Vitória Mendes se aproximava da ala de cirurgia com o jaleco simples, sem seu habitual crachá de diretora médica. O olhar altivo, porém discreto, não sugeria seu cargo no topo da hierarquia hospitalar. Os corredores, sempre cheios de enfermeiras apressadas e médicos de rosto fechado, estavam especialmente tensos naquela manhã.
Ao entrar na sala de cirurgia, ouviu a porta se fechar atrás de si; o silêncio súbito a fez perceber que havia alguém observando. Ela se virou devagar, seus olhos encontrando o semblante severo de Dr César Almeida, o renomado cirurgião que nunca jamais olhava duas vezes para uma enfermeira, pelo menos não até aquele dia. Vitória Mendes, um nome que ecoava com respeito entre aqueles que conheciam sua trajetória, mas naquele momento, na ala de cirurgia, ela era apenas mais uma figura no cenário habitual do hospital, disfarçada pela humildade que sempre prezou.
Estava ajudando como substituta de uma enfermeira que precisou se ausentar; seu coração ainda carregava a mesma paixão pela medicina como nos dias em que corria de um lado para o outro em plantões intermináveis. Dr César Almeida entrou na sala com passos firmes e olhar arrogante, mal percebendo Vitória em seu caminho. "Enfermeira, o que está fazendo aqui?
Não deveria estar esterilizando os instrumentos? " ele disse, sem nem ao menos levantar os olhos de seu celular. O tom de sua voz era uma mistura de desdém e pressa, típico de alguém que se acreditava superior a todos.
Vitória levantou a cabeça, encarando o cirurgião por um momento, mas permaneceu em silêncio. Sabia quem ele era, sabia que ele não a reconhecia sem o crachá dourado de diretora pendurado no peito. Sua vontade era responder, mas optou pelo silêncio; seu silêncio nunca fora um sinal de fraqueza, mas de estratégia.
Conhecia aquele ambiente e sabia como as palavras precipitadas poderiam pesar em sua trajetória. Dr César se virou para outro médico que assistia à cena com certo desconforto. "Essas enfermeiras pensam que podem ditar o que fazemos", murmurou ele, alto o bastante para todos ouvirem.
Os outros médicos e enfermeiros trocaram olhares, alguns chocados, outros resignados. Sabiam que o comportamento de César era comum, mas naquele dia sentiam que algo estava prestes a mudar. Vitória respirou fundo, sentindo o peso da injustiça que tantas vezes carregou nas costas.
Ela não era mais a jovem enfermeira insegura que precisou engolir o orgulho para sobreviver; agora era diretora médica. Seu silêncio, naquele momento, era uma escolha. Ela sabia que o poder estava em suas mãos, mas optava pela serenidade, um lembrete constante de que dignidade é mais forte do que arrogância.
À medida que a manhã avançava, a tensão nos corredores do hospital só aumentava. As enfermeiras cochichavam entre si sobre o incidente; algumas sabiam quem era Vitória, mas a maioria ainda a via como apenas mais uma enfermeira. O comportamento de César havia cruzado uma linha, mas poucos ousariam confrontá-lo.
O hospital era um ambiente de camadas invisíveis, onde o respeito era frequentemente confundido com medo. Ao final do turno, Vitória retornou ao seu escritório, onde o crachá dourado a esperava sobre a mesa. Ela pegou o crachá com as mãos firmes, relembrando cada momento difícil de sua carreira, crescendo em uma comunidade humilde, estudando em condições adversas e sendo muitas vezes a única mulher negra em salas de cirurgia dominadas por homens brancos.
Havia aprendido a lutar com estratégia e resiliência. Enquanto refletia sobre o incidente com Dr César, o rosto de uma jovem enfermeira recém-contratada surgiu em sua mente: Maria, tímida e dedicada, lembrava muito a jovem Vitória. Talvez fosse por isso que o comportamento de César a irritava tanto.
Ela sabia que a arrogância dele não era apenas um problema individual, mas um sintoma de algo maior, uma cultura de desrespeito profundamente enraizada. Dr César, por outro lado, mal se deu conta do impacto de suas palavras. Para ele, aquilo era apenas mais um dia no hospital, mais uma interação casual com uma enfermeira que, em sua visão, estava ali para servi-lo.
