Muito bom dia, pessoal. É uma alegria enorme estar com vocês. Muito obrigado pelo convite da Sônia. Eu acho que a minha palestra vai arrematar dialeticamente os dois argumentos das palestras anteriores, tanto o argumento mais histórico da Thaís, quanto o argumento mais estético da Vivi numa síntese filosófica, porque o título que me foi proposto foi atividade artística e contemplação. Por isso, eu vou abordá-lo a partir de um ensaio do meu mais novo livro, Amor à Sabedoria, chamado A epifania da Beleza. Eu estou convencido que nós modernos não sabemos o que é a beleza, não a valorizamos
e não lhe damos o devido papel que ela tem. E por isso descobrir a beleza na sua verdadeira natureza, na sua verdadeira essência, no fundo é descobrir a verdade. E a verdade é Deus. Então, a beleza sempre esteve intrinsecamente ligada à religião, sempre esteve voltada a tentativa de expressar a verdade das coisas que sobrevive à passagem do tempo. E por isso há uma comunicação histórica de gerações. Por isso que a beleza tá diretamente ligada, a arte tá diretamente ligada à história e a fazer alguma coisa que seja um artifício ou um artefato que resista ao
tempo. Eu não escrevi este livro para ser lido só em 2024. Eu escrevi este livro que pode ser lido em 2025, em 26 e quem sabe no século 30. Não sei. Então, há um desejo de eternidade na arte, há um desejo de perpetuidade na arte, há um desejo de permanência. Por quê? Porque se encontra uma forma bela. E por isso os clássicos diziam que a beleza é equivalente à verdade. E a bondade é o terceiro elemento dessa relação intrínseca de aspectos constitutivos do ser. E existe, é claro, uma beleza natural e uma beleza artística. A
beleza natural é essa que a gente contempla diretamente na natureza. Se a beleza é arte, é artifício, é artesanato, artesania, quem é o artesão da natureza? Quem é o demiúgo da natureza? E como ele a criou? Ele a criou contemplando formas perfeitas, diz Platão no Timeu, por exemplo. A beleza material das formas sensíveis, esta marcada pela harmonia, integridade, reluzência, como conceituou Santo Tomás Jaquino, é baseada num modelo espiritual, no modelo que é matemática e a arquitetura é matemática aplicada, plasma. Então, existe a contemplação das formas perfeitas, por exemplo, das relações cromáticas, porque o vermelho combina
com esse tom de verde que combina com aquele tom de azul e quantas experiências cromáticas não eram feitas na escola de Florença, por exemplo, de Davin, Michelâelo, Rafael. E quantas cores novas foram descobertas, foram inventadas? Porque quantas cores existem? Infinitas. Quantas combinações possíveis de sons? Infinitos. Se você for um Brams, você vai conseguir. Se você for um bar que Brams Santo admirava e de quem Bram Santo aprendeu, você vai conseguir infinitamente pescrutar no fundo a mente de Deus. Então, a verdadeira arte é um jogo com Deus, é uma conversa com Deus. E os verdadeiros artistas
sabiam disso. Isso vale para um Michelângelo, para um bar e para um land e para um alejadinho. Isso vale para um Santo Agostino e qualquer tipo de arte, seja plástica, seja literária, seja musical. Porque o que é arte senão a recreação a partir de elementos dados para elementos que não haviam antes. E essa criação é uma participação na capacidade divina. que o homem feito a sua imagem de semelhança tem. Então, tá claro que existe produtos culturais que o tempo destrói e esses não merecem ser preservados, esses nem podem ser conservados porque não formam um patrimônio
cultural. E aqui eu me sinto muito contemplado com o que a Thaí falou, que é uma dimensão antropológica, cultural e meramente sociológica de arte nesse e cultura. Nesse sentido, tudo que o homem faz é arte, é cultura. Tudo uma caixa de sapato, esse papelzinho aqui, essa logo é arte, é cultura. E a gente pode encontrar esse papel daqui a 200 anos e especular aqui nesse hotel Princesa LAN foi um hotel Hilton que tem uma história. Então o historiador tem todo o interesse em percrutar. No entanto, não necessariamente esse hotel tem valor pedagógico e estético no
sentido superior de merecer a nossa valorização na forma de um patrimônio não só econômico. Essa palavra patrimônio tem uma conotação acentuadamente econômica. mais cultural e pedagógica. Por isso que a gente preserva o teatro da paz aqui na frente, porque tem um valor para além do tempo em que ele foi feito. E ele alcança uma verdade permanente que não é eterna por ser abstrata, muito ao contrário, é permanente porque uma certa verdade encontrada numa época histórica e a emoldura de forma transcendente, de modo que ela pode ser contemplada por qualquer pessoa e considerá-la bela tanto quanto
um pô do sol ou o nascer do sol ou um céu estrelado, é considerado belo por quem quer que tiver olhos. Quem tiver olhos para ver, veja. Quem tiver ouvidos para ouvir, ouça. Os profetas de Israel falavam assim. Nosso Senhor também falava assim. Porque nem todo mundo vê, porque nem todo mundo tem o olhar contemplativo. Por isso que foi muito feliz o título que me foi proposto, que a atividade artística depende da contemplação. Primeiro lugar da contemplação do artista criador que olha para o mundo e vê não só o que está dado, mas projeta imaginativamente
o que ainda não está dado. Este livro não existia antes que eu o escrevesse. Então, como escritor, eu começo a conceber e parir, como dizia Sócrates, uma série de ideias, sempre em contato com outros autores. E a partir de uma matéria-pra que no meu caso é a língua portuguesa tão amada, a última flor do Lácio, tão ultrajada, vilipendiada e achincalhada no nosso tempo, de deboche cultural, de paródia cultural, de tragédia cultural e de anamnésia, de amnésia cultural, que é a nossa época, uma época profundamente ignorante do passado. Nós não somos capazes de ler eh 1%
