"Revolução neolítica" e "Revolução urbana" (Antiguidade Oriental - Aula 3, parte 2)

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Juliana Bastos Marques
Na segunda parte da terceira aula, vamos rever os conceitos de Gordon Childe sobre a "Revolução neol...
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Oi, boa noite! [música de abertura] Nesta segunda parte da aula eu vou demolir um pouco a ideia de Revolução Neolítica e a ideia de Revolução Urbana do Gordon Childe, e explicar por que eu estou demolindo. Eu estou pensando numa série de dados arqueológicos que surgiram depois do Gordon Childe, e muitos muito recentes na verdade, que vão repensar uma série de pressupostos que pareciam óbvios para ele e que parecem óbvios se você ver ainda algum material que está baseado nisso.
De repente, um livro didático está baseado nessas ideias. Olha só, aqui eu tenho uma linha do tempo que eu fiz para vocês. Essa linha do tempo é baseada em um livro de 2017 que ainda não foi traduzido para o português e se chama "Against the Grain: a Deep History of the Earliest States" "Contra o grão, uma história profunda dos estados mais antigos", em tradução livre; dos primeiros estados, enfim, de um autor chamado James Scott.
É basicamente uma crítica à ideia de que a agricultura foi necessariamente melhor, evolutivamente melhor para a história da humanidade do que aconteceu antes no mundo dos caçadores-coletores. Vamos pensar um pouco nisso daqui a pouco. Então a gente tem de 12000 a.
C. , até 3000 a. C.
, então da esquerda para direita. Por volta de 11000 - olha, tem a data, "onda fria, Dras Recente", de 10. 800 a 9.
600, essas datas são aproximadas também, seria a tal da pequena Era do Gelo, entre 8000 e 6000 a. C. : evidências de domesticação das principais "culturas fundadoras".
O que eu quero dizer com "culturas fundadoras"? São os primeiros grãos. A arqueobotânica vai estudar - gente é uma coisa completamente louca: estão lá no no sítio arqueológico, escavam tudo lá, [você] pega aquela terra que você escavou, e peneira a terra.
Aí desce a terra, ficam algumas pedrinhas, algumas coisinhas ali, o pessoal examina. Ali tem de tudo, tem pedrinhas, tem, por exemplo, pedaços de osso. Sabe aquele franguinho que você comeu, O frango assado que você fez assim e depois jogou fora?
Aí também, grãos que eram utilizados na agricultura. Os arqueobotânicos, os arqueólogos especializados em botânica, vão pegar esses grãos, vão olhar lá no microscópio. E essas são aquilo que a gente vai chamar de culturas fundadoras, [com] os primeiros grãos que foram domesticados - daqui a pouco vou falar um pouco mais sobre eles.
Então lá, de 8000 a 6000. Por volta de 5000 a. C.
- então assim: 9, 8, 7, 6. . .
5000 a. C. , a gente tem fortes evidências de aldeias, não tem cidade ainda, aldeias agrárias que dependem, principalmente, das plantações, nas aldeias agrárias, e do gado.
Aí eu estou falando do gado, mas são animais. E por volta de 4000 a. C.
, a cidade de Uruk, um pouquinho antes de 3000; aí sim, a escrita, em 3. 200 [a. C.
], mas é uma escrita protocuneiforme, não é uma escrita tal como a gente tem hoje, é uma escrita de figuras e de objetos, não é uma escrita de ideias - na próxima aula vou falar sobre isso - e depois aquilo que a gente vai chamar de pequenos Estados territoriais, cidades, com as suas muralhas, cidades propriamente ditas. O que quero dizer com propriamente ditas? Bom, esse pedaço do meio da Revolução Neolítica, e a ideia do James Scott, que eu achei muito interessante: a agricultura, na verdade, dá trabalho, muito trabalho, dá muito problema, não é só simplesmente você jogar a semente, cresce, e aí você colhe e faz o pão e pronto.
Não, dá muito trabalho. Primeiro você precisa de uma série de técnicas que demandam muitas gerações para a seleção de grãos. O trigo que a gente tem hoje - não esse trigo aí da da Monsanto, o trigo transgênico - o trigo natural de hoje, como por exemplo, o milho, são grãos que não existiam dessa maneira, há milhares de anos atrás.
