um TOUR pelo ILUMINISMO

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Tinocando TV
Um tour pelo Iluminismo Esta é Königsberg, uma pequena cidade no interior da antiga Prússia. No fin...
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Esta é Königsberg, uma pequena  cidade no interior da antiga Prússia. No final do século XVIII os habitantes dessa cidade tinham uma  forma curiosa de ajustar os seus relógios. Eles não esperavam pelo sino de uma  igreja ou pelo nascer do Sol nascer mas sim por um homem.
Este homem tinha uma rotina  extremamente meticulosa e passava todos os dias pelo mesmo local exatamente na mesma hora. E o nome dele, você já deve ter ouvido falar: Immanuel Kant. O que ninguém sabia era que este homem mudaria para  sempre os rumos da humanidade se estabelecendo como um pilar central  no que hoje nós chamamos de Iluminismo.
Kant acreditava que a razão e a disciplina  eram as maiores virtudes humanas e sua vida pessoal refletia  exatamente esses ideais. Assim como Kant organizava suas caminhadas diárias o Iluminismo também buscava  organizar o mundo em torno da razão. Mas, o que foi o Iluminismo?
Quão impactante um movimento deve ser para mudar de uma vez por todas  a história do pensamento humano? A verdade é que o Iluminismo  não foi apenas um movimento mas sim uma verdadeira revolução intelectual. Mas como essa revolução iluminista aconteceu?
Hoje, no filosofando. Oi, eu sou o Tinôco e durante o século XVII a Europa era completamente dominada  pelo chamado absolutismo monárquico que, basicamente, concentrava  o poder nas mãos dos reis. Na Inglaterra, reinava Carlos II.
No Reino da Prússia, Frederico I . Enquanto na França, o poder  estava nas mãos de Luís XIV. Só que assim, um erro que as pessoas cometem é tentar entender o passado  com a visão do presente.
A gente vê muitas pessoas falando  hoje em dia que é um absurdo o poder inteiro de um país  estar nas mãos de um único cara mas naquela época eles tinham outra visão. A tradição afirmava que o  poder dos reis era sagrado já que ela vinha diretamente de Deus ou seja, quando você obedece ao rei na verdade, você está  obedecendo diretamente a Deus. Essa é a chamada Teoria do Direito Divino que, por incrível que pareça, não era  defendido apenas pelos membros do clero mas também, principalmente, por juristas ou seja, aquelas pessoas especializadas  no estudo e na aplicação das leis e até mesmo por filósofos como  Santo Agostinho, São Tomás de Aquino e outros que deram base para esse pensamento.
Essa ideia criou um formato  para a sociedade da época. Pensa em uma pirâmide, por exemplo. O topo dessa pirâmide é o chamado  clero, que representa a Igreja a nobreza está logo abaixo.
Enquanto a burguesia e os  camponeses estão na base. Dessa forma, com a Igreja no topo a doutrina dominante na época era a teocêntrica ou seja, a ideia de que Deus era o centro de tudo e que seus ensinamentos estão acima  de qualquer racionalidade humana sendo assim, as ações que o  rei toma não podem ser falhas já que, teoricamente, elas são  inspiradas na onipotência de Deus. Isso tudo era ainda mais corroborado  quando vemos que a Igreja também tinha domínio sobre  as instituições educacionais tendo sob seu controle o conhecimento  que era disseminado na época.
Só que assim, isso, lentamente, foi  começando a incomodar alguns pensadores que defendiam o uso da  razão e do livre pensamento. Eles olhavam para um passado recente onde o Renascimento mudou os rumos da humanidade. Foi nessa época que surgiram  pessoas como Leonardo da Vinci Michelangelo, Maquiavel e Shakespeare.
Sem falar da Revolução Científica que deu nome a Copérnico, Kepler, Galileu  Galilei, Descartes e Isaac Newton. Então assim, esses pensadores  do século XVII, XVIII olhavam para o passado e pensavam: “Tem alguma coisa errada! ” Como que naquela época as pessoas usavam a razão e hoje em dia ninguém mais usa?
