acho que quer dizer eh esse projeto de pesquisa nasce de um impasse da psicanálise eu acho quer dizer Esse modelo eh teórico da psicanálise né que tinha por eh por eixo eh o balizador do edípico ou seja quer dizer toda toda a construção teórica da psicanálise ela é montada a partir de um modelo de aparelho psíquico onde você tem alguns balizadores né o balizador era o Édipo que tava por sua vez montado em cima da culpa e eh isso deu conta durante muito tempo me parece eh não só de todas as neuroses como pela ausência
disso ou da inscrição disso a psicose Então ele era um modelo ele é um modelo que serviu e serve até hoje sem dúvida alguma para esse tipo de Patologia quando a gente começou a trabalhar com eh as ditas entre aspas patologias narcísicas quer dizer quando a gente começou a encontrar um certo tipo de paciente onde a questão edípica não aparecia onde as questões físicas sobressaem né porque o mundo de alguma maneira a cultura vai fazer eh vai imprimir algumas características prevalentes né não só os sintomas vão ser prevalentes como mesmo no caso das neuroses as
neuroses vão ganhar né um viés narcísico né hoje você tem dentro das teria um vias narcísico você tem você vai encontrar muito mais isso do que a esteria clássica que se tinha antes então Eh quando a gente começou a se deparar com isso a gente começou a ter que descrever esses pacientes pela negativa né então eram pacientes que não sonhavam eram pacientes que não apresentavam as chamadas formações do inconsciente né as formações do inconsciente em Freud é lapso o sonho a transferência eh o xist enfim essas seriam o o o acesso que se teria a
esse material inconsciente quando você começa a ter pacientes que isso não se apresenta que é um caso a gente começou a ter alguns problemas você começa a ter que definir pela negativa foi assim que começou e definindo pela negativa eh a primeira coisa que me ocorreu É eu estou falando feito uma melancólica o melancólico fala assim pela negativa eh e aí eu acho que foi nesse momento que foi me incomodando muito quer dizer em que eu queria encontrar uma possibilidade de falar desses pacientes de uma maneira afirmativa e não falar deles pela negativa pelo que
falta como se eles fossem deficientes e não como se eles fossem simplesmente diferentes eh nesse momento era preciso abrir mão de alguma maneira do modelo da neurose e pensar outros balizadores balizadores pré edípico maneira então que balizadores seriam isso seriam esses né Isso vai aparecer conforme o atendimento desses pacientes Então vai aparecer uma questão com tempo com a imagem corporal uma questão eh de uma uma narrativa eh muito imagética e muito pouco metafórica né o que eu chamei de uma narrativa parnasiana quer dizer um não Se fosse uma narrativa realista ao extremo né de uma
descrição em detalhe Ao Extremo e eh e eu acho que bom pela minha formação por uma série de coisas eu trabalhei durante muitos anos feren eu comecei a me lembrar de muitos textos do feren e voltei a ele por queê porque feren trabalhou o pré-doença coisa que não interessava na época Exatamente porque eram patologias pré edípico maneira então foi É nesse sentido que a gente precisou pensar outros balizadores né onde a questão do tempo eh era fundamental e a questão da imagem corporal também sobre tudo isso e a narrativa Evidente aí toda a questão da
transferência o lugar no analista isso tudo vem depois eh de Roldão mas eh nasce daí Olha só e eu cheguei eu fiz a minha o meu doutorado fora do Brasil quando eu chego no Brasil e no final dos anos 80 e eu começo a atender esses pacientes que me chegam e que me chamam atenção enfim chegam outros tipos de pacientes também mas os pacientes que me levam a essa pesquisa eram pacientes muito jovem e me chama atenção num primeiro momento desses pacientes são pacientes que chegam ou deprimidos ou muito angustiados né Eh e esses pacientes
