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Video Transcript:
[Música] Olá, terracos! Como é que vocês estão? Sou Rogério Vileira. Tá começando mais um "Inteligência Limitada", o programa onde a limitação da inteligência acontece somente por parte do apresentador que vos fala. Sempre trago pessoas mais inteligentes, mais interessantes e com vidas muito mais impressionantes do que a minha, do que a sua. Cara, apesar de você ter uma vida de rei... Eu tenho... Pô, você, cara! Veja a sua vida: você está com uma pessoa que você ama, sim! Você trabalha no melhor lugar do mundo, tem o melhor chefe, tem a Fabi com quem você se
dá super bem. Sim, de tudo isso aí uma é verdade... Ah! É só da sua mulher! Aí você... É só uma verdade, cara! Um... É verdade! Tá, poxa, agora eu fiquei preocupado, cara! Fica no ar aí o que é verdade ou não. Tá, tá bom, então tá bom! E o Corinthians, tá feliz com o Corinthians? Eu tô! Tá bom, então eu tô feliz. Espero que isso me dê mais felicidades aí durante o ano, né? Ô, tu! Como vai ser a participação do pessoal nessa live que o pessoal pediu muito, hein? Traz ele sozinho! Trouxemos a
voz do povo. É a voz de Deus. Pode dizer ao povo que eu fico... Não, como que é a frase? Pode dizer ao povo que eu fico... Depois eu quero saber se rolou essa frase porque ninguém tava lá gravando, ninguém tinha lá pra falar, não foi? Tem imagem? Tem, tem, tem vídeo? Não tem da época, então... Independência ou Morte? Também, às vezes o cara falou: "gente, é isso mesmo, é Independência!" Vai! Aí os caras falam: "não, coloca Independência ou Morte" e tal. É, eles usaram o chat GPT para deixar mais romantizado, né? Não o chat
GPT da época, o chat IMP, né? O Imperial, sei lá! O chat... é... sei lá! Tá, tá mal! Tá mal! Imperial! Vai, corre! Imperial! O Instagram da época era... Como que era o Instagram? Era o Instagram! Insta'd! Insta'd! Nossa, essa é boa! Essa é boa! Face Real, acho melhor a gente parar! É, vamos, vamos! Vamos pro programa! Manda aí! Como vai ser a participação do pessoal? Galera, é o seguinte, essa é uma live extremamente legal! Então você... Eu sei porque você falou legal, porque o pessoal tá pegando o seu pé que você sempre fala especial!
Exatamente! Então essa aqui é uma live muito legal! Então você pode participar com a gente aí, mandando seu super chat, mas a gente vai dar abertura para pessoas igualmente legais, que são os nossos queridos membros! Exato, exato! Ó, eu quero agradecer também todo mundo aí que votou na gente no iBest! Ganhamos vários prêmios lá, voltamos como os vitoriosos em mesa, em videocast e podcast! Exatamente, voto popular! Ou seja, foram vocês aí, então obrigado! Mais um ano que a gente ganhou lá, chegamos a 5 milhões! Merece a gente saltar de paraquedas! Eu quero ver quem vai!
Eu já falei que eu até iria, mas não tem paraquedas que me aguente. A gente já teve essa conversa, não? Eu acho que você... tá bom! A gente vai falar sobre isso! Tudo bem, antes de falar aqui sobre a família real, quero falar com você, terracos! Vamos falar do nosso patrocinador, que é Airbnb. No primeiro episódio patrocinado eu falei da viagem que eu fiz para uma cabana que reservei no Airbnb e hoje eu lembrei de uma outra viagem que eu fiz... Tut! Olha só, foi recente, pro litoral de São Paulo, que também foi muito bacana!
Ó, pra começar, eu adoro praia! Já falei aqui várias vezes! Meus pais moram em Santos, também adoro de verdade! Então quando bate os 5 minutos de querer viajar pra praia, eu já entro na plataforma do Airbnb, entro nas acomodações que eu já deixo salvas pra facilitar a vida e pronto! Só que dessa vez a casa que eu queria não tava disponível! É aquele negócio, né?! Então eu lembrei de um filtro que a plataforma tem, que é preferido dos hóspedes! Inclusive, já pega essa dica aí porque são as acomodações de maior sucesso no Airbnb. Enfim, o
que aconteceu foi que eu achei uma casa que fosse pé na areia, fui lá, reservei e fui! Sabe o que aconteceu? O quê? Tem coisa melhor do que chegar na casa, sabendo que a praia tá lá a poucos passos de você? No meu caso, praia tem que viver a maresia na cara! Sabe aquele negócio? Você abriu a porta, vem a maresia e aquele barulhinho do mar! Você tá dormindo com aquele barulhinho do mar 24 horas por dia na sua orelhinha! Eu acho muito legal! Deu alguns passos, mergulhei no mar! É isso, não tem preço! E
sabe o que não tem preço pra mim também? A liberdade de não ficar preso em horários e um monte de regras que todo hotel tem: café da manhã, o tibu na piscina, à noite churrasco... Por isso que eu sempre fico no Airbnb, muito melhor que hotel! Então é isso, se você curte viajar e viver experiências únicas, aproveita que o carnaval tá chegando! Entra agora mesmo na plataforma do Airbnb! Tenho certeza de que você terá uma casa muito mais legal do que você imaginou! Não é? Muito mais! Eu te chamei de twit, cara! Twit é porque
eu tava twitando esses… Ah, é twit? Não é twit? Ah, entendi! Tenho várias experiências pra compartilhar e vou falando aqui, hein! E vou incentivar vocês a viajarem mais! Esse dinheiro é um dinheiro muito bem gasto, não é? Pô, muito Airbnb já me salvou! Muito! Não, e viajar é bom! Pô, muito bom! Vamos viajar no carnaval! Vamos viajar! A gente vai parar aqui, eu, eu e você! Vamos vi... Não! Não, a gente cada um pra um lado! Mas não, não, não! Cada um para um lado: você vai para um lugar, eu vou para outro lugar, e
se eu for atrás de você, você não vai saber. Tá bom, então RBNB, vai lá e baixe o aplicativo agora. Quero também falar que esse episódio é um oferecimento da Inside. É nossa parcela de longa data, mais um ano tá com a gente. Nosso cupom "inteligência" garante 12% de desconto. Quanto é? 12%. Link na descrição e QR Code na tela. Adoro seu francês, cara! Valeu, gente. É isso, podemos ir para o episódio. Yeah, man! Então, Paulo, obrigado demais por ter voltado aqui. Todo mundo pedindo. Vamos falar desse assunto que é família imperial. Obrigado por ter
me chamado mais uma vez para estar aqui com você e pelo pessoal que pediu para eu falar desse assunto, né? Não, eu faço há 15 anos falando sobre isso. Já pensou se não gostar? Odeio, odeio! Queria falar sobre Marano, é Palmeiras. E esse livro aqui? Me fale sobre esse livro. Esse livro aqui, deixa eu colocar... tá saindo agora, saiu agora em novembro. Olha só o livrão, cara! E é uma... só que esse é meu, né? Esse é teu, já tá autografado e tal. Saiu agora pela Editora Record. A Record tá reeditando minha obra, e no
finalzinho do ano passado saiu "Aqui do Dom Pedro" com acréscimos. Então, todos os livros estão saindo com outras imagens e com acréscimos mesmo de estudos e coisas que eu fui descobrindo depois da primeira edição. Esse é o primeiro. Dom Pedro I é o primeiro que tá saindo agora pela Record. Isso que você falou é uma coisa interessante, assim: coisas que estão sendo descobertas, porque sempre aparecem novos manuscritos, aparecem novas pesquisas. Como que é? Não é uma verdade absoluta? Não, nunca! Pelo amor de Deus, não existe verdade absoluta. Depois de um tempo, todo mundo chega com,
como se diz, a consciência e fala "foi isso". Não é que nem você tava brincando agora, né? Diga ao povo que "fico" é muito maior do que isso. Na verdade, ele soltou um Twitter porque é mais rápido passar mensagens curtas. Se você olha o documento, é muito maior. Então, essas coisas... assim, é mais legal você ver o documento e perceber como chegou na gente, por que chegou desse jeito na gente. E por quê? Porque é mais fácil pro povo entender. Alguém olhou aquilo e falou: "Cara, essa mensagem aqui vai ficar com tantos caracteres, sabe assim,
vamos colocar curto pra pessoa entender". E o Dom Pedro era mestre nisso, ele era assim um grande marqueteiro, descarado. Era uma coisa assim: era muito forte essa questão de simbolismo. Então, essa coisa mesmo do "Independência ou Morte" estar em São Paulo era importante para mostrar que a independência não estava acontecendo só no Rio, sabe? São várias questões, e mesmo quando ele vai embora do Brasil, ele chega em Portugal, ele invade Portugal para brigar com o irmão lá que tinha tomado o trono da filha dele. Ele tá com uma galera que ele contratou, que é um
bando de mercenários. Então, tem escocês, tem irlandês, tem francês. E aí, ele voltou para Portugal junto com os meus fiéis portugueses. Não tinha quase fieis portugueses com ele, mas aquilo era para publicizar, entendeu? Então, ele era bom nessa linha, assim. Mesmo quando ele nasce no Palácio de Queluz em Portugal e ele morre no mesmo palácio, ele edita a própria morte para virar um herói romântico. Porque ele nasceu num quarto chamado "quarto Don Quixote", que tem os painéis do Don Quixote, né? Do Cervantes. E ele resolve morrer nesse mesmo quarto. Então, assim, ele pede para voltar
para esse palácio, sabe que ele tá morrendo. Quer dizer, ele edita a própria morte para essa questão do herói romântico. Que doideira, cara! Consciência mesmo de como ele queria ficar pra eternidade, pra história, né? Você percebe na própria caligrafia dele, quando ele tá escrevendo pra amante, quando ele tá escrevendo pra mulher, é um garrancho. Quando ele tá escrevendo algo que ele sabe que vai pra posteridade, nossa, a letra dele é a mais linda do mundo. Você imagina que tipo: o Lula, o Bolsonaro, o Sarney, todos esses caras, quando estão aqui, eles pensam em tudo também,
tipo como vou ser lembrado daqui a 50 anos? Eles pensam nisso. E na hora do discurso ou na hora de escrever alguma coisa, eles têm toda a autoridade, têm essa ideia de querer ficar. Algumas coisas têm, né? Algumas frases de efeito, você vê, isso é pra marcar de alguma maneira aquele tempo dele naquele local. E sempre, ou na maior parte das vezes, tem uma pessoa que escreve pra eles, né? Os discursos. Não é? Tem, geralmente, tem! Mesmo no caso que nem do... Já! Nossa! Agora eu tô escrevendo a biografia do Dom João VI, que é
o pai dele, que vai sair o ano que vem. Sei, tem carta dele assim. Tem! Eu achei a carta que ele escreveu pro próprio filho, pro Dom Pedro. Só que assim, tem a carta dele pro ministro, pro conselheiro, falando: "Ah, o que que eu tenho que escrever pra ele?" Então, assim, o cara escrevia dentro do que sabia da política, do contexto total. E aí, ele passava meio que a limpo. Às vezes colocava uma coisa ou outra, claro, claro que vem a qualidade do cara ser um bom orador também, né? Você vê aquele discurso... aquele discurso
do JFK sobre a corrida espacial é famoso pra caramba, né? Ou nem... nem o Martin Luther King, né? São pessoas que... Marcaram, de alguma maneira. Ficou aquilo de um jeito, né, cara? É como o R. Pên Morte que você comentou. Então, são frases que são nada, é muito, infelizmente. Infelizmente, o Hitler devia ser um ótimo orador também para convencer tanta gente daquela loucura; ele devia falar bem. Ah, mas é fácil, né? Vamos combinar: você tem uma ideologia, independente do peg, você pega um momento do pessoal de desespero também, né? Desespero! Você mostra o culpado. "Culpa",
"culpado"! Vocês estão assim: "Ó, culpado aqui!" Aí tu: "Ah, é verdade, é." Olha! Então, é só eliminar aquilo e a gente consegue o que a gente quer. E tinha um cara bom também de marketing lá, né? Exato! Sempre tem um cara atrás cuidando da imagem. Nesse caso, não tinha muito não, porque ele era muito, assim, tem esses momentos marcantes. Como eu falei, mas tem alguns que são os rompantes, principalmente quando ele tá aprendendo um pouco o ofício dele como governante. Você vê que ele dá umas deslizadas, assim, que você, por exemplo, aqui em Taubaté, quando
ele vem para São Paulo em 22, ele vai para Taubaté e um cara parece de peruca, com uma roupa super antiga. Ele começa a dar risada porque o cara parece saído do museu, né? Não era a moda da época. O cara fica puto, o cara fica muito magoado. Era um velhinho e ele fala assim: "Mas sabe, com essa roupa e com essa peruca, eu servi os pais e os avós de vossa majestade!" Ele fica, ele sai dando tudo quanto é comenda pro cara, sabe? O cara ficou muito. E aí tem esse lado humano dele que
pega. Então, o problema dele é isso, entendeu? Que ele é, de todos os meus biografados, ele é o mais humano. Você vê uma humanidade nele. Ah, quer dizer, é uma humanidade, todos eram mais humanos, mas, assim, ele se deixa ver. Ele não é um personagem único, entendeu? Tipo assim: "Ah, não, eu sou o imperador o tempo todo." Não! E tem algumas horas que ele é pai, que ele dá bronca nos filhos, que ele manda os filhos estudarem. Isso é interessante, essas correspondências, porque mostram como que ele entendia a época dele, que estava já numa evolução
muito grande. Todo mundo, coitado, o cara abrindo água; parou a conversa aqui, parece aquele cara no cinema. Abriu uma bala e ele todo com cuidado aqui. Parabéns, hein! Mas por onde a gente pode começar? Dar um contexto da época? O que estava acontecendo no Brasil e no mundo? O contexto da época é bem fascinante, porque você está no pós-revolução francesa, onde chegou uma galera que falou: "Olha, nós queremos também ter direitos, então não aceitamos mais do jeito que está." Então, assim começa a queda dos privilégios. Então, os privilégios que a nobreza tinha, os privilégios que
o clero tinha, isso começa a acabar, e é questionar. E cai com a Revolução Francesa. Isso já vem numa onda com o Iluminismo, uma ideia mais abrangente da vida, né? Da de como pode ser a vida. E esse iluminismo, essas ideias iluministas, trazem a ideia de que os governantes têm que levar alegria pro povo. Então, como que o povo pode ser alegre? Como é que ele pode ser feliz? Porque antes disso era triste. É tipo porque você tinha que pagar imposto, nascia, morria, pagava imposto e morria, entendeu? Tipo, não tinha muita... você estava dentro de
um estrato que, assim, você nascer camponês ia morrer camponês. Agradece de não morrer, é assim! Exatamente! Tipo, e mesmo assim muitos nobres não respeitavam esse direito de não matar. Então, com o Iluminismo, com a Revolução Francesa, você já começa a ter uma outra ideia, né? Começa lá com a revolta das 13 colônias dos Estados Unidos, onde na própria declaração da independência dos Estados Unidos aparece essa ideia da felicidade do povo. Então, de você levar felicidade pro povo. Já na época do Dom Pedro I sabia. Eu não sabia que tinha esse aspecto de o pessoal não
se preocupar com a felicidade do povo, e de repente fala: "Pô, agora a gente pelo menos tem que ver o que eles querem, né?" O que que é... mas eles não viram, né? Tipo as 13 colônias, sim, elas tornaram independentes da Inglaterra porque não queriam pagar os altos impostos, queriam ser independentes, etc. Só que isso chega na... está totalmente relacionado à Revolução Francesa, né? Antes, é primeiro os Estados Unidos, não? Depois em Confidência Mineira e depois a Revolução Francesa. Mas por que que o pessoal fala que a França ajudou os Estados Unidos pra caramba? Eles
ajudaram porque mandaram tropas pra lutar contra a Inglaterra. Porque vai treta! A treta lá na Europa estava tretando na Europa, então a França manda... Luiz XV manda tropas pra ter uma influência sobre os Estados Unidos, é isso, pra ferrar com a Inglaterra! O lance era esse! Era esse! Ah, só que essas tropas voltam... Marquis de Lafayette volta; Marquis Lafayette vai até ajudar. O que rolou? E conta o que rolou e começa a ver que as coisas também podem mudar lá! Pô, lá a gente conseguiu sair da mão dos ingleses, exatamente! E, tipo, qual é qual
é esse ideário? Qual que é esse estado que está sendo construído nos Estados Unidos? E esse ideário volta pra... volta pra Revolução Francesa. Então foi dependente dos Estados Unidos! Cara, que interessante, foi tanto que aqui vai estourar a Inconfidência Mineira antes da... da Revolução Francesa, porque eles vão se espelhar nos Estados Unidos e como chegavam essas notícias para cá. Ah, não chegavam; era contrabando. Você contrabandeava jornal, você contrabandeava... Eu soube que nos Estados Unidos estava rolando, exatamente porque você... Ah, ah... o Brasil. Deixa eu só explicar para você, porque ele é dessa geração, né? Ô
Tuti, naquela época não tinha internet, assim os caras não tinham como saber o que estava rolando nos Estados Unidos, bater um telefone ou fazer uma vídeochamada: "Fala, meu! O que que, ô brother, o que que está rolando nos Estados Unidos?" Mas é fácil você falar isso, né? Por quê? Você é dessa época, cara! Eu sabia, eu sabia, velho, que ele estava preparando. Está me chamando de velho, é isso? Você acha que eu sou da idade do Pedro I? Não, não estou te chamando de velho, estou te chamando de caquético, puído, nem. Mas então, não tinha
isso; eram jornais e gente que vinha de lá de navio, gente que vinha de navio. Ou seja, isso já jogava uns quatro meses, três, quatro meses e tanto para ir quanto para voltar, né? Às vezes o navio se encontrava no meio do mar com outro navio, não havia troca de informações; cartas... E por algum porto, só que aqui para chegar algumas notícias, se não fosse de boca, era contrabando. Era, era jornais contrabandeados e livros também, porque não era qualquer coisa que chegava no Brasil; porque você tinha que passar por Portugal, e Portugal tinha a Real
Mesa Censória. Tinha que passar por Portugal para vir para cá. Não, primeiro, você... não, não, peraí! Eu estou falando notícias; pessoas não vinham... Ah, tá, tá, tá! Não, mas produtos podiam vir direto sem passar por Portugal. Não! Sério? Livro não podia vir para cá! Livro só podia vir se fosse aprovado pela Real Mesa Censória de Lisboa. Ah, não é, meu? Isso tinha uma censura, eu acho que a maioria do pessoal que está assistindo não sabia de uma coisa dessas. Olha que interessante! Você tinha realmente uma história que filtrava o pensamento; porque você não podia ter
acesso a ideias revolucionárias, a outras ideias além daquelas que vinham... vinha coisa mais de religião, vinha coisa de religião, vinha literatura; mesmo assim, literatura não era qualquer coisa que chegava. Então, você tinha o índex do que era proibido. Então, aquelas as pessoas não podiam. E isso vai durar muitos anos. Mas acabava chegando, porque tinha biblioteca já nessa época. Já tinha biblioteca, mas muita coisa, e contrabando mesmo vinha. Contrabando, eh, e também produtos não vinham. Tudo que vinha vinha dos portos brasileiros até a chegada da Família Real em 1808 eram fechados. Então, assim, qualquer coisa que
era vendida aqui do Brasil para fora chegava via Lisboa e de Lisboa era distribuído para o resto das colônias deles, ou para as colônias deles, e o contrário também. Para cá, por exemplo, não vinha produto da Inglaterra. Esse produto da Inglaterra viria se chegasse em Lisboa e Lisboa importasse para cá. Era tudo fechado mesmo. Assim, alguém queria conhecer o Brasil em 1804, o cara é preso e enfiado no próximo navio que está partindo, simplesmente. Vou pro Brasil e desço no porto, não ar, bebida. Deixa aqui! V escrever aqui, "perov caminha indica um airbnb pra mim."
