a colonização da internet

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Matheus Sodré
o sonho do cyberespaço, a colonização corporativa da internet, a distorção do nosso senso de identid...
Video Transcript:
Eu sinto que a gente vai passar o resto das nossas vidas perseguindo a sensação do que era estar na internet nos anos 2000 e isso não é só nostalgia e tá longe também de ser uma saudade idealizada essa é a saudade de uma internet que foi construída a base de trocas e interações humanas uma internet que era um lugar um espaço feito de pessoas por onde você andava circulava e explorava e eventualmente saía hoje a internet existe quase que exclusivamente como experiência de consumo principalmente no mercado da sua atenção toda página é um anúncio toda
plataforma é uma corporação todo conteúdo é monetizável todo hobby é uma chance de fazer publicidade e se nos anos 2000 a gente entrava em buscadores e pesquisava novos sites fóruns comunidades projetos hoje é tudo dado pra gente a partir de timelines algoritmos mastigados para reter a nossa atenção a gente não nutre mais a autonomia de descobrir alguma coisa nova e não tem mais quase ninguém também construindo alguma coisa diferente para ser encontrado navegar na internet era uma experiência menos filtrada menos monitorada menos limitada que não concentrava milhões de pessoas numa mesma rede no mesmo mesmo
fluxo de informação como fazem asas redes sociais a internet er no território ser explorado uma Várzea infinitamente menos corporativa e privatizada um oceano de pequenas Ilhas a serem mapeadas e eventualmente colonizadas por grandes conglomerados uma coisa que pouca gente antecipou e que é a verdadeira tragédia do sonho que a gente nutria sobre o que ISO poderia ser internet não que ela já não tenha surgido com forte orientação ao lucro Mas pensa que antigamente você tinha uma digitalização muito menor do sistema bancário uma integração muito menos eficiente segura com sistemas de pagamento online e por consequência
uma confiança muito Menor da população geral entregar os seus dados a qualquer tipo de site para consumir alguma coisa nesse momento a globalização e a produção de computadores pessoais em massa que são dois processos absolutamente interconectados tava só começando e isso levaria talvez inevitavelmente a essa Blade Runner iação do cyberespaço mas não sem antes ter sido um lugar de hobos tribos conexões sonhos e muita missionação cultural e eu acho que tem uma forma boa de explicar onde começa essa transformação da internet antiga essa internet hiper capitalista que hoje a gente experiencia o tempo [Música] [Música]
inteiro não é um exagero falar que tudo começa a mudar a partir dos anos 10 com a introdução e popularização dos smartphones e também com a explosão das redes sociais [Aplausos] noy Internet ali finalmente Deixa de ser uma coisa que você só acessa na sua casa num computador fixo e passa se tornar é uma coisa que tá no seu bolso o tempo [Música] inteiro e ali a internet se torna onipresente nas nossas vidas vocês T noção que há muito pouco tempo há 15 anos atrás H 20 anos atrás esse não era o caso existe um
processo aí no meio que eu considero crucial pra gente entender as consequências dessa transformação que é a simplificação das interfaces [Música] por interface eu quero dizer a organização de informação e utilização de um sistema é através da interface que você acessa o potencial de um computador seja navegando na internet vendo os seus arquivos dentro do sistema baixando um aplicativo usando um software jogando um jogo uma interface é a conexão de dois sistemas que não são capazes de se comunicarem por conta própria pensa na interface como um painel com as ferramentas e botões que você tem
a sua disposição para fazer uso de algum sistema agora deixa eu contextualizar isso dentro da conversa que a gente tá tendo se antes você procurava por sites espalhados por aí pesquisando por interesses no Google ou Yahoo encontrando resultados de forma orgânica clicando página por página você agora nos anos 10 abre o buscador do tiktok para encontrar vídeos sobre o que você tá interessado ou acesso redit entra num subfórum ali das informações que te interessam ou até abre o Facebook e pesquisa um grupo bar comunidade que discute esse tipo de tema se antes você instalava programas
hoje você baixa aplicativos na App Store são alguns botões e você já tem aquilo instalado você nem configura a instalação como você faz por exemplo no Windows se antes você baixava filmes pesquisava por eles na internet ou até comprava um DVD hoje a partir de alguns botões você tem acesso a um catálogo privado para assistir esses filmes e eles não são seus sacou não existe todo mundo ter um computador em casa e um telefone no bolso ao longo do dia inteiro sem isso a carretar na na simplificação das interfaces de uso já que você tem
