Sinais sutis do autismo em meninas e mulheres - live com a Dra. Jeanine Carneiro

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Lygia Pereira - Autismo Feminino
Como reconhecer os sinais sutis do autismo em meninas, adolescentes e mulheres autistas? Nessa live...
Video Transcript:
Olá, boa tarde! Como é que vocês estão hoje? Nós vamos fazer uma live com a Lídia Pereira. Ela é educadora e especialista em autismo em meninas e mulheres. Então, pode se chegando! Deixa eu já chamar aqui a Lígia, que ela já está aqui. Enquanto isso, pega o aviãozinho, clica lá e manda para as cinco primeiras pessoas que tiver aí, para todo mundo assistir e a gente poder aprender, que vai ser bem legal, tá bom? Mandei o convite para a Lígia, vamos ver se deu certo. E aí, gente, boa tarde! Eu vou me apresentar rapidinho
e depois eu vou pedir para a Lígia se apresentar também, tá bom? Eu sou Gerênia Carneiro, sou mãe atípica do Miguel, que é autista, e sou médica também, especialista em autismo. Foi através do diagnóstico dele que eu entrei nesse universo do autismo, da neurodivergência, e me apaixonei. Agora, não quero sair mais. Eu convidei a Lígia. A Lígia é educadora, ela tem outras formações, depois ela pode explicar para vocês, mas atualmente ela trabalha realmente ajudando meninas e mulheres que estão dentro do espectro, né? Isso, Lígia! Se apresenta um pouquinho. Exatamente! Então, minha jornada, como você disse,
não é tão linear, é cheia de curiosidades e dúvidas. A minha formação inicial é fisioterapia. Eu percebia que quando eu trabalhava com a cliente, alterava a postura dela, melhorava a postura, a voz também ficava melhor, ela se sentia mais confiante. Às vezes, em uma única sessão, eu já anotava essas modificações. E aí, a minha curiosidade foi a seguinte: será que, sim, a gente alterando o psiquismo, a gente também consegue ter essas repetições positivas em relação ao corpo, ao físico? Para minha surpresa, já vi muitos estudos a respeito disso, como Antônio, que sem querer separar a
mente do corpo, porque tudo é interligado. A questão é que essa curiosidade me fez estudar psicanálise, psicologia, deficiências, e me apaixonei pela área da educação. Até porque eu também sou neurodivergente e precisei ter suporte durante a educação para dislexia, TDAH, sensibilidade aumentada, e como eu tive bastante suporte, bastante apoio dos professores, amigos, familiares e tudo, percebi que os meus alunos, esse suporte, nem sempre era espontâneo, nem sempre vinha de maneira fácil. Então, eu tinha que reivindicar na escola, conversar com os pais, educar as pessoas e, sobretudo em relação às meninas, esse suporte, a compreensão mesmo,
a falta de julgamento, nem a autocrítica – o acolhimento das demandas às vezes era complexo. Então, isso me fez estar mais próxima das meninas, das meninas autistas, neurodivergentes, estudar, porque elas geralmente são as que mais sofrem e são as mais invalidadas. É um trabalho de formiguinha, né? Que a gente vai fazendo: temos que educar os pais, a família, os professores, os terapeutas, às vezes. É realmente um trabalho de formiguinha, a gente vai de grão em grão e a gente vai tentando e ajudando essas pessoas, né? Exato! Porque, ainda é complexo. O autismo, de forma geral,
ainda é visto como um enigma em relação às meninas, né? Diferentes apresentações que geralmente não entraram nos estudos antigos e, portanto, outras possibilidades do espectro. É como se fosse, literalmente, um quebra-cabeça. Porque não para você ter que se enquadrar ou se encaixar mais, é para montar essas peças realmente, aos poucos, e encontrando a melhor forma de moldar esse quebra-cabeça. Cada pessoa é única, então não tem uma fórmula de bolo, uma fórmula secreta. Não adianta você querer fazer a mesma coisa que o coleguinha está fazendo, porque não vai adiantar. Cada indivíduo é único. Então, acho que
realmente é isso: é um espectro que a gente tem que encaixar essas peças. E a maior parte da população ainda tem essa crendice de que autismo só dá em menino, né? A gente tem essa dificuldade de que meninas já são realmente mais subdiagnosticadas, passando batido quando, na verdade, tem mais meninos diagnosticados. E aí vem toda essa questão social, a questão realmente biológica da menina de conseguir se adaptar melhor. E isso, de certa forma, piora para a gente conseguir ajudar essas meninas; diagnosticá-las que, porventura, na maioria das vezes, estão tendo esse diagnóstico na vida adulta. Então,
você imagina passar toda uma infância, adolescência e uma vida adulta sem conseguir se encaixar? Realmente é muito complicado. E que bom que tem pessoas assim como você, que têm esse olhar diferenciado. Eu acho que é muito importante a gente realmente olhar para as meninas de uma forma diferente, porque nós não temos nem escalas avaliativas que realmente sejam direcionadas para meninas. Todas as escalas que foram feitas até agora foram pensando nos meninos, foram usando os meninos como modelo. E, se a gente for realmente comparar, é diferente. Tem o clássico óbvio, que é fácil; todo mundo diagnostica,
a gente bate o olho e já vê. Mas é nas sutilezas que está o nível de conhecimento que a gente tem que adquirir, né? Sem dúvida! Então, temos na verdade duas escalas que ainda não estão validadas para o português e que avaliam esses traços tanto em meninas quanto em mulheres. Tem uma escala para crianças e outra escala para adultas. E, como você disse, são raros os instrumentos e os estudos também, de 10 anos para cá, que nós temos. Mas já temos alguns dados; eles ainda não foram assimilados. Mas sim, um manual já nos alerta para
essas possibilidades, por exemplo, da camuflagem de recursos e estratégias ao longo da vida. Mostram que os marcos de alterações hormonais têm um impacto muito forte no autismo nas meninas. Puberdade, vegetação, menopausa... tudo isso pode impactar, e nessas fases, às vezes é que a moça autista vai procurar auxílios. Só que como o diagnóstico mais exigem precocidade dos sinais, então como ela pode ser autista agora na adolescência se esses sinais não estavam lá na infância? Na verdade, na maior parte dos casos, quando se observa e investiga, né, fazer essa avaliação pregressa, assim, estavam. Estudos congêneres, principalmente, mostram
que as meninas, mesmo tendo sinais ditos clássicos e características de autismo em quantidade tão elevada quanto a dos meninos, tendem a não ser diagnosticadas. E olha só que interessante: os pais não se preocuparam. Tem até revisão sistemática mostrando que os pais podem realmente não ter o mesmo tipo de preocupação, não reconhecer aquelas características, né, que a menina tem, ou determinado sofrimento e dificuldade como sinais do autismo. Mas, apesar disso, eles tendem a buscar auxílio na mesma fase em que buscam para os meninos, por volta dos dois anos, só que as meninas vão ser diagnosticadas cerca
de três a cinco, a gente sabe, né, às vezes décadas depois dos meninos, por causa dessas diferenças e do senso comum que, como você disse, ainda, né, a masculinidade é complicada mesmo. Dessas escalas que você comentou, você gosta? Qual é a sua opinião? Assim, você acha válida que a gente realmente [música] é mais voltada para o feminino, realmente, né? Então, só que está precisando agora passar nesse processo de avaliação para a gente poder aplicar, então, é de validação para o português mesmo. Assim, podem ser usadas como recursos complementares. Então, quando a gente faz avaliação aí,
coloca, pode funcionar, pode inserir uma sessão de informações complementares e adicionar referências bibliográficas. Essas duas escalas são baseadas na prática de dois professores que eu gosto muito, italianos, mas tudo com eles e a doutora Michel Garner. São profissionais incríveis, muito sensíveis, que têm uma prática muito humanizada. Eles fazem algo que eu gosto: não exigir diagnóstico para iniciar uma intervenção. E tem uma clínica grande na Austrália. Mas quem montou a escala e fez a avaliação foi outro profissional, né, profissionais ingleses, pesquisadores mesmo, que já têm essa prática, que já têm experiência com a psicometria. E são