Não existe, não tinha essa! Não tinha site, aliás, era uma boa pousada. "Perov vai de Caminha!" Entendeu, cara? Essa foi boa! "Perov vai de Caminha!" E tem uma caminha assim, ou de personal, né? Por quê? Caminha para caminhar? Não esquece! Ah, não, não, não! Continua, continua! Então, voltando... Então você tinha tudo isso fechado. De vez em quando as ideias chegavam e a história da Revolução na França... E você, logo depois da revolução, tem uma tentativa de um monte de gente na Europa achar aquilo um horror. E aí as nações se juntam para tentar fazer com
que o rei volte lá para antes dele ser guilhotinado e maneta também para acabar com a revolução, porque aquilo pode virar um paiol de pólvora e de repente as outras nações também serem contaminadas, com certeza. Só que aí surge o Napoleão! E aí ele começa a bater em todo esse pessoal e começa a invadir essas outras nações na Europa, com qual o interesse dele? Inicialmente era a proteção da França, depois que ele começa a conquistar, aí invadir tudo, levar essas ideias novas da liberdade do homem, do cidadão. Então todos os cidadãos... TM cidadãos, são os
homens, tá? As mulheres não têm direito dentro dessa época, dentro desse período. Então você levar todas essas mudanças, como escravidão, na Europa nessa época não tinha escravidão; na Europa tinha a servidão ainda. Então, assim, uma das coisas que ele faz é acabar com essas estruturas ainda feudais. Ah, entendi! Conforme ele vai invadindo, que era o pessoal que trabalhava pela comida, basicamente, basicamente o cara pertencia à terra, ele estava ligado à terra. Se o cara vendesse a terra, ele... O cara ia junto, entendeu? Eh, e aí, então Napoleão apavora a Europa. Eh, não consegue derrotar a
Inglaterra e coloca um bloqueio continental para asfixiar economicamente a Inglaterra. Então, a Inglaterra não consegue vender nada para a Europa e a Europa também não pode vender nada para ela. Como ele faz isso? Como ele domina um monte de países, eh, os portos? Só que ele não consegue dominar Portugal. E aí, com isso... E por quê? Porque... E aí é complicado, porque ele precisava de uma... Ele precisava de um porto de entrada. Do quê? De entre outras coisas do Brasil também. Então, o que chegava do Brasil ia para Portugal. Só que eu vou dar um
spoiler do... Dom João VI, que é o que vai sair, havia uma questão: o Dom João. O Dom João, que ainda não era Dom João VI, era príncipe regente, pois a mãe tinha ficado louca, e ele assume. Ele compra a neutralidade de Portugal com os diamantes brasileiros. Nossa! Então, ele fornece esses diamantes que saem de Diamantina e vão sendo vendidos em Londres. É feito todo um esquema comercial para vender esses diamantes e conseguir levantar dinheiro para pagar a neutralidade para a Espanha e para a França. Não, mas essa neutralidade é tipo "você não me ataca
e me deixa de boa". Exatamente! E eu continuo sendo aliado da Inglaterra. Só que, em determinado momento, Napoleão, depois que ele domina a Europa toda, esse dinheiro já não basta. Então, ele invade Portugal. E Portugal era assim: se o Dom João fizesse uma aliança com a França, ele romperia com a Inglaterra, e a Inglaterra invadiria o Brasil. A gente tinha essa possibilidade. Então, isso é claro, inclusive nas documentações: se ele ficasse do lado da Inglaterra, a França invadiria o Brasil. Então, a grande questão era o Brasil, porque Portugal, já desde 1670, era super dependente do
Brasil, inclusive de comida. A gente mandava comida para eles lá. A parte do Norte era mal explorada em Portugal por questões de comida; era explorado de outras maneiras. Vai ter português me xingando aqui (risos), mas era explorado de outras maneiras, mas ainda tinha a questão de fornecimento de comida para lá. Então, Portugal era muito dependente do Brasil. Portanto, não era uma vantagem, tanto que, quando Dom João vem para cá, ele declara guerra para a França e invade a Guiana Francesa aqui na América. Ele fala que vem para o Novo Mundo, que ele veio para o
Brasil para construir um novo império. Ele entendia isso como uma potência, mas é visto como abandonar também Portugal, né? Sim! E isso foi uma forma como foi vendida pelos franceses, porque era interessante para os franceses falar desse abandono, que ele não deixa seu papel covarde, corno (risos), também. O cara falou "covarde", tudo bem; corno não! O que a Dona Carlota teve filhos com um monte de gente é tudo isso espalhado totalmente pelos franceses. É um monte de fake news para diminuir a masculinidade, a potência do cara. Mas, na verdade, ele enganou Napoleão, enrolou-o até o
quanto pôde para preparar os navios para vir para cá. E é nesse meio que está inserido Dom Pedro. Doideira! Então, assim, ele está no meio de um mundo em transformação o tempo todo. Apesar de ser criado dentro de uma corte absolutista, porque Dom João ainda era absolutista e traz esse absolutismo para o Brasil, ele já estava antenado. Ele sabia que era questão de tempo e as mudanças iam vir para o Brasil. Ele tinha essa sensação! Total! Total! Tanto que, quando estoura a Revolução do Porto em 1820, que é justamente para ter uma constituição e tal,
e força Dom João a voltar, ele escreve um hino para louvar essa revolução. Ele era músico, compositor, tocava mais de dez instrumentos. Dom Pedro e ele compõem um hino. Esse hino vai ser o hino de Portugal até 1910 ou 1911, e ele também vai compor indo para o Brasil e tal. Então, você quer dizer que o cara estava antenado. E estava recebendo esse novo mundo, essas novas ideias que estavam chegando. Ele estava louvando. Antes mesmo de começar a discutir uma constituição em Portugal, vai gente do Brasil para lá. O pessoal vai ficar bravo quando chegar
lá, porque já está sendo discutido um monte de coisa referente ao Brasil, e os brasileiros não tinham chegado lá para discutir junto. E aí vai começar esse processo revolucionário de independência ainda lá com o irmão de José Bonifácio e outras pessoas que vão para lá. E ele, aqui no Brasil, já está antecipando vários direitos que vêm dessa onda da Revolução Francesa. Ele falou: "Vou já começar alguma coisa". Por que suaviza? Porque ele é legal? Ou porque é medo? Não, não é isso, porque ele vai pegar isso até o fim da vida. Então, você vê que
ele veste a camisa, entendeu? E não só veste a camisa internamente, externamente. Mas você vê pelas cartas aos filhos que ele escreve — até para os bastardos que ele vai reconhecer ainda em vida — ele escreve ao mesmo Dom Pedro I que ele deixa aqui. Tem uma carta fantástica: ele fala assim: "Já passou o tempo em que as pessoas te respeitavam pelo teu título; agora você tem que saber, você tem que estudar para ser respeitado pelo que você sabe e não pelo que você é". Que legal! Então, você vê que não é uma pessoa que
está só fantasiando, entendeu? Porque, quando você chega a isso para falar para um filho, quer dizer, essas ideias estão embutidas, e ele está vendo esse novo mundo, né? Que ele vai enfrentar, né? Exatamente! Não tem mais espaço para essas questões. Por exemplo, ele libera uma coisa que, quando Dom João chega, ele aposenta as casas. Isso é fantástico! Você não tinha direito à propriedade. A propriedade, você comprava, mas não necessariamente podia ser sua. Como assim? Eu compro uma casa? Você compra uma casa e está a serviço do rei de Portugal, só que eu moro em Portugal
e vim para cá... Cá pro Brasil para poder trabalhar pro rei, só que eu não tenho uma casa. Eu quero a casa dele. Aí vem um juiz, ele te dá 24 horas para sair da tua casa, paga alguma coisa? Nada, nada, nada. Você sai da casa e eu pego. Tem uma história fantástica que um juiz já tava de saco cheio quando a corte chega no Rio de Janeiro. O cara recebeu três vezes a mesma pessoa. Aí, na quarta vez que o cara recebe o nobre, ele começa a gritar: "Ô, Dona Fulano!" O nome da mulher
dele. "Ô, Dona Fulano! Ô, Dona Fulana!" Aí ela vem. "Que que foi?" "Ó, vá fazer as suas malas porque a vossa excelência aqui já me pediu casa, depois pediu para trocar de casa, já me pediu criado, agora vai me pedir mulher! Eu só tenho uma, eu vou ter que dar a senhora para ele." Essa história é... Aí ele foi reclamar com o Dom João. Ele falou: "Olha, é um abuso porque as pessoas não só pedem aposentadoria para uma casa, mas aí elas acham uma casa mais bonita e querem aquela outra e às vezes nem larga
outra, aluga outra. Sim, e tinha às vezes proprietário que sublocação. Tinha proprietário que deixava a casa sem acabar para não ninguém ter o desejo da casa dele, fazia o acabamento por fora e deixava os andaimes de madeira para... É que nem eu quando comprava lanche no colégio, na escola. Eu comia no lanche, falava: "Alguém quer?" Porque todo mundo dava um teco, dava um teco, você lambia o lanche. Aí ninguém queria, né? É a mesma coisa, o cara detonava a casa, jogava, passava merda nas paredes e assim falava: "Alguém vai querer?" É, então é nesse ambiente
que ele nasce, ele vê essas coisas, e aí ele já tenta dar uma solucionada. Tem mais alguma coisa absurda assim, dessa época, essa de costumes ou lei? Assim, eu acho que essa eu acho que é pior, assim, você tomar AL que não é teu, né? E aí tem os abusos que aconteciam, como eu falei, de a pessoa às vezes ter que sublocar uma parte da casa que era dela e pagar pro nobre que tava lá. E a economia nessa época? O que que tá? Qual que é a economia no Brasil nessa época? A economia no
Brasil, o diamante já tá rareando lá do que vem de Minas, Diamantina, já tá indo embora. O ouro também não tá, tudo isso. Então você começa a ter o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, por exemplo, que é criado pelo Dom João para ser um campo de aclimatação, para você aclimatar, para ter um experimento científico de você trazer espécies de fora. Então eles vão tentar plantar chá, criar chá, criação de chá para poder importar pros ingleses. Então eles começam a ver o que que eles podem gerar de riqueza. Eles chegam a importar, inclusive, eles trazem
uma colônia chinesa que vai morar lá no Rio de Janeiro dentro do Jardim Botânico para fazer planta de chá, porque eles não têm a expertise que os chineses têm. Então vem essa colônia. Aí você tem os costumes que nem quando eles chegam. A Dona Carlota Joaquina tinha pegado piolho no navio e ela chega com a cabeça raspada e com turbante para esconder que ela tá careca, né? Que o cabelo ainda tá começando a crescer. Nossa, as mulherada do Rio de Janeiro começa a usar turbante, a rainha. É moda, é a nova moda da Europa, cara!