Da mesma forma, a burguesia, parte  da camada mais baixa da sociedade começou a acumular alguns recursos e  uma certa influência sobre o mercado ficando cada vez mais descontente  com o regime absolutista monárquico que limitava sua participação na sociedade. Com todos esses fatores somados alguma coisa precisava ser feita. Assim, já no final do século XVII alguns pensadores começaram a desenvolver  uma série de ideias centradas na razão como a principal fonte de legitimidade defendendo ideais de liberdade,  progresso, tolerância, fraternidade constitucionalidade e uma  separação entre Igreja e Estado.
Eles se viam como uma luz iluminando a mente humana  em meio a tanta escuridão e é por isso que esses pensadores  ficaram conhecidos como os iluministas. O país mais associado ao Iluminismo é a França considerada o berço desse movimento. Mas é importante deixar claro que o  Iluminismo não se restringiu à França muito pelo contrário.
Os ideais iluministas impactaram  profundamente a Europa e o mundo Ocidental como um todo. Por isso é tão difícil definir  exatamente o início do Iluminismo já que não existe um evento específico que marca o início ou o fim desse período. Aqui, para o terror de todos os historiadores nós vamos ter que nos  desprender um pouco das datas já que o grande ponto dessa questão não está  nos números exatos de quando algo começou mas sim, nas ideias desenvolvidas  durante esse período.
Como você já deve ter percebido o principal ideal iluminista  é a valorização da razão como ferramenta para alcançar o conhecimento. Os iluministas acreditavam  que a razão e a liberdade eram o caminho para o progresso humano. Eles sonhavam com um “mundo perfeito” onde não houvesse guerras, injustiças sociais e que todos pudessem se expressar livremente.
Os iluministas acreditavam que esses fatores eram  essenciais para tornar a sociedade igualitária e, por consequência, a felicidade  do homem seria finalmente alcançada. O principal filósofo dessa época, Kant definiu o iluminismo como o movimento  de emancipação da humanidade ou seja, um movimento que vai te ajudar  a se libertar das amarras intelectuais permitindo que você use de sua própria razão para tomar suas decisões sem estar cegamente atrelado a um ideal religioso ou propagandístico de algum político poderoso. Segundo Kant: "O Iluminismo é a saída do ser humano do estado  de não-emancipação em que ele próprio se colocou.
” E é importante deixar claro que Kant  jamais promoveu uma ideia de “ateísmo” ou de contraposição à fé, na  verdade, é muito pelo contrário. Em um de seus livros mais  memoráveis, “Crítica da Razão Pura” Kant diz que a razão humana não pode explicar Deus já que ele está além do espaço-tempo. Só que, obviamente, isso não  significa que Deus não exista ou que não podemos falar dele o ponto central é que a razão  é uma coisa e a fé é outra separando algo que estava  profundamente ligado anteriormente a teologia e a filosofia.
A partir daí, o ser humano deveria ser  colocado como figura central no Universo buscando respostas para perguntas que até então eram fundamentadas unicamente pela fé. Essa independência seria  conquistada em uma sociedade “livre” com possibilidades de transição de classes e mais oportunidades para todos. Isso tudo só nos ajuda a perceber como o  Iluminismo foi um movimento extremamente completo no sentido de que ele aborda  todas as áreas da sociedade indo da ciência às artes, da filosofia  à política, da economia à religião.
Como a gente já falou até aqui os iluministas meteram o louco  quando eles resolveram que seria uma boa ideia separar a Igreja do Estado indo totalmente contra o regime  monárquico absolutista da época que usava justamente dessa ligação com  a religião para se manter no poder. Foi no meio dessa discussão que surgiu um dos pensadores  mais influentes do momento: John Locke. Ele é considerado o pai do pensamento liberal desenvolvendo uma teoria  de que o poder, na verdade não pertence ao governo, mas sim ao povo.
Segundo Locke, a sociedade só existia  por conta de um “contrato social” onde os cidadãos, por livre e espontânea vontade concordam em ser governados por outro alguém em troca da proteção de seus direitos naturais ou seja, sua vida, sua  liberdade e sua propriedade. Dessa forma, quando um  governo viola esse princípio o povo tem o direito de resistir e  até mesmo de destituir o governo. Essa ideia de um “contrato social” não nasceu exatamente com Locke.
