[Música] na íntegra especial de hoje vai falar sobre as diversas concepções de Infância concepções que se alteram em diferentes momentos históricos e diferentes culturas para discutir esse tema nos falam duas mulheres Mari del priori historiadora Doutor em história social pela Universidade de São Paulo e clariss con antropóloga Doutora em antropologia social pela Universidade de São Paulo assista agora na íntegra inteligente [Música] as concepções que nós temos hoje de criança e infância são as mesmas que se tinha no passado certamente não Essas são concepções historicamente construídas E se eu tivesse que associar alguma palavra essa noção
de Infância ou criança no passado eu diria que essa palavra seria ter uma infância no Brasil até muito recente esse passado não tá tão longe assim era muito mais uma questão de esperança do que uma realidade e por quê primeiro porque as nossas taxas de mortalidade infantil sempre foram altíssimas eh Exatamente porque as nossas condições materiais de vida eram muito ruins Exatamente porque nós não tínhamos uma rede hospitalar organizada Exatamente porque as questões de saneamento nas cidades sobretudo nas cidades coloniais isso foi largamente comentado por todos os Viajantes estrangeiros que passaram aqui pelo Brasil eram
as piores possíveis nada disso ensejava o fato da criança medrar dela crescer então raramente ela passava dessa fase que os antigos chamavam eh a criança por miúdo né ou ingênuo que eram as duas palavras que até o final do século XVI eram corriqueiramente utilizadas para designar as crianças até 7 8 anos por que miúdo ou ingênuo ingênuo Porque acreditava-se que a criança até aos 7 anos momento em que ela recebia a primeira comunhão não tinha nenhuma ideia não fazia nenhuma diferença entre o bem e o mal era no preparo pra comunhão e portanto para esse
ingresso oficial na vida do catolicismo que a criança então poderia optar entre uma coisa e outra e a partir desse momento ingressar nessa comunidade mais larga que era a da vida Religiosa e social no Brasil é bom a gente ter sempre em conta que até pelo menos o início do século XIX momento chegada da família real Portuguesa ao Brasil nós somos uma grande fazenda e mesmo as nossas cidades mais importantes as cidades portuárias orbitavam em volta do calendário religioso era ele que designava a possibilidade de uma atividade social na qual as crianças também estariam sempre
imiscível vida social mas para além dos problemas digamos de saúde no Brasil é importante lembrar que tão logo a criança ganhava a possibilidade diferenciar o certo do errado ela era drenada para dentro do mundo do trabalho a infância não só era uma esperança como ela muito provavelmente estaria relacionada também com a condição social da criança se ela era uma criança livre e pertencente a elite ela certamente teria condições de ter uma infância identificada com aquilo que nós hoje chamamos de Infância brincadeiras educação um lar harmônico mas se ela era escrava ou filha de agricultor os
pobres tão logo ela ficasse de pé ela estava condenada a participar desse trabalho que era uma forma sobretudo de sobrevivência porque nós temos também que ter em conta que até o final do século XIX momento do início da industrialização do Brasil o Brasil sendo uma grande Fazenda o trabalho era agrícola e a criança ela podia perfeitamente numa atividade agrícola desempenhar os papéis os mais diversificados dar ração paraos animais cuidar de pequenos rebanhos catar mato eh das plantações eh descaroçar algum produto Então ela era rapidamente drenada para dentro do mundo do trabalho O Felipe arrier eh
que foi um pioneiro um grande Historiador de domingo porque ele não tinha nenhuma relação com a academia francês ele examinando há muitos anos atrás os primeiros documentos sobre a infância e percebendo rapidamente essa mudança que era imposta a criança notadamente até o final do século XVII na Europa também ou seja a criança não tinha infância ela era levada para dentro do mundo do trabalho e quando ela era delite ela era submetida a toda uma agenda educativa que a identificava justamente com a sua condição social obrigando essa criança a conhecer inúmeras disciplinas a aprender esgrima a
montar a cavala enfim era um cardápio vastíssimo de conhecimentos que essa criança tinham que receber para fazer frente à sua condição social ele chegou com conclusão de que não haveria infância que a passagem pro mundo adulto era muito rápida e mais do que isso que o fato da mortalidade infantil ser recorrente também na Europa isso desqualificar a infância que não haveria digamos uma valorização da Infância no passado ora esse trabalho do Felipe arrier que é absolutamente Pioneiro ele despertou em historiadores como eu e outros que estudaram a pequena infância eh na França sobretudo que passaram
a olhar Idade Média também e os seus documentos eh o que nós fomos investigar era se de fato apesar da mortalidade a infância era um período desvalorizado ou a criança era desvalorizada e o que pelo menos eu percebi na Minha tese de doutorado defendida na USP que chama-se ao sul do corpo que tá publicada pela Unesp é que malgrado as dificuldades da vida da criança e da exiguidade da fugacidade dessa vida a criança brasileira ela foi amada nos seus primórdios basta a gente olhar por exemplo a coleção de testamentos e inventários que está publicada pelo
arquivo do Estado de São Paulo de mães que no momento eh do seu Testamento no momento da morte tem uma preocupação infinita com as os seus filhos com quem eles ficarão por quem eles serão educados e essa essa manifestação ela inclusive se cristaliza em palavras essas crianças são denominadas de filhos do coração então tá aí o afeto sentimento que o Felipe barrier costumava desconhecer e o futuro dos filhos é preciso que eles aprendam letras é preciso que eles aprendam números é preciso que eles aprendam a rezar com quem eles vão ficar quem serão os tutores