válidas. Eu acho muito interessante que você falou agora: não precisa de um diagnóstico. Eu falo isso muito para os pais que, às vezes, o importante nesse primeiro momento, né, é a gente dar nome às coisas, é a gente intervir no que está precisando. Encontramos um déficit, né, ali naquela questão. Então, vamos intervir ali, independente do que é. Ao longo do caminho, a gente vai descobrindo se não for o que deveria ter feito, né? E se for, que bom que já começamos, porque às vezes a gente fica tão presa, né? "Eu quero um homem. Eu quero
um diagnóstico. Eu quero um CID." Eu sei que às vezes é apreensivo, mas eu acho, e principalmente nesse cartão de criança, se você identificou alguma dificuldade, alguma coisa que não está aqui, já passou do limite, que já não está, né, já passou do desenvolvimento, não atingiu, eu acho que a gente realmente tem que intervir, estimular e ver o que está acontecendo naquele problema, digamos assim, pontual. E se for uma coisa que é mais uma gama de sinais e sintomas, realmente até mais fácil, mas às vezes são pontos soltos que, se a gente realmente não tiver
um olhar diferente, elas passam batido. E aí, como você fala, e meninas? E ainda tem esse... Mais eu queria que você assim pudesse dar algumas dicas de mães que pudessem ficar de olho em alguns sinais, alguns sintomas, que elas poderiam prestar atenção para ajudar também. Então, em meninas, o que a gente nota geralmente são os sinais de sofrimento, dificuldades emocionais, porque as meninas tendem a ser mais sensíveis. Inclusive, tem estudos de neuroimagem mostrando que as amígdalas das meninas, dos autistas em geral, se a gente já sabe, né, pelos livros de neurociências mais antigos, que as
amígdalas dos autistas, né, que são estruturas que detectam ameaças no ambiente, tendem a ser aumentadas na infância. Só que esse achado tende a estar relacionado com a sensibilidade emocional mesmo nas meninas. O que a gente chama de comportamento, por exemplo, e, nos meninos, quando eles fazem um acompanhamento, né, estudo longitudinal e vão olhando ao longo dos anos, essas queixas nas meninas, as redes psicológicas, costumam ser estáveis e, lá na adolescência, a gente sabe que costumam até aumentar, né, em outras fases da vida. Para isso que, quando há maior demanda para a socialização, não tem mais
acadêmicas, por exemplo, e outras tantas, as meninas podem manifestar os sinais agora. Quando a gente observa essa pontinha do "ice", que é o sofrimento psíquico, talvez esse investigando, a gente vai observar que ela tem, sim, hiperfoco, só que é um hiperfoco muito compatível com o das outras meninas, só que a intensidade é muito aumentada. Então, ela gosta das mesmas bonecas, coleciona pôneis, assim como as outras, mas é muito mais forte. Mas seriam, assim, todas essas características, né? E, além disso, a dificuldade de comunicação pode não ser tão nítida, porque as meninas tendem a ter mais
motivação social, só que a motivação não significa competência social. Então, ela acaba ficando perto das outras meninas, se aproximando dos grupinhos, porém, se ela não capta as pistas, os sinais, os segredinhos, os códigos, né, porque as meninas se vinculam por esse segredinho, pela intimidade, então se ela não capta esses sinais para compreender como estar mais próxima, a conversar com essas meninas, elas simplesmente a ignoram por ser estranha ou rejeitada. Mesmo sofre bullying, e aí os olhos menos treinados vão imaginar que ela sim esteja socializando na escola com os grupos, mas, na verdade, ela não está
conseguindo fazer a conexão. Então, nós notamos. Que a menina pode ser ingênua, que, né, pode ser sensível às vezes. Ela é muito sensível, por exemplo, aos conflitos. Então, faz de tudo para evitar os conflitos, para não estar perto, ou então realmente tem uma reação, né, proporcional diante de briguinhas e conflitos que, para as outras meninas, são naturais. Então, a gente vai olhando esses sinais, prefere que nem sempre são os critérios, né, para o diagnóstico do autismo, mas que nos fazem questionar e, às vezes, fazer uma avaliação de rastreio. E, embora essas avaliações que nós temos
não sejam específicas para as meninas, estejam desatualizadas, quando a gente sabe dessas outras características ou sinais, aí a gente pode fazer um diagnóstico, um processo, usando os inventários e se aprofundando nessas perguntas, conversando mais com os pais sobre como ela se comporta em casa. Enfim, né, tem estratégias diferentes ou se mascara mesmo, porque, às vezes, é nítido. Fazem observam que ela esconde ou muda completamente o comportamento diante de uma pessoa nova no ambiente. A partir disso, é possível detectar os sinais reais. Você falou da questão hormonal. Eu, realmente, para mim, eu acho que tem tudo
a ver, porque a mulher já tem épocas da vida que a gente sofre um desbalance, por exemplo, eu acho realmente quando a gente vai entrar na puberdade, a primeira menstruação, a última, né, quando a gente já vai para a menopausa. Tem matizes que eu acho que realmente devem mexer muito, e se essa mulher já é neurodivergente, eu acho que isso afloram mais, né, porque já é uma explosão. Igual você, quando a gente engravida ou tem filho, é uma explosão de hormônio. Imagina você não estar acompanhada devidamente, passar por esse momento sem seu acompanhamento adequado deve
ser realmente bem difícil, né? É muito difícil. Na adolescência, por exemplo, a menina tem uma série de demandas e expectativas em relação ao autocuidado. E, comentando sobre a infância, ainda se ela foi ignorada ou rejeitada pelo Clube da Luluzinha, talvez ela tenha sido aceita no Clube do Bolinha. Então, talvez ela tenha tido mais afinidade com os meninos e, talvez, ela mesma tenha características mais masculinizadas. Tem meninas que não suportam, né, o toque do cabelo molhado, por exemplo, na pele. Então, uma série de questões pode fazer que, na adolescência, de fato, ter que ser mais feminina,
vestir roupas mais delicadas, ela também se sinta ainda mais oprimida. Depilar, fazer sobrancelha, passar maquiagem, o feminino nem sempre é fácil. Já não é fácil ser mulher, menina. Imagina você pensando diferente e sem se entender, né? Porque eu acho que quando você tem um diagnóstico, que você entende o seu diagnóstico, daí se entende. Talvez seja até mais tranquilo lidar com essas fases. Eu fico imaginando essas meninas que se tornaram mulheres e que, até hoje, ainda não se sentem pertencentes, né? E não entendem por quê. Eu acho que, principalmente, por exemplo, o autista mesmo, tudo vai
virando um padrão. Então, se a vida toda é assim para você, você acaba achando que todo mundo é assim, e quando você vai ver a fundo, não, você que é diferente. É como sotaque, né? Eu tenho sotaque, claro, mas a gente que tem o sotaque da gente, que tem essas características e convive com elas, a gente não nota essa diferença. Então, os outros é que notam o nosso sotaque, o nosso jeito de ser, as nossas atipicidades ou peculiaridades. Então, é como você disse: estranho são os outros. Mas quando a gente sabe que... você falou que
eu lembrei que eu sempre falei, "ai, eu sou muito assim", parece que eu não tenho muita personalidade. Por exemplo, se eu for no Rio de Janeiro, eu acho que no segundo dia já tô falando "karaokê", eu já tô falando "você tá querendo nordestino?", né? Nem sou tão nordestino por conta que eu já vivi, fui perdendo, mas óbvio que ainda fica o resquício, né, do meu Nordeste tão lindo. Sou de Pernambuco, Recife. Mas, por exemplo, se eu for na Bahia, quero um sotaque diferente. Dá dois, três dias, e eu tô lá falando "ô mainha, venha cá,
venha meu rei". Eu tô falando que eu não tenho muita personalidade. Eu acho que essa questão de querer se encaixar, né, realmente, as pessoas autistas tendem a fazer a camuflagem. E uma das características, uma das estratégias às vezes, é assimilação de algumas características, de alguns comportamentos, e pode ser até de forma empática. Só que, na infância, na adolescência, isso pode ser mal visto. A pessoa pode ser julgada como, né, sem personalidade ou debochada e tudo, e na verdade é uma maneira até afetuosa. Mas então, por que a gente não aceita as nossas características pessoais, como
