Direção Espiritual: As provações

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Padre Paulo Ricardo
Qual a diferença entre tentação e provação? Como o cristão deve se portar diante de uma e de outra? ...
Video Transcript:
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Inspirai, ó Senhor, as nossas ações e ajudai-nos a realizá-las, para que em vós comece e para vós termine tudo aquilo que fizermos.
Por Cristo Senhor Nosso. Amém. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém. Muito bem, no nosso curso de Direção Espiritual gostaríamos hoje de falar a respeito das provações.
Por que esse tema, em primeiro lugar. Porque a maior parte das pessoas procura a direção espiritual, geralmente procura porque tem alguma dificuldade e porque está passando por algum período de sofrimento. Porque, afinal das contas, ninguém vai ao médico se não tem um problema, não é isso?
Então, existe um bom número de pessoas que procuram o sacerdote, procuram a direção espiritual, um aconselhamento porque está sofrendo. E aqui, então, é que a gente precisa de uma verdadeira luz que vem da palavra de Deus paa por sentido nisso tudo. Por quê?
Porque espiritualmente falando, o ser humano tem uma característica que não se encontra nos animais. Os animais sofrem sim, os animais têm sofrimentos físicos, mas eles não têm sofrimento espiritual. E, ao contrário dos animais, o ser humano quando encontra um sentido, quando ele encontra um porquê para o seu sofrimento, ele consegue abordar o sofrimento de uma forma diferente, ou seja, o sofrimento torna-se menos pesado, porque ele tem uma razão.
Porque ele tem um porquê. O famoso terapeuta, fundador da Logoterapia, Viktor Frankl, dizia que isso, o sentido das coisas, o porquê das coisas era fundamental para que a pessoa tivesse um equilíbrio psíquico e ele costumava citar uma frase de um ateu, Friedrich Nietzsche, Nietzsche dizia assim que o ser humano é capaz de suportar qualquer como, desde que tenha um porquê. Ou seja, nós somos capazes de suportar adversidades na vida, não interessa como você está vivendo.
Se você está vivendo um como muito atribulado, mas você tem um porquê, então as coisas ficam diferentes. Então, vamos tentar aqui jogar um pouco de luz da Palavra de Deus naquilo que são as provações. Primeiro vamos definir a palavra provação.
Em grego, nós temos uma palavra que tem um duplo significado "peirasmos" (πειρασμός). O que que é peirasmos? Peirasmos é, ao pé da letra, provação, porém, esta mesma palavra é traduzida de duas formas diferentes.
É traduzida às vezes como "tentação" e é traduzida às vezes como "provação". Na verdade, tanto tentação como provação, se você for olhar, são a mesma coisa. Porque quando você está provando uma coisa, ou você está tentando uma coisa, é mais ou menos.
. . o conteúdo semântico é o mesmo.
Mas, tecnicamente as coisas foram se diferenciando ao longo do tempo e se costuma usar a palavra tentação quando o sujeito é o diabo. E provação quando o sujeito é Deus. Então, aqui as coisas ficam meio diferentes, por quê?
Porque mudou a finalidade. Veja, você está passando por um momento de sofrimento. Se esse sofrimento tem origem demoníaca, o diabo só tem uma finalidade: quer levar você para o inferno, ou seja, ele quer perder a sua alma, ele quer levar você para o fogo do inferno.
E ele está focado nisso, somos nós que nos distraímos. O diabo não se distrai. Muita gente acha que o diabo quer só a nossa destruição física, por exemplo, ah, se eu estou doente, ah, certamente foi o diabo quem provocou essa doença porque isso daí é uma tentação do diabo.
Ou seja, foi ruim fisicamente o diabo é o promotor disso. Nem sempre porque nem sempre o diabo está interessado no nosso mal físico, depende da sua índole, depende de como você é. Existem pessoas que tem uma sensibilidade por prazer que se o diabo puder promover o bem-estar, o prazer, saúde, longa vida, essas pessoas vão se esquecer de Deus e ficar continuamente no pecado, tranquilas, vão tirar férias ns Bahamas, vão viver visitando os motéis, as boates, cheios de saúde, felizes e contentes, prósperos e na rampa do inferno, ou seja, vão se perder.
Então, cuidado, cuidado para não confundir o diabo quer uma coisa: a sua morte eterna. Ele não quer necessariamente a sua morte física agora. Pode ser que se você está muito bem espiritualmente, se você está vivendo um período de muita devoção, de muita sintonia com Deus, o diabo não tem o mínimo interesse que você morra agora.