para onde irão os bens então percebe-se que apesar das condições muito árduas de vida e da exiguidade da fugacidade da infância essas crianças eram valorizadas não só no momento da morte da mãe mas nos inúmeros cuidados que antropólogos e etnólogos já recolheram com relação à primeira infância o medo por exemplo de que o sangue dessas crianças fosse chupado durante a noite por Bruxas então era preciso que o berço da criança que a cama da criança fosse defendida muitas vezes até com remédios rudimentares tirados da tradição sangue de cobra pincelada no berço por exemplo era de
grande eficácia contra as bruxas ou no Arsenal enorme de pequenos medicamentos receituários feitos em casa xops lambedor toda sorte de remédio que procurasse afastar a doença da criança o hábito de não lavar a criança é muito interessante que numa sociedade eh higienizada como a nossa e muito sensível ao olfato eh seria impensável eh passar na cabeça de uma criança gema de ovo misturada a cachaça para proteger a moleira mas era assim que se protegia as crianças no passado eh de qualquer tipo de ataque de enfim de doença o corpinho cada vez mais engordurado era também
uma forma de proteger do mal olhado do olho gordo eh e de epidemias e uma preocupação muito grande que a gente vê das Mães com alimentação infantil um hábito que depois os Viajantes europeus do século XIX vai vai vai deixá-los completamente escandalizados era aquele das Mães mascarem os alimentos tirarem da sua boca e colocar na boca da criança pequena a tentativa era de fazer para além do aleitamento que essa criança arredonde o mais rápido possível porque identificava-se gordura com uma forma de proteção às doenças Então esse hábito que os Viajantes vão ver inclusive de escravas
mascando comida e botando na criança que não é seu filho porque as amas eram também as encarregadas de arredondar eh as crianças era um hábito frequente entre as nossas mães do passado e muito mais uma demonstração de carinho do que de mais de n como Liam os Viajantes e de fato essa comida eh amolecida fazia com que a criança ganhasse em peso e supostamente ganhasse em proteção contra a morte então só para fechar Lembrando que esse conceito de Infância ele vai ser construído eh nós vamos ver um pouco mais à frente que a escola vai
ser importante nesse aspecto e também a consolidação de uma vida burguesa que vai se cristalizar no Brasil a partir da segunda metade do século XIX com urbanização crescente migração Campo cidade vinda e importação de modelos europeus momento em que a criança começa a ganhar esse desenho essa feição de Reizinho do Lar lembrando sempre que essa é uma condição de criança de Elite e não da maior parte das nossas crianças que até muito recentemente nos anos 80 eram empregadas como mão de obra e portanto não tinham infância a gente pode pensar que a educação infantil hoje
está voltada e tá focada numa noção de infância que é sempre bom que a gente lembre que é historicamente eh localizada né Essa é a nossa noção de infância e e e essa nossa noção de Infância é algo que tem se desenvolvido paralelamente exatamente à educação escolar né então quando a gente diz que ela é historicamente localizada eh a gente quer dizer que ela nem sempre foi assim na nossa própria história mas Isso significa também que ela nem sempre é assim em outros lugares então em outras culturas em outras sociedades em outros lugares do mundo
e não só nos outros momentos históricos mas também nesse nosso momento contemporâneo há outros modos de ser criança e de aprender inclusive e e qual é a grande diferença Se a gente pudesse talvez pegar uma ou outra cultura específica e comparar com a cultura que a gente tem aqui no Brasil o que a gente pensa do período da infância é difícil falar no Brasil também Porque dependendo da região a gente tem diversos tipos de conum opções diferentes de crianças diferentes mas o que se espera das crianças dos grandes centros no Brasil pra criança indígena ou
pra criança da Europa qual é a grande diferença professora eu gosto de pensar um pouco antes até do que você tava me perguntando que é quando quando a gente fala de concepção de Infância ou concepção de criança do que que a gente tá falando exatamente né porque e essa é uma das grandes diferenças O que significa ser criança pode ser muito diferente assim como já foi muito diferente aqui no Brasil ou na história desse que a gente poderia chamar de mundo ocidental enfim para eh na falta de melhor melhor termo né porque isso também é
uma localização um pouco um pouco difícil de fazer mas enfim eh o que a gente chama de criança o que a gente o que a gente delimita como a infância é algo muito muito específico muito particular né em outros lugares inclusive se poderia dizer que não há uma noção de Infância por quê se a gente pega uma uma tese que eu gosto muito que é a tese de um Historiador francês que é o Felipe arier se escreve aries eh ele diz ele mostra como na França no que ele chama de regime da né o regime
antigo eh como na França foi mudando a própria concepção de infância e ele nos sugere que tem um momento em que um sentimento de infância surge o que que significa o sentimento de Infância significa como ele mesmo diz não significa que as pessoas se afeiçoa mais as crianças não é uma questão emotiva afetiva significa que a ideia de Infância se despr da em relação às idades da vida e se e se contrasta com a ideia de adulto né É com o sentimento da infância que a vida adulta e a vida infantil se distinguem e se
delimitam né Isso quer dizer que a gente só pode falar de uma noção de Infância efetivamente quando houver essa distinção entre o que é a infância e a idade adulta né A escola é uma é uma instituição que fez muito isso né a a o desenvolvimento da da escola é paralelo a esse desenvolvimento de uma noção de Infância como também é paralelo o movimento de nucleação familiar Ou seja as famílias vão vão se tornando aquilo que a gente chama de família nuclear em antropologia que é papai mamãe e os filhinhos né ao contrário da família