Foi um processo de seleção artificial humana dos grãos, e cultivar aqueles que rendiam melhor do que outros. Esse processo demorou muito tempo. Mais uma vez eu falei para vocês, a questão do armazenamento - eu estou sempre lembrando do armazenamento porque isso tem a ver com a relação dos gatos com os humanos.
Os cães foram domesticados, mas os gatos como nós sabemos, nunca foram domesticados, eles estão conosco porque eles querem, e quando eles querem, evidentemente. E lá no silo onde se armazenava os grãos tinham muitos ratos, então os gatos começaram a frequentar o mundo dos humanos para poder comer os ratos. Enfim, os humanos ficaram muito felizes porque os gatos comiam os ratos e eram fofinhos - a perda de muitas colheitas, o problema da perda de muitas colheitas devido às intempéries e devido a pragas também.
Você tem uma determinada região que é natural, selvagem. O ser humano ocupa aquela região e destrói aquele habitat natural, com muitas doenças e pragas relacionadas, que são problemas para os humanos, são relacionadas a esses animais, esses fungos, esses vírus, essas bactérias - e também nós temos algumas doenças causadas pela concentração populacional, que são doenças relacionadas ao problema de falta de sistemas sanitários, que são muito recentes na história da humanidade. Ou seja, esse crescimento populacional gerado pela agricultura é lento, muito lento, não é assim, começou a ter excdente, as pessoas começaram a comer e super populou o mundo.
. . O sedentarismo e a agricultura, os dois associados, são necessariamente superiores a uma vida de caçadores-coletores?
Antes de você dizer sim, são superiores, vamos pensar qual é o critério para essa pergunta. É por isso que eu falei que o problema do aquecimento global tem a ver com essa aula. Nós temos a ideia na história da humanidade, de milhões de anos em que os seres humanos são caçadores-coletores, eles reproduzem, mas eles morrem muito, então o crescimento populacional é relativamente pequeno, porque afinal de contas é uma vida frágil.
No mundo da agricultura e no mundo em que o ser humano controla mais a natureza e os animais, etc nós temos um aumento populacional, e portanto, também, um aumento de utilização dos recursos naturais, que é cada vez maior. De milhões de anos em que ser humano é caçador-coletor para o tempo em que o ser humano é agricultor, portanto 10, 11, 12 mil anos aí, olha o que o ser humano fez com planeta nesses 12 mil anos em relação ao que ele fez com os milhões de anos anteriores? .
. . Então, antes que você diga: "Sim, o sedentarismo e a agricultura são melhores" - certamente são mais confortáveis.
Vai depender do critério: o que é melhor, a gente destruir o planeta ou ser caçadores-coletores? Na verdade, é uma não-pergunta, não tem o que é melhor, o que que é pior, então não faz o menor sentido fazer essa comparação, dizendo que nós evoluímos para uma sociedade melhor do que a sociedade anterior, e aí a partir disso a gente pode pensar, a gente domesticou os grãos e os animais, ou foi essa ideia de necessidade do sedentarismo, da agricultura, de continuação da agricultura que domesticou, que controlou o nosso comportamento. O segundo ponto que eu quero falar para vocês sobre esse questionamento da Revolução Neolítica do Gordon Childe é que na verdade os lugares e surgimento da agricultura, os lugares que os arqueólogos têm informações mais recentes sobre o surgimento da agricultura, não batem com aquele oásis que é a ideia defendida pelo Gordon Childe, ou seja, o Delta do Nilo, por exemplo, e o delta do Tigre e do Eufrates.
eu tenho aqui um mapa com essas culturas fundadoras, que são esses grãos domesticados principais, então em cima da esquerda para a direita tem dois tipos de trigo, depois da cevada, no meio ali tem o grão de bico, e embaixo tem a lentilha e dois tipos de ervilha. Tem um ponto em comum entre todas elas que é essa parte aí do norte da Mesopotâmia, parte central ali da Anatólia, mais ou menos central, para dentro, e a parte de cima do Levante E Síria, está vendo? Para cima da Síria e Turquia Central, que são regiões montanhosas, não são planícies.