Ele nunca soubera das lutas que Vitória enfrentara para chegar onde estava e, naquele momento, ele nem ao menos sabia quem ela era. Quando o expediente terminou, Vitória convocou uma reunião de emergência com a diretoria do hospital. A sala de conferências estava cheia de rostos curiosos e atentos.
César foi o último a entrar, com o habitual ar de superioridade; ele sequer olhou para Vitória, sem perceber que ela estava sentada à cabeceira da mesa. Ao começar a reunião, Vitória manteve a postura calma e firme que sempre a caracterizou. "Antes de entrarmos na pauta de hoje, quero mencionar um incidente ocorrido mais cedo", disse ela, lançando um breve olhar para César, que ainda parecia alheio ao que estava por vir.
"É importante que todos, independentemente de cargo, sejam tratados com respeito dentro desta instituição. " César, surpreso, finalmente levantou os olhos e viu quem estava falando; seu rosto mudou de cor instantaneamente. A mulher que ele humilhou mais cedo era, na verdade, a diretora médica.
O peso do que havia feito começou a cair sobre ele, mas seu orgulho ainda o mantinha firme na cadeira. Ele não conseguia acreditar no que estava acontecendo. O silêncio na sala era quase palpável; os outros membros da diretoria olhavam para César, esperando por uma reação.
Vitória, no entanto, não queria uma cena de humilhação pública; queria que ele refletisse sobre suas ações. Ela finalizou a reunião com uma decisão firme: "Vamos discutir como podemos melhorar o ambiente de trabalho, começando pela forma como tratamos uns aos outros. " Após a reunião, César deixou a sala em silêncio.
Ele sabia que havia errado, mas não sabia como consertar. Sua carreira, construída em cima de uma reputação impecável, agora estava manchada por um incidente que poderia ter sido evitado com um simples gesto de respeito. A ironia da situação não passou despercebida por ele.
Vitória, por outro lado, voltou ao seu escritório com a consciência tranquila; ela sabia que aquele era apenas o começo de uma mudança maior. No hospital, o incidente com César não era o primeiro, mas ela prometeu a si mesma que faria de tudo para que fosse o último. Afinal, seu poder não estava apenas em seu cargo, mas em sua capacidade de transformar o ambiente ao seu redor.
Dr César Almeida, após o incidente com Vitória, passou os dias seguintes em um estado de constante inquietação. Cada vez que olhava nos olhos de uma enfermeira, sentia o peso da vergonha, uma sensação incomum para alguém tão acostumado a ser admirado e temido. O hospital, antes seu território incontestável, agora parecia uma arena de julgamentos silenciosos, e ele sabia, ainda que não fosse dito, que seu comportamento havia manchado sua reputação.
O orgulho que sempre o guiara agora parecia uma faca de dois gumes. Durante anos, César construiu uma armadura de arrogância para se proteger da pressão e das expectativas. Desde cedo, aprendeu que o médico não podia ser vulnerável; seu pai, também cirurgião, o ensinara que compaixão era uma fraqueza e que respeito era conquistado pelo medo, não pela gentileza.
Naquela semana, durante uma reunião da equipe médica, César sentiu o desconforto pela primeira vez em anos. O que antes seria uma oportunidade para reafirmar sua posição de poder, agora era uma lembrança do erro que cometera. Ele tentava ignorar os olhares furtivos de seus colegas, mas cada sussurro parecia aumentar a pressão em seus ombros.
"Preciso consertar isso", ele pensou, mas não sabia por onde começar. Paralelamente, Vitória Mendes continuava seu trabalho com a mesma dedicação de sempre. Embora o incidente com César tivesse causado alvoroço no hospital, ela não o mencionava diretamente.
Vitória acreditava que as mudanças verdadeiras precisavam vir da conscientização e do exemplo, não da exposição pública. Ela sabia que César precisava de tempo para refletir e, embora firme, preferia uma abordagem que inspirasse transformação genuína. A relação de Vitória com os outros funcionários do hospital também era motivo de comentários.
Sua habilidade de transitar entre as funções mais simples e os papéis de liderança impressionava a todos. Muitos enfermeiros e médicos a viam como um exemplo a ser seguido: uma líder que não apenas ditava regras, mas entendia o trabalho árduo e os desafios diários de todos os níveis da equipe. Em uma tarde, Maria, a jovem enfermeira que Vitória tão admirava, abordou-a timidamente no corredor.