Anos antes, Thomas Hobbes já tinha  elaborado algo parecido em sua obra Leviatã. Para Hobbes, os seres humanos  são egoístas por natureza e precisam de um governo forte  para mantê-los sob controle evitando assim uma vida  caótica e repleta de guerras. Assim, a gente consegue  perceber uma clara diferença entre o conceito de Hobbes e o conceito de Locke.
E isso acontece principalmente  porque eles viveram em contextos completamente diferentes de uma mesma Inglaterra enquanto Hobbes escreve principalmente baseado  na observação da experiência republicana inglesa ou seja, de um período caótico e tirano que deu a ele a perspectiva  para a escrita do Leviatã Locke escreve seus estudos a partir  da observação do final desse processo já com a criação da monarquia  parlamentar constitucional com uma visão mais otimista  do estado de natureza do homem e da relação entre governantes e governados. Enquanto Hobbes acha que o ser humano é  burro e não consegue se governar sozinho Locke acha que o ser humano só não quer  ter esse trampo todo de se governar. Só que assim, agora eu vou  ter que pesar a onda de geral porque muita gente vê o Locke hoje  em dia como um defensor da liberdade mas, a verdade é que ele tinha  algumas posições bem controversas quando o assunto é escravidão e  expropriação de terras indígenas.
Ele era um dos sócios investidores  da antiga Royal African Company companhia inglesa com enorme participação  no comércio internacional de escravizados. Outro grande nome que também  influenciou profundamente o pensamento político iluminista foi Montesquieu já que ele foi o grande defensor  da divisão política entre o poder legislativo, executivo e judiciário responsáveis respectivamente por  criar, aplicar e interpretar as leis. Ele entendia que era necessário  ter uma divisão entre esses poderes já que se eles fossem centralizados  na figura de uma única pessoa esse indivíduo poderia  comprometer a liberdade coletiva.
Esse modelo foi tão importante que até hoje tem  uma influência enorme em diversos países do mundo. Ela foi, por exemplo, uma ideia fundamental para a  criação da Constituição dos Estados Unidos em 1787 e também é a base do modelo que adotamos  atualmente na Constituição Brasileira. Só que aqui, mais uma vez, vale ressaltar que, apesar de Montesquieu pregar todas  essas ideias de liberdade e tudo mais ele não tinha o menor interesse em  defender a camada mais pobre da sociedade não defendendo, inclusive,  a ideia do voto popular.
No campo econômico, o nome mais  conhecido da época era Adam Smith conhecido como o pai da economia moderna. Em 1776, ele publicou sua obra mais  conhecida: “A Riqueza das Nações” onde ele buscava compreender a  origem das riquezas de cada nação identificando que o trabalho humano é o principal  fator responsável pela criação de valor econômico. Para Adam Smith, a capacidade  de um país gerar riqueza depende diretamente de como  o trabalho é organizado do lucro gerado e da circulação da riqueza.
Ele acreditava que o valor de qualquer produto deriva da quantidade de trabalho  necessário para produzi-lo. Isso contradiz as teorias econômicas anteriores como o feudalismo e o mercantilismo que defendiam apenas o acúmulo  de terras e de metais preciosos. E não somente isso, Adam Smith  seguiu discordando de geral quando defendeu que o Estado não  deveria colocar as suas mãos no mercado devendo se preocupar apenas  com a segurança, a ordem, a propriedade privada e as liberdade individuais.
Já que uma intervenção estatal poderia  distorcer o funcionamento natural da economia. Para ele, a regulação do mercado  se daria de forma espontânea se autorregulamentando sem  a necessidade do Estado. Surgindo assim, o conceito da “mão  invisível” do mercado que se autorregula.
Obviamente, a classe social que mais se interessou  pelas ideias de Adam Smith foi a burguesia que se via cada vez mais bolada com a situação. Já que eles estavam ficando ricos,  mas não estavam tendo poder político. Inclusive, dentro dessa bolha burguesa surgiu um dos nomes mais  relevantes da época, o de Voltaire.
