Chogyam Trungpa - O que é Meditação?

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Corvo Seco
Trechos dos livros “The Lions Roar” e “The Pocket”, de Chögyam Trungpa. Chögyam Trungpa Rinpoche (1...
Video Transcript:
O que é a meditação? A definição de meditação é apenas uma sensação de ser, uma sensação de  existência. É a capacidade de ser como você é, sem outros artifícios para se sentir confortável. 
É algo que simplesmente está acontecendo. Aqui está você, me ouvindo,  ouvindo essa “transmissão”. Suponha que você está ouvindo um rádio,  e então, você desliga o aparelho.
Agora você se encontra suspenso em algum lugar.  Você estava ouvindo, mas o rádio foi desligado, e você ainda está aí, ouvindo o silêncio. Esse é o estado de meditação do qual estamos falando aqui.
Depois de desligar o  aparelho, você ainda está ouvindo, mas não há nada para ouvir. Você sabe que  desligou o aparelho, mas você ainda está aí, muito atento e pronto para que algo aconteça.  Ao mesmo tempo, você sabe que não irá mais se envolver em nenhum entretenimento.
Você já está  farto disso. Essa é uma sensação de suspensão e de vazio. A meditação, nesse sentido, é como  o efeito vago de ouvir um rádio desligado, e você ainda permanece totalmente acordado e  totalmente presente.
Esse é o significado da meditação. É uma sensação de absorção meditativa  sem nada em que sua mente possa se agarrar. Seu aparelho está desligado, suas antenas estão  retraídas: não há mais entretenimento.
No entanto, você ainda está aí, definitivamente você está aí. “Agora, eu desliguei este aparelho, mas ainda estou aqui”. Algo está acontecendo.
O espaço vazio.  Há uma sensação de existência que ocorre ali e que é a essência da meditação. Não se  trata de entrar numa absorção espiritual, num transe extraordinário, ou qualquer coisa  dessa natureza.
É uma sensação de estar aí, e então, estar aí sem fornecer terreno. Sem  entretenimento. Em branco.
Isso é meditação. O que é Meditação? Chögyam Trungpa.
A meditação é a chave para conhecermos a  nós mesmos. Esse é o objetivo da meditação. E existem várias técnicas para fazer isso.
Nós apenas escolhemos algo muito simples.  Não se trata de alcançar um estado de transe ou paz mental, ou de fabricar  um estado de consciência mais elevado. Deve-se pensar na meditação apenas como uma função  natural da vida cotidiana, como comer ou respirar, não como um evento especial e formal a ser  realizado com grande seriedade e solenidade.
Um dos aspectos importantes da atitude adequada  em relação à meditação é compreender que isso é um processo muito simples. Você não  precisa tentar fazer nada. Quando você senta e pratica meditação,  você não faz absolutamente nada.
Você apenas se senta e trabalha com  sua respiração e com sua postura. A prática da meditação na tradição  budista é extremamente simples e direta. Poderíamos pensar que deve haver algum ensinamento  secreto, algum método semimágico – que não podemos nos expor apenas fazendo algo simples como  respirar ou simplesmente sentar e não fazer nada.
Mas, estranhamente, quanto mais simples forem as  técnicas, maiores serão os efeitos produzidos. O que acontece, é que simplesmente não nos  conhecemos. Andamos muito ocupados.
Sempre estamos com muitas coisas acontecendo ao mesmo  tempo, temos milhões de projetos e atividades acontecendo. Então, finalmente, paramos  com nossas atividades físicas e passamos algum tempo conosco mesmos – pelo menos vinte  minutos, quarenta e cinco minutos, ou uma hora. Quando meditamos, nos relacionamos com o  tédio.
É muito chato ficar apenas observando a respiração e ficar sentado sem fazer  nada. Esse tédio, é a primeira mensagem da inexistência do ego. No tédio, nada acontece.
Você se sente como um grande líder revolucionário posto em um exílio. Você tinha muito poder,  estratégias e assim por diante, mas agora você está exilado em um país estrangeiro onde  não há nada a ser feito, e você está entediado. As maquinações e a administração do ego não têm  lugar no tédio, portanto o tédio é o ponto de partida para a realização do estado sem ego. 
Isto é muito importante. O tédio é necessário, e você deve trabalhar com ele. O ego está experimentando o seu próprio vazio.