de uma catedral gótica. Isso que a EV falou não chega a 5% do que é uma catedral gótica. É como se a gente tivesse a Elíada e soubesse duas palavras da Eliada, Eros e Tatatos. E falou assim: "Não, nós sabemos a Elía, não. Você não, você sabe que tem Heros e Tânatos, mas você não é capaz de ler Elida. A gente não é capaz de alcançar, nem sabe nem por onde começar a catedra gótica. a gente não sabe nem por onde entrar. A vida deu algumas pistas que não chegam, repito, a 1% porque a gente
perdeu a comunicação cultural com a linguagem gótica, com a linguagem da arquitetura gótica. Mas é por isso que nós estamos aqui, não para dar uma nota pessimista e um tom menor e melancólico de nostalgia, de saudosismo, de sebastianismo cultural, mas dizer: "Estamos aqui porque a dinâmica cultural é essa, esquecimento e memória. É esquecimento e lembrança. Fazer isto em memória de mim. Você vai fazer você o homem você que esquece." E a gente vai se esforçar para, na medida do possível preservar a cultura. Se eu escrevo sobre Homera, é porque eu acho que a gente não
pode esquecê-lo. Se eu escrevo sobre Santo Agostinho é porque eu acho que a gente não pode esquecê-lo. E eu vou defender no final desta palestra que Belém tem patrimônios eh históricos e culturais dignos de serem preservados no sentido estético e pedagógico profundo, porque nos revelam, no fundo, Deus, que é o que importa em última instância e o que torna uma obra de arte bela. Ainda a Guisa de introdução, enquanto a Thaís falava, eu lembrei e de como eu vim parar aqui. Eu vim parar aqui por duas pessoas. Uma chama-se Padre Fabrício Meroni, que eu conheci
na época, que era diretor do Centro de Cultura e Formação Cristã da Arquidiocese de Belém, onde hoje é o seminário e a faculdade católica de Belém na Almirante Barroso. Eu fui lá atrás de cultura, porque eu era um jovem de 17 anos, estudante de direito, que gostava de cultura, gostava de música, de arte, de literatura, gostava de cultura, cinema. Nesse caos pós-moderno, relativista e anárquico, eu ia para tudo. Eu era um rato de palestra, de direito, de sociologia, de política, de história. Conheci o Aldre, meu amigo, conheci Deus do mundo. Ia lá pras palestras todas,
porque como bom pós-moderno eu era relativista e inclusivista. Então, bastava ser palestra, bastava ser cultura. Depois eu comecei a ver que nem tudo se equivale e eu conheci como o padre Fabrício Meroni o meu mestre Benedito Nunes e percebi que entre o Benedito Nunes e os outros professores, com todo respeito, havia uma diferença abissal que intitula o meu livro, que é o amor a sabedoria, que eu eh percebi com muita clareza está no coração daquele homem. Eu vi um filósofo, conheci um filósofo. E o que caracteriza o amor à sabedoria é o desejo de conhecer
a verdade onde quer que ela se manifeste, sem preconceitos. E o Bené era um grande estudioso da história, não só de Belém, do Brasil, da América Latina, mas do Ocidente, sobretudo a história literária, que era sua principal eh ocupação, seu principal foco sem detrimento da arquitetura, da música, do cinema. E quem faz esse amor global à sabedoria é a filosofia. Por isso eu vim fazer o mestrado doutorado em filosofia e e me enraizar na filosofia porque eu também me interessava por tudo. acontece, como eu disse para vocês, o padre Fabrício Meroni como teólogo católico, via
no Benedito Nunes um grande interlocutor, embora o Bené fosse um filósofo agnóstico, Ridguiano, um Bené era um homem eh sem fé, mas com muito respeito cultural à igreja e e a tudo que pudesse eh fazer pensar e remanifestar a verdade. E eu vim organizar a obra do Bené. 11 livros eu organizei do Bené. Um deles chama-se do Marajó Arquivo, Breve Panorama da Cultura no Pará, que é o título de um ensaio dele escrito para um livro do professor Armando Mendes sobre a Amazônia. Então, aspectos culturais, históricos, econômicos, políticos. Ele criou o Naia, o núcleo deos
estudos amazônicos, e reuniu uma série de intelectuais. O Naia existe até hoje, e chamou o Bené, o Benedito Nunes, que era seu amigo inclusive pessoal, para escrever sobre a cultura na Amazônia. E esse foi o primeiro motivador de, acho que são 50 ou 60 ensaios, são muitos, é um livro grosso, de umas 600 páginas que eu reuni sobre esses temas de cultura. E eu percebi que o Bern enfocava a cultura belenense ou a cultura paraense no âmbito da tradição ocidental. Não é possível falar de arquitetura paraense sem falar de land. E ao falar de land,
a gente tá falando de renascimento italiano. E ao falar de renascimento italiano, a gente tá falando de civilização greco-romana mediada pela Igreja Católica. Então, e o que não quer dizer que a gente vai deixar de falar de Belém ou dos aspectos eventualmente indígenas e locais que influenciaram em Cusco ou em Belém. Então, o universal e o particular não se opõem, muito pelo contrário, se complementam e se articulam dialeticamente. Então, aprendi a fazer crítica cultural com o Bené. Só que o meu, a minha atenção como eu fui agraciado com o dom da fé é para a
arte sacra, é para a religião católica. E aí a tese da minha palestra que eu vou compartilhar com vocês ou a hipótese é o seguinte: na nossa época de amnésia cultural nós perdemos de vista a atividade artística e a contemplação genuinamente estética. Nós perdemos isso. E eu vou explicar o que é isto. Já antecipei. E há uma maneira de resgatar isto. Há uma maneira de recuperar a contemplação estética. É preciso que haja alta cultura, é preciso que haja arte com a maiúsculo. Não dá para fazer isso com artigo de jornal, não dá para fazer isso
