A GUERRA DA COREIA - Nostalgia História

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Canal Nostalgia
Como a Coreia do Norte e do Sul foram divididas? Conheça a história completa do conflito que, no iní...
Video Transcript:
Imagine uma terra repleta de histórias e conhecimento. Uma terra onde poetas e guerreiros, filósofos e agricultores compartilham tradições, um idioma em comum e, acima de tudo, uma identidade unificada. Durante séculos esta terra foi o lar de uma cultura única e vibrante, onde as pessoas eram unidas por seus costumes e espiritualidade. Elas viviam em harmonia, compartilhando alegrias e tristezas. Até que um dia, no final da Segunda Guerra Mundial, forças externas traçaram uma linha não apenas no mapa, mas também no coração deste povo. Essa linha se transformou em uma das fronteiras mais protegidas do mundo, separando famílias
e dividindo toda uma cultura. Esta é a linha que criou a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Mas esta linha fez mais do que dividir a península coreana, ela provocou uma guerra que deixou milhões de mortos e dividiu ainda mais um povo que nunca quis ser separado. Olá, meus queridos amigos, tudo bem com vocês? Meu nome é Felipe Castanhari. E se eu te falar que existiu uma guerra que causou mais de 3 milhões de mortes e que poucas pessoas conhecem? Esse conflito, considerado um dos mais sangrentos do século XX durou três anos e
aconteceu em um território do tamanho do estado de Roraima. E estou falando da Guerra da Coreia, um conflito que por muito pouco não se transformou em uma guerra nuclear. Hoje nós vamos ver essa história inteira entendendo cada aspecto dela. Por quê e como a Coreia foi dividida em dois países? Onde a China entra nessa história? Qual o papel dos Estados Unidos na Guerra da Coreia, que é conhecida como A Guerra Esquecida? Assista a esse documentário até o final para você entender tudo isso. E já aproveitando, deixe o seu gostei aqui embaixo, clique no botão aqui
para se inscrever e não perder nenhum vídeo, me segue lá no Instagram @fecastanhari, e vamos entender como essa história começou. Podemos dizer que nossa história começa em 1910, quando o Império Japonês anexa a Coreia aos seus domínios. No final do século XIX, o Japão passa por um processo de desenvolvimento econômico e militarização muito grande, expandindo seus territórios pela Ásia. Eles vencem guerras contra o Império Russo e a China e se tornam a grande potência do Extremo Oriente, e isso afeta diretamente a Coreia, uma nação localizada em uma península no leste da Ásia que sempre foi
cobiçada por essas potências. A posição da Coreia privilegiada, sendo uma das principais entradas para o leste do continente asiático. Além disso, seu território reúne o melhor de dois mundos. A parte norte é rica em minérios, enquanto o clima e as terras do sul são ideais para o plantio. O grande desafio da Coreia sempre esteve no fato de ela ser uma nação relativamente pequena, cercada por estes gigantes. Então, ao longo do século, seus status como nação soberana sempre teve idas e vindas. Essa situação se tornou um pouco mais estável a partir do século XVII, quando a
China e a Coreia aumentaram ainda mais suas relações políticas e econômicas, inclusive com acordos de proteção militar. Mas, com o enfraquecimento chinês no fim do século XIX, como os coreanos poderiam se virar sozinhos? Não poderiam! Um dos eventos que marcou profundamente o povo coreano nessa época foi a execução da imperatriz da Coreia, conhecida como Rainha Min. Ela tinha como uma de suas metas a modernização industrial e econômica da Coreia e foi assassinada brutalmente em seu palácio por agentes japoneses. Pouco tempo depois, a Coreia é forçada a assinar uma série de tratados que a transforma num
protetorado do Japão. Ela continua com seu próprio governo, mas na prática é administrada pelo Japão. Um exemplo disso é que empresas japonesas tinham exclusividade para explorar economicamente os portos e toda a infra estrutura da Coreia. O golpe derradeiro veio em 1910, quando o Japão se cansa dessa história de protetorado e invade de vez a Coreia, anexando ela ao seu império. Assim, a Coreia passa a ser uma colônia japonesa e vive um dos períodos mais violentos e humilhantes de sua história. Esta é a época do Imperialismo, com grandes potências dominando outros territórios de forma econômica, militar
e até mesmo cultural. E o domínio japonês na Coreia é de uma brutalidade imensa, com repressão violenta, escravidão e exploração sexual de mulheres. Isso inclui cerca de 200 mil mulheres de conforto, como são chamadas as coreanas, mandadas para o Japão ou para países dominados por japoneses para servirem como escravas sexuais. Um dos objetivos do Japão é acabar completamente com a identidade coreana, então as escolas são proibidas de ensinar coreano e passam a ensinar apenas o idioma japonês. As crianças não podem mais ser batizadas com nomes coreanos, somente japoneses. Essa não é apenas uma invasão territorial,
mas também cultural. Os costumes coreanos são substituídos e seus artefatos históricos roubados e levados para museus de Tóquio. Por causa disso, muitos coreanos fogem do país, criando vários grupos de resistência ao domínio japonês. Um desses grupos exilados cria um governo provisório, mas esse novo governo era meio desorganizado porque sua sede ficava em Xangai, na China. Mas seu primeiro presidente, o coreano Syngman Rhee, morava no Havaí. Nem preciso dizer que Syngman Rhee era super alinhado com os Estados Unidos. Aliás, seu nome era Ri Sung Man, mas ele mudou para Syngman Rhee, que é mais fácil de
pronunciar para quem fala inglês. Outro grupo de resistência à dominação japonesa é centrado na figura de um adolescente que será muito importante nessa história. Eu estou falando do coreano Kim Il Sung. Isso mesmo, um adolescente. Esse jovem vai para a China e se torna cada vez mais interessado por uma ideologia com o nome de socialismo. Diz a história que é em 1926, quando o Kim Il Sung tem apenas 14 anos, que ele funda a UDI, União para Derrubar o Imperialismo, um grupo de combate ao Império Japonês. Aí ele começa a montar um exército composto de
