Você sabia que morcegos têm uma temperatura corporal de quase 40 graus Celsius? Às vezes, inclusive, até passa disso. E isso é tão quente para um ser vivo que nem mesmo as bactérias e vírus que causam doenças em outros animais conseguem afetar morcegos.
Morcegos são imunes a maior parte das doenças infecciosas por conta do seu metabolismo extremo. E se você não sabia disso, parabéns! Você agora sabe algo novo sobre morcegos.
Mas espera aí. O quanto você realmente pode saber sobre morcegos. Eles sabem voar, podem dormir de ponta cabeça e também se orientam por ecolocalização, que é a capacidade de se localizar usando o som.
Mas esse não seria um vídeo do Ciência Todo Dia se eu fosse falar só dessas características. Se você me assiste há tempo o suficiente, você já deve estar sentindo que vai ter uma crise essencial forte em algum momento. O ponto desse vídeo é fazer você chegar à triste conclusão de que você pode saber tudo o que quiser sobre morcegos, menos como é ser um morcego.
Esse vídeo vai fundo, é melhor você estar preparada. Só antes, você sabia que a imersão Front-end da Alura está na sua última semana de inscrição? A imersão Front-end é um evento gratuito online que conta com 5 aulas exclusivas em que você vai aprender na prática a desenvolver uma página de navegação, desenvolvendo habilidades avançadas em HTML e CSS.
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Eu sei que essa pergunta é estranha e parece nem fazer sentido, mas ela é uma das discussões mais interessantes da filosofia e da neurociência. E se você gosta de estar por dentro das perguntas mais fascinantes do universo, é melhor você assistir esse vídeo até o final. Uma maneira de responder a pergunta de como é ser um morcego seria encontrar algum conjunto de palavras, imagens ou até mesmo sensações que fariam um ser humano como eu entender exatamente como é ser um morcego.
A questão é, será que essa resposta existe? Vamos fazer um experimento mental para investigar isso. Imagine que exista uma máquina que consegue tirar o cérebro de um animal e colocar em outro sem causar nenhum dano.
Essa tecnologia vai colocar o seu cérebro em um corpo de morcego com tanta perfeição que você vai se sentir um morcego. Você terá todas as capacidades de um morcego estando no corpo de um morcego. Só que tem um porém, o seu cérebro ainda é humano.
Em algum lugar por aí, nós vamos ser um cérebro de morcego com um corpo humano. Sem querer nós criamos vampiros nesse experimento mental. O ponto é, agora que o seu cérebro está dentro do corpo de um morcego, isso significa que você finalmente sabe o que é ser um morcego?
Não. Pelo menos de acordo com o pensador Thomas Nagel, você não pode ser um morcego. Mas poxa Thomas, eu queria tanto ser um morcego!
No seu artigo, O que é ser um morcego, Nagel diz que mesmo que você saiba tudo sobre morcegos, desde como os cérebros deles funcionam, ecolocalização e até mesmo estar no corpo de um morcego, você nunca seria um morcego. Trágico. Mas a resposta dele levanta outra pergunta curiosa.
Por que Thomas Nagel se importa tanto sobre como é ser um morcego? O ponto do Nagel não é exatamente sobre morcegos. O que ele queria com esse artigo era criticar a visão fisicalista da consciência.
E não se assuste com o termo técnico. Você talvez até seja um fisicalista da consciência sem saber. O fisicalismo é a ideia de que tudo pode ser explicado pelos processos físicos que acontecem no nosso corpo e cérebro.
E isso inclui a nossa consciência, que é a experiência de habitar o mundo. Sabe quando você chuta a porta com o dedinho sem querer? A dor que você sente pode ser perfeitamente descrita levando em conta todos os estímulos elétricos passando pelos seus neurônios.
E aquele choro na garganta entalado durante o filme Interestelar também pode ser explicado como uma consequência da interação entre cada átomo e molécula dentro de você. O fisicalismo defende que tudo no mundo é feito de coisas físicas. E que a ciência, especialmente a física e a neurociência, conseguem explicar completamente tudo, incluindo a experiência de ser um morcego.