Ele foi um grande defensor  da liberdade de pensamento tanto é que sua citação mais conhecida é a frase: “Eu posso não concordar com o que você diz mas vou defender até a morte  seu direito de dizê-lo. ” Durante toda a sua vida Voltaire criticou e combateu veementemente  o que ele chamou de “infâmia” que era basicamente o resultado do fanatismo,  da intolerância religiosa e das superstições principalmente aquelas promovidas pela  Igreja e pelos poderes estabelecidos. Segundo Voltaire, o cristianismo desviava a atenção humana das questões  práticas e materiais da vida tornando-se uma causa de alienação  e promovendo injustiças e opressão.
Não é atoa que ele diz: “Acredite em  Deus, mas não acredite nos padres! ” No meio de toda essa empolgação trazida pela razão a arte também voltou a ser valorizada. O principal tema das pinturas se tornou  justamente a representação da razão.
Veja, por exemplo, a obra “Um Filósofo  Lecionando sobre o Planetário” de Joseph Wright. Nela, o rosto dos alunos é literalmente  iluminado pelo conhecimento científico. Mas isso não ficou apenas no mundo das pinturas a música também foi profundamente  afetada pelo iluminismo.
A valorização da razão refletiu no desenvolvimento  de formas musicais mais estruturadas e organizadas como a sonata e a sinfonia. Isso permitiu o desenvolvimento  de compositores lendários como Wolfgang Mozart e Beethoven. Que mudaram para sempre o mundo da arte quando estrearam suas sinfonias  em concertos públicos.
Esse aumento da acessibilidade  de formas de arte para o público também aconteceu no campo da literatura que sempre foi muito controlado pela Igreja. Isso começou ainda no século XV com a invenção da imprensa no Sacro Império  Romano-Germânico por Johannes Gutenberg mas chegou até o Século das Luzes ajudando na propagação de diversas  ideias e pensadores da época. Não é atoa que, mais ou menos nessa época ali ali no século XVI surge o maior nome da história da literatura: William Shakespeare.
Isso porque, como suas peças eram  publicadas em folhetos e coleções impressas um público mais amplo, incluindo  aqueles que não frequentavam os teatros poderia ter acesso às suas histórias e poesias. Isso permitiu que a influência de  Shakespeare se expandisse além dos teatros alcançando leitores de várias classes sociais. Essa tecnologia permitiu que, no século XVIII as ideias iluministas se  espalhassem por toda Europa.
Talvez, o exemplo mais claro disso tenha  sido Denis Diderot e Jean d'Alembert que se dedicou a desenvolver uma  Enciclopédia por quase 20 anos reunindo todo o conhecimento e  pensamento filosófico da época mas ela acabou sendo proibida  pela Igreja e pela monarquia graças aos conflitos justamente  com os pensadores iluministas. Com esse bloqueio, muitos pensadores  resolveram meter o pé dos países e se mudaram para o Reino Unido já que lá, eles podiam desenvolver seu  pensamento sem ter o controle das igrejas. Desde a chamada Revolução Gloriosa o Reino Unido se tornou uma  monarquia constitucional removendo a influência direta das  igrejas nas decisões políticas.
Isso abriu espaço para a burguesia  ir ganhando força dentro da sociedade até se tornar a classe mais relevante. Com esse ponto de vista os burgueses começaram a  consumir cada vez mais cultura o que acabou ajudando a popularizar  diversos gêneros literários como os romances, a sátira, a poesia e o drama. Enfim, graças a esse grande ideal  iluminista de ser guiado pela racionalidade possivelmente, as duas áreas que  mais se desenvolveram nesse período foram a ciência e a filosofia.
A partir de nomes como Francis  Bacon e Galileu Galilei o pensamento científico se solidificou ainda mais e o tão conhecido método científico passou a  se basear numa abordagem matemática e empírica ou seja, numa abordagem que utiliza  experimentos mensuráveis e bem documentados para que qualquer indivíduo  capacitado consiga replicar obtendo os mesmos resultados comprovando ou desaprovando uma teoria científica. Inclusive, no final do século XVII mais precisamente em 1687 que Isaac Newton publicou sua obra  “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural” na qual ele apresenta pela primeira vez as tão famosas três leis de Newton um conjunto de regras matemáticas que explicam desde a queda  de uma maçã aqui na Terra até o movimento dos planetas ao redor do Sol. O Iluminismo também contribuiu  muito para a história da ciência ao incentivar expedições científicas como um  meio de descobrir e catalogar o mundo natural como por exemplo as feitas por  James Cook e Charles Darwin.
