Leda Maria Martins – Trajetórias

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Itaú Cultural
Pesquisadora indispensável para uma investigação do teatro contemporâneo no país e para a nossa perc...
Video Transcript:
[Música] aprender pelo Desejo de saber sempre me seduziu desde muito pequenina a sonoridade e as letras me encantavam os cânticos e ritmos dos reinados a poesia e narrativa das civilizações as inteligências da Matemática tudo isso a m fascina e instrui ler escutar escrever e cantar são Lavras que me enterc e emam cuias e folhas molhadas de afeto eternos [Música] refúgios sou Lea Maria Martins professora dramaturga escritora poeta e con gadeira reinadeira como nós gostamos de dizer são as coisas que eu tenho feito durante toda a minha vida esse é meu universo universo Sempre ligado às
Artes ligado à música ao teatro a performance a literatura em particular né então esta é uma trajetória vamos dizer assim híbrida né que Alia tanto os saberes que vem da tradição banto dos reinados daquilo que herdamos dos nossos antepassados africanos e vem também da experiência na escola como aluna como docente como pesquisadora essas duas fontes de saber fontes de deleites fontes de fruição fontes de pensamento fontes de conhecimento fontes de comoção fontes de tudo que me afeta andam juntas comigo não é alguma coisa que se separa né venho de uma família muito pobre e então
eu devo muito a minha mãe com todo o esforço físico de trabalhar até de madrugada para que eu pudesse estudar que as condições que ela tinha na época tanto quando eu era criança e na adolescência eram todas elas vamos dizer assim contrárias a que uma pessoa vindo daquelas condições socioeconômicas né pudesse eh fazer a trajetória acadêmica que eu fiz ela já era da família com cadeira ela precisou fazer uma promessa para mim porque eu tive um problema de saúde muito sério e a promessa era que eu fosse princesa de Nossa Senhora do Rosário durante 7
anos mas ela não sabia onde havia reinado aqui em Belo Horizonte então informaram para ela que lá no Jatobá havia um reinado eu fui princesa Conga durante não apenas sete mas 10 anos em 92 a minha mãe foi coroada de Nosa senora das Mercês foi uma rainha muito amada porque além de uma grande cozinheira Ela é uma grande padeira a rainha de Nossa Senhora das mercs é a rainha de fundamento é a rainha dos preceitos e a rainha dos Segredos então é uma coroa com muito poder né com muita responsabilidade e com a morte dela
em 2005 Então eu fui convidada pela irmandade esta ao de noss senora dasas trazido hume até agora jeito meus irmão essa coroa é de Nossa Senhora viva Nossa Senhora viva Nossa senora viva Maria só Rain Oi tá coroada tá coroada ra já tá coroada tá coroada tá coroada é uma estrutura muito complexa porque é um reino de fato dessas organizações sociais devocionais alternativas que os nossos antepassados criaram então extremamente complexo mas para mim é uma fonte também de de poesia né Eh e do poético o reinadeira canta né canta para tudo nós cantamos para tudo
nós cantamos para nos alimentar nós cantamos quando nasce cantamos quando morre é toda uma ambiência sonora [Aplausos] [Música] maravilhosa [Música] eu aprendi a ler sozinha com 4 anos de idade e daí descobri também que era que eu tinha um talento para matemática e para cálculo impressionante eu fiz o vestibular para letras porque eu não tinha condições de fazer para o que eu queria que era matemática pura não tinha condições de sair de Bel Belo Horizonte né eu era rimo de família e arquitetura também não podia fazer curso era de Uno eu precisava trabalhar e aí
então eu comecei a dar aula formalmente numa escola pública para o ensino fundamental eh muito novinho devia ter 15 16 anos nem tinha me formado ainda eu estava me formando quando a diretora me comunicou que a a a a faculdade tinha me indicado para uma bolsa nos Estados Unidos eu não tinha dinheiro para passagem para ir eh para os Estados Unidos para fazer o mestrado e eu fiz uma entrevista para TV Tupi e o estado de Minas que era parte da dos dos Diários Associados publicou alguns poemas meus e me deram uma passagem de ida
para os Estados Unidos sabe se ganhei $1 uma professora professora Ana Maria de Almeida me deu $1 assim eu fui lá eu fiz o mestrado fiz o uma dissertação sobre um teatrólogo brasileiro ninguém quase ninguém conhecia no Brasil corpo Santo e lá eu comecei a fazer o doutorado questões de saúde eu tive que interromper o doutorado voltei para o Brasil fui contratada pela Universidade Federal de Ouro Preto onde montei né implantei o curso de letras e meados dos anos 80 eu fiz a seleção para o doutorado aqui na UFMG fiz o doutorado com Dorado sanduí