extensa em que muita gente de várias gerações conviviam né em que os irmãos se mantinham morando juntos tendo filhos casando né com seus pais então você tinha várias pessoas das das diversas gerações Isso significa que as coisas foram centradas nessas crianças que ganharam espaços particulares definidos Então se a gente pensa a escola a gente pensa Exatamente isso é um é é é um prédio né que eh que é o lugar onde se vive pelo menos uma parte importante da da infância desse momento da vida eh em que você tem relações particulares que são as relações
com seus colegas entre crianças os adultos presentes são os professores né os gestores enfim a merendeira né as pessoas que nutrem e que e que cuidam da formação dessas crianças e material escolar significa também toda uma produção relativa a essas crianças e a essa infância Então você tem um mundo que é o mundo das crianças né Sem contar uma coisa que eu sempre brinco que é o fato de que você tem a conversa de adulto que criança não pode eh ouvir né uma coisa que nos diz muito sobre o que significa ser criança no Brasil
e hoje o que significa ser criança nesse mundo ocidental Hoje há coisas que são só das crianças e aquelas coisas que criança não pode ouvir que criança não pode presenciar que criança não pode ver o que é vetado às crianças né O que significa ser criança hoje no Brasil como você dizia ou no mundo ocidental enfim não indígena não oriental enfim é muito diverso e e tem uma diversidade interna muito grande mas também tá muito pautado aos direitos das crianças e aos direitos universais aos direitos humanos relativos às crianças né E esses direitos também só
podem ser entendidos nessa especificidade porque eu falava que tem coisas que são vetadas as crianças eh isso significa por exemplo que quando a gente lê que a criança deve a escola e não pode ser explorada né pela pelo mercado de trabalho coisa que enfim tenho certeza que todos nós concordamos mas a gente também diz uma outra coisa diz que a criança não pode trabalhar então É como se você restringisse a a experiência infantil ao que é lúdico e ao que é formativo Educacional sem você imaginar a possibilidade de algumas algumas eh algumas atividades Eh que
que são produtivas podem ser também lúdicas de aprendizagem e de Formação Então essa uma coisa uma das Pistas que a gente pode começar a seguir quando a gente pensa em outros modos de ser criança mesmo no Brasil porque no Brasil muito grande região agrícola Acho que até as crianças indígenas essa esse conceito de trabalho é bem diferente é muito diversificado claro então por exemplo um filho de pescador se ele não pode acompanhar o pai na pesca ele terá muita dificuldade em aprender a própria atividade relativa à pescaria né normalmente isso é vedado para esses filhos
de pescadores hoje primeiro porque eles têm que acordar cedo para est na escola né então eles não podem pegar um um barco pesqueiro e passar a noite no mar como como seria necessário né para que Ele pudesse de fato acompanhar tem que acordar cedo para ir pra escola já complica essa essa convivência de Pais e Filhos numa atividade Pesqueira né agora eh e depois porque a gente costuma e a gente tem tem transportado ess muito muito diretamente Eu acho essa ideia de que a criança não pode explorada no ser explorada no trabalho então é óbvio
que a gente não quer que crianças sejam exploradas por multinacionais por indústrias brasileiras ou seja lá o que for mas a gente tem eh expandido imagino demais e de um jeito pouco refletido isso para toda e qualquer atividade produtiva o mesmo pr pra criança Campesina como você lembrava né ir pra roça ajudar os pais na roça pode não ser terrível para essas crianças e pode ser muito importante para que elas se insiram eh nas atividades produtivas sim mas também eh numa formação de uma condição de um corpo né de de conhecimentos de aprendizagem de relaç
de constituam relações que são importantes agora quando a gente pensa na criança indígena você tem uma grande experiência seu estudo tá pautado muito em cima disso também eh como que é a criança indígena ela é vista que concepção que se tem o próprio pai em relação ao filho que tem de grande assim a grande diferença entre o que nós vemos as crianças eh na cultura ocidental por exemplo aham a é é muito difícil responder isso para começar porque as crianças indígenas exatamente as crianças indígenas são muitas as culturas indígenas são são muitas mas eu acho
que a gente tem concordado um pouco em pensar quem tem se dedicado a isso em pensar que para começar a gente não pode atribuir a essas crianças indígenas essa condição de Infância a que nós temos né se tem essa que a gente estava falando que nós temos ou seja e essa ideia de que há um espaço e e atividades e um modo de de se relacionar com mundo que é específico das crianças né então eh essas crianças estão normalmente em Convívio com com as várias outras gerações eh participando muito mais plenamente das várias atividades desenvolvidas
eh na pelas pelos seus parentes pelos seus colegas pelos seus amigos enfim indo para as roças voltando pegando uma canoa indo pescar e voltando e e etc então Eh em geral nessas nesses lugares não há esse tipo de domínio específico que é um domínio da criança a o outro o outro lado dessa mesma moeda é a de que a de que não há eh de que elas podem participar elas não são segregadas a um domínio específico né então assim a gente teria que ver os dois lados da moeda se não há coisas que são especificamente
das crianças por outro lado elas também não não TM vetada participação em grande parte das coisas que são importantes para as pessoas com quem elas estão vivendo né uma outra coisa que as a a essas culturas indígenas T muito marcada é uma muito maior percepção e muito maior reconhecimento da Autonomia das suas crianças né da da capacidade das suas crianças de escolher o que vai fazer de escolher o seu destino e e e etc enfim por por exemplo o chicri que é a população com quem eu trabalho com quem eu tenho trabalhado que estão no
