforçam a relação de mando e obediência o outro jamais
é reconhecido como um sujeito tanto no sentido ético quanto no sentido político do termo ele é jamais reconhecido como uma subjetividade e como uma alteridade as relações entre os que se julgam iguais são de parentesco de compadrio Isto é de cumplicidade e entre os que são vistos como desiguais o relacionamento toma a forma do favor da clientela da tutela da cooptação e quando a desigualdade é muito marcada assume a forma da opressão e da repressão é uma sociedade que naturaliza as desigualdades econômicas e sociais as diferenças étnicas que são postas como desigualdades naturais entre superiores
e inferiores Assim como naturaliza as diferenças religiosas E de gênero levando à naturalização de todas as formas visíveis e invisíveis da violência micropoderes capariz se capariz em toda a sociedade e capariz através deles o autoritarismo que partindo da família e na família se espraia para a escola o hospital as relações de trabalho os meios de comunicação o comportamento social nas ruas o tratamento dado aos cidadãos pela burocracia estatal cristaliza-se nas instituições públicas e no desprezo do mercado pelos direitos do consumidor a violência policial é apenas mais um caso de despotismo Que estrutura toda a nossa
sociedade ou seja a violência policial não é uma exceção escandalosa mas é parte da regra da sociabilidade brasileira que opera com o encolhimento do espaço público e o alargamento do espao privado Portanto o encolhimento do espaço da Lei e do direito e o alargamento do espaço do interesse e do privilégio né Anela o fascínio pelos signos de prestígio e de poder que marcam a presença dos privilégios na relação com o outro como uma relação entre um superior e um inferior é o caso por exemplo da importância dada ao diploma universitário não como sinal de conhecimento
mas como signo de status social da mesma maneira há uso de títulos honoríficos sem qualquer relação com a sua possível pertinência ou atribuição o caso mais correnti sendo o uso de Doutor quando na relação social o outro se sente ou é visto como superior e doutor é o substituto Imaginário para antigos TT de nobreza Já que eu não posso chamá-lo de Senhor Conde senhor Barão Senor marqus doutor né esse mesmo Fascínio por status e prestígio aparece na manutenção da criadagem doméstica cujo número ao aumentar aumenta o prestígio e o status do seu detentor pesquisas recentes
revelam que o Brasil é o país que tem o maior número de serviçais domésticos e sobretudo é o país no qual as casas dominantes possuem um número absurdo de servidores domésticos eu pensei que fosse a Colômbia mas somos nós eu tenho uma amiga colombiana e uma das coisas que ela estranhava no Brasil é você chega na sua casa e em vez de você apitar um treco lá e os servidores viram abrir o portão para você entrar e para entrar o carro tal você aperta um treco e você mesma abre você entra ela sempre dizia mas
e para que para que os empregados e se você chega a 1 hora da manhã o empregado tá lá de plantão Bogotá o cara fica de plantão esperando cara chegar eu imagino se a pesquisa diz que nós somos pior que a Colômbia que os aqui no Aqui no Brasil é a mesma coisa né e ninguém considera isso uma violência é É disso que eu tô falando né a a sociedade é tão violenta que ela considera que isso é prestígio né É é um horror o Brasil é um horror bom a sociedade brasileira está polarizada entre
a carência das camadas populares e o privilgios dominantes e dirigentes sendo Espantos que nos útimos anos decia ti2 milhões daites Dias Moria durante 500 anos essa miséria foi considerada natural ou simplesmente ignorada dando a medida da violência da nossa sociedade os acontecimentos de 2016 operam para repor a violência econômica e social a a o retorno da Conservação da polarização extrema entre a carência e o privilégio valendo-se das operações do Poder Judiciário e do Poder Legislativo como instrumento privados para o exercício da violência desinstitucionalizar de fato o autorismo autoritarismo vem se exprimir no modo de funcionamento
da política os partidos políticos são Clubes privs das oligarquias regionais arrebanhando a classe média em torno do Imaginário autoritário Isto é a ordem e a segurança e mantendo com os eleitores quatro tipos principais de relações a cooptação o valor o o favor a clientela a tutela e a promessa salvacionista por via fundamentalista Messiânica o estado é percebido apenas sobre a sua face do Poder Executivo os poderes legislativo e judiciário ficam reduzidos ao sentimento de que o legislativo é corrupto e o judiciário injusto a identificação entre o estado e o Executivo a ausência de um legislativo
confiável e o medo que se tem do Judiciário somado ao autoritarismo social levam ao desejo permanente de um estado forte para a salvação Nacional por isso não é surpreendente que o processo de democratização do país não tenha alterado o sistema partidário e o sistema eleitoral deixados pela ditadura civil militar graças ao mito da não violência Nós deixamos na sombra o fato brutal de que vivemos numa sociedade autoritária verticalizada hierarquizada e por isso mesmo violenta que bloqueia a concretização de uma vida ética de um sujeito ético de uma vida política de um sujeito político Isto é
de uma intersubjetividade verdadeiramente ética e democrática [Aplausos] obrigada eu vou eh encerrar com uma uma colocação feita por um jovem de 17 anos no século 16 na França chamado etien de la buess que escreveu um texto um ensaio que ficou conhecido com o n medir o discurso contra a servidão voluntária eu Laci pergunta como explicar que países inteiros cidades inteiras pessoas se submetam a um tirano quando na verdade o Tiano só Man pela força das Armas depois o não ele usa as armas porque ele tem medo é ele que tem medo se ele não tivesse
medo el não precisaria das Armas A questão não é tanto o de saber porque que todos obedecem ao tirano isso é o deos igual ao de qualquer um de nós ele tem dois olhos duas orelhas uma boca duas mãos e dois pés como explicar que ele possa espionar o país inteiro Quem deu para ele milhares de olhos com que ele nos espiona Quem deu para ele milhares de ouvid com os quais ele nos espiona Quem deu para ele esses milhares de mãos com os quais ele nos esgana Quem deu para ele esses milhares de pés
com os quais ele nos esmaga e o nab diz mas fomos nós os mil olhos do tirano ele recebeu de nós os mil ouvidos do tirano ele recebeu de nós as mil mãos do tirano ele recebeu de nós os 1 pés que ele tem ele recebeu de nós derrubar um tirano não significa que eu tenha que lutar contra ele eu derrubo um tirano se eu não der para ele aquilo que ele tá pedindo se eu não der para ele os meus olhos os meus ouvidos as minhas mãos os meus pés a minha boca meu coração
e meu pensamento contra a servidão voluntária [Aplausos]
Related Videos
Dando a Real com Leandro Demori recebe a filósofa Marilena Chaui
53:20
Dando a Real com Leandro Demori recebe a f...