o que primeiro me chama atenção é como alguém com 25 30 anos não tem projeto de futuro dizer essa dimensão de futuro não existia do passado eles não se lembravam então você não tinha muito material era difícil não eram pacientes que associavam livremente quer dizer não era um paciente era como se eu tivesse um equipamento teórico que não servia para esses pacientes né a psicanálise tá montada nessa ideia das formações do inconsciente E para isso ela precisa da associação livre e da atenção flutuante do analista de um lado se você não tem Associação livre e
se você tem uma narrativa imagética você não tem atenção flutuante o seu pensamento é capturado por esses por esses pacientes completamente ele te traz uma imagem você fica capturada pela imagem você não consegue mais ouvir aquilo com uma tensão flutuante então isso era um era um problema então era um pacientes muito jovens que não tinham dimensão do futuro com uma uma uma narrativa muito difícil de trabalhar e com sofrimento muito grande e eu acho que o que mais chamava atenção porque no começo isso foi muito difícil para mim eram pacientes que não faltam que estavam
ali e quer dizer a gente tinha um um uma estética digamos assim de subjetividade do começo do século XX que era da interioridade que era a est éa do da dama das canelhas né ehi É nesse caldo que a psicanálise é construída inclusive né então você tinha não só essa essa esse modelo estético Se a gente pudesse chamar assim como você tinha uma ideia de que as referências externas eram estáveis né então você tinha modelos Morais ou modelos eh de estar no mundo socialmente que eram estáveis quer dizer as mulheres sabiam o que que era
ser uma boa mãe uma boa mulher uma boa filha ou uma boa avó mesmo que elas não fossem essa esse modelo era estável eh eu acho que isso foi revolucionado completamente ele é revolucionado no num primeiro momento no meu entender com o aparecimento e o surgimento da pílula anticoncepcional que vai separar completamente a ideia de sexualidade e prazer né Eh separar sobretudo a Sexualidade como alguma coisa ligada a procriação n vai dar ao contrário um estatuto ao prazer né e eh e eu acho que todas as invenções tecnol lógicas que o mundo teve mudou a
relação das pessoas com o tempo e mudou eu acho aí é palpite não é a minha área enfim mas eu acho que esse modelo de sociedade de consumo eh desvalorizou completamente essa ideia de uma interioridade né a imagem ganhou valor e os objetos também com isso restou né ao ao homem contemporân eh se Reinventar né ele ele é a referência eh de si mesmo Do que que é bom o que é certo o que é errado Eh por onde caminhar e na falta disso o outro vai dar mas os outros vão dar de formas diferentes
né cada um vai dar esse olhar de uma forma diferente então não há estabilidade porque não há unidade de pensamento mais sobre essas referências e elas passam a ser externas né essa ideia que aparece de que a subjetividade se exteriorizou né ela deixou de ser uma interioridade para passar a ser uma exterioridade quer dizer é o outro que vai me dizer o olhar do outro que me diz eh O que é certo o que é errado Eh se eu tô me saindo bem ou se eu tô me saindo mal eh se eu tenho aprovação ou
não e e eu fico cega quer dizer para mim mesmo então eu acho que essa ideia é o é o grande sofrimento quer dizer alguém acha alguma coisa sobre mim que nem eu sei o que quer que eu mesmo desconheço em mim né então você vai ter um olhar quase paranoico Se a gente pudesse dizer que tem um um traço paranoide que vai acompanhando eh a subjetividade atualmente é assim mas isso eu acho que você tem uma série de de trabalhos importantíssimos que pensou sobre isso quer dizer o mundo vem se dedicando a isso há
muito tempo né Você tem o guid debor que foi pensar a a sociedade do espetáculo depois você tem um cara feito senet que vai dizer isso né na corrosão do caráter como é que a a relação do trabalho do sujeito com trabalho se modifica completamente né aquilo fazia parte de uma histor zação do sujeito Eu acho que isso pra gente é importante né Essa Ideia de que se perdeu uma coisa fundamental que é a noção de história de si mesmo né você como não só um arquivo das suas experiências como você se olhar como consequência