Pará é uma população indígena de língua G eles eh pautam muito o aprendizado e aprendizagem das das suas crianças pelo interesse demonstrado por essas crianças então eu por exemplo quando cheguei para trabalhar com eles eu buscava eh achar os lugares né então eu quero saber qual é o lugar de aprendizagem quem é que ensina quem é que aprende Quais são os métodos usados para isso e ficava procurando isso em qualquer lugar e de fato eu tive que eh perceber Em algum momento que não há lugares específicos de aprendizagem nem relações específicas de aprendizagem mas que
se dá a a essas crianças e aos jovens a possibilidade de que eles aprendam né então o fato os chikim sempre me disseram assim as crianças tudo sabem porque elas tudo vê e eu demorei muito tempo para entender isso né e o que me eu eu fui perceber que o que elas dizem é essas pessoas me diziam elas estão aí e se elas souberem ver se elas puderem ver elas poderão aprender sobre todas as coisas que elas podem vivenciar e e observar o que não quer dizer e essa outra coisa que eu tive que aprender
o que não quer dizer que eles não percebam uma diferença entre ser criança e ser adulto e que também não se diferencie o o conhecimento da criança o conhecimento o domínio né da da criança de técnicas e conhecimentos e o de adultos então eles também sempre me falaram Ah mas as crianças nada sabem porque elas são crianças eu falo ass como é que eu posso lidar com elas tudos sabem porque são crianças e nada sabem porque são crianças e e Era exatamente isso ou seja elas tudo podem saber porque nós não não as encerramos em
lugar nenhum não as vetam conhecimentos e aprendizagens e experiências e vivências Mas elas também eh e poderão saber aquilo que é possível saber naquele momento e com aqu Aquela quantidade de vivência de experiência me parece uma um modo muito respeitoso né de de lidar com a participação das crianças no mundo e com a e com a sua capacidade de de de lidar com essas experiências de aprender com elas a partir do século XVI nós temos alguns pensadores luministas mesmo em Portugal H que começam a se preocupar com a educação infantil é óio que quando fala
ass educação infantil tá sempre se pensando em criança de Elite e não em criança pobre né então melhores condições de aprendizado uma relação mais estreita entre professor e aluno uma modificação das classes que eram mistas não só de sexo mas também de idade né durante a idade média também no início dos tempos modernos então há uma necessidade muito grande dos iluministas em pensar uma educação para as elites estamos aí vivendo o momento de centralização dos Estados modernos são estados absolutistas então aristocracia dando as cartas e é essa criança de elite com a qual os iluministas
vão eh se preocupar mas o que nós percebemos é que ao longo do século XIX uma série de transformações eh vão influenciar notadamente as sociedades europeias já industrializadas com os seus estados centralizados que é o caso da Inglaterra e da França e é desses dois grandes estados que virão os modelos mais do que de educação infantil de vida doméstica e de exercício da privacidade e o que que essas eh sociedades já burguesas surfando em cima de uma Indústria produtora de toda a sorte de consumo numa transformação arquitetônica das cidades muito grande o que é que
as sociedades vão ensinar para os brasileiros que existe uma coisa chamada privacy a palavra é inglesa vem da Inglaterra emigra paraa França e a França que sempre foi o modelo PR os brasileiros durante todo século X início do 20 Vai importar essa ideia de privacidade a ideia de privacidade colocava sobretudo em digamos em Primeiro Plano A família eh tal como nós AC concebemos hoje essa família em torno de uma célula constituída por pai mãe e filhos é bom lembrar que no período colonial são as famílias alargadas aquelas famílias que aceitam inclusive crianças adotadas tias solteiras
tios H sem função social quer dizer essa grande família que é a família das áreas rurais ela tende a desaparecer e a família Urbana vai focar em torno da relação pai mãe e filhos essa relação significa que os pais vão fazer um investimento muito grande na educação dos filhos e que eles passam a ganhar uma envergadura uma musculatura que antes não tinham data desse momento por exemplo uma série de trabalhos que foram feitos sobre a vida privada em cima de relatórios ou de diários deixados pelos grandes senhores de Engenho que nesse momento estão migrando paraa
cidade grande o Evaldo Cabral de Melo na história da vida privada no Brasil segundo volume tem um texto notável mostrando como já quando da perda de um filho contrariamente ao que se fazia no passado em que se enterrava essa criança e esperava-se uma nova chegar o que há é um pranto é um luto quer dizer as pessoas começam a se preocupar quando a criança morre H na primeira infância mais do que isso o a o século 19 é também um momento de combate as grandes epidemias que vão varrer os litorais do Brasil atacando cidades importantes
como Recife Salvador eh Rio de Janeiro e já Desterro eh em Santa Catarina e portanto uma preocupação maior com higiene uma preocupação maior com esgoto eh com os primeiros cuidados né eu lembro por exemplo que no século XVII costumava-se secar embigo de criança com pimenta moída quer dizer percebe-se gradativamente que esses cuidados todos eh eles mais provocavam mortalidade do que garantiam a sobrevida da criança então um momento de higienismo de luta contra epidemias de valorização da casa não é à toa que a devoção à Sagrada Família Maria José e o menino Jesus cresce no século
XIX como reflexo nas representações da valorização dessa família burguesa é o momento também que o Brasil abre os seus portos as nações amigas desde 1808 nós temos um trânsito com constante de produtos que vem da Europa nesses paquetes que fazem a viagem em 30 dias e no bojo desses navios vem não só indumentária infantil ao momento do aparecimento de lojas vendendo roupa para criança que antes era feito em casa século X século XVII mãe cortando roupa para criança na cozinha com as escravas costureiras a mãe costur roupa do adulto roua da criança porque a roupa
