Olá quais seriam as relações estabelecidas entre psicanálise e psicopatologia especialmente a psicopatologia contemporânea vamos examinar alguns desses aspectos o primeiro ponto que eu gostaria de ressaltar é que a história da psicopatologia é uma história já um tanto quanto longa ela se confunde em alguma medida com a história da psiquiatria não somente com a psiquiatria dita moderna mas inclusive com os primórdios da psiquiatria eh podemos por exemplo presenciar já entre os gregos tentativas de demarcações de alguns quadros clínicos inclusive alguns desses quadros pelo menos a a marca a nomeação observações matriciais ainda permanecem por exemplo quadros
tais como a melancolia a histeria já eram quadros que tem os seus primeiros esboços estabelecidos entre os gregos a própria paranoia igualmente Então nesse sentido eh temos uma vasta e longa história da psicopatologia e que aos poucos vai se articulando vai se entrelaçando com aquilo que virá a se constituir enquanto psiquiatria nos séculos 18 19 principalmente e obviamente né se desdobrando até os dias atuais um ponto importante que verificamos junto à psicopatologia é que ela acaba sempre tendo com ela este empenho que nós podemos chamar de taxonômico ou este empenho classificatório que empenho é este
a tentativa de sempre eh demarcar quadros clínicos ou entidades Clínicas demarcando igualmente grupos categorias ou seja estabelecendo uma forma de classificação dos quadros clínicos então há ali todo o empenho para se observar demarcar atribuir uma certa identidade a uma entidade Clínica e ao mesmo tempo estabelecimento de grupos portanto uma categorização eh este empenho Ele se mostra com muita por exemplo no século XIX onde não só a psat olia mas muitas disciplinas eh passaram a adotar esse tipo de procedimento vigente por exemplo na botânica né com lineus onde nós vemos e na zoologia também uma eh
tentativa de classificação demarcação de mapeamento né dos seres vivos né dos animais dos vegetais e ordenamento em classes em ordem em filos algo semelhante vai se passar também com a psicopatologia e um ponto importante é quando né além desse empenho classificatório além desse empenho de estabelecimento de categorizações no caso da psicopatologia categorizações do quê né dos comportamentos das condutas dos chamados transtornos ou desordens do que num dado momento especialmente no olhar do século XIX foi tido como anomalias especialmente né Eh este essa trilha esse empenho ganha um um ingrediente importantíssimo quando nos anos 1950 do
século passado são sintetizados eh de uma maneira exitosa os primeiros psicotrópicos ou seja os medicamentos que em tese atuariam né no campo psíquico Medic os que repercutiria modificariam uma série de sintomas e sinais que eram aqueles pres presentes em diversos quadros clínicos como por exemplo as psicoses Então os eh neurolépticos os antipsicóticos os psicotrópicos de maneira em geral psicotrópicos né é uma categoria medicamentosa que abrange muitos medicamentos e gradativamente Eles foram sendo construídos sintetizados em laboratório Isto vai se dando a partir dos anos 50 especialmente Nesta mesma época nós vemos um grande empenho da psicopatologia
aliada com a psiquiatria em ampliar eh as suas categorias clínicas né os grandes catálogos eles começam a ser e edificados e são expandidos passo a passo com a constituição dos psicotrópicos Eis aí uma interrelação bastante interessante quando os psicotrópicos são constituídos ainda que esses primeiros psicotrópicos sejam produzidos e gerem ainda muitos efeitos colaterais e esses efeitos colaterais depois foram sendo né diminuídos à medida em que a Indústria Farmacêutica foi né se desenvolvendo mas inicialmente Esses medicamentos mesmo gerando muitos efeitos colaterais era uma espécie de Tecnologia de intervenção né Face aos sintomas no campo da Saúde
Mental tecnologia esta que até então nestes moldes não havia havia várias outras formas de tratamento várias outras formas de intervenção nesse Campo da Psiquiatria e da psicopatologia nos anos 1950 há aí uma grande difusão de catálogos sobretudo O que vem a ser o dsm dsm é um catálogo eh orquestrado produzido pela apa Associação psiquiátrica de Psiquiatria norte-americana e esta Associação ela produz esse manual diagnóstico e estatístico eh de transtornos desordens alterações mentais o dsm e que vai passando por várias edições a partir dos anos 50 nós temos o dsm 1 e gradativamente vão sendo produzidas