dessas experiências né essa relação com o tempo mudou de tal maneira que isso foi esgarçado e e o os fatos passaram a ser pontuais passaram a ser sem relação um com o outro né Essa essa vivência do tempo essa relação com o tempo mudou completamente Olha só quando Freud vai o eu ele vai dizer que o eu é um precipitado de identificações e ele vai entender o precipitado de identificações como sendo das relações de objeto então a ideia de eu é eu sou a o resultado da história dos investimentos objetais que eu fiz na vida
de cada um deles eu recolhi um traço que foi me formando se eu não consigo mais ter essa ideia de que eu sou resultado das minhas vivências ou das minhas experiências ou das minhas relações objetais eu perco completamente a ideia eh desse eu historicizando e eu acho que de alguma maneira quer dizer num primeiro momento a gente poderia pensar até que ponto hoje a demanda de uma análise não é a demanda de construir uma história isso a gente nunca tinha pensado antes dizer a psicanálise aparece para dizer a sua história e a sua versão não
é a única talvez ela seja falsa é assim que ela aparece né pras estéricas para neurose obsessiva e hoje é como se a função analítica fosse construir uma história né A piran dizia que eh A análise para ela se ela pudesse resumir ao extremo análise era a aceitação do paciente de reescrever a sua história quatro mãos né E a questão é que hoje você não tem a versão original você não tem um paciente que chega com a sua versão né que chega a dizer não eu sou isso porque eu acho que eu sou isso por
conta disso sou daqu aquilo ou daquilo outro eh ele não é um ele não faz uma relação de causa e efeito inclusive então não se trata de reescrever porque não se tem uma versão original se trata quase que de uma primeira escrita a quatro mãos a relação com tempo e ela foi revolucionada há muito pouco tempo né Eh eu escrevi a minha tese do doutorado batendo a máquina né e eu não tenho 100 anos né eu tenho 62 né então há 30 anos atrás se batia a máquina não tinha computador não é que não tinha
tinha computador mas ninguém tinha dinheiro para ter custava caríssimo então não tinha computador as Universidades eventualmente um professor melhor tinha eu não me lembro de nenhum professor que tivesse na França tava falando de Brasil Não eu tava na França você não tinha computador então se você errasse na hora que você tava escrevendo uma página da sua tese C errasse uma palavra você tirava e escrevia essa palav essa essa essa página inteira e e você tinha que parar naquele momento porque isso ia mudar diagramação de tal maneira que você não podia continuar na outra página você
tinha que parar reescrever para depois continuar você não tinha né eu isso foi nos anos 80 no começo dos anos 80 você tinha carta você não tinha você não tinha internet então você as cartas demoravam 7 dias para chegar lá e você respondia demorava mais 7 dias para chegar aqui então Eh isso dá uma relação com o tempo dá uma relação com consigo mesmo e com completamente diferente hoje você fala em tempo real com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo você fala com pessoas desconhecidas né que possam você faz grupos de interesses no mundo
onde você pode estar aqui falando com uma pessoa da Coreia do Sul ou da Coreia do Norte é mais difícil mas enfim eh você pode falar com qualquer pessoa e em qualquer lugar do mundo em tempo real isso dá uma modificação completa da sua rel com você também então na questão de que e era melhor ou é pior é absolutamente diferente tudo olha só o o o o Michel Serra escreveu um livro que eu acho Fantástico chamado Polegarzinha né esse livro ele diz coisas que a gente que eu nunca tinha pensado né do tipo você
não precisa mais no mundo ter memória que era uma coisa valoriza né quem era o o ser culto ou ou intelectualmente respeitado o sujeito que tinha lido uma série de coisas mas sobretudo que se lembrava do que tinha lido que era capaz de articular né este livro com aquele ali se lembrar até de passagens daquele Esse era o sujeito erudito hoje a memória de qualquer pessoa cabe no seu celular basta que o celular Tenha uma boa memória você não precisa mais ter memória né É engraçado porque as pessoas mais velhas hoje ainda são muito preocupadas