tinha que ser sobretudo uma roupa que durasse essa noção de luxo essa noção digamos de gasto com a família é uma noção que vem Justamente a reboque desses modelos europeus onde o consumo burguês tá sendo colocado na Europa e tá migrando pro Brasil na segunda metade do século XIX antes se nós olharmos Os relatos que nós temos sobre a vida nas grandes fazendas do século XIX era a mãe sentada numa grande mesa perto do fogão a lenha e ali com as escravas costureiras cortando e costurando juntas senhoras e escravas roupas para dentro da casa PR
os senhores e também para os escravos Esse costume desaparece a medida que as lojas de roupas importadas começam a se instalar nos grandes centros o hábito da roupa infantil adornada acompanhando a moda ganha muito com a circulação das revistas femininas que se multiplicam na segunda metade do século XIX que vendem moda para mãe e para filhos e ganha também com a visita dos Mascates que vão levando para o interior através do Vale do Paraíba essa moda nos seus baús também ganha não só pela presença do Comércio importado das revistas que começam a circular lojas de
brinquedo importado começam a se instalar no Brasil então a criança brasileira ela deixa né de pular carniça eh de brincar com a espiga de milho fazer boneca de pano ou de cânula né e e vai ganhando então em os importados em brinquedos importados e do Museu Imperial de Petrópolis por exemplo existe uma documentação muito interessante para quem se interessar mostrando por exemplo com que brincava a Princesa Isabel a sua irmã a Princesa Leopoldina e a gente então fica sabendo que a Princesa Isabel tinha uma coleção de imagens sacras de rainhas santas né ou que elas
faziam teatrinho infantil ou que elas gostavam de passar o anel ou de brincar de fazer prendas Então esse universo do brinquedo do brinquedo importado começa a fazer a sua chegada no Brasil junto com um brinquedo que é muito Daninho paraa criança brasileira que são as bonecas louras é o Gilberto Freire no seu ordem em Progresso que vai sublinhar a presença desse brinquedo importado e mostrar como a moda da mulher loura chega no Brasil através da boneca para criança e da prostituta pro pai da criança porque a prostituta era importada era uma cocote francesa em geral
uma chuta que vinha muitas vezes da Europa Oriental mas que vinha loura de olho azul pro Brasil e a boneca loura que nós temos infelizmente os replicantes até hoje na televisão brasileira desvalorizando isso que nós somos nós somos pessoas mestiças morenas de cabeças cabelo crespo não nada a ver com esse padrão que infelizmente vai chegar aqui eh no século XIX então é essa ideia de privacidade que vai mudar que vai fazer valorizar a criança sobretudo de camadas médias que vão se multiplicar ao longo do século XIX É bom lembrar aos professores de história que nessas
camadas médias encontram-se muitos afrodescendentes eh cujos pais já tinham sido alforriados e que fizeram a sua mobilidade social dentro eh da sociedade dessa sociedade mestiça É bom lembrar que no Brasil tanto crianças brancas quanto crianças negras tiveram escravos né muitas crianças negras tiveram seus escravos E que esse hábito da criança Brasileira de gritar com adulto Talvez venha justamente como uma marca desse escravismo em que criança gritava com escravo né mas que isso tava disseminado no todo eh da sociedade brasileira e a partir do século XIX portanto uma valorização da criança no seio da família uma
preocupação que ela tivesse melhor aprendizado eh bom lembrar que esse é o momento também da multiplicação das escolas eh no Brasil Clarice eh é possível a gente traçar um perfil da da criança Brasileira hoje quem é essa criança Ela mudou no decorrer da história o que a gente pensava dela mas se a gente for olhar para essa criança hoje quem é essa criança eu acho que eu acho que eu não seria capaz de fazer isso de de de de de traçar o perfil da criança Brasileira hoje exatamente por causa daquilo que a gente falava há
crianças indígenas em diversas condições espalhadas pelo Brasil afora vivendo concepções de infância de aprendizagem muito diferentes as crianças campesinas a crianças pobres a crianças ricas a crianças que moram na metrópole a a crianças de uma diversidade de de experiências e vivências né Eh agora por outro lado eu acho que a gente pode dizer que a a criança tem ganhado sim uma uma uma o quê uma participação uma uma uma o Brasil tem olhado mais paraa criança e e e pros seus direitos né isso isso quer me parecer que isso é verdade tanto que a gente
pode perceber uma uma melhoria né nas suas condições de saúde e na sua atenção básica de saúde isso é algo que se tem eh garantido no Brasil né agora Talvez o Brasil ainda precise Reconhecer mais a diversidade da experiência da infância nesse vastíssimo território exatamente isso que a gente sobre o que a gente estava falando Talvez seja algo que a gente ainda possa ver acontecer que eu possa que a gente possa esperar ver acontecer num futuro quem sabe um futuro próximo em que o Brasil seja capaz exatamente de perceber que o perfil da criança brasileira
é um perfil múltiplo diverso e que eh merece ser reconhecido em sua diversidade Em que momento a educação começa a fazer parte da infância eh e se a educação na verdade vem para fortalecer ainda mais esse período da infância se a senhora pudesse contar como isso Começou talvez eh na Europa e depois veio na verdade sendo trazido pro Brasil essa essa questão de a partir de que momento a criança faz parte do mundo adulto e se a escola fez com que essa infância ficasse mais prolongada eu acho que quando a gente fala em educação é
bom pensar em educação no plural e nas várias facetas que a educação vai ela também aqui no Brasil um conceito construído na relação que o Estado tem com a sociedade e no caso da nossa história em particular da relação que a igreja tem com o estado Porque as primeiras escolas que nós tivemos no Brasil são escolas de jesuíticas e isso porque a igreja sempre foi um braço forte do estado português e quando o estado pensa em colonização exploração junto obviamente com os primeiros Comerciantes com os primeiros traficantes de escravos vem A igreja vem os padres
