O que acontece se você abrir o capacete no espaço? Eu vou confessar pra vocês que ficar à deriva no espaço é um medo que eu tenho, mas que não faz nenhum sentido porque eu nunca fui pro espaço. Mas como o meu cérebro é bem criativo, vira e mexe eu me pego pensando no que eu faria se isso acontecesse comigo.
E uma das minhas opções é simplesmente TUC! Abrir o capacete. O problema dessa ideia é que ela é ainda pior do que parece.
E não só é pior, como muitas pessoas estão completamente enganadas quanto ao que acontece. Então se você quiser saber o que realmente acontece quando você abre seu capacete no espaço, esse vídeo é pra você. Só antes de continuar, se você quer uma camiseta igual a essa que eu tô usando no vídeo, a hora é agora!
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E a primeira delas é que o espaço não é frio. Isso provavelmente soa errado para alguns de vocês, principalmente para quem já ouviu falar que a temperatura do espaço é por volta dos menos 270 graus Celsius. Mas essa temperatura não é uma temperatura como as que nós estamos acostumados aqui na Terra.
Deixa eu explicar isso direito. Sempre que falamos em temperatura, nós, na verdade, estamos nos referindo ao quão agitadas as moléculas de alguma coisa estão. Quanto mais agitadas, maior a temperatura.
Quanto menos agitadas, menor a temperatura. E a palavra-chave aqui é moléculas. Temperatura é o que nós chamamos de medida macroscópica de alguma coisa.
Ou seja, ela é uma espécie de média de quanta energia as moléculas que compõem essa coisa têm. Tudo que está ao nosso alcance aqui na Terra e que tem uma temperatura está literalmente lotada de moléculas. Até mesmo o ar que você não vê tem bilhões de bilhões de moléculas nesse espaço aqui.
E qual é o ponto que eu quero chegar? No espaço nós quase não temos moléculas para terem temperatura. É um vácuo quase perfeito.
E isso é importante porque só existem três maneiras de trocar calor. Convecção, condução e radiação. Convecção é o que acontece na sua panela quando você cozinha.
A água que está mais embaixo fica quente e acaba trocando de lugar com a água fria, que geralmente fica em cima. E isso não acontece no espaço porque nós não temos moléculas. A condução acontece quando você toca em uma superfície quente e ela dá um pouco dessa energia térmica pra você, às vezes causando queimaduras no processo.
Isso também não acontece no espaço porque nós não temos moléculas. A única maneira possível de trocar calor no espaço é a radiação, que é a única que não precisa de contato entre matéria para acontecer. Se você pegasse um termômetro e colocasse no espaço, você veria ele lentamente diminuindo a temperatura até chegar nos menos 270 graus Celsius que a gente sempre ouve falar.
Mas o motivo pelo qual isso acontece é porque o termômetro está lentamente emitindo radiação, que é invisível para nós, e abaixando a sua temperatura no processo. Então qual que é o primeiro engano de todo mundo? Achar que no espaço você congelaria instantaneamente.
Isso simplesmente não acontece. Se você fosse teletransportado para o espaço agora mesmo. .
. Perfeito! Novo medo desbloqueado.
Você não congelaria instantaneamente, você emitiria radiação aos poucos, diminuindo essa temperatura até você ficar na mesma temperatura que o universo está, por volta de menos 270 graus Celsius. Mas aqui tem um detalhe importante, nós temos o Sol para atrapalhar tudo. Se alguma parte do seu corpo estivesse exposta ao Sol, ela seria aquecida pela radiação emitida pela nossa estrela, enquanto as partes que estivessem na sombra esfriariam.
Para vocês terem ideia do quão problemático isso é, a Estação Espacial Internacional, que completa uma volta ao redor da Terra a cada uma hora e meia, sofre variações de temperatura que vão de menos 120 graus Celsius nas partes que estão na sombra até 120 graus Celsius nas partes que são expostas ao Sol. O mesmo aconteceria com você caso você fosse colocado sem uma roupa de astronauta no espaço, mas o efeito não seria instantâneo. Você demoraria um tempo para aquecer a parte do seu corpo que estivesse no sol, assim como demoraria um tempo para congelar o que estivesse na sombra.
Resumindo, abrir o capacete no espaço não teria mesmo a sensação de mergulhar instantaneamente a cabeça em um balde de nitrogênio líquido, mas isso não quer dizer que nós não teríamos sensações instantâneas. Das mais de 650 pessoas que já foram para o espaço até hoje, apenas três morreram no espaço. As três a bordo da missão Soyuz-11.
O ano era 1971 e a primeira estação espacial da história, a Salyut-1, estava em órbita baixa da Terra. Uma missão tinha sido montada para acoplar uma Soyuz, que era a Soyuz-10, à estação Salyut, no começo do ano. Mas a tripulação precisou voltar pra Terra quando a acoplagem falhou devido a problemas mecânicos.
Mais tarde no ano, uma nova missão com o mesmo objetivo foi lançada, a Soyuz-11. O foguete foi lançado de Baikonur, no Cazaquistão, no dia 6 de junho de 1971. No dia seguinte, após um procedimento que durou 3 horas e 19 minutos, a Soyuz e a Estação Salyut estavam acopladas.