Por quê? Porque ele sabe que se você morrrer agora ele perdeu você para sempre. Ele quer você no inferno.
Por isso que você morra agora, em estado de graça, não há o mínimo interesse do diabo. Então, cuidado. Cuidado, porque o que diferencia as coisas é a a finalidade.
Qual é a finalidade de uma tentação? Levar para o inferno. Ao contrário, Deus não tenta.
Na própria Sagrada Escritura, São Tiago nos recorda que Deus não tenta ninguém, Deus não pode tentar, mas não quer dizer que Deus não permita provações, por quê? Porque ele permite o sofrimento com uma outra finalidade, enquanto o diabo tenta você para levar para o inferno, Deus prova os seus eleitos, prova os seus amigos porque ele quer ver o amor, ele quer ver que você floresça no amor, na santidade. Por quê?
Vamos esclarecer isso de forma melhor. Porque só existe uma coisa que nos santifica. O que nos santifica realmente é o amor.
Você, vamos supor, reza bastante, vai à Igreja, faz jejus, terços, todo tipo de devoção, todo tipo de coisa. Muito bem. Deus te abençoe fazendo coisas boas, mas se você não tiver o amor de nada adianta.
São Paulo no recorda em seu famoso hino da caridade, da 1ª Carta aos Coríntios, se eu der, distribuir todos os meus bens aos pobres, mas não tiver o amor, de nada adianta. Se eu jogar o meu corpo às chamas, mas não tiver o amor, de nada adianta. Então, não é uma questão de sofrer ou não sofrer, rezar ou não rezar, mas é uma questão de amar ou não amar e aqui é que Deus quer promover o amor, por isso ele permite as provações.
Vamos pegar exemplos concretos, como por exemplo, o Padre Pio de Pietrelcina. O Santo Padre Pio viveu provações terríveis, claro que ele também tinha tentações. Aí a gente vê a distinção entre provação e tentação.
Padre Pio de noite enfrentava o demônio, levava uma surra, acordava no outro dia de manhã, o pessoal ia lá ver, ele estava todo ensanguentado, todo cheio de manchas roxas porque tinha apanhado do demônio, Deus permitia isso. Ora, por que o demônio lutava contra o Padre Pio? Se o demônio luta, ele luta com uma finalidade, quer levar para o inferno.
E porque Deus permitia isso? Se Deus permite, ele permite com uma finalidade, manifestar o amor do seu filho, fazer com que o amor cresça. Então, veja que no mesmo ato a gente tem os dois lados da moeda.
Por um lado o demônio bate no Padre Pio, mas por outro lado Deus permite e se Deus permite, ele permite não porque quer levar ao inferno, mas permite porque quer que o nosso amor cresça. Aqui que está a grande diferença entre tentação e provação. Então por exemplo, os estigmas, O Padre Pio tinha as suas chagas, essas chagas eram para ele um sofrimento físico e um sofrimento espiritual.
Agora, quem era o autor dessas chagas? Quem fez essas chagas no Padre Pio? Certamente não foi o demônio, foi Deus.
E se Deus deu de "presente" essas chagas para o Padre Pio, só pode ser para promover o amor, mas vejam, que coisa estranha, que Deus mande sofrimentos para a pessoa. Aquelas chagas eram dolorosíssimas, fisicamente dolorosas. Depois, Padre Pio, no início ele pensava inclusive que iria morrer de hemorragia, tal a quantidade de sangue que ele perdia.
No entanto, não morreu de hemorragia, o sangue que emanava dos estigmas era um sangue geralmente de bom odor, às vezes com fragrância de flores, não havia o menor sinal de infecção ou inflamação daquelas chagas. Não havia sinal de que a coisa estava regredindo e gangrenando ou ficando podre. Nada disso.
Tudo muito sadio e no entanto uma dor física tremenda. Sinal claro de intervenção divina, por quê? Porque havia esse aspecto de saúde e ao mesmo tempo a dor.
Mas não somente isso. Era uma dor espiritual, por quê? Porque antes de tudo o Padre Pio se sentia tremendamente envergonhado por aquela situação, porque as pessoas o acusavam e o acusavam de ser um frade, lesionista, auto-lesionista, que estava se causando aquelas feridas.