com reals. Não dá para lhe mandar um link de Instagram e dizer assim: "Olha a contemplação estética aqui". Não dá. Então você vai ter que fechar o computador e ir para uma igreja ou fechar o computador e abrir um livro. A, claro que você pode, obviamente um uma igreja num computador ou ler um, você entenderam, porque a cultura digital ela tem as características que neutralizam a contemplação religiosa. Ela é imediata, ela é fugaz, ela é veloz, ela é em tese vanguardista, ela é altamente mercadológica, ela tá baseada numa economia da atenção e da dispersão. Ela
quer capturar a sua atenção para assinar aqui, para clicar no link para vender alguma coisa. Então, o que é o ideal contemplativo e onde ele ainda subsiste? A minha tese vai se basear em dois autores. Um deles foi citado pela minha antecessora, que é o Roger Scruton, exatamente no livro que ela mencionou, o beleza, porque ele dá uma pista muito interessante, a meu ver, adequada de porque nós desvalorizamos a arte, porque a arte acabou praticamente. A gente tem vários filósofos falando como rego do fim da arte. Isso no século XIX, morte de Deus em Nite,
a morte da beleza, a morte da verdade, a morte da bondade. Esse clima que nós temos negativista, é um clima negacionista de eh negação da tradição e da verdade que se encontrou, da família tradicional, do estado, da economia e assim por diante. Eu escrevi um livro sobre esse tema todo, a crise da cultura, tá? A gente tem crise da civilização, a crise da arte, a crise da moral, a crise da política, a crise do direito, a crise da ciência, a crise da religião. Pode enumerar aí as crises que você quiser. Não tem nada que não
esteja em crise, nada. Essa é a nossa característica. E o primeiro autor com qual eu vou começar é o Joseph Pieper. O Joseph Piper é um filósofo católico alemão do século XX, falecido, que escreveu muitos livros pequenos e ele era o ensaísta, escreveu um grandão que é maravilhoso, que é o virtudes fundamentais, que é a união das virtudes humanas e das virtudes teologais, mas escreveu vários livros pequenos e eu fui surpreendido com o convite da minha amada editora Quadrante para prefaciar um desses livros chamado Só quem ama canta, arte e contemplação. E eu prefaceei esse
livro no ensaio chamado A epifania da Beleza, que eu quero parcialmente ler e comentar com vocês. Eu começo com uma epígrafe que é um poema do John Kids, que em inglês é muito belo. Vou ler a tradução bem feita, muito bem feita pelo Augusto de Campos, que é um poeta tradutor, um tradutor poeta. O que é belo há de ser eternamente uma alegria e há de seguir presente. Não morre. Onde quer que a vida breve nos leve, há de nos dar um sono leve, cheio de sonhos e de calmo alento. Beleza? Ligada à eternidade, à
paz. a alegria e ao alento, ao consolo. A beleza nos consola, a beleza nos apazigua. O que seria de nós sem a beleza? O que seria de nós sem os salmos que são forma superior de poesia hebraica? O que seria de nós sem arquitetura sacra das igrejas? O que seria de nós sem os altares, sem os crucifixos? E eu começo dizendo assim: "O sorriso de uma criança, os primeiros raios da aurora, uma música de Mozart ou um verso de Drumon nos emudecem e comovem. Imersos na aura da beleza, sentimo-nos interiormente transportados para outro nível de
realidade. Intuímos uma perfeição e uma harmonia ausentes no nosso cotidiano, normalmente desbotado e apressado. São breves, por intensas experiências de epifania e plenitude que ultrapassam os nossos sentidos e a nossa inteligência, alcançando uma dimensão propriamente espiritual de transbordamento e participação do elemento divino escondido em cada coisa. que afirma a vida, confere sentido à existência, reveste-nos de admiração e gratidão e nos convida à celebração. Quando eu sou convidado a prefaciar, aqui tem uns sete prefácios neste livro novo, eu faço um desafio que eu aprendi com um velho amigo no mestrado. Ele disz: "Quando você entende uma
coisa, você tem que ser capaz de dizê-la em um parágrafo. Eu tô fazendo esse exercício com a Bíblia agora, ainda não consegui porque eu ainda não a entendi. Mas quando eu for capaz de falar um parágrafo sobre toda a narrativa da salvação, é porque eu terei entendido. E esse aqui eu entendi. Esse parágrafo sintetiza o argumento do Joseph Piper. E veja que é um argumento riquíssimo, porque significa o seguinte: existe uma realidade escondida, existe uma realidade como que oculta, é como se o mundo tivesse coberto por um véu. E só a arte é capaz de
rasgar este véu. Só a arte é capaz de tirar este véu e mostrar, não só pelos sentidos e pela inteligência, mas num relance de êxtase epifânico em que se capta alguma coisa que de outro modo não poderia ser dito. Eu já fui várias vezes na Capela Cistina, por exemplo, já fui várias vezes na na igreja de São Pedro, por exemplo. E as experiências nesses locais são absolutamente indescritíveis, são inefáveis. Não é possível dizer o que eu senti lá. P mais que eu fosse um bom escritor, eu poderia ter filmado, eu poderia ter gravado. E a
gente tem essa ilusão com os nossos celulares da Tila Colo, de ficar, não vou gravar aqui, vamos, vamos postar aí, o pessoal vai entender o que eu tô ouvindo. Não, existe uma coisa chamada aura que um filósofo chamado Walter Benjamin diz ter se perdido na obra de arte na época da sua reprodutibilidade técnica. Ou seja, quando não tem mais original e a capela cistina, é só a capela cistina, embora ela seja profusamente reproduzida na forma de posters, posters, postes, capas, etc. E com isso a gente perde a aura, a unicidade, a presença sagrada de Deus