se elas estão perdendo a memória ou não por conta da questão do Alzheimer mas os meus alunos de 20 anos não tem memória nenhuma el não lembram de nada porque não precisam então a a ausência de memória ela ela ela passa por todas as idades por quê Porque você tem a memória na palma da mão se você não sabe alguma coisa você entra né o o Michel sér você entra no na internet bota o Google EZ quem é que fo o autor de não sei que lá você bota uma palavra e vai aparecer o Wikipédia
é ruim segundo ele não tão ruim né quanto as enciclopédias antigas então eh eh essa relação muda com completamente a memória ficou alguma coisa eh é muito mais um passeio horizontal do que vertical agora se você entra num mundo onde a nomeação do sentimento ficou desvalorizado aí é uma complicação porque eu acho que aí é um problema paraa psicanálise quer dizer de uma os sentimentos precisam ganhar nomes a gente a gente é um ser de palavra isso não adianta o mundo pode mudar completamente Seremos sempre assim né a única maneira do ser humano lidar com
o mundo é pela fala então se você não consegue nomear sentimentos eh D nome a ele com escrever isso e a sua dor psíquica fica muito mais difusa né quando você não nomeia você tem um sofrimento difuso para isso a gente nomeia para tentar circunscrever para tentar de alguma maneira dar um território aquilo a ideia de narcisismo e de sociedade consumo ela vai eh tirar alguma coisa aí sim eu acho que tirar alguma coisa que é a ideia de que somos seres de sociedade e seres gregários né quer dizer e essa ideia que de alguma
maneira nasce um pouco nos Estados Unidos mas que vai começa a permear toda o ocidente da ideia do selfmade Man do sujeito que ele é o ele é o empreendedor ele mesmo ele é o ser eh do espetáculo ou o ser da performance esse sujeito não é um sujeito permeado pela ideia de bem comum e ele não é permeado pela ideia de de que ele precisa da sociedade fica uma ideia de humanidade do homem como sendo alguém que a sociedade Só atrapalha né os outros Só atrapalha uma vez eu vi recentemente eu não me lembro
o nome do filme que era um Suit velhinho até e E ele disse uma frase que eu dei uma gargalhada no final que era um documentário e ele dizia o problema do homem são os outros né e é isso mesmo quer dizer o problem os homens são os outros agora sem os outros a gente não sabe viver Então isso é uma questão como é que vai como é que o sujeito vira um ser de sociedade pelo olhar que o que o outro vai ter dele e não por um olhar ou de bem comum ou de
solidariedade mas de competição e eh e de que o outro sabe alguma coisa de mim então eh não é não é alguma coisa o que que eu tenho para dar mas o que que o outro acha que eu sou então eh eu acho que em grande parte eh quando as pessoas são muito jovens os casos de depressão que você tem hoje com 15 anos 16 anos meninas com três tentativas de suicídio enfim e o diabo como eu já vi e São pessoas que se sentem inúteis na sociedade elas não têm nenhuma utilidade E isso se
você bota a juventude como alguém inútil você não você não dá destino a isso né Eu acho que de alguma maneira o mundo complicou-se de tal maneira que graças a Deus os jovens estão indo se organizar de alguma maneira e se sentirem úteis né e quererem alguma coisa e teriam alguma utilidade mas quando elas quando se perde essa noção você perde alguma coisa de Fundamental e aí você deprime mesmo só resta deprimir porque se você eh não pode ter uma vida interna se você não pode ter uma conversa com você mesmo se o outro é
que sabe de você e você não sabe nada e você não tem nenhuma utilidade no mundo e o outro o outro é para você só útil eh ele não é uma veja bem quando a gente chama de eh de uma personalidade narcísica eu acho que aí talvez valha a pena pro leigo se entende muito o narcísico como sendo alguém muito que olha para si mesmo no no linguajar comum e e paraa psicanálise o narcisista é exatamente aquele que não pode concluir um narcisismo ele não pode fazer alguma coisa de fundamental então ele ele é um
