[Música] [Música] Convidamos o painel Lista André Trigueiro para fazer a sua fala com o tema sobre ser espírita. Boa tarde a todos. Sobre ser espírita, remete esse tema a uma reflexão que faremos em breves minutos sobre aquilo que nos distingue dentre outras tradições, doutrinas, religiões e filosofias espiritualistas.
A nossa identidade é um tema muito importante da gente refletir, reconhecendo, na largada, que nós pertencemos a uma numerosa comunidade de diferentes. Não há dois espíritas iguais, nem dois espíritas que pensam rigorosamente igual sobre a doutrina. Nem os apóstolos de Jesus pensavam igual sobre o mestre.
E a diversidade não é um problema. A diversidade empresta sentido e riqueza à humanidade, porque encerra a capacidade que a gente tem, se temos abertura, de ouvir o diferente e de aprender com ele. E nós estamos no jardim de infância da tolerância.
Portanto, mesmo nós, espíritas, temos muito a avançar na compreensão de que o fato de você se afirmar como espírita não faz de você um robô projetado, como um ser, um ente clonado na comunidade dos espíritas. Não pensamos assim o que é ser espírita. Pela lógica, a gente vai dizer: somos nós que nos identificamos e aceitamos as explicações dadas pela doutrina dos espíritos sobre as leis que regem a vida e o universo.
É uma possível explicação. O que nos distingue dos simpatizantes do espiritismo? Kardec assinalou com muita assertividade a necessidade do estudo, da imersão do conhecimento.
Não basta simpatizar com a doutrina para se dizer espírito. É importante a gente ter disponibilidade para conhecê-la. E vamos combinar: uma doutrina que tem a pretensão de explicar as leis que regem a vida e o universo, ela tem uma complexidade que vai demandar algum tempo e alguma energia para a gente fazer essa imersão.
Portanto, simpatizantes do espiritismo há muitos, espíritas, a gente já faz um recorde: é importante estudar, basta estudar? Não. E a gente vai lembrar a máxima que também deveria nos distinguir.
Além do estudo, se nós entendemos que o norte magnético da bússola aponta para a importância da caridade, fora da caridade não há salvação. Isso significa que eu preciso estudar para construir minha convicção da fé raciocinada e caminhar na contramão da maioria, na direção da porta estreita, em que o trabalho voluntário, ajudando de forma desinteressada a quem quer que seja, para isso acontecer, no nosso nível evolutivo a gente precisa. Nós, com os trabalhadores da última hora, fisgados pela razão, fazemos um trabalho: estudo, imersão, prática da caridade.
Basta isso? Não! E aí vem Kardec, que se preocupou em deixar por escrito que conhece o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que empreende para dobrar suas más inclinações.
Portanto, você pode fazer menção no estudo. Você pode até praticar a caridade. Mas houve transformação moral?
Houve uma mudança efetiva de dentro para fora? Kardec assinala que o verdadeiro espírita, segundo o Codificador, precisa, portanto, realizar uma mudança de dentro para fora. Estamos aqui para isso.
Encarnamos para isso, para evoluir. E não há evolução sem mudança. A mudança é uma palavra que atemoriza, nos causa alguma resistência, alguma aversão.
Não gostamos de mudança, gostamos de rotina. Não gostamos de mudança, gostamos de previsibilidade. Não gostamos de mudança, gostamos de zona de conforto.
Aqui eu estou bem, aqui eu conheço meu perímetro, meu território. Aqui eu sei como é que as coisas funcionam. Nós somos assim.
Entretanto, será que não nos ajuda a mudar? É o verbo auxiliar de evoluir. Evoluir-se sem mudança não é possível.
A gente está aqui para mudar. E aí, me permitam, nos próximos minutos eu vou compartilhar, despretensiosamente, sem nenhuma pretensão de estar falando sobre verdades absolutas, no entendimento de que nós somos espíritas porque entendemos o espiritismo como uma filosofia espiritualista não dogmática, que promove o livre pensar. Que eu vou pensar livremente com vocês hoje aqui, trazendo a discussão sobre ser espírita para os nossos dias.
