Olá! Hoje damos continuidade a mais um episódio desta nova temporada do estudo de Gênesis e retomamos o início do Capítulo 2, especialmente os versículos 1 a 4, que dão uma espécie de acabamento na narrativa da Criação. Nós falamos isso no episódio anterior: 1:1 a 2:4 nós temos uma espécie de bloco literário (a narrativa da criação em sete dias) e este bloco nós podemos chamar de tijolo fundamental, porque ele servirá de parâmetro, de modelo, para toda a construção literária bíblica, que vai se encerrar no Apocalipse.
Não é à toa que o livro Apocalipse, que é o último livro do cânon bíblico, se encerra com a Jerusalém, que desceu do céu, portanto, uma edificação, uma construção toda formada de pedras preciosas, como se esse texto do Apocalipse retomasse esse bloco que nós estamos fechando agora. Ou seja, há um relato inicial da Criação, uma grande história, que perpassa, a partir desse relato e sua conclusão, essa grande história bíblica, com a Jerusalém que desceu do céu. Hoje, nós vamos aprofundar um pouco mais esta história que fica entre Gênesis 1:1 a 2:4 e o último capítulo do Apocalipse.
Nós vamos examinar um pouco mais o caráter dessa história bíblica, chamada por alguns teólogos católicos e teólogos protestantes de história da salvação. Por que a história da salvação? Porque, evidentemente, havia um projeto e um homem, um ser humano, que era imagem e semelhança de Deus; esse homem, criado com o livre-arbítrio, ou seja, dotado da capacidade de fazer escolhas, poderia optar por não atender, por não corresponder a esse projeto divino.
E foi, de fato, o que aconteceu. Este ser humano fez opções, fez escolhas, utilizando o seu livre-arbítrio, e nós veremos toda a história evolutiva, que é a história do aperfeiçoamento moral. Não é uma história que se dá apenas com uma construção humana porque, ao longo desta história, teremosa intervenção divina em momentos cruciais, provocando o amadurecimento, o crescimento espiritual, moral e intelectual desse ser humano.
É importante ressaltar esse ponto. Vamos detalhar um pouco isso que estamos dizendo. Há duas concepções de Deus que são complementares.
Uma delas é o Deus transcendente e, este primeiro bloco literário de Gênesis, faz questão de ressaltar essa transcendência de Deus ao dizer que tudo o que foi criado partiu da vontade e da ação do Criador. Portanto, o Criador transcende a própria Criação. A Criação não existia, mas Ele já existia de todo o sempre.
Embora haja uma conexão profunda, intensa, entre o Criador e a Sua Criação, Ele é mais do que a Criação. Deus é mais que o Universo ou mesmo mais que os Universos criados. Deus é Deus.
Ele é transcendente e a sua transcendência revela alguns atributos, que estão na questão nº. 13 de “O Livro dos Espíritos”, o atributo da imaterialidade, o atributo da perfeição, da suprema justiça, da suprema bondade, do poder absoluto e da onipotência. Esses atributos de Deus apontam para a Sua transcendência.
Então, é vedado à criatura, a qualquer ser criado, abarcar a divindade, porque nós, enquanto criaturas, somos limitados. Não pode haver uma criatura – inclusive esta reflexão está em “O Livro dos Espíritos” – que se iguale ao Criador, porque, daí,nós teríamos dois, três, quatro deuses. E, nós só temos um: Deus é uno.
Só háEle. mais superiores que elas sejam, elas são criaturas. Então, isto é a transcendência e é importante nós lembrarmos isso para que nós não caiamos na tentação de achar que resolveu, que fechou a questão.
Nós observamos isto, às vezes, em grandes escritores, grandes pensadores. Eu me recordo que quando Stephen Hawking lançou o livro “Uma breve história do tempo”. É curioso, porque ele havia desenvolvido a teoria dos buracos negros, trabalhada matematicamente, e, experimentalmente e chegou à conclusão de que existem os chamados buracos negros.
