Será que você vê as cores do mesmo jeito que eu vejo? Parece uma questão filosófica e complexa que se arrasta pela humanidade por séculos, mas para cerca de 5% da população mundial, essa resposta é bem simples. Essas pessoas são incapazes de ler os números que estão dentro desses círculos.
No vídeo de hoje, eu vou te contar tudo sobre o daltonismo, uma condição que muda radicalmente a percepção de cores de milhões de pessoas. Como é o dia a dia de alguém que não enxerga certas cores e confunde outras? Como essa condição, aparentemente inofensiva, pode colocar pessoas em risco?
Tem cura? Me conta aqui nos comentários se você conhece alguém com daltonismo. Talvez você nem desconfie que esse alguém é… você.
Foi o que aconteceu com um dos maiores cientistas de todos os tempos, que ficou intrigado com a origem do seu próprio daltonismo mais de 100 anos atrás. Nossa história começa no final do século 18 com John Dalton, professor e cientista inglês. Antes de se tornar um dos químicos mais famosos da história e ter um modelo do átomo só pra ele, Dalton era obcecado em solucionar um mistério visual.
Todo dia, ele observava seus gerânios. Se você não sabe o que são gerânios, não se preocupe porque eu também não sabia até ter que fazer esse vídeo. Apesar do nome estranho, gerânio é só essa florzinha bonitinha aqui.
Para Dalton, os gerânios do seu jardim eram azul celeste de dia. Mas à noite, quando iluminados à luz de velas, ficavam vermelhos quase amarelados. O mais bizarro é que, com exceção do seu irmão, ninguém mais via os gerânios dessa forma.
Todos diziam que os gerânios não eram nem azuis nem vermelhos, eram rosa. Que confusão, não é mesmo! E não era só isso que Dalton via de forma diferente.
Ele também confundia verde com vermelho e vermelho intenso com marrom. A única explicação que Dalton encontrou para esse fenômeno bizarro foi de que os seus olhos eram preenchidos por um líquido azulado ao invés do transparente amarelado normal. Pra ele, tudo o que seus olhos captavam estava sendo distorcido por esse líquido azul, gerando confusão entre as cores.
Foi um bom chute, mas a verdadeira causa dessa confusão entre as cores tem a ver com as células detectoras de luz que revestem a retina, o fundo do olho. Algumas células da retina, chamadas cones, são especializadas em detectar faixas diferentes de luz. Quando essas diferentes faixas de luz entram nos cones, eles disparam sinais elétricos para o cérebro que reconhece aquela luz como as cores azul, verde ou vermelho.
Cada uma dessas 3 faixas de luz é detectada por um tipo de cone. Então você tem cones pro vermelho, conex pro verde e cones pro azul. E por incrível que pareça, detectar apenas 3 cores é mais do que suficiente.
Trabalhando em conjunto, os cones do vermelho e do azul geram o roxo, os do vermelho e do verde geram o amarelo… e por aí vai até completar todas as cores do arco-íris. Ou todas as cores do espectro da luz visível, se você quiser impressionar seu crush no bar. Só que nem sempre é tudo tão certinho assim.
Algumas pessoas têm uma percepção limitada das cores devido a uma falha em um ou mais tipos de cone. Esse era o caso do Dalton. Os cones que detectam a cor vermelha simplesmente não funcionavam bem.
Resultado, a visão do Dalton variava dentro de um pequeno espectro de marrom, bege, amarelo e azul. Daí o motivo de ele confundir o rosa dos gerânios. Como Dalton foi o primeiro a descrever essa condição em detalhes, ela levou seu nome como homenagem.
Daltonismo. Até hoje é mais comum ouvir falar de daltonismo do que de discromatopsia, que é o nome oficial da doença. Assim como o Dalton, cerca de 5% da população tem daltonismo, o que é MUITA gente!
Você provavelmente encontra vários daltônicos no seu dia a dia sem desconfiar disso. E alguns deles só descobrem que são daltônicos depois de adultos! Mas afinal, qual é a causa do daltonismo?
Por que ele aparece em algumas pessoas e em outras não? Será que você está nas estatísticas sem saber? O daltonismo afeta uma a cada 140 mulheres e um a cada 10 homens.
E a explicação desse risco mais de 10 vezes maior de um homem ser daltônico está na genética. O daltonismo é uma doença hereditária passada de pais para filhos através do DNA. Ele surge de uma ou várias mutações em genes responsáveis por codificar proteínas importantes para a detecção de cores.