na Universidade da Califórnia do mestrado Saiu o meu primeiro livro de ensaios que é moderno teatro Corpus santo do doutorado sai o meu segundo livro né pela perspectiva cena em sombras E aí né Depois disso fiz já outros três pós-doutorados quer dizer esta é a trajetória acadêmica e na universidade me demiti da Federal de Ouro Preto fiz concurso aqui na Federal de Minas Gerais em 93 e lecionei até 2018 quando me aposentei e quando eu estava nos Estados Unidos fazendo o mestrado e eu já estava elaborando a dissertação sobre esse teatrólogo brasileiro corpo Santo eu
vi um livro dramas para negros e prólogo para brancos eu fiquei estarrecida eu nunca tinha ouvido falar no Teatro Experimental do Negro porque se eu tivesse ouvido falar Possivelmente seria minha dissertação e ali mesmo eu falei comigo o meu doutorado vai ser sobre este teatro Teatro Experimental do [Música] Negro como eu já conhecia bem parte do teatro negro nos Estados Unidos e por isso é surpresa eu não sabia que existia um teatro negro no Brasil então eu quis comparar porque era tão inovador e eh o teatro de abidias dos anos 40 comparado com se fazia
nos Estados Unidos nos anos 60 e uma das coisas que eu observei é que as teorias de teatro em geral eram na época predominantemente constituídos a partir do teatro europeu pouco se se achava sobre teatro africano sobre teatro afro-brasileiro sobre outras matrizes teatrais né então aí que entra uma característica que eu acho muito Nossa Negra o autodidatismo é ali que eu crio a clave teórica as Encruzilhadas né tomo as encr adas como epistemologia e eu vou dar como exemplo eh epistemológico o princípio de cognição porque a Encruzilhada está em todas a a as culturas negras
e particularmente eh na cultura yorubá ela é presidida por Exu né mas eu não vou pegar Exu de modo religioso ou metafísico eu vou pegar como grande princípio de cognição que é fantástico né Ele é vamos dizer assim o produtor de semiose o senhor da comunicação O Senhor das transformações eu defendi em 91 e 95 a a perspectiva publicou como livro né Essa Clave teórica eu a vou desenvolvendo a das Encruzilhadas no no livro seguinte que é o o afrografias da memória que é sobre o reinado do Rosário no Jatobá né que eu diria de
todos os meus livros é o livro mais amado pelos meus leitores é um livro Amado em várias partes do mundo é um livro que serve de referência para várias áreas do conhecimento ali eu desenvolvo um pouco mais o conceito Clave teórica e metodológica das Encruzilhadas e apresento o novo conceito que é o de oral leituras é uma Clave também que nos ajuda a pensar as performances em geral né e em particular as performances rituais para marcar que a grafia dos do conhecimento ela se inscreve não apenas pela letra alfabética mas ela se grafa também pelo
corpo pelas corporeidades né E daí o próprio título conceito né afrografias afrografias são essas inscrições do conhecimento pela prática das orale leituras aulas de tudo é toda performance que rege no no caso ali do do do reinado as performances orais seja matizadas pelos cantos pelas danças pelo figurino pelos cromatismos a escrita nunca se quis como contraditória a realidade o uso da escrita é que foi feito assim né como forma inclusive de domínio são saberes musicais sonoros estéticos em geral mas são também saberes científicos técnicos tecnológicos de mineração de metalurgia de engenharia de de tecnologias mais
diversas né ele se Restitui pelas corporeidade através das or leituras das performances né que tem o corpo como lugar de inscrição do conhecimento o corpo como lugar de inscrição dos saberes o corpo como lugar de inscrição da memória os saberes dos mais abstratos filosóficos né uma ética social uma ética da Cultura né uma filosofia várias filosofias eh dentre elas a que diz respeito ao tempo e 99 eu fui fazer o meu primeiro pós-doc lá na em Nova York ali eu começo a formular a noção do tempo espiralar um tempo que se movimenta simultaneamente para frente
e para trás e que traz eh na singularidade do agora o Pretérito do passado com pretérito do Futuro ou seja os nossos que já faleceram mas que ainda aqui estão porque participam do agora com assim como aqueles que ainda vão nascer tudo no presente agora nos matizando nos configurando nos constituindo não como uma repetição especular do mesmo Diferentemente da lógica sistêmica que privilegia a ideia do tempo progressivo linear contínuo nós estamos falando aí no caso do tempo esperal lá um tempo Curvo ela é uma estrutura na qual se assenta a ancestralidade e que nos dá