o nosso sotaque, como o nosso jeito de falar? Mas pelas expectativas sociais em várias fases, talvez ela, a menina autista, se sinta oprimida, porque, se a menina é neurodivergente, tem essa série de expectativas e ela não quer assumir, então rejeita determinadas, né, demandas sociais. Elas simplesmente pagam o preço. Elas apostam nisso, então sustentam o desejo delas, características de forma fêmea. Quer dizer, elas sustentam a sua construção da identidade, e os pais é que lutem, como quando ela quer ser vegetariana. "Eu não quero que os animais sofram, quero ter um outro tipo de alimentação". E ela
vai argumentar. Baixa autoestima, baixa autoconfiança, a gente sente que realmente é complexo. Então, nesse processo educacional, que seja com a médica, seja com outros profissionais, a psicoeducação, mostrar que o cérebro é diferente, tem necessidades individuais, singulares, e que também pode ter um florescimento maravilhoso, compatível com o que ela gosta. Então, validar aqueles desejos e a fase que talvez seja um pouquinho mais sensível. Não há problema a menina autista quando ela vai entrando, assim, na adolescência, fase adulta, questão de namorar, sexualidade. Pois é. No consultório, a gente observa algumas diferenças, né? Por exemplo, a menina pode
chegar a... Adolescência um pouco mais infantilizada, e aí o nosso trabalho é protegê-la, para que ela não tenha experiências para os pais. Ela não está preparada ainda, então a gente adia um pouquinho esses encontros, muitos paqueras e tudo. Se for possível, a gente valida esse gosto dela pela leitura, pela dança, por outras atividades, as artes. E, às vezes, a gente vai orientá-la em relação ao convívio, e isso é muito importante, porque na infância, às vezes, a orientação — por exemplo, se alguém te oferecer algo que seja proibido, como cerveja — não sonar muito bravo para
ela. Quer dizer, pode ser incompatível com a vontade que ela tem de socializar, de se integrar ao grupo, de estar com pessoas que talvez sejam interessantes, que talvez não façam coisas que ela não queira fazer. Que está tudo bem, às vezes, né? Mas o jeito de conversar é outro. Talvez ela não compreenda os sinais de paquera, e aí nós temos riscos, às vezes, graves. Porque os estudos mostram que 90% das meninas autistas adolescentes já passaram por situações de abuso. Então, começa por isso, compreendendo que existem círculos de intimidade: as pessoas que realmente são muito próximas,
ali, um pouquinho mais distantes — os amigos. Então, para cada círculo desses conhecidos, existem comportamentos mais adequados ou esperados. É importante, e às vezes é necessário ter inclusive recursos visuais, para que a gente converse sobre isso de forma antecipada e para que ela se sinta segura também em ambientes diferentes, ou quando muda essa hierarquia social, a dinâmica social nos ambientes dela. Então, realmente, é mais propenso a sofrer abusos, esse tipo de coisa. Pelo que você falou sobre a dificuldade até de não entender muito bem, acho que até por conta da literalidade. Por exemplo, o amiguinho
chama: “Vamos na minha casa assistir a um filme?” Você vai assistir ao filme, mas o amigo não está pensando em assistir ao filme; ele quer paquerar. Eu acho que são muito essas sutilezas, e tem que ser de uma forma realmente diferenciada, de uma forma mais sutil ou até de uma forma mais prática, não sei, né, dependendo do acordo, para ela, para que a gente possa meio que blindar, pelo menos nesse primeiro momento, até que ela possa tomar decisões mais importantes sozinha. Porque eu acho que realmente é mais para pensar em sofrer esse tipo de abuso,
de assédio — tanto a questão sexual, mesmo, até às vezes no trabalho, às vezes de amigos também, né? Você querendo se enquadrar, então você quer sempre ser legal ou deixar alguém fazer alguma coisa com você, por exemplo, te usar, ou algo do tipo, porque você está querendo sempre agradar alguém e não consegue se impor, realmente mostrar sua identidade. E isso, acho que acaba levando a vida, vai levando, vai levando. E aí eu acho que, quando vem esses enxurrada de diagnóstico, quando a mulher tem diagnóstico na vida adulta, eu acho difícil uma que não recebeu alguns
outros diagnósticos psiquiátricos antes, até chegar no “você é autista”, né? Você concorda? Exato, e não sou só eu que concorda, não. Na literatura, a gente vê que vários trabalhos indicam que a mulher entra nessa jornada com muitas queixas psicopatológicas. E aí, hoje em dia, como se tem mais acesso, né, a recursos mais específicos — não em termos de inventário, escalas, mas é um pensamento mais abrangente agora que nós sabemos sobre a apresentação feminina do autismo —, ela pode receber esse diagnóstico de forma tardia, após muito sofrimento e também por ser mais vulnerável. Claro, mesmo tendo
diagnóstico, ela está mais propensa, como outras mulheres também, né? As mulheres vulneráveis... Tranquilo, eu tô no 4G, justamente já para nós ir lá do Wi-Fi. Mas, se vocês depois falarem para a gente se estão ouvindo direitinho, vendo a gente, tá bom? Talvez foi alguma coisa momentânea mesmo. Linda, doutora Natal, obrigada. Kátia, travou muito, olha aí! Ó, tá fazendo... travou. Ai, que pena! Então, vamos continuar aqui, para a gente... tá bom? Eu acho que, não sei se foi a internet, não sei, mas agora deu certo, que bom. Deixa eu te perguntar, Lígia: por exemplo, eu sou
uma mulher, tô desconfiada, tô vendo, tô achando as coisas aqui na internet, fui lá no doutor Google e acho que eu sou autista. Qual o meu primeiro passo? [Música] Procura quem estiver mais perto, o profissional que, né, você souber que tem competência, que seja especializado, que tenha a experiência nessa área, aí pode iniciar o processo de avaliação. E, geralmente, o processo diagnóstico depende da observação de vários profissionais, então a médica como a doutora Janine, o educador, como eu, todos podem auxiliar — o psicólogo e tal —, mas todos na comunidade somos responsáveis nesses casos. Então,
não só a pessoa que observa suas características, mas o esposo, os pais, meus filhos... Todos podem, em algumas escalas, né, estão livres à disposição dos profissionais, então podem ser utilizadas. E aí a pessoa vai pensar melhor sobre esse assunto, sobre as próprias características e colunas. E, às vezes, as moças que fazem parte da comunidade ali, estão observando as características que elas observam a partir das nossas conversas, a partir do próprio manual, que não está fechado. Ele não é um livro secreto para os profissionais; pode ser utilizado por todos. Então, a partir dessa leitura mais minuciosa,
observando determinadas características, assim, ela pode levar isso, pode e deve facilitar muito a conversa quando ela tem um diário e leva ao profissional. Porque eu acho que, pelo só fato realmente de você já estar na vida adulta, talvez o médico vai estar ali mais só para validar o trabalho de vocês, né? Porque é mais difícil para o médico fazer um diagnóstico mesmo se for encontro de uma hora, por exemplo, não sei... Mas ainda é muito pouco para você conseguir fechar um diagnóstico numa pessoa na vida adulta que veio, né? Como falou, às vezes são coisas
sutis que a gente vai pegando, aqueles ganchos que vai juntando num todo para poder conseguir fechar um diagnóstico. Porque, se ela passou essa vida toda aí sem nada, provavelmente é algo mais sutil que a gente tem que ter um olhar diferenciado e, às vezes, o médico, numa consulta, não consegue. Então, a gente tem que lançar mão dos profissionais. Eu acho muito válido, muito importante todos vocês nessa questão de avaliação, na avaliação neuropsicológica, porque ajuda muito até a pessoa se conhecer, né? Eu acho que é uma autoavaliação, acaba sendo também. Exatamente agora, o risco tanto para
