Saindo da caverna - INÉDITA PAMONHA #09

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Clóvis de Barros
Neste episódio: conheça um pouco mais sobre o Mito da Caverna e as ideias de Platão. Se inscreva no...
Video Transcript:
[Acorde de violão] [Buzina de carro] Começa agora Inédita Pamonha, por instantes felizes, virginais e irrepetíveis. [Fundo musical] Olá! Seja bem-vindo a mais um Inédita Pamonha.
Um oferecimento dos nossos amigos da Eastman Chemical do Brasil, BNP Paribas Asset Management e Aché Profuse. Recentemente uma autoridade pública, um homem conhecido e importante, revelou ter lido várias vezes o Livro 7 da República de Platão, o chamado Mito da Caverna. E disse não tenha entendido nada.
Este Inédita Pamonha é uma contribuição. Não que tenhamos certeza de saber exatamente o que Platão tava pensando quando contou essa história. O que que ele queria dizer com ela.
Mas podemos dar o nosso palpite, a nossa interpretação. Se você vier comigo, eu pego você pela mão. Imagine que para Platão cada vivente humano, cada um de nós é constituído basicamente de duas partes.
De um lado o corpo, esse corpo o que é material, portanto feito de matéria orgânica, e finito. Isto é, certamente em deterioração e certamente com um fim determinado. Isto é, a finitude nos torna mortais, temos consciência desta finitude e da nossa condição.
Mas é só uma parte de nós, a outra parte Platão chamava de "alma". E essa "alma" não é material. Não sendo material, várias são as consequências.
Primeiro não está submetida a lógica da deterioração da matéria, não é como a matéria que átomo encontra átomo e acaba meio que um machucando o outro, erodindo o outro, desgastando o outro e assim por diante. Não, sendo alma imaterial ela não passa por esse mesmo processo de decomposição, de corrupção, e por isso esta alma não é infinita, esta alma sempre existiu e sempre existirá. Além disso, observe só que coisa mais interessante, não sendo matéria, não podemos também dizer onde ela se localiza exatamente, porque só a matéria ocupa um lugar.
Então esta alma, claro, poderá estar dentro de você, quem sabe na sua cabeça ou até mesmo fora, porque não? Afinal de contas, todas as simbologias são possíveis dado que não sendo matéria não está propriamente em lugar nenhum, não ocupa nenhum espaço. Muito bem, a partir daí você deve imaginar que a sua alma sempre existiu e sempre existirá.
Esta alma aí que está vinculada ao seu corpo. [Fundo musical] Você então me perguntará: e essa alma que não é matéria é responsável pelo quê? Bem, sua parte mais inferior é responsável pelas sensações, a sua parte intermediária é responsável por uma certa capacidade de indignação diante de alguma coisa com a qual não concordamos, que nos faça mal etc.
E, finalmente, a parte superior da alma é responsável pelo pensamento. Então, sensações a parte inferior da alma, a indignação a parte intermediária da alma e o pensamento a parte superior da alma. Então perceba, um corpo que vai acabar e uma alma aqui não acaba nunca, tendo existido sempre.
O nascimento é o momento em que se vincula a alma ao corpo, e naturalmente nos dizeres de Platão, a morte é um momento em que a alma se liberta do corpo e volta a viver sem ele, propriamente, volta a existir sem ele. Ótimo, e você levanta a mão e pergunta: e essa alma antes de estar vinculada ao corpo no nascimento, fazia o quê? Pois é, esta alma ocupava uma condição de muita proximidade com outras almas semelhantes, portanto, e ao mesmo tempo essa alma ela tinha grande familiaridade e grande proximidade, pasme você, das chamadas ideias perfeitas, das chamadas formas perfeitas, e também das verdades matemáticas e assim por diante.
Então imagine só que antes de você nascer as almas conviviam com outras almas no mundo das ideias, das formas perfeitas, de verdades absolutas, e aí você pergunta: escuta, que tipo de verdade, por exemplo? Dá uma dica para nós aí. Uai, você provavelmente já ouviu falar no Teorema de Pitágoras.