Porque eu construí a convicção de que ser espírita no século 21 é diferente de ser espírita no século 19 e é algo diferente de ser espírita no século 20. Não do ponto de vista ético e moral, não do ponto de vista da necessidade assinalada por Kardec, como disse, da transformação moral. Mas qual é o palco, o cenário em que se desenrola a evolução moral, a transformação moral?
Cada tempo tem um cenário diferente, circunstâncias diferentes, estilos diferentes. Estamos em 2018, em Joinville. O que eu vim fazer aqui?
Chamar um jornalista para compartilhar a singularidade do nosso tempo. Que esse espírito no século 21 precisa ficar na tela do teu radar e do meu, para que a gente cumpre missão, reconhecendo aqui e agora. Eu vou começar.
E tudo isso são sugestões de reflexão. Um primeiro desafio, que não estava presente no século 19, mas está presente no século 21, é uma soma de convites e estímulos à dispersão, à distração e à alienação. No século 19, o tempo passava devagar, um dia tinha longas 24 horas.
Hoje em dia, o tempo voa e nós somos bombardeados todos os dias, todas as horas, todos os minutos por uma multiplicidade de apelos por atenção, por foco, pela internet, pelas redes sociais, pela televisão, pelo rádio. O tempo inteiro, pisca na nossa direção iscas procurando nos dispersar, nos distrair e, por vezes, nos alienar a um precioso consumo de tempo e energia na direção do que eu vou classificar de inércia, inessencial, absolutamente descartável e perecível. Quanto tempo a gente passa por dia absorto em mil coisas que não têm rigor nenhuma importância do ponto de vista da nossa evolução?
É isso que eu quero dizer. Volta e meia, gosto de falar do livro da vida ao desencarnar. Mas o livro da vida assinala quanto tempo dispensamos realizando que tipo de atividade ou tarefa.
É possível que nós encarnados no século 20, avançando no século 21, nos surpreendamos com a quantidade de tempo jogada fora por conta de apelos que nos roubam a atenção sem retorno espiritual? Mais do que no século 19, mais do que no século 20, portanto, meus amigos, precisamos estar cientes de que, para evoluir, é fundamental ter planejamento e estratégia. Aí eu estou remetendo à necessidade da autogestão, que é autogestão.
Todos nós estamos aqui com prazo de validade; não temos todo o tempo do mundo, e o tempo voa. Isso significa dizer que, se eu sou espírita e se eu entendo a necessidade de aproveitar tempo e energia nesta encarnação para dar mais um passo na direção que importa, se eu não tenho um método, não tenho planejamento, e se eu não tenho estratégia, o risco de fracasso não é desprezível. Quem planejou o ataque neste sábado em Joinville está respondendo a um planejamento, a uma estratégia, na suposição de que está empregando algum tempo, alguma energia em algum nutriente, em um adubo que ajude a fertilizar a luz que precisa voltar dentro de nós.
Estamos aqui como aceleradores de partículas ou facilitadores. Olha a responsabilidade! A gente está aqui pra quê?
Para cutucar e dizer: não é possível imaginar, no século 21, um projeto arrojado de evolução sem planejamento, método e estratégia. Precisamos nos planejar; não temos todo o tempo do mundo. Daqui a pouco, não estamos mais aqui.
Para isso, a gente precisa se situar no tabuleiro, reconhecer. Se a minha família não é espírita, como explico que, no sábado, em Joinville, isso é estratégia, método, planejamento? Haverá compensações; negociar compensações: sábado no topo, você, mais domingo se prepara.
Então isso é criatividade, isso é planejamento, e dá pra ser feliz conjugando o projeto evolutivo com quem não é espírita e tem outras demandas e interesses legítimos. Mas isso requer, bom, repetir: desculpas, irmão! Método, planejamento e estratégia.
Alguém vai dizer pra você: "Vai no centro espírita de novo? Virou fanático! " Em torno de olho em você, começou a frequentar sua palestra pública, agora você está no estudo sistematizado, agora sábado em Joinville para o congresso!