um volume muito grande de pessoas milhões bilhões de pessoas fazendo uso dessa tecnologia e elas precisam conseguir usar ela com facilidade não pode haver barreira de entrada para uso de tecnologia senão você perde um consumidor em potencial isso naturalmente vai acelerar criação de espaços comuns para essas bilhões de pessoas as redes [Música] sociais [Música] Só que essa interface não é só uma organização ela é uma hierarquia Isso muda tudo o seu telefone só baixa aplicativos aprovados pela App Store as suas comunidades virtuais estão hospedadas no Facebook ou no Red ambos pertencentes a grandes conglomerados de
mídia e assim você tá sujeito às regras daquela plataforma moderação daquela plataforma os anúncios a coleta de dados e por aí vai gradualmente essa internet livre passa a se organizar inteiramente dentro de ecossistemas providenciados por essas Mega corporações que começam a dominar demarcar e reorganizar todo o seu território é um processo de colonização como qualquer outro em menos de uma década as empresas de bigtech digitais não só dominam inteiramente a jurisdição do Cyber espaço como também se tornam instituições capazes de definir eleições e desestabilizar governos ao redor do mundo e assim rápido demais o mundo
digital se mescla oo físico com agravante que esse processo tá sendo acelerado por razões inteiramente mercadológicas e a consequência hoje desse processo é que a gente se relaciona com o online a partir de uma interface hiper capitalista um oceano simplificado de navegação onde todos os seus poucos botões sugerem alguma forma de [Música] consumo e assim não dá para começar a falar sobre o quanto isso deformou o nosso senso de identidade não só no mundo digital como também também no físico o quanto isso nos tornou imensamente mais consumistas nos fez mais vigiados e fez a gente
vender cada pedaço do nosso tempo da nossa atenção da nossa localização das nossas vozes das nossas opiniões dos nossos rostos hoje a nossa identidade é um mosaico de milhares de fragmentos diferentes e todos eles estão à venda é um monte de coisa que a gente compra para cobrir o buraco dos espaços que vendemos de nós mesmos e nessa lógica existir vira um ato transacional também que esvazia demais o nosso senso de propósito no mundo porque afinal quem somos o que que sobrou da nossa ideia de ser o que que significa ser hoje quem cresceu nos
anos 90 entende as nuances de como se estruturou a internet até sabe Navegar em cima dessa mudança de interface justamente por ter uma perspectiva que antecede ela e que por isso eu tenho a impressão ainda tem uma noção do eu muito mais amparada no mundo físico por mais que a gente seja engolido por esse universo a gente sabe que existe algo que antecede ele que existe uma realidade real que já estava aqui antes disso surgir e eu acho que isso faz com que a gente consiga olhar pro digital mantendo os no nossos pés no chão
amparados na realidade física agora quem cresceu nesse final de cauda de hipercapitalismo nesses últimos 15 anos com a tela de iPad e iPhone já percebidos como parte da sua realidade desde a sua infância Eu sinto que tem o seu senso de identidade profundamente afetado e infectado por crescer já inserido nesse ambiente de consumo imagina crescer já naturalizando a ideia de que a realidade física e a digital tem a mesma importância Agora imagina o quanto afeta o seu senso de si próprio crescer num fluxo massivo de redes sociais se tornar alguém nesse fluxo desde a infância
com uma tela na mão a geração mais nova não é exposta somente a sua própria realidade a realidade que tá ao seu redor mas há outras milhões de realidades a partir das infinitas janelas das redes sociais só que esse é o pulo do gato não são janelas são vitrines E aí mais uma vez o que que sobra do Eu a rede social emula em forma de conteúdo à vida real ou seja ela apresenta uma simulação distorcida uma representação limitada e falha da realidade orientada apenas pela Ótica do consumo é o que o bodr lar chama
de simulacro um termo que representa uma simulação imperfeita do real um shopping center de certa forma é um simulacro de uma cidade com a exceção de que todas as entradas ali são lojas e tudo é seguro É a simulação distorcida de fazer compras na rua só que em segurança então agora imagina isso pessoas de 8 12 15 18 anos são apresentados a uma infinidade de realidades e aspirações a partir das suas telas vidas que querem Levar produtos que desejam ter experiências que sonham e viver estilos de roupa que querem consumir só que nada disso é
real essa é uma geração que navega em um shopping center virtual desde que nasceu mas que desconhece outra possibilidade de realidade e que portanto entende isso não como um simulacro mas como a própria realidade em si a única realidade possível e que por consequência busca descobrir quem é no mundo busca explorar o seu senso de ident idade exclusivamente através da vitrine e não do espelho e eu penso que cada vez mais quando a gente olha pro espelho a gente quer que o espelho reflita uma vitrine para nós mesmos mas principalmente pros outros porque me parece