Inclusive, tem vídeo aqui se você quiser ver. Mas o interessante é que a Revolução Científica especialmente durante o período iluminista não foi apenas uma série  de descobertas científicas mas também uma verdadeira  mudança no pensar da sociedade. Ao dizer que o geocentrismo está incorreto ou seja, que a terra não é o centro do universo esses pensadores desafiavam a compreensão da  Igreja sobre o lugar do ser humano no mundo mudando para sempre a percepção da  sociedade sobre sua própria organização e seu próprio papel no universo.
Por exemplo, quando Newton demonstrou  através da gravitação universal que o universo é dinâmico e mutável ele se contrapôs à igreja que  dizia justamente o contrário. O ponto central é que a igreja defendia  essa ideia de um universo imutável para poder dizer que a sociedade também é imutável controlando assim a evolução do pensamento humano. Só que essa mudança radical na  forma de vermos a nós mesmos obviamente impactou de forma  profunda o mundo da filosofia.
Nesse vídeo eu já mostrei para você como  John Locke mudou a forma de fazermos política mas ele também exerceu uma enorme  influência no pensamento filosófico da época principalmente para a chamada  “Teoria do Conhecimento”. Essa é uma área da filosofia que, basicamente estuda como os seres humanos  adquirem conhecimento. E Locke argumenta que todo o conhecimento  humano deriva da experiência sensorial ou seja, tudo que vemos,  ouvimos, cheiramos e tocamos.
Com isso, Locke contrariou o  pensamento racionalista de Descartes que defendia o conceito de "ideias inatas" argumentando que a gente já nasce com algumas  coisas já pré-estabelecidas na mente humana. Locke discorda, dizendo que a humanidade  nasce como uma uma folha em branco e adquire todo o conhecimento  por meio da percepção do mundo. David Hume, outro pensador da época segue essa linha dizendo que a humanidade tem uma  tendência em confiar em conceitos de causalidade.
Só que o problema é que nós  confundimos essa crença com a realidade e criamos uma expectativa mental construída simplesmente a  partir da repetição de eventos. Por exemplo, a gente vê o  Sol nascendo todos os dias mas não podemos de maneira nenhuma provar com certeza absoluta  que ele nascerá amanhã. Esse ceticismo extremo levou Hume a concluir que  o conhecimento humano é inevitavelmente limitado o que desafiou a visão tradicional iluminista de que a razão humana poderia  entender completamente o universo.
Só que é justamente aqui que entra o  principal nome da história do Iluminismo Immanuel Kant. Ele revolucionou por completo  a história da humanidade ao tentar conciliar o racionalismo do  Descartes e o empirismo de Locke e Hume. Na sua obra "Crítica da Razão Pura" Kant argumentou que o conhecimento humano não  é obtido apenas pela experiência sensorial como defendido por Locke e Hume nem apenas pelo uso da razão pura como sugerido por Descartes mas sim por uma combinação de ambos.
Ele explicou que a mente  não é uma "folha em branco" que apenas recebe informações do mundo mas sim um agente ativo que organiza  e interpreta essas informações. Por isso, ele afirma que  "Pensamentos sem conteúdo são vazios (assim como) intuições sem conceitos são cegas" É como se a mente fosse equipada com "lentes" que moldam como vemos o mundo. Essa teoria foi uma grande revolução na filosofia pois mudou a ideia tradicional  de que o conhecimento é simplesmente um reflexo  do mundo externo na mente.
Para Kant, não é a mente que se adapta ao mundo mas sim o mundo que é moldado  pelas estruturas da nossa mente. Sua abordagem marcou o início do Idealismo e abriu espaço para debates sobre a realidade a percepção humana e os limites do conhecimento. Algo que influenciou diretamente  muitos filósofos conhecidos hoje em dia como Hegel e Schopenhauer.
Só que aqui, nós chegamos a um dos  pontos mais criticados do Iluminismo que é justamente o fato desses filósofos,  cientistas, economistas, e toda essa galera terem criado a chamada “Era da Razão” mas que, no fundo, nada disso pode  ser usado pela maioria da população que não se beneficiou desses avanços. Apesar deles promoverem essa  ideia de direitos iguais a maioria dos autores iluministas  não tinham verdadeiro interesse na democratização total do conhecimento  que eles mesmos desenvolviam. Isso foi, inclusive, identificado e  criticado pelos próprios pensadores da época sendo o maior exemplo disso Jean-Jacques Rousseau.