Para um fisicalista, deve sim ser possível descobrir como é ser um morcego. Um morcego é apenas um organismo vivo que pode ser totalmente compreendido com as ferramentas científicas certas. Colocando isso de outra forma, para fisicalistas, a pergunta como é ser um morcego pode ser respondida com precisão.
Se você concorda com essa afirmação, parabéns. Você é um fisicalista da consciência e o Thomas Nagel te odeia. Mentira, ele não te odeia, ele nem conhece você.
Mas ele discorda de você sobre a natureza da consciência. E também sobre morcegos. Beleza, mas então qual é a visão dele sobre a consciência?
Nagel é um dualista. E eu preciso de um vídeo só sobre filosofia da mente para explicar o que é um dualista. Se você quiser um vídeo desses, deixa um comentário aqui com um emoji de morcego, inclusive.
A parte boa é que nós não precisamos ir tão a fundo no dualismo para o vídeo de hoje. Porque ele na verdade é sobre a crítica que o Nagel faz da ideia de que a consciência pode ser entendida de uma forma puramente científica e fisicalista. Tá bom, então qual que é a crítica dele ao fisicalismo?
Para ele a consciência nunca vai poder ser objeto da ciência, porque a ciência lida com sistemas objetivos. Um planeta orbitando uma estrela, uma maçã caindo de uma árvore, um conjunto de moléculas causando uma doença em um ser vivo. No caso da consciência, existe um caráter subjetivo intransponível e irredutível que não pode ser posto por uma análise científica.
Essa é uma frase que tem muita palavra complicada, então vamos um termo por vez. Aqui nessa tela eu tenho o meu vídeo sobre o paradoxo do navio de Teseu. Todos que viram esse vídeo observaram o mesmo conteúdo objetivo, o mesmo conjunto de imagens e palavras passando informação sobre o tema do vídeo.
Até a camiseta que eu estou usando é igual. Mas as exatas emoções, reações e reflexões que esse vídeo levantou em cada pessoa é individual. Ou seja, o que você sentiu e pensou enquanto assistiu esse vídeo pertence somente a você.
Esse é o lado subjetivo da consciência. Segundo Nagel, não existe nenhuma forma de me fazer experienciar como uma outra pessoa experienciou o vídeo. A experiência subjetiva é intransponível, porque ela pertence somente ao indivíduo que teve ela.
E isso vai muito além de morcegos. Nagel também afirma que algo como a experiência do sabor do café ou textura que você sente de uma mesa quando passa a mão não podem ser precisamente descritas por nenhum conjunto objetivo de termos. A única forma de saber o gosto do café é tomando o café.
E de certa forma, esse gosto do café é só seu. Ele é uma experiência pessoal sua e não existe nenhum conjunto de explicações científicas capazes de traduzir a experiência. Ou seja, ela é irredutível.
E como recompensa por terem ouvido essa explicação complicada, aqui está a foto de um morcego muito fofo. E aproveitando que os morcegos voltaram, é aqui que entra o porquê do artigo famoso do Nagel falar especificamente de morcegos. Dentro de uma visão dualista como a do Nagel, mesmo que uma máquina transforme o nosso corpo no corpo de um morcego, nós nunca seremos morcegos.
Nós só seríamos a consciência de um humano dentro de um morcego, ou um corpo de morcego com capacidades mentais de um humano. De outra forma, não existe nenhum conjunto de palavras, nenhuma série de imagens, ou cheiros, ou conjunto de experiências mentais que conseguiria mostrar um ser humano como é ser um morcego. A experiência de ser morcego pertence somente aos morcegos.
E essa experiência subjetiva não pode ser traduzida em termos científicos, nem mesmo que o cérebro de um morcego seja perfeitamente desvendado pela ciência. Mas por que essa conversa sobre morcegos ficou tão difícil, tão rápido? É porque ela faz parte de uma discussão bem maior, conhecida como problema difícil da consciência.