Então, ele lança esse livro (“Uma brevehistória do tempo”) e, é curioso porque no arroubo da descoberta, ele escreve assim: “este é um livro que tenta entender a mente de Deus”. Isso demonstra que ele foi bastante pretensioso. O tempo passou e depois de “Uma breve história do tempo”, ele publica “O universo numa casca de noz”.
Agora, uma nova história do tempo e o Stephen Hawking está aí perplexo com as descobertas que avançaram e foram muito adiante do que ele havia previsto. Então, a natureza está sempre surpreendendo. Deus está sempre se revelando e isto vai acontecer para sempre.
Esta é a transcendência de Deus. Há até uma história muito curiosa, conta-se que Santo Agostinho caminhava por uma praia e tentava entender Deus, compreendê-Lo. Santo Agostinho, então, vê uma criança que brincava na areia, a qual fez um buraquinho na areia, pegava uma conchinha, ia até o mar, enchia a conchinha de água, voltava e colocava no buraquinho de areia que havia feito.
Daí, Santo Agostinho viu aquilo, olhou para a criança e perguntou o que ela estava fazendo. A criança disse que ia colocar o mar dentro do buraquinho e Santo Agostinho disse que aquilo era impossível. Daí, a criança teria olhado para Santo Agostinho e dito assim: ‘Ah, é impossível colocar o mar neste buraco?
Então, porque você está tentando colocar Deus na sua cabeça? ’. Foi como um relâmpago que caísse sobre ele e Santo Agostinho ficou perplexo, aturdido, e quando ele olhou de novo, não havia mais a criança.
Teria sido uma visão de Santo Agostinho e uma grande lição: Deus é incomensurável, infinito, inabordável. Nós só conhecemos de Deus aquilo que Ele revela sobre Si mesmo, porque um copo de água não pode conter, abarcar o oceano. Esta é a ideia.
Mas, há um outro aspecto e é isto que nos interessa aqui, que é muito importante, que é a imanência. E, é um assunto que causa perplexidade em alguns intelectuais. O texto bíblico de Gênesis 1:1 revela o Deus transcendente, o Deus criador.
2:5 em diante, toda a Bíblia vai revelar o Deus imanente. O que é um Deus imanente? É um Deus que está na Criação.
Ele é superior à Criação, mas a Criação está dentro Dele. Então, Ele está presente, Ele atua, Ele interfere, Ele age no mundo, na sociedade, nas comunidades, nas famílias e no indivíduo. Os sábios hebreus até cunharam um termo chamado supervisão individual.
Eles analisaram a Providência Divina e concluíram que cada um de nós é supervisionado pelo próprio Deus. Olha que bonito isto: a nossa vida conta com uma supervisão individual. É óbvio que esta supervisão se dá numa escala em que você tem seu Espírito protetor, acima dele um outro, acima dele um outro, acima dele um outro, um outro, um outro, um outro, um outro.
. . até Deus.
Um caso lindo, maravilhoso, no livro “Sexo e destino”, da psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira ditado pelo Espírito André Luiz (não vou contar a história, aqui, do livro, até porque eu quero que todo mundo leia): o benfeitor do livro é o Félix e a personagem principal do livro, porque em torno dela gira toda a história, é uma moça e, depois, no final do livro, vamos descobrir os vínculos que essa moça tem e o porquê dela mobilizar toda uma equipe espiritual. Isto vai ser esclarecido no final do livro e eu não vou contar aqui. Mas, o Félix era um benfeitor que tem ampla margem de movimentação.
Então, ele começa com a equipe dele (dentro da equipe está André Luiz) visita lares, ele interfere, interfere, altera circunstâncias, vai trabalhando evidentemente com a permissão superior, mas ele vai fazendo intervenções muito importantes ao longo do livro. Chega um momento do livro que é crucial: essa moça decide suicidar-se e entra em uma farmácia para comprar um veneno. O poder de intervenção do Félix era tão grande que ele atua sobre a mente do farmacêutico, que se engana e, no local do veneno, ele coloca um sonífero e dá para ela e ela compra aquilo achando que é um veneno.