dependente do Olhar do outro do que o outro vai achar do aplauso eh se o outro vai bater palma ou se não vai bater palma porque se não bater palma ele é uma porcaria não é porque ele precisa dar Palma ele ele é um ele se acha o máximo não se ele não tiver aquilo ele não é nada você dá um Peteleco num num num narcisista e ele cai ele é de uma fragilidade absurda então Eh esse mundo narcísico e não sobra nada pro sujeito ele não tem mundo interno ele não tem como eh ele
mesmo providenciar o cuidado de si eh no sentido do Prazer do da companhia para si mesmo ou da da próprio uso da Solidão como uma coisa criativa e como uma coisa fundamental na Constituição egóica a solidão é só o deserto é só a ausência do outro é só eh eh o abandono Esse é um Esse é de um sofrimento enorme é eu acho que a gente vive uma uma certa idealização de um prazer contínuo e eterno né quer dizer como se o prazer pudesse ser alguma coisa linear e ele não é e e o convívio
com com o que antecede ao prazer né seja eu acabei de ler um artigo do do Adam Philips que ele fala que o tédio é fundamental né o tédio é alguma coisa que antecede oo momento criativo e e sem você poder ter acesso ao tédio você não consegue nada criativamente né isso o mundo contemporâneo tem pavor só se fala de tédio né o tédio virou a aquilo que todo mundo foge aquilo que ninguém quer né o convívio consigo mesmo a solidão ninguém quer e uma idolatria do Prazer como se veja bem se você não tem
história ou se você acha e quando eu digo não tem história é você ter uma relação com tempo onde você pode dizer por exemplo eu quero chegar lá agora para eu chegar lá eu vou ter que fazer isso eu vou ter que fazer aquilo eu vou ter que me enriquecer que chegar lá se você não tem esse tempo como um tempo importante só o chegar lá é que é importante e esse prazer que não é prazer ou essa construção desse caminho não tem nenhum valor você não aguenta e você não chega lá também né fica
aqueles eh sujeitos esquisitos né Eh né jovens muito jovens inteiramente entediados que não saem de casa eh que passam um dia inteiro no quarto e uma vez eu vi um também um filme que era uma entrevista com um cara desses um garoto desses no interior dos Estados Unidos e e o cara chegava e perguntava o que que você quer como profissão ele disse não eu vou ter uma banda famosa eu vou vou ser o guitarrista ele conseguia dizer onde ele queria chegar e o cara dizia assim Mas e aí você você toca a guitarra disse
não mas você vai você aprendeu a tocar não oou aquilo cai no colo dele né Ele acha que ele vai aprender guitarra assim né que aprender guitarra não vai machucar o dedo que você não vai errar Que você demora um tempo você tem que estudar todo dia né e que isto não entrou na contabilidade e que isso pode ser prazeroso eu acho que esse declínio desse prazer onde só existe O êxtase como prazer como sinônimo de prazer essa é uma complicação e um e um drama mais do que uma complicação isso é um drama e
eu acho que o mundo contemporâneo tem isso quer dizer tem o fator sorte como uma coisa importantíssima né as pessoas contam com a sorte contam com as coisas caindo no colo delas mas aí a vida não é uma construção de alguma coisa ela não tem um caminho ela é recheada de acidente e só isso o lugar da alteridade eu acho que ele até muito marcado mas é uma alteridade diferente quer dizer e é uma uma alteridade vinculada a Um Olhar do outro né vinculado a veja bem todos nós queremos agradar alguém né Eh isso de
cara quer dizer isso não é uma invenção da contemporaneidade né você quer aprovação as pessoas querem as pessoas querem Eh agora isso tem que ter um diálogo interno né se eu encontrar com alguém que me disser eh Teresa adorei o seu cabelo louro Eu tenho um referencial interno para dizer esta pessoa está falando de alguma coisa que ela não está me vendo eu não sou loura não tenho M 70 né Eu eu tenho uma um Eco interno que vai dizer essa é uma fala que eu valido ou essa é uma fala que eu não valido