"Doutora Vitória, eu só queria agradecer por como lidou com tudo. Muitas de nós se sentem mais seguras com você aqui. " Vitória sorriu com carinho, tocando suavemente o ombro da jovem.
"Estamos todas juntas nisso, Maria. Nunca se esqueça do seu valor. " A presença de Vitória começava a moldar o hospital de maneira sutil, mas poderosa.
As enfermeiras que antes andavam com a cabeça baixa agora caminhavam com mais confiança. Médicos que antes ignoravam suas sugestões passaram a ouvir com mais atenção. A cultura hierárquica que predominava no hospital começava a ser desafiada, e, embora a mudança fosse lenta, era evidente para quem estivesse atento.
César, no entanto, ainda estava preso em seu dilema. Durante uma noite de plantão, enquanto revisava prontuários, ele se pegou relembrando as palavras de seu pai: "Se você mostrar fraqueza, eles vão te devorar. " Mas agora, pela primeira vez, ele questionava se a fraqueza não estava, na verdade, em seu orgulho.
"O que eu ganho com tanto desdém? " César começou a perceber que, ao tentar ser forte, ele se isolou. Ele não era mais respeitado, e sim temido.
Em uma das manhãs seguintes, César estava no vestiário dos médicos quando viu Vitória conversando com uma equipe de enfermagem. O tom dela era caloroso; as enfermeiras riam e pareciam à vontade ao seu redor. Ele observou em silêncio uma estranha mistura de inveja e admiração crescendo dentro de si.
"Como ela conseguia inspirar tanto respeito sem precisar levantar a voz ou humilhar alguém? " Nesse mesmo dia, César decidiu tomar uma atitude. Ele sabia que não podia simplesmente ignorar o que havia acontecido.
Durante a troca de plantões, ele esperou que Vitória estivesse sozinha em seu escritório. Bateu à porta, o coração acelerado, algo que ele não experimentava há muito tempo. Quando ela abriu, seus olhos calmos encontraram os dele com uma expressão neutra mais atenta.
"Dr. Vitória, eu queria pedir desculpas," disse ele, com as palavras saindo mais difíceis do que imaginara. "Eu não sabia quem você era, mas, mais importante do que isso, percebo agora que isso não importa.
O que eu fiz foi errado, e não foi a primeira vez que agi assim. " Vitória o ouviu em silêncio, deixando que ele terminasse antes de responder. "Agradeço suas palavras, Dr César.
O reconhecimento do erro é o primeiro passo, mas o mais difícil vem depois. " Mudar. As palavras de Vitória ecoaram na mente de César enquanto ele deixava o escritório.
Ele sabia que não seria fácil transformar anos de comportamento enraizado em algo diferente, mas, pela primeira vez, estava disposto a tentar. Começava a entender que o verdadeiro respeito não era algo que se exigia, mas algo que se conquistava através de empatia e colaboração. Conforme as semanas se passavam, as mudanças no hospital se tornavam mais visíveis.
César começou a interagir de maneira mais respeitosa com as enfermeiras e a ouvir suas opiniões durante os procedimentos. O ambiente, antes de tensões invisíveis, se desanuviava. Vitória observava de longe, satisfeita, mas ciente de que o caminho ainda era longo.
No entanto, nem todos no hospital estavam contentes; as mães, médicos mais antigos, começaram a reclamar, sentindo que estavam perdendo seu poder sobre as enfermeiras. Surgiam murmúrios densos nos corredores, e a tensão começava a se acumular novamente, desta vez de maneira mais sutil, mas perigosa. Vitória sabia que estava mexendo em uma estrutura rígida e que a resistência viria com força.
A situação chegou ao ponto de ruptura quando um grupo de médicos se reuniu para confrontar Vitória diretamente, acusando-a de subverter a hierarquia. A reunião prometia ser tensa, e todos os olhos estavam voltados para a diretora médica. Vitória se preparou para enfrentar essa nova batalha, ciente de que a mudança não viria facilmente.
Verdadeira mudança sempre enfrenta resistência, mas determinada a não recuar, o relógio na rede do escritório de Vitória marcava 18:45 quando a mensagem chegou em seu celular: uma reunião emergencial havia sido convocada pelos médicos conservadores, liderados por um dos cirurgiões mais antigos do Hospital Dr Nogueira. Ela já previa que esse momento chegaria; as mudanças que estava promovendo, ainda que necessárias, estavam incomodando aqueles que se beneficiavam da velha cultura hierárquica. Respirou fundo, levantou-se de sua cadeira e caminhou até a sala de reuniões.