Olha a intervenção do Félix, como que ele dominava a situação. A moça adormece na rua, acorda e parece que está tudo sobre controle. Mas, quando ela acorda e vai atravessar a rua, ela é atropelada.
Nesta hora, é visível no romance que André Luiz é tomado de uma perplexidade e o próprio Félix, o benfeitor, fica pálido, porque aquilo não estava previsto para ele (Félix). Ele fica perplexo com o atropelamento dela porque, agora, ela estava na iminência de desencarnar e, ainda, André Luiz pergunta a ele: ‘Félix, e, agora, o quê iremos fazer? ’ Ele fala: ‘Agora nós vamos orar.
’ E, é uma cena maravilhosa! Por que é maravilhosa? Porque aquele benfeitor que, até então, parecia ter controle de todos os acontecimentos, que parecia estar no comando de todas as circunstâncias, evidentemente com supervisão e autorização superior, que interferia, que intuía, que alterava, que atuava diretamente, agora, estava perplexo.
Uma situação fora da percepção dele ocorreu. Acontece que não era à toa que ele era um benfeitor da envergadura moral mostrada no livro; e o que ele faz? Ele ora porque ele entendeu Naquele momento, o caso levado para a Providência Divina.
E Deus disse: ‘Agora é comigo! ’. E, de fato, aquele atropelamento que parecia um acidente terrível essencial para a solução de todos os problemas do livro.
Um tanto de coisas acontecem em função daquele atropelamento e toda a história se resolve. Então, a pergunta é: quem está dirigindo? Quem está no comando?
Você? Eu? O seu Espírito Protetor?
O Espírito Protetor do seu Espírito Protetor? Quem está no comando é Deus. Ora, esta história está no Evangelho, também.
No momento em que Jesus é preso que Simão corta a orelha de Malco, Jesus cura a orelha dele e diz: ‘ Simão, embainha a tua espada – porque aquele que com ferro fere, com ferro será ferido –, se eu quisesse eu pediria ao Pai e Ele me enviaria uma legião E, silencia. Daquele momento em diante, nós vimos um Cristo em silêncio, respeitando todas as circunstâncias. Ele que havia utilizado todos os seus poderes de Cristo, para curar leprosos, para curar cegos de nascença, para andar sobre as águas, para multiplicar pães, para intervir, agora, não usa nenhum desses poderes e se entrega.
Por quê? A lição é de que, agora, Ele, o governador espiritual do planeta, o Cristo planetário, entrega-se para Deus. Deus está no comando sempre.
Nós estamos no comando por um período de tempo, enquanto o criador permitir. Mas, chega um momento em nossa existência em que você não tem esse controle. Daí, a necessidade da fé, da confiança, da entrega a Deus.
Confiar, porque fé é confiar confiar no comando Dele, confiar que há um direcionamento Dele nas mudanças que Ele vai operar, nem sempre agradáveis, nem sempre mudanças que correspondem às nossas expectativas, mas, de fato, mudanças que correspondem ao melhor, não para nós, mas para o Todo. Isto é imanência de Deus. Isto é muito importante.
No diálogo de Jesus com Pilatos – isso é lindo! – nós temos o governador da Judeia, um homem que tem um poder sobre uma região conferido por César e, diante o Governador do planeta, o governador de uma região física e o Governador do planeta. E, o quê Jesus diz para Pilatos?
‘Nenhum poder você teria, se não tivesse sido confiado a você pelo alto. ’ É maravilhoso isto! Quer dizer, o Cristo – governador do planeta – se submete ao comando, à decisão, de um governador de uma região por quê?