Então, umas coisas meio surreais assim que acontecem. Como que era a roupa do dia a dia das pessoas, assim, não os nobres ou gente de grana? Você tem um grande problema, porque assim, uma das proibições... Ah, você não podia ter tecelagem no Brasil, não podia, não podia antes da chegada do Dom João VI. Não, antes porque vinha tudo de fora, você não podia produzir aqui dentro. Era para forçar a compra, forçar comprar. Então, o que você tinha de produção interna era de tecido mais vagabundo, que era de algodão cru, que era pra você fazer vestimento
de escravizado, tipo trapo assim. Cara, de trapo? Não, não, não. Trapo era um tecido mais... não é ordinário, é mais grosseiro, não era uma seda. Mas não é tipo saco de... Sabe aquele tecido de saco de feijão, sei lá, aquele de aniagem? É uma coisa mais grosseira daquele tipo para fazer vestimento para escravizada. Você acha algumas imagens de roupa dessa época e... e depois isso vai, conforme o Dom João chega, isso vai começar a liberar, porque agora aqui vira a sede da corte. Então, os portes são abertos. Aí tem coisas engraçadíssimas, porque você imagina, a
Inglaterra ficou... Ah, tava sofrendo com o Bloqueio Continental, então ela não podia vender as coisas que eles produziam. Eles já estavam vivendo o começo lá da evolução industrial, então já estavam produzindo coisas em série. E eles começam a mudar essas coisas para cá. Então chega cobertor no Rio de Janeiro, uma coisa super útil. Eles não sabiam que era o Brasil, eles não conheciam o Brasil, ninguém podia chegar aqui, então eles não sabiam que era muito quente, que não precisava de cobertor. Chega fogão, chega patim, patim, patim de gelo. Ah, aí o que que eles fazem?
Eles começam a arrancar a lâmina para usar pra facas, porque não tinha o que usar com. Nossa! Então, sabe? É quando... Eles chegam, é que começa a abrir o Brasil para o mundo, e aí começa a vir expedições científicas para cá, para descobrir o que era que tinha aqui, que ninguém sabia direito na Europa. Então, é nesse período aí que o Dom Pedro está inserido, e vou falar dele. Então, qual é a trajetória dele? Ele nasce em Portugal, no Palácio de Queluz, em 1798, e com poucos anos ele chega aqui no Brasil. Ele chega com
o pai, pouco antes de completar 10 anos; então, ele chega com 9 anos, mais ou menos. E já chega reeditando a história. Isso aí é engraçado, você fala: "Ah, não veio fugido e tal." Ele vem... o professor dele vem fazendo ele ler na borda do navio a Eneida, de Virgílio. Quanto tempo demorou uma viagem de lá para cá? Nesse caso, bastante, porque eles saem de lá em dezembro e vão chegar em fevereiro ou março. Demorou uns três meses; tiveram, não só tempestade, mas tiveram calmaria, não tinha vento. Sim, e então o navio vem mais devagar.
Agora você imagina, tem a descrição, porque eles vieram escoltados por navios ingleses. E aí tem a descrição: você imagina 1.000 pessoas a borda do navio, porque eles produziam excrementos e isso era jogado pela borda do navio. Uma semana depois, tinha uma lama fétida em volta do navio. Olha, foi um terror, foi um terror essa viagem, e ele vem lendo a Eneida. E na Eneida é interessante, porque o Enéas, o herói da Troia, ele aparece a Deus, se não me lembro, é Vênus, aparece para ele falando para o Enéas pegar o pai, o filho, a mulher
e ir embora; Troia está caindo para fora da Grécia, para construir um novo império. Então, imagina essa criança lendo isso. Então, o pai está vindo para o Novo Mundo construir um novo império com ele pequeno e com a avó doida, né? Está vindo junto. Então, eles transformam essa... fazem esse paralelo, né? Quer dizer, o professor dele era bom, o Frei Rábida. E aí ele chega aqui, e a criação dele é muito solta; é uma coisa até bem ruim, porque ele era muito esperto. Provavelmente, ele devia ter TDAH, ele era muito ligado a 220, fazia 500
coisas ao mesmo tempo. Ah, e tinha um problema: como ele estava dentro de uma corte absolutista, se ele não quisesse estudar, não tinha quem fizesse ele estudar. Então, nessa época, as pessoas nobres, os da realeza, tinham uma criança que apanhava por você. Ah, não, mano! Isso eu queria ter na minha infância, porque o que apanhei da minha mãe! Cara, eu acho que eu era esse cara, porque minha irmã fazia coisas e eu, sendo mais velho, apanhava. Falava: "Você é o responsável!" Como assim? Então, mas daí envolvia na tua irmã uma pena por você? Nada, pelo
contrário! Ainda acho que eu devia ter apanhado mais. Então, era essa ideia por detrás de bater na outra criança. Como que era? Era o que não desenvolveu na tua irmã e que provavelmente não desenvolveu com ninguém. Então, mas de onde vem essa ideia? Ah, manda me gelinho! Toda uma rede de educadores, pessoas ligadas na educação do século XVIII e antes. Então, a ideia era que assim: se você aprontava, uma outra pessoa apanhava por você. Você via o sofrimento daquela, porque você era obrigado a assistir aquela pessoa apanhando, e a ideia era desenvolver em você culpa.
Então, eu não posso errar para aquela pessoa não apanhar por mim. Se eu erro e o Tuti apanha, eu vou errar mais, concorda Tuti? E eu... divertimento! Se cada vez que eu errar aqui, você tomar um tapa do Léo, você acha que eu vou errar quantas vezes só para ver o tapa? Melhor eu apanhar quando você erra do que eu apanhar quando eu erro. Então, ó, Léo, agora você segurou essa. Boa, bem boa! Só que o Dom João VI achava isso ridículo, e aí ele não colocou o amiguinho para apanhar. E aí o Dom Pedro
não tinha essa... não tinha ninguém para ver apanhando no lugar dele. Então, ele fazia o que queria. Ah, ele não apanhava, não tinha ninguém para apanhar. E aí, quando ele queria, estudava; quando ele não queria, não estudava. Então, era complicado colocar o moleque para estudar. E aí, ele só vai começar a se educar mais mesmo depois, a parte de arte. Ele era muito bom, então, desenho, pintura, e ele era muito hábil com a madeira. Ele fez esculturas, construiu coisas; tudo ele esculpiu. Sabe a clássica ranca de navio? Ele fez. Ele mesmo fez um navio chamado
Príncipe Dom Pedro; ele fez ele mesmo para colocar no navio que ia ser... que ia sair. Ele esculpiu ele mesmo! Teve um bilhar que ele fez completo: as bolas, a mesa, os tacos, tudo. Teve várias coisas que ele... ele era hábil manualmente, inclusive com mulheres, né? Porque a quantidade de gente que... oh, isso daí passou; ele sabia manejar bem. Ele passava a vara e aí... bom, ele tomava banho, que já colocava ele como... ah, ele era desses. Ele era desses que tomava banho! Sério! Mas ele pegava isso daqui. Aqui não é da... não sei, eu
acho que ele se incomodava com o suor e tal, e aí às vezes tomava mais de um, dois banhos por dia. Ah, inclusive de mar, ele também tomava banho de mar. Perfumado, aí já não sei! Falam, não falam sobre isso? Não? Tem nada. Ele gostava de escalar, ele gostava da parte de, mas vestia bem. Assim, tava sempre bem. Sim, sempre arrumado, sim, sim, sempre na moda. Você vê que o modo dele de manter bigode, barba, essas coisas, vai seguindo a costeleta ou não, vai seguindo a moda. O cabelo também tem uns cabelos muito esquisitos dele,
eh, mas aí é moda. Tô vendo aqui, ô, tu, você tava na moda aqui, hein? Olha aqui, ó. Tô, você acha que eu sou parecido? É só tirar aqui do lado, ó, vai ficar igualzinho. Aqui o Dom Pedro, ó, deixa o cabelinho aqui assim, tipo com bôa. Ó, ó, aqui, ó, o cabelo dele. Na próxima vez que eu for fazer a barba e o cabelo, vou falar: "Pô, vou mostrar a foto!" Faz isso aí, faz aí, leva isso daí, fala: "Eu quero assim." Vou fazer, vou fazer, pode deixar. E ele adorava a natureza, então ele
escala. Ele foi uma das primícias. Mas ele pintava quadros também ou não? Você falou de artes? Olha, ele desenhava. Isso, a gente tem registros. Assim, rabiscos de desenhos: animais, paisagens. O que que tem de desenho dele? Tem alguns esboços que ainda sobreviveram, mas, assim, tem registro de que ele tinha aulas com ótimos pintores da corte. Ah, tá. E ele era normal você fazer educação com outra pessoa? Então ele era o par da irmã mais velha dele, então os dois tinham aula juntos e com os mesmos pintores da corte. E aí você vê, a irmã dele
vai casar com o rei da Espanha e vai criar o museu do Prado em Madrid. Ela que teve a ideia de reunir. Existe até hoje, eu fui lá, é fantástico. Então, quer dizer, eles tiveram uma formação artística boa o suficiente para ela chegar lá e falar: "Não, vamos pegar todas essas coleções reais e colocar no museu, abrir pro povo." Então, tinha já essa ideia de colocar o povo inserido. Que aí vem parte da felicidade também, entra a questão da educação. Então, o povo em geral, ter acesso à educação, era um modo de levar felicidade para
eles, eh, dentro do entendimento da época. Porque você tirava a pessoa do obscurantismo e começava a mostrar coisas belas para ela e tal, e fazer com que ela se instruísse. Então, ele vai criar a Academia de Belas Artes aqui. Quer dizer, vai dar prosseguimento ao que o pai criou. E em Portugal, ele vai criar o primeiro museu público de Portugal, que ainda hoje existe. É um outro museu hoje, mas com outro nome. E isso no meio da guerra, assim, o cara criando museu! E então, era uma pessoa voltada para esse lado artístico, ah, e antenado
com essas questões do tempo dele. A educação foi descuidada? Ah, não tanto. Aí o irmão dele, o irmão dele, só quando volta para Portugal, quando tá com 23 anos, o cara vai começar a estudar mais com afinco e tal. E não vai… Os caras tinham professores particulares para cada matéria, assim, né? Os melhores. Não era qualquer um que dava aula pra um príncipe e, depois, pra um imperador. Quando a Leopoldina chega, a mulher dele, vê a defasagem intelectual, não a defasagem de conteúdo mesmo, é do que eu sei, do que ela sabe. Ela sabe muito
mais do que eu, sabe essa questão. Mas e a parte do sotaque? Os caras tinham um sotaque carregado português ou já estavam meio falando português, trazem um português meio afrancesado? O que que dizem? Aí eu já não sei, tem que ver com algum linguista. Dizem que o carioca, esse "x", x, isso é uma herança dessa corte. Faz sentido! Então, dizem que o sotaque carioca seria isso, mas como eles falavam ainda meio é b, né? Mas, cara, que seria legal pra caramba ter uma máquina do tempo e só ficar olhando como que era, ficar olhando o
dia a dia da galera, ia ser demais! E aí, então, esse cara, que é um cara inteligente, mas que não era muito do estudo, era um cara relacionado às artes, né? Ele vivia bem a vida, assim, ele era um cara que vivia lamentavelmente. Ele não bebia, não bebia. Ele era totalmente, assim, adepto a exercícios. Todo mundo fala que, assim, nenhum relato quando fala de bebida diz que ele bebia, apenas pra fazer um brinde, sabe? Uma coisa meio... Não era uma coisa do dia a dia. O Dom Pedro I, filho dele, também não bebe, eh, também
é uma coisa mais formal. Ah, mas não tem essa questão da bebida, é mais farra. Tinha farra? O que que era? O cara não ia pra balada? Ele trazia. Ah, não, ele ia pra balada. Ia pra balada, se misturava com a plebe. Então é, ele se misturava mais com a plebe naquela época do que hoje nossos governantes. Sério! Qualquer um podia ter acesso ao Dom João, a ele. Então, era… Se você tava num lugar, você viu o cara lá, hora marcada, você podia ir no palácio, o rei te recebia. Ah, e uma galera. E aí
a galera fazia petição. Alguns iam só puxar o saco, tipo: "Veja a mão!" e tal. Mas outros falavam: "Olha, tal coisa, tal". Então, existia isso. Vai até o Dom Pedro I até 1889. Então, havia uma proximidade entre o trono e o povo que hoje não existe. Imagina o Presidente da República recebendo no Palácio da Alvorada qualquer um que tivesse sapato! Tinha que ter sapato, né? Ah, precisava ter sapato, é. Tinha que ter sapato. Eh, ou espadinha. Em Versalhes era mais complicado. Você tinha que ter espadinha em Versalhes também. Acontecia isso e você podia frequentar Versalhes.