O ambiente estava carregado de tensão; todos os principais médicos do hospital estavam lá, inclusive Dr César, sentado mais ao fundo, observando em silêncio. Desde o incidente com Vitória, César havia mudado consideravelmente; estava mais atento às enfermeiras, mais aberto ao diálogo, mas ainda enfrentava o julgamento silencioso de seus colegas, que notavam sua transformação com estranhamento. Ele sabia que hoje seria o momento decisivo, não apenas para Vitória, mas também para ele.
Dr Nogueira começou a reunião com um tom frio e formal. "Dr Vitória, estamos aqui porque muitos de nós estamos preocupados com a direção que o hospital está tomando. Essas mudanças que a senhora está promovendo estão causando um desequilíbrio perigoso na nossa estrutura.
Não podemos permitir que enfermeiras ou outros funcionários de níveis inferiores sintam que podem interferir nas decisões médicas. Isso vai contra tudo que construímos. " Vitória manteve a postura firme, mas seu coração acelerava; ela já esperava esse tipo de resistência, mas o confronto direto sempre trazia desafios.
"Dr Nogueira, com todo o respeito, o que estamos construindo agora é um ambiente onde todos os profissionais são respeitados e ouvidos. A medicina não é apenas sobre conhecimento técnico; é sobre trabalho em equipe, e cada membro da equipe é essencial para o bem-estar do paciente. " "Você está subvertendo a autoridade dos médicos," interrompeu outro cirurgião, Dr Ramos, com os punhos cerrados sobre a mesa.
"Se as enfermeiras começarem a acreditar que têm o mesmo peso nas decisões, isso vai criar caos. Quem vai ser responsabilizado quando algo der errado? Elas não têm o nosso treinamento, não têm a nossa experiência.
" Vitória não hesitou. "Eu não estou sugerindo que enfermeiras ou qualquer outro funcionário assumam o papel de médicos. Estou dizendo que respeito e colaboração são essenciais para que todos desempenhem seu melhor.
Um hospital é uma máquina complexa, e subestimar qualquer engrenagem dessa máquina é pedir para que ela quebre. " Sua voz era firme, porém tranquila, mostrando que não cederia facilmente à pressão. César, observando o embate, sentiu um conflito interno.
Por anos, ele havia acreditado nas palavras de médicos como Nogueira e Ramos, mas agora enxergava a verdade nas palavras de Vitória. Havia sentido em primeira mão o impacto da colaboração e do respeito. E, mais do que isso, percebeu que o comportamento que ele e outros mantinham havia se tornado tóxico para o hospital.
Ele sabia que precisava se posicionar. "Dr Nogueira," César interrompeu, sua voz cortando o silêncio. Todos os olhos se voltaram para ele.
"Eu entendo a sua preocupação, mas a Dr Vitória está certa. O hospital não pode continuar funcionando com base no medo ou na subordinação cega. Desde que comecei a estar mais atento à equipe de enfermagem, percebi o quanto eles têm a contribuir e, sinceramente, nós temos falhado em reconhecer isso.
" O choque no rosto de Nogueira era visível. César, o cirurgião orgulhoso e intransigente, agora estava defendendo a mesma mudança que eles estavam ali para confrontar. "César, você não pode estar falando sério!
Você sempre foi um defensor da hierarquia, da disciplina rígida. Por que essa mudança repentina? " César respirou fundo; ele sabia que aquele era o momento de mostrar sua transformação.
"Porque eu estava errado, Dr Nogueira. Eu confundi autoridade com arrogância. Eu tratava as enfermeiras como se fossem peças substituíveis, mas elas são a espinha dorsal deste hospital.
E se continuarmos agindo como se fossem invisíveis, vamos perder o respeito, não apenas delas, mas de todos que trabalham aqui. Respeito não é dado com base em títulos; é conquistado. " O silêncio que se seguiu foi denso.
Vitória, embora surpresa com o apoio de César, permaneceu focada; ela sabia que ainda havia muito a ser dito. "O que estamos tentando fazer aqui," continuou ela, "é criar um ambiente mais saudável, onde todos possam se sentir valorizados e, consequentemente, oferecer o melhor cuidado possível aos nossos pacientes. Isso é o mais importante.