operários, camponeses e intelectuais que estavam revoltados com os crimes dos japoneses. Agora, o que importa para nós é o que acontece depois que esse domínio japonês sobre a Coreia chega ao fim. Isso acontece no final da Segunda Guerra, em 1945. Só que não dá simplesmente pra pular esse vídeo de 1910 pra 1945, porque durante esses 35 anos acontecem coisas extremamente importantes no mundo inteiro e que afetam totalmente o rumo que a Guerra da Coreia acabou tomando. Vamos lembrar, então, rapidamente alguns acontecimentos relevantes no mundo. entre 1910 e 1945. Dessa forma, vai ser mais fácil entender
quem são e como surgem os atores principais que participam direta ou indiretamente da Guerra da Coreia. Mil novecentos e catorze: começa a Primeira Guerra Mundial. Mil novecentos e dezessete: Uma revolução coloca um ponto final no Império Russo, dando início a uma série de conflitos no país. Mil novecentos e dezoito: Fim da Primeira Guerra Mundial. Os Estados Unidos despontam como uma nova potência econômica. Mil novecentos e vinte e dois: Surge a União Soviética, o primeiro estado socialista do planeta. Mil novecentos e vinte e quatro: Josef Stalin assume o controle da União Soviética. Mil novecentos e trinta
e três: Adolf Hitler, líder do Partido Nazista se torna chanceler da Alemanha. No ano seguinte, assume o poder total do país. Mil novecentos e trinta e seis: O Império Japonês torna-se aliado da Alemanha Nazista. Mil novecentos e trinta e nove: Começa a Segunda Guerra Mundial. Mil novecentos e quarenta e um: Tropas nazistas invadem a União Soviética, que entra em guerra contra a Alemanha. No Pacífico, o Japão ataca a base estadunidense de Pearl Harbor, trazendo os Estados Unidos para dentro da Segunda Guerra. Mil novecentos e quarenta e cinco: Em 12 de Abril, Harry S. Truman assume
a presidência dos Estados Unidos. Em 8 de maio, com Hitler morto e Berlim atacada pelos soviéticos, a Alemanha assina sua rendição. Agora vamos entrar numa parte que é muito importante para a gente: o fim da guerra no Pacífico. Isso vai definir o destino da Coreia. Então vamos ver um pouco mais de calma como as coisas se resolverão por lá. Vale lembrar que, quando o principal aliado do Japão se rende, estou falando da Alemanha nazista, o Japão já está enfraquecido e sua derrota é uma questão de tempo. Mil novecentos e quarenta e cinco, 6 de agosto:
Os estados Unidos lançam a primeira bomba atômica utilizada em guerras na cidade japonesa de Hiroshima. Sete de agosto: A União Soviética declara guerra ao Japão. Nove de agosto: uma segunda bomba atômica é lançada sobre o Japão na cidade de Nagasaki. Dez de agosto: Tropas soviéticas entram no norte da Coreia junto com revolucionários coreanos que haviam fugido do país durante o domínio japonês. Quinze de agosto: Tropas soviéticas e revolucionários coreanos libertam Pyongyang, segunda maior cidade da Coreia. Dois de setembro: O Império Japonês assina sua rendição na presença do general estadunidense Douglas MacArthur, encerrando a Segunda Guerra
Mundial. Derrotado na guerra, o Japão é obrigado a abrir mão dos territórios que conquistou de 1894 em diante. Isso inclui a Coreia, anexada oficialmente em 1910. Então, o povo coreano se livrou dos japoneses e se tornou independente? Bem, a posição oficial dos países aliados, como Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética, é a favor da independência coreana. Mas para os estadunidenses, a Coreia ainda precisava passar um tempo sob uma tutela internacional para poder se organizar com calma. Os outros aliados concordam com essa ideia. Nessas conversas, Estados Unidos e União Soviética concordam em não manter exércitos dentro
do território da Coreia. Mas quando a guerra acaba de fato, as coisas acontecem um pouco diferente do combinado. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o mundo passa a ter duas grandes potências mundiais: Estados Unidos, capitalista e União Soviética, socialista. Essa é a base da famosa Guerra Fria, com os dois disputando palmo a palmo esferas de influência no globo. Por isso, o acordo de não manter tropas na Coreia foi totalmente deixado de lado. Vamos analisar o contexto histórico daquele momento para entender por que os Estados Unidos e a União Soviética mandaram seus exércitos
para a Coreia. Em 7 de agosto de 1945, a União Soviética, que havia acabado de derrotar os nazistas, declara guerra ao Japão. Assim, ela começa a mover seu Exército Vermelho em direção à Coreia para expulsar de vez os japoneses de lá para os Estados Unidos, que já tinham visto os soviéticos derrotarem os japoneses na região chinesa da Manchúria, isso é um pesadelo. A União Soviética, o maior território do planeta, já tem metade da Alemanha e Berlim, sob sua influência. Agora também vão marchar em direção à Coreia para lutar ao lado de chineses e coreanos? Onde
isso vai parar? No Japão? Não. Os Estados Unidos não podem deixar os soviéticos colocarem os pés no arquipélago japonês. Isso seria um verdadeiro desastre para os estadunidenses. Quando os Estados Unidos precisam impedir que os socialistas ocupem a península inteira, eles desembarcam na Coreia com a desculpa de ajudar a encerrar o domínio japonês. Mas para que os exércitos soviéticos e estadunidenses não se encontrem, é preciso uma fronteira. A definição dessa fronteira foi feita pelos Estados Unidos. Como não existe uma fronteira histórica ou cultural que pudesse ser usada, os militares estadunidenses escolheram o Paralelo 38º. Isso porque
ele "racha" a Coreia no meio e, de quebra, mantém Seul, que é a capital coreana, no sul, ou seja, sob controle dos Estados Unidos. Sim, riscando uma simples linha no mapa, um general e um coronel estadunidenses que nunca tinha sequer pisado na Coreia dividem no meio um povo que passou séculos como uma única nação. Assim, os exércitos soviéticos na parte norte da Coreia concordam em estacionar antes de chegar ao Paralelo 38º. Logo depois, tropas estadunidenses começam a ocupar o sul da península. Agora, não basta dividir e ocupar, é preciso administrar. No sul, os Estados Unidos