É fanatismo, é ou não é? Como é que a gente responde? Não se depilam com isso!
A porta é estreita e a gente vai ter que saber lidar com situações que não são propriamente a favor, mas a gente tem que saber negociar com a adversidade ou com o que não é propriamente encorajador para a gente seguir em frente. Faz parte. Portanto, autogestão: planeje sua vida sabendo onde você quer chegar, e se você se considera espírita, saiba que as adversidades e os obstáculos fazem parte.
Se não há nenhuma adversidade ou obstáculo, desconfie! Tem algo errado; tá tudo soprando a favor, você está no caminho errado. A evolução é mérito pessoal e intransferível.
Em um mundo onde o valor da matéria — um dia depois do Black Friday —, o valor da matéria natal paga, chegamos a um mundo que ainda dá tanto valor ao que é descartável e perecível. Falar de evolução espiritual soa estranho no século 21, em que os valores dominantes da sociedade são bem diferentes dos do século 19. Kardec não pegou isso encarnado, nós que estamos pegando.
Quais são os valores prevalentes? Vamos lá: a ditadura da eterna alegria. Todos nós nos sentimos na obrigação de mostrar para todo mundo à nossa volta o quanto somos felizes.
Adoramos, por exemplo, ficar registrando o dia inteiro: “Olha eu tô, olha com quem eu tô, olha eu tomando, olha quem está comigo. ” Freneticamente, compartilhamos nas redes sociais frames instantâneos de momentos com o interesse de mostrar para todos que nós estamos no Olimpo, no Nirvana neste momento. Hoje ninguém mais feliz do que eu!
Traduzindo isso: fake! Ninguém em benefício da verdade deveria compactuar ou ser cúmplice de tamanha farsa. A ditadura da eterna alegria explica a quantidade de pessoas com depressão, que realizam tentativas de suicídio, porque quem sofre se sente humilhado, porque não consegue procurar ajuda, porque acha feio sofrer.
É proibido sofrer. Quando você digita alguém que está sofrendo, parece que se está dizendo assim: "Fracas! " E não, não dei o melhor de mim!
Não tem nada a ver, não tem nada a ver. Tem uma frase do Cristo, que não é espírita, mas a mensagem combina com a doutrina, que diz assim: "Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente. " A ditadura da eterna alegria é uma armadilha espiritual.
A ditadura da eterna juventude em cabelo branco, pintura e calvície, implante, erro médico; a linha mística e a barriga encolhe e aí vai! A gente se adapta com muita facilidade. Estou falando aqui é papo de família espírita, ok?
Estou falando de espírita que não presta atenção nas armadilhas dos valores prevalentes dominantes da sociedade no século 21, que é proibido envelhecer. Essa é uma lei inexorável da vida. Nós espíritas sabemos que cada etapa da existência, que começa na inseminação, todo o período de gestação, temos a memória disso.
A terapia de vidas passadas pode retroceder exatamente no período entre o terreno. Avançamos nas diferentes cidades, habitamos vários corpos ao longo de uma encarnação, e a gente acha que é possível chegar até o final da existência driblando a decrepitude, a velhice, não assumindo que se é e não absorvendo o aprendizado que vem daí. Não estou dizendo que é fácil; estou dizendo que há risco patológico de vocês sob o pretexto de querer sempre parecer jovens, sofrendo ainda mais sem necessidade.
Nós não toleramos a velhice, a decrepitude, e nós tentamos disfarçar aquilo que não é disfarçável. O culto alcançou o culto ao consumo. Não existem cidadãos, existem consumidores; existe sociedade de consumo.
Existem sonhos de consumo, existe flexride! E a gente se diverte transformando o ato de consumir em lazer, entretenimento. A gente transfere para o que é descartável e perecível a expectativa de ser feliz, de conquistar a paz.
Este que vos fala, onde eu moro, no Rio de Janeiro, com isso, muita gente famosa em depressão, em close, está abarrotado de roupa, mais um carro, mais de um imóvel, mais disso, mais aquilo. . .