Por que diz a ele: ‘Se o alto não tivesse conferido a você este poder que você tem agora sobre mim, se o jogo das circunstâncias não tivesse me colocado nesta posição em que agora eu estou sob o seu comando, se o alto não tivesse articulado isto, você jamais teria acesso a mim. ’ É isto que Jesus está dizendo a ele. Então, Jesus respeitava aquele poder humano, porque era a expressão de um poder maior, que é o poder de Deus, que havia permitido, em um conjunto de circunstâncias, que aquela situação ocorresse.
Era o coroamento do Evangelho: o governador espiritual do orbe, deixando a derradeira missão da confiança suprema em Deus. Isto é muito bonito! É muito profundo isto!
Nós estamos comentando isso, aqui, porque nós precisamos resgatar isso. Quando nós falamos da fé espírita é no sentido de que haverá momentos na nossa vida em que nós não teremos o controle. Então, você está almoçando, aqui, em família, o filho sai e daqui a pouco chega a notícia que ele desencarnou.
Ou, você está bem e recebe a notícia de que uma grave doença se apossou do seu organismo e você tem um mês de vida. Ou, a perda de um ser querido ou o abandono de um ser querido etc. Reveses, provas, expiações alteram completamente o panorama da sua vida e você se sente impotente.
raiva contra a vida, raiva contra os semelhantes, porque queremos ter o controle, nós queremos acreditar que estamos no controle. Mas, nós não estamos. Acreditar na transcendência de Deus é muito fácil.
É só você pegar um telescópioe olhar para a grandeza do Universo. Agora, acreditar na imanência, quando tudo, ou quase tudo, dá errado na sua vida, parece que virou de ponta cabeça. é você acreditar que Deus está no comando e confiar que Ele vai levar você a uma situação diferente melhor.
Não é por outra razão que esta é a história bíblica. Toda a história que vai se desenrolar de Gênesis 2:4 em diante até o Apocalipse é a história da fé, é a história da confiança, e o texto é muito simbólico porque ele fala de uma ordem dada por Deus a Adão e a Eva e eles não confiaram na ordem. Foi dada uma recomendação e eles não confiaram.
Eles preferiram confiar na serpente, em si mesmos, na própria autonomia, no próprio livre-arbítrio, abdicando do comando de Deus e isto desencadeou o processo evolutivo, desencadeou um conjunto de experiências drásticas, infelizes muitas delas, que constam na história bíblica. A história bíblica prossegue nesse tom. Por isso é importante ficar atendo a este detalhe.
Mas, nem tudo está perdido. O ponto que nós gostaríamos de ressaltar, aqui, que é Gênesis 2:1-4: “Assim foram concluídos o Céu e no sétimo dia a obra que fizera e, no sétimo dia descansou depois de toda a obra que fizera. ” Ou seja, o descanso é a conclusão da obra.
A obra se conclui com o descanso. “Deus abençoou o sétimo dia, o santificou pois nele descansou depois de toda a sua obra Esta é a história do céu e da terra, quando foram criados. ” Dá a ideia do fechamento.
Mas, e o sete? Aqui eu queria chamar a atenção com mais detalhe para a questão do sete. Nós vimos, aqui, sete dias e, ao longo do texto bíblico, sobretudo para Moisés, haverá uma série de ordens dada pelo Criador, com referência à observância do sete.
Elas são ordens progressivas. A primeira ordem é assim: você trabalha seis dias e descansa, no sétimo dia, que é o sábado, o shabat. A observância do sábado é o quê?
É o descanso no sétimo dia. Mas, ele é um descanso provisório, porque eu trabalhei seis e descanso no sétimo dia, trabalho mais seis, e descanso no sétimo dia. Isto vai parar quando?
Esta é a pergunta. Vamos pensar nisto. Para o quê este descanso semanal está apontando?