que se manifesta, de Deus que se manifesta em formas sensíveis. E aí, vejam, passa pelos sentidos. Por isso que a estética, a apreciação artística em geral começa pelos sentidos. Começa pelos sentidos, mas não acaba de acaba deles. Quando é que a música se consuma? No silêncio. Quando é que você eh consuma ou perfaz a contemplação de um templo como a catedral da Sé quando você fecha os olhos? E aí você poderia dizer, se fosse materialista, se fosse psicologista, não é só um conjunto de imaginações. Aí começa lembranças, memória, imaginação, sentimentos. Não, não, não, não é
só isso. Isso tudo parte, isso tudo existe. Mas existe um momento em que a sua inteligência, porque você pensa, você fala, você dá nome, você conceitua, você interpreta matematicamente, por exemplo, a estrutura cruciforme, você tá entrando numa cruz, é isso que é entrar numa catedral. E você, como Vivi muito bem disse, sorçam corda anatomicamente você é obrigado a levantar os seus olhos para os céus, porque há uma um pé direito enorme, há um teto, a igreja marcada pela verticalidade e a luminosidade. Tudo isso que a Vivi já muito bem explicou, que me facilita muito a
vida do ponto de vista de exemplificar o que eu quero dizer, que é o estado contemplativo que o templo instaura. E a minha a tese do Píper aqui é não só os sentidos e a inteligência, mas o espírito concorre aqui. E essa dimensão espiritual é a beleza. O que é a beleza? A beleza é a verdade na forma sensível. A beleza pode ser conceituada, como Santo Tomás eh disse de forma muito precisa, como algo harmônico, íntegro e reluzente ou resplandescente. Íntegro porque nada lhe falta. harmônico, porque cada parte se encaixa num todo orgânico, como o
nosso corpo. E resplandescente é o aspecto que eu quero dizer, reluzente, epifânico, tem alguma coisa de E veja como eu começo dizendo o sorriso de uma criança. Eu tô com um bebê recém-nascido em casa, um qu meu quinto filho. A licença paternidade para mim significa a contemplação estética e sagrada de uma obra prima de Deus que é cada um de nós ainda com as tintas frescas da mão do autor, do artista. Porque você não contempla como um médico pediatra simplesmente o corpo. Você vê que é um corpo animado e que embora já existisse desde a
concepção no útero, você não ouvia, portanto, não dava para ter contemplação estética, a não ser na ultrassonografia, que é cada vez mais tecnológica e, portanto, cada vez mais capaz de de propiciar a contemplação estética. aquele aquela obra de arte e os raios da Aurora. Eu não sei vocês, mas eu gosto de acordar cedo, escuro ainda, porque para mim é um espetáculo extraordinário contemplar a Aurora todos os dias, ainda mais quando você tem uma vista capaz de mostrar a imensidão do do azul que Então essa ideia aqui é o que dá profundidade e gravidade à existência.
A existência é grave porque ela tá ligada a uma dimensão eterna, a uma dimensão imortal. Por isso que a arte tá ligada à eternidade. Nenhum artista dos grandes, um Dante, um bar, fizeram isso a não ser para Deus, porque só Deus poderia compreendê-los. bar com punha rezando. Pro bar não tinha diferença entre compor, tocar e rezar. É como para mim, quando eu tô escrevendo, eu estou numa vibração intelectual, espiritual de de procurar cada palavra, como agora que eu tô trabalhando e palestrando, que consiga traduzir o meu pensamento e ao mesmo tempo meu pensamento adequado aos
meus sentimentos e adequado à realidade da qual eu sou um servo. E a realidade é feita por Deus. Então, no fundo, o artista tá ligado a à mente divina, a essas formas perfeitas. E isso é platonismo. Isso está em Platão, grande filósofo clássico. E quando Santo Agostinho o batiza, o cristianiza, ele deixa claro que a arte, portanto, vai ser procurar, por um lado, os vestígios de Deus na criação e, ao mesmo tempo criá-los, participar dessa criação de formas perfeitas, harmônicas, íntegras e resplandescentes. Por isso que o artista é um demiúgo e por isso que ele
pode ser um demônio também. E por isso que é claro que existe arte nazista ou soviética ou maoísta, porque existe, digamos assim, a a beleza satânica. E por isso que o o Dimitri Karamatzov, nos irmãos Karamatzov, diz para o Aliosa, a beleza é algo terrível. E eu me permito citar esta fala extraordinária. Todo mundo fala do Ivan Karamazv, o seu grande diálogo com o Aliosa, do grande inquisidor, e é realmente o centro da obra. Mas eu não sei se o diálogo com o Ivan, o Dimitri, não é mais punjante. Eu trato dos dois aqui no
meu livro. Vocês sabem que a famosa fase A beleza salvará o mundo do Dostoeves, que tá no idiota. Ele tá falando da beleza de Cristo, da beleza transfigurada de Cristo, da beleza de Cristo chagado na cruz, todo ensanguentado. É esta beleza transfigurada. Bem, vejam o que diz. O Dimitri, quem tiver com o meu livro na mão, por acaso, tá na página 444. Quem não tiver, pode comprá-lo depois. Falando em arte mercadológica, a beleza. E o sa diz quando do põe põe o exclamação, você deve gritar porque tudo já é exclamativo. Mas quando tem uma exclamação,
é porque é exclamação mesmo, a beleza. Não posso ademais suportar que algum homem, até de coração superior, de inteligência elevada, comece pelo ideal de Madona, mas termine no ideal de Sodoma. Ainda mais terrível é aquele que, já tendo o ideal de Sodoma na alma, não nega o ideal de Madonna. Rima, hein? E seu coração arde de fato por ele. Arde como nos seus puros anos juvenis. Não, o homem é vasto. Vasto até demais. Eu o faria mais estreito. Lembrei do Drumon. Mundo, mundo vasto mundo. Se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não uma solução.