Tem uma coisa que tem ali nessas regiões montanhosas que não tem na planície, que é o nível de precipitação de chuvas muito maior do que na planície. E o terceiro ponto relacionado a isso, a planície mesopotâmica é de difícil ocupação, eu tenho aqui uma foto recente do que essa planície mesopotâmica, então o sul do Iraque - tá vendo? que é meio pantanoso.
. . Se a gente for pensar nos sistemas de irrigação necessários ali na Suméria no início da ocupação da região, os rios descem literalmente falando das montanhas até a planície, e quando chega lá na planície especialmente o Eufrates ele se decompõe em vários sub-rios até chegar ao mar.
Então esse Delta todo que desce na planície, ele precisa, como ele é irregular, ele precisa ser controlado. Então, os campos que vão ser irrigados vão precisar de alguns canais para que saia a água desses lugares. Esses canais a princípio são muito simples, só que isso também traz um problema, uma manutenção constante, porque a água parada ali no canal (não é que dá dengue, a primeira coisa que a gente pensa com água parada).
O que vai acontecer é que tem aquele sol danado lá na região, e a água seca com muita rapidez, então aqueles canais têm uma tendência à salinização, e o sal na terra mata a planta. Então, você precisa de uma manutenção constante, não é tão fácil quanto parece ter sido naquelas regiões montanhosas onde você encontra as primeiras sementes domesticadas. Agora, para Revolução Urbana, o surgimento das cidades, a lógica do Gordon Childe vai ser o seguinte: o surgimento da agricultura, e aí o sedentarismo associado à agricultura, as pessoas precisam estar lá na terra para plantar e para cuidar; essa agricultura gera um excedente, que é a comida para as pessoas que não necessariamente estão lá plantando, elas tão fazendo outras coisas como, por exemplo, artesãos, sacerdotes, aquelas pessoas que cuidam especificamente da relação entre o humano e o divino; portanto, juntando isso com o controle de um terreno específico nós temos uma diferenciação social que é uma grande característica da cidade e do estabelecimento do poder.
Qual é a primeira cidade do mundo? Quais são as primeiras cidades? Eu tenho algumas candidatas, vou mostrar aqui para vocês e a gente vai ver que elas na verdade não necessariamente têm a ver com esses critérios do Gordon Childe.
Jericó, lá em Israel: por volta de 8000 a. C. , uma muralha - aí nessa foto dá para ver um pedaço da muralha - essa muralha tinha por volta de 1,5m a 2m de espessura - grande - e de 4 a 5m de altura em determinados pontos.
Essa não é a muralha bíblica de Jericó; tinha uma muralha bíblica, mas não era essa, essa era bem mais antiga. E aí lá dentro eles encontraram uma torre - é essa segunda foto, esse é um pedaço aí da torre. Está vendo que a foto é de cima para baixo?
É porque na verdade, como a torre é muito antiga, 8000 a. C. - você imagina uma ocupação que continuou no lugar, a cidade existe até hoje.
-Então essa ocupação vai se acumulando em cima uma da outra, essas pessoas continuam no mesmo lugar, e quando você escala ou chega lá embaixo, isso significa que aquela mais antiga, você tá olhando de lá de cima, né? E era uma torre que tinha por volta de 8,5m de altura, a base da torre tinha 9m de diâmetro, uma torre enorme - feita em 8000 a. C.
, o começo da agricultura. O que significa isso? A gente pode pensar pelos motivos óbvios, uma muralha serve para proteger, ela protege e traz segurança a um determinado pequeno espaço, relativamente pequeno, você não vai dizer que todo mundo mora ali dentro.
Mas ela está protegendo alguma coisa; por isso, a ideia de que a torre pode ter sido uma torre de vigilância, ou também, uma torre relacionada a algum tipo de culto ou alguma coisa tipo um altar, alguma coisa assim. Existe uma piada entre os arqueólogos, quando você vê alguma coisa e não sabe interpretar, não sabe o que é, é religioso. Pela lógica, pode ser que seja religioso, pode ser que seja de vigilância, a gente sabe que naquela região ali tinha uma fonte de água potável, então você pode supor que você tem uma população ao redor dessa fonte, que a muralha seja para proteger a fonte, E a torre também seja para proteger a fonte.