a própria pessoa que faz o autodiagnóstico como, em algumas situações, mesmo com profissionais, é focar apenas naquela queixa, na demanda, na hipótese inicial. Então, eu falo sempre com os profissionais, né? Quando estou em supervisão com os meus alunos e tudo, essa queixa, essa hipótese, ela tem que resistir à nossa tentativa de refutá-la. Então, DSM não tem só o autismo, tem uma série de outras condições. Então, o objetivo é testar essa hipótese, questionar isso. Não é por maldade; a pessoa que está no processo de avaliação não pode ficar chateada com o profissional, porque sim precisa saber
se realmente faz sentido, porque pode ser outra condição, pode ter mais de um diagnóstico, e não é só uma situação, algo do momento, por exemplo, a pandemia, que fez muitas pessoas virarem isoladas, com um pouco de comportamentos restritivos e tudo. Então, a gente precisa saber se é situacional, se realmente tem relevância, e prejuízos e intensidade, né, suficiente para alterar a rotina da pessoa. Eu acho que tudo tem a ver com a questão do, igual você falou agora, do prejuízo, né? Se gera prejuízo para essa pessoa, para as pessoas no entorno dela, eu acho que ela
tem que realmente ser avaliada, assim, para ontem. Porque eu acho que tudo gira em torno do prejuízo. Se você ainda consegue lidar bem e viver a vida bem, que eu acho um pouco difícil, mas se não, tudo bem. Mas eu acho que, de alguma forma, em algum pontinho ali, com certeza vai gerar algum prejuízo. E é isso que é difícil, talvez, para as mulheres, porque eu costumo dizer que a gente já sente culpada, só mulher, só de você já estar ocupada. E a sociedade também, né, em volta, muda a gente para ser realmente... mas é
capado, bizarro. Então, uma menina, igual você fala, né? A gente escuta muito a menina quietinha que fica lá na dela. Ela passa despercebida realmente! Olha como ele é boazinha, como ele é quietinha. Aí vem assim: "Dorme, na boazinha", né? Você querendo agradar todo mundo e fica ali naquele mundinho, e todo mundo acha muito lindo porque ela é muito organizada, aquelas coisas muito certinhas. E aí, quando você vai juntando, quando você vê, não é inato dela, assim, né? É uma questão típica, vamos dizer, que geralmente já está entrando, é realmente uma... tipo, e a gente vai
deixando passar porque é bonitinho a menina ficar ali quietinha. Aí, como você fala também, que a maioria das pessoas fala, tipo, quando é um menino que é muito quieto, todo mundo já estranha: "Como assim? Esse menino tá muito quieto, tá acontecendo alguma coisa!" Que ele é muito quieto. Agora, é uma menina que é muito quieta: "Olha que legal que ela é muito quieta!" Eu acho que tem muito disso, né? Os pais até validam. Pois é, tem dois modelos ou teorias a respeito dessa configuração identitária de meninos e meninas autistas. Então, Simon Baron-Cohen, que é um
pesquisador que investiga muito sinais de autismo, ele fez uma hipótese a respeito do cérebro das pessoas autistas e chegou à conclusão, ele deu até o nome de “cérebro extremo macho”. Então, em um contínuo, que seria o cérebro feminino, mais empático e mais cuidador; e, no outro extremo, certo, o cérebro masculino, mais lógico e mais pragmático. Então, segundo ele, o cérebro das pessoas autistas estaria aqui, mais próximo desse extremo macho. Então, talvez até passaria desse descontinho, desse espectro de possibilidade, tendo o homem, né? O menino neurotípico aqui, um pouquinho mais próximo do cérebro feminino. Enfim, mas
então existe essa teoria e pode ter relevância, assim. E existe uma outra teoria, o modelo de pensamento, que também é estudado a respeito da configuração neuronal mesmo, a arquitetura cerebral e das funções cerebrais das pessoas autistas, que é o modelo da incoerência de gênero. E nesse modelo, principalmente a Suzanne Bejar, que estuda bastante, é uma psiquiatra, e ela diz que os meninos autistas estão mais próximos dessa configuração feminina. Então, não chega a ser uma configuração exatamente feminina, mas talvez seja um pouco mais passivo, um pouco, às vezes, mais simpático, passivos mesmo; enquanto as meninas autistas
tendem a ter uma configuração mais próxima do cérebro masculino neurotípico. Olha só que interessante! Então, você me fala que as meninas muito recatadas, muito quietinhas, elas tendem a passar abaixo do nosso radar porque a sociedade já valida. E quando essa menina tem uma configuração mais masculinizada, tomboy, e mais prática, mais lógica sobre o mundo, e quer mais conforto, como ela vai ser interpretada? Então, nos dois casos, às vezes, elas são invalidadas ou negligenciadas, não recebem o suporte adequado, seja porque ninguém as nota ou porque todo mundo vai julgá-las como inadequadas porque são muito práticas, né?
Ficam sistematizando as coisas, pensam de forma lógica, literal e não querem saber de confusão, conteúdo. E, para elas, por exemplo, a socialização é muito feminina, muito “frufruzinho” para elas e, na verdade, às vezes, elas que rejeitam ou fazem bullying com as outras meninas porque elas não sentem que esse universo seria relevante ou admissível mesmo. Como é que é seu trabalho com essas meninas? E mulheres autistas, como é que funciona? Como é que a gente chega até você? Vamos lá! Pois é, hoje em dia trabalho mais como professora, orientando. Tenho o curso, tenho uma aula, mas
você quer saber sobre o autismo feminino, ejaculações precoces, também sobre os caminhos possíveis para que a gente facilite a detecção das meninas autistas de verdade, também o suporte. E tem os nossos livros, né? Tem o livro em que tem um capítulo. Esse livro tem mais de 50 autores que abordam vários assuntos importantíssimos para que a gente simplifique. Eu gosto muito dessa palavra; eu uso até a expressão "simplificar para amplificar". E aqui, nesses dois capítulos, tem "Simplificando o Espectro Feminino" e também falando sobre a educação extrema, demandas que às vezes são confundidas com o diagnóstico de
TDAH. Então, às vezes a criança se sente muito ansiosa, e ela cria determinados comportamentos que parecem que são, né? Às vezes, não adaptativos, mas que, na verdade, são uma tentativa de não lidar com as demandas. Pois é, parece que é um perfil mesmo do autismo. Esses estudos vêm acontecendo desde a década de 70, e hoje acredita-se que sim, que esteja associado ao autismo. As crianças têm as características do autismo, mas, às vezes, têm uma habilidade verbal acima da média e parecem que estão manipulando os adultos. Os casos mais clássicos e, às vezes, mais desafiadores são
aqueles em que as crianças imitam um bichinho ou querem se fazer de adultas. Então, a menina, por exemplo, que na sala de aula quer tomar o lugar da professora chama atenção. E a questão é a seguinte: as estratégias educacionais e terapêuticas convencionais, aprovadas, que a gente vê como padrão ouro para o tratamento de autismo, elas não costumam funcionar com essas crianças em evitação extrema de demandas. E aí, olha só que contraintuitivo: às vezes, quando a gente oferece esse espaço para que ela tenha um pouco mais de autoridade, mais agência, né? Que ela controle um pouquinho
mais a situação, a rotina, participe das escolhas, ela acaba florescendo, se desenvolvendo muito bem. Então, os comportamentos tendem a ser reduzidos. A autoridade para essa criança vai assumir a casa e vai se tornar uma pessoa mimada, um adulto irresponsável e tudo egocêntrico. E não é o caso. Às vezes, quando a gente acolhe essa necessidade e flexibiliza um pouquinho, não as regras, mas o jeito de falar sobre as regras, essa criança se sente atendida. Então, tem livros, tem aulas, tem cursos, para sair, supervisão e tudo. Depois da live, vocês vão lá no perfil da Lígia, vão
lá no link da bio dela. Eu já comprei o meu, a minha Masterclass, já assisti, é maravilhosa! Façam que vocês vão adorar. Tipo, coloquei ali: quanto mais aprendi sobre autismo feminino, mais me identifiquei. Então, se você realmente tem alguma suspeita, tá sentindo que tem alguma coisa diferente, que você não tá se enquadrando, que realmente pode se encaixar, eu acho que o ideal seria buscar, primeiramente, uma psicóloga, uma psicopedagoga. Pode ser direto ao médico e, claro, o psicólogo que está, né, fazendo esses atendimentos. O educador, muitas vezes, também tem que fazer avaliação neuropsicológica para poder identificar.