Daí você tinha que ter chapéu, espadinha, não sei o quê. Se você não tivesse, podia alugar lá. O cara sabe quando você... Você já foi em algum restaurante? Fala "não, o senhor aqui não pode andar, entrar só de cabet", senão tem tribunal. Não sei o que os caras têm, uns palitós lá para te dar, né? E se você não tem... Então, os caras alugavam o espadim e aqui era o sapato. Mas o sapato tinha a ver com o escravizado, porque o escravizado não tinha dinheiro para comprar sapato. Então, é... mas, mesmo assim, às vezes se
dava um jeito e às vezes falava em público, às vezes conseguia chegar neles. Então, isso que é curioso, que isso perdeu-se, né? Essa proximidade entre eles, ela volta na época da eleição: beijar criança, beijar criança, né? Comer pastel, é... o Tuti, mais água aqui, e o que mais? E que a gente pode falar, Paulo, sobre isso? Ele teve vários filhos, então, assim, ele vai casar com a... com a... com a... ah, ah... Mas a gente tá falando de noitada, né? Só para terminar isso, como que era uma noitada nessa época. Assim, ele tinha um amigo
que era o Francisco Gomes da Silva, que era... o apelido dele era Chalaça. "Chalaça" em português é bagunça. Ah, cara, se eu tivesse um amigo chamado Chalaça, era o cara, Chalaça. Então, eles saíam para as tavernas, eles curtiam a noite... pegar mulher ou prostituta. Era... era prostituta, provavelmente. Não! Né? Não se tem registro disso, mas mulheres, sim. Tipo, a mulher dele tá chegando, ele tá tendo o primeiro filho. Nossa! Tipo, ele tá casado, a mulher tá chegando. Dom João e Carlota Joaquina estão se matando para abafar o caso, mandar criar a mulher grávida para Pernambuco,
casar com um militar, sabe? É um rolê assim... Para afastar a mulher daqui. Uma... ele pega as duas, ele pega duas irmãs francesas que eram atrizes, bailarinas. Ele adorava pegar irmã, uma coisa assim. Ele vai à Marquesa de Santos, que foi a amante dele, e também ele pegou a irmã dela. Ele conseguia ser amante da irmã da amante, uma coisa assim, nossa cara. E aí ele devia ter um furor, porque uma... assim, ele devia ter boa lábia, sabe? Ele devia ser uma pessoa que encantava, porque não há registro de... ah, pegar na marra. Teve um
caso de uma escravizada em Santos que ele tenta beijar, mas ela dá uma bofetada nele. Fica mais perto... é, mesmo... e isso tudo casado, né? Aí, antes de casar, ele tem esse relacionamento com a francesa e a criança morre, enfim, o primeiro filho dele morre. Aí tem a questão da maldição dos Bragança, que era o primogênito dos Bragança sempre morrer. Eles nunca chegavam ao trono. Isso vai chegar até o século XX, com raras exceções. Tem o neto dele, Dom Pedro V, que é o primogênito da filha dele, mas não chega a... que idade? Não, ele
não chega ao trono. Ele não mora... sempre morre o primeiro filho. Não importa a idade, idades diferentes, cada um... sim, sim. Ou muito novo? A maioria novos. Mas, depois, também, no caso do Dom Pedro V, neto dele, ele morre depois que ele assumiu o trono, e jovem, muito jovem, 20 e poucos anos. Ah, ah... Então tem essa maldição que teria sido lançada por um padre que tomou um chute do primeiro Bragança. Aqui agora vocês vão ver exatamente, cara, pegou. Então, tem uma coisa assim que o cara foi pedir esmola e o cara tava meio da
P virada, aquele dia. Deu um chute no cara e o cara lançou uma maldição, falando que nenhum primogênito dele ia viver para ocupar o trono. E aí, tanto que toda a família Bragança, até hoje, é totalmente devota a São Francisco, Santo Antônio, que são ligados a essa ordem. E tanto que eles são sepultados, né? Na... em Santo Antônio, lá no Rio de Janeiro, e em Portugal também tá ligado a Santo Antônio, onde tá o panteão dos Bragança. E aí, chega a Leopoldina, ele começa a ter vários filhos com ela, mas em paralelo, ele vai tendo
várias amantes, principalmente a Marquesa de Santos, com quem ele vai ter sete anos de relacionamento. Vai ter quase cinco filhos com ela, ele vai reconhecer uma delas, a Duquesa de Goiás. Imagina, você reconhece e leva uma menina para ser educada junto com teus filhos dentro do pco, com tua mulher. Mano, era bem punk, mas a mulher não tinha direito de falar nada nessa época. Aceita, e é isso daí. É isso aí, não posso separar. Quando ele reconhece, ele manda rasgar o ato de batismo dela e refazer o ato de batismo colocando ele como pai e
mãe desconhecida. Como que a mãe pode ser desconhecida? É, o pai dá para ser a mãe... como? Cara, não... não lembro como foi. E essa menina, ele tem fora do casamento, era uma grande paixão dele. Ele adora essa menina, ela vai ser educada na França, a Duquesa de Goiás, e vai casar na Alemanha, patrocinada até pela ex-mulher dele. Essa menina meio... ela é pega para criar pela segunda imperatriz, a Amélia. Ah, fora isso, ele teve vários filhos. Ele teve filho com a irmã da Marquesa de Santa Brás, Sorocaba, que também... É engraçado! Há... e deve
ter coisa que a gente não sabe também. Não pode ser... pode falar. É... Que assim, o que acontece: ele teve vários filhos com várias mulheres, inclusive pessoas da corte, como, por exemplo, a irmã da Marquesa de Santos. Quando o marido dela morre, ele pega a criança para criar. Então, ele manda ser educada no Rodrigo Delfim Pereira, que é filho dele, manda ser educada em Londres. Sim, e a engraçada é que ele, os filhos, estão morando em Londres e ele fala assim: "Olha, eu quero que meu filho seja educado não em Barbacena, Marques Barbac." Ele coloca:
"Meu filho, quero que seja educado aí e quero que aprenda português, porque eu não quero que volte para cá falando 'meu pai, minha cavalo'." Olha só, uma coisa assim de tomar cuidado com como vai ser educado. Ah, e só que tinha algumas pessoas que estavam em um nível social muito elevado e que seria muito escandaloso falar que o filho era do Imperador. Então, se escondia essa informação, acabava sendo considerado bastardo, aquela coisa, e colocava para casar com alguém um pouco inferior, a pessoa sabendo que vai ter que criar o filho da mulher que, tipo, você
vai casar com ela, ela tá grávida. Vantagens, né? Claro, ah, tá claro! Provavelmente o cara vai subir socialmente de alguma maneira. Então, existem vários casos desse nível. E como você sabe disso? São fofocas e algumas coisas que chegam até a gente. Que nem quando eu lancei a primeira edição desse livro, veio uma senhorinha falar comigo, veio uma tia, a sobrinha-neta dela. Ela já estava com 90 e poucos anos, e aí ela me contou uma história maluca de que uma moça encaixava, sabe, com essas coisas. Então, tem muita coisa que vem de histórias familiares e tem
outras que acabaram sendo reveladas, assim, anos 20, 30 do século passado, que acabaram se tornando públicas. Então, por aí a gente vê. E imagina, ele chegou a ter filho com uma freira, cara, nos Açores. Ele não… uma coisa meio… ele teve filhos com uma menina, pensou: o cara abre lá o Tinder, assim sabe? Essa sim, essa não, essa aqui não. Dom Pedro on fire. Mas a parte legal é o seguinte: ele podia ter os defeitos que fossem, mas essa coisa com os filhos ele cuidava, inclusive aqueles que ele conseguia colocar a mão, né? Porque, tirando
esses que ele não conseguiu, a família falou: "Não, a gente dá um jeito, né? Você já fez, não par! Sai daqui!" E ele dava o jeito tanto que ele coloca quatro que aparecem no testamento dele quando ele morre em Portugal. Tem quatro que aparecem. O mais engraçado é que, como eu fiz também a biografia do Dom Pedro II, que vai sair agora, você vê que sobrou muita coisa para os filhos. Porque assim, o Dom Pedro I, quando ele visita Portugal a primeira vez, em 1821, ele recebe uma carta de uma senhora: "Somos irmãos, somos filhos
do mesmo pai, mas não da mesma mãe." E que pede dinheiro, é claro. Aí vem um cara também para o Brasil… Esse é muito louco! Todos os filhos que o Dom Pedro teve, eu acho que é o mais que representa o Dom Pedro. Assim, se o Dom Pedro não fosse, e se não fosse imperador, se não fosse príncipe, era esse cara. O nome dele é Pedro Césse. Ele era filho do Dom Pedro com uma modista francesa chamada Rodolphe Lidor. Ela fica grávida, ele manda para a França. Aí o filho nasce, vem a ser batizado na
França para o Dom Pedro. E aí ele acaba entrando na partilha dos bens do Dom Pedro. Quando ele morre, a mãe esconde até o fim da vida dela quem é o pai. Quando ela morre, ele recebe um monte de cartas e aí descobre a filiação dele, que ele era filho do Dom Pedro I. Ele vem para o Brasil, tenta contato com o Dom Pedro I, mas não consegue. Só que, de herança dele, ele vai para o Via Pacífico. Ele chega na Califórnia, o cara vira um dos colonizadores da Califórnia, desbravadores da Califórnia. E aí ele
deixou um diário. Então, você vê toda a vida dele na Califórnia. E assim, meu, tem uma parte que é tão engraçada: ele muda de cidade, ele estava morando em uma cidade e vai mudar para outra. Ele coloca a cabana dentro da carroça e vai dentro da carroça dirigindo os cavalos para chegar na outra cidade. O cara fez muita coisa na Califórnia. Acabou a linha, e tipo, ele teve filhos, os filhos chegaram a ter netos, mas aí acabou a família, entendeu? Mas ainda tem lá uma fundação, porque o cara ficou muito rico lá, ele se meteu
com tudo que era novidade, com o começo da energia elétrica nos Estados Unidos. Então, ele ficou muito rico, existe uma fundação até hoje. E aí lá tem o diário dele, tem as coisas que foram trocadas. Esse eu acho que é o mais fantástico, o mais aventureiro dos filhos que ele teve fora do casamento. E de fofocas da família real, que têm coisas engraçadas assim, hábitos, costumes, como se comia. Nossa, o que se comia! Cada um tinha predileção. O Dom Pedro não tinha frescura. Ah, o filho dele era frango, carne de vaca, era geralmente caça, né?
Então, assim, como não tinha só, e não tinha, né? Era tudo só. Ah, até tinha, mas aí a carne era salgada, né, era tudo feito em casa. Ah, e você não… eles principalmente acordavam, ah, de acordar às 5h30, pegar o pãozinho quentinho. Não, não, não rolava. E eles tinham... A própria e um hábito que vai mudar no Segundo Reinado é que eles comiam separados, cada um fazia a própria refeição. Essa coisa de ter uma mesa... Isso já é mais para meados da década de 1830 para frente. Você fala da família real ou de todo mundo
em geral mesmo. É tanto que, por exemplo, ah, que nem eu trabalho... Eu presto consultoria, às vezes faço exposições e tal, então, às vezes, há questões de mesa. Então, porcelana, né? Tem muita gente que coleciona porcelana antiga e tal. Então, você vê que em determinado período você tem porcelana chinesa, você sabe, século XVII, século XVI, século XVIII, começo do século XIX. Você não tinha cristal, o copo não ia à mesa, ficava criado atrás de você. Se você queria beber, você pedia, o cara pegava o copo e voltava; não tinha copo na mesa. Que legal, então,
tem várias coisas que são totalmente diferentes. Aquela coisa, talheres eram o quê? Feitos de talco. Sim, geralmente feitos na França. A porcelana geralmente ou era francesa ou inglesa ou chinesa, ainda da época do Dom João. Principalmente depois, isso perde seu hábito porque a Europa já começa a produzir uma boa cerâmica, uma boa porcelana. E aí você tem vários tipos, inclusive porcelanas que marcam períodos. Então, você tem um conjunto de porcelana do Dom Pedro I que é da Independência. O conjunto da Independência, sabe? Tem umas coisas, o conjunto do casamento, o conjunto do batizado, o conjunto
de tal coisa. E comida, basicamente, era caça, né? E bem, hoje ainda o que é comido em Portugal, né? A culinária portuguesa, embutidos, linguiça, alheias, alheiras e outras coisas típicas. Muito peixe também era comido, ave também. Ah, era basicamente isso. Agora, é engraçado porque nessa época você já tinha uma mistura de culinária nativa com culinária europeia. Então, por exemplo, essa minha loucura toda com a família imperial começou em Nova York, quando eu achei em 2010 94 cartas inéditas dele para a Marquesa de Santos. Então, não tinham sido publicadas. Eu publiquei meu primeiro livro que era
o Titi, o Demonão, era para se chamar Marquesa, o Imperador. Aí, como vi que tinha Marquesa e nem Imperadora... Dois seres humanos se pegar o WhatsApp de qualquer casal, é aquilo, entendeu? E aí eu comecei a ver umas coisas de comida e aí tinha um tal de bolo de cutia. E para descobrir o que era o tal do bolo de cutia, era um bolo de carne, só que feito com carne de cutia. Sabe o animal? Aí existe, depois, vai ser publicado no Brasil um livro chamado "Cozinheiro Nacional", em que eles ensinam a fazer tapir, eles
ensinam a fazer arara, eles ensinam os bichos. Então tinha uma mistura do que havia de culinária indígena, sei lá, com a tentativa de... Meio... Será que comi macaco? Eu não cheguei nessa parte, mas havia umas coisas meio estranhas, né? E esse bolo de cutia foi uma coisa que eu descobri. Arroz? Não, não, não. Essa questão do bolo de cutia é um bolo de carne, né? Com a carne da cutia, como eu falei. Mas é uma coisa que vem dos índios e que foi adaptada para os doces de ovos conventuais portugueses, quer dizer, como era quase
uma... aqueles doces de lá, sim, sim. Isso já tinha desde a época do Brasil colônia. Isso era uma coisa que... Tanto que o nosso quindim é uma variação do que sobrava de várias questões. Nossa, agora deu fome, vou pegar! Mas tem... Quer que eu pegue alguma coisa lá? Não? Não? Pega alguma coisinha, não? Peguei aqui. Pegou porque pro pessoal saber... Esses doces aí eram feitos em conventos, né? Que sobrava, porque eles engomavam as roupas com a clara e sobrava gema. Caramba, e começaram a fazer doce! Não é isso? É, mas aí tem uma questão mais
interessante disso tudo: quem que fazia isso? As freiras. É mais ou menos, porque assim, os conventos, durante muitos anos, foram usados para recolhimento. Então, assim, aqui em São Paulo tinha o recolhimento de Santa Teresa; não existe mais o prédio. Você colocava nos conventos as mulheres que você não queria. Como assim? Rejeitadas? Mais ou menos. Por exemplo, antigamente existia pra gente colocar numa convento... Não porque eu acho que não vai dar para promover o teu programa lá. Fabi, não te defendendo, aqui. Fabi, não dá. Eu consegui os convidados; não, estou aqui rezando. Agora é hora da
Ave Maria, exatamente. Então, por exemplo, um homem, o pai da família, quer pegar toda aquela fortuna que ele tem. E ele quer constituir um morgadão. Assim, ele vai pegar você, que é o filho mais velho e o herdeiro, e tudo isso vai ficar pra você, pra tua irmã não herdar. O teu pai coloca ela num convento, antecipa o dote dela pro... e ela... então, por isso que existe muita freira que é raptada, porque na verdade ela estava tendo já um relacionamento. O cara rapta ela e aí, aqui em São Paulo, tinha gente que vinha aqui
degradado porque tinha raptado freira em convento em Portugal. E tinha sido pego, né? Tinha uns que não eram pegos. Então existiam muitas mulheres lá nos conventos que elas estavam no convento, mas não necessariamente estavam lá por uma convicção religiosa, x, y, z, que levaram ela para lá por causa da questão de "ah, vou servir a Deus". Não, algumas estavam lá porque cansaram de tentar fugir do convento. Tacando fogo no convento. Então assim, muitas dessas acabavam fazendo o que, se não tinha nada para fazer, elas não queriam rezar; elas iam para a cozinha. Então, muitos desses
doces e tal acabaram surgindo pela mão dessas mulheres que não estavam muito a fim de seguir a vida religiosa. Ô, tu tem alguma dúvida em relação a alguns assuntos ainda que foram falados aqui? Senão, a gente muda de assunto. Manda aí; temos várias perguntas aqui. O João Pedro perguntou: quais foram as principais realizações de Dom Pedro I durante seu reinado? Dom Pedro I é que agora está saindo um livro pela Record. Ah, esse ano completa os 200 anos dele; nasceu em 2 de dezembro de 1825. As principais realizações de Dom Pedro I foram a integração
nacional, fazer com que o Brasil fosse visto como uma nação integrada. Então toda a questão de comunicação e toda a questão de transporte tiveram uma evolução gigantesca na época do Dom Pedro II, e ele é o primeiro governante brasileiro a realmente conhecer o Brasil. Então, em 1845, a primeira viagem que ele faz é para o sul do país, logo depois que foi pacificado, que acabou a revolução farroupilha. E depois, na década de 50, ele vai para o norte-nordeste, já com a ideia de usar o rio São Francisco para irrigação do semiárido brasileiro. Então, a ideia
da transposição do rio São Francisco já é uma ideia da época dele; não feita por ele, mas estudada por ele. Ele é o primeiro governante que tenta entender o Brasil, então, por meio de todas as viagens que ele faz e do bolso dele. Tipo, ele recebia, por exemplo, o que o ministério recebe hoje para manter o ministro funcionar; ele recebia como imperador do Brasil. Então ele recebia uma dotação e ele nunca passava além daquele valor. Com esse valor, ele fazia muitas coisas, desde a manutenção dos palácios até mesmo essas viagens que ele percorria, não só
o Brasil, como o mundo. Então, acho que uma das principais questões da época do Dom Pedro I é isso: fazer o brasileiro se entender como brasileiro, tentar unir o Brasil, não só pelas comunicações, mas também pelos meios de transporte. Ele vai ser aficionado pela ferrovia, pela velocidade em geral, pela evolução do barco a vapor, ah, pelo telefone. Então o Brasil vai ser o primeiro lugar que vai ter telefone no Brasil, depois no mundo. Depois eu explico um pouco melhor isso, se der. Ah, e ele faz o Brasil ser visto no exterior pela primeira vez. Então
