Cara, esse programa tá esquerdista demais. Cara, só fala em pobre, desvalido, favela, quilombo, quilombola. Ora bola!
Cadê os ricos, cara? Cadê o capitalismo? Onde é que estão os ricos?
Mauá! Mauá! Com o Barão de Mauá investindo, dá.
Uma das desgraças adicionais do Brasil é que só tem rico chinelão. Não se conta nos dedos das mãos do Lula quanto os ricos decentes, quanto os ricos com visão de país, quantos os ricos comprometidos com a nação esse país teve. Mas, em compensação, teve um que valeu por muitos, né, cara?
Com cinco Barão de Mauá já dava para ter feito um país de verdade. O Barão de Mauá tu sabe quem é, né? É o Irineu Evangelista de Sousa, nasceu em 1813, em Arroio Grande.
Onde é que fica Arroio Grande? Só podia ficar no Rio Grande do Sul, né, cara, tudo que é grande é no Rio Grande do Sul. Ele era gaúcho, só que não exercia.
Até porque se mandou cedo de lá. Sorte dele, né? Quando tinha cinco anos de idade, o pai dele foi morto e foi morto numa escaramuça bem típica de gaúcho lá, né?
O pai dele era plantador de vaca. É! É o cara que bota a vaca no campo, gigolô de gado, né?
Bota a vaca no campo, não faz mais nada e fica esperando crescer. E era ali uma zona de muito contrabando de gado, ele foi ao Uruguai buscar um contrabando de gado. Na volta deram uns teco no véio e o véio morreu.
Eu tô pra te dizer que para o Mauá foi uma sorte. Pro, no caso, Irineu não era Mauá ainda, que foi uma sorte porque ele foi trazido por um tio para o Rio de Janeiro, com nove anos de idade, foi posto no trabalho com nove anos de idade. Virou caixeiro, virou comerciante, que com 12 anos de idade já era o chefe lá dos estabelecimentos, de um tal de Pereira de Almeida, que era um atacadista, né?
Um comerciante a grosso, como então se dizia. Do Rio de Janeiro e, com 16 anos de idade, já era sócio do cara. É uma coisa.
O cara era gênio dos negócios, né? E aí esse Pereira devia um dinheirão para um escocês aqui do Rio de Janeiro chamado Richard Carrothers, que morava aqui e era um grande negociante britânico e ele vendeu. Ele deu o Mauá, então, o Irineu em troca das suas dívidas para esse escocês.
O Irineu era tão gênio nos negócios que o Carrothers voltou pra Escócia e deixou, a partir dos 19 anos de idade, o Irineu cuidando de seus negócios no Rio de Janeiro. Esses negócios floresceram muito, mas o Irineu resolveu vendê-los para se tornar o quê? Para se tornar industrial, cara.
Industrial num país que ainda não tinha indústria. Não tinha indústria porque havia uma restrição dos ingleses à existência da indústria no Brasil. A gente vai falar de algum dia aqui.
É uma coisa que tu ignorantemente não sabe. Até que surgiu a chamada tarifa Alves Branco, sob a qual falaremos algum dia aqui porque é um momento chave na história do Brasil e, a partir de 1846, o Brasil pôde começar a desenvolver indústrias. Qual foi a primeira indústria digna do nome do Brasil?
Foi a indústria do Mauá, é claro. Que ainda não era Mauá, ele vai virar Mauá depois. Mas nós vamos chamá-lo de Mauá e pronto, não enche o saco.
Aí o Mauá resolveu criar a primeira fundição e o primeiro estaleiro brasileiro porque já era a era do grande capital, já era a era da ferrovia, que o brasil não tinha e a era da navegação a vapor e o Brasil continuava navegando à vela. Porque vai ficar claro nesse episódio que o Brasil era um país escuro, que o Mauá iluminou. Era um país retrógrado que o Mauá fez progredir.
Era um país com iluminação a óleo de baleia que o Mauá iluminou e era um país de estradas poeirentas, que o Mauá botou nos trilhos, mas isso viria depois porque, primeiro, ele fez esse estabelecimento na Baía de Guanabara, em Niterói. Num lugar chamado Ponta de Areia. Ali ele criou, num lugar que já era uma armação de baleias, um lugar onde matavam baleias, só que já tinham matado todas as baleias, não tinha mais baleia para matar, ele comprou de barbada essa animação e transformou num estaleiro e fundição.