Mundo, mundo, vasto, mundo, mais vasto ainda é o meu coração. Até o diabo sabe o que é isso. Veja só, o que a mente parece deshonra é tudo beleza para o coração. A beleza está em Sodoma. Podes crer que é em Sodoma que ela está para a imensa maioria dos homens. Conhecias ou não esse segredo? É horrível que a beleza seja uma coisa não só terrível, mas também misteriosa. Aí lutam o diabo e Deus e o campo de batalha é o coração do homem. Aliás, é a dor que ensina a gemer. Então, a beleza é
uma linguagem superior que comunica a profundidade e que nos move. Nos move para o inferno sodomita ou para o paraíso da Madona. Ela é uma seta vertical para cima ou para baixo. A gente vive uma época horizontal de equivalência e relativismo do mercado, da democracia, não no sentido político, obviamente. Aliás, se a gente pega o sentido de cultura que a nossa Constituição traz, é um sentido antropológico horizontal de equivalência. Tudo que o homem cria é cultura. Tudo sem exceção. Você é um agente cultural tanto quanto o Land é um agente cultural. Eu sou um agente
cultural tanto quanto o Benedito Nunes é um agente cultural. É até uma palhaçada dizer isso. É até blasfemo dizer isso. Mas é juridicamente sim. Acontece que o Bené tem uma obra robusta e eu sou um amador, eu sou um um um estagiário. Ele é um ministro do Supremo, né? Existe um abismo entre nós. Esse abismo é aristocrático porque ele é vertical, ele hierarquiza a partir de critérios objetivos de moralidade e de verdade. Por isso que é interessante ele falar de Madona e de Sodoma, porque é um aspecto da beleza. E o Scrutton no beleza fala
que não há atributos maiores à beleza humana do que os da Virgem Maria. uma mulher que não foi rendida pela sua carnalidade, mas que consegue transfigurá-la na fecundidade virginal. E a gente poderia perguntar, por que nós perdemos o ideal de beleza? Por que nós perdemos o sentido de verdade? Porque nós perdemos de forma cínica o desejo de galgar patamares superiores e de valorizar o que é belo, o que significa necessariamente distingui-lo do que é feio. Porque a nossa época se democratizou não no sentido político, repito, que é bom, mas no sentido eh de perder as
diferenças e as hierarquias culturais. E aqui eu passo pra segunda parte da palestra que é inspirada na hipótese do Roger Scrotton. Porque o Piper já tem uma hipótese que é a mesma. Ele diz: "Nós perdemos o sentido da vida porque nós perdemos a busca por um por um sentido transcendente e eterno, divino, religioso. E o que há de mais perto desse ideal contemplativo que eu falava antes é o culto religioso na liturgia. Por isso que a arte sacra tá ligada à liturgia, ao culto. Cultura tá ligado a culto. Contemplar é observar no templo. Contemplar vem
do verbo latino, do grego separar. O sagrado é o separado, é o preservado, é o protegido. Protegido de quê? do tempo que tudo corroi e da indiferença e da venda mercadológica e da troca. Uma igreja não tem preço, um objeto de culto não tem preço, vai continuar lá pros nossos netos, bisnetos, tataranetos, porque foi assim que a experiência dos nossos antepassados. E o Scoton diz, a gente perdeu essa reverência ao sagrado, a verdade, a bondade, a moralidade numa terrível crise da crise da cultura e que nós não celebramos mais o sentido da vida comunitário, sobretudo
e social sobretudo e histórico. Quando a gente vai no sío de Nazaré, por exemplo, a gente não tá se ligando só com os nossos contemporâneos, a gente tá se ligando aos portugueses. E os portugueses estão se ligando aos romanos. E os romanos estão se ligando aos bizantinos. E os bizantinos estão se ligando aos de Jerusalém. E tudo tá ligado a Cristo. Eu fiquei muito feliz quando A Thís citou o Papamento Bento 16 no no discurso da Sagração do altar da Igreja da Sagrada Família em Barcelona e eu lembrei imediatamente da carta de São João Paulo
I aos batistas, que é uma maravilha de carta também. E a encarnação do verbo nos deu a gravidade de poder representar de forma sensível o próprio Deus que tem carne e osso, que tem mãe, que teve amigos. A gente acabou de ver a igreja de São Pedro em honra ao príncipe dos apóstolos, aquele a quem Cristo deu as chaves. Então, existe uma gravidade espiritual na arte sacra que deve ser preservada na forma de um patrimônio cultural e espiritual. E o Scroton nesse livro chamado Beleza, que eu também comento no meu próprio livro, fala de uma
dessacralização da arte, de uma arte que era sagrada porque era protegida e nos mostrava valores sagrados como da pureza, que hoje é blasfemado, que hoje é ultrajado, que hoje é debochado, que hoje é uma paródia. A palavra madona hoje significa para 90% da cultura pop uma cantora. Uma cantora que tem atos blasfemos conscientes, uma cantora que conscientemente dessacraliza a sua fé ressentida ou a nossa fé. E os que se pergunta, por que isso? Existem várias respostas para isso. A gente pode pensar num mercado que varre tudo e que dá preço a tudo. E aí o
turismo que torna o patrimônio cultural objeto de consumo, de foto. Tem uma crônica da Cecília Merelles maravilhosa, chamada Roma, turistas e viajantes. Eu cito esse essa crônica no meu livro Virtude no cotidiano. Ela diz que o turista é um ser superficial que tá mais preocupado em tirar fotos e mandar cartões postais. No fundo, o turista é um vaidoso que quer ticar um checklist de que já foi na Turre Fé, que já foi na Notredam de Tah, que já foi na Sagrada Família. Ah, já fui no Sírio de Nazaré, eu já fui na catedral da Sé