É uma região de água potável num lugar desértico. Perto ali desse monte, a gente tem essa, belamente decorada, fonte turística, conhecida como fonte do profeta Elias, e você pode ir lá tirar várias fotos. Está escrito, "A cidade mais antiga do mundo", mostrando portanto que se trata de uma situação em que você tem uma água potável, as pessoas se deram ao trabalho de fazer uma muralha de 1,5 a 2m de espessura, e de 4 a 5m de altura - você tem alguma espécie de controle, de planejamento, ali daquele grupo.
Isso é uma cidade? O que configura uma cidade? Segundo exemplo de candidato a primeira cidade do mundo: Çatal Hüyük, esse é o nome em turco, o nome do lugar em turco hoje, a gente não sabe o nome do lugar antigamente, que é por volta de 7.
500 a. C. Então essa primeira foto foi do começo das escavações nos anos 50, está vendo que parecem uns buracos assim?
Çatal Hüyük é conhecida como uma cidade bastante incomum para nossa ideia de cidade, então vou passar por uma foto aqui que é uma maquete feita em um museu. As casas eram todas grudadas uma na outra, não tinha rua nesse centro urbano, acredita-se que no seu pico de ocupação tivesse por volta de 10 mil pessoas morando ali. As pessoas andavam e ficavam em cima das casas, e andavam e entravam nas casas por escadas, não foram encontradas ruas, não foram encontradas muralhas, como mostra aí na maquete, e não foram encontrados prédios públicos significativos, as casas são todas meio iguais.
Essa foto aqui mostra uma reconstituição de uma dessas casas, então tem escadinha para você entrar no teto, um forno ali no cantinho, e aí tem uns touros, assim, que é religioso, não é decoração; é religioso, não sei o que é, é religioso, pelo menos deve ser. Foram escavadas aqui algumas dessas casas e foram encontrados esqueletos dentro dessas casas: as pessoas enterravam seus antepassados dentro das próprias casas, muitas vezes encontram-se esqueletos sem a cabeça, ou seja, a cabeça estava sendo utilizada para alguma outra coisa, alguma espécie de ritual, não sei. Muitas vezes são encontrados esqueletos, você vê pelo depósito, você põe uma pessoa, um corpo, ali e ele se decompõe e o esqueleto fica no formato da pessoa, só que as vezes são encontrados os esqueletos todos misturados.
O que leva a imaginar que a pessoa era enterrada em outro lugar de outra forma, o corpo se decompunha e aí eles desenterravam e colocavam ali de novo, o que significa algum valor ritual nessa sociedade. Agora, a grande característica de Çatal Hüyük: pouca agricultura, estamos em 7. 500 a.
C - a cidade é ocupada até por volta de 5000, mas tem poucas evidências de agricultura, portanto a ideia de que você tem uma aglomeração urbana de 10 mil pessoas, até 10 mil pessoas, de uma sociedade que está no momento de transição, que ainda também é muito caçadora-coletora. Tem alguns desenhos nas paredes muito parecidos com aqueles aqueles desenhos de cavernas que têm o desenho do animal e as pessoas caçando, tem nessas paredes dessas casas também. E uma sociedade que a princípio seja igualitária, não há grande diferenciação social entre as pessoas dessa cidade porque as casas são todas iguais, não têm construções monumentais, não tem uma construção que parece ser uma espécie de templo, uma espécie de palácio, enfim.
Gordon Childe tinha uns critérios, que ele vai colocar para diferenciar, "bom, aqui começa a cidade porque aqui eu encontro um grande centro urbano, que tem excedentes, que portanto, tem uma grande diferenciação social, artesãos, comerciantes, sacerdotes, um exército, pessoas que não estão trabalhando nos campos", você tem a cidade os campos ao redor dela e vai ter outra coisa muito característica da cidade, que tem a ver com o surgimento da escrita, que é a coleta de impostos. E pensando bem, a grande marca da cidade, da civilização é o coletor de impostos, porque é aquela pessoa representante de uma administração central que está ligada à distribuição desses excedentes. Portanto, ele é a pessoa da administração central que vai diretamente para o agricultor, e pega do agricultor aquele excedente para que seja distribuído na cidade.