Jesuítas encarregados de cristianizar Esses povos que estavam sendo conhecidos à medida que Portugal se instalava aqui no Brasil em outras colônias que vai ter na África e na Ásia os Jesuítas vem realmente com uma ideia de educação eles têm essa preocupação Fundamental e fica uma dica para os professores de escola pública as cartas jesuíticas publicadas pela edusp pela editor Itatiaia de Minas Gerais são um excelente repositório de informações sobre como é que se tentou educar crianças indígenas nos primeiros séculos de colonização eh eles fazem as chamadas casas de muchachos que era o nome que se
dava para essas crianças que eram drenadas das matas das florestas para e esses centros de educação Graças justamente à presença do chamados menino língua que eram crianças recolhidas nos portos portugueses eram crianças de rua que eram trazidas pelos Jesuítas para aprender a língua geral que era a língua que se falava um Tupim misturado com português que se falava e E que permitia ao Jesuítas se comunicarem com as crianças indígenas e É nesse momento que nós temos a tentativa de criação de uma agenda educativa com o aprendizado de números com aprendizado de Latim com aprendizado de
português e sobretudo com aprendizado do que era a Igreja Católica do significado de Cristo de Nossa Senhora as primeiras cartilhas né todas elas ensinam a rezar antes de ensinar a juntar vogal e consoante Então essa preocupação muito grande com a formação religiosa que é uma preocupação que nós vamos ter até o final do século XVII as crianças muitas vezes aprendendo a rezar antes de aprender a se alfabetizar obviamente que com o brevíssimo Iluminismo que nós tivemos em Portugal pincelada de iluminismo nós temos aí a figura do Marquez de Pombal que vai tentar criar escolas públicas
no Brasil uma vez que ele é o responsável pela expulsão dos Jesuítas do Brasil e portanto pelo fim das escolas Jesuítas que estavam formando as nossas elites até o momento da sua expulsão E aí nós temos uma documentação que é fantástica e que também aqueles interessados em história não terão dificuldade em achá-los nos arquivos que a correspondência desses primeiros professores que tentam aqui formar ou trabalhar nas chamadas escolas públicas e todas as dificuldades que eles enfrentam a mesma por exemplo que o professor tem na escola pública até hoje ter um salário reconhecido porque esses professores
que eram voluntários e muitas vezes eram inclusive padres jesuítas que apesar da expulsão resolvem tirar batina e ficar no Brasil eles eram pagos como com sacos de milho com galinhas com ovos Eles não têm salário quer dizer essa escola primária essa escola básica que deveria ter se instalado aqui ela não vai pra frente então o ensino era feito muitas vezes em casa com um padre mestre que era contratado e que ensinava ali a meia dza de crianças que se reuniam a a juntar a vogal com consoante e a fazer os primeiros números agora a partir
do século XIX nós vamos ter um investimento pesado na área de educação primeiro que com a abertura dos portos uma migração importante de professores franceses italianos para o Brasil e eles tentam aqui constituir escolas né a agenda é variadíssima é óbvio que são escolas separadas por sexo para meninos e para meninas eh o cardápio de disciplinas femininas envolve sempre costura bordado quer dizer o que se quer formar é a futura dona de casa não há uma preocupação vertical em que a menina aprenda números ou que ela aprenda astronomia ou que ela aprenda ciência né então
é um um piano por exemplo tocar piano ou tocar um instrumento musical qualquer falar francês ao passo que a agenda disciplinar dos meninos é bem mais Ampla e cobre um rol de disciplinas muito muito variado é óbvio que essas escolas elas vão ser apropriadas ou frequentadas por filhos de Elite mas aparece no século X um negócio também que é bastante impressionante quando Nós pensamos em escolaridade como formador de uma noção de infância são as escolas para crianças escravas nas quais os senhores dessas crianças escravas pagavam para que as crianças aprendessem um ofício e nós temos
aí uma distinção que inclusive vai vigorar no Brasil Republicano até os anos 2030 para criança de Elite escola língua estrangeira instrumentos musicais o máximo de conhecimentos para criança pobre para criança escrava o aprendizado eh profissional então essas crianças eram colocadas em escolas elas iam se tornar sapateiros elas iam se tornar tanoeiros costureiras Cabeleireiros e dessa forma elas iam render mais para os seus senhores então os senhores faziam um investimento a partir do momento em que a criança completava 7 8 9 anos né e a partir dos 12 13 anos essas crianças estavam oficialmente no mundo
do trabalho as crianças escravas que não passavam pelo aprendizado profissionalizante elas começavam a trabalhar tão logo elas se colocavam de pé e nós temos vários historiadores que escreveram sobre o Vale do Paraíba que conhecem a história da infância nas fazendas de café e nós sabemos que a criança escrava ela acompanhava a mãe muitas vezes pra Colheita do café ela era encarregada de tirar a Tiririca que crescia à volta dos pés de café enfim ela tinha todo um trabalho a desempenhar dentro da Fazenda desde o momento em que ela dava os primeiros passos né então eh
essa dicotomia entre trabalho profissionalizante e e educação vai atravessar a história da nossa educação até os anos 102 momento de forte industrialização do Brasil momento em que a indústria de tecelagem se instala em São Paulo São Paulo recebe H uma imigração fortíssima de italianos e de espanhóis e de italianos e espanhóis que eram anarquistas ou comunistas e que vinam de países onde a educação pública era uma realidade é bom a gente não esquecer que Dom Pedro de i é quem cria escola pública no Brasil escola pública que no primeira metade virada para o século segunda