as viagens que ele faz para o exterior não são passeios normais; ele está indo atrás de pessoas que têm algo a contribuir para o Brasil. E não só isso, mas também ele vai para lugares pontuais onde ele sabe que pode encontrar algo sobre a história do Brasil para copiar e enviar para cá. Então, essa preocupação toda com o Brasil é uma das principais colaborações dele, porque ele faz o Brasil realmente ser visto muito além do que era até então. Ó, opa, o que deu na voz? Aí, fala, a Fernanda Souza. Ela perguntou: quais foram as
repercussões internacionais da queda do império brasileiro para as monarquias europeias? Ah, você tem várias, tipo... ah, primeiro que, assim, o império brasileiro aqui é uma jabuticaba; só tem aqui, é uma coisa que é uma anomalia. O jeito que foi é único, né? É uma coisa única. Então, assim, era esperado que alguma hora acabasse, mas não do modo como acabou. Então você vai ter muitos impérios, o império russo, o império alemão... muita gente só reconhecendo o Brasil como república depois que o Dom Pedro I morre, e mesmo antes disso, não reconhecia. Então foi muito forte essa
questão do modo como foi feito, porque até era esperado que fosse. O próprio Dom Pedro I achava que não haveria... Ele estudava a perspectiva de talvez não existir o reinado da filha. Ah, mas ninguém achava que ia ser tipo "bota fora", como foi na calada da noite, de um dia para o outro; uma coisa horrorosa. Eles chegam na Europa sem dinheiro porque não tinham nem conseguido pegar o que tinha no Brasil, que eram botados para fora. Então isso pegou muito mal. Portugal e várias outras nações não vão reconhecer a república do Brasil tão fácil. Ó,
calma aí que eu perdi o fio; alguém vai apanhar por você. Pelo menos não vai ser eu. É, ó, o Marcelo Vieira perguntou: como era a relação da família imperial com a população brasileira na época? Eu perguntei um pouco sobre isso; queria saber mais sobre essa relação. Falaram que era próxima, mas o povo gostava? Como que era a opinião pública, a aceitação da família real aqui? Ela tem fases. Então, você, no final do império, já tem uma mudança do modo como eles eram vistos. Eles continuam fazendo a mesma coisa; continuam representando o poder. O Dom
Pedro continua recebendo a população até o fim, só que você já tem uma imprensa que está cavando a sepultura da princesa Isabel, que os republicanos não querem; esse terceiro reinado. Eles não querem que a princesa Isabel vire imperatriz do Brasil por uma série de razões, muitas delas de ordem machista, patriarcal. É porque, assim, ela demora muito tempo para conseguir ter filhos. Então, quando ela casa, quem vai ter filhos primeiro é a irmã, que era mais nova e logo começa a ter filhos. Aí vai, ter um atrás do outro. A princesa Isabel vai demorar 10 anos
para ter filho, e aí começa aquela coisa: se ela, como mulher, não serve nem para ter filho, como é que vai governar o Brasil? Era nesse nível a discussão, nesse nível. E antes disso, antes de casar, a Constituição Imperial previa que o príncipe imperial, ou seja, o herdeiro do trono, quando completasse 21 anos, tomaria um assento no Senado. Ele passaria a ser senador do império, justamente para começar a entender os problemas brasileiros. Tinha um Senado; funcionava a estrutura, um Senado bicameral, era como hoje você tem o Senado e a Câmara de Presidentes. O poder executivo
era o imperador, que nomeava o primeiro-ministro. Era, na verdade, um parlamentarismo meio às avessas, porque nomeava o primeiro-ministro, e o primeiro-ministro nomeava os seus ministros. E aí ele tinha que contar com a boa vontade do Parlamento, que nem sempre saía da maioria. Às vezes saía, às vezes não saía, dependia. E aí, se não saísse, o negócio não estava andando, e era desfeito. O Parlamento era feito novas eleições, tinha roubalheira nas eleições. Aí teve uma eleição chamada "eleição do [__]", porque foi na porrada. É sério, sério! Primeira eleição do Dom Pedro... só homem quem votava, só
quem tinha dinheiro, e só branco que tinha dinheiro. Então, você tinha fases: você tinha o eleitor paroquial que ganhava X por ano, você tinha o eleitor provincial que ganhava X, e você tinha um outro eleitor, o terceiro eleitor. E para os postos, também, para você se candidatar a deputado, o que seria hoje deputado federal, você tinha que ganhar tanto. Não era qualquer um, entendeu? Então, basicamente, era a elite que estava lá dentro, e o Senado era pior ainda, porque o Senado era vitalício. Então, você entrava no Senado, você não saía mais. E isso é um
grande problema para acabar com a... depois eu volto nisso, para acabar com a abolição da escravidão. Bom, então você tem a princesa Isabel sendo malhada na imprensa. O marido dela, por ser francês, sendo malhado na imprensa. Então você tem isso chegando nas... Obviamente, você começa com uma certa má vontade do povo. Só que, ao mesmo tempo, você percebe que, assim, eles não eram odiados, eles estavam meio que fazendo papel que era deles. Tanto que o Dom Pedro I, quando tem a crise lá e o Deodoro dá o golpe, ele não quer resistir. Ele parte do
princípio que, se não querem, ele vem embora, é mesmo! Ele não é essa coisa do poder pelo poder, entendeu? O cara está lá desde criança, sabe, fazendo aquilo. "Não me querem mais, tchau, eu vou embora." Sério, não é? Achei que era não largar o osso. Mesmo assim, não ele, nem o pai, o Dom Pedro I também vai embora. Mas eles perdem as terras, perdem as propriedades. Como que é? Se eles fossem embora, eles abandonam as coisas? Ou tipo, continuam? Eles são obrigados... eles te enfiam na história. O Dom Pedro I ainda conseguiu fazer uma coisa
mais organizada: ele vai para um navio, ele faz a medicação dele. Deixa o trono para o filho, e vai para um navio. E britânico, não; é um navio francês. E a bordo desse navio francês, ele dá todas as ordens para resolver as questões. Então ele vende o que tem que vender e tal, e aí depois nomeia um procurador e vai para a Europa, sim, mas também por questões políticas e tal. Quando Dom Pedro I é mandado embora na calada da noite, enfiam-no no navio e tchau. É como a moeda atrás, as propriedades ficam. Só que
aí tem um grande problema, porque querem dar um dinheiro para ele como uma indenização, sim, por ele ter perdido o trono. Era muito dinheiro, e aí ele acha uma bandeirinha louca, tipo: "Não, eu só quero o que me devem pelo dote da Imperatriz." Porque quando a Teresa Cristina casou com ele, no contrato de casamento estava assim: "caso perca o trono, caso aconteça alguma coisa, tem uma quantia que ela tem que receber." Então ele queria que isso fosse cumprido. E ele tinha as propriedades, só que quando ele telegrafa isso no meio do mar... acho que foi
em Tenerife, que eles dispararam no Cabo Verde. Ele manda esse telegrama para cá, e Rui Barbosa e os republicanos entendem que, com isso, ele não reconhecia a república. Por quê? Porque eles entenderam que ele não estava aceitando um acordo pela república feito pela república. Só que ele não estava aceitando o acordo porque achava um absurdo a república dar aquele dinheiro para ele. Tipo, "Quem são esses senhores que pegam o dinheiro do cofre dessa maneira?" Não era uma coisa que ele estava acostumado. E aí eles entendem que, então, ele não quer reconhecer a república. Então, cai
fora, cai fora, não! Eles banem ele. Então ele não está no exílio mais; ele vai ser banido, vai ser proibido de entrar no Brasil. Tanto que isso vai impactar a Teresa Cristina. Ele saindo daqui, em 16 de dezembro, ela morre em 27 de dezembro de coração partido, falando: "Brasil, terra linda, para lá não posso mais voltar." E assim, quando chega a notícia da cidade do Porto, um dia depois ela morre de tão forte que foi o impacto. Caramba, forte! Então, assim, a opinião pública, o povo se divide... O povo não faz nada, né? Tanto que
tem uma frase famosa. Essa famosa tem uma do de do do, acho que é Alícid Lobo, que fala que todos assistiram bestializados à partida. Tipo, o povo se juntou lá, mas também não fez nada. Não impediu que fizesse. Ah, até tentaram. Os marinheiros tentaram libertar o Dom Pedro de noite, ainda quando ele estava no Passo Imperial. Só que o exército pegou os caras, mataram os caras, e aí o Dom Pedro ouviu aquilo. E aí os militares mentiram pro Dom Pedro, falando assim: "Ai, gente, que quer vir matar o senhor, é melhor a gente acelerar isso
embora, sabe? Aí vai na CL da noite." Mas era mentira. E aí tem um fim triste, né? Assim, bem melancólico, totalmente melancólico. Não piora, porque, quando eles estão indo embora do navio, eles passam por Fernando de Noronha. E aí o Dom Pedro escreve um poema falando que é o último pedaço da Pátria que ele está vendo e tal. E aí eles soltam uma pomba. Cara, a pomba morre. Desculpa, mas é muito engraçado. Eles abrem, ela estava fraca, jogam e ela cai no mar. Meu, é assim, mano, é uma depressão. Ai, cara, os caras falam: "É,
velho, deu ruim, né? Deu ruim." E aí, no próprio poema, ele coloca da pomba que morreu, uma cacetada, uma coisa assim. É bem triste, é bem... E aí tem um que morreu, não lembro quem. E aí teve um jornalista argentino, ox, o argentino que falou assim: "A Proclamação da República no Brasil se resume ao morto e a 100.000 desanimados." Os caras não fizeram nada, deixaram o imperador. Então era uma coisa que assim, eles viam aquilo como uma passagem, acho que não. Mas vamos fazer essa linha temporal do Dom Pedro I. Então, como que ele... como
que é o começo até o final dele, o Dom Pedro I? Ele nasce no Rio de Janeiro, então ele já tem uma vantagem do avô e do pai. Ele nasceu aqui, tanto que o pai fala: "Eh, o meu filho não vai ter os mesmos problemas que eu porque ele nasceu aqui, ele é brasileiro." Então, ele nasce em 1825, no dia 2 de dezembro de 1825. Ele quase não conhece a mãe, porque a Dona Leopoldina morre pouco depois dele completar um ano. Ela morre em dezembro de 1826, então ele vai esquecer essa figura da mãe. Ele
não tem lembrança, não tem referência. Quer dizer, vai ter a referência de que ela foi uma grande cientista, que ela tinha o gabinete de História Natural, as pedras, toda a questão de mineralogia que ela gostava. Isso vai ficar com o Dom Pedro I, e ele vai receber pessoas dentro desse gabinete e tal, para mostrar essa questão da mãe, mas é uma mãe que ele não tem lembrança, né? Imagina, ele tinha feito um ano, ele não tem lembrança nenhuma. O pai já não... O pai parte quando ele está com seis anos, porque o pai vai embora
em 1831 e deixa ele no Brasil. Não só ele, como o resto dos filhos. Isso que é duro, porque ele leva a filha mais velha, que era rainha de Portugal, Dona Maria I, que ele vai lutar pelo trono da filha, e deixa aqui o Dom Pedro I e as irmãs. E aí, a bordo desse navio, que ele fica, o Volage... tem dois navios, tem o Volage e tem outro, enfim, eu não lembro, ele troca o navio, mas eu acho que é o Volage que ele estava. Ele escreve, tem os rascunhos que é a miscelânea, uma
caderneta, e ele pensa em tirar os filhos, ficar com alguma das crianças, deixar só o Dom Pedro I, mas ele acaba deixando todos os outros filhos aqui, que são o Dom Pedro II e as irmãs, porque se o Dom Pedro I morre, tem que ter outra pessoa para o trono. Então, meio que ele deixa um time de reserva, sabe? Assim, e aí o Dom Pedro vai ser criado dentro de São Cristóvão pelos regentes. Primeiro, o tutor dele vai ser o José Bonifácio; depois vai mudar. O José Bonifácio vai brigar com todo mundo. Tutor é um
cara que, representante legal, tá? Em nome do pai dele, o que poderes tinha essa pessoa. Ela cuidava da educação dos funcionários do Passo, do Passo onde estavam as crianças. E a escolha dos professores e tal. Só que vai ter uma briga entre o José Bonifácio e a regência, porque o José Bonifácio se metia em política. Ele estava tentando tramar a volta do Dom Pedro para assumir a regência em nome do filho, quando ele resolvesse essas coisas em Portugal. E aí descobrem... E aí tem um quiprocó. E aí tiram ele praticamente preso de lá, mandam para
Paquetá. Ele acaba morrendo lá, em uma casa que ele tinha, não. Ele depois vai para Niterói, mas fica longe do Rio de Janeiro de qualquer jeito. Ah, e aí depois assume outro regente. Então, é simples. Essas crianças estão sempre de mão em mão, e é tão forte essa questão que colocam na cabeça dele que tem que ser a antítese do pai. Que ele veste antítese por uma antítese, assim, não pode ser humano. Não pode... Se você tiver amante, você vai esconder tuas amantes. Tipo assim, deu ruim ele ser assim. Quero que você seja, porque que
não é que deu ruim. Não tinha nada assim. Que você falou: "Putz, seu pai não tinha..." Tanto que o José Bonifás escreve que quando Dom Pedro morre, ele escreve uma carta linda para Dom Pedro I, falando que os heróis não morrem. Sabe, era mais essa parte de ser mulherengo, essas coisas que ele não queria que se repetisse também. Mas é que, assim, essa questão de você estar totalmente imbuído da sua missão, então você tem que passar para as outras pessoas em volta. Tem uma frase, do Júlio César e da esposa, que tem uma discussão, e
aí ele fala: "A mulher de César não basta ser honesta; tem que parecer honesta." Então, essa questão da figura pública… Sei, sei, o Dom Pedro I é essa figura pública o tempo todo. Você lê os diários dele, que eu trago nessa nova edição, e ele parece uma criança que, a todo tempo, está sendo observada. Ela escreve em terceira pessoa no diário dela: "Fui, mas não pensem que..." Tipo, quem pensa em quê; já está preocupado com o que pode ser falado. Você pensa, assim, no diplomata da Áustria, que era meio que o enviado do avô dele,
que a Leopoldina era filha do imperador da Áustria. Então, esse diplomata que está no Rio de Janeiro, ele manda vários informes para Viena a respeito desses netos do imperador da Áustria. E aí tem um que ele fala assim: "Olha, estamos mandando para a Vossa Majestade em Viena um retrato do jovem imperador, ele com nove aninhos." E ele parece um boneco duro, assim, uma cara pesada, sabe, assim, com nove anos já. E aí o cara explicando: "Essa é a fisionomia que ele assume quando tem gente perto." Então, você vê que ele já estava treinado para aparecer
como Imperador desde pequenininho, né? Então, é uma carga muito grande. Imagina, cara, ele não teve uma infância, né? Não de criança. E você tem essa busca pelo pai; isso é uma coisa. O Dom Pedro I busca o pai o tempo todo. Quando ele vai para o Sul, na primeira viagem que ele faz para o Sul do país, ele vai desembarcar em Santa Catarina, que é o primeiro lugar, a primeira cidade, a primeira capital, né? O Desterro. E no dia, que é o aniversário do pai, 12 de outubro, ele espera. Ele chega no dia 11 de
navio, mas espera o dia 12 para desembarcar. Quando ele está enviando ao Rio Grande do Sul, Porto Alegre, ele está passando pela mesma estrada no mesmo dia, tantos anos depois, que o pai passou. Sabe, tem essa busca pelo pai, incessantemente, o tempo todo. Ele vai para a Europa, e a primeira vez que ele desembarca, isso até uma amiga minha, Cláudia Vit, que notou, ah, quando ele desembarca na França, ele desembarca dia 12 de julho; é o mesmo dia que o pai desembarcou lá em 1831. Sabe, tem sempre essa questão do pai ser umas datas emblemáticas,
assim. E assim, esse pai mesmo ausente, ele vai embora em 31 e morre em 34. Quer dizer, ele também fica fora vivo três anos depois que ele vai embora do Brasil. Só que escreve para esse filho uma quantidade enorme de cartas para essa criança, e tem muita coisa que ele escreve que você olha e fala: "Isso aqui não é assunto para criança." Sabe, pô, o cara tá brigando, falando mal do governo do Brasil, falando sobre umas coisas assim que você vê. Aí você descobre que, quer dizer, com maturidade, com o tempo e tal, você descobre
que aquilo, na verdade, são cartas meio para o futuro. Tipo, ele tá escrevendo pro filho, mas ele tá meio que já alertando de um monte de coisa que pode vir a acontecer, e tal, meio que dando conselhos já para essa criança. Então, é duro, porque ele não tem infância; isso é bem complicado. E ele vai se agarrar em algumas… essa ausência do pai faz com que ele busque heróis. Então, ele vai adorar o Ivanhoé, do Walter Scott. É a literatura da vida dele. Quando ele vai pela primeira vez para a Inglaterra, ele vai para Edimburgo,
vai conhecer a filha do Walter Scott. Walter Scott já estava morto. Então, tem essa coisa da idolatria do herói. Ele vai adorar o compositor Richard Wagner. Ele queria que Wagner viesse para cá, mas perde pro rei da Baviera, que pega Wagner como compositor, por causa daquela questão dos heróis míticos germânicos. Então, isso é uma característica psicológica dessa ausência desse pai. E tem umas coisas curiosas também, de comida, né? Eu estava lembrando que lá no Museu Imperial, em Petrópolis, ele constrói a casa a partir da década de 1840 como uma forma de ter um lugar de
descanso no verão, para sair da cidade do Rio de Janeiro. E aí ele planta um jardim com frutas, com espécies nativas de vários lugares do Brasil, e ele planta jaca. Jaca! E tem o grumixama. Grumixama é tipo jabuticaba, que até hoje é a grande fruta lá de Petrópolis. O Dom Pedro que gostava. Então eles fazem licor de grumixama e tal. E a jaca… Engraçado que o Dom Pedro, assim, já mais velho, andando pelo parque, estava saindo para ir para fora, para ir para algum lugar, aí o cara que estava acompanhando ele falava assim: "Mas o
senhor não anda por aqui?" "O senhor não é..." Um cara lá que tá roubando a jaca no meu jardim... vai que eu apareça, ele vai se assustar, ele vai cair, vai quebrar uma perna. Tipo, deixa ele roubando a jaca sozinho, sei lá, muda o caminho pro cara não se assusta. Cara, tem várias coisas... tem várias coisas. Tem uma do Dom Pedro I. Ele vai viajar, né? Como eu falei, ele faz ao todo 14 viagens pelo Brasil. Só uma coisa: essa escolha de Dom Pedro I, quem é? É o pai que escolhe ou é um termo?