uma outra perspectiva de experiência de temporalidades o que Funda a ideia do tempo espiralar é o movimento o movimento sim permanente não apenas em uma única direção nem um único sentido né o movimento também ele curvilíneo por isso ele agrega tanto mais velho quanto aquele que ainda vai nascer como constitutivos do presente e do agora o pensamento europeu tem séculos de reflexão sobre o tempo né mas há muito pouca reflexão sobre as possibilidades de experiência filosófica e ontológica do tempo por exemplo no continente africano e são muito ricas quando se fala no teatro negro no
Brasil quantos lugares que eu vou e que os alunos ficam assim perplexos por haver livros sobre teatro negro e eles fazerem curso de teatro brasileiro e não terem não se depararem com essa bibliografia que a universidade tem que ser o lugar da diversidade também o Brasil já não é né nunca foi né imensas desigualdades em todos os âmbitos em todos os contextos eu me lembro que a primeira peça que eu participei eu participei ainda no ensino fundamental e participei porque a professora não me escolheu por ser negra para integrar a peça mas eu decorei o
texto todo e faltando menos de 24 horas para pra estreia a a a minha colega que era minha amiga que faz fazia o papel principal desistiu e a professora perguntou a sala umas três vezes só eu que levantava o dedinho dizendo que eu daria conta de fazer e ela perguntava de novo perguntava porque ela não queria uma negra né no dia 13 de Mai uma assembleia trabalhou nego velho era cativo e a princesa libertou Velho era escravo e hoje já virou senhor mas no tempo do cativeiro Era branco que mandava quando branco e a missa
preto velho que levav [Música] voiar Branco entrava lá para dentro fica a criança negra ela tem que lutar para sobreviver desde que ela nasce não é apenas sobreviver materialmente é sobreviver psicologicamente mentalmente espiritualmente eu venho sofrendo racismo como minha mãe sofreu como meu filho Marc rgo sofreu como meus antepassados sofreram como tanta gente Inclusive eu ainda sofre hoje o racismo mata ele mata literalmente todos os dias todos os minutos no entanto lutamos todas as manhãs todos os dias todas as horas todos os momentos o índice de evasão da população negra e da população pobre em
geral nas universidades nas escolas de Ensino Fundamental médio e Universitário é muito grande poder contribuir de alguma forma para que haja a transformação social efetiva é com a nossa luta do dia a dia em tudo que a gente faz em tudo absolutamente tudo só meus olhos são os mesmos e mesmo eles já não são mais acordo sempre como amanhecendo as janelas de um trem são espaços rasgos entre as retinas e os sobressaltos nos intervalos dos vagalhões paisagens sonoras tempos granulados consciência vária de interiores onde me resguardo do espelho verniz das madrugadas que no entanto já
eram manhãs toda a minha produção ela é muito muito transcultural né Ela é transversal uns acham que eu sou de história outros acham que eu sou da dança outros acham que eu sou da música outros acham que eu sou da antropologia as artes sempre se cruzam talvez por isso também né Eu sou uma pessoa atravessada por várias Artes poemas publicados em quatro línguas eh textos ensaísticos também publicados em quatro línguas além do português tenho feito palestras há décadas em lugares do mundo costumo até dizer né Eu não tenho uma vida social no sentido assim de
né é uma vida de labuta é uma vida de trabalho mas também é uma vida prazerosa n Na verdade o prêmio do Itaú Cultural eu fiquei muito comovida Quando eu soube e porque a gente nunca acha que a gente merece uma homenagem dessas né eu fico muito sensibilizada muito comovida é ainda agora tá vendo eu fico totalmente comovida porque a gente não faz para ganhar um prêmio né eu faço muito também pelo prazer de fazer pel uma necessidade quase compulsiva de criação e por isso eu repito esse estímulo de Dona Alzira foi fundamental né creio
que a pessoa mais feliz com este prêmio seria ela e ele é dedicado a ela eu lembro de duas coisas muito importantes da minha infância a primeira vez que eu ouvi o Som dos Tambores do reinado e assim ainda hoje é como se se inaugurasse pela primeira vez sempre e desde que eu aprendi a escrever que eu escrevo poesia narrativas então assim eu sempre me identifico com as pessoas eu sou poeta tudo sobre o que eu escrevo não é programático me dá muito trabalho mas também me dá muito prazer aprender para mim é gosto curiosidade
travessia um prazeroso exercício de Labor de busca e de entendimento e expressão do meu mais singelo respeito pelo próprio conhecimento pelo que nos desvela da existência em todos os seus complexos riscados âmbitos e modos de ser o saber é sempre uma dádiva e uma oferenda e aprender um seu aroma que podemos fluir e [Música] espargir [Música] C [Música] a
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