Ele está apontando para um descanso maior, para um descanso que irá significar a conclusão da obra. No livro “A pessoa do Messias nas festas bíblicas”, de Marcelo Miranda Guimarães, tem algumas coisas que são um pouco sem sentido, mas tem um ponto, que nós já mostramos no site, que é o esquema das festas bíblicas. Veja que interessante: a Páscoa é no décimo quarto dia.
sete e celebra a Páscoa no primeiro mês (é o décimo quarto dia do primeiro mês). Daí você tem sete dias e depois do sétimo dia você tem a Festa dos Pães Sem Fermento. Aí você conta mais sete dias e tem a Festa das Primícias.
Ela começa no vigésimo segundo dia do primeiro mês. Por quê no vigésimo segundo dia? Significa que você contou sete mais sete mais sete, então, três vezes sete é vinte e um.
No vigésimo segundo começa a Festa das Primícias. Tudo sete! E, estas festas eram festas de celebração e de descanso: você parava para celebrar a festa.
O que isto está dizendo? Está apontando para uma obra que será feita e para um descanso, porque a narrativa de Gênesis fala que Deus descansou. Então, Ele concluiu a sua obra.
O que significa ‘Deus concluiu a sua obra’? O quê compete propriamente a Deus e o quê nos compete? Então, vamos lá: Deus nos cria com todas as condições para sermos perfeitos (perfeição relativa, perfeição da criatura), mas quem faz o trabalho da evolução, quem tem que evoluir, quem tem que fazer as escolhas, quem tem que se aperfeiçoar?
Nós, com o auxílio Dele. Daí Ele vai nos ajudar, mas a obra Dele foi concluída. Ele já criou tudo perfectível, tudo o que Ele criou já tem o potencial de ser perfeito e de durar para sempre.
Então, Ele concluiu a sua obra. Quem não concluiu, ainda, a obra somos nós. Então, a obra da evolução é nossa.
Deus é o auxiliar, Ele coopera, Ele colabora, Ele interfere, Ele atua, mas a obra é nossa. Tanto que eu posso demorar, eu posso atrasar, eu posso ir mais rápido, mais devagar, porque está no meu querer, a obra é minha. Eu vou descansar quando?
Essa é uma decisão e este conjunto de festas está apontando para isto. Daí, nós vamos ter uma Festa das Trombetas que serão sete meses. Depois terá um conjunto de festas (o Yom Kippur, Festa dos Tabernáculos etc) que durarão vinte e um dias.
E, quantas festas são? Sete. Agora, tem coisas interessantes: no sétimo ano a terra tinha que descansar.
Quarenta e nove anos, a terra tinha que descansar. Daí, você tem um esquema de setenta anos, setecentos anos, nós vamos ter todos estes modelos e o grande modelo (nós já comentamos isto) se você pegar a segunda Epístola dePedro (II Pedro 2:8), ele fala que para o Senhor um dia é como mil anos e mil anos é como um dia. Aqui, entra em um grande padrão que é a semana adâmica: sete dias, cada dia é um ano, então, sete mil anos.
Cristo são quatro mil anos. Do Cristo mais dois mil anos são seis mil anos. E, mais mil anos, então, no sétimo ano a Terra entraria no descanso: o grande descanso bíblico.
Esta é a perspectiva bíblica e a perspectiva que está no Apocalipse, que fala de uma grande transição desse interregno de dois mil (porquenão é dois mil fixo, não é bem assim). Kardec deixa claro que é uma transição em que os Espíritos estão convalescentes até entrar no mundo ditoso que é o descanso evolutivo. Ou seja, toda a evolução aponta para um descanso.
Você faz a obra, então, se torna um Espírito puro e, daí, entra em um descanso. Não é um descanso de não fazer. Não é isso!
É um descanso de quem concluiu a obra, tornou-se um Espírito puro, entrou em uma nova etapa da evolução espiritual. É importante nós ficarmos atentos para isto porque toda a história bíblica vai se desenvolver nestes padrões de sete. Toda profecia bíblica vai pegar este padrão de sete e vai subdividir por outros números (por dez, por doze, por quatro, por dois etc) e nós vamos encontrar as equações proféticas que vão estabelecer ciclos de crescimento evolutivo.