Não, aqui nem Papa vai mudando de acordo com a... mas ele poderia escolher outro nome ou era obrigado a ser Dom? Normalmente se seguia a tradição. Ah, é verdade. É, não pode ser que... não, o Papa não. Você tem razão. Mas da Inglaterra podia, porque estavam até em dúvida se o Charles ia assumir como o Charles... não sei qual o número. Escolhe algum nome emblemático. Podia, podia... mas no caso do Brasil também, a gente era novo, não tinha tradição direito. O primeiro, o segundo e o último. Mas tem várias histórias, que nem essa da jaca.
Tem uma outra que ele... ele era imparável, era que nem o pai. Isso, ele pega essa energia constante. Mas não de mulher. Você tá falando de imparável e de mulher também, mas ele era mais escondidinho. Tem umas cartas picantes lá, que ele... ele tem várias amantes também, é que ele pede pra... enfim, não é que é picante. Pra ele era muito picante. Você vê que ele tá assim de olho no peito da mulher, assim, aí ele tá lá olhando a foto. Já tinha foto, né? Isso aqui não tinha? Na verdade, já tem uma evolução. Já
tinha uma selfiezinha lá, um embrião de selfie. Então, você vê que ele também gostava. Ele cavava pra ter casa com o imperador. Tinha que falar que ele ia conhecer a biblioteca dele, o Dom Pedro I. O Império... já tinha Império, mas ele viajava. Ele... ele... ele era imparável. Dom Pedro I era uma coisa assim... ele acordava 3, 4 horas da manhã, ele lia todos os jornais e saía fazendo 500 mil coisas. Então, quando ele tava fora do Brasil, era impossível segurar o homem, porque ele queria conhecer tudo. Imagina, o cara ficou conhecendo tudo por livro
desde que ele nasceu até quando ele conseguiu sair pela primeira vez do Brasil, com quase 50 anos. E aí, quando ele chega nos Estados Unidos, que ele vai para os Estados Unidos, vai pra Europa e tal, o cara era imparável. Ele chegava nos lugares, no lugar não tinha nem aberto ainda. Então, ele acordava as pessoas porque ele queria conhecer o lugar. E aí, quando ele vai para os Estados Unidos em 1876, ele tá em Boston, ele quer conhecer o Bunker Hill Memorial, que é um memorial da Independência norte-americana. Ele vai para as comemorações do Centenário.
Imagina o cara, era o único imperador comemorando o centenário da República dos Estados Unidos! E aí, chega lá em Bunker Hill, ele tinha saído 5 horas da manhã do hotel, ele chega e ninguém atende. Daí aparece o zelador, puto da cara, que tinha acordado ele. Aí ele fala que queria visitar tal lugar. Aí o zelador fala: "É 50 centavos." E não sabia que era o imperador do Brasil. Só que nessa época, 1877, o dinheiro era uma coisa suja, era uma coisa das classes mais baixas, que tinham que trabalhar, né? Então, assim, o Imperador, um nobre,
não tratava de dinheiro. Geralmente, alguém pagava pelo imperador e isso era contabilizado e devolvido dinheiro depois por alguém, não que o imperador carregasse dinheiro ou saísse com moeda. Aí ele volta na carruagem e pede pro cocheiro um empréstimo, até voltar pro hotel. Aí o cara veio, e vem com dinheiro lá, com 50 centavos, dá pro zelador, o zelador libera. Aí, algum tempo depois, chega um historiador norte-americano e vai assinar o livro de visita e vê: "Dom Pedro de Alcântara, o Imperador do Brasil tá aqui." Aí o zelador: "Imperador? O cara é um vagabundo, o cara
não tem dinheiro!" O cara não tinha 50 centavos no bolso, o cara é imperador. Que merda de imperador é esse? É engraçado, e esse cara relata isso. Um historiador relata. Então tem muitas coisas que... é engraçado. Porque assim, você pensa em imperador e tal, mas ele não tinha, sabe? Essa coisa, tipo, esse glamour. Não tinha glamour pro cara não perceber que ele era imperador. Também não tinha, eu não imagino, que não tinha uma pompa assim, a roupa ou a galera puxando o saco dele. Não, ele era... e ele era super... a Rainha Vitória conhece ele,
visita a Rainha Vitória duas vezes, e a Rainha Vitória, no diário dela, fala assim: "Ah, ele é bonito, ele é alto, mas já tá grisalho com 40 anos." E é imparável, tá sempre com sábios, tá sempre com cientistas. Essa era a galera dele. E ele se relaciona com toda essa gangue. Tipo, Pasteur... ele tenta trazer pro Rio de Janeiro pra acabar com a febre amarela. Sério? É o Wagner, o Richard Wagner, o Thomson, que era um cara que tava começando a estudar a telegrafia a nível continental. A questão de cabos submarinos e tal. E o
Grael, o telefone... tem um dedo do Dom Pedro. Se não fosse o Dom Pedro, provavelmente a história do telefone seria outra. Sério! O Grael vem de uma família que... porque o Dom Pedro, na verdade, conheceu o Grael antes da invenção do telefone. Gr Bell vem de uma família Bel, que na Escócia tinha o objetivo de ensinar surdos a se comunicarem. O governo chamou o pai do Grell para Boston, para criar uma escola para que as pessoas surdas aprendessem. Deficiente auditivo, eu acho que é politicamente correto. E o que acontece? Dom Pedro tinha criado aqui em
São Paulo, no Rio de Janeiro. Na época, não era politicamente correto; era Instituto de Surdos Mudos. Hoje, você sabe que eles são surdos porque não aprenderam a falar, né? E ele tinha esse interesse nessa questão, inclusive porque o genro dele, o Conde D., era surdo, totalmente ou muito surdo, bastante surdo. O genro, o cunhado dele, o Príncipe Joinville, também era surdo. E aí ele vai para Boston, quando está nos Estados Unidos, visitando os Estados Unidos em 1876. Ele vai para lá para conhecer o sistema do Bell, para trazer para o Brasil, para a escola. Quando
estava acontecendo a Feira da Filadélfia, que era a feira do Centenário da Independência dos Estados Unidos, Bell estava no estande para demonstrar o telefone, só que ele tinha que voltar para a escola no dia seguinte. Dom Pedro estava com os outros jurados, indo visitar os estandes, e deu tal hora que acabou. Então, agora, só no dia seguinte os jurados voltariam para ver os estandes. Só que, no dia seguinte, o Grambel não ia estar lá porque tinha que voltar para a escola. Aí o Dom Pedro dá uma puxada e diz: "Não, mas vamos ver lá do
meu amigo". E aí vem a questão do telefone, e o telefone é visto. Aí diz que, além de Bell ter falado no telefone, Dom Pedro teria escutado: "Ser ou não ser, eis a questão". E aí Dom Pedro teria reagido: "Nossa, isso fala". Só que no Diário de Dom Pedro I não tem nada disso. Ele pergunta: "De onde vem essa informação?" Ah, isso é posterior, já é uma lenda. Tem até um filme da época, logo depois da morte do Grambel, que coloca a Rainha Vitória como uma grande ajudadora, e tal, que teria ajudado Grambel. A filha
do Grell desmente totalmente e fala que, se não fosse o Imperador do Brasil, ninguém ia saber do invento do pai dela, que ia ser muito difícil ter a divulgação que teve. Tanto que o Dom Pedro traz o telefone para cá; o Rio de Janeiro é uma das primeiras cidades do mundo a ter telefonia. Ele tem essa questão de olhar o que está acontecendo no mundo, se corresponder com as pessoas que estão fazendo as coisas acontecerem e trazer isso para o Brasil. Ele já estava ligado na Inteligência Artificial naquela época. Olha, cara, não brinca. Hoje em
dia, estaria. Sabe por quê? Ele escreve um documento chamado "fé de ofício". Quando ele já está no exílio, antes de morrer, ele faz meio que um balanço do que foi o governo dele. Tem uma parte que é muito legal em que ele fala: "Eu queria viver mais para ver a descoberta de aparelhos que voassem acima das tempestades e abaixo das tempestades do Oceano". Ou seja, ele estava falando de submarinos e do avião. Ele também tinha a questão do "bolsinho do Imperador". Ele tinha os bolsistas, então essa coisa de "bolsista" vem da bolsa. E ele também
dava bolsa. Quando ele vai para Nova York, em 76, ele conhece os Estados Unidos de ponta a ponta, de Nova York a São Francisco. E ele vai para New Orleans, para vários lugares, e vai conhecer os Mórmons. A princesa fica com ele. E aí, quando ele chega em Nova York, conhece uma brasileira chamada Maria Augusta Generoso Estrela, que estava estudando medicina. O pai dela estava bancando a filha em Nova York, só que o pai entra em falência no Brasil. E por que ela estava estudando em Nova York? Porque a faculdade de medicina era melhor. Não,
na verdade, porque no Brasil a mulher não podia frequentar faculdade, e a lei quem fazia era o Parlamento e o Imperador. Mas aí Dom Pedro vê aquela mulher interessada em medicina, pedindo ajuda para ele se manter, e ele dá dinheiro, paga o resto do curso de medicina dela. E não era só "Ah, vou te dar para a tua faculdade". Entrava toda uma questão de representatividade: "Tipo, o Imperador do Brasil está te pagando, então vai ter uma bolsa para você se vestir, vai ter uma bolsa para você pagar o seu aluguel, porque você está representando o
Brasil". Então, você está representando diretamente o Brasil. Ela volta para o Brasil já formada em medicina, mas volta quando ele consegue passar a lei que permitia que mulheres entrassem na faculdade. Quer dizer, ele, quando vê essa mulher lá, provavelmente começou a enxergar os ministros e disse: "E aí, né? Vamos lá!". E outra coisa que é interessante nesse negócio da aviação é que ele também banca um... agora não vou lembrar o nome... para estudar em Paris questões de balões e dirigíveis. Então, ele já estava de olho, numa época que estava Júlio Verne falando sobre. Isso sabe,
era ficção científica. O cara estava investindo no que era ficção científica na época. É muito acima, sabe? É uma coisa assim que... e aí eu escrevo sobre monarquia. Só que assim, eu estou falando das partes boas. Tem um monte de parte ruim; tem escravidão, tem guerra. Falo, mas entre os dois, qual foi o melhor governo, você acha? Ah, o Dom Pedro I. É que assim... o Dom Pedro I pegou o rojão, pegou, né? Porque tinha aqui... tinha Independência, teve Guerra da Cisplatina, teve Revolução em Pernambuco, teve um monte. Então, para conseguir manter todo esse país
unido, o Dom Pedro foi o homem de ação, né? Isso, ele foi homem de ação. Depois que essa ação foi feita, vem o Dom Pedro I com uma coisa de "agora vão resolver isso daqui, vamos transformar isso aqui realmente num país", né? Então, ele tinha essa questão de tentar fazer com que o Brasil virasse uma potência. Essa era a ideia, mas com todos os problemas que tinha. Então, mas vamos falar, por exemplo, da escravidão. Eu sei que não dá para a gente pensar com a cabeça de hoje sobre a escravidão, com a cabeça deles, como
eles viam a escravidão. Porque é muito fácil a gente falar: "Nossa, que absurdo, como os caras não acabaram com a escravidão?". Mas eu quero entender a cabeça deles, o que era a escravidão e como funcionava, né? Tem isso aí que você está falando. Tem um termo que se refere a isso, que sabe, né? Que é o cara do "Senhor dos Anéis", o Tolkien. Claro, claro, ele era amigo do C.S. Lewis, que escreve sobre... tinha... eles eram na faculdade, tal. Eles inventaram o "C.S. Lewis" e outro amigo deles, que agora esqueci o nome, inventaram o "Teorema",
que é o esnobismo cronológico. Então, você olha com o olho agora e fala: "Nossa, eu sou muito mais inteligente, mais evoluído. Nós somos na crelidez idiotas, não sabe como algum dia alguém vai olhar para o dia de hoje e falar: 'Os caras dirigiam carros que atropelavam pessoas, não era totalmente por computador e não tinha falha, tinha falha. Os caras eram loucos'. Tem uma amiga minha que fala: 'Imagina nossos filhos, nossos netos e bisnetos julgando a gente por dar descarga com água potável'. É, né? Tipo, é uma coisa que se não tiverem água, tipo, vai ser
fácil, né? A gente vai ser cancelado daqui a 570 anos. Então, como chama o termo? Esnobismo cronológico! Ó, esnobismo cronológico! Gostei disso. Quando você—ó, por exemplo, Dom Pedro I, ele aproveita também para falar como você olha para um tempo passado para escrever um livro. Porque com certeza você tem um filtro, né? Você tem que ter algum tipo de sarrafo. O filtro é justamente não julgar, porque você não pode... a partir do momento que você julga, então assim, eu... você está confinado ao teu tempo histórico, às suas crenças, à sua ludologia. Então, assim, não julgar é
tratar aquilo com a documentação e amparado com o que estava acontecendo na época, nos mesmos lugares, porque você não pode trazer para hoje. Porque se não, aí você comete anacronismo. Porque 'Ah, por que que o cara não mandava um e-mail? Era mais rápido!'. Exato, não dava. Então, tem umas coisas que você tem que meio que se limitar àquilo que a informação está dando. As cartas são de... e mesmo assim você tem que tomar cuidado, porque quando Dom Pedro escreve pra amante dele falando: 'Não namorei mais ninguém desde que lhe dei minha palavra de honra, não
vai acreditar, entendeu?'. Não tem como acreditar. Então, assim, você também tem que tomar cuidado com a informação que ele está te passando. As pessoas mentem, as pessoas aumentam e você também não pode... eu pego uma carta... sei lá, cara, pega uma coisa que você escreveu há 10 anos atrás. Você não é aquela pessoa! Exatamente! Você não pensa mais daquele jeito. Então você tem que tomar cuidado, você tem que acompanhar o desenvolvimento intelectual e até mesmo a capacidade do que aquela pessoa aprendeu e como ela modificou ao longo do tempo. Mas no caso do Dom Pedro
I, ah, ele era a favor da liberdade dos escravizados. Desde Dom João já era, o Dom Pedro I também era. Ah, em 1831 você vai ter essa queda dele, entre outras coisas, porque anos antes ele tinha assinado com a Inglaterra um tratado que já falava do fim do tráfico de escravizados pelo Atlântico. Só que entre ele assinar e ser criada a lei para isso, quando caiu no Parlamento ficaram putos. Porque eu falei: 'Quem eram os eleitores e quem era os elegíveis?' Era quem tinha dinheiro! Quem tinha dinheiro, geralmente, era latifundiário, escravagista; os caras não queriam
perder a boquinha! Então, isso se voltou de várias maneiras contra ele e o negócio foi insustentável. Ele acabou abdicando. O Dom Pedro I, para conseguir fazer a abolição, ele tem que limpar o Senado. Então, assim, como o Senado é vitalício, e para passar qualquer lei tem que passar pelas duas câmaras, ele tinha que limpar o Senado de quem era favorável à abolição para poder passar. Então, uma das pessoas... por exemplo... ah, isso era legal: você tinha uma eleição. O cara morria lá no Ceará, por exemplo, e o senador pelo Ceará... morreu! Morreu realmente! E foi