Igual você falou, o DSM-5 não tem só autismo, né? Às vezes, a gente pode enquadrar em algum outro transtorno. Você tem alguma relação? As meninas também têm mais casos de TDAH ou não tem muita relação? Porque eu acho que deve ser ainda mais difícil, hein? Autismo com TDAH. Pois é, no TDAH do tipo desatento associado ao autismo em meninas, agora, no geral, 90% dos autistas podem ter alguns sinais de disfunção executiva e até 60% podem chegar a receber o diagnóstico. Eu descobri, né, ano passado, nunca imaginei que eu tinha. Se alguém me perguntasse, eu diria:
“Imagina!” A minha perna balança toda hora, é complicado! E é para você ver que esse tipo de coisa não tem classe, não tem cor, não tem sexo. Bate na casa de todo mundo. Qualquer um pode estar propenso a ter alguém atípico dentro de casa. Ou você, se ninguém é, provavelmente, você quer, porque realmente essas crianças, principalmente os autistas, até hoje, muitas pessoas... Eu tiro pelo meu filho. Meu filho tem autismo, ele se enquadra e seria um nível 1 barra 2, porque ele precisa de suporte para tudo. Mas o cognitivo dele é bem preservado e ele
tem uma intenção comunicativa muito forte. Realmente, ele tenta se comunicar. E eu ainda sofro muito com isso, mas nem parece. Nem tem cara, mas como assim? Ele fala, mas todos têm um... mais parece que não bate. A gente fala: “Ele é autista?” E todo mundo faz uma cara como se tivesse, né? Realmente, uma feição, um estereótipo. Não tem! Então, se a gente realmente não tiver um olhar diferenciado para essas crianças, adolescentes e adultos, realmente passa batido. Porque é o que eu falo: quando é um nível 3 ou quando vem com alguma comorbidade associada, é fácil.
Até um leigo bate o olho e vê que tem alguma coisa diferente. A gente tem que estar treinado para essas nuances. E o autismo em meninas, eu acho que realmente tem que criar uma vertente, mesmo autismo feminino, para poder estudar cada vez mais. Parar com essa história de só fazer triagem em meninos e fazer em meninas também, para que a gente cada vez mais melhore essas escalas e possa ajudar melhor essas meninas. Porque é um sofrimento, acho que para todo mundo, e principalmente para a pessoa que está dentro do espectro, que ainda não conseguiu esse
diagnóstico. Porque imagina essa menina, igual você falou, questão de gêmeos: às vezes é o irmão, né, que consegue um diagnóstico e a menina que tinha tanto quanto... Sintomas meio que não, não é? Passou despercebido, e aí depois é que a gente vai ver o sofrimento que causou na vida dessa família, porque a gente não teve um olhar diferenciado. E eu, como médica, eu sempre costumo dizer: eu não tenho vergonha nem tenho medo de pedir ajuda e dizer "não sei". Quando eu não sei, eu digo: "Calma, não sei, mas eu vou procurar saber, vou perguntar, ou
então vai tal pessoa, que ela vai conseguir te ajudar". Eu acho complicado quando falam: "Não, não é tchau. Volta daqui a seis meses, volta daqui a um ano", e nada! "Não, é coisa da sua cabeça." Eu acho que isso a gente devia excluir das nossas falas no consultório e validar realmente a questão dessa mãe. Ou até mesmo treinar o seu olhar, porque para meninas eu acho que tenho recebido bastante menina no meu consultório, e a maioria vem com sintomas bem... mesmo não sendo nada muito sutil, sabe? Quando a gente começa a fazer anamnese, o interrogatório
já meio que fecha o diagnóstico, porque realmente se enquadra bastante no que a gente está acostumada a ver nos meninos. Eu não sei se, infelizmente ou infelizmente, ainda não peguei nenhuma menina assim mais difícil de diagnosticar, por conta das sutilezas, das nuances, né? Que está entre um e outro. Mas eu acho que, cada vez mais, a gente tem que estudar mais, não só o autismo em geral. As pessoas realmente têm que entender, têm que compreender, têm que entender que nós estamos aqui e vocês vão ter que engolir a gente, porque eu acho que realmente, daqui
a pouco, o atípico vai virar atípico, gente, porque essas crianças aí vão crescer, vão casar, vão ter filhos. E a chance de um autista casar com outro autista vai ser muito grande, e a probabilidade de vir outro autista também vai ser muito grande. E, daqui a pouco, vai virar meio que o comum. Então a gente tem que fazer um exercício interno de autoavaliação mesmo, de parar de querer... eu acho que a gente quer muito enquadrar, botar muito em caixinha. Assim, tem que ser assim, Fulano tem que ser assim, menina tem que ser desse jeito, menino
tem que ser daquele jeito. Uma vez, ouvi uma frase que eu acho que gostei bastante: enquanto a gente querer realmente ficar, por exemplo, separando muito o típico do atípico, que eu estou falando agora sobre questão de educação e na escola, e a gente fica muito separadinho, sabe? "Ah, mas fulaninho é..." Fala: "Não, é". Eu acho que as crianças menores, elas não entendem, elas tratam todas iguais. Elas podem notar alguma variação entre um jeito de ser, mas elas não fazem essa discriminação. As pequenas, as maiores, elas já fazem! Elas já fazem bullying, já discriminam, já excluem,
enquanto as pequenas não. As pequenas, elas acolhem. Hoje eu vi a mãe de um dos pequenininhos que atendi hoje e falou: "Ele não tem interação comunicativa, mas ele falou que os amiguinhos da escola acolheram ele, cuidam dele." E é mais ou menos isso que as crianças pequenas fazem. E se a gente crescer essas crianças com esse pensamento de que não importa se você enxerga menos, enxerga mais, se você tem dificuldade para ouvir, para andar, se você usa cadeira de rodas, se você usa muletas, se você tem TDAH, se você é autista, acho que a gente
não precisa ficar dando nomes nesse momento, e sim, tá todo mundo igual, cada um com a sua necessidade. Se você precisa de mais ajuda em tal coisa, então vamos dar mais ajuda. E não ficar falando que precisa de ajuda porque ele é isso, ou "olha, nem precisa de ajuda porque ele é aquilo." Eu acho que isso fomenta essa questão separatista de ficar dividindo os típicos dos atípicos. Os PCDs, não perceber. Eu acho que se a gente trouxesse a visão para as crianças de que todo mundo é criança, e ponto, e vamos respeitar e vamos ajudar,
eu acho que tem mais chance dessa criança se tornar um adulto, inclusive, e não capacitista. Eu não sei se você sabe, mas eu era radicalmente contra esses diagnósticos, sobretudo quando se trata de nível de suporte, no caso dos mais leves de TDAH. Porque assim, eu sentia que era mais prejudicial do que poderiam ser. Os diagnósticos faziam a criança se focar muito nos déficits e deixavam de observar as competências que ela já tinha, já tinha cultivado, alguns cursos, interesses e tudo. Então, no meu trabalho, o foco realmente é muito aspiracional. Eu quero que as pessoas observem,