Conseguiu um capital de 60 contos, que era o equivalente ao rendimento de uma grande fazenda de café durante todo um ano, ou seja, era um monte de dinheiro, associado com esse Richard Carruthers e criou essa fundição. A primeira obra que essa fundição fez foram os canos de ferro para a canalização do Rio Maracanã, que na época ainda não era podre porque o Rio de Janeiro não tinha nem distribuição de água domiciliar. A água era entregue em barris.
Aí uma hora resolveu canalizar o rio, numa iniciativa junto com o governo. E aí quando os campos ficaram prontos, o governo não pagou os caras. "É.
não, essa obra foi adquirida na gestão anterior". Era um gabinete liberal porque o brasil se dividia. A política do Brasil se dividia entre liberais e conservadores, no segundo reinado.
Os liberais eram liberais na política e horrorosos na economia e disseram "não, nós não vamos te pagar". Aí assumiu. Ele quase faliu.
Ele ficou a um passo de falir, mas daí assumiu um novo gabinete. Um gabinete conservador, mas conservador na política e liberal em economia e liberou empréstimos de 300, pagou os canos, o rio foi canalizado, a água foi distribuída. A fundição, o estaleiro pôde enfim começar a florescer.
Passou a ter mais de 300 funcionários. Foi a primeira indústria digna do nome do Brasil e diversificou. Fizeram setenta e dois navios a vapor.
Na época o Brasil, só navegava vela. Depois fizeram engenhos de açúcar. Também a vapor.
Porque o Mauá era totalmente contra à escravidão. Quando ele comprou a Ponta de Areia, tinha 28 escravos lá. A primeira coisa que ele fez foi liberar os escravos e contratou basicamente funcionários que ele trouxe da Inglaterra, com bons salários.
Chegou a ter 300 funcionários nessa fundição. Quando estourou a Guerra do Paraguai, do qual Mauá sempre foi contra e que chamava de "Maldita Guerra" - essa expressão é dele. Ele foi meio que forçado pelo governo a fazer canhões.
E fez canhões, né, cara? E ganhou dinheiro com canhões de cobre. Depois também fez navios a vapor, com os quais o Brasil acabou ganhando a guerra, porque o Brasil começa a ganhar a guerra do Paraguai - uma guerra fluvial.
Na batalha do Riachuelo. Bom, nessa época o Rio de Janeiro era uma cidade suja e escura, quase horrorosa, se é que não fosse horrorosa, mas e perigosa. Bem ao contrário de hoje.
Porque a cidade era iluminada com lampiões de de óleo de peixe. Óleo de peixe era óleo de baleia, cara. Porque houve uma época que tinha tanta baleia, mas tanta baleia na Baía de Guanabara, que dava engarrafamento de baleia.
Tem imagens de um tal Leandro-não-sei-das-quantas, esqueci o nome agora, de 1700 e pouco, mostrando as baleias entrando na Baía de Guanabara em fila para procriar. 250 baleias por ano os caras matavam para fazer o tal óleo de peixe, que iluminava parcamente, uma luz pardarcenta, uma luz bruxuleante, né? Deixava o Rio de Janeiro ainda mais assustador de noite.
Quando o Mauá resolveu fazer o quê? Iluminação a gás. "Vamos formar o Rio de Janeiro numa Cidade-luz".
A ilha adquiriu uma vasta zona para os lados do que se chamava então Cidade Nova, depois ali da Quinta da Boa Vista, que era um lugar terrível, chamado O Alagado, que depois passou a se chamar O Aterrado. Por que? Porque ele aterrou aquele mangue, o tal Mangue de São Diogo, que era um lugar muito terrível e ele fez o Canal do Mangue e ladeou com belíssimas palmeiras imperiais, que ficaram lá durante tempos.
Morreram todas as palmeiras. Tem fotos delas enormes. Desenhos e Fotos também.
Vão diminuindo diminuindo e hoje não tem uma palmeira lá. E lá ele construiu a sua fábrica de iluminação a gás. Isso em 1852.
Só que quando ele trouxe também ingleses para criar essa fábrica de gás, teve uma epidemia de febre amarela. É uma coisa já extinta, não existe mais. Hoje não é um perigo que o Brasil corra porque a febre amarela é uma doença transmitida por um mosquito aedes aegypti.
É uma doença muito primitiva. Só países muito primitivos tem esse tipo de doença. Então, naquela época o Brasil era primitivo.
Agora já acabou com o perigo da febre amarela. Na época tinha e morreram cerca de 100. 100 dos funcionários que o Mauá trouxe e chamou o lugar de Antessala do Inferno.