Não é tão difícil. Esta é a ideia. É só lembrar que – e, aqui, nós voltamos para o teatro, para o cinema – quando você vai assistir a um filme, ele tem um roteiro: começa da primeira cena até a última, pode até ser que tenha o dois ou o três, mas a história tem que se concluir, ainda que a conclusão seja abrir para um novo episódio.
O que nós percebemos aqui? Podemos afirmar com tranquilidade que na Bíblia, do ponto de vista temporal, tem sete mil anos. quer dizer que o conteúdo que tem aqui só serve para sete mil anos?
É óbvio que não! O ensino do Evangelho é para toda a eternidade. Não estamos falando de conteúdo moral.
Nós estamos falando da narrativa bíblica, da história. A história é de sete mil anos, que é a semana bíblica. Depois desses sete mil anos, como é que se conclui, aqui?
A chegada da Nova Jerusalém que desceu do céu, ou seja, uma nova etapa que se abrirá para a evolução terrestre. Então, como vai ser a história? Calma!
Teremos novos profetas para trazer esta nova história, porque a terra entrará no seu descanso. Aqui está narrando um período muito claro da humanidade: um trabalho feito em sete mil anos. Isto é importantíssimo, o que é também uma semana bíblica, é uma maneira de nós contarmos.
É interessante porque sete dias, aqui, não está à toa e essa celebração de festas tudo em sete (seis dias de trabalho e descansa no sétimo dia, quarenta e nove anos e a terra ter que descansar, no sétimo ano a terra tem que descansar), tudo isto aponta para um grande descanso. Não mais um descanso físico, mas um descanso espiritual. Cessam as lutas, cessam as grandes dores, cessam as expiações, as provas rudes.
Isto é simbolizado no profeta Isaías de uma maneira muito bonita. O profeta Isaías fala desta era do descanso como a era messiânica. É preciso compreender isto: o povo de Israel e seus profetas não falam só da vinda de um Messias.
Não é só isso. Não basta o Messias É preciso existir a era messiânica. O que é a era messiânica?
É um período em que a Terra vai entrar. A religião muçulmana também crê nisso, o budismo, várias religiões apontam para este período de refrigério. Mas na tradição judaica, na tradição hebraica, que é a tradição bíblica, essa era de descanso é chamada de era messiânica.
Isaías descreve de uma maneira muito bonita comparando a vida do ser humano e a vida da Terra, de toda a comunidade humana na Terra, há uma estrada onde os montes se baixarão e os vales serão preenchidos. O que significa isto? Uma estrada reta, onde dos vales, que simbolizam as provas e as expiações.
Os montes, as provas e os vales, são expiações. Isto cessa e aí entra em um terreno retilíneo. E, aí, ele começa a encontrar símbolos que são símbolos pastoris, símbolos agrícolas do universo pastoril agrícola, agrário, símbolos de um descanso do planeta.
Que símbolos são esses? Um leão ao lado da gazela. Olha que interessante porque o leão se alimenta Então, o leão não mais se alimentará da gazela.
É óbvio que é um símbolo. Ou seja, cessa a competição, cessa a destruição, cessa a violência, cessa o ato de alguém se sobrepor ao outro, anulando-o, prejudicando-o, ferindo-o. A serpente, agora, brinca, anda inofensiva.
Por que a serpente? Porque o relato bíblico diz que todo o processo da história bíblica foi desencadeado pela serpente. Então, na era messiânica até a serpente é regenerada.
Não apenas o ser humano. Mas, até a serpente, ou seja, até as causas do mal, as influências do mal são anuladas. Uma grande era messiânica de paz, de harmonia, de suprema cooperação, de suprema fraternidade, paz imensa, um mundo ditoso.