Um frade louco, histérico, desequilibrado. E não somente isso, as acusações se tornaram até mais graves quando ele foi acusado de ter problemas sexuais com mulheres, que na verdade, pelos fundos do convento mulheres eram introduzidas para ter relações sexuais com Padre Pio e tudo isso, essas acusações e isso era o mais doloroso de tudo, todas essas acusações vinham de onde? Vinham do clero, vinham de padres e parece que até o bispo de Manfredoni estava envolvido porque parece que havia um cartel, uma máfia dos padres e parece que o bispo também estava envolvido de padres que tinham mulheres e que acusavam o Padre Pio daquilo que eles mesmos eram, daquilo que eles mesmos faziam.
Bom, olhando para isso tudo, o que é que nós vemos? No caso das calúnias, é possível e provável que o demônio estivesse por trás da coisa, sem dúvida alguma, porque onde havia pecado, injustiça, certamente Deus não era quem estava provocando aquilo tudo, mas ao mesmo tempo, Deus estava permitindo e se Deus permite ele quer o crescimento no amor. Mas, por que é que Deus promove o crescimento do amor através do sofrimento?
Por uma razão muito simples, porque a Cruz não é a exceção. A cruz é a regra. Veja, não é possível nós seguirmos Jesus sem a cruz.
As pessoas hoje em dia, nós achamos, nós modernos, nós assim, no cristianismo atual achamos que somos geniais, nós inventamos um jeito de seguir Cristo sem a cruz, nós queremos o cristianismo sem a cruz, nós queremos um cristianismo analgésico. Mas isso simplesmente não é possível por quê? Porque o próprio Jesus disse, se aguém quiser me seguir, é a condição, se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e me siga.
Portanto a cruz é a regra, não é uma exceção. Se a cruz é a regra e não é a exceção, por que Deus permite a cruz, por que Deus quer a cruz? Por que é que ele fez essa regra?
Porque aqui nesta vida, aqui neste mundo em que reina o egoísmo, reina o pecado, só é possível que o amor cresça dessa forma através de uma realidade de purificação. É necessário purificar, como disse a carta aos Hebreus, "Sine sanguine non fit redemptio", não há redenção sem derramamento de sangue, por quê? Porque é o derramamento de sangue que faz com que o amor manifeste a sua verdadeira natureza.
O amor é um pacto de sangue, uma aliança de sangue que diz assim: "Eu derramo meu sangue, mas eu não desisto de você. " Você veja isso na família, por exemplo, quando é que você vê na sua família que o amor realmente está acontecendo, quem são as pessoas que você tem certeza que amaram você? Foram as pessoas que sofreram por você, não é verdade?
As pessoas que ficaram noites sem dormir, que acompanharam você até o hospital, que rezaram por você, que sofreram junto, pois bem, estas pessoas que sofreram junto com você, elas mostraram que têm essa determinação, esse pacto de sangue que diz assim, eu derramo o meu sangue, mas eu não desisto de você. Assim também Deus. Deus quer que nós cresçamos no amor e na caridade, até a estatura de Cristo, mas como é possível isso sem que nós purifiquemos o nosso egoísmo, purifiquemos essa nossa tendência de fazer com que o nosso ego, o nosso eu tome conta de tudo.
A nossa vaidade, inche e tome conta de tudo que nós somos porque essa é a grande tragédia da nossa vida. Então, vamos supor que você faça as coisas bem feitas, se você é um cristão, você fez tudo certinho, seguiu o manual, está seguindo os mandamentos de Deus, pagando o dízimo, rezando o terço, indo à missa, fazendo jejum, você é um cristão 100%, muito bem. Mas você já notou que quando você começa a fazer as coisas 100% a vaidade cresce?
A soberba dá sinal de vida, tô aqui? Você começa a se comparar com os outros e começa a se achar melhor do que eles? é nesse momento então que Deus entra para contrariar você, por quê?
Porque existe realmente uma ação divina que quer purificar você. Veja, é uma atividade divina aqui: Deus está fazendo, isso quer dizer que Deus aqui é ativo e você é passivo. É aquilo que nós chamamos de purificação passiva.
Quando você estuda o crescimento espiritual, os vários autores espirituais eles explicam assim, eles dizem que existem três fases: a primeira fase é a fase purgativa, a segunda fase é a fase (isso aqui é um 01, tá), a segunda fase é a fase iluminativa e a terceira fase é a fase unitiva. Pois bem, a primeira fase são os iniciantes, a segunda fase são os progredidos e a terceira fase são aqueles que já são os chamados perfeitos. Muito bem, na passagem da primeira para a segunda fase aqui entra a realidade da cruz claramente.