Ora, o Teorema de Pitágoras nos indica que em um triângulo retângulo, istó é, num triângulo em que um dos ângulos tem 90 graus o quadrado da hipotenusa corresponde à soma dos quadrados dos catetos. Eis aí uma verdade que é verdade verdade verdadeira, em tempos idos, em tempos contemporâneos, em Júpiter, em Netuno, no Japão, debaixo d'água, para pobres, para ricos, para pessoas bonitas, para pessoas feias, é portanto uma verdade que não é relativo a nada, ela é uma verdade indiscutível, e esse tipo de verdade estava lá, meio que em transitando e coabitando com a sua alma. E essa alma tinha grande familiaridade com este tipo de verdade.
[Fundo musical] O que acontece ao nascer? Vixe, ao nascer é como se fosse uma queda mesmo, você despenca. A alma despenca num corpo e a primeira consequência imediata deste despencar você não sabe o que é.
É o esquecimento de tudo aquilo que essa alma sabia tão bem quando estava lá no tal mundo das ideias. Vixe ela não lembra de mais nada, e aí ela se vê às voltas com esse corpo que tem olhos para ver, nariz para cheirar, ouvidos para ouvir, dedos para apalpar. E ela começa, de certa maneira, a ter que se submeter a essas experiências, não é?
A essas sensações que são oferecidas pelo corpo, e essa é a matéria prima do começo da vida. Não tem outro jeito, e o despencar é muito pesado, porque para quem estava acostumado com verdades absolutas, né? Ter que se reduzir a essas simplórias e rudimentares experiências do sentido é muito dramático, é muito redutor, porque sabe como é, os sentidos são fonte de muitos erros, não é?
Imagina você que num determinado momento, se você puser uma moeda do lado do Sol os dois parecerão ter o mesmo tamanho. Para você ver o nível de erro, né? Que os sentidos podem prover para nós, então esse momento do nascimento é tão assim, duro, que a criança chora e esbraveja, esperneia "não!
Não! Não! Não!
Estar submetido a este corpo é muito duro para mim". Mas não tem outro jeito, e aí, é claro, você perguntará: escuta, e aí ao longo da vida? Bem, haverá aqueles que pouco a pouco vão se dando conta da pobreza das sensações trazidas pelos sentidos, vão submetendo estas sensações, né?
Estes registros sensoriais a uma avaliação crítica, "pera lá, não sei se é bem assim, vamos ver se é bem assim", e aí o que acontece? Pouco a pouco nós vamos abandonando a dependência dessas sensações e vamos subindo em direção a abstrações maiores e vamos, de certa maneira, aperfeiçoando a nossa capacidade de refletir a respeito do que vemos, do que ouvimos, do que sentimos, e com isso vamos separando o que é mais confiável do que é menos confiável. E à medida que a vida passa, vamos cada vez mais recuperando aquela situação anterior ao nascimento, aonde transitávamos com fluência muito grande entre as ideias perfeitas, as formas perfeitas, e assim por diante.
Então podemos dizer que a vida boa é uma vida que vai nos garantindo uma certa independência dos sentidos e vai nos devolvendo uma certa familiaridade com as ideias que estão acessíveis apenas pela nossa inteligência, pelo nosso pensamento e assim por diante. Olha que coisa muito legal, no final das contas o que Platão está tentando nos ensinar é que essas verdades já estavam conosco ao nascer. Já faziam parte de nós ao nascer, já estavam na nossa alma, mas o nascimento representou um distanciamento, uma ruptura de tudo isso.
A vida boa, portanto, é uma vida de busca do conhecimento, que não é nada além de um reconhecimento, de uma retomada de contato com verdades que sempre fizeram parte da existência da nossa alma anterior ao nascimento. [Fundo musical] Puxa vida, que coisa mais linda. Professor, e o que isso tem a ver com o Mito da Caverna?