de Belém do Pará, na Basílica de Nazaré. E o e o viajante se perde, se derrama e se deixa reencontrar com a sua humanidade mais profunda, plasmada na humanidade daqueles que criaram aqueles grandes monumentos do passado. Porque o passado na forma de tradição não passou. A tradição é o passado vivo. Por isso que a tradição apostólica é fonte da fé junto com a escritura e com o magistério. Não é a tradição apostólica que do que Pedro disse descrito nos Atos dos Apóstolos. É a tradição da fé viva no Papa Francisco e no seu sucessor ou
no Papa Bento X ou no Papa João Paulo I e assim por diante. É a tradição viva de Land. Não na forma de um museu, no sentido arqueológico, mas no sentido vivo. Por isso que a gente pode fazer oração numa igreja e por isso que a gente pode se apaixonar. Uma pessoa que lida com com a Taís, que diz: "Como é bom, como eu amo, como eu me apaixono." Ela falou isso mais três vezes. Só quem ama canta. Isso que eu encontrei no Benedito Nunes, isso é amor à sabedoria, isso é amor à verdade. Isso
não é um amor museológico de conservar, restaurar como um alfarabista, né? Eu lembro quando eu fui num cebo, né? E eu gosto muito de livros, eu tenho muitos livros, não no sentido do colecionista, né? Mas no sentido de quem gosta de ler. E aí o o dono lá do Sev em São Paulo falou assim: "Ah, eu gosto muito. Vem cá, você gosta de livro, né?" Eu entendo também um pouco de livros. Aí me levou lá para uma sala onde tinha obras primas que ele tá fora de de mercado, né? E ele falou: "Esas obras aqui
valeria uma fortuna e tal". Ele tem um nível do século XIX, ele tem um de Queiro lá. E aí eu falei: "E aí você?" Mas eu nem abro, eu nem toco falei: "Mas esa aí, você não leu? Não, não, não. Isso aqui não pode nem tirar da prateleira". Então, para quê? Então, é uma coisa assim estéril. Eu entendo que do ponto de vista histórico não se deva manuseá-lo. Eu entendo, mas ao mesmo tempo parece é como se encontrasse uma imagem muito bela de noção e colocasse dentro de uma caixa. Não, tem que tem que protegê-la,
claro, para que ela dure por toda até o fim dos tempos, mas tem que projetá-la. Então, pelo menos, né, projetar. Então, essa é a dimensão viva de uma obra de arte que causa impacto. Então, vamos aqui pro Scrutton, eh, que fala dessa fuga da beleza. Olhem o que ele diz. Nossa necessidade de beleza não é algo de que podemos prescindir sem que nos tornemos incapazes de nos contentar como pessoas. Ela é uma necessidade que surge de nossa condição metafísica de indivíduos livres que buscam seu lugar no mundo partilhado e público. Partilhado não só pelos contemporâneos.
O Test que dizia, a tradição é a democracia mais inclusiva e abrangente, porque ela inclui os mortos, ela inclui os antepassados na forma do que eles conseguiram nos deixar. O que que os belenenses do século XVI conseguiram nos deixar? O que que nós preservamos dele? praticamente o que a Thís mostrou, praticamente o que o Land fez e claro muitos outros, mas o resto caiu literalmente em esquecimento. Perdeu a sua função, perdeu a sua utilidade, não tem beleza, não tem por deixar. é melhor derrubar e construir um prédio, que parece a lógica de uma sociedade super
populosa, cuja densidade demográfica exige a verticalização. Por pior que isso seja, em muitos aspectos, podemos vaguear, alienados, ressentidos, desconfiados e receosos por este mundo ou nos sentir à vontade nele, permanecendo em harmonia com os outros e com nós mesmos. Vejam como o nosso espaço urbano é terrível, é trágico, é isolado, é fragmentado, é terra de ninguém. Eu vou mostrar uma foto daqui a pouco da igreja de Santo Alexandre com o Bicharra Matar, que representa isso, como é o lugar muitas vezes sujo, muitas vezes depalperado, danificado. Vocês conhecem a teoria das janelas quebradas? A Laí acabou
de lançar o livro dela e ela tem um capítulo muito bom sobre a ordem em casa, como a ordem em casa, a beleza em casa é pedagógica. E a teoria das nelas quebradas diz: "Quando você não repara um pequeno dano numa coisa, aos poucos se acostuma com ela e você vai danificá-la até destruí-la por completo." Essa sensação da nossa cidade muitas vezes quebra um branço na um banco na praça, depois quebra a calçada, depois quebra o lixo, depois de repente tá tudo quebrado. E a gente não quer ir lá, a gente não não gosta de
ficar lá. A gente não se demora porque é hostil aos nossos olhos, porque agride a nossa visão. Ao passo que a gente vai numa praça limpa, cheirosa, ordenada, organizada, que é de todos e se sente à vontade e pode sociabilizar e pode, não se sente amendrontado, não é escura, não é soturna, você não sente que tem um inimigo a espreita querendo lhe roubar. Então, a gente perdeu a a nossa o nosso espaço urbano no Brasil é terrível. Belém em particular é terrível, terrível. Isso põe a nossa cidade numa qualidade de vida baixíssima, que a gente
praticamente não pode sair andando a pé. E eu não tô aqui com, quem me conhece sabe, tenho muitos amigos aqui, inclusive eu não sou pessimista, eu não tô choramingando, não é pronfleto político, nada. Eu tô constatando a gravidade moral da feiura. A experiência da beleza nos orienta nesse segundo sentido. Ela nos revela que estamos à vontade no mundo, que o mundo está ordenado em nossas percepções como um lugar adequado à vida de seres como nós. E como são os seres como nós? São seres simbólicos. São seres que buscam o sentido permanente das coisas, que afirmam
esse sentido e que carecem quando ele falta, que carecem dele quando ele está ausente. Nós precisamos desses valores da amizade, da família, da beleza, da ciência, da verdade. Quando falta isso, a gente se incomoda, a gente se sente fora do ninho, a gente se sente num êxodo, num exílio. Por isso que nós somos, por um lado, neste mundo peregrinos. Isso também foi dito pela Vivi. Vivemos num vale de lágrimas porque a nossa terra definitiva não é aqui, é a Jerusalém celeste. E a arte nos antecipa esse estágio de acalento metafísico que nós teremos no céu.