queriam um governo militar liderado pelo General MacArthur, que comandou as forças aliadas na Segunda Guerra no Pacífico. Falando de uma forma literal, desce a bandeira do Japão e sobe a dos Estados Unidos, trocando uma ocupação pela outra. O problema é que primeiro, o MacArthur já está coordenando a ocupação estadunidense no Japão. Segundo, os oficiais mandados para a Coreia não têm treinamento nenhum de diplomacia e terceiro, eles sequer falam coreano. No Norte, a União Soviética cria uma administração que reúne militares soviéticos e revolucionários coreanos. As decisões soviéticas, claro, têm muito peso nessa administração. Mas quem começa
a se destacar é o Kim Il Sung, sim, Aquele que tinha criado o Exército Revolucionário quando era adolescente, volta para a Coreia em 1945, onde se torna cada vez mais popular. Na verdade, sua luta de décadas contra o imperialismo japonês tinha transformado o nome dele em uma espécie de lenda entre os coreanos. Isso, junto com o bom relacionamento que tem com Moscou, garante espaço para ele na administração do Território do Norte. No final de 1945, uma conferência em Moscou anuncia que a Coreia será administrada por um consórcio de estadunidenses, soviéticos, chineses e ingleses por até
cinco anos, quando, então, será independente. No minuto em que essa notícia chega na Coreia, explodem protestos na península inteira porque os coreanos acham que isso vai transformar a nação numa marionete dessas potências. No sul, os estadunidenses lidam com os protestos na base da paulada, proibindo manifestações e cancelando os direitos civis dos coreanos. Aliás, os estadunidenses usam documentos de inteligência da época da dominação japonesa para perseguir socialistas e sindicalistas no sul. No norte, as coisas são mais tranquilas. Lá, o Partido Comunista é muito forte e apoia a tutela internacional. Dizem que esse apoio rola por ordem
de Moscou, mas o fato é que isso enfraquece os protestos no norte. Na verdade, qualquer crítica ou movimento de oposição ao Partido Comunista de Kim Il Sung e a presença soviética no norte é silenciado rapidamente, às vezes com violência, pelas forças de controle dessa parceria político-militar. Mas, mesmo levando isso em conta, a verdade é que a presença soviética no norte é bem mais aceita que a estadunidense na parte sul. Entre 1945 e 1946, os coreanos do Norte ganham mais autonomia com a criação de comitês populares para cuidar da região. Aí começa a nascer um Estado
socialista, com as terras que foram tomadas pelos japoneses sendo redistribuídas entre a população do norte. Além disso, muitas fábricas criadas para servir ao Império Japonês são nacionalizadas e passam a pertencer ao governo da Coreia do Norte. Já na parte de baixo do Paralelo, a truculência continua solta. Em 1946, a economia está arrasada e os socialistas da região organizam protestos contra os Estados Unidos. O governo vai para cima dos manifestantes em conflitos que deixam milhares de presos e mais de 600 mortos. Quem ganha espaço nesse cenário é o sul coreano Syngman Rhee, aquele presidente do governo
provisório que morava no Havaí. Como ele é anticomunista ferrenho, ele é apoiado pelos Estados Unidos. Mas, vem cá... E a unificação das Coreias? Uma comissão de estadunidenses e soviéticos tem a missão de criar uma administração única, mas isso não dá em nada. E o problema, então, é levado para a ONU, que tinha acabado de ser criada. E o que a ONU diz é que a Coreia deve passar por eleições populares. Aí começa a bagunça, porque os soviéticos alegam que a ONU não tem como garantir eleições legítimas na Coreia. Então a ONU decide: "Beleza, então eu
vou vistoriar as eleições". "Só que só na parte sul, tá?". Controlada pelos Estados Unidos. É claro que vai dar ruim. Em 1948, são disputadas eleições na parte sul. Isso acontece de forma conturbada, com vários coreanos boicotando a votação. E quem é o vencedor? Syngman Rhee, claro, que 15 de agosto se torna presidente da República da Coreia. Hoje você a conhece como Coreia do Sul. Como resposta, menos de um mês depois, em 9 de setembro, é anunciada a fundação da República Popular Democrática da Coreia, que você conhece como Coreia do Norte. E quem estava à frente
dessa nação? Kim Il Sung, que passa a ocupar o cargo de Primeiro Ministro. Mas e a galera lá do Sul? Eles ficaram felizes com a vitória do Syngman Rhee? Nem um pouco. Na verdade, explodem protestos por toda a região do Sul. Um dos maiores acontece na ilha de Jeju, que era chamada de Ilha Vermelha pelos Estados Unidos, porque era cheia de socialistas. O Syngman Rhee, que agora é presidente, não pensa duas vezes e ordena que tropas do governo massacrem os rebeldes da ilha. Como eles não têm soldados suficientes para isso, membros da Liga Noroeste da
Juventude, um grupo de apoiadores do governo, são enviados para ajudar na operação. Resultado: Em alguns meses, quinze mil civis são mortos, muitos decapitados, em um massacre que o governo da Coreia do Sul tentou esconder, mas que hoje é reconhecido pelos próprios sul coreanos como um genocídio apoiado pelo Exército dos Estados Unidos. Aliás, os Estados Unidos produziram um filme de propaganda com cenas do massacre, colocando a culpa das mortes nos rebeldes socialistas. E essa não foi a única vez que os estadunidenses fizeram uma pilantragem dessas, como vocês vão ver mais pra frente. Casos de violência como
esse aumentam ainda mais a tensão na península. Mas a guerra ainda não começou oficialmente. Para ela começar alguém precisa dar o primeiro tiro. E quem deu o primeiro tiro? Bem, existem várias versões porque os dois lados estavam se provocando o tempo todo. De um lado, guerrilhas socialistas atacam o território sul. Do outro, sul coreanos apoiados por estadunidenses, criam incidentes no Paralelo 38º como desculpa para atacar soldados da Coreia do Norte. Mas oficialmente falando, a guerra começa com a Coreia do Norte. Em 1950, contando com o respaldo da União Soviética, o Kim Il Sung dá a