né, o futuro que elas podem construir, a identidade que elas estão, né, em processo de construção, quem faz os interesses delas. Então meu sonho também é de que essa apresentação diferente da apresentação feminina seja incluída. E a gente não precisa, daqui a alguns anos, falar especificamente sobre o autismo feminino, mas falar, como você disse, né, sobre a inclusão, sobre as diferenças que são lindas. O mundo precisa de todos os cérebros. Então nós temos livros também do Eric Kandel, por exemplo, que mostra que essa arquitetura cerebral diferente, tanto da pessoa que tem TDAH quanto da pessoa
que tem dislexia e o próprio autismo, é justamente o que a pessoa traz de melhor e de diferente para o mundo e que pode ajudar as outras pessoas, às vezes por uma percepção mais criativa, diferente, uma abordagem mais lógica, mais concreta ou, às vezes, até literal mesmo. E, né, pode enriquecer as experiências de outras pessoas. Então, eu gosto muito de trazer, inclusive, as meninas, as mulheres autistas para esse debate, porque quando a gente dá voz a quem realmente viveu a experiência, nós vamos ter a possibilidade de pavimentar esse caminho para outras pessoas, né, tornar a
jornada dessas meninas que estão chegando agora mais fácil e mais significativa também. Sim, é pega no gancho que você falou na questão de qualidade. Eu acho que por... Isso que é muito importante fazer um face! Eu acho que se fosse realmente instituído nas escolas, para todas as crianças, a gente ia descobrir quais são as facilidades, as habilidades e os déficits dessa criança e trabalhar de acordo com essas habilidades e com esses déficits. Mas, infelizmente, a nossa educação é padrão, né? Todo mundo tem que aprender do mesmo jeito, e eu acho isso complicado porque cada um
tem uma forma de aprender. E para quem tem essa dificuldade, é ainda pior, porque se você já tem toda essa dificuldade para se enquadrar, ainda é obrigado a aprender da forma padrão, igual todo mundo. Acho que isso fica ruim para todos, não importa se você é típico ou atípico. É realmente complicado. A escola era para ser um lugar agradável, onde a gente gostasse e tivesse prazer de estar. Eu penso assim, e não como um peso: "Ah, eu vou ter que ir para a escola hoje". Infelizmente, também temos, assim, professores muito arcaicos que não buscam realmente
prender a atenção do aluno, fazer algo diferente e se inteirar do que está acontecendo hoje em dia. Para atrair a atenção dessas crianças e adolescentes, tudo é muito igual, muito cartesiano, tudo em caixinhas. Acho que as pessoas precisam de mais diversidade, mais colorido. É verdade, a gente sabe que tem. Esse plano, por exemplo, tem o livro que chama "Maquiavel Pedagogo", e o "Gato de Botas" também fala sobre esse pensamento e a construção muito fordista da escola, que segue um modelo industrial e realmente não é para deixar as pessoas mais inteligentes. No livro "O Gato de
Botas", inclusive, chama-se "Emborrecimento Programado", porque a escola segue por protocolos que deixam as crianças sempre no mesmo lugar. Tudo tem que ter hora para o recreio, tem que parar imediatamente aquela atividade, então elas não têm autonomia para continuar investindo em suas curiosidades. Às vezes, essa curiosidade é interpretada como mau comportamento, e isso é um grande problema. Inclusive, o pay... o pei maravilhoso, a gente investiga, mas eu sempre lembro que os protocolos são só para garantir que ninguém deixe de ser atendido no que realmente é necessário, né? Para aquela pessoa, o protocolo de saúde, o protocolo
no hospital, é justamente para não deixar ninguém ser negligenciado. Mas o protocolo tem parâmetros, né? Segue os itens básicos para aquele cuidado. Então, o nosso projeto é sair do bem, fazer um enriquecimento. Tanto que, em saúde e educação, a gente tem três modelos de trabalho, né? Que são a prevenção, o tratamento e a promoção de saúde. Agora, a promoção de saúde vai focar em gerar energia e promover a inteligência, que é meu caso na área da educação. Eu quero que meu aluno expanda as possibilidades dele, as suas capacidades cognitivas, interesses e motivação; que saiba memorizar
mais, raciocinar melhor, escrever com palavras mais ricas, onde vocabulário e estudo contribuam para a expansão do repertório comportamental também e da construção da sua própria história, né? Quem sabe escrever uma história, uma narrativa sobre um personagem, também vai ter mais facilidade para construir e escrever a sua própria história. Você pede muita adaptação para a escola poder ajudar de alguma forma essa criança, ou você deixa mais para a parte do médico? Você mesmo que solicita um pouquinho? Sim! Quando a gente sempre vai à escola para conversar com a equipe, claro que solicitamos algumas acomodações. É interessante
porque, antes do diagnóstico, isso até me fez mudar de ideia e reduzir esse preconceito em relação ao diagnóstico. Eu imaginava que ter uma sede, né? Ter um nome, falar "autista", que fosse reduzir as possibilidades, né? O potencial desse aluno. Só que, quando chegava à escola e solicitava acomodações sem dar um nome, né? Da condição, em geral, as pessoas questionavam, como você falou, né? Duvidavam e achavam que estávamos mimando, que não seria necessário, que a pessoa tinha que se esforçar... Tudo isso, né? Essas falas que são capacitistas. Por outro lado, quando a pessoa recebe o diagnóstico,
existe um outro problema, sobretudo em relação às meninas. Às vezes, a equipe deixa de apostar, e a gente sente essa nítida tendência da equipe querer passar direto o aluno. Então, a gente tem que fazer o trabalho de acomodação dos dois pontos. Então, trazer a motivação, o investimento, que é importantíssimo para qualquer aluno, porque nós temos a profecia autorrealizadora ou a profecia autorrealizável. A partir do olhar do educador, que esse aluno vai prosperar, vai acreditar em si mesmo, a partir dessa, né? Dessa aposta, que é o aluno, próprio, fase que a equipe também, quem está em
volta, esse olhar de acreditar e confiar que o aluno aprende. A partir disso, nós temos os resultados; ele é capaz, se interessa, valida, faz perguntas, se envolve com o processo de educação. Então, tudo isso precisa ser avaliado. A gente precisa observar o que está acontecendo, sugerir também, sem, às vezes, constranger, né? Precisa acolher a equipe também, porque nem tudo é óbvio e, às vezes, as pessoas, como você disse, não estão formadas mesmo para ter esse olhar diferente ainda. Então, focados aqui, né? Prevenção e tratamento. A escola deveria ser esse universo, como você bem falou, de
florescimento, de possibilidade, de encantamento, curiosidade, motivação intrínseca, motivação extrínseca, enriquecimento. Para a gente nem precisar pedir, né? Eu acho que seria o melhor dos cenários. A sua solicitação ou dos outros profissionais, que seja por falta de um CID... eu vejo muito isso acontecer. A escola meio que percebe, que suspeita, mas como não tem um diagnóstico, meio que lava as mãos, né? Fica se tornando isenta, enquanto ninguém... enquanto alguém não vier com um relatório, com algo, com diagnóstico para você. Para a escola, eles ficam meio que deixando levar. Vamos indo. Não é nada ou eu acho.