Não é feliz. Porque não preciso explicar pra espírita nada disso, nos pertence! Gente, diz que encarnar sequer o nosso corpo levaremos.
Por outro lado, tudo nos é dado por empréstimo, em empréstimo, para que evoluímos. Seu corpo, sua carcaça, que São Francisco de Assis chamava carinhosamente de "junho", é um veículo, é uma ferramenta para transportar o espírito imortal ao longo de mais uma encarnação. Se possível, usando a matéria, não sendo usado por ela, para conquistar seus objetivos mais nobres.
E se for rico, ler o evangelho: a utilidade providencial da riqueza. Não é feio ser rico; feio é ostentar, feio acumular bens hipóteses que não têm utilidade, serventia. A riqueza não é um problema; a riqueza pode ser a alavanca que propicia a ajuda necessária para a descoberta de novas patentes na área de remédios e medicamentos, novas vacinas, novas tecnologias em favor da coletividade.
Portanto, as armadilhas dos valores prevalentes na sociedade atual, século XXI, ser espírita, presta atenção: não é feio sofrer, não é envelhecer. Menos é mais. Black Friday é o dia para não consumir.
Não, sem consumo, nos amigos, nos valores prevalentes da sociedade hoje, no século XXI. Nós temos isso; não havia no século XIX de Kardec, na qualificação plena, ciência de que o suicídio é caso de saúde pública no Brasil e no mundo. Falamos sobre isso ontem em Itajaí, para 700 pessoas, na Univali.
O que difere do século XIX é a quantidade de gente que realiza tentativas de suicídio: são 800 mil óbitos por ano registrados, 20 milhões de tentativas por ano. E nós precisamos ter ciência de que algo mudou. Que mundo é esse em que tanta gente está querendo morrer?
Se a gente pegar as obras espíritas da qualificação, a gente vai ver espiritualidade martelando, chamando o suicida de criminoso aos olhos de Deus e batendo forte, dizendo assim: "Não comenta isso, é um erro". Crimes e, mais de 150 anos depois, o que mudou? A ciência psicológica, a ciência psiquiátrica trazem novas abordagens para quem sofre, a ponto de querer se matar.
Se a codificação tivesse lugar hoje, provavelmente, o discurso dos espíritos teria algum ajuste, não no sentido de deixar de lembrar que o suicídio é um equívoco, mas reafirmar: não há hipótese do suicídio significar alívio ou solução para os problemas. Tudo está certo; o que mudaria? A abordagem moderna sugere que a palavra-chave para socorrer o suicida não é o dedo em riste, criticando, é a mão estendida, acolhendo.
Não é julgar, não intimidar quem procura o centro espírita em desespero, dizendo que vai se matar. A pessoa, naquele momento, não precisa de doutrinação; ela pode ser chamada à atenção: "Olha, você sabe que você veio a um centro espírita? Nós sabemos que a morte não existe, nós sabemos que o suicídio não alivia a situação, mas quem está procurando ajuda precisa desabafar, precisa falar".
E, na casa espírita, além do protocolo de resposta do espiritismo para quem sofre, convém redirecionar a pessoa para o especialista: um psicólogo, um psiquiatra que possa dar assistência. Alguém vai dizer: "Espírita, besteira; fé raciocinada torna a pessoa imune ao suicídio. Basta frequentar palestra pública, tomar passe e beber água purificada.
" Espírita que se mata não leu direito as obras básicas, não frequenta o centro. Falso, fake news. Não é falta de fé; quem tem depressão não sofre de falta de fé.
Quem tem depressão não fraquejou em relação a Deus. Eu vou dar dois exemplos da comunidade católica: um deles eu entrevistei há três meses, padre Fábio de Melo, acometido de síndrome do pânico e, depois, depressão severa. Um sacerdote popular.
Ele disse pra mim, na entrevista: "Pensei em me matar". O outro, Marcelo Rossi, o padre Fábio de Melo. Entrevistei os dois com depressão.