Por quê? Porque é esta cruz que vai me purificar. Você está progredindo espiritualmente, você está fazendo seu jejum, evitando o pecado, fazendo as coisas todas corretamente, só que chega um ponto em que você não é capaz mais de se purificar além daquilo que você já fez, então Deus entra com suas purificações, Deus entra e dá a você a oportunidade de progredir espiritualmente, de se purificar.
Isso se manifesta de forma diferente entre nós, padres, leigos, etc. , de vida ativa, consagrados de vida ativa e as pessoas que são de vida contemplativa. Quem é de vida contemplativa tem essa purificação de outra forma, uma grande aridez espiritual, aquilo que São João da Cruz descreve como "Noite Escura dos Sentidos".
Nós de vida ativa temos essa "Noite Escura dos Sentidos", mas ela se manifesta muitas vezes em provações reais, às vezes é uma doença, às vezes é uma perseguição, às vezes é em um insucesso ou um fracasso pastoral, em que você vai sendo purificado. Deus entra em sua vida ativamente permitindo que as coisas vão acontecendo portanto, atenção, cuidado com a loucura da teologia da prosperidade, de achar que se você está se comportando direitinho, está fazendo tudo certinho, Deus vai te abençoar e te dar uma prosperidade, ficar materialmente, fisicamente, tudo 100%, que beleza! Não!
Não é assim. Se você fizer tudo certinho vai haver uma purificação e ela é importante, por quê? Porque essa purificação vai nos preparando para Deus.
Ah, padre, mas então eu prefiro ficar aqui no início, sem progredir espiritualmente, não quero ir pra frente. Meu irmão, essa purificação acontecerá porque ou você a realiza aqui ou você a realiza no purgatório. Com uma diferença, aqui ela é meritória e aqui ela é bem menor.
No purgatório as coisas não me parecem que sejam muito agradáveis. Santo Tomás de Aquino diz com toda clarez que a menor pena do purgatório é maior do que a maior de todas as penas aqui da terra. Não entendeu?
Santo Tomás de Aquino diz que todo o sofrimento de cristo na Cruz, que foi a maior pena possível aqui nesta terra, o sofrimento da cruz é menor, perdão, não é isso mesmo. . .
é menor do que a menor pena do purgatório. Quer dizer que o purgatório é muito pior do que a cruz. Então, acho que nós precisamos optar por fazer a purificação aqui na vida que é o lugar de fazê-la, não é isso?
Pois bem, Vamos entrar nessa realidade e quando o sofrimento nos visitar vamos ter uma atitude espiritual de ver o quanto isso é uma graça de Deus para nós. O Padre Garrigou-Lagrange, famoso autor espiritual, ele cita, falando da santificação dos sacerdotes, ele cita o exemplo de um padre naquele livrinho "As três idades e as três conversões". Um padre francês, famoso, na época do Padre Garrigou-Lagrange, era amigo do bispo, vivia na cúria com o bispo e alguém caluniou aquele padre e o bispo, então, suspendeu o padre.
Apesar de ser amigo, o bispo querendo fazer a justiça e o que é correto suspendeu o padre. O padre que era inocente, quando recebeu aquela pena injusta foi para o crucifixo, se ajoelhou diante da cruz de Cristo e aos prantos disse "Jesus, obrigado, Senhor que oportunidade maravilhosa de vos amar", vejam que coisa linda. Isso é um homem que tem uma visão espiritual.
Por isso, aqui nesta direção espiritual vamos amarrar as coisas com uma realidade bem prática, você está sofrendo, não me interessa tanto quem foi a origem desse sofrimento, pode ser que todas as catervas infernais desabaram contra você e vem tudo do diabo ou pode ser que seja tudo permissão divina, não interessa. Pode ser que você esteja sofrendo uma grande injustiça ou simplesmente está acontecendo uma doença, uma coisa que é inexplicável, não me interessa. O que interessa é o seguinte: o porquê.
Por que Deus está permitindo tudo isso? Se ele está permitindo é porque ele quer o seu crescimento no amor, então, se ajoelhe diante da cruz de Cristo e diga, meu Deus, que oportunidade maravilhosa de vos amar. Deus abençoe você.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
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