Ele tinha um contrato com o governo que ele tinha que entregar estes lampiões a gás e ele entregou no prazo os lampiões a gás, em 1854. E os jornais especialmente o Jornal do Comércio, em 1854, dão definições, dão descrições muito minuciosas do encanto que aquela luz quando, enfim, o Rio de Janeiro era quatro ou cinco quarteirões no coração no centro do Rio de Janeiro, ao redor da igreja da Candelária foram iluminados pela primeira vez e o Rio de Janeiro pôde ver a luz. Depois, por volta de 1870, começou um confronto muito grande, o Mauá vai ganhar outro episódio.
O Mauá vai ganhar outro episódio aqui porque nesse primeiro eu queria só realmente me concentrar ali em Ponta de Areia e na fábrica de gás porque, logo em seguida da criação da fábrica de gás, o Mauá vai introduzir o Brasil na era do trem para fazer a primeira ferrovia brasileira, mas isso eu vou falar num outro episódio. Mas preciso mencionar um acontecimento específico disso porque ele vai causar a derrocada do Mauá. Quando o Mauá resolveu inaugurar a estrada de ferro, que iria do Rio a Petrópolis, ele convidou o Imperador.
Ele era vizinho do Imperador. Ele morava do lado da Quinta da Boa Vista, em um palacete que dizem que era tão bom quanto a própria Quinta. Dom Pedro II, que tem gente que gosta, que acha assim que era um monarca, um bonachão, bondoso, queridão com aquela barba, que estudava sânscrito, que estudava hebraico e que tinha uma tropa de choque no Congresso, a bancada ruralista, a bancada escravista, que defendia o trabalho escravo, que defendia a agroexportação, o agronegócio.
A agro é pop. Agro é pop quando planta maconha, que nem no Uruguai, cara. Que agro é pop plantando soja.
Não enche meu saco com agro pop. Então, agro pop plantava café com um monte de escravo. Não queria indústria.
Queria exportar café e importar bens de consumo. Uma coisa genial. Então essa bancada ruralista começou uma grande campanha contra o Mauá, que acabaria destruindo o Mauá.
E se diz que essa campanha começou quando, na inauguração da ferrovia, que falaremos em outro momento, o Mauá deu uma uma pá de prata com cabo de jacarandá, cravejada de brilhantes para que o o Imperador desse a primeira pazada no início das obras. Não foi na inauguração. Foi no início das obras da ferrovia.
Só que, no Brasil, trabalho manual era considerado trabalho escravo. Era feio você ser visto carregando um pacote, um objeto. Você tinha que ter um escravo para carregar o objeto.
Tu imagina que, num país que nem esse, o Mauá deu pro Dom Pedro II a pá para ele dar a primeira pazada e o Imperador deu, mas disse que se sentiu assim totalmente humilhado por aquele porco capitalista, interessado no trabalho e não na renda. E se inicia aí, verdade ou não, uma campanha que acabaria destruindo os negócios do Mauá. O Mauá foi vítima de uma campanha violentíssima em cima de parte da ala governista do senado.
As empresas dele acabaram sendo destruídas. Ele pagou todas as suas dívidas e pagou todos os seus credores. Morreu zerado.
Não devia nada para ninguém, mas o império, que foi o maior Império Industrial que o Brasil jamais teve, no qual falaremos em outra ocasião, acabou e o Mauá morreu poucos meses antes da proclamação da república. Não sei se a república ia fazer ele se tornar o gigante que ele deveria ter sido, mas eu sei que ele até hoje ele ainda ressoa como duas chances perdidas para o Brasil. A primeira chance perdida foi que o Brasil poderia ter se emparelhado com as maiores economias do mundo, poderia ter se industrializado nesses anos 1850 e 1860.
Não precisava ter perdido o trem da história como tantas vezes perdeu. E a segunda chance perdida é que nenhum rico resolveu. Nenhum não, né, mas pouquíssimos ricos na história do Brasil resolveram seguir esse caminho visionário, esse caminho é de um industrial, que aposta neste país.
Neguinho quando aposta, aposta provavelmente no pano verde. Então, assim, termina a primeira parte do episódio do Barão de Mauá, o rico que queríamos ter tido. Tchau.
O que você acaba de ver está repleto de generalizações e simplificações, mas o quadro geral era esse aí mesmo. Agora, se você quiser saber como as coisas de fato foram. Ahhh.
. Então você vai ter que ler.