Às vezes, eu converso com professores e o que eu sinto é que eles têm medo de sinalizar para os pais. Eles têm medo, e isso é difícil porque, se o professor que está com essa criança todo dia não perceber nada, tem uma coisa estranha aí, né? O professor devia ser uma ótima pessoa para você realmente interrogar, buscar, perguntar por que a criança está ali todo dia, pelo menos, quatro horas por dia. O professor é, às vezes, a pessoa que passa mais tempo com a criança do que os pais durante a semana. Seria uma ótima pessoa
para você realmente fazer um questionário, perguntar. E, no fim das contas, eles falam muito que têm medo porque já escutam casos de pais que processaram, que tiraram da escola, quando é particular, que sofreram algum tipo de represália, né? E, querendo ou não, eles precisam do emprego deles. Aí, ficam nessa, sem saber o que fazer, de mãos atadas: ou deixo ou corro o risco de ser prejudicado de alguma forma porque tentei ajudar. Eu acho que eu não sei muito o que falar para esses professores. Você está certíssima. Inclusive, também temos revisão sistemática mostrando que existe essa
tendência de negação da família e, às vezes, da equipe também, né? Tanto de professores como de terapeutas. Às vezes, têm atitudes capacitistas, mas por isso que eu gosto de pensar na inclusão no acolhimento dos neurotípicos também, porque às vezes passam por essa dificuldade. Se eu menciono essa hipótese, como ela vai ser recebida? Será que os pais vão se sentir desconfortáveis? Será que vão me julgar? E se a hipótese não for confirmada, como? Eu fico nesse ambiente, pensando o que as pessoas vão pensar de mim. Então, você está certíssima. Quando algum profissional me traz essa dúvida,
o que eu costumo dizer é que não precisamos falar sobre hipóteses de autismo, TDAH, dislexia. Então, no ambiente acadêmico, vamos supor que o professor percebeu uma dificuldade na socialização. Então, o que a gente fala é o seguinte: pode falar com a família. Olha, eu percebi que o seu filho talvez precise trabalhar mais as competências, as habilidades sociais, porque elas são importantes para a construção ou para o cultivo de outras habilidades no futuro. Então, eu sinto que vale a pena ter uma atenção. E se o profissional quiser falar comigo, quiser vir à escola, será um prazer
recebê-lo. Então, talvez não precise mencionar a hipótese específica daquela condição, até porque, às vezes, não é o papel do professor naquele momento. Os pais talvez não estejam nem pensando sobre esse assunto. Então, pode ir aos poucos e, a partir da receptividade, às vezes: “Ah, mas eu estava realmente pensando nisso em casa também, observei e tal. Você acha que é isso?” Pois é, tem algumas características compatíveis, precisa de especialista. Então vai ser bom conversar com outro profissional. Estou aqui à disposição, só elas falam que realmente tentam falar de uma forma bem sutil, dando pistas, como uma
mãe que é receptiva. Que às vezes a própria família já está anotando, é até bom, mas o grande problema é que a maioria nega. A maioria não enxerga. Às vezes está na cara ali e a mãe fica negando. E eu sinto que elas falam mesmo, né? Que têm medo de falar por conta de represália. E eu acho que os pais deviam escutar mais o professor, né? Como eu falei, a criança passa tanto tempo com aquele profissional. Eu acho que a gente deveria levar em conta o que ele fala, né? A gente tem que pesar, óbvio,
mas eu acho que a gente tem que validar também as dicas sutis do que o professor está tentando dar para você, mãe. A Talita perguntou se os autistas têm uma forma diferente de aprender e de amadurecer. Então, é um transtorno do neurodesenvolvimento. Então, o que a gente observa, né? As características principais estão relacionadas a… O Lógin falava muito disso, né? Que é a falta de intuição social. Então, essa falta de intuição social, nós percebemos com, às vezes, dificuldade na comunicação, na interação, no contato social e na imaginação social, que ela falava, que hoje a gente
poderia dizer que é a teoria da mente. A cognição social tem vários aspectos e, segundo ao órgão, foi ela que criou esse termo espectro e que o décimo já acolheu. Mas, segundo ela, são justamente essas dificuldades em relação à intuição e à percepção social que gerariam as outras características, né? O critério B, essas características mais restritivas e os comportamentos repetitivos, isso ainda é válido de certa forma e ajuda a simplificar o raciocínio. Então, é a partir disso, né?, que nós vamos observar. Gente, já deu uma hora de live. Vamos preparar, fazer igual o Miguel. Vamos
nos preparar. Eu queria assim que você desse, fizesse um resumo. Se você pudesse, jogasse uns sinais e sintomas que a gente pudesse ficar de olho, tanto quando a menina criança ou quando uma mulher já na fase adulta, para ela fazer uma auto-reflexão ou tirar alguma dúvida, procurar um profissional. Óbvio, gente, sempre na dúvida, não procure no Google; procure um profissional capacitado, por favor! A gente não está pedindo para você ir no Google; estamos pedindo para você fazer uma auto-reflexão e ver se você realmente se sente dessa forma, se se enquadra um pouco e procurar um
profissional capacitado, porque também não dá para, igual você falou, autismo, a gente sabe que tem que vir na infância. Não adianta você agora achar que tem do nada. Não, você tem que buscar lá atrás com os pais, ver como é que você era na infância, se tem um irmão mais velho, uma irmã. Perguntar como é que era sua infância, como é que você foi. Fazer uma retrospectiva e ver se realmente é isso. Eu costumo dizer que, às vezes, você só é chato. Também às vezes é isso. Não, autismo é só chatice; mas às vezes é,
e às vezes você está em sofrimento e está buscando ajuda nos lugares errados. Então, dá uma de quem aí de coisas que a gente pode acender uma regra assim. Eu acho que uma luzinha vermelha a gente seguia verdadeiramente pelos critérios, né? Então, critério A, que vai falar sobre a dificuldade de interação e comunicação. Então, se a pessoa tem dificuldade na reciprocidade social, a gente percebe desde pequenininho que a criança gosta de sorrir. Às vezes, se brinca, né? Os pais escondem o rosto e aparece; a criança se diverte, né? Às vezes, o pai finge que vai
morder o pézinho, a mãozinha; a criança esconde, não quer, depois ela dá a mãozinha pra gente de novo. Durante as brincadeiras, a gente percebe a imaginação, brincar funcional, simbólico, e tudo isso, às vezes, nos traz esses sinais de boa reciprocidade na comunicação também não verbal, gestos, né? A pessoa está sempre com as mãozinhas ao lado do corpo, não tem depressão facial. E aí, nós lembramos que pode chamar atenção a ausência e também os exageros: fazer muitas caretas para se expressar talvez indique que a pessoa não perceba, né? Não saiba modular suas expressões sociais ou expressões
corporais. Além disso, o que é muito característico, principalmente em meninas, é a dificuldade para compreender os relacionamentos. Então, nos autistas em geral, vamos perceber a dificuldade no início das conversas, das interações, que às vezes é muito brusca, às vezes é muito literal, às vezes entra já com tópicos muito sérios ou muito profundos. E, às vezes, é só para ter uma conversa especial, atividade para compreender os vínculos e para cultivar os vínculos. Também grupos, isolados, preferindo criatividades introspectivas. E mais uma vez lembrando: se não há juízos, né, se não é intensidade muito alta, se a gente
não percebe como um problema, então naturalmente não é um transtorno. Então, não vamos pensar em autismo. Esses três itens precisam ser cumpridos para que o diagnóstico de autismo seja aventado. E aí o segundo critério, critério B, vai falar sobre as esteiras. São quatro aspectos, né? E aí nós precisamos observar pelo menos dois: são as estruturas motoras ou verbais, e os comportamentos motores às vezes repetitivos, que aparentemente não têm função, mas muitas vezes nós sabemos que são movimentos que trazem conforto, são auto-regulatórios. E aí, na intervenção, a gente vai procurar não cuidar disso, observar para não
inibir algo que seja funcional para aquela pessoa no momento. Além disso, a inflexibilidade mental, que tende a não ser tão forte nas meninas nos primeiros anos, mas os estudos mostram, e a clínica mostra, que ao longo da adolescência a moça vai ficando um pouco mais rigorosa, mais metódica. E talvez até por causa dessas experiências muito ansiogênicas ou frustrantes de socialização. Então, os meninos a ter mais estereótipos e também mais rigor na flexibilidade, desde a infância, mas as meninas às vezes aparecem como seletividade alimentar, como, né, outras questões, mesmo, como você falou, essa seriação, a organização