Seguindo os critérios da arquitetura monumental: a arquitetura monumental significa uma arquitetura perene, feita para durar, de edifícios maiores, que são edifícios públicos no sentido de edifícios centrais, portanto um templo, um palácio e a arte associada a ele, como uma estátua, uma decoração de uma parede, algum determinado objeto particular. Por último, um comércio de longa distância regular, uma troca de produtos entre dois determinados lugares e esses produtos, bom, "eu preciso de um acesso regular a esse determinado produto porque ele é importante para minha economia em relação ao outro lugar que faz a troca também". Às vezes eu vejo alguns livros onde se fala que esse é o comércio internacional regular, eu acho a coisa mais engraçada, porque assim, internacional - gente, não tinha nações como a gente tem hoje para ter um comércio internacional.
No máximo põe umas aspas nesse "internacional", então eu prefiro dizer que é um comércio de longa distância, além do comércio local. Perguntar o que é uma cidade, qual foi a primeira cidade, quando surgiram as cidades, depende sempre daquilo que você quer dizer com cidade. Porque Jericó mostra que pode existir uma arquitetura monumental, portanto uma grande força de trabalho, coordenada de alguma maneira para construir essa arquitetura monudamental antes dos outros critérios.
Çatal Hüyük vai mostrar que pode existir uma grande aglomeração urbana, aquilo que a gente poderia chamar de cidade, 10 mil pessoas, antes da agricultura como base de sustento dessa cidade, e sem a grande diferenciação social, que vai ser a marca do Gordon Childe. E a ideia dele tem outro problema também, eu quero contar para vocês uma história que não vai estar em todos os livros ainda, porque é uma história muito recente. Eu vou contar para vocês de um lugar chamado Göbekli Tepe, também é o nome turco atual, que é um sítio arqueológico que foi descoberto, vou colocar a imagem aqui de Göbekli Tepe para vocês, uma das imagens, para poder ilustrar o que eu estou contando, depois eu vou explicar direitinho o que que tem aí.
Em 1994, um arqueólogo alemão chamado Klaus Schmidt, chamaram ele lá e tinha uma montanha no lugar no meio do nada lá na Turquia e "olha só, talvez tem umas coisas que o interessem aqui, porque tem umas, parece que tem uns túmulos, umas lápides aí". Ele foi lá dar uma olhada, e o pessoal achava que eram umas lápides, sei lá, bizantinas, uma coisa assim, porque tinha o terreno, assim, e uma pedra um pouquinho para cima. Eles achavam que eram umas lápides abandonadas, estava lá.
Ele olhou, ele era especialista em pré- história, ele olhou e falou "isso aqui não é lápide bizantina não". Depois daquela visita voltou para cidade, que ficava perto, e comprou uma casa lá imediatamente, porque ele falou que o resto da sua vida ia ser dedicada ao estudo desse lugar, e não deu outra. Ele descobriu um tipo de ocupação completamente desconhecida na história a arqueologia até então, e que muda totalmente a ideia que nós temos sobre o surgimento das grandes aglomerações, o calendário e a religião.
Klaus Schmidt morreu dez anos depois dessa descoberta, em 2014, o sítio arqueológico continua sendo escavado pela equipe do Instituto Arqueológico alemão. O que eles encontraram lá? Estruturas dentro - então, como está nessa imagem aqui, você em a montanha encontraram uma série - estão escavando ainda e estão começando a escavar - uma série de estruturas redondas com, está vendo essas aí no meio bem mais para frente assim, com megálitos (é o nome)?
Megálitos: "mega", grande, "lito", pedra, - pedras grandes. Megálitos enormes de 10 até 50 toneladas, de até 6m de altura - e aí assim alguns dispondo, como se fosse um círculo com dois no meio, dois maiores, assim. Encontraram especialmente nesses dois maiores, mas em outros, encontraram uma série de figuras de animais esculpidas nesses megálitos, e alguns deles têm figuras que parecem com figuras humanas, que às vezes têm o bracinho assim na pedra, esculpido de lado, assim.