novas edições e cada edição gera uma ampliação mais entidades Clínicas São colocados neste amplo cenário da psicopatologia o dsm não é o único catálogo mas ele é um catálogo muito presente Porque ele é presente entre profissionais sobretudo norte-americanos e que tem uma grande expansão uma grande influência em vários lugares do mundo e especialmente uma articulação muito importante com a mídia e agora com a internet então ele acaba a as nomenclaturas as entidades clínicas do dsm acabam tendo uma penetração muito grande no tecido social e especialmente em 1980 quando há a produção do dsm na sua
terceira Edição há uma grandíssima difusão né desses quadros das entidades clínicas e há uma curiosa sit ação até então estou enfatizando muito a psicopatologia Mas até então a psicanálise ela era uma referência muito importante para o campo da psiquiatria e da psicopatologia a psicanálise era um campo né de orientação para a clínica como um todo a partir do dsm 3 eh a psiquiatria se dissocia cada vez mais da psicanálise em vários lugares do mundo isso é muito Evidente então uma convergência que antes era posta agora se né se faz E aí nós temos uma espécie
de eh expansão sem precedentes né dos catálogos no caso as edições do dcm portanto a psicopatologia se tornar algo cada vez mais presente no lar social e nós temos aí a presença também de dois fenômenos que anos de mãos dadas e que sobretudo no século né no início do século XX começa a se mostrar muito expressivo Quais são esses dois fenômenos a psicopatologica dos comportamentos e condutas Ou seja é difícil ter um comportamento é difícil ter uma conduta que não seja catalogado que não receba uma etiqueta diagnóstica que não seja um traço que não seja
eh um aglomerado de questões né de sinais e sintomas que demarque uma entidade Clínica dentro desse catálogo dentro desse empenho taxonômico e o segundo fenômeno que se articula com este é o quê é a medicalização do sofrimento então A a medida em que né a as entidades Clínicas São expandidas as pessoas começam a se reconhecer nessas entidades hoje se uma pessoa faz uma busca né pela internet no Google vai encontrar rapidamente as características né de Tais e Tais quadros e vai ter ali um afã de se reconhecer de se identificar é muito fácil que isso
aconteça não não é bem para ISO que o catálogo foi feito mas é muito fácil que essa apropriação ou seja os diagnósticos eles se mostram como objetos de consumo tanto quanto os medicamentos né os medicamentos além deles serem né e molécula princípio ativo eles são também objetos de consumo eles são híbridos e nesse meio temos então aí essa questão dos diagnósticos enfim as relações da psicanálise como que elas se dão aí os pacientes chegam até nós hoje cada vez mais muito embaraçar senão identificados e se alimentando dessas caracterizações diagnósticas então eles chegam se autonome eu
sou toque ou eu tenho toque eu sou Tab eu sou teia né geralmente siglas que se inicia com a palavra t de transtorno né uma tradução do disord em inglês então o transtorno alteração e as pessoas se vem aí então ah eu tenho ou eu sou o TDH eu tenho transtorno afetivo bipolar eu tenho o transtorno obsessivo compulsivo eu sou o borderline etc e aí que tem algo muito importante a ser notada a meu ver a psicopatologia ela sim Ela nos mostra tal como um radar como que o mal-estar de uma dada época como que
os modos de Sofrimento vão se apresentar então a psicopatologia ela consegue captar de certa forma e ela tem um olhar que classifica ela não é ingênua classifica uma série de possibilidades né do mal-estar se apresentar do desassossego se apresentar entre nós então a psicopatologia Busca realizar uma espécie de eh categorização do desassossego que nos habita e que é inerente a Nós seres humanos e É nesse sentido que nós temos que estar atentos quanto a isso porque na psicanálise não se trata meu ver de uma Oposição a isto radical mas nós devemos deixar muito claro que