" Enquanto a reunião avançava, as enfermeiras no hospital também estavam discutindo as recentes mudanças. A liderança de Vitória havia dado a elas uma nova esperança. Maria, a jovem enfermeira que tantas vezes se sentira invisível, agora se via mais confiante, sabendo que havia alguém no topo que as representava.
"Vocês perceberam como o Dr César tem agido ultimamente? " comentou uma das enfermeiras no vestiário. "Nunca pensei que ele mudaria desse jeito.
" A transformação de César, embora sutil no início, estava tendo um impacto profundo nas dinâmicas de áreas. As enfermeiras agora se sentiam mais à vontade para sugerir ideias e discutir com os médicos sobre os cuidados dos pacientes, sem medo de serem ignoradas ou ridicularizadas. O ambiente no hospital, ainda tenso, começava a respirar um ar diferente de colaboração mútua.
Contudo, a resistência dos médicos conservadores continuava a crescer; eles viam as mudanças como uma ameaça à sua autoridade tradicional. "Nogueira," embora abalado pelo discurso de César, não estava disposto a ceder. "Vitória, eu te respeito, mas isso não vai funcionar.
Se continuarmos por esse caminho, perderemos o controle do hospital. O caos vai se instalar. " "Mas César, agora ao lado de Vitória, respondeu: "O caos já existe, Nogueira.
Nós apenas nos acostumamos com ele. " O clímax da história se aproximava. Vitória sabia que estava lidando com algo muito maior do que simples questões de gestão hospitalar; ela estava desafiando um sistema enraizado de poder e privilégio, e isso traria consequências.
Mas ao olhar para César, ao seu lado, para as enfermeiras que agora caminhavam com mais confiança pelos corredores, ela sabia que não estava sozinha e que, juntos, poderiam enfrentar. Qualquer resistência que viesse, o hospital parecia respirar uma atmosfera mais tensa e nervosa à medida que o dia do Conselho Executivo se aproximava. Dr Nogueira e seu grupo de médicos conservadores preparavam uma ofensiva final, determinada a barrar as mudanças que Vitória estava promovendo.
Eles haviam elaborado uma proposta formal para que o conselho revisasse as novas políticas de igualdade entre enfermeiros e médicos, argumentando que tais medidas estavam desestabilizando o funcionamento do hospital. No dia da reunião, o ambiente no hospital era de apreensão; os corredores, antes preenchidos pelo som rotineiro dos passos apressados, agora pareciam um murmúrio de expectativas e ansiedades. Muitos funcionários sabiam que aquele encontro definiria o futuro da cultura hospitalar.
Vitória se preparava mentalmente em seu escritório, revisando os pontos que havia levantado ao longo de sua jornada no hospital. Ela sabia que a resistência seria dura, mas estava confiante de que seu compromisso com um ambiente mais justo e colaborativo valia cada batalha. César, sentado em seu próprio escritório, ponderava sobre seu papel naquela reunião.
A transformação que ele havia experimentado desde o incidente com Vitória foi gradual, mas profunda. Ele sabia que estava indo contra tudo o que havia acreditado durante sua carreira, mas também sabia que algo maior estava em jogo. Pela primeira vez, ele estava verdadeiramente ao lado de algo em que acreditava, algo que fazia sentido não apenas para o ego, mas para a melhoria de todos ao redor.
Ele sabia que precisaria falar. A reunião do conselho começou com Dr Nogueira apresentando sua proposta. Ele falou com eloquência, argumentando que as mudanças implementadas por Vitória estavam quebrando a estrutura hierárquica que mantinha o hospital eficiente e sob controle.
Segundo ele, a liberdade das enfermeiras para expressar opiniões sobre decisões médicas estava prejudicando a eficiência, levando a confusões desnecessárias. Muitos membros do conselho ouviam atentamente, balançando a cabeça em aprovação silenciosa. Vitória, no entanto, sabia que a questão era muito mais profunda do que eficiência.
Quando Nogueira terminou, ela tomou a palavra: "O que estamos fazendo aqui não é quebrar a hierarquia, mas redefinir o respeito. Este hospital sempre foi eficiente, sim, mas a que custo? Enfermeiras e outros funcionários que compõem a base da nossa estrutura têm sido desrespeitados e desvalorizados.
Um hospital só pode ser verdadeiramente eficiente quando todos os membros da equipe trabalham juntos, de igual para igual, em um respeito mútuo. " César observava as expressões ao redor da mesa. Havia ceticismo, havia dúvidas, mas também havia atenção.