metade do século XIX tinha o nome de Palacete de educação porque realmente eram belos Palácios eram belas instalações aonde eram recebidas crianças de Elite ou de classe média alta crianças brancas né escravos ou crianças de cor eram obrigados a a ser Alfabetizado de outra maneira não que essa alfabetização não existisse porque Se nós formos olhar por exemplo o que foi a revolta dos alfaiates na na Bahia do século XIX é interessante a gente saber que a revolta dos alfaiates ela foi eh Ela foi comunicada à cidade de Salvador através de panfletos que foram colocados nos
muros Então as pessoas os escravos tinham alguma forma de alfabetização né e muitos deles inclusive H conheciam ah toda a a grafia islâmica então havia uma alfabetização disseminada que ainda não está estudada isso fica sendo um desafio para os historiadores Mas voltando à crianças crianças negras em escolas à parte filhos de escravos aprendendo a escrever em casa muitas vezes com os seus senhores houve muita yá muita senhora né que ensinou os seus escravos a escrever h no em casa né Há um registro belíssimo de um livro que foi publicado eh pela Editora nova fronteira que
chama-se longos cões do campo que é o diário de uma menina de Engenho eh o pai não era grande Senhor de Engenho era um agricultor de cana e ela conta então esses serões à noite a mãe dela ela os irmãos e os escravos todos sentados na cozinha aprendendo a escrever então havia uma forma de alfabetização mas nós não podemos chamar isso de escola e nem de educação Escola por força dos Imigrantes nós nós vamos ter a mesma coisa nos estados do sudeste onde tivemos uma chegada de italianos de alemães muito importante a partir de 1835
40 Santa Catarina e Paraná e a primeira coisa que os imigrantes alemães faziam era criar escolas escolas em alemão a igreja Protestante e o protestantismo ajudou muito a que a leitura né fosse sistematizada Entre esses filhos de migrantes e eu acho que nós devemos a escola pública brasileira a luta ada por esses Imigrantes comunistas e anarquistas em prol de uma educação paraos seus filhos a senhora falou dessa dessa cultura que veio junto com com os imigrantes principalmente os europeus na Europa então a escola era uma coisa que já vinha vindo bom a nós temos só
para dar uma ideia aos nossos jovens professores em Londres em 1730 haviam cerca de 40 jornais circulando pela cidade no mesmo dia hoje nós não temos isso nas grandes capitais brasileiras quer dizer a alfabetização já ia em curso o hábito de bibliotecas ambulantes na Inglaterra eh sempre foi um fato e é óbvio que o protestantismo tem um grande uma grande responsabilidade nessa alfabetização uma vez que o protestantismo obriga a leitura do livro sagrado e essa foi foi o grande diferencial Inclusive a muitos sociólogos Max Weber em particular que é o responsável por essa teoria de
que o capitalismo teria nascido entre os protestantes entre outros fatores Graças essa intimidade com a educação entre os países católicos o atraso sempre foi muito maior monopólio da Educação na mão eh da igreja católica e de alguns padres que não tinham exatamente erudição que muitas vezes mal sabiam ler é o caso de vários educadores que passam aqui pelo Brasil e que a gente consegue apreender através dos documentos por exemplo que estão no arquivo da cúria Metropolitana né então como esses padres dividiam o seu tempo entre a escola e o jogo ou entre a escola e
a bebedeira enfim não essas pessoas que estariam encarregadas da educação o faziam de maneira muito informal e e muito sem o suporte de bibliotecas o suporte de livros a circulação de livros proibida no Brasil até a vinda da família real a imprensa proibida no Brasil até 1808 então um atraso muito grande na intimidade com a leitura e com os livros e Napoleão foi o grande responsável pela criação da escola pública na França um aprimoramento dos professores uma preocupação com o conteúdo eh que os professores passariam para os alunos então o sonho da escola no Brasil
sempre foi um sonho que esbarrava nas realidades econômicas no fato de que as nossas elites eram eh constituída por muito pouca gente os nossos centros urbanos eram pífios né a gente pensar numa cidade eh no século XIX há relatos por exemplo de Viajantes como Ah enfim h tô querendo me lembrar aqui um alemão que vem de de de de Santa Catarina vou me lembrar já já o nome desse viajante e que o fenômeno que existe até hoje no Rio de Janeiro estávamos Em 1880 ele vem para fazer uma grande reportagem sobre a capital da corte
e nas primeiras chuvas né O Rio de Janeiro já se transformava num lodaçal as águas subiam as casas desabavam haviam mortos e feridos exatamente como nós estamos vivendo agora eh no século XXI Então as nossas cidades eram incipiente né havia pouco interesse embora já houvesse no século XIX nós vamos ter uma multiplicação de livrarias no Rio de Janeiro o livro era caro a circulação do livro era cara não havia garantia de biblioteca para todos e muito menos de escola para todos o próprio sistema escravista barrava né o fato de que essa educação pudesse ser para
todos agora pensando na escola de uma maneira geral professora na educação senhora acredita que a educação e a escola a criança que nós temos hoje essa concepção de criança fizeram parte dessa transformação eu acho que sobretudo Quando pensamos em escola no século XX Porque a partir do século XX realmente que os métodos primeiro no final da da da da segunda metade do século XIX nós vamos ter a vinda para o Brasil de ordens religiosas vocacionadas para educação é o momento da instalação de grandes colégios de padres italianos ou de freiras francesas realmente convocação para a
educação e aí nós vamos ver de tudo quer dizer em São Paulo por exemplo nós tivemos a instalação de uma série de ordens italianas ah voltadas paraa Educação de crianças que não tinham família nãoé então eram essas ordens que iam tentar dar um misto de educação com profissionalização para as crianças para os filhos dos ricos sempre as escolas francesas obviamente com todo aquele aparato que vinha junto inclusive com a representação da França como país de civilização de letras e de eh literatura Então já vemos aí um esforço de transformar a escola em algo um pouco