A maioria desses genes fica no cromossomo X que todos os seres humanos têm. Acontece que as mulheres do sexo biológico feminino ganham dois cromossomos X, um do pai e outro da mãe. Se um desses cromossomos tem as alterações que levam ao daltonismo, não tem problema porque as células da retina ainda têm o outro cromossomo X normal para usar.
Para uma mulher XX ter daltonismo, e la precisa receber dois cromossomos X alterados, um da mãe e um do pai. Bem diferente do que acontece com os homens do sexo biológico masculino, que são XY. Nós só temos um cromossomo X, o que recebemos da nossa mãe.
O cromossomo Y vem do pai. Isso se torna um problema no caso de doenças genéticas ligadas ao cromossomo X, como a maioria dos daltonismos. Como o Y vem obrigatoriamente do pai, mesmo que a sua mãe possua apenas um X mutado, se você herdar ele, meu amigo, e tem uma chance em dois disso acontecer, você vai ser daltônico.
E se a sua mãe for daltônica, com os dois cromossomos mutados, a sua chance de um homem XY com daltonismo é de 100%, porque não importa qual X você vai herdar dela, ambos estão mutados. E olha que interessante. Se a filha for uma pessoa XX, com um dos cromossomos X mutados, ela pode propagar a mutação silenciosamente na família até que um filho XY dela que recebeu o cromossomo alterado manifesta a doença.
É por esses motivos que o daltonismo ligado ao cromossomo X é tão mais frequente em homens e pode aparecer mesmo quando não tem ninguém daltônico na família. Ele vai sendo transmitido silenciosamente pelas gerações É muito mais fácil ser daltônico sendo homem porque só precisa de um X alterado, enquanto nas mulheres, são necessários 2 cromossomos mutados. E eu acho que toda essa revisão de genética do ensino médio vale um clique no gostei aí embaixo.
Existem casos bem raros em que o daltonismo não está relacionado ao cromossomo X, como as pessoas que não enxergam a cor azul. Isso é causado por mutações no cromossomo 7, que afeta igualmente homens e mulheres. E existem ainda casos em que o daltonismo não é causado por genética.
É quando a pessoa nasce com uma percepção normal das cores e desenvolve daltonismo mais tarde. Mas a causa geralmente é uma diabetes descontrolada que danifica as células da retina, um descolamento da própria retina, um tumor no cérebro ou uma lesão que danifica o olho, o cérebro ou os nervos que conectam os dois. De qualquer forma, os sintomas são bem parecidos.
Fato é que quando o daltonismo existe desde o nascimento, muita gente tem mas não sabe que tem. Vários descobrem por acaso, vendo Olá Ciência no YouTube ou quando chama um vermelho de laranja e é corrigido pelos amigos. E só depois disso é que procura um teste de daltonismo para tirar a prova.
Me diz aí, você já fez algum teste para saber se você tem daltonismo? Parece bobagem falar sobre enxergar as cores, mas alguém com uma deficiência na detecção delas está vulnerável a vários riscos sem perceber. E é sobre isso que eu vou falar e sobre como você, que não é daltônico pode identificar pessoas ao seu redor que não sabem que têm daltonismo.
Mas antes, não é incrível pensar em como um conhecimento simples como esse pode ajudar tanta gente? Eu e a minha equipe nós estamos aqui no YouTube há 8 anos fazendo vídeos gratuitos, com uma linguagem acessível e tudo que eu te peço em troca é que você me ajude nessa missão de divulgar conhecimento. Pra isso, clique no botão seja membro aqui embaixo ou no primeiro link da descrição.
Se tornando um membro apoiador a partir de R$2,99 por mês, você já entra para uma comunidade incrível de pessoas que acreditam que informação boa é informação compartilhada e ainda recebe benefícios exclusivos, dependendo da sua categoria. Bora descobrir como o daltonismo pode te colocar em risco e como descobrir se você ou alguém que você conhece tem daltonismo. Antes de mais nada, você precisa saber que existem variações dentro do daltonismo.
A forma como cada daltônico enxerga o mundo depende de quais e de quantas células da retina funcionam corretamente. Existem casos extremos em que nenhum cone da retina funciona direito. São casos raríssimos chamados de daltonismo total, em que a pessoa não enxerga cor nenhuma.
É como se pra ela, realmente só existissem 50 tons de cinza. Nesses casos, o risco de acidentes de todos os tipos é alto, já que muitas situações perigosas do dia a dia são sinalizadas por cores. Desde a presença de uma cobra venenosa na floresta até a compra de uma carne nada fresca que já ficou marrom na vitrine do açougue.