ordem de ataque. Mas vale dizer que essa versão oficial do começo da guerra é contestada por alguns historiadores. Há quem defenda que a Coreia do Norte cruzou a fronteira como reação a alguns ataques que a Coreia do Sul tinha realizado horas antes. E o fato de pessoas importantes do governo dos Estados Unidos visitarem a fronteira pouco antes da invasão, faz essa teoria ganhar força. Mas o ponto é que, na manhã de 25 de junho, tropas da Coreia do Norte atravessam o Paralelo 38º e invadem a Coreia do Sul. O objetivo é unificar a Coreia e
libertar o povo do imperialismo estadunidense, que para os norte coreanos, é tão nocivo quanto o japonês. Uma prova disso é que, para os norte coreanos, a guerra não é chamada de Guerra da Coreia, e sim, Guerra da Libertação da Pátria. É importante dizer aqui que os soviéticos retiram oficialmente suas tropas da península coreana no final de 1948. Os Estados Unidos fazem o mesmo em 1949. Quer dizer, pelo menos no discurso oficial, já que muitos estadunidenses permanecem na Coreia do Sul. As forças da Coreia do Norte contam com cem mil homens e os exércitos da Coreia
do Sul são quase do mesmo tamanho, com 95 mil soldados. A diferença é que o Exército da Coreia do Norte enfrenta tropas japonesas desde os anos 1930 e ainda tem a ajuda de tanques e aviões fabricados na União Soviética. Enquanto as tropas da Coreia do Sul são muito mal equipadas. Então o exército sul coreano simplesmente não consegue impedir o avanço dos norte coreanos que marcham rumo ao seu primeiro objetivo, a cidade de Seul. Em 27 de junho, dois dias depois da invasão, o governo sul coreano abandona Seul, que já no terceiro dia é capturada pelos
invasores, e muitas pessoas na região comemoram a chegada do Exército do Norte, o que mostra também como o governo do Syngman Rhee era detestado por muitos coreanos do Sul. Pouca gente sabe, mas neste momento está começando uma das maiores atrocidades dessa guerra. Um ano antes, em 1949, o governo da Coreia do Sul criou uma iniciativa chamada Ligas Bodo, para combater o comunismo. Milhares de pessoas, sejam elas comunistas, parentes de comunistas ou simplesmente opositores do governo, são presas e mandadas para campos de reeducação política. O mesmo vale para qualquer pessoa ligada ao Partido dos Trabalhadores sul
coreanos. Em 1950, dois dias após o início da guerra, Syngman Rhee ordena que os prisioneiros das Ligas Bodo sejam executados, alegando que eles são colaboradores da Coreia do Norte. A polícia e o exército sul coreano cumprem as ordens fuzilando prisioneiros a sangue frio. Nos campos próximos ao litoral, as vítimas são amarradas e jogadas ao mar. O resultado? Algo entre 60 e 110 mil mortes, em um dos maiores crimes humanitários da Coreia do Sul. Este número de vítimas é uma estimativa porque o governo da Coreia do Sul passou décadas negando qualquer envolvimento com o massacre. Hoje
sabemos, com certeza, graças à Comissão da Verdade e Reconciliação da Coreia, que as mortes foram de fato ordenadas pelo governo sul coreano. Além disso, muitas execuções foram testemunhadas e documentadas por oficiais estadunidenses. Para deixar tudo ainda pior, o governo dos Estados Unidos, ainda em 1950, financiou um filme de propaganda exibindo cenas reais dos massacres e acusando falsamente a Coreia do Norte pelas execuções. Após conquistar Seul, os comandantes norte coreanos acreditam que as forças da Coreia do Sul serão dizimadas rapidamente. Porém, os sul coreanos recuam para o Sul e continua lutando. Parecia que seria fácil. Mas
não foi, até porque, soldados ocidentais começam a entrar na guerra. Ah, não, colega, vem cá... Você realmente achou que os Estados Unidos iam ficar parados só manipulando e dando ordens, enquanto a União Soviética colocava a Coreia na sua zona de influência? Você realmente achou isso?! Dois dias depois da invasão, a ONU determina que seus membros devem enviar ajuda militar para a Coreia do Sul para restabelecer a paz na região. Sim, a ONU. Na verdade, é importante mencionar que, no caso da Guerra da Coreia, ONU e Estados Unidos são praticamente a mesma coisa. Quando a Coreia
do Sul é invadida. o presidente Truman sabe que precisa agir rápido, mas os Estados Unidos só podem entrar numa guerra se o Congresso dos Estados Unidos emitir uma declaração de guerra. Como Truman não pode e nem quer esperar por isso, ele literalmente usa a ONU para entrar na guerra. Justo a ONU, que tinha sido criada em 1945 para impedir novas guerras! Olha que ironia, hein! O ponto é que a ONU convoca seus membros para defender a Coreia do Sul porque está seguindo as orientações do governo dos Estados Unidos. Vale lembrar que, nesta época, a União
Soviética boicota o Conselho de Segurança das Nações Unidas para protestar contra o fato da entidade não reconhecer a recém fundada República Popular da China como uma nação legítima. Assim, os delegados soviéticos não têm como vetar a Resolução 83. Porém, mesmo se colocando publicamente contra essa decisão, a União Soviética garante que não mandará tropas para defender a Coreia do Norte. Isso acaba ajudando indiretamente na aprovação da resolução, pois o Conselho de Segurança enxerga que o conflito não se tornará uma terceira guerra mundial nem um conflito nuclear. Essa foi uma das decisões mais ágeis da história da
ONU, com uma resolução que foi elaborada e aprovada muito rápido e mesmo assim, os Estados Unidos não conseguiram esperar, porque hoje se sabe que as tropas estadunidenses entraram em conflitos antes da resolução ser aprovada. A versão oficial é que os Estados Unidos entram na guerra, porque a ONU manda defender a Coreia do Sul. Mas a verdade é que a ONU manda defender a Coreia do Sul porque os Estados Unidos fazem questão de entrar na guerra. Quem foi que chamou os Estados Unidos para esse rolê mesmo? Ah é... Ninguém! Basta olhar as tropas das Nações Unidas.