Se nós examinarmos o texto de Kardec, veremos que ele escreve com base nos informes dos Espíritos sobre as características de um mundo ditoso. Nós temos mundo primitivo; mundo de expiação e provas (que é o mundo bíblico, o mundo trata apenas da expiação e prova); uma transição (que é o mundo de regeneração, o mundo de regeneração é uma transição entre o mundo de provas e expiações para o mundo ditoso. É uma recuperação, como se você se submetesse a uma cirurgia e você ficasse em um período em recuperação.
Kardec chega a dizer que é um período de convalescença. O Espírito deseja o bem, mas ele não está tão forte assim, ele pode cair, ele precisa robustecer-se moralmente); mundo ditoso, que é a grande era messiânica. Essa promessa é muito importante e ela se tornou uma grande objeção.
Por que o povo hebreu não aceita Jesus como Messias? Porque eles entenderam, eles interpretaram que a chegada do Messias tem que coincidir com a era messiânica. Para eles, é simultâneo: o Messias vem e a era messiânica chega.
Vem o Messias e, aí, cessa a guerra, o ódio, o crime, a maldade, a injustiça. Esta é a ideia: simultaneidade. Eles olham para Jesus e dizem assim: ele se diz o Messias; daí, olham para o mundo dizem: não há era messiânica.
Esta é a objeção! Esta é a perspectiva deles. Não é nada contra Jesus.
Não estão diminuindo Jesus. Elesestão desenvolvendo um raciocínio. Como Jesus respondeu a essa objeção?
Porque essa objeção foi apresentada a Jesus, isto foi dito olhando para ele. Como Jesus respondeu? Jesus contou uma parábola: a parábola do grão de mostarda.
O que é a parábola do grão de mostarda? Não é a mostarda que compramos. É outra.
É sobre a árvore grandiosa que começa com uma pequenina semente, começa com uma minúscula semente e se transforma numa grandiosa árvore. O que Jesus quis ensinar? Não imagine que a era messiânica vai surgir com um estalar mágico de dedos.
Não vai ser assim. O que na natureza é assim? Nada!
Tudo na natureza tem o espírito de sequência. Então, o quê Jesus estava dizendo? Eu sou o Messias, eu vim inaugurar a era messiânica, mas, agora, ela é um grão de mostarda.
A era messiânica que eu vim trazer é uma semente e eu vim plantá-la na Terra. E, vai demandar um tempo para esta árvore crescer e frutificar. Então, não é simultâneo.
Esta é a resposta dada por Jesus à objeção de que ele não era o Messias porque não chegou o shabat da Terra. Quando será o sábado da Terra? Nós não sabemos.
Nós sabemos como ele vai ser, mas a data não sabemos. Mas, o sábado da Terra está sendo construído aos poucos, desde Gênesis 2:4. O sábado da Terra tem a ver com um reino divino, porque, daí, Deus passa a comandar totalmente.
Na proposta do Éden, quando Deus constrói o jardim, Ele comanda. Mas, Adão e Eva têm livre-arbítrio e eles podem se opor. E, se opuseram, não aceitaram.
O que aconteceu com eles? Eles saíram do jardim para que eles construíssem o mundo deles, segundo o livre-arbítrio deles. No sábado da Terra, no grande shabat, no grande descanso da Terra, Deus volta a reinar como reinava no Éden.
Mas, por que Ele volta a reinar? Porque nós vamos desejar que Ele reine. Nós vamos pedir para Ele: ‘Deus, por favor, comande, assuma o controle’.
Então, é assim que fecha a narrativa: é bonita, é igual ao um filme mesmo. Começa Deus oferecendo e o ser humano recusando, passam-se sete mil anos (= uma semana) e esse mesmo ser humano chega e fala: ‘Não aguento eis que te entrego a minha alma em tuas mãos. ’ Estas são as palavras do Cristo na cruz.
E, daí, o que acontece? Capítulo 21 (sete-sete-sete) do Apocalipse, onde a Jerusalém desce do Céu. Ou seja, ela não foi construída aqui, não foram os homens que construíram esta cidade, agora, porque toda a história bíblica é a história dos homens construindo (errando, errando, errando, errando, acertando, errando, errando, errando, errando, acertando), mais errando do que acertando, testando, batendo contra a parede.
