Hehehe. "Que sacanagem, que sacanagem o que fizeram com os homens da natureza selvagem". Cara, cê sabe né, o Brasil era todo ocupado basicamente do Maranhão ao Rio Grande do Sul, litoral brasileiro, por tribos do grupo tupi-guarani.
Havia pouquíssimas exceções. Os aimoré, na Bahia, do grupo macro-jê, e os goitacá, ou waitaká, como provavelmente se dizia, é uma das tribos com as histórias mais espantosas do Brasil colônia. Eles não eram do grupo tupi-guarani, né.
Mas a palavra waitaká muito provavelmente é. . .
Muito provavelmente não, com certeza é uma palavra tupi. O que não se sabe exatamente é o significado dela, né. Alguns dizem que vem de "guata" que vem de "corredor", "correr".
Outros dizem que é "aba ytá guaa" "homem + nadar + sabe". Homem que sabe nadar. Ou seja, ou o nome deles quer dizer que eles eram grandes corredores, ou quer dizer que eram grandes nadadores.
Porque de fato eles eram corredores e nadadores como raras vezes se viu no planeta, se a gente for confiar nos relatos dos cronistas do século 16. Só que são muitos relatos! São relatos dados por todos aqueles que viram e conseguiram chegar perto dos goitacá, né, porque chegou perto dos goitacá - morreu.
Bom, a minha tese é a seguinte: pobre tem que se dar mal. O canal Buenas Ideias é rico e só se interessa pelos ricos. Então, os grandes capitães do Brasil, os grandes donatários do Brasil, a maioria deles era rica, e ganhou grandes porções de terra, os seus lotes, as suas donatarias, as suas capitanias hereditárias.
O único pobre era quem? Era o Pero de Góis. Pero de Góis, que era o único cara dos 14 donatários que receberam terras no Brasil que não era ou uma criatura do rei, né, os caras ali que faziam parte da burocracia régia, ou um militar de carreira.
Ele era um mísero lugar tenente do Martim Afonso de Sousa, que fez a grande expedição. . .
Algum dia vou fazer um episódio sobre a expedição do Martim Afonso de Sousa e sobre o PULHA que era o Martim Afonso de Sousa. A partir dessa expedição do Martim Afonso de Sousa, de 1531, 1532, é que o Brasil acabou sendo dividido em capitanias hereditárias e o único cara desses que não era rico era o Pero de Góis e claro, ganhou a pior capitania do Brasil. Claro, não era a pior capitania do Brasil mas era a mais difícil de chegar por mar.
Era uma das menores também. Ela tinha 30 léguas de costa, ou seja, 180km. Algumas tinham 400, 500km, como as capitanias da Bahia.
E ela ia da foz do rio Itapemirim, no norte do Espírito Santo, até a foz do rio Macaé, perto de São Tomé, tanto é que ela viria a ser chamada de Capitania de São Tomé. E ali era um território repleto de brejais, de pântanos insalubres, sem nenhuma enseada natural, por onde os rios Itabapoana, Itapemirim, São Mateus e o Paraíba do Sul, despejavam as suas águas contra o oceano numa parte em que o próprio oceano tinha águas marrons, ainda tem, não era aquelas águas translúcidas ali de Búzios, né, de Cabo Frio, que ficava mais ou menos próximo dali, que daí já era capitania do Martim Afonso de Sousa, e que era anteriormente um território tamoio, tamoio! É, cara.
Os tamoio moravam ali, os tupiniquins moravam no sul da Bahia, e só sobrou esse trecho de brejais e pântanos pros waitaká. Provavelmente eles foram expulsos. .
. Porque cê sabe né, os tupi-guarani invadiram o litoral brasileiro ao redor do ano zero da Era Cristã, e expulsaram pros rigores do sertão, pros rigores do agreste, todas as outras tribos que eram descendentes dos chamados homens dos sambaquis, e que eram do grupo jê, os chamados tapuias, "tapuia" é uma palavra tupi que quer dizer "os bárbaros", os outros, os eles, os que não são que nem nós. É isso que quer dizer tapuia.
Aquele que não é que nem nós, aqueles que são os outros quer dizer "bárbaro". É isso que quer dizer "bárbaro", e tapuia quer dizer "bárbaro". Dentre esses grupos tapuias estava os goitacá, que eram os mais selvagens, os mais primitivos e os mais ferozes.
Eles eram mais altos que os tupis que já não eram baixos, eles tinham cabelos enormes até as costas, eles cortavam a franja, não tinham franja assim que nem Eduardo Bueno, eles cortavam assim pra tornar a fronte maior, eles tinham lanças enormes, eles andavam totalmente nus, totalmente nus, às vezes pintados e com umas penas, mas nus. Não dormiam em rede, que nem os tupi-guarani, dormiam no chão, e não comiam carne humana. .
. . Não comiam carne humana como ritual, comiam carne humana como mantimento!
Haha! Comiam carne humana para saciar a fome, comiam de comer mesmo. Porque cê sabe, os tupi-guarani, cê já viu aqui, o ritual antropofágico, já viu o maravilhoso episódio "O Banquete Antropofágico", era um ritual, não era assim pra matar a fome.
Os goitacá sim, comiam pra matar a fome. Eles viviam em palafitas em torno de um lugar que hoje chama, talvez não por acaso, Lagoa Feia. Viviam nas margens do Paraíba do Sul justamente onde hoje se ergue a cidade de Campos dos Goytacazes.
A cidade em cujo centro foram encontradas cinco toneladas de material arqueológico dos goitacá. Mas o mais incrível dos goitacá não é só o fato de que eles corriam tanto. .
. Ninguém conseguia alcançar eles na corrida. Várias vezes tentaram.