Ele sabia que Vitória havia tocado em um ponto vital, mas ainda não era suficiente. Dr Ramos se levantou em seguida, olhando diretamente para César: "César, você foi um dos médicos mais respeitados deste hospital por anos. Todos nós aqui admiramos sua trajetória.
Como você pode apoiar isso? Você, mais do que ninguém, sabe o valor da disciplina, da ordem. " Foi nesse momento que César percebeu que não havia volta.
Ele precisava se posicionar de uma vez por todas. Levantou-se, e a sala foi silenciosa. "Eu fui respeitado, sim, mas não pelo motivo certo.
Eu confundi disciplina com arrogância. Pensei que ser respeitado significava ser temido, mas nos últimos meses aprendi algo muito mais valioso: o verdadeiro respeito vem de ouvir, de colaborar. E se estamos falando de eficiência, o que poderia ser mais eficiente do que um hospital onde todos se sentem capacitados para dar o seu melhor?
" As palavras de César caíram como uma pedra na água. O choque foi visível em Dr Nogueira, mas também em alguns membros do conselho; aqueles que antes pareciam inclinados a apoiar a proposta conservadora agora estavam repensando suas posições. César, o cirurgião que sempre havia defendido a rigidez do sistema, estava publicamente reconhecendo seu erro.
Isso não podia ser ignorado. Vitória observou com atenção a mudança de clima na sala, sentindo uma mistura de gratidão e admiração por César, que havia superado seu orgulho para apoiar a causa que agora era maior do que ambos. Com César ao seu lado, ela sabia que havia uma chance real de transformar o hospital para melhor, mas ainda restava uma última resistência.
Dr Nogueira, em um último esforço, declarou: "Isso tudo é muito nobre, Dr. Vitória, mas quem pagará o preço se essas mudanças falharem? Estamos arriscando a vida de pacientes em nome de uma utopia de igualdade que, sinceramente, nunca funcionará em um hospital.
" Ele olhou ao redor, buscando apoio entre os colegas: "A hierarquia existe por uma razão. " Vitória, mantendo a calma, respondeu: "Não estamos aqui para criar uma utopia. Estamos aqui para criar um hospital onde todos—médicos, enfermeiros, técnicos—possam desempenhar suas funções de maneira plena, sem medo de represálias ou humilhações.
Se falharmos, será porque não tentamos o suficiente; mas se não fizermos nada, o preço será muito maior. Perderemos nossos melhores profissionais para a arrogância e nossos pacientes sofrerão as consequências. " Após essas palavras, o conselho se reuniu para votar.
A tensão na sala era palpável; todos sabiam que o resultado daquela votação não afetaria apenas as dinâmicas internas do hospital, mas também enviaria uma mensagem poderosa sobre o tipo de ambiente que eles queriam cultivar. Os minutos se arrastavam lentamente enquanto os votos eram contados. Quando o presidente do conselho finalmente revelou o resultado, um suspiro de alívio percorreu a sala: as mudanças de Vitória haviam sido aprovadas.
Os membros mais conservadores, embora ainda desconfortáveis, não conseguiram superar a força da verdade e a coragem demonstrada por Vitória e César. O hospital agora tinha uma nova direção, uma onde o respeito e a colaboração prevaleceram sobre a arrogância e o medo. Naquela noite, enquanto os funcionários do hospital começavam a ouvir sobre o resultado da reunião, o clima entre as enfermeiras e outros profissionais de saúde era de comemoração silenciosa.
Maria e suas colegas se abraçaram no vestiário, sabendo que algo profundo havia mudado. "Nós conseguimos", disse uma delas, com lágrimas nos olhos. "Agora somos vistas, somos ouvidas.
" A empatia e a união finalmente começavam a se tornar a norma naquele hospital. Vitória e César, ao final da. .
. Reunião. Se encontraram na saída.
César, com um sorriso tímido, disse: "Obrigado por me ensinar o que é respeito de verdade. " Vitória, tocada pela sinceridade dele, respondeu: "Você aprendeu por conta própria, César, e o hospital será melhor por isso. " Os dois caminharam pelos corredores juntos, sabendo que a batalha não estava totalmente vencida, mas certos de que haviam dado o primeiro passo crucial.
O hospital e todos que ali trabalhavam nunca mais seriam os mesmos. Ah!