Por isso que a música, por exemplo, é uma experiência de céu. Uma igreja bela como a de Santo Alexandre é uma experiência de céu. O Álvaro Siviro vem a Belém em duas semanas ou três semanas tocar aqui no Teatro da Paz, né? Essa é uma experiência de contemplação estética tão profunda que gera um inebriamento, uma espécie de culto secular de Deus. secular, porque é um teatro e é música secular, embora eventualmente haja aqui ali alguma coisa de música religiosa, de inspiração religiosa, uma Ave Maria, uma um bar, que é música saca, porque era música litúrgica
na sua maioria. Desse modo, a experiência da beleza também aponta para além deste mundo, na direção de um reino das finalidades, em que nossos anseios imortais e nosso desejo de perfeição são finalmente respondidos. anseios imortais e desejos de perfeição. Como Platão e Kant perceberam, portanto, a inclinação, a beleza se aproxima da mentalidade religiosa. Platão não era um pensador cristão. Kant não era, mais, embora fosse cristão, um pensador que quisesse fundamentar a sua filosofia numa teologia. Mas ambos reconhecem que não há, não é possível pensar seriamente arte sem religião, sem Deus. nascendo da humilde consciência de
que vivemos com imperfeições ao mesmo tempo que aspiramos a uma unidade suprema com o transcendental. E continuou Scrot em outra passagem, a dessacralização é uma espécie de defesa contra o sagrado, uma tentativa de suprimir essas reivindicações. Ah, não, isso é religião. Ah, não, isso é relativo. Ah, não, isso não é dessa época. Vamos falar de patrimônio histórico, mas só do ponto de vista histórico. Não põe padre nessa, não põe igreja nessa. Vamos falar de sírio, mas é só cultura. Isso é um negócio assim, é estúpido, é pouco para isso. O fundamento da cultura é a
religião. Cultura tá ligada a culto, a cultivo de valores morais, valores da alma, de valores sociais. A cultura é a institucionalização de certas atitudes na escola, no conservatório, no museu, na igreja, no estado. Isso é cultura que promove valores, que tem fundo religioso, mesmo quando são anticristãos, é só uma outra religião, não é neutro, não é secular, que é o erro do liberalismo. Ninguém entendeu isso tão bem quanto Dostoevski, nos irmãos caramados ouv inclusive, porque ele não considerava o liberalismo só neutro, considerava uma forma de ateísmo esclarecido, como o Ivan Caramazo muito bem disse, muito
bem disse. Por isso que você tem que ser ateu mesmo, não é fingindo, ah, eu sou só liberal, eu não sou nem ateu, eu nem creio, eu sou tô no meio termo. Ô, você vai morrer. O que vai acontecer quando você morrer? A ciência não tem resposta a isso. A religião tem há várias religiões. Tem que decir qual é a religião verdadeira. Por isso eu gosto muito do livro Santo Agostinho chamado de vera religião, né? A religião verdadeira que é católica para Santo Agostinho, para mim e para muitos outros. Na para Land, para todos esses
que criaram tudo isso de tão belo. Como é que o Peter CFT se converteu? Há dois grandes autores hoje nos Estados Unidos convertendo multidões. Não tô falando de 100, tô falando de milhares. Um é o Scott Ran, teólogo, o outro é o Peter Crift, filósofo. O Peter Crift era um batista, um calvinista, e ele era anticatólico, como todo bom calvinista. E ele falou assim: "A Igreja Católica errou em tudo, menos na beleza". Como pode ela ter errado em tudo se ela acertou na beleza? Porque se é alguma coisa que os católicos entendem é de beleza.