Isso é uma experiência, não  uma conquista. Então, em algum momento, a pessoa começa a se entreter com todos os tipos  de neuroses ocultas. Tudo bem, deixe-as passar.
Enquanto você medita, surgem todos os tipos  de pensamentos: pensamentos sobre sua vida, seus planos futuros, conversas  com seus amigos e parentes. Todos os tipos de coisas passam pela mente.  Deixe-os passar.
Não tente dizer se eles são ruins ou se são particularmente bons. Apenas  deixe-os passar, da maneira mais simples possível. Quando você se relaciona com os pensamentos de  forma obsessiva, na verdade você os alimenta, porque os pensamentos precisam da sua atenção  para sobreviver.
Quando você começa a prestar atenção neles e a categorizá-los,  eles se tornam muito poderosos. Ao deixá-los passar, você descobre  que há uma sensação de abertura. Você não acha seus pensamentos ameaçadores  ou particularmente úteis.
Eles simplesmente se tornam uma fofoca geral. Um tráfego de  seus pensamentos. Apenas deixe-os passar.
Agora, observe o tráfego de seus pensamentos. Se você mora em uma cidade, você ouve o trânsito  entrando pela sua janela: lá vai uma motocicleta, lá vai um caminhão. Lá se vai um carro e  depois há alguém gritando.
No início você pode se envolver ou se distrair com o barulho, mas  depois começa a pensar: “e daí? ”. Da mesma forma, o tráfego dos seus pensamentos e a verbosidade  da sua mente são apenas parte da conversa básica que acontece no universo.
Apenas deixe-os  passar. E permaneça fixo em seu próprio vazio. Tenha uma atitude amigável em  relação aos seus pensamentos.
A prática da meditação é uma forma  de fazer amizade consigo mesmo. Digno ou indigno, não é essa a questão.  É desenvolver uma atitude amigável, aceitando a neurose que estava oculta.
A meditação não é uma questão de tentar alcançar o êxtase, a felicidade  espiritual ou a tranquilidade, nem é uma tentativa de ser uma pessoa melhor. A  meditação é simplesmente a criação de um espaço no qual somos capazes de expor e  desfazer os nossos jogos neuróticos, os nossos autoenganos, os nossos  medos e esperanças ocultos. Você apenas se senta e deixa todos  os seus pensamentos ganharem vida.
Você deixa sua neurose oculta aparecer. Agora, deixe a disciplina evoluir por si mesma. Não afastamos a neurose, nem nos sentamos com ela.
Saiba que a sanidade é permanente, a neurose é temporária. Em algum momento, até mesmo esses entretenimentos se tornam  absurdos – e você ficará entediado novamente. O tédio é algo muito importante na prática  da meditação; pois ele aumenta a sofisticação psicológica dos praticantes.
Eles começam a  apreciar o tédio e desenvolvem a disciplina, até que o tédio começa a se tornar um tédio legal. O tédio é como um rio na montanha. Ele flui, flui e flui, metodicamente e repetidamente,  mas é muito refrescante, muito revigorante.
As montanhas nunca se cansam de ser montanhas e  as cachoeiras nunca se cansam de ser cachoeiras. Por causa de sua paciência, começamos a  apreciá-las. Há algo de muito belo nisso.
Ouça o seu próprio riacho, ecoando a si mesmo.  E permaneça sentado, como uma rocha. Agora, para realmente se beneficiar da meditação, você precisa de mais do que apenas um vislumbre. 
Você precisa se comprometer a treinar meditação. Caso contrário, haverá muitas lacunas e erros,  e você experimentará uma confusão desnecessária. Portanto, é importante manter a prática e  seguir as instruções.
Talvez seja melhor encarar a meditação como um modo de vida. Este é o ponto básico da meditação: a menos que você esteja inspirado a  disciplinar-se, não há esperança. Se você se disciplinar apenas até a metade e depois  desistir, isso criará problemas para você.
Desse ponto de vista, a meditação pode ser  muito exigente. Entretanto, se você persistir, se você se sentar regularmente  e seguir essa disciplina, você desenvolverá a compreensão, e se  tornará hábil na clareza da prática. Então, a prática constante o levará à  descoberta sobre quem você realmente é.
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