Vinte e dois países mandaram soldados para defender a Coreia do Sul e mesmo assim, 90% da força militar das Nações Unidas é dos Estados Unidos. Seu comandante é ninguém menos que MacArthur, o general americano encarregado da ocupação dos Estados Unidos no Japão e no sul da Coreia. Galera, que fique muito claro: a Guerra da Coreia é uma guerra dos Estados Unidos, mesmo que eles lutem sob uma bandeira das Nações Unidas. Aliás, por fazer parte das Nações Unidas, o Brasil queria mandar soldados para a Coreia. Mas durante as comemorações do Dia da Independência, em 1950, um
grupo de mulheres filiadas ao Partido Comunista iniciou um protesto contra o envio de soldados brasileiros. Isso deu início a outras manifestações pelo país. Com a pressão, o governo brasileiro acabou desistindo de mandar tropas para a Coreia. Agora sabe o que é engraçado e eu tenho que falar? É que depois de toda essa artimanha diplomática para entrar na guerra, os estadunidenses começam a lutar na Coreia e levam um pau! O primeiro conflito envolvendo os Estados Unidos rola em 5 de julho de 1950. É a batalha de Osan, que acontece ao sul de Seul, que termina com
os estadunidenses batendo em retirada. A partir daí, eles passam a sofrer uma derrota atrás da outra, recuando cada vez mais para o sul. Isso nos leva à batalha do perímetro de Busan. Estes são os territórios da Coreia do Norte e Coreia do Sul quando a guerra começa em junho de 1950. E este é o mapa de setembro de 1950, depois de pouco mais de dois meses de guerra. As forças das Nações Unidas estão encurraladas no sudeste da península e organizam uma linha de defesa chamada Perímetro de Busan. É um último esforço para impedir a vitória
da Coreia do Norte. Aliás, uma coisa importante: nesse começo de guerra muitos civis tentam fugir das batalhas. Agora, para evitar que os agentes norte coreanos se aproveitem disso para se infiltrar em territórios das Nações Unidas, os estadunidenses atacam todos os grupos de refugiados que encontram. Em Busan, isso sai do controle e qualquer civil que se aproxima da linha de defesa é massacrado pelas tropas dos Estados Unidos. Durante um mês e meio, os soldados norte coreanos investem contra as forças das Nações Unidas, que tentam resistir. Os dois lados têm perdas enormes, mas as Nações Unidas têm
um trunfo: o porto de Busan, por onde chegam mais e mais soldados e equipamentos. Então, de um lado temos soldados da Coreia do Norte sem suprimentos e exaustos. Do outro, soldados das Nações Unidas, descansados e com equipamentos novos. E sempre que um soldado das Nações Unidas cai, outra assume seu lugar. Assim, as Nações Unidas, lideradas pelos Estados Unidos, interrompem a tomada total da península pela Coreia do Norte. E aí acontece um dos maiores momentos do general MacArthur na guerra. Como a atenção da Coreia do Norte está em Busan, ele cria um modo de pegar os
inimigos de surpresa. Em 15 de setembro, 40 mil soldados das Nações Unidas desembarcam em Inchon, pegando os norte coreanos desprevenidos. Isso cria um caos nas forças norte coreanas. Muitos soldados que estão em Busan recuam para tentar defender Inchon. Não é coincidência que em 16 de setembro de 1950, um dia depois do desembarque em Inchon, as tropas das Nações Unidas em Busan conseguem romper a linha de ataque da Coreia do Norte. As Nações Unidas conquistam Inchon e partem rumo a Seul. A luta pela capital da Coreia do Sul começa em 25 de setembro. A Coreia do
Norte posiciona metralhadoras e snipers na cidade inteira, então a batalha é disputada rua a rua, prédio a prédio até terminar com a vitória das Nações Unidas. Até então, a guerra estava indo apenas para o Sul. Agora, ela começa a avançar para o Norte. Isso muda o escopo da guerra para o lado das Nações Unidas. O objetivo inicial era impedir que a Coreia do Sul fosse conquistada. Com socialistas empurrados de volta para a Coreia do Norte, Washington manda novas ordens para MacArthur e elas não poderiam ser mais claras: ocupar a Coreia do Norte inteira e eliminar
a ameaça socialista da Península. Então, ele recebe autorização para invadir a Coreia do Norte. Desde que tome cuidado para não entrar em conflito direto com os soviéticos ou chineses. Assim, a guerra começa a rolar acima do Paralelo 38º, com as Nações Unidas indo para cima da Coreia do Norte com tudo. E em 19 de outubro de 1950, Pyongyang é conquistada pelas Nações Unidas e o governo de Kim Il Sung recua para as montanhas. Em Washington, a galera já acha que a guerra está ganha. E não é para menos. Olha como ficou o mapa da Coreia
depois desse contra-ataque das Nações Unidas. Só que, de repente, alguns batalhões das Nações Unidas são atacados por milhares de soldados que surgem do nada! "Vem cá...". "Esses soldados não parecem ser norte coreanos, não...". "Peraí!". "Esses soldados são chineses!?". Em 1911, a monarquia chinesa chega ao fim, dando início a um período de muita instabilidade e guerra civil na China. Nesse cenário, que dura por várias décadas, o Partido Comunista Chinês começa, entre derrotas e vitórias, a ganhar cada vez mais apoio da sociedade. Isso vale também para um de seus líderes, o famoso Mao Zedong. Durante a Segunda
Guerra, essas disputas internas na China diminuem, mas conforme o domínio do Japão na Ásia começa a enfraquecer, os conflitos voltam a se intensificar até a vitória do Partido Comunista em 1949. Assim, com o apoio da União Soviética e da Coreia do Norte, a China é refundada como República Popular da China e, sob a liderança de Mao, torna-se um Estado socialista. A Coreia do Norte faz fronteira com a China em um marco importante, o Rio Yalu. Com o avanço das Nações Unidas pela Coreia do Norte. o governo chinês manda um aviso: "Se cruzar o rio Yalu,
eu vou entrar na guerra!". A verdade é que a China já estava pensando em ajudar a Coreia do Norte, mas para isso, ela precisa da proteção aérea da União Soviética. Quando Stalin concorda em enviar aviões para proteger as instalações chinesas perto da fronteira com a Coreia, a China está finalmente pronta para guerra. E isso acontece em segredo! Duzentos mil soldados chineses entram na Coreia do Norte marchando à noite e se escondendo durante o dia. Até que finalmente chega a hora do ataque. Esses primeiros ataques são chamados de primeira ofensiva. Mesmo perdendo dez mil homens, os
chineses obrigam as Nações Unidas a recuar. Mas o mais importante é que eles descobrem a melhor estratégia de como lutar nessa guerra: atacando de surpresa e com emboscadas rápidas, ou seja, com táticas de guerrilha parecida com as dos norte coreanos. Depois dessa primeira leva de ataques, as Nações Unidas resolveram se preparar melhor, fazendo uma estimativa mais apurada das tropas chinesas. Eles chegam ao número de 70 mil homens. "Ah, agora sim, dá pra atacar, né?". O problema é que eles dão de cara com 300 mil soldados chineses vindo pra cima deles. É, errou feio, errou rude!