da casa das bonecas. E aí o terceiro item vai ser sobre interesses especiais, o hiperfoco, que pode ser mais típico dos pares, e por isso talvez não chame atenção das meninas, mas sim nós observamos as outras características, e principalmente essa dificuldade de socialização. E aí, né, estamos atentos. Talvez sim a gente perceba o hiperfoco imenso em k-pop, né, música coreana. E aí, quem não gosta desses filmes? Só que, observando, às vezes uma banda de música que todo mundo gosta também, mas essa intensidade passa, às vezes, dos limites, né? E o último, ele tem relação ao
critério B: a pessoa pode ter as duas coisas, dependendo dos... então pode ser hiporreativa ao frio, por exemplo, hiperreativa ao toque, às texturas. E isso também, às vezes, é um motivo para seletividade alimentar, para o estilo da pessoa se vestir, para o corte de cabelo que ela vai escolher, assim, vai fazer as unhas, se não vai fazer as unhas. Às vezes até o grafite faz aquele barulho no papel, isso é aversível, a criança não sabe, às vezes, manifestar, justamente porque tem dificuldade na comunicação dos seus sentimentos e das suas sensações. Então, né, questões, às vezes,
que a pessoa mesmo percebe, ela é reativa, tem um comportamento de esquiva ou de irritação, mas às vezes as pessoas no ambiente não vão detectar qual é a causa. Esses aspectos, em geral, são realmente os critérios. Agora, a pontinha do iceberg mesmo geralmente é sofrimento, desregulação emocional, dificuldade nas interações, fuga, isolamento. Mas nem sempre, principalmente nos primeiros anos, nós vamos ver, por exemplo, essa introspecção muito forte nas meninas. Então, você já tem elas, têm mais motivação social, e isso é o que causa a confusão. Além da camuflagem, disso tudo que nós falamos. É mesmo, a
gente esqueceu, mas em todo lugar eu acho que é autismo feminino. E mais quem, eu acho que, praticamente você tem que pensar, né? De querer ser cachaça, de querer ter, né? Estar mais próximo. E aí, o Messi, que você usa tanto, mess que você já não sabe mais se está de máscara ou sem máscara. Então, tem que se conhecer! Para concluir, eu estou aqui com o livro que fala sobre essa representação do eu, e ele fala de modo geral como as pessoas constroem suas máscaras sociais. E imagina, né, se a pessoa está no teatro, todo
mundo sabe que ela está, né? Que os atores estão usando máscaras e que estão representando. Mas se é uma pessoa, por exemplo, neuroatípica, que usa as máscaras de forma inconsciente e os outros também não sabem que ela está representando, isso já era de... Repercussões e, às vezes, bastante sofrimento psíquico; crise existencial. Tudo, e a gente fala bastante em outros vídeos sobre isso também. É porque eu, você falou, geralmente essas meninas e mulheres passam por vários diagnósticos, como ansiedade e depressão. Às vezes, vem com a bipolaridade. E vem vindo, e vem vindo, e vem vindo. Quando
você vai olhar fundo, realmente, é tudo um autismo bem grande tampado na sua cara. É complicado, mas aí temos recursos também para identificar a camuflagem. Então, a partir desses estudos, mergulhe nos cursos, nas aulas, nos livros, nos artigos. E, a partir disso, também nós vamos observando quais são os outros recursos para identificar as estratégias de camuflagem. Então, mulheres que se sentem um pouco que não se encaixam muito, que já receberam um monte de diagnósticos e nunca conseguem um tratamento adequado, comecem a pensar: igual colocar aqui, escreva no caderno, ali já também falou isso, faça um
relatório. Escreva, vai escrevendo o que você acha que está fazendo, que talvez não seja tão comum, vai anotando e procura um profissional capacitado, que é o mais importante. Não vá em qualquer profissional. Também, se você for mulher, eu bato muito nessa tecla: vale um profissional que realmente tenha experiência em fazer esse diagnóstico de autismo em meninas e mulheres, porque você pode acabar até se frustrando, gastando dinheiro em um profissional que não tem experiência para lidar com essas sutilezas. Igual ele já falou: fica vendo só a ponta, mas quando você olha lá por baixo, realmente está
lá um iceberg grande. A gente está vendo só a pontinha, achando que não é nada. Então, procure sempre uma ajuda de um profissional capacitado. Pode ser um médico, pode ser um psicólogo, neuropsicólogo, psicopedagogo. A Lígia, que está aí também e tem curso, vão lá na bio dela, entrem no link, comprem a masterclass dela. Eu já comprei, já assisti. Abre a nossa mente, realmente, a gente começa a perceber, anotar e, principalmente, quem é da área da saúde, até professores também, se vocês quiserem aprender mais para ajudar os seus alunos, eu acho muito interessante. Informação nunca é
demais, né? Sempre bom você estar buscando, e é um tema que vai estar cada vez mais ao nosso redor. Não vai ser mais aquele criança ali que fica só parada no canto da sala, sem interagir, sem nada. Não, gente! Não está aí para todo mundo. E eu acho que a gente tem que se capacitar. Infelizmente, colocaram aqui também a questão das escolas, né, que realmente a maioria dos professores, infelizmente, não estão preparados para receber essas crianças. Mas isso, gente, já é outro capítulo, para outra live. Porque, enquanto não vier lá de cima, dos nossos políticos,
eu acho difícil alguma coisa mudar. Uma escola ou outra talvez busque aprender a lidar melhor com isso. Porque, como mãe, eu visitei várias escolas, todas eram inclusivas, todas amavam os autistas; tudo lindo. Mas quando você vai lá, conhece a história, muda um pouco. A inclusão e as pessoas confundem muito capacitismo com inclusão. Então, enquanto a gente realmente não buscar conhecimento, busque em pessoas também que sejam uma fonte confiável. Por exemplo, a Lígia é uma conta super confiável; ela está referenciada, tem bibliográficas. Ela estuda fora do país também, com pessoas muito importantes que a gente nem
conhece aqui, mas que lá fora têm uma bagagem gigantesca. E, às vezes, a gente não dá atenção para isso. Então, busque também uma fonte confiável para você buscar informação. E as meninas, principalmente mães de meninas, se vocês também notam alguma coisa diferente na sua criança, na hora que você olha, e se você tiver algum outro filho para comparar... Não, não é legal comparar a gente, mas tem horas que a gente precisa comparar para ver as diferenças. Realmente procurem ajuda. Sempre que eu falo, sempre que você notar alguma coisa diferente, procure ajuda de alguém especializado. Não
fique no Google, não fique perguntando para a vizinha, comparando com “mas o autismo da minha amiga é diferente”. É, mas é diferente mesmo; você não vai encontrar dois autistas iguais. Então, é sempre buscar informação de uma fonte confiável. Eu queria agradecer a todo mundo que participou da nossa live. Eu já via que estava tentando, atentando ali, já há muito tempo, para conseguir um lugarzinho na agenda dela para a gente poder bater esse papo. Da primeira vez que eu escutei, eu acho que eu nunca contei. A primeira vez que eu tive contato com a Lígia foi
lá na certificação do Dr. Thiago Castro, que ela deu uma aula maravilhosa. E a maioria das aulas meu marido assistia comigo ao lado; ele também se encantou com você, super se identificou com muitas coisas que você falou, concordou. E ele é seu fã, viu? Muito obrigado! Qual é o nome dele? Thiago. Desde então, ele acompanha também. Eu costumo dizer que, quando eu saio de casa para fazer um diagnóstico, eu tenho que curtir o caso com ele. Ele está sempre junto, graças a Deus. Também, pelo filho dele, né? Ele tem também que está por dentro, para
aprender e saber lidar. E nós somos um casal, uma família, então todo mundo tem sua função aqui dentro. Muito obrigada, Lígia! Muito obrigada mesmo, adorei bater esse papo com você. Eu sempre aprendo muito quando eu te escuto. Você fala de uma forma simples e gostosa de ouvir. É gostoso ouvir sua voz. Então, muito obrigada! E eu queria que você se despedisse também, para a gente poder dar tchau. Excelente! Agradeço a você, doutora. Janine, parabéns pelo trabalho, pela família, pelo cuidado com as pessoas, por esse pensamento também, mas humanizado. Agradeço muito a participação de todos aqui.
Foi muito bom estar com vocês nessa tarde. Tá bom? Então, tchau tchau, gente! Obrigada. Depois, vai lá na Lídia, vai lá no Instagram dela e já vai no link da bio dela para ver a mais dela, que tá muito legal também. Se você não segue, já segue. Se quem realmente não me segue, já começa a me seguir também, para a gente estreitar mais esses laços. Eu sempre tô falando alguma coisa, postando no dia a dia, principalmente sobre o Miguel. Gosto muito de mostrar também ele nas terapias, ele em casa. A gente vai trocando figurinha, tá
bom, gente? Tchau tchau!
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