Eu perguntei pro padre Fábio de Melo, fora do ar, porque não quis constranger no microfone. Para uma curiosidade minha, no auge do seu desespero, sendo o senhor um religioso, onde estava Deus? E ele respondeu de bate-pronto: "Deus sempre esteve no mesmo lugar; eu é que não tinha condição, capacidade de alcançá-lo.
" Portanto, meus amigos, no século XXI, quem em desespero, a ponto de pensar em se matar, procura casa espírita, por uma questão de honestidade intelectual, quem acolhe deverá dar a informação completa. O espiritismo é ferramenta auxiliar para a recuperação do equilíbrio; vai procurar ajuda especializada. A medicina da terra é importante, é fundamental para você recuperar a saúde.
E o prumo em relação ao aborto: há algo que a gente precisa falar. Nós, no século XXI, sabemos que o aborto é um grande problema de saúde pública no Brasil. O espiritismo está cercado de motivos para afirmar que o aborto compromete a situação da mãe que interrompe um processo que está em curso e que deveria ter continuidade em favor da vida que surge no momento da concepção.
Ok, isso é o que a gente fala. Não queremos que mudem a lei no STF; está correto em campanha. A pergunta que eu faço a vocês, porque eu sou espírita e pertenço, portanto, a uma filosofia espiritualista não dogmática que promove o livre pensar: eu estou livre pensando aqui.
Basta dizer que é contra o aborto, basta fazer campanha para não mudar a lei. Nós somos contra a droga, contra o uso de drogas; muitos de nós achamos que não deve descriminalizar, liberar drogas. Eu pergunto: o fato de a gente se encontrar muda a epidemia de usuários de crack, maconha e cocaína?
O fato de a gente ser contra o aborto faz com que alguma mulher deixe de praticar aborto por aí, numa situação de desespero, abandono, solidão? Não é que está faltando, talvez, uma hipótese no movimento espírita para incorporar o movimento contra o aborto? Falação é mais ação.
Em que direção algumas instituições espíritas têm a coragem de praticar o evangelho de Jesus, socorrendo mulheres que pensam em aborto, abordando-as com muito respeito no sentido de, havendo disposição para o aborto, convencê-las a tentar manter a gestação, dando suporte material, pré-natal? Alojamento, alimento, remédio, eventualmente emprego; não é fácil e, na hipótese da mulher gestante, até o final da gravidez não querer assumir o filho, o direito dela não vamos julgá-lo. A instituição adota, eu conheço duas instituições espíritas que fazem isso, eu as respeito demais.
O que é fácil é assinar o abaixo-assinado virtual. Sou contra o aborto. STF, não legitime a boca, o sono do mundo.
Isso não reduz a estatística de aborto. Nos assobios, clãs de estilos que existem no Brasil, onde a caridade ativa precisa chegar, num país laico em que a gente não vai obrigar quem não é espírita a acreditar no que a gente acredita. É amor prático socorrendo quem precisa.
É fácil falar. O Congresso, o clube do bolinha, só tem homem, basicamente homens ricos, brancos, engravatados; eles falarem de aborto é fácil. Ser mulher e saber o que é ser abandonada pelo companheiro ou namoradinha é diferente.
O país é um carrasco em casa; vai fechar o tempo se souber que ela está grávida. Eventualmente, uma família conservadora, e são essas que promovem o aborto; não querem ficar queimados no filme, na sociedade vão saber que a filha engravidou. Vamos resolver isso: hipocrisia, mais ação e menos discurso, mais qualidade.
Seguindo em frente, século 21, ser espírita; nós não somos uma religião formal, portanto, não estamos participando da disputa de fiéis no mercado da fé. Existem igrejas, denominações cristãs ou não, que disputam fiéis, estratégias de marketing pesadas, uma ofensiva prometendo resolver todos os problemas da pessoa: desemprego, perda da saúde. Eles, os obsessores, nem falam diabo, forças malignas; venham que a gente vai resolver.