Essa é a segunda ofensiva chinesa com grandes conflitos, como a Batalha do Rio Chongchon e a Batalha do Reservatório Chosin. Elas são travadas num frio congelante e terminam com vitórias chinesas. Assim, as Nações Unidas abandonam Pyongyang e recuam a Coreia do Sul. No final de 1950, os norte coreanos e os chineses libertaram a Coreia do Norte. E é nesse embalo que, em 31 de dezembro, lançam a terceira ofensiva, agora invadindo a Coreia do Sul rumo a Seul. Além de atacar de surpresa, os chineses usam gongos e trombetas, fazendo um barulho ensurdecedor que deixa os inimigos
atordoados e muitas vezes em pânico. O resultado: em 4 de janeiro de 1951, tropas chinesas e norte coreanas ocupam Seul. Só que isso marca um limite no avanço do exército chinês, que está ficando sem mantimentos e munições. Assim, a guerra entra numa espécie de pausa. Isso não quer dizer que a vida dos civis fica mais fácil. Nesse período, soldados sul coreanos que combatem guerrilhas socialistas no sudeste da península executam mil e quatrocentos civis desarmados em cinco dias e a maior parte dos mortos são mulheres, crianças e idosos. A Guerra da Coreia é repleta de crimes
de guerra praticados pelos dois lados. Da mesma forma que sul coreanos executam civis suspeitos de serem socialistas. As tropas norte coreanas sequestram civis do sul, obrigando-os a lutar em nome da Coreia do Norte e executando a sangue frio colaboradores dos Estados Unidos e do governo da Coreia do Sul. Algumas das principais vítimas desses crimes são prisioneiros de guerra. O governo dos Estados Unidos, por exemplo, investigou vários relatos de tortura e execução de prisioneiros estadunidenses nas mãos de militares norte coreanos, algo que ganhou bastante espaço na mídia da época. Um desses casos envolve prisioneiros americanos que
teriam sido obrigados a marchar até a morte por um oficial norte coreano apelidado de Tigre. Alguns comunicados da época mostram que o comando militar da Coreia do Norte proibia expressamente seus combatentes de executarem prisioneiros. Por outro lado, diversos documentos apontam que esses mesmos comandantes sabiam que havia militares quebrando essa regra. Então podemos deduzir que, como em toda guerra, prisioneiros foram, sim, tratados de forma cruel pelos dois lados. A guerra volta a esquentar em fevereiro de 1951, quando os chineses lançam sua quarta ofensiva. Mas agora as Nações Unidas estão bem mais preparadas e conseguem algumas vitórias.
Uma delas é considerada um ponto de virada na guerra. É a batalha de Chipyong-ni, em que cinco mil soldados das Nações Unidas derrotam nada menos que 25 mil chineses. Com isso, a iniciativa chinesa é quebrada de vez. E em março, as Nações Unidas conquistam Seul. É a quarta vez que a capital sul coreana muda de mãos no conflito e sua população, que era de quase 1,7 milhão antes da guerra, caiu para menos de 650 mil. A maior parte dessas pessoas fugiu para o Sul, mas é claro que muita gente morreu em todos os ataques à
cidade. Mas os Estados Unidos não têm muito o que comemorar, porque eles têm um problema enorme nas mãos. Esse problema tem nome e sobrenome: Douglas MacArthur. O grande inimigo do general MacArthur durante a Guerra da Coreia é sua atitude. Durante as primeiras ofensivas chinesas, ele considera usar bombas nucleares para interromper as rotas de suprimento inimigas. Sua ideia é criar zonas radioativas para separar a China da Coreia, e isso chegou perto de acontecer, pois inicialmente o presidente Truman não era 100% contrário a essa ideia, e as bombas nucleares já estavam prontas para serem usadas. O problema
é que MacArthur não parece querer resolver a Guerra da Coreia, mas sim expandí-la. Para ele, os Estados Unidos têm a obrigação de levar a guerra para o outro lado do rio Yalu e bombardear a China. E MacArthur faz questão de falar isso o tempo todo, mesmo sabendo que o governo estadunidense quer evitar a qualquer custo uma guerra direta contra os chineses. A gota d'água acontece após a libertação de Seul, em março de 1951. Sabendo que o governo pensa em propor um cessar fogo, MacArthur desafia o presidente Truman e emite um comunicado, insistindo que passou da
hora de atacar a China e resolver o problema do comunismo na Ásia. Com isso, o general, herói da segunda Guerra, é afastado do comando por insubordinação e antes que dê início a uma Terceira Guerra Mundial. Com ou sem MacArthur, a guerra continua. As Nações Unidas lançam alguns ataques que forçam os chineses a ceder território, mas os chineses logo contra atacam sua quinta ofensiva, Isso rola em abril de 1951 e conta com nada menos que 700 mil soldados. Mas essas batalhas são vencidas pelas Nações Unidas, com as tropas chinesas sofrendo perdas enormes e recuando ainda mais.