TV Brasil
125,389 views
Marilena Chauí: O mito da não-violência brasileira
25:59
Marilena Chauí: O mito da não-violência br...
CERP-SC Centro de Estudos em Reparação psíquica SC
26,197 views
Marilena Chauí: No Brasil de Bolsonaro tudo que remete à democracia parece desaparecer
41:01
Marilena Chauí: No Brasil de Bolsonaro tud...
TV Fórum
43,336 views
Jessé Souza explica divisão de classes no Brasil I Identidade Geral
15:28
Jessé Souza explica divisão de classes no ...
Revista Novo Tempo
182,060 views
Espaço, tempo, mundo virtual | Marilena Chauí
44:08
Espaço, tempo, mundo virtual | Marilena Chauí
Café Filosófico CPFL
114,252 views
A violência no Brasil explicada por Sergio Adorno | Entrevista Completa
33:43
A violência no Brasil explicada por Sergio...
Nexo Jornal
225,911 views
Como pensar a democracia? - Aula com Marilena Chauí
28:50
Como pensar a democracia? - Aula com Maril...
Casa do Saber
47,793 views
TV UFBA na íntegra - Marilena Chaui - Contra a universidade operacional e servidão voluntária.
1:20:54
TV UFBA na íntegra - Marilena Chaui - Cont...
TV UFBA
13,052 views
Escritos de Marilena Chaui | O que é cultura?
10:03
Escritos de Marilena Chaui | O que é cultura?
Grupo Autêntica
167,820 views
QUEM SOMOS NÓS? | Que País é Esse? com Jessé Souza
1:13:25
QUEM SOMOS NÓS? | Que País é Esse? com Jes...
Quem Somos Nós?
137,834 views
Presentación del libro "La nervadura de lo real" de Marilena Chaui
1:28:57
Presentación del libro "La nervadura de lo...
Fondo de Cultura Económica de Argentina
2,648 views
“Eu não vi o golpe, eu ouvi o golpe”, lembra Paulo Arantes
1:58:02
“Eu não vi o golpe, eu ouvi o golpe”, lemb...
TUTAMÉIA TV
19,318 views
Marilena Chaui: Golpe, democracia e autoritarismo no Brasil
20:07
Marilena Chaui: Golpe, democracia e autori...
TV Boitempo
24,805 views
Inauguração de megaporto no Peru apavora governo Trump
33:40
Inauguração de megaporto no Peru apavora g...
TV Fórum
6,499 views
Contra a Universidade Operacional – Marilena Chauí
1:40:33
Contra a Universidade Operacional – Marile...
Ensp Fiocruz
22,139 views
O que é ética? - Clóvis de Barros
6:29
O que é ética? - Clóvis de Barros
Clóvis de Barros
19,909 views
Roda Viva Retrô | Marilena Chauí | 1999
1:25:14
Roda Viva Retrô | Marilena Chauí | 1999
Roda Viva
97,590 views
Escritos de Marilena Chaui | Sobre a violência
9:12
Escritos de Marilena Chaui | Sobre a violê...
Grupo Autêntica
34,354 views
Marilena Chaui, Marcio Pochmann, Emir Sader e Lula: "10 anos de governos pós neoliberais no Brasil"
1:16:37
Marilena Chaui, Marcio Pochmann, Emir Sade...
TV Boitempo
61,113 views
Conferência Prof. Marilena Chauí: "Espinosa e a criação do método crítico de leitura"
1:41:23
Conferência Prof. Marilena Chauí: "Espinos...
LELPraT - Departamento de Filosofia da Unifesp
66,152 views
Copyright © 2024. Made with ♥ in London by YTScribe.com