Com todo o respeito, vai atrair multidões. Nós não estamos depois disputando multidões. O espiritismo não disputa fiéis; o espiritismo acolhe quem sofre, sugere um caminho e o caminho da salvação passa pelo esforço que a pessoa realiza na direção da reforma íntima.
Não tem almoço grátis. Não é uma pessoa muito sem sofrimento no auge de uma crise que vai demandar esse socorro imediato, assistência. Ok, para seguir em frente no longo prazo, ou ela caminha com as próprias pernas.
Esse auxílio não é de verdade uma muleta; ela não aprendeu a andar com as próprias pernas; ela está contando com acessórios que não são indicados do ponto de vista do espírito imortal. Vós sois deuses, o jogo é suave, o fardo é leve. A gente precisa acreditar no Cristo; temos as condições de transformar problemas em solução.
E, nos momentos de muita aflição, precisamos de ajuda e depois caminhamos com as próprias pernas. Levanta, anda! O espiritismo não substitui o trabalho do outro; a evolução é mérito pessoal e intransferível.
A gente ajuda apontando o caminho; quem caminha é o outro. Nós estamos no mercado da fé, até porque, como disse, segundo o codificador, "o espiritismo não se constitui em uma religião a mais", visto que não tem culto, ruídos, nem a igreja, nem imagens, nem rituais, nem dogmas, mitos ou crendices, nem tão pouco hierarquia sacerdotal. Quem vos fala aqui é mais evoluído que vocês aí.
Não ajeitar; replicando aqui a prática das catacumbas, quando se compartilhava palavra para discutir o evangelho, ninguém ali era superior a ninguém. O orador espírita é invariavelmente o mais necessitado da escuta do próprio estudo. Estamos aqui compartilhando ideias que sejam minimamente inspiradoras.
Não somos uma religião formal, entretanto, o mesmo Kardec ressalta sobre o espiritismo que é no seu aspecto religioso que repousa sua grandeza por constituir a restauração do evangelho de Jesus, estabelecendo a renovação definitiva do homem. Somos uma filosofia espiritualista; não somos uma religião formal, mas na filosofia espiritualista é no aspecto religioso que repousa a grandeza dessa doutrina. É importante marcar essa diferença.
E o IBGE, quando fez o último censo, perguntou para cada cidadão brasileiro, por amostragem, qual a sua religião. Com a sua religião estava lá a religião espírita, porque para nós também é importante saber quantos somos, e fomos chamados resumidamente de religião. Ok, tem problema?
E qual foi a conclusão do IBGE? Por coincidência, estava na coletiva do IBGE nesse dia; trabalho privilegiado. Falei: "Vou levar isso pra palestra.
" Nós, espíritas, eu sei que vocês sabem, mas eu vou lembrar: em relação a outras religiões do Brasil, somos aquela que reúne o maior número de pessoas com maior escolaridade. Nós somos a religião que une as pessoas: os fiéis, os crentes, os estudiosos com maior renda. Renda, escolaridade e, por último, mas não menos importante, idade.
Nós somos os mais velhos, os que têm mais pataco e os que têm mais escolaridade. Em bom português, assim me parece, nós somos uma elite. Qual é o nosso desafio?
Jesus, quando esteve entre nós, ele se reportou somente à elite, fez as suas pregações na Galileia, na Palestina, às margens do Tibery; diz Sermão da Montanha, só para a elite. Os apóstolos mais próximos não gostaram quando Jesus aceitou o convite do coletor de impostos para jantar. Jesus não discriminou quem quer que fosse para dar o seu recado, instituir na terra a mensagem de amor e esperança contida no evangelho.
Nós, espíritas, estamos chegando onde devemos. Onde estão os jovens? A gente anda pelo Brasil e sempre faço essa pergunta: onde está o jovem?
Alguém vai dizer: "Ah, tá lá no dia da mocidade. " No mesmo dia da mocidade, eles estão encapsulados ali com o dirigente. Eu tô falando: jovem no século 21 é diferente do jovem no século 19, que é diferente do jovem no século 20.