O Frei Vicente do Salvador, em 1600 e tanto, autor da primeira história do Brasil, ele diz que eles eram homens mais anfíbios do que terrestres. Porque eles viviam no meio dessas lagoas, lagoas feias e outros brejais com água pela cintura, e eles corriam pelo meio da água e dos pântanos e ninguém conseguia alcançá-los, e há relatos de que eles conseguiam alcançar um veado na corrida! Eles corriam do lado dum veado e PÁ, pegavam o veado na corrida!
Na corrida! E não é nem um nem dois relatos. Bom, mas o relato mais inacreditável, mais inacreditável feito sobre esses caras, é do próprio Frei Vicente do Salvador, que diz ter conhecido testemunhas oculares, não foi nem uma nem duas nem três, desse fato.
Sabe qual era o rito de iniciação dum jovem goitacá, com 18 anos de idade, quando ia virar guerreiro? Mergulhava no mar e ia em busca de um tubarão, quando encontrava o tubarão dava um soco no nariz do tubarão, o tubarão fazia "AH! " quando fazia "AH!
" ele PÁ, enfiava um pau na boca do tubarão e o tubarão "oooh", não conseguia fechar a boca, ele botava a mão dentro da boca do tubarão e arrancava as entranhas do tubarão! Porque todos os goitacá usavam um colar de dente de tubarão que era um sinal de que ele tinha virado um guerreiro. Olha aqui, olha o texto do Frei Vicente de Salvador, aqui, está no livro "Capitães do Brasil".
Essa história e todas as histórias dos capitães. Ó, essa história foi recém lançada, não sei se está em foco, "Capitães do Brasil". É, foi lançado, livro de Eduardo Bueno foi relançado com esta nova capa, já tinha falado sobre o lançamento?
Foi relançado. E aí olha o que diz o frei Vicente de Salvador. "São homens mais anfíbios do que terrestres, que nenhum português é capaz de capturar, pois ao se verem acossados, metem-se dentro das lagoas, onde ninguém, seja a pé, de barco ou a cavalo, é capaz de se aproximar deles.
São capazes de pescar tubarões a braço, para os quais levam um pau que lhes metem pela boca depois de lhe agredirem o focinho, e como o tubarão não a pode cerrar com o pau, com a outra mão então lhes arrancam as entranhas e com elas a vida, e os levam para a terra, não para os comerem, mas para com os seus dentes fazerem as pontas de suas flechas, que são peçonhentas e mortíferas, e os colares que os adornam". Hahaha! Viva o goitacá.
Mas se você disser "ah, mas esse frei Vicente de Salvador é um loroteiro". É, mas o Jean de Léry, o pastor calvinista que veio para o Rio de Janeiro junto com a ocupação da França Antártica diz o seguinte: "são grandes apreciadores de carne humana e a comem por mantimento, e não por vingança. É considerada a gente mais bárbara, mais cruel e mais indomável de todas as nações que habitam o Novo Mundo, selvagens estranhos e ferozes que não conseguem viver em paz nem entre si mesmos, e estão em guerra permanente com os seus vizinhos e com os estrangeiros".
E o André Thévet, que é o frei franciscano inimigo do Léry, que odiava o Léry, escreveu um livro contrapondo tudo que o Léry tinha dito, escreve praticamente a mesma coisa. Diz o seguinte: "os goitacá tão logo capturam o inimigo, imediatamente o trucidam e comem com pedaços quase crus, como fazem com outras carnes" e daí diz o seguinte, ele narra o caso de um guerreiro goitacá que ia ser sacrificado por um tupi, foi posto de joelhos, levou a borduna na cabeça, abriu a cabeça dele, os miolos apareceram, e mesmo assim ele se levantou e atacou seu carrasco, e eu jamais acreditaria nisso se não tivesse visto com os meus próprios olhos. André Thévet.
Então cará, esses eram os goitacá. E o próprio Pero Góis ganhou sua capitania bem no meio do território goitacá! Hahaha!
Se deu totalmente mal, os goitacá atacaram um milhão de vezes a chamada Vila da Rainha, que ele criou onde hoje. . .
Não se sabe bem onde mas se supõe que seja exatamente onde hoje fica a cidade de Campos e ela foi atacada pelos goitacá, depois foi atacada pelos piratas, e o Pero Góis morre no Seilão, porque ele teve que abandonar a sua capitania de São Tomé, que é essa onde hoje é o fim do Espírito Santo, porque ali era um território goitacá. E o que aconteceu? Aconteceu que era impossível vencê-los, então no inicio do século 17, os brancos deixam um monte de roupas contaminadas com varíola, contaminadas propositalmente com varíola, e alguns desses índios recolhem essas roupas e tocam nessas roupas e se espalha uma grande epidemia de varíola e a tribo que tivera 12 mil integrantes, 12 mil, a nação goitacá teve 12 mil habitantes, é exterminada.
E sai da história. Teria saído totalmente de vez da história se não tivessem criado a cidade de Campos dos Goytacazes e se não tivessem por volta da década de 90, bem no início da década de 90, feito uma estátua em homenagem ao índio goitacá. Só que daí em 2006 derrubaram a estátua, tiraram a estátua, jogaram num terreno baldio e a estátua tá lá agonizando, como agonizou e foi dizimada a tribo goitacá, em mais um episódio de alma indígena do canal Buenas Ideias, pois contaremos a história de todas as grandes nações indígenas do Brasil pra você saber que a gente vive em cima de cadáveres dos povos nativos que habitavam essa região.
Agora também tem outro lado, né! Se tu tivesse que encarar um goitacá, não tinha muita conversa. .
. Era difícil levar um lero com goitacá. Mas também, matar com varíola foi covardia demais, né.
E assim termina esse trágico e turbulento episódio que nunca vai cair no enem.