Não encontraram, como se fosse, túmulo, nada disso. Parece que recentemente encontraram alguns esqueletos, mas ainda está inconclusivo se aquilo era um túmulo ou não. Encontraram ossos de animais cozidos como se fosse uma festa ou ritual, alguma coisa assim.
E eles estão tentando entender o que é isso, porque isso não existe daquela maneira com aquele tamanho em lugar nenhum. Fizeram a datação desse lugar: 10000 a. C.
, é Idade da Pedra mesmo, são caçadores-coletores, nenhum tipo de agricultura. Agora você imagina: um lugar gigantesco, uma grande montanha, com uma série de estruturas, que tem, provavelmente, algum caráter religioso, mas que vem antes da agricultura, bem antes da agricultura, isso está no fim lá da pequena Era do Gelo. m=Megálitos de 10 a 50 toneladas, quantas pessoas foram necessárias para carregar, para cortar pedra, carregar a pedra e levar a pedra lá em cima?
Isso é de milhares de anos antes de Stonehenge, aquelas pedras famosas na Inglaterra, que, "ah, como que eles conseguiram colocar a pedra lá em cima? Então, pode saber que foram alienígenas", porque como você não sabe como é que foi feito, e não foi feito por brancos europeus, foi o alienígena que fez, porque a gente acha que o pessoal de 10 12 mil anos atrás era incapaz de fazer as coisas e só a gente é capaz de fazer as coisas. Então, você tem, provavelmente, assim como tinha lá em Jericó, uma necessidade de um grupo bastante grande de pessoas, num período grande de tempo, que se coordenaram de alguma maneira para fazer essas construções monumentais.
Isso não parece ser uma cidade, porque não há indícios de ocupação que não seja uma ocupação ritual; não se sabe como é que as pessoas chegavam até ali e ficavam paradas ali um tempo, "sedentárias" o suficiente para construir esses monumentos; o que significavam, enfim. Como eu falei para vocês, a grande piada dos arqueólogos, que quando você não sabe o que é, é religioso. De fato, parece religioso, porque você tem nessas representações, nessas figuras, talvez representações, como Klaus Schmidt acreditava, de deuses, que são esses grandes megálitos com os bracinhos, etc; do controle dos humanos em relação à natureza.
Uma clássica ideia do que significa o surgimento da religião, antes da agricultura. Portanto, a ideia de que é necessário que exista agricultura, sedentarização, para que as pessoas sistematizem uma relação com o divino, e tenha uma sociedade que seja grande o suficiente para fazer grandes construções - não! Não necessariamente isso acontece, aquilo que a gente chama de templo hoje, ou seja, o lugar de culto religioso, o templo vem muito antes da cidade Voltando para aquela linha do tempo que eu apresentei um pouco antes, vamos lá no vermelho, olha só: Göbekli Tepe está lá em 10.
000 a. C. , passam-se dois mil anos até que apareça Jericó, e depois Çatal Hüyük, e só lá em 4 mil a.
C. ue você tem Uruk, que é a principal cidade a ser considerada a primeira cidade de acordo com os critérios de Gordon Childe. Portanto, os critérios de Gordon Childe são válidos?
Sim para Uruk, mas isso não necessariamente significa que a gente não pode pensar em outros tipos de cidades que são diferentes desse critério do Gordon Childe, até porque a gente está pensando no mundo do Oriente Médio, o "berço da civilização". Existem outras ideias de cidade em outros lugares do mundo, nas Américas, na Ásia, na África e a ideia de cidade que a gente tem na Suméria, e da escrita e da civilização, etc é UMA ideia de cidade. Portanto, "civilização" significa uma cristalização desse conjunto de ideias que não é o único.
E na próxima aula vamos falar sobre essas primeiras cidades sumérias, o surgimento da escrita relacionado a elas, e como que esses critérios do Golden Childe vão ajudar a gente pensar a ideia "completa" de uma cidade para aquilo que se convencionou chamar de civilização.
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