Jovem no século 21 é protagonista, não é coadjuvante. Quem quer fazer reunião de divulgação na casa espírita e não tiveram a presença ali participando do debate? Um garoto, uma menina de 12, 13, 14 anos vai perder!
Cadê a garotada? Porque o espiritismo reunião é a doutrina da filosofia à religião. Segundo o IBGE, em números relativos, congrega o maior número de velhos.
Somos nós! Eu tenho 52 anos, eu já pertenço a essa categoria, não sou mais garoto. Onde estão os jovens?
Garotos, por que tem pouco jovem na casa espírita? Porque eles não são fisgados. Porque ele tem dor, ele tem a sensação de vazio, ele não se identifica com boa parte dos valores do mundo.
Ele se reporta a uma sensação de vazio, eles têm depressão e realizam tentativas de suicídio. Cadê o jovem na casa espírita? Uma questão importante, desafio para o século 21: a linguagem.
Como você explica o espiritismo? Como você reporta a doutrina espírita? Que livros você indica para as pessoas que não conhecem a doutrina?
Estamos no momento da história em que, principalmente a juventude, tem aversão a leituras muito extensas. Essa garotada está muito afeita a mensagens rápidas. Eles inventaram o vocabulário, se comunicam por imagens: rostinho sorrindo, gostinho triste, mãozinha assim, enfim, eles reinventam o vocabulário.
Eles são muito criativos, eles são muito competentes numa linguagem dinâmica. A pergunta é: como é que essa garotada, as novas gerações de espíritas, porque nós, daqui a pouco, estaremos aqui? Quem é que vai tocar o bastão que segura a doutrina?
Precisamos nos preocupar com isso. Como é que a gente atrai garotada? Que linguagem vamos usar?
Eles abrem o Livro dos Espíritos e se deparam com a palavra "prolegômenos". Alguém já parou para pensar nisso? Existem jovens que gostam de ler, claro que sim, são a minoria.
Não dá para ensinar espiritismo usando Pastorino e "Minutos de Sabedoria". Não dá, com todo respeito ao mestre Carlos Torres Pastorino. A gente precisa descobrir meios de reportar a doutrina espírita, obras base, sem assustar.
Como fazer isso? De que jeito? Esse é o desafio.
Precisamos parar pra pensar: que livros, que dinâmicas, que didática a gente vai usar? Não é para banalizar a doutrina, mas para simplificar o acesso. Depois, ele voa baixo, meus amigos.
Há uma questão importante do século 21, que é: qual é o posicionamento do espírita, eu e vocês, num país que ainda é laico? O Brasil ainda é um estado laico. Eu não sei se você está acompanhando o noticiário, mas uma bancada cada vez mais numerosa do congresso tem outra percepção do estado laico.
Acho que o Brasil precisa ser um país cristão, mas um cristianismo deles. Eu vou fazer uma defesa que dê uma ideia. Enquanto instituição de movimento espírita, o Brasil não pode ser um país que abdique da laicidade do estado, porque ela assegura com justiça o direito de cada brasileiro acreditar no que bem entender ou não acreditar em nada.
Esse direito precisa ser assegurado na constituição. Nós já fomos perseguidos no século 20. Nós já fomos discriminados.
Divaldo, com seus mais de 90 anos, é muito elegante quando você pergunta a ele sobre os anos de chumbo, os anos difíceis. Foram anos em que o espiritismo foi muito perseguido, muito patrulhado, muito alvo de discriminação. Como era?
Você, divulgador da doutrina, vê Divaldo com aquele semblante, sempre levando aquele sorriso. Ele não perde tempo entrando nessas filigranas, que são muito dolorosas, porque ele coleciona histórias de perseguição. Em 1875, registraram-se, naquele período ainda sob o segundo império, os primeiros ataques da imprensa do Rio de Janeiro contra o espiritismo, com campanhas nos jornais.
Aspas: "Campanha no Jornal do Comércio: O espiritismo é uma epidemia mais perigosa do que a febre amarela". Inimigos do espiritismo denunciavam que as práticas mediúnicas eram associadas à loucura, estado de demência. A mãe de Chico Xavier, quando ele era criança, pedia para ele disfarçar.