o analista ele não trabalha a partir desta classificação essa classificação chega até nós isso tá no laço social Isto é do nosso tempo é uma marca da subjetividade da nossa era as pessoas se reconhecerem também se automedicarem há trocas de medicamentos ou buscam prescrições com os especialistas prescritores Mas enfim são fenômenos que estão postos aí de maneira muito complexa no lar social a medicalização do sofrimento a expectativa né n de um um grande fármaco por exemplo quando o prosak ele foi lançado prosak foi lançado em 888 1988 prosak fluoxetina e foi uma grande revolução porque
foi um medicamento que se apresentou especialmente voltado para as depressões produzindo efeitos colaterais muito menores muito discretos em relação aos antidepressivos de Então e o prosac se tornou uma Vedete o prosac foi parar em capa de Vista nos Estados Unidos o prosac foi uma espécie de pílula da felicidade e que fez com que vários outros medicamentos vários outros princípios ativos fossem produzidos elaborados difundidos sintetizados e colocados no mercado então sempre há entre nós né E hoje cada vez mais essa busca né de uma pílula que resolva né de um medicamento que resolva o desassossego a
psicanálise é uma prática importante de se colocar nesse cenário e nesse mundo por quê Porque ela é aquela prática que não se reduzindo a questão né do diagnóstico não se reduzindo a identificação que pode ser feita com o quadro clínico né não reduzindo a clínica A Isto ou um tratamento com este cenário ela vai introduzir um outro elemento o que nós chamamos a questão do sujeito e aí nós vamos verificar que sim fármaco né uma palavra grega farmacon significa remédio né antídoto veneno dependendo da medida a palavra ambígua e ao mesmo tempo também palavra Esta
é uma terceira significação de farmacon muito interessante palavra E aí que temos Então essa presença e esse valor da psicanálise porque introduzir a questão do sujeito é Diferentemente de ficarmos só na superfície do sintoma ou na classificação que pode sim a nos nos conduzir a uma homogeneidade introduz o que a possibilidade de você falar sobre o seu sofrimento não só de você se apresentar o seu sofrimento para um olhar que identifique categorize classifique e eventualmente medique ou intervenha com uma técnica que também funciona como um medicamento medicamento não é só pílula é a expectativa de
uma intervenção no sintoma que tem a fins terapêuticos então falar sobre o seu sofrimento verificar que ali tem algo que não é só um transtorno não é só uma anomalia eventual não é só uma desordem Mas alguma coisa que indica algo sobre você próprio o sofrimento não é simplesmente uma alienígena que nos habita por assim dizer alguma coisa exógena né que não tem relação a psicanálise introduz uma questão constante a cada caso que vai se renovando na especificidade de cada caso enfim o que que este sofrimento tem a ver com você não somente né na
perspectiva de te fazer sofrer não somente enquanto sofrimento mas o que que isso te mostra sobre o que você deseja o que você faz ou deixa de fazer em sua vida o que que esse sofrimento Te indica sobre os adiamentos que você faz em sua vida e em última instância o grande adiamento o adiamento de si mesmo a procrastinação não simplesmente da ação do fazer do cotidiano a procrastinação de si então colocar as pessoas para que elas possam falar sobre si a partir do que faz com que elas sofram e não somente apressadamente buscar uma
solução mágica para o sofrimento Este é um ponto que pode nos indicar qual é a correlação Qual é a não correlação seria mais uma articulação possível Qual é a coexistência no mesmo mundo entre psicanálise e psicopatologia a psicanálise ela introduz a problemática do sujeito problemática do sujeito em última instância introduz o que que eu sou aí o que que isso tem a ver comigo onde eu sou aí o que há de meu nisto e não somente a queixa o lamento ou a rápida expectativa de resolução que muitas vezes é também uma forma de esconder de
si mesmo se você gostou desse vídeo se inscreva no canal é o convite que eu te faço Ative o Sininho para que possamos sempre aqui ampliar a nossa interlocução aabf [Música]