Até que em julho de 1951, o inesperado acontece: estadunidenses e norte coreanos aceitam sentar para conversar. Será que a guerra está chegando ao fim? A Guerra da Coreia realmente muda de cara com o começo das negociações para a paz, mas isso não acontece porque os estadunidenses e norte coreanos estão conversando, e sim, porque depois de quase um ano de combate em toda a península, o conflito passa a se concentrar perto do Paralelo 38º. Como os conflitos ficam travados nessa região, a Guerra da Coreia se torna uma guerra de atrito, com um lado tentando enfraquecer o
outro ao máximo, mesmo sem ganhar território. Então podemos aproveitar para falar de um dos elementos mais importantes da história da Guerra da Coreia. E para isso temos que olhar para cima. Criada em 1907, a Força Aérea dos Estados Unidos surge como um braço do Exército dos Estados Unidos. Conforme o poder aéreo ganha cada vez mais importância em guerras na primeira metade do século XX, a Força Aérea vai se tornando mais independente. Isso chega ao ápice durante a Segunda Guerra Mundial. A Força Aérea continua pertencendo ao Exército, mas sua participação decisiva em batalhas históricas faz com
que ela é quase como uma força separada. Com o início da Guerra Fria, o governo decide reorganizar seus departamentos de Defesa e Inteligência. Em 1947, o Presidente Truman assina o Ato de Segurança Nacional, moldando as forças estadunidenses pelas décadas seguintes. Uma das novidades é a criação da CIA, a Agência Central de Inteligência. É com o ato de 1947, que a Força Aérea finalmente se torna um departamento militar independente e o primeiro teste desta nova Força Aérea começa em 1950. Sua missão: obliterar totalmente a Coreia do Norte. Isso mesmo, a palavra certa é "obliterar", porque a
ideia é arrasar totalmente a Coreia do Norte. O que vou mostrar a seguir pode parecer bizarro, mas isso realmente aconteceu. Até onde uma potência militar está disposta a ir para conquistar seus objetivos? A Força Aérea dos Estados Unidos foi longe, longe demais. Para efeito de comparação, pense na Segunda Guerra Mundial. Durante esse conflito, os Estados Unidos lançaram cento e sessenta mil toneladas de bombas no território do Japão. Se somarmos todos os combates na área do Pacífico, esse número sobe para 500 mil toneladas de bombas. Agora escuta: entre 1950 e 1953, os Estados Unidos lançam 635.000
toneladas de explosivos sobre a pequena Coreia do Norte. Foi um verdadeiro massacre. Logo no começo do conflito, as forças das Nações Unidas destroem a capacidade aérea da Coreia do Norte e a partir daí, os aviões estadunidenses não encontram praticamente mais nenhuma resistência nos céus coreanos. Mesmo a presença de caças soviéticos perto da fronteira com a China não impede que os Estados Unidos passem três anos bombardeando absolutamente tudo o que encontram pela frente. Aliás, uma morte muito sentida pelo povo chinês é a do filho do próprio Mao Zedong, que era voluntário do exército e morreu num
bombardeio estadunidense na Coreia. No começo, os Estados Unidos lançam bombas de precisão contra alvos militares e fábricas, mas as bombas de precisão dos anos 1950 não são exatamente precisas e destroem tudo ao redor dos alvos. Como muitos desses alvos ficam em áreas habitadas por civis... Bem, você pode imaginar o resultado. Em novembro de 1950, o general MacArthur autoriza que bombas incendiárias sejam jogadas sobre cidades. A partir daí, todos os prédios da Coreia do Norte, militares ou não, passam a ser vistos como alvos estratégicos. Isso vale até mesmo para fazendas e pequenas aldeias. Os estadunidenses também
utilizam gasolina incendiária, que cola na pele das pessoas enquanto queima. O resultado: É que todas as cidades da Coreia do Norte são destruídas. Pyongyang, por exemplo, perde 75% de suas construções. Pelo menos cinco cidades têm mais de 90% dos prédios destruídos, sendo que duas delas são completamente devastadas. E mesmo assim os ataques aéreos não cessam. Um caso que merece ser lembrado é de Wonsan. Assim como outras cidades norte coreanas, Wonsan foi muito bombardeada, Mas como ela é uma cidade costeira, também ficou cercada pela marinha estadunidense por quase dois anos, com navios ajudando a bombardear a
cidade. Este é o mais longo bloqueio naval da história moderna e faz milhares de moradores da cidade morrerem de fome. Conforme a guerra avança, chega um momento em que praticamente não existem mais casas na Coreia do Norte e as pessoas moram em buracos, túneis ou dentro das montanhas. Hospitais e escolas começam a funcionar em instalação em subterrâneas. Inclusive isso fez as tropas norte coreanas aprenderem a se movimentar por túneis, uma prática que ficaria famosa anos depois na Guerra do Vietnã. Perto do final da guerra, cidades inteiras se tornaram pilhas de entulho. Até mesmo construções marcadas
com cruzes vermelhas, indicando que são instalações médicas, são destruídas sem dó nem piedade. Sem mais alvos urbanos, os aviões dos Estados Unidos passam a atirar até mesmo em rebanhos de animais. Além disso, bombardeiam represas e diques de água para causar inundações e destruir plantações. É um crime de guerra que os próprios estadunidenses admitem hoje. A Força Aérea dos Estados Unidos destruiu todas as cidades, todas, causando a morte de cerca de 20% da população da Coreia do Norte. De cada dez norte coreanos, dois morreram na guerra. E os efeitos desses ataques continuaram depois da guerra, com