feita a eleição no Ceará. O cara elegível... e aí o Ceará fazia o quê? Chegava uma lista tríplice para o Imperador. Então, era o Imperador que escolhia o senador. Então, dentro daquela lista dos três primeiros que foram mais votados, essa lista chegava para o Imperador. E aí, o Imperador escolhia quem, daqueles três, ia ocupar o cargo no Senado. É que nem tem lista tríplice até hoje para cargo de procurador da República, para essas coisas mais governamentais e para o Senado, para Senador, para cargo vitalício. Senador também, o Dom Pedro, começa a partir do momento que
ele assume o poder a vetar a entrada de gente que ele sabia que era contra a abolição da escravatura. Pô, então ele já começa a fazer essa lista. Tem os passos, então, que ele tá seguindo para conseguir. Ele fala sobre isso, você percebe analisando toda... que nem, porque você vê que ele come sucessivamente. Eu tô tentando lembrar o nome do ator, de um autor. Ele era cearense e ele é super famoso, e o Dom Pedro não deixa o cara, de jeito nenhum. E o cara é mais votado em duas eleições consecutivas. Ah, é? E aí
eu comecei a pegar. Eu falei: "não, pera aí, tem alguma coisa errada aqui." O cara foi eleito pela... por voto, duas vezes. O Dom Pedro, as duas vezes, barrou o cara. Aí eu comecei a ver que ia colocando no lugar, e aí eu vi que aquelas pessoas que colocavam no lugar acabaram assinando a primeira lei. Ah, sabe assim? E você começa a perceber que tem essa questão política envolvida. E além disso, tô procurando aqui o do cara, pegando cola aqui. Não, tranquilo, tranquilo. José de Alencar, que escreveu *Iracema*. Claro, eu joguei *Iracema*, lembrava. S, nome
do autor. O José de Alencar é barrado e vários outros são barrados, e com isso ele vai limpando o Senado. Quando ele para, escravocionista, o... ele é escravocrata, escravocrata, né? O escravista, escravocrata. E ele... porque, ah! E aí inventavam essas coisas, tipo assim: "não, porque veja, os escravos sozinhos, eles não vão porque são inferiores." Você tem que inferiorizar o outro para poder. Escrever, claro, então aquele ser escravizado como humano não tem como defender, exatamente, né? Então, assim, eles eram meio dessa linha de "ah, não, vamos..." Eles ainda têm que ser educados por... então, coloca na
escola, né? E aí vamos aos poucos. Muita pressa! É... então assim, havia essa ideia do... E aí o Dom Pedro, meio que quando a primeira... tem a primeira viagem em '71, para que a filha dele morre em '71, ele parte para pegar os netos porque eram os únicos herdeiros dele, porque a princesa Isabel não teve herdeiro. E aí, quando ele parte pra Europa, ele me ameaça: "se vocês não passarem a primeira lei, que era a lei do ventre livre, sim, pode ser que eu não volte." Sabe assim, uma coisa assim. Mas, ao mesmo tempo, ele
já tava cimentando a carreira, vamos dizer assim, da princesa Isabel, a imagem que ela ia ter como Redentora. Porque a lei do Ventre Livre, o Sexagenário e a Abolição final, é... na época é sempre ela como Regente. Entendi. Você vê que ele já tá criando esse imaginário dela ser a Libertadora, né? A Redentora. E aí, o que que é interessante: a lei do Ventre Livre fala que a partir daquele ano, as pessoas que nascessem, não sei se daquele ano, as crianças nascidas a partir de X, elas são livres. Er... Liv, tá? E aí tinha um
monte de outras coisas junto com essas coisas. Ele consegue enviar um jabuti, ele coloca na lei que todos os escravos da nação também seriam livres. Então ele consegue libertar tudo que era propriedade da coroa. Ah, é? É, nessa Lei do Ventre Livre. Oh, então ele já consegue ser libertado porque ele não podia libertar os escravizados que pertenciam ao estado, porque ele ia tá penalizando o estado. Entendi. Então, para não ter que... ele tem que indenizar o próprio estado, porque o escravizado era uma propriedade, né? E, então, tanto que isso que vai ser a grande briga
com a princesa Isabel, porque quando ela assina a abolição, ela veta qualquer indenização. E aí os escravocratas, os latifundiários, os fazendeiros eles ficam bravos porque eles entendem que aquilo... como assim, o estado pode vir aqui e tomar o nosso bem sem nos indenizar? Falando de ser humano, né? Falando de ser humano, mas para eles era um bem que valia. E aí, de repente, teve gente que já não tinha nem fazenda, mas mantinha ainda os escravizados esperando a indenização. Entendi. E essa indenização não veio, então automaticamente o ideal republicano ganha um monte de gente, de fazendeiros
que estão com a esperança que, com a República, a República os indenize. Entendi. Por isso que o Rui Barbosa taca fogo em todos os inventários de escravizados, dos seus... era agora, nem sei mais como... não tem como pagar nada, porque não tem nenhum registro. Isso acabou. O cara acaba com os registros de escravizados, porque daí não tem como. Isso já na República, depois que já tinha terminado... e a questão é que não teve nenhum plano de reintegrar esse povo. Foram largados assim. Nem... nem o Império, o Império assim... tinha pensadores, por exemplo, o Nabuco. Ele
imaginava essa reintegração. O Rebolsas, o engenheiro Rebolsas, que era negro, que vai construir a estrada de ferro Paranaguá, vai construir as Docas do Rio de Janeiro. Enfim, o cara era muito bom, era negro, era amigo do Dom Pedro. Ah, ele também tem um plano, uma ideia de reforma agrária, de distribuir terras para essas pessoas e tal. Só que nada aconteceu, porque o novo Parlamento, que ia tomar posse, ele é derrubado pela... República. A República é marcada para derrubar esse Parlamento, porque esse Parlamento que entra em 1889 era um Parlamento que os republicanos não tinham conseguido
colocar gente. Sim, eles caíram. Eles tinham conseguido 70 e pouco em diante, e tinham conseguido, nessa era, o menor índice de republicanos do congresso. Então, a ideia era dar o golpe para fechar tudo e dar um start, mas era uma coisa mais no fim. Acaba virando uma questão militar, e são os militares que começam essa questão de se envolver com política, e era proibido. O militar não podia se envolver com política; militar não podia assinar texto em jornal falando de política. Tinha toda uma questão que impedia isso, e isso começa a ser forçado cada vez
mais para os militares, até o ponto de chegar onde chegou e depor o ministério. O golpe, na verdade, era para depor o ministério, para impedir a subida desse novo congresso eleito, mas acaba virando assim, em menos de 24 horas. O que era para ser a queda do ministério acaba virando a proclamação da república. Vamos ver outras questões negativas, mas eu quero saber mais perguntas, porque eu preciso fazer o que tu. Olha, eu acho que é um xixizinho exatamente. Manda aí! Ó, vamos lá. A Ana Paula pergunta: “Você acha que o brasileiro, em geral, ignora a
história e a importância da família imperial no Brasil?” E ao que credita sua visão/opinião? Então, quando você derruba, como foi derrubado um sistema de governo, né? Você derruba a monarquia, e a república que vem tem que ser criada, inventada. Então, no outro episódio aqui eu falei a respeito da criação do mito do Tiradentes, que entra nessa questão de mostrar que já teve um herói aqui no Brasil que lutou pela república, que é tudo inventado. Isso é um mito que envolve o ideário republicano, né? Para tentar mostrar que o Brasil sempre foi republicano desde criancinha, o
que é uma mentira. As primeiras cartas do Dom Pedro para a amante dele, para a Marquesa dos Santos, são publicadas por republicanos. Tanto que no prefácio da primeira edição, em 1890, fala assim: “Estamos publicando isso para mostrar como a república é moralmente superior à monarquia.” Então, eles jogam essas cartas a diamantes como se fossem um panfleto antimonarquista. A república, o tempo todo, desde que nasce, está tentando se afirmar como o estilo de governo que é o mais adequado, o melhor e o mais superior à monarquia. Então, há essa tentativa total de apagamento, tanto que quando
o Dom Pedro I morre em Paris, há uma briga entre a França e o Brasil, porque a França faz um baita funeral de estado para o Dom Pedro I e o Brasil não manda nenhum representante, enquanto você tem nações do mundo todo que achavam o cara um governante bom, e também cientistas e outras coisas, porque ele era membro da academia francesa. Então, fica muito ruim para o Brasil. Você vê essa tentativa de desconstrução o tempo todo, mas isso só até o momento em que a república se afirma. Depois que ela se afirma, você tem vários
momentos da história onde o governante se volta para a monarquia novamente, para a figura do Dom Pedro I. Então, Getúlio Vargas entra na pegada de rememorar Dom Pedro II. Ele é quem vai criar, por exemplo, o Museu Imperial em Petrópolis; ele que vai fazer, vai conseguir o recheio daquele museu; ele que vai inaugurar o museu. Ele vai tentar se espelhar o máximo possível com o Dom Pedro I na questão da educação. Então, é um vai e volta, vai e volta, e, claro, sempre entram questões de ideologia, tanto de um extremo quanto de outro. Tem quem
insista e quem quer ver a monarquia ou mesmo a família imperial como os demônios que impediram a evolução do Brasil e a libertação dos escravizados, por exemplo. Ah, isso é ridículo, porque a questão da escravização do ser humano no Brasil está intrinsecamente amalgamada na nossa sociedade de forma nefasta desde que a gente era colônia. Começa a escravizar no Brasil em 1520, 1530, e ainda hoje são pegos pessoas em trabalho análogo à escravidão. Então, quer dizer, a república ou mesmo a monarquia, com suas leis, não impediram que esse tipo de trabalho ainda acontecesse. Então, é meio
hipócrita colocar a culpa em uma pessoa ou uma família, sendo que todo um sistema era corroborado pela sociedade, sendo que essa família tentou fazer o possível. E aquela coisa: por mais que a pessoa fosse imperador, não era um ditador. Não havia uma certa democracia, vamos dizer, como eram as democracias na época. Vamos deixar isso bem claro. Hoje é diferente o sistema de eleição, mas na época existia desse jeito. Nos Estados Unidos, existia desse jeito; na França, também. Então, dentro do que se podia do jogo de poder naquela época, havia mais interesses financeiros que impediam a
total abolição da escravidão do que uma família só. Ó, o Gustavo Pereira. Qual mito ou lenda você gostaria de esclarecer sobre a família imperial? Também deve ter muita coisa que você lê, que escuta, que deve dar nos nervos, né? É, tem assim... é tanta coisa, assim, aquela coisa de comer frango lá que a gente viu no filme. Ah... então... Fal, ISO, frango... O com frango é o seguinte: ai, caramba, isso aí é legal! Qual filme da Carlota Joaquim? Isso, Carlota Join! Existe toda uma... um desmonte, não só do Dom Preto Primeiro, não só do Dom
João, mas Dom Preto Primeiro, Dom Preto do Sego. Mas essa questão do frango é porque, entre outras coisas, ele morreu e depois comeu um frango, né? Ele estava já em Portugal e a última refeição que ele fez foi com laranja, um frango e tal. Você tem que lembrar uma coisa: o frango hoje não é da época, era frango de terreiro, era frango pequeno, era uma pomba um pouquinho mais desenvolvida, tá? Consegue imaginar, né? Não é um frango cheio de jetado de criação, né? Esse sarado que é... não é os Chester, né, com aquele peito gigantesco
que nem existe aqui direito. Então, vão diminuir o tamanho do frango. Ah, criou-se a lenda pela seguinte quantidade de frango do Dom João, porque quando a Corte vem, do mesmo jeito que tinham as aposentadorias, né? Dá essa casa aí que é tua; para mim, depois eu devolvo. Ah, as pessoas que vinham com a Corte tinham direito a comer da mesa do Rei, então elas recebiam comida. Tem lista de pessoas, então, por exemplo, a mulher que era contratada... Contratada não, a ama do neto do Dom Pedro, Carlos, do primeiro neto do Dom João VI, Dom João
Carlos, o primeiro neto do Dom João VI. A mulher recebia por dia 10 frangos, não sei quanto de vinho, uma quantidade grande de vinho, arroz, chouriço, banha... uma quantidade absurda! Só que assim, não era para ela e não era para criança, era para todo mundo que dependia daquela criança, então as criadas... todo mundo comia daquilo que era recebido. Ela tinha que gerenciar isso. Só que isso é um... quer dizer, se aquela mulher recebia por dia X frangos, a quantidade que todo mundo recebia era muito grande. Então, começa a vir até frango de São Paulo para
abastecer a Corte no Rio de Janeiro e começam ainda a caçar frango de pessoas que tinham frango para pegar, mesmo que o frango já tivesse vendido, não interessa, o Rei tinha prioridade. Então, essa questão do frango começa com uma coisa de tipo... é muito frango, muito frango, come tudo! Isso não era ele que comia, tinha todo um povo que ele tinha que alimentar, né? A Corte veio e aí tinha que alimentar todo aquele povo, quase mais de 4.000 pessoas, então era muito frango. Aí nasce essas questões curiosas. Aí é tanta coisa... agora devia ter vindo
preparado o outro episódio. Aí eu venho para des... mas tem mais alguma coisa que você lembra assim do frango? Ah, do pontapé da barriga, é um bom spoiler. Essa eu quero saber! Depois nós conversamos, já voltamos quando a Imperatriz Leopoldina morre. E aí tem toda essa questão: Dom Pedro tinha reconhecido a filha que tinha tido com a Marquesa dos Santos. A Marquesa, já feita dama da Imperatriz, morando praticamente dentro do Palácio, dá uma baita de uma casa para a Marquesa de Santos, a menos de 1 km da casa dele. Então, assim, é um escândalo absurdo.
E aí fica aquela coisa: a mulher morreu de repente. Então, começou a se criar uma lenda de que Dom Pedro teria chutado ela na barriga e ela estava grávida, e aí ela teria rolado as escadas. Um drama assim! Isso é perpetuado até hoje. Todo mundo fala do "chute na barriga" porque aumenta a cada vez mais. E na exumação que foi feita, viu-se que não tinha nada quebrado e que claramente ela morreu de febre tifoide, que era uma infecção, uma bactéria de alguma coisa contaminada que ela comeu. E isso eu tenho laudos. Na biografia dela, eu
trago o laudo médico que eu tive de um doutor lá de Portugal que analisou todos os laudos médicos da época dela. Porque soltava um boletim médico, tal, as cartas que foram trocadas, então tudo bate com a tal da febre tifoide. Ah, mas não adianta, sabe? Uma coisa assim que não adianta... tá lá já sacrado; já sabe do que a mulher morreu! Não, mas ela morreu porque o marido deu uma na barriga! Então, essa é uma das várias outras, Dom Pedro, que era totalmente antítese do pai, que era um santo homem que nunca traiu a mulher.