"Chico, disfarça, você não está me vendo, você não está vendo a criancinha que brinca com você? ", porque o risco era do Chico ser internado no manicômio. Muitos médiuns foram encaminhados para hospitais psiquiátricos.
Em 1904, a Federação Espírita Brasileira foi intimada a comparecer à justiça para responder a um processo por realizar trabalhos espíritas e prescrever homeopatia. Em 1881, os jornais "O Cruzeiro" e "Jornal do Comércio" noticiaram oficialmente a ordem policial que proibia o funcionamento da Sociedade Acadêmica "Deus, Cristo e Caridade" Espírita e também todos os centros espíritas filiados. Até hoje, nós temos em casa espírita o livro de presença.
A história do livro de presença é que foi uma exigência do estado para fechar os espíritas. Eles queriam saber quem é que estava indo, quem era que estava frequentando. O estado patrulhava quem professa a fé espírita.
Em 1937, do ponto de vista da história, foi ontem. Na era Vargas, a sede da FEB e os centros espíritas filiados foram fechados pela polícia. Intolerância contra espíritas e umbandistas.
Só tinha uma diferença: os espíritas eram predominantemente brancos e bem infiltrados na elite. Rapidamente conseguimos permitir que o estado brasileiro tolerasse o funcionamento dos centros espíritas kardecistas. Vamos colocar assim, que depois começou a necessidade de marcar a diferença: a mesa branca, "ekardecista".
Por quê? Porque outras tradições que sofreram mais do que nós, especialmente as afro-brasileiras, como o candomblé e a umbanda, que também estudam Kardec em boa parte dos casos, e que também têm práticas mediúnicas, nunca deixaram de ser perseguidas. E, por vezes, nós replicamos na direção dos nossos irmãos umbandistas e candomblecistas a retórica preconceituosa e intolerante que usavam contra nós: "povo da macumba", "povo da curimba".
E a gente replica aquilo que se falava de nós na direção dos outros, não nos dando conta do comprometimento espiritual. Isso nos traz à realidade. Eu sou do Rio de Janeiro, onde nos complexos penitenciários, pastorais de igrejas neopentecostais convertem traficantes, e esses traficantes exigem que, nas suas comunidades de origem, seus asseclas, os seus seguidores persigam e exterminem terreiros e praticantes de umbanda e candomblé.
Aí sai no jornal: "Centro espírita fechado". Algumas instituições espíritas se preocupam em se posicionar e escrevem para o jornal dizendo assim: "Por favor, exigimos uma retificação. Vocês chamaram de centro espírita o que, na verdade, é um centro de umbanda e candomblé".
Espiritismo vem do francês "spiritisme". Nós somos espíritas. Me desculpe, isso me dá vergonha.
Como espírita, eu me sinto envergonhado, porque a carta certa não é essa. A mensagem certa que deveria ser encaminhada à mídia que falou sobre o centro. .
. Espírita fechado por traficantes é nós, espíritas estudiosos da doutrina codificada por Allan Kardec, repudiamos veementemente qualquer perseguição imposta a qualquer tradição ou religião. Num país onde o Preamble assegura o direito de acreditar em qualquer Deus, seguir qualquer prática religiosa ou não ter nenhuma, nós, espíritas, precisamos ser os fiéis defensores da liberdade de culto e de credo e da necessidade de se respeitar outras tradições, assim como exigimos respeito em relação à nossa.
É um desafio do Brasil do século XXI: a laicidade do Estado está ameaçada. Qual é a posição do movimento espírita? O que nós achamos disso?
O Brasil voltar a ser um país cristão nos termos em que se entende o cristianismo, de acordo com as bancadas mais numerosas do Congresso, reconhece o verdadeiro espírita por sua transformação moral e pelos esforços que emprega para dobrar as suas más intenções. Compartilhar com vocês alguns convites à reflexão sobre como avançarmos na senda evolutiva na maior nação espírita do mundo, onde são muitos os desafios do nosso tempo. Obrigado pela atenção.