Os três cosmonautas tripulantes, Dobrovolsky, Volkov e Patsayev, passaram ao todo 22 dias em órbita dentro da estação, batendo todos os recordes de duração no espaço até então. Até que chegou a hora de voltar para casa no dia 29 de junho de 1971. Depois de um procedimento de desacoplagem que ocorreu dentro do esperado, a base em Terra perdeu a comunicação com os tripulantes de maneira abrupta, pouco antes da reentrada na atmosfera.
A Soyuz 11 continuou seu caminho de volta e 25 minutos depois pousou no casa-quistão, no que parecia ser um procedimento de reentrada completamente normal. As equipes de resgate relataram que não tinha danos visíveis no lado de fora. A única coisa estranha é que depois de eles baterem com as mãos na fuselagem da Soyuz, eles não ouviram respostas dos cosmonautas continuavam sentados nas suas posições usuais.
Mas eles estavam com marcas azuladas no rosto e um pouco de sangue saia dos seus narizes e ouvidos. A causa da morte? Asfixia.
Uma investigação montada para descobrir a causa do acidente descobriu que o problema foi uma válvula de ventilação que foi danificada durante o procedimento de reentrada. A válvula danificada deixou a cabine aberta para o vácuo do espaço a uma altura de 168 km, removendo todo o ar do interior. Todos os cosmonautas se foram dentro de 40 segundos.
Até hoje, eles são as três únicas pessoas a terem morrido no espaço, acima da linha de Kármán. Eu contei essa história trágica da Soyuz 11 para mostrar que o principal perigo, pelo menos para seres humanos, de viagens espaciais é a pressão, que é zero no vazio do espaço. Os três cosmonautas foram expostos ao vácuo do espaço, mas a temperatura não foi nenhum fator considerado nas investigações.
Eles não sobreviveram justamente por causa da pressão, ou melhor, da falta dela. O corpo humano evoluiu e se adaptou a um ambiente muito específico, que é o que nós encontramos aqui na Terra. Nós estamos constantemente sendo esmagados pela pressão atmosférica.
E uma vez que você tira isso da equação, nós temos problemas. No caso dos cosmonautas, o contato com o vácuo do espaço fez o oxigênio e o nitrogênio dissolvidos no sangue criarem bolhas que romperam as veias. E isso aconteceu no corpo inteiro deles, mas foi problemático principalmente no cérebro.
Mas o mais surpreendente é que nós sabemos de um caso de uma pessoa que foi exposta ao vácuo e sobreviveu. Em dezembro de 1966, a NASA estava testando protótipos de roupas espaciais. Para isso, eles usavam uma grande câmara de vácuo, que consegue remover todas as partículas de ar de dentro, o que simula o ambiente espacial.
E um dos engenheiros, Jim LeBlanc, estava testando um desses trajes dentro da câmara de vácuo. Em um ponto durante o teste, a mangueira que mantinha a pressão dentro do traje se desconectou. E 14 segundos depois, Leblanc perdeu a consciência e caiu de costas.
Por sorte, uma das pessoas que também estava no teste conseguiu entrar na câmara 25 segundos depois e dar oxigênio pro LeBlanc. E ele, até hoje, é a única pessoa que foi exposta ao vácuo e sobreviveu pra contar a história. E nas palavras dele, a última coisa que ele se lembra é da saliva na língua borbulhando e evaporando.
Ele perdeu a consciência logo depois. Então, para responder a pergunta do vídeo, o que acontece se você abrir o capacete no espaço, você não congela instantaneamente, como alguns filmes mostram. A sua temperatura corporal se mantém até que por um tempo relativamente longo.
O principal problema do espaço sem a proteção de um traje é o vácuo. Assim que você começa a ser exposto ao vácuo, os gases no seu sangue começam a formar bolhas que bloqueiam a sua circulação e começam a romper suas veias. A maior parte das pessoas teria 20, com sorte, 40 segundos de consciência.
E uma estimativa bastante usada é que uma vez exposto ao vácuo, um ser humano tem em média 90 segundos para a recompressão. Passando disso, a morte é inevitável. No fim das contas, o espaço claramente não foi feito para nossa sobrevivência, mas nós existimos e prosperamos nele apesar disso.
A existência de uma estação espacial internacional, que é um símbolo de cooperação entre países, que permanece continuamente habitada por seres humanos há 23 anos, é também um lembrete do que a humanidade faz de melhor, que é se adaptar para viver nos lugares mais inimagináveis. Nós não evoluímos para viajar no espaço, pousar na lua ou colocar robôs e futuramente humanos em outros planetas, mas nós fazemos isso tudo apesar de vivemos em um universo que é especialmente hostil à vida como conhecemos. E em um futuro que eu espero que seja muito em breve, nós estaremos presentes.
Nós estaremos em cada lua, em cada planeta, em cada pedaço que puder ser estudado do nosso sistema solar, a nossa vizinhança em meio às estrelas. E nós descobriremos muitas coisas, nós vamos conhecer o impossível e nós vamos deixar para sempre a nossa marca e o nosso legado em meio às estrelas. E é por isso que é importante conquistar até o espaço.
Muito obrigado e até a próxima.