ou essa é uma fala que fala de mim de uma maneira que eu nunca pensei isso me incomodou eu vou até pensar mas ela não tem o crédito de toda verdade porque eu vou dialogar isso comigo e isso tem que gerar uma conversa comigo se não existe essa conversa comigo eh você pode achar que tem alguma questão com a autoridade mas eu não sei eu acho que é eu sou uma extensão também do que o o que o outro acha é uma extensão de mim é uma outra forma mas não acho que seja uma forma
que vai abolir a ideia de autoridade a ideia completa de alteridade todas as patologias querem fugir veja bem eu acho que a ideia de recalque em Freud que é uma ideia fundamental né quer dizer da de que eu eu eu tenho que aceitar a castração essa aceitação entre aspas né a ideia do Freud de uma um ideal de eu é eu aceito provisoriamente Porque lá na frente não lá na frente você é uma totalidade isso sempre vira uma uma uma uma cenourinha lá na frente que eu nunca vou alcançar Mas o que eu tô buscando
é aquela cenourinha né Eh então essa ideia de de Mas eu posso conviver com a castração quer dizer eu posso viver com esse momento onde muita coisa me falta e eu tô caminhando eu tô correndo atrás de alguma coisa existe nessa idealização do Prazer do êxtase se aboliu isso isso é um complicador mas eh eu não sei se isso tira a autoridade é é é diferente para mim é só diferente não é porque se a gente pensar numa sociedade sem a ade é uma sociedade psicótica e a gente não tem uma sociedade psicótica que é
isso os sintomas eles refletem alguma coisa da cultura o sintoma é sempre uma resistência à cultura eh no caso da sexualidade do jeito que ela aparecia no início do século XX você tem a histeria e a neuros obsessiva como Resistência aquilo né como o sujeito adoecia e virava aquilo que a sociedade não queria ver ou aquilo que a sociedade não aceita ou aquilo que é o avesso daquela cultura Eu acho que o mundo contemporâneo perdeu a vergonha é ISO a gente vê as pessoas perderam a vergonha e perderam a vergonha de uma maneira impressionante e
mais do que isso você não precisa estar na América Latina para isso né o mundo ocidental perdeu a vergonha há três dias atrás eu vi uma matéria sobre o a pessoa principal na França responsável pelo combate ao tráfico de drogas é o maior traficante droga o mundo perdeu a vergonha sem vergonha né é um mundo sem vergonha o mundo sem vergonha gera Que tipo de Patologia os envergonhados né é isso são as pessoas que vão e apontar para essa cultura o avesso da cultura aquilo que ninguém mais tem é o que eles têm claro que
isso tá deslocado porque não é uma vergonha é como é uma vergonha distanciada da culpa não é uma vergonha moral Então vai ser uma vergonha do aspecto físico da aparência dos bens que tem ou que não tem ou da ausência de bens né da inadequação social né a sensação sempre desses pacientes de serem inadequados eles são inadequados num mundo sem vergonha são inteiramente inadequados ficarem apontando que eles TM vergonha como tem vergonha né o mundo do espetáculo o mundo da performance não é o mundo envergonhado mas aí eles aparecem aparecem com uma força enorme né
Eh a Organização Mundial da Saúde fez um relatório já faz tempo esse relatório já tem uns foi no início dos anos 2000 prevendo que eh a fobia social vai ser um um responsável pela pela pelo não comparecimento ao trabalho né por uma H incapacidade de trabalho de mais de 12% da população do mundo você esses sintomas vão refletir alguma coisa eh que é o que a cultura tá apontando é uma cultura sem vergonha Olha eu acho que essas pessoas sofrem muito e essas pessoas buscam cada vez mais alguma solução para elas paraas pessoas que têm
que sofrem de uma enorme você tem duas categorias que eu acho que a gente pode trabalhar na pesquisa da gente de Sofrimento com relação à vergonha né um que a gente chamou de humilhados e o que a gente chamou de constrangidos enfim a palavra não é essa Eu também não tô me lembrando Mas seria alguma coisa de um certo constrangimento Eh esses humilhados o sofrimento é muito muito grave são depressões gravíssimas essas pessoas às vezes não aguentam um trabalho Jamais porque não aguenta at diante de um outro olhando para eles el não aguentam nem sair
de casa Eles não falam no telefone Então essas pessoas é preciso fazer alguma coisa por Elas quando elas conseguem fazer uma terapia isso para elas é fundamental é possível você reconstruir essa história esses humilhados T uma história geralmente uma história de bullying grave eh de de enfim de uma série de de sensações muito pesadas vividas ou não sei familiar Ou mas geralmente em escola e no meio social eh se você consegue trabalhar você consegue muita coisa os os encabulados se a gente puder dizer assim é muito mais fácil você tem um um trânsito e consegue
muita coisa e eu acho que isso tudo tem a ver com a castração engraçado quer dizer você achar que eu acho que é um pouco isso que você tentou não sei se é isso que você tentou dizer com relação à Medicina medicina virou uma gincana né Cada Vez se descobre alguma coisa e cada vez isso que se descobre ganha um valor enorme e aí as pessoas começam a correr atrás disso como se fosse ganhar uma corrida que corrida as pessoas vão achar que não vão morrer nunca né Eh tem uma coisa eu isso isso é
é é eh perfeitamente palpável né Eu assisti uma uma um uma emissão de rádio há dois dias atrás dizendo olha só a medicina achava que o exercício físico de 150 minutos por semana prevenia três tipos de câncer mama pulmão e intestino hoje a gente descobriu que eh 150 minutos previnem contra 26 então é é você vender um peixe muito curioso que é o seg se você fizer exercício de 150 minutos você não vai morrer sei lá né impressão que dá é um pouco essa você não vai morrer nunca Então tem alguma coisa a ver eu
acho que isso tem a ver com duas coisas uma você ocupa as pessoas nessa medicina otimizada As pessoas entram na gincana e elas não pram pensar sobre elas elas fazem exercício elas vão para não sei que elas homem não sei o que lá elas pensam em tudo que elas vão comer isso vira uma atividade que Pode ocupar uma existência com isso e outra é essa ideia de que você pode vencer a castração eu acho que a psicanálise anda na contramão disso tudo eu acho que a maior dor humana é você saber que você é mortal
ou seja que você não é eterno e só que se saiba só o homem tem essa consciência nenhum outro animal isso tem um lado pesado né eu pensar que eu não vou existir e outro dia ouvi isso de uma maneira muito bonita que era um um um pessoa que dizia eu não suporto a ideia de que eu não vou existir para mim mesmo e é isso mesmo né A morte é você não existir para você você pode até passar a existir para dos outros na memória dos outros mas para você você não vai existir essa
aceitar isso é a maior eh a maior ferida narcísica pro homem que ele pode ter por outro lado é isso que vai dar valor ao que se chama vida né vida é um espaço de tempo do dia que você nasce e um dia que você não sabe qual vai ser que você vai morrer esse espaço de tempo ganha valor porque ele é delimitado né se a gente virar Highlander tanto faz o que a gente vai fazer né a gente tem 500 anos pela frente vai lá dane-se entendeu eh talvez você fosse mais ecologista só isso
para poder vi um pouquinho melhor daqui a 500 anos mas tirando o viés ecologista tudo tanto faz o que faz não não tanto fazer eu nós somos seres castrados É isso que eu tô chamando de castração é Somos seres que vamos ter que enfrentar ou conviver com a nossa eh finitude com o O êxtase que não existe com uma aceitação eh de sofrimento e de prazer parcial é isso isso a psicanálise é isso né eh eh e é botar o paciente para cair a ficha Se a gente pudesse dizer isso né a conviver com isso
da melhor maneira possível mas não só conviver como se fosse uma coisa ruim isso é fundamental é isso se a gente achasse que a gente é eterno se você achar que vai morrer com 200 anos eh assim mesmo você vai dizer ih com 200 anos como é que vai tá né como é que vai est você o mundo você vai você vai est você pode virar um pode ter Alzheimer aí tanto faz mas eh O que a a medicina trabalha com uma promessa curiosa que é uma promessa de de eternidade eu acho o subtexto é
uma prença de eternidade então se você consumir tantas vitaminas por dia ou se você fizer isso se fizer 150 minutos exercício você comer não sei que lá você vai e isso vai mudando porque é isso né o ovo já foi condenado foi absolvido isso Além do mais é falho né isso Além do mais não é uma verdade que dure né Essa verade não que eu não não acho importante não acho que é a única coisa que a medicina consegue fazer hoje ela não consegue ela consegue produzir muito pouco para as patologias o que ela consegue
produzir hoje bem é para prevenção tudo bem vamos aproveitar o que der para para aproveitar mas eh tendo algum olhar crítico para isso né quer dizer isso é uma indicação Isso é para Viver Melhor enfim mas eu acho que a psicanálise não não dá o braço a isso hipótese alguma nem pode a psicanálise nasce eh o corpo teórico e uma teoria da Clínica nasce do atendimento de no caso das estéricas sobretudo e as neuroses obsessivas eh eu acredito piamente que a psicanálise tem que ser isso ou seja na hora que a gente monta um grupo
de pesquisa dentro da Universidade o o o a ideia principal é que essa Clínica vá nos indicar o que que a gente tem que trabalhar Teoricamente e o que que a gente pode mudar Teoricamente ou pensar para poder entender esses pacientes isso não pode ser esquecido quando isso é esquecido a psicanálise vira uma seita quando a gente esquece que a gente tem que manter esse espírito pesquisador enquanto an ISO de que a gente tem que ouvir esse paciente e E que esse paciente nos traz problemas né de como a gente vai trabalhar eh ou nos
traz problemas de aquilo teóricos mesmo do daquilo que a gente tem como arcabouço teórico a gente tem que poder ouvir aquilo e se achar que é preciso tentar construir Teoricamente porque senão a gente pega tudo que é paciente diz vou enquadrar você no que eu sei e aí vira assim Teve uma época que todo mundo era histérico podia ser um esquizofrênico delirante eu vi isso você chamaram de exteria porque você tinha que enquadrar naquilo que você sabia aí é uma postura eh que não tem nada a ver com a psicanálise a psicanálise é difícil é
desconfortável e o lugar da analista tem que ser difícil e desconfortável Se você entra em zona de conforto alguma coisa tá errada eh o que faz eh você produzir e aí você tem que pensar por exemplo nesses paciente que eu falei eh o lugar do analista muda não é mais lugar de suposto saber não é mais lugar de eh de transferência paterna nada disso n muitas vezes é um lugar de testemunho o sujeito só pode se construir no arcabouço narcísico diante de alguém Ele precisa de um testemunho para fazer isso e eventualmente vai ser esse
é analista Por que não isso é menos psicanálise não sei que nome queiram dar dane-se isso é o que precisa ser feito naquele momento né sem isso eu preciso aceitar que o meu lugar é desconfortável para caramba eu preciso aceitar que o meu lugar não tem nada a ver com tudo que eu fui treinada e aprendi e que eu tenho que inventar e que eu tenho que pensar que eu tenho que produzir em cima daquilo porque também o legal dessa profissão é isso se ela for desafiante porque se ela for só para eu dizer ah
que legal tudo que eu sei tá aqui olha só o meu paciente me diz Todo dia que tudo que eu sei é o máximo eu tanto eu não seria psicanalista não me interessa né É é é uma clínica que vai ser desconfortável porque ela é uma clínica vai que vai fazer você repensar uma série de coisas e e ter todo o cuidado do mundo porque aí entram em zona muito perigosas que é zona da sugestão zona do você não você tem que fugir dessa área porque isso não tem nada a ver e que às vezes
esses pacientes botam ali quase que no limite disso como fazer como manejar como eh permitir que aquele paciente possa ter uma análise como qualquer pessoa pode ter você escorrega na sugestão ou no Concelho você tirou a ele a possibilidade dele poder fazer uma terapia decente minimamente decente Mas é difícil o feren dizia o seguinte quando o paciente tá muito confortável no Divan alguma coisa tá errada e quando o analista tá muito confortável na cadeira ele algo de muito errado tá se passando Esse é um lugar desconfortável pros dois lados e tem que ser é isso
que sustenta o espaço analítico acho não pode ser um desconforto que fique impossível não pode ser um desconforto que inviabilize para um lado ou pro outro mas confortável não pode ser