mais substantivo a partir da primeira metade do século XIX perdão do século XX sim né teremos uma escola já com um corpo formado por professoras sempre mulheres porque a professora tem que substituir o papel da mãe então a escola tem que ser aquele ambiente atizado dessexualização ter sexo ela tem que ser identificada com a mãe e eu acho que é é sobretudo a partir eh dos anos 50 e 60 do pós-guerra né do pós Segunda Guerra Mundial com uma circulação maior de informações com uma presença maior da comunicação da televisão acho que a televisão vai
ter um papel importante na valorização da escola na valorização eh do aprendizado é com esse momento quer dizer de multiplicação de escolas de aparecimento de uma classe média no Brasil Classe Média vai ser muito eh importante na exigência de uma escola melhor para os seus filhos e na ex seja uma escola pública melhor então eu eu digo sempre né que a escola eh e é o Pierre bourdieu O Grande sociólogo francês é que diz isso quer dizer não basta você ter escolas não basta você ter professores é importante que a sociedade expose a ideia de
que a escola é importante e isso é que está faltando no Brasil quer dizer no Brasil nós temos sempre a ideia de que é possível você vencer na vida através do jeitinho através da lei de Gerson e como a história da nossa escola é uma história muito recente a luta pela Escola pelo bom salário do professor pela dignidade do professor pela dignidade do que acontece dentro da escola tudo isso é muito recente nós ainda não temos uma sociedade que qualifica valoriza e dignifica a escola você acredita que a escola leve em consideração o fato da
criança participar ela entende bem quem é essa criança hoje para poder pensar na na na educação que vai vai acontecer naquele espaço eu gostaria de pensar que sim eh Mas é claro que eu acho que a situação é muito desigual e há boas e más escolas como Há tudo no mundo há de bom e de ruim né Eh mas eu acho que sim a proposta de que cada escola tenha que fazer o seu diagnóstico da da da da condição do lugar onde ela está deveria fazer com que ela percebesse melhor a criança que ela atende
a criança que que vai para lá a sua família o seu entorno e que ela pudesse perceber a essa especificidade e responder a ela né em alguns lugares como por exemplo na experiência de de educação escolar indígena Isso faz parte inclusive dos princípios eh de Constituição dessas escolas as escolas indígenas são escolas que têm o direito de de uma de uma gestão própria com um currículo que responda às particularidades culturais e às especificidades dessa população indígena ou das populações indígenas que estão sendo atendidas por aquele aquela mesmo aquele mesmo equipamento escolar né Isso não é
fácil de fazer e a própria experiência de escolarização indígena demonstra isso e eu acho que uma das grandes dificuldades é que isso demanda uma criatividade e uma capacidade de inovação pedagógica eh que é um desafio é um enorme desafio então por exemplo se você pensar numa educação escolar indígena que seja capaz de reconhecer a diferença de ã do da da da do modo de dessa dessa população indígena perceber a capacidade e a autonomia das suas crianças as diferenças de aprendizagem de processo de aprendizagem e as diferenças de conhecimento e a diferença cultural que tá lá
dentro para que tudo isso seja de fato respeitado a a mudança na concepção inclusive pedagógica e do papel da escola é muito grande e tem que ser muito grande né então a questão é é é é saber o quanto a escola a própria escola é capaz de de de se ver afetada e de se deixar afetar por essa diversidade né a a escola tem uma ela tem uma uma uma espécie de poder colonizador né e e eu sempre temo muito isso quando se em populações indígenas é como se a escola eh colonize todas as relações
de aprendizagem e todos os conhecimentos que devem ser transmitidos se a gente o ideal seria que a gente conseguisse pensar essa inversão e que a escola pudesse receber todas essas novidades E essa diversidade e reagir a isso tudo pensando em novas modalidades de aprendizagem novas relações de aprendizagem novas modalidades Se Abrir de fato paraa relação com a comunidade novas modalidades de aação com as famílias né com as com as diversas gerações que não aquelas crianças unicamente aquelas crianças que estão sendo atendidas naquela escola a ideia que a escola tinha de criança talvez há 20 ou
30 anos aquela criança que chegava mais passiva você acha que isso tá mudando hoje na relação da escola com a criança eu acho que sim eu acho que nenhum Professor achava que as as crianças chegavam passivas né Acho que sempre foi uma reclamação dos professores Mas o que eu acho que há de diferente desses professores de 20 30 40 anos para trás e e agora é a a sua a sua vontade de disciplinarização dessas crianças isso é algo que a gente Claro não pode deixar de de de lembrar eh esse papel disciplinador da da escola
né A escola é o lugar de disciplinarização dos corpos Isso é o que né o que o que o que já se conhece desde principalmente os trabalhos de Foucault né então são corpos que são e essa e toda essa temporalidade a espacialidade né a rotina e etc tal isso marca a escola em toda essa é sua história nessa história recente eh o que eu acho é que a escola tá se revendo né E tá E tá sendo capaz de fazer uma reflexão crítica eh da sua própria atuação então não sei se são só as crianças
que são menos passivas hoje ou se também não são essas esses próprias as as escolas e essas professoras e esses professores e os pedagogos envolvidos nessas novas experiências escolares também que não estão se mostrando mais Eh mais com mais vontade de ver essa capacidade de participação das Crianças na sua na sua própria escolarização e na sua aprendizagem obrigada obrigada você olha super Obrigada ficamos inel Gente terá mar [Música]