Agora vai ficar mais claro. Olha só, na alegoria da caverna no livro 7 da República, Patão conta que havia escravos acorrentados, e que estavam ali desde sempre olhando para parede da caverna, no interior da caverna, e por conta de um efeito de luz essas pessoas viam a sombras do que passava lá fora e elas, equivocadamente, tomavam essas sombras como sendo a realidade. Aí um deles conseguiu se soltar, saiu da caverna, e aí o que aconteceu?
Se deu conta de que a realidade não era a sombra, mas era o que estava fora da caverna. Esse primeiro contato fora da caverna foi muito dolorido, muita dificuldade na verdade para perceber que o que ele sempre tinha visto não passava de uma sombra. Aí quando ele volta para a caverna para avisar os seus colegas, antigos colegas escravos, ele de novo tem uma enorme dificuldade de adaptação, mas consegue se adaptar e avisar: ei vocês!
O que vocês estão vendo é só sombra. Vamos para fora porque é lá que tá o filé mignon da coisa, o legal da coisas e tal. E aí, claro, a galera ali não simpatiza com essa notícia, a galera não aceita essa notícia, e ele passa por maus momentos nesse seu retorno para a caverna.
Ora meus amigos, o que podemos concluir disso é que aquilo que vemos no interior da caverna, as tais sombras no interior da caverna, são as nossas experiências, são as nossas sensações, é aquilo que a gente vê no mundo com os olhos, cheira com o olfato, houve com a audição, sente, e assim por diante. Por outro lado, esse que consegue se desvencilhar é aquele que tem maior facilidade, digamos assim, para ir atrás desse resgate das coisas que a alma sempre soube. Lá fora da caverna a tal da realidade que é exibida como sombra no interior da caverna, esta realidade, são as ideias perfeitas, as formas perfeitas, as verdades absolutas com as quais a alma sempre teve familiaridade.
Então você percebe que ao retornar, este indivíduo ele avisa aos colegas que há ali um problema, e Platão com isso denuncia um certo senso comum, uma certa opinião comum, uma certa Doxa, um certo entendimento baseado, digamos, numa convicção compartilhada a respeito das coisas de que a realidade é o que a gente vê, a realidade depende das nossas experiências empíricas e ponto final. E o que Platão tentou dizer também é que esse que saiu, que teve mais facilidade para se libertar e ir para fora da caverna para poder ver o que acontecia lá, esse que descobriu a verdadeira realidade que é hierarquicamente superior às sombras, que até então eram tudo para ele, este é, de certa maneira, alguém com uma alma digamos, mais preparada, mais apetrechada, uma alma de ouro, uma alma mais forte, uma alma mais pujante, e os demais, claro, digamos, menos fortes de alma, menos preparados de alma, relutarão mais em enfrentar esse desafio que é sair da caverna, sair das sombras, sair aparências e ir atrás da verdade que todas as almas sempre conheceram muito bem. [Fundo musical] Era esta a mensagem de hoje.
Foi este o nosso Inédito Pamonha de hoje. Eu espero que você tenha desfrutado e curtido, e esta grande autoridade, pela qual todos temos grande apreço, e que disse ter lido tantas vezes o Livro 7 da República sem atribuir, fica aí uma sugestão para que essa nossa interpretação, que tem a humildade do tamanho do seu intérprete, possa lhe ajudar a uma releitura mais significada e mais cheia de valor. Muito obrigado, fiquem com Deus e até o próximo Inédita Pamonha, quinta-feira que vem, sempre com o aplauso incontido e o apoio sólido, de quem?
Ora da Eastman Chemical do Brasil, do BNP Paribas Asset Management e, também, do Aché Profuse. Valeu! Você ouviu o Inédita Pamonha, por Clóvis de Barros Filho, trazido até você pela revista INSPIRE-C.
Acesse: www. revistainspirec. com.
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