E aí diz, se tem alguma coisa que os protestantes não entendem, é de beleza. Até porque se fecham de algum modo a beleza, como iconoclasmo, destruir as imagens, não pode ter imagem. Você entra numa numa igreja batista, não tem nada. no máximo uma cruz sem crucificado. Embora ele não seja justo a meu ver, porque a tradição protestante tem a grande música, como eles não puderam desenvolver a arte plástica, todo o espírito artístico foi pra música e eles são incomparáveis. A tradição começa com bar, Hendel, né? Betoven, Bram, Schuman, Schubert, essa tradição protestante, Mendelson, é extraordinária,
toda protestante. A gente tem o Motar, que era católico de país de tradição católica, o Vivaldi que era católico, mas a grande maioria de fato era protestante. E o Peter falou assim, pensou, eles levam a sério o mistério da encarnação e eles procuram plasmar nas formas sensíveis a beleza de Cristo e tornar o lugar do culto, que é a igreja, um lugar realmente divino, realmente um pedaço do céu. É isso que é uma igreja, um pedaço do céu com ordem, harmonia, integridade, reluzência. Na presença de objetos sagrados, nossas vidas são julgadas e no intuito de
escapar desse julgamento, destruímos aquilo mesmo que parece nos acusar. No entanto, de acordo com diversos filósofos e antropólogos, a experiência do sagrado é um traço universal da condição humana e por essa razão, é difícil evitá-la. A maior parte das nossas vidas se organizam em torno de objetos passageiros, mas pouco desses objetivos nos são memoráveis ou comoventes. Qual era o centro da cidade medieval? A igreja, assim que ela começa. Qual é o centro da cidade moderna? O shopping center. Se você chega numa cidade de origem medieval, pergunta: "Onde é o centro?" Você vai para uma igreja.
Se eu perguntar onde é o centro histórico de Belém, vai ser a igreja. Mas se você perguntar onde é o centro de Belém, a pessoa vai ter dúvida. Ela vai pensar talvez Brajuiar, talvez a presidente Vargas, talvez o a Doca. Você vai ter dúvida dizer qual é o centro, porque você vai pensar no centro, qual é o lugar sagrado de Belém? Qual é o lugar mais importante de Belém? Qual o lugar? Talvez você pense no centro político, não é verdade? Porque a nossa atenção tá muito mais voltada à política e à economia. A não, agora
ah, isso é história. Antigamente não, o centro continua sendo a Catedral da Sé. O centro continua sendo a Basílica de Nazaré. Basta que o povo valorize mais a Basílica de Nazaré e a Catedral da Sé do que o shopping center ou ou o parlamento. Embora o parlamento e o shopping center tem uma grande importância. e a gente possa desinvestigar também o patrimônio histórico e a arte numa perspectiva política e econômica, como foi falado aqui do Papa e do mecenato papal, que tinha autoridade política e tinha tinha poder econômico, só que os direcionou pro culto. A
todo momento nossa complacência é abalada e nos sentimos na presença de algo que é muito mais significativo que nossos interesses e desejos atuais. Percebemos a realidade de algo precioso e misterioso que vem até nós com um clamor que de algum modo não é deste mundo. Isto é verdadeira arte. Por isso que o livro do escroto é muito bom. É um clamor que não é deste mundo. Olha essa passagem. O refúgio que a criança recorre para se proteger do fardo do juízo adulto é o mesmo a que o adulto recorre para se proteger do fardo da
sua cultura. Ao usar a cultura como instrumento de dessacralização, os adultos neutralizam suas reivindicações. Ela perde toda a sua autoridade e passa a auxiliá-los na conspiração contra os valores. Se Nossa Senhora for enaltecida, a pureza será valorizada. Nesse mesmo livro, eu tenho um ensaio sobre o casamento a partir do livro do grande venerável Fulton Shin, três para casar. E um dos melhores, se não for o melhor capítulo, é sobre a pureza. Porque a gente não entende mais o que é a pureza, não entende mais o que é a castidade, não entende mais o que é
o celibato, não entende mais o que é o ato conjugal, o que é o matrimônio e por o ato conjugal pressupõe exclusividade, indissolubilidade e fecundidade. O sexo antes e paralelo ao casamento, o contraceptivo e o divórcio implodiram por completo a experiência real que Nossa Senhora garante com a sagrada, a imagem da Sagrada Família, que é a fecundidade de uma família. Ora, é melhor não ter muitas virgens marias por aí. É melhor não falar muito de Nossa Senhora ou é melhor neutralizar na forma de uma processão que não tem repercussão espiritual e dizer que é sua
cultura e fazer uma festa profana durante exatamente para marcar que é só cultura no sentido que não tá ligada aos valores morais que aquela senhora encarna em grau supremo e São José encarnam no grau em grau supremo com famílias instauradas no sacramento do matrimônio, cujas características são exatamente a a unidade, a complementariedade, a indissolubilidade, a fecundidade e toda a moda do sexapil, todo o cinema do apelo sexual, toda a cultura dessa geração que é abertamente anticristã. Não pode ter um casamento, a não ser o casamento se torna uma grande festinha embelezada. por ornamento, nos filmes,
na literatura. Eu falei ainda h pouco do de que tragicamente é o grande autor da da língua portuguesa, na minha opinião, porque é claramente anticlerical e anticristão e e fala de um catolicismo decadente e de um clero decade. Corrupto. Não fala de um santo. Não fala de um Santo Antônio de Lisboa, por exemplo, de um São Francisco de Assis, de um Santo Tomás dequino, de um Santo Inácio de Loiola. Mas fala de uma caricatura. Por quê? Como o fardo da cultura católica é muito grave e milagrosamente sobrevive, é muito engraçado ver as pessoas preocupadas com
o papa. Por que você tá preocupado com o papa? Você presente que é o cargo mais importante da face da terra, que é o vigário de Cristo, né? Não tem autoridade política. O estado vaticano é um estado minúsculo, porque todas porque é o acontecimento da década, porque o João Paulo II é sem nenhum exagero a personalidade do século XX, porque existe um fardo, uma gravidade dessa reivindicação da Igreja Católica, que ele é o vigário de Cristo. E o que ele fala não é para boi dormir. E o que ele fala, o vento não eva. O
que ele fala tá tá