Discutir filosofia fica difícil porque é preciso de um grande esforço para se comunicar de forma clara, precisa e logicamente consistente. Filosofia em alto nível não é uma disciplina fácil. E mesmo assim, nenhum outro campo ou discussão da filosofia tem difícil no título.
Mas o problema difícil da consciência tem. O que indica que ele é difícil até mesmo para acadêmicos que dedicaram a vida deles estudando essa questão. Mas não se preocupe, porque o que ele tem de difícil, ele também tem de interessante.
Eu explico. Vamos deixar os morcegos de lado por um momento e pensar em nós dois. Você e eu.
Será que eu posso saber como é ser você? Nós dois somos humanos. Mas mesmo que eu saiba tudo sobre você, sobre como o seu corpo funciona, todos os seus gatilhos mentais, as suas capacidades como ser humano, existe algo que eu não posso ultrapassar, que é a experiência subjetiva que você tem.
Por exemplo, eu posso descrever o que é sentir tristeza e entender os mecanismos da tristeza, mas eu nunca vou saber exatamente como você sente a sua tristeza. Em outras palavras, eu posso compreender como a mente funciona e o que causa esse funcionamento, mas a minha consciência não pode vivenciar o que a sua consciência experimenta. Isso ficou pesado bem rápido.
O filósofo David Chalmers faz uma distinção entre os problemas fáceis e os problemas difíceis da consciência. Os problemas fáceis tratam de entender a mecânica do cérebro, como por exemplo, a neurociência explicando a percepção ou a cognição, ou como e por que nós reagimos a certos estímulos e comportamentos. Mapear todas as conexões cerebrais de uma mosca, por exemplo, foi um avanço em responder o problema fácil da consciência.
Já os problemas difíceis lidam com a origem de uma experiência subjetiva. E mapear o cérebro da mosca não avançou o problema difícil da consciência. Não temos a menor ideia de como traduzir conexões neurais na experiência de ser uma mosca.
Mesmo que duas pessoas tenham experiências sensoriais semelhantes, a maneira como cada uma sente ou vivencia algo de forma única revela o caráter pessoal da experiência consciente e nos coloca diante do eu que vive essa experiência. Mesmo com uma teoria da mente perfeita, capaz de escrever toda a cadeia de causa e efeito mental com precisão extrema, essa teoria da mente talvez não seja capaz de explicar exatamente a experiência subjetiva que cada um de nós temos. E se esse for o caso, certamente o morcego sabe de algo que nós não sabemos, e que nós também nunca vamos saber.
Como é ser um morcego Esses argumentos do Nagel e do Chalmers mostram a perspectiva de que nós não podemos reduzir organismos vivos apenas a funcionamento mecânico deles. Mesmo que eu queira ser um morcego, eu nunca vou conseguir. A experiência subjetiva parece ter uma dimensão intransponível e que ela não pode ser conhecida objetivamente.
E é isso que o Nagel argumenta com o seu artigo do morcego, que o mundo subjetivo não pode ser tocado por algo objetivo como a ciência. O que, pra deixar claro, não é uma negação do poder da ciência, mas a afirmação de que existem tópicos no mundo que não são científicos. Ou seja, a minha experiência subjetiva de estar aqui, de pé, na frente da câmera, nesse instante e nesse ângulo, jamais poderá ser objeto da ciência porque essa vivência só é minha e de mais ninguém.
Boa tentativa. Pelo menos tu viveu algo único. E do mesmo jeito, tudo o que você sentiu e pensou enquanto assistia esse vídeo é especial, porque dentre todas as pessoas que também assistiram, você é a única que sentiu e pensou do seu jeito.
Tenta apontar pra gente aqui nos comentários o que você sentiu e pensou assistindo esse vídeo. E não esquece de se inscrever caso você ainda não for inscrito para ter mais crises existenciais. Muito obrigado e até a próxima!
E na reta não há nada melhor do que ganhar um ganho de tempo.