A Jerusalém vem do céu. É obra divina, é Deus assumindo o controle, o comando e o homem cooperando com Ele: o Criador e os co-criadores, porque o que Adão e Eva fizeram foi inverter: eles colocaram Deus na posição de co-criador e eles – Adão e Eva – na posição de criadores. Houve uma inversão.
No final, Deus assume seu papel de Criador. Assume com o nosso consentimento. Não que Ele tenha deixado de ser Criador.
Eu estou dizendo na nossa vida. Deus é o Criador, Ele está no comando. A pergunta é: você deixa Ele ser o comandante da sua vida?
Você deixa-O ser o Criador da sua vida? Porque Ele não vai fazer isto ferindo o seu livre-arbítrio. Ele pode dispor circunstâncias que te levarão ao xeque-mate.
Mas, vai ser com o seu consentimento. Neste momento, volta o papel e você se torna o co-criador. Não é uma posição passiva que Deus decide e faz tudo.
Você se torna co-criador e Deus volta a ocupar a posição central. Isto, em termos de Evangelho, significa o Reino de Deus no coração dos homens. Quando o Reino de Deus estiver no coração dos homens, o Reino de Deus estará sobre a face da Terra.
O Reino de Deus na face de toda a Terra chama-se era messiânica, chama-se o grande sábado, o grande shabat, o shabat da Terra, a Terra vai descansar. Não mais haverá crime, não mais haverá violência, não mais injustiça, apenas fraternidade, paz, amor, respeito, autonomia, alegria plena sobre toda a Terra. Esta é a promessa bíblica, é a promessa do texto de Gênesis feita, aqui, de uma maneira muito simples.
O texto é tão enxuto, o texto é tão resumido e quando nós vamos tirando todas estas coisas dele, o texto cresce. Pois bem. Era isso que nós queríamos estudar neste episódio.
No próximo episódio, nós vamos começar a história. A história vai começar mal, mas vai começar. Mas, aqui, nós podemos dizer que o final será feliz.
final será feliz. Ela começa com a inversão de papéis: o ser humano assumindo a posição do Criador, tirando o Criador do centro, jogando-O para os lados e, daí, a história da evolução é voltar o Criador para o centro da nossa vida íntima, para a vida da sociedade, ou seja, Deus-rei, Deus no comando. Mas, um comando que nós aceitamos, a que nós aderimos, um comando em que há adesão, não é imposto (eu peço para Ele comandar).
Por quê? Porque eu reconheço a Sua transcendência, a Sua onipotência e todos os Seus atributos. É a grande lição da crucificação.
Independente de todas as circunstâncias que aconteceram na crucificação de Jesus, qual é a lição? A lição é: o governador espiritual do planeta se entregando para Deus e dizendo _ “Pai, comanda! Eu, agora, obedeço.
Eu, agora, fico em silêncio e vou ouvir a tua vontade nas circunstâncias. ” E, assim, as circunstâncias foram perplexas: foi preso, levado, crucificado e, aí, vem o momento do ressurgimento do Cristo espiritual, onde ele reassume o posto de governador espiritual do orbe, porque enquanto ele estava encarnado, estava de licença da governadoria. Com a ressurreição, que é o ressurgimento espiritual do Cristo, ele vem como governador espiritual do orbe de novo.
Entregou para o Criador que conduziu tudo e que continua conduzindo e este ato de desprendimento do Cristo de absoluta entrega a Deus coroa o Cristo, mais uma vez, como um escolhido por Deus para comandar a Terra. Aquele que mais obedece é o que tem mais condições de comandar. Lembrando que ‘comandar’ é ‘mandar com’.
Nós sempre mandamos com Deus. Semana que vem, então, nós continuamos nesta belíssima história que já dura quase sete mil anos.