cada vez mais que se validar ser existir deixar uma pegada é provocar no outro um desejo de consumo em cima da sua própria performance de si e essa engrenagem digital massiva pautada exclusivamente a partir de um sistema de economia de atenção que te gruda na tela e que faz com que a gente cada vez menos tenha experiência reais amparadas no real no plano físico e da nossa realidade que são verdadeiramente capazes de produzir uma ideia de quem nós somos faz com que cada vez mais a gente substitua aquilo que é Genuíno por performances de consumo
que imitam aquilo que é Genuíno entendeu conforme a gente mergulha numa rede de espelhos que na verdade são vitrines e passa a se comportar como vitrines também restam poucas experiências nossas e reais físicas capazes de produzir algum senso seu de identidade no mundo e consequentemente a gente se vê cada vez mais alienado da ideia ideia de quem somos de uma forma bem complexa nós nos tornamos avatares de nós mesmos ou melhor nós nos tornamos simulacros de nós mesmos uma simulação imperfeita e higienizada de quem a gente é mas que na verdade não é quem a
gente é e é amparado numa ideia falsa de quem a gente quer ser é uma doideira e aí a gente flutua cada vez mais em direção à nossa avatara que eu diria hoje que é uma espécie de Hiper identidade Nossa o que eu chamei de vitrine nada mais é do que esse processo de se tornar um Avatar virtual um agrupamento de signos que definem quem você é de forma simplificada o que também é um marcador curioso dessa mudança de era antigamente a gente produziu uma identidade do zero dentro do online nicknames imagens assinaturas talvez pelo
medo do desconhecido da falta de verificação existia uma certa cultura de preferência ao Anonimato nos espaços públicos digitais a gente assumia outra identidade e eu sentia que antes de todo mundo virar vitrine também existia uma possibilidade muito maior de conexões genuínas e por consequência possibilidade da gente exercer com a internet ou fora dela um senso de comunidade pertença e verdadeiramente é uma coisa que dá sentido para quem nós somos comunidade essa talvez seja a grande falta que eu sinto estando dentro da internet hoje a internet hiper capitalista é um processo Irresistível como não comparar cada
fragmento da sua vida as milhões de falsas realidades que a gente acessa nas redes sociais e quais são as consequências do caminho oposto quando o mundo digital transborda para dentro do mundo físico como a gente percebe a realidade física a gente está o tempo inteiro com o telefone na mão comparando Essa realidade com as outras milhões de realidades falsas virtuais que a gente tá consumindo na internet o tempo inteiro Qual o nível de dissociação que isso é capaz de produzir o quanto isso infecta os nossos relacionamentos nosso senso de amizade e comunidade no mundo real
o quanto isso nos tira dos nossos próprios corpos e faz com que a gente deseja ser outras pessoas e nem isso na verdade mas a ideia de uma outra pessoa que a gente consumiu em forma de conteúdo e que agora Quer ser essa forma de conteúdo também essa performance também então a gente compre os elementos necessários para performar e assim ser hoje o ser se valida também a partir da nossa a capacidade de performar e vitrinis aquilo que desejamos afirmar que somos nesse processo de pulverização e venda de cada pedaço de nós todas as nossas
nuances de identidade são substituídas por performances de consumo pré-prontas skins que vestimos em nós mesmos para dizer que agora a gente é alguma coisa sei lá talvez a gente não devesse saber tanto assim de uma forma tão distorcida sobre a vida de tanta gente porque sobra muito pouco para descobrir nós mesmos quem somos a partir das nossas experiências no mundo físico que também se torna debilitado pelo mundo digital e pela sua presença dentro dele a gente perde o nosso senso de dia a dia e a gente perde o nosso senso de identidade a partir dos
erros acertos autoavaliações mudanças pensamentos que a gente acaba emitindo nesse processo em um mundo de bilhões de pessoas ditadas por um algoritmo existe uma customização infinita de performance de consumo mas também uma crescente limitação das nossas subjetividades porque afinal pautamos toda a nossa percepção de real a partir das nossas experiências de consumo consumo esse como muito bem dito que é o nosso último ato político e consequentemente nossa única forma de expressar valores vaidades amores frustrações vontades desejos ânsias medos todo o nosso diálogo com nós mesmos se torna cada vez mais transacional e amparado por milhões
de telas que dizem De onde viemos e Para onde vamos que no final talvez apenas reflita o nosso amplo estado coletivo de imobilização e alienação diante de uma iminente catástrofe Global será que esse é o novo mal do século muito obrigado por ter assistido até aqui [Música] e [Música]
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