Mas esses riscos estão presentes em maior ou menor grau dependendo do tipo de daltonismo. Há quem tenha deficiência só nos cones que detectam a luz azul, o que gera um espectro de cores só com tons de vermelho, o amarelo vira rosa e os tons de azul ficam lavados. Mas imagine fazer as compras da semana e perceber que você não consegue mais diferenciar amarelo e laranja do rosa.
Laranja, banana, cebola e cenoura ficam quase da mesma cor. Esse tipo de daltonismo não é tão frequente, acontece em menos de um a cada 10 mil pessoas. Mas tem também a deficiência só nos cones verdes, o que gera um resultado bem parecido com a deficiência do vermelho do Dalton, lembra?
Verde e vermelho são quase idênticos e quase tudo, exceto o azul, parece marrom ou amarelado. Esses são os casos em que não é permitido tirar a carteira de motorista. Mesmo que a pessoa consiga ver nuances entre as cores, ela demora mais que o normal para fazer isso.
E no trânsito, alguns milissegundos a mais para entender uma placa ou a cor do semáforo já são suficientes para causar acidentes graves. O mesmo vale para os pedestres daltônicos. Tem que ter atenção redobrada nas ruas e até em casa para não confundir produtos de limpeza e rótulos de alimentos.
Felizmente, o daltonismo mais comum na população é a deficiência parcial do verde. A pessoa consegue diferenciar verde e vermelho, só que ela tem uma leve dificuldade de separar alguns tons de verde do amarelo e alguns tons de vermelho do marrom. Mas nada que afete o dia a dia drasticamente.
Dá para se guiar decorando que o sinal verde do semáforo é o de baixo, por exemplo. E dependendo do caso, dá até para tirar a carteira de motorista e ter uma vida completamente normal. Agora o momento mais esperado: como saber se você ou alguém tem daltonismo?
Existem vários testes que você pode fazer quando há suspeita de daltonismo. A maioria está disponível na internet e o mais famoso é o teste de Ishihara, que usa círculos coloridos com números que só quem tem percepção normal das cores consegue enxergar. Olha esse círculo colorido, que número está gravado dentro dele?
E agora, consegue ver que número é esse? Só mais um, tá? Agora com uma imagem do teste de Cambrigde.
Você consegue ver para que lado a letra C está apontando? Me conta aqui nos comentários se você achou difícil ver as imagens dentro dos círculos e prepara o print que eu vou te mostrar as respostas corretas. Na primeira imagem, tem um número 6 marrom em meio às bolinhas verdes.
Na segunda, tem um número 7 verde em meio a bolinhas laranjas. E na última, a letra C está na diagonal virado para o canto inferior direito. Se você teve dificuldade em identificar alguma dessas imagens, não fique chateado.
Primeiro porque não se faz diagnóstico de doença nenhuma pela internet. Até o seu monitor de computador ou celular altera as cores. Aqui caberia uma baita propaganda de monitor não é não?
Pena que tem pouca empresa querendo apoiar divulgação científica. Procure um oftalmologista para fazer os testes completos e confirmar o resultado. E segundo, pessoal, porque apesar do daltonismo não ter cura nem tratamento, existem soluções para o dia a dia.
Realmente, por ser uma deficiência genética, o único tratamento para o daltonismo dependeria de uma terapia gênica, em que o gene mutado pudesse ser alterado nos olhos, sem causar efeitos colaterais pelo corpo. Isso está em estudos, mas ainda faltam uns bons anos pra ter cura pra qualquer um desses daltonismos que eu expliquei No entanto, existem óculos e lentes de contato coloridos que aumentam o contraste entre as cores que mais te confundem os daltônicos. Quem tem deficiência na detecção do vermelho, por exemplo, pode usar um óculos que bloqueia parte do verde do ambiente.
Fica mais fácil diferenciar as duas cores. Não é um tratamento, mas melhora muito a qualidade de vida de quem tem daltonismo. Existem outros óculos para outras cores, que você pode checar com um oftalmologista.
O mais importante é você entender que talvez a cor que você enxerga pode sim ser diferente da cor que as outras pessoas enxergam. Assim como foi importante entender o que está por trás da paralisia do sono, fenômeno assustador que afeta 10% da população em algum momento da vida e que eu expliquei nesse vídeo aqui. Um grande abraço, que a sua vida possa ser mais colorida e eu te vejo no próximo vídeo.
Tchau.