Eu coloco um monte de cartas de amante e todo mundo continua falando que ele era um santo. Não, mas eu acredito mesmo assim! Não adianta. Tem coisa assim que a pessoa quer gritar. Então, acho que essas duas aí... tem várias outras, eu tô esquecendo, vou chegar em casa e vou ficar puto que eu esqueci. Mas o trabalho de historiador, de levantar... às vezes, quando você não tem certeza, levantar todas as versões possíveis. Tem isso também, fala assim: "ó, isso aqui pode ser isso, pode ser isso". Tem um caso, por exemplo, da família imperial, que não
se tem certeza. Tem uma tal... tem uma carta da Leopoldina, que já encrenca com tanta gente. Não é porque a pessoa quer acreditar... e às vezes, são historiadores. Enfim, tem uma carta que ela teria escrito no leito de morte, falando do horroroso atentado que ajuda, né, a coroar com isso. Só que o horroroso atentado, para um germânico, pode ser... até chamar a pessoa! De tua, em vez de voz, sabe? Pois não é coisa gravíssima, não! Não precisa ser uma coisa gravíssima. Só que tem um grande problema: aquela carta que chegou até os dias de hoje
seria uma carta que ela teria escrito, ditada para uma dama de companhia dela, para a Irã mandar para ela na Europa. Só que a única versão que existe da carta é em português, e a irmã não falava português. A mulher foi mulher do Napoleão; ela falava francês ou o alemão. Então, a carta que está aqui, no Museu Imperial em Petrópolis, está em português, e todo mundo cita ela há de eterno. Aí eu fui pegar a carta. A carta é uma cópia que foi lavrada em cartório por várias pessoas que teriam levado ela para provar que
era verdadeira. Todas essas pessoas que assinam são pessoas com quem a Leopoldina tinha dívida, e nessa carta ela confirma essas dívidas. Ah, então assim, eu acho que aquilo é fake, tipo, tem um interesse dessas pessoas e tinha o interesse do governo, porque o governo achava que o Dom Pedro podia voltar para o Brasil. Essa carta aparece no Brasil pela primeira vez quando já tinha acabado a guerra com Portugal, que já tinha colocado a filha no trono, só que eles não sabiam que ele estava com tuberculose e ia morrer daqui a alguns meses. Então já começa
uma CPI, a primeira CPI Brasileira, contra o Dom Pedro para tirar a cidadania dele, para que ele não pudesse voltar para o Brasil, e essa carta chega bem nesse começo, bem nesse rolo. Então, o que eu acredito é que essa carta é totalmente fake, inclusive, ela tem todo um modo reverencial da Leopoldina para a irmã, como se a irmã estivesse acima dela. Está entregando claramente que quem escreveu estava abaixo. Então, tipo, você não vai chamar "eu vos amo" ou "eu amo minha irmã"; seria "eu te amo". Sabe, tem uma coisa muito mais pessoal, como eram
as outras cartas dela. Ela não vai, no leito de morte, mudar o modo como tratava a irmã. Então é tudo muito estranho essa carta. É uma das coisas que eu meio que detono no livro de análise e vejo que talvez não deva ser isso que todo mundo copia e segue como verdade. Agora, tem coisa que... Ah, o Dom Pedro I. Ele foi casado com a Teresa Cristina, que era uma princesa de Nápoles. Teve quatro filhos com ela, mas ele teve vários relacionamentos amorosos e tem as cartas que provam esses relacionamentos. Diferente do pai, não se
conhecem filhos que ele teve fora do casamento. Mas uma das mulheres era casada com um cara que teve sífilis e foi tratado com mercúrio, e ele ficou sem ter filhos. Só que ela teve caso com o Dom Pedro e teve vários filhos. A probabilidade é grande de serem dele, né? Só que você não pode afirmar, porque ela pode ter tido outros amantes. Existem várias possibilidades entre elas, e essa é uma delas. Então, você não tem como sair entregando nomes e falar. Tipo, se você não tem prova, é melhor ficar quieto. Entendeu? Então, eu tomo muito
cuidado com essa questão. Porque algumas versões podem ser muito excitantes para colocar para o público, e que são histórias que podem ser histórias muito legais, né? Isso pode te cegar e fazer você pensar: "Putz, seria muito legal se isso fosse verdade!", mas não tem prova. E aí é... Mas eu sou muito chato com isso. Tem que ser. Eu sou muito chato. Eu estou fazendo uma exposição sobre Dom Pedro I, que vai abrir agora, dia 12 de outubro, na Fundação Maria Luiza Oscar Americana, em São Paulo. E aí estávamos fazendo uma reunião e começou assim: "Ah,
a gente pode falar do encontro com Dom Pedro I". Eu falei: "Não, esse encontro não existiu". "Mas está na internet". Eu falei: "Pode, na internet tem muita coisa". "Ah, não, então o encontro do Niet com ele". "Não, eles não se encontraram!". "Quer me matar? Agora você vai me falar que Dom Pedro I não se encontrou com...". "Não, não, ele se encontrou". "Não, também não. Ele se encontrou com o Vitor, com o primo dele, que é imperador da Áustria, com um monte de gente". "Mas com o presidente dos Estados Unidos?". "Sim, ele abriu a exposição da
Filadélfia do Centenário junto com... Ele faz o Carlos Gomes compor o hino ao Centenário da Independência dos Estados Unidos. É muito engraçado porque a diplomacia brasileira tinha tentado encomendar ao Carlos Gomes alguma música, alguma coisa para apresentar lá, e ele fala: 'Não, não tenho tempo, não dá'. E o Pedro manda um telegrama e, uma semana depois, 'não, é que tinha tempo sim'. Ah, porque assim, o Dom Pedro também bancou o Carlos Gomes lá. Então, quando ele se destaca no Rio de Janeiro como músico, começa uma discussão sobre onde vamos mandá-lo. E aí o Dom Pedro
gostava do Wagner, que era alemão, e a Teresa Cristina era italiana. E não, ele vai para Milão e ela bate pé. E o Carlos Gomes vai estudar em Milão, então havia... o Dom Pedro bancou. Então, quer dizer, quando o imperador pedia o negócio, tinha que acontecer. Entendeu? Ninguém falava não para o cara. E até porque devia, né? Porque boa parte da criação do cara na Europa foi bancada pelo Dom Pedro. Então tem toda essa questão de... Pedi, tem que fazer, fala Tuti. Ó, vamos lá. A Beatriz Rocha: Como foi o exílio da família imperial? Após
a proclamação da república, bom, o Dom Pedro I, ele era sem noção. Ele sabia ser Imperador, mas não sabia ser civil. Então, assim, ele saía se enfiando em tudo, contando hotel e não, não tinha dinheiro para pagar as contas. E aí o genro dele ficava desesperado, a filha desesperada. Imagine você: te chutam daqui, sei lá. Então, no dia a dia, pro outro, você tem que sair na calada da noite e ir para outro país, sem dinheiro. Então, quem ganhou muito dinheiro em Portugal com o Brasil, né? Então, os portugueses que vieram para cá fizeram fortuna
e voltaram para Portugal rapidamente, ajudaram o Dom Pedro. Então, assim, ele teve ajuda financeira no começo, uma boa ajuda financeira. O sobrinho dele, Dom Carlos, que era rei de Portugal, imagina: você chega em Portugal, o tio chegando em Portugal na época que o cara vai ser coroado, que vai ser aclamado rei de Portugal. Tipo assim, o cara deposto chegando na época da coroação, da aclamação do outro. Nossa, então é complicado! Logo, o time perfeito. A Teresa Cristina, como eu disse, voltando... O sobrinho oferece um palácio para ele morar, ele não aceita. O rei, o imperador
Guilherme I da Alemanha, oferece um palácio para ele. Várias pessoas da monarquia acolhem ele, e ele resolve morar na única república da Europa, que era a França. Ele vai morar na França. Então, assim, quando a Teresa Cristina morre no Porto, na cidade do Porto, é porque eles estão indo para pegar o trem em direção ao norte para cruzar para a Espanha. Por que o Dom Pedro I era republicano, na verdade? Por que contrassenso é esse? Pois é. Ele acreditava na república, na res pública, na questão da... tanto que quando ele visita... porque a mulher morre
no Porto, e ele volta para Lisboa para sepultar ela no panteão da família, em São Vicente de Fora, ele vai visitar o túmulo do pai. O túmulo do pai, não! Ele vai visitar o Palácio de Queluz, onde o pai morreu, e ele vê: ah, imagina o quarto onde Dom Pedro morreu. Dom Pedro I se manteve inalterado o tempo todo. Então, foi fechado o palácio, ninguém morava no palácio desde que ele morreu lá. Então, tinha até marcas de sangue na roupa, e ele morreu de tuberculose; ainda estava lá a marca do sangue no travesseiro. Sim, e
ele vai lá e fala: "Eu teria...". E aí ele anota em 7 de abril de 1890: "Eu teria abdicado como meu pai abdicou se eu não pudesse, se eu não conseguisse levar o Brasil para uma república". Então, ele via a república como um passo além da monarquia. Ele via a república como superior à monarquia, sim, só que ele achava que no Brasil ainda faltava educação do povo. Então, ele tinha que investir maciçamente na educação para fazer essa transição, para poder fazer essa transição, para que o povo não fosse logrado na hora de votar. Poxa, então
ele tinha essa visão. Tanto que ele segura o federalismo; ele não queria que houvesse a federalização como logo a república vai fazer, porque ele achava que tinha defasagem cultural e educacional nas províncias. E enquanto isso não fosse resolvido, essas províncias não podiam se gerir sozinhas. Então, isso vai gerar problemas nas que são mais pobres do que as que são mais ricas, e tem razão, né? Ele queria tentar chegar nesse equilíbrio, isso dentro do projeto dele, claro. Então, ele vai pra França, ele vai morar na França. Ah, vai pra Alemanha, ele vai dar umas viajadas ainda,
mas assim, com o dinheiro muito apertado. A Princesa Isabel aluga uma casa em Versalhes, muito mais tarde, eles vão comprar. Ela e o marido vão comprar o castelo na França. E aí, quando a mulher morre, dá entrada no inventário dela e aí vai vendendo tudo que tinha, dos recheios dos palácios. Então, uma parte, muita coisa, joias e tal, vai pra família imperial, porque a república não tomou a propriedade. Ela não tipo exiliou eles, mas não tirou a propriedade deles. E aí, são feitos grandes leilões, esvaziando tudo que tinha no Palácio São Cristóvão, em Santa Cruz,
que pertencia a eles. E aí eles vão sobreviver com esse dinheiro durante muito tempo, mas até lá é na base da ajuda de pessoas. Nossa, Car, aqui é bem complicado o começo desse exílio deles. Sei, sei. Fala Tuti. Ó, a Camila Ribeiro falou: Quais foram os principais motivos para a queda do império brasileiro? Eu acho que a ansiedade da elite em ter mais acesso ao poder. Houve uma força maior porque essa elite que vai tomar o poder já estava antenada em outras coisas, por exemplo, o positivismo, que é uma nova corrente que tá vindo, a
questão do exército que quer se meter na política de qualquer jeito, e só dá desastre, porque dá desastre com o Deodoro. Deodoro acaba de ter uma nova constituição no Brasil, ele mete os pés pelas mãos, tem que renunciar. Aí assume o Floriano Peixoto. Floriano Peixoto basicamente desce uma ditadura. Todo mundo do que era chique, que é Gonzaga, um monte de gente assim da elite intelectual, principalmente carioca, que via a república como uma esperança, uma evolução positiva pro Brasil, se decepciona assim nos primeiros anos. O próprio... Rui Barbosa vai ficar decepcionado com a república, é porque
havia uma liberdade na época do Dom Pedro I que passa a não existir com a república. A gente vai viver quase permanentemente em estado de sítio até os anos 30 no Brasil, até essa república realmente começar a se fortalecer. Então, é uma grande decepção. E é claro, uma elite econômica e social que finalmente chega ao poder, e os militares também começam a dar as cartas. Isso não podia, isso não tinha como acontecer durante o império. Então, há uma avidez também, uma questão de querer o poder agora que eu tenho mais educação e tal, mas era
restrito a uma elite. É isso. Paulo, tem mais alguma coisa que você queira completar? Algum detalhe? Acho que é isso, é basicamente isso. Eu vi nos outros livros mais detalhes contigo. Então, divulgue seu livro, suas redes sociais. Gente, tem esse livro aqui que já saiu, saiu agora em novembro, o "Dom Pedro I: A História Não Contada". Ah, agora já está na pré-venda "O Dom Pedro I", que sai esse ano, que é o Bicentenário dele. Como eu falei, agora esse ano tem essa exposição sobre Dom Pedro I, que é no Monobi, aqui em São Paulo, na
Fundação Maria Luísa e Oscar Americano, dia 12 de abril. E eu tenho um ciclo de palestras lá que esse ano vai ser só sobre Dom Pedro I. Então, acessem minhas mídias; no meu Instagram é Paulo Resu, com dois "ts" e o "i", e o meu YouTube, meu canal no YouTube é Paulo Resut Escritor. Toda quarta-feira, às 8:30 da noite, tem um vídeo sobre história do Brasil, história mundial para vocês lá. É isso. Isso é isso, tu... This Is It! Ok, e o que você tem para dizer agora, galera? É o seguinte: se vocês chegaram até
o final dessa live super legal e não deixaram o seu like, estão moscando, né? Então, já deixa o like, se inscreve no canal, torne-se membro para não perder nenhuma live, e claro, não esqueçam de passar aí no link na descrição da nossa querida Insider, 12% de desconto, e baixem o aplicativo do Airbnb, ok? "Fechou". O aplicativo vai lá para escolher o melhor lugar para você ir para a praia. Tô indicando praia com esse calorzão aí, né? Tá calor em São Paulo, tá exato. É isso, é isso. Você tem que falar mais coisas, não tem? É,
eu tenho, mas é que geralmente você puxa, entendeu? Então, vamos lá. Então, tu, e agora, o que você tem que falar? Não sei como que eu puxo isso, cara. O que que eu falo? E aí, você prestou atenção no papo? Então, você prestou atenção no vídeo? Eu prestei atenção. E o que o pessoal escreve nos comentários para provar que chegou ao final dessa conversa? Você gostou do meu sotaque português? Eu gostei. Eu gostei. Tá bom, o que que o pessoal escreve nos comentários para provar que chegou até o final dessa conversa? Parece que tô tendo
um ABC, né? O que que o pessoal escreve? Pessoal, não pode falar normal, para provar pra gente que chegou até o final dessa incrível live. Comente aí pra gente "chalaça". Não, chasca! Eu entendi! Ou o que você tá pensando, velho? Aonde tá sua cabeça para você falar chasca? Ah, Tuti, hoje é sexta, né? Tô já aqui, ó. Chalaça! Chalaça! Como que escreve? Chalaça, com "ch" e "cidil" no final: Chalaça. Então escreva nos comentários para provar que você chegou até o final. Abraço, fiquem com Deus e que bom que vocês vieram! Valeu! As opiniões e declarações
feitas pelos entrevistados do Inteligência Limitada são de exclusiva responsabilidade deles e não refletem necessariamente a posição do apresentador, da produção ou do canal. O conteúdo aqui exibido tem caráter informativo e opinativo, não sendo vinculado a qualquer compromisso com a veracidade ou exatidão das falas dos participantes. Caso você se sinta ofendido ou tenha qualquer questionamento sobre as declarações feitas neste vídeo, por favor, entre em contato conosco para esclarecimentos. Estamos abertos a avaliar e, se necessário, editar o conteúdo para garantir a precisão e o respeito a todos.
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