gerações inteiras de norte coreanos enfrentando problemas de saúde por conta de agentes químicos. Mas esse legado não é apenas físico. Ele é também emocional. Hoje, a Coreia do Norte investe muito em defesas antiaéreas e instalações subterrâneas, como uma espécie de trauma pelo terror causado pelos bombardeios dos Estados Unidos. E esse terror não ficou no passado. Ainda hoje existem tantas bombas dos Estados Unidos que ainda não foram detonadas na Coreia do Norte, que as crianças aprendem na escola como identificar esses artefatos. Entre 1951 e 1953, a Guerra da Coreia acontece em duas frentes: uma ao redor
do Paralelo 38º, com os exércitos se matando e a outra nas mesas de negociações com enviados dos Estados Unidos, Coreia do Norte e China, tentando chegar em um acordo para acabar com a guerra. Sim, é isso mesmo. A Coreia do Sul não participa dessas negociações. O presidente Syngman Rhee é contra qualquer tipo de acordo a Coreia do Norte. Só que os Estados Unidos querem o final da guerra e são eles que mandam. Então as negociações acontecem sem os sul coreanos. Aliás, a Coreia do Sul, se quer estar na mesa de negociações, é uma prova cabal
de que a guerra nunca foi entre Coréia do Norte e Coreia do Sul, mas sim, entre Coreia do Norte e seus aliados e os Estados Unidos. O primeiro encontro acontece em Kaesong, na Coreia do Norte, em 10 de julho de 1951. Mas o processo de negociação é lento e às vezes se passam semanas entre uma reunião e outra. Um desses intervalos acontece quando a Coreia do Norte afirma que o local das reuniões foi bombardeado e os encontros passam a ser feitos na aldeia de Panmunjeom, mais perto da fronteira. Mas as negociações são lentas mesmo, porque
muita coisa espinhosa precisa ser resolvida. Um dos assuntos mais complicados envolve os milhares de prisioneiros de guerra. O procedimento normal é que, quando guerra acaba, os prisioneiros são enviados de volta para seus países. Mas na Coreia isso não é tão simples, até porque o ressentimento é grande. Lembra que falei dos civis sul coreanos sequestrados pelos norte coreanos e obrigados a lutar em nome da Coreia do Norte? Muitos prisioneiros norte coreanos nos campos das Nações Unidas são, na verdade, cidadãos sul coreanos. Mesmo fora das negociações, a Coreia do Sul insiste que as pessoas não podem ser
enviadas para o Norte. Realmente existem vários prisioneiros no sul que não querem ser mandados para o Norte e isso trava as negociações. A questão dos prisioneiros na Coreia se tornou um assunto tão complexo e delicado que a saída foi deixar essa questão nas mãos de uma comissão internacional, caso contrário, um acordo teria sido bem mais difícil. Mas um dos fatores determinantes para o fim da guerra está mesmo na falta de vontade das duas superpotências em manter o conflito. Nos Estados Unidos, o povo cansou de ver o dinheiro dos impostos sendo usado em uma guerra do
outro lado do mundo. Além disso, a Coreia do Norte não está no topo da lista de prioridades do novo presidente estadunidense Dwight D Eisenhauer, outro herói da Segunda Guerra Mundial. A União Soviética passa por mudanças em 1953, com a morte de Stalin, e o novo governo não quer mais nada com o conflito. Isso obriga a China a tirar seu time de campo. Os chineses queriam continuar a guerra para aumentar sua influência na região, mas precisam do suporte soviético para isso. Assim, em 27 de julho de 1953, depois de dois anos de negociações, um armistício proposto
pela Coreia do Norte é assinado pelos Estados Unidos. Veja bem, um armistício é um cessar fogo. Não é o fim da guerra. O que fica para os estadunidenses é uma grande sensação de derrota. Ao assinar o armistício, os Estados Unidos assumem que todo o seu poder, sua influência, suas bombas, aviões, a ajuda da ONU. de nada adiantou. No final das contas, a Coreia do Norte, um país minúsculo destruído pela ocupação japonesa e sem uma indústria forte, conseguiu resistir a três anos de ataques maciços. Na Coreia do Norte, o dia 27 de julho, data da assinatura
do armistício, é feriado nacional. Os norte coreanos chamam essa data de Dia da Vitória. Afinal, se uma pequena lebre luta contra uma grande raposa e ainda sai viva, é porque ela venceu a batalha. O armistício que foi assinado diz que todas as hostilidades na Coreia devem ser encerradas até que um acordo de paz seja finalmente firmado. Em 1953, o único modo de impedir novas agressões é expandindo a fronteira entre os dois países. Por isso, as tropas no fronte recuam dois quilômetros, criando um espaço de quatro quilômetros entre os dois países. Assim surge a famosa Zona
Desmilitarizada da Coreia, que deve ser mantida até um acordo de paz. Só que essa zona desmilitarizada ainda está ali, porque a paz nunca foi firmada. Oficialmente, as duas Coreias ainda estão em guerra. Por isso, muitos coreanos, tanto do Norte como do Sul, ainda sonham com a paz e, principalmente, a unificação do seu povo. A verdade é que a zona desmilitarizada faz mais do que separar a Coreia do Norte e a Coreia do Sul. Ela também afasta o povo coreano do seu futuro. Enquanto pessoas de um lado não tiverem permissão de ir para o outro, enquanto
pessoas de um lado não puderem conversar com as pessoas, do outro, a Coreia permanecerá presa em uma guerra que nunca foi dela. Sim, a Guerra da Coreia foi uma guerra dos Estados Unidos que colocou seus pés na península em 1945 e continua lá até hoje. E enquanto os coreanos ainda vivem com as consequências dessa guerra, muitas famílias continuam sonhando com um futuro no qual o Norte e o Sul voltem a ser aquilo que sempre foram: uma única nação. Se você gostou desse documentário, deixe seu gostei aqui. Me siga lá no Instagram pra gente conversar. Não
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