Carta para aquela que me deixou.

7.31k views863 WordsCopy TextShare
Vinicius Gheolan
Um poema sobre coração partido, e o resgate de si que esse evento sempre pede. Apoia.se: apoia.se/v...
Video Transcript:
Você era tudo que eu tinha e agora não tenho mais nada isso é evidentemente uma mentira uma patuscada um exagero Evidente um drama que a poesia consente e na verdade precisa a poesia dramática por natureza e o poeta é como um eterno adolescente E mesmo quando deixa de selo quando cresce continua fingindo como diz o saudoso Fernando Pessoa o poeta é um fingidor finge tão completamente que chega a fingir que a dor a dor que Deveras sente nessa emulação esse fingimento hiperbólico é aqui parte constituinte de uma tentativa de transmitir um sentimento que a palavra
crua não é capaz de reter é um artifício incontornável quando se enfrenta a ardo a tarefa de passar da denotação para conotação quando se tenta desesperado converter uma na outra duas coisas tão essencialmente incompatíveis quanto emoção que palavra eu me vejo a Coado num canto sem nenhuma outra alternativa senão exagerar gritar gritar alto bastante para que eu seja ouvido por alguém e quando eu grito por tanto que você era tudo que eu tinha que agora não tenho mais nada eu sei evidente que no nível denotativo isso é mentira que eu ainda tenho minha família meus
amigos minha casa meu cachorro meus objetivos que no âmbito da simples descrição física da minha condição enquanto ser vivente que existe nesse planeta a diferença impressa pela sua ausência é mínima é quantitativamente desprezível é relevante de tal modo que parece eu sei dizer que com você se foi tudo que eu tinha mas que eu posso fazer se todas as outras coisas parecem diferentes agora que você não tá aqui se cada canto da minha casa parece agora manchado pela lembrança de cada momento seu aqui se a minha família pergunta por você se os meus amigos me
questionam o que aconteceu se meu cachorro estranha quando não tivesse aqueles objetivos deixaram de ser meus apenas que eu posso fazer se eu fui besta bastante de permitir me envolver de sentir que você nunca iria embora e querportando seguro aceitar que você invadisse cada metro quadrado da minha existência ocupasse cada possibilidade de futuro cada sonho que antes era só meu que eu posso fazer se eu te mostrei todos os filmes que eu amo todos os jogos que eu gosto todos os lugares que eu como todas as coisas que eu posso fazer e não faço mais
por você se eu deixei que você me absorvesse por completo E O Meu Destino Manifesto não se manifesta mas sem você o que eu posso fazer que eu posso viver agora quando a sua ausência se insinua a cada quarto de hora em cada fresta cada aresta cada festa tem um momento de silêncio ou uma taça de vinho um instante em que eu penso no escuro sozinho que eu te perdi que você foi embora e que o mundo lá fora perdeu para mim um elemento quantitativamente desprezível sim denotativamente relevante e sim mas qualitativamente em substituível conotativamente
inespensável E essas palavras se enrolam numa língua que não é mais a minha é uma boca que eu não mais conheço uma voz que não me pertence não pensamento que não era possível que não deveria ser possível porque não é meu não sai de mim não é compatível com a versão de mim que eu compreendia desde sempre ou pelo menos desde que você veio que eu posso fazer se eu não me lembro de quem eu era antes de você se eu não me lembro do que eu pensava do que eu queria do que eu amava
e do que eu via quando olhava para o celular naqueles tempos e memoriais em que não havia quase sempre uma notificação sua uma resposta uma piada uma foto embaçada do seu rosto da salada que você comia todo dia e me mostrava sempre via e sorria todo dia Quem era aquela pessoa que não te conhecia que vivia no mundo o que você não existia que tinha a sua própria casa suas próprias coisas os seus próprios sonhos e desejos e não esses restos esses fragmentos que você me deixou eu me vejo muito interessado nela nessa pessoa eu
preciso reconhecê-la é conquista-la reclamar para ela de novo o selo de existência autônoma que você removeu sim porque houve um momento em que eu vivi sozinha em que eu tive a capacidade de existir sozinho em primeiro lugar aqueles que não podem existir sozinhos devem informar um par diz Aristóteles Mas saiba o filósofo que muitas eras muitas Estações Há muitos caminhos de distância eu vivi e sorri E andei e sonhei sozinha eu estive lá eu era parte de uma realidade em que o Uno imperava em que o parça eles cortava em que eu sozinho [Música] eu
estive lá ainda que não me recorde talvez eu ainda esteja lá ainda que não acredite ainda que não pareça talvez você não tenha removido o meu existencial Talvez ele só esteja muito apagado desbotado esquecido renegado num canto do meu ser que eu não mais precisava enquanto tinha você mas que ainda existe que ainda resiste Eu só preciso me lembrar [Música]
Copyright © 2024. Made with ♥ in London by YTScribe.com