Para ele, o verdadeiro objetivo  de uma sociedade democrática é garantir a igualdade para todos e não apenas o avanço da ciência e da razão. Nesse sentido, Rousseau também  foi um ávido crítico à escravidão dizendo que era idiota a visão da época de que os escravos tinham essa tendência  de serem “mandados” por natureza. Ele argumenta dizendo que a escravidão é  fruto de um sistema que perpetua a opressão.
Entendendo que: “Em uma sociedade justa nenhuma pessoa pode ser tão  rica a ponto de comprar outra e nem mesmo tão pobre a  ponto de precisar se vender”. Em sua obra “O Contrato Social”,  assim como Hobbes e Locke Rousseau também explora esse  conceito de um contrato social que assinamos ao aceitar viver em uma sociedade. Para ele, ao fazermos isso, nós  abrimos mão de nossa liberdade natural em troca de uma liberdade civil que é garantida pelas leis e pela comunidade.
Rousseau defendia que a verdadeira liberdade só pode ser encontrada em uma  sociedade onde todos são iguais e têm uma voz na criação das leis. Nesse sentido, a liberdade individual  não deve significar a anarquia ou a liberdade de agir contra  os interesses da comunidade mas sim a liberdade de viver sob  leis que foram criadas em conjunto pela vontade geral, e que garantem  a igualdade e a justiça para todos. Nesse contexto, um dos pontos  mais criticados por Rousseau foi a ideia da propriedade privada que, para ele, é a fonte da desigualdade  social e da corrupção moral.
E aqui, nós chegamos a uma de  suas citações mais conhecidas quando ele diz que “O homem nasce  bom e a sociedade o corrompe”. Isso contrapõe diretamente o pensamento de Hobbes que defende que os seres humanos  são egoístas por natureza necessitando, assim, de um  Estado para nos controlar. Mesmo assim, vale ressaltar que essa frase  é um resumo do pensamento de Rousseau ele nunca disse exatamente essas palavras e não defendia a ideia de um homem “bonzinho”.
O que ele queria dizer é que as ideias  de bem e mal são construções sociais. O iluminismo foi tão intenso  e radicalmente influente que instigou em diversas pessoas e  comunidades um instinto revolucionário. Por exemplo, o iluminismo foi fonte de  inspiração para os colonos americanos buscarem a independência do domínio britânico se baseando em princípios como o  direito à liberdade e à autogovernança resultando na Revolução Americana.
Foram esses mesmos ideais que inspiraram  a tão conhecida Revolução Francesa buscando derrubar a monarquia para estabelecer um governo baseado na liberdade,  na igualdade e na fraternidade. Assim como as diversas  Revoluções Latino-Americanas que se tornaram independentes das  garras portuguesas e espanholas. Inspirados pelos ideais iluministas os escravos de Saint-Domingue, atual Haiti se rebelaram contra a dominação colonial francesa resultando na criação do primeiro país  independente liderado por ex-escravos.
E embora seja mais econômica do que política a Revolução Industrial também  foi inspirada pelo Iluminismo mudando para sempre o andar da humanidade. Por fim, podemos dizer que o Iluminismo foi  mais do que um simples movimento filosófico. Como o próprio nome diz o iluminismo foi uma luz que  se acendeu na mente humana iluminando os caminhos para um futuro brilhante.
São por nomes como Kant, Voltaire,  Rousseau, Locke e tantos outros que a humanidade pôde sonhar  e andar em direção a luz finalmente deixando para trás  as sombras do nosso passado. Bom, esse foi o vídeo, eu  espero que você tenha gostado. Produzir esse tipo de conteúdo dá um  trabalho que você não tem nem ideia e se você tem interesse em ajudar  a gente a continuar produzindo você pode apoiar a gente se  tornando um membro aqui do canal.
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Enfim, muito obrigado pelo seu  acesso e até o próximo vídeo. Valeu, falou, um grande abraço do Tinôco  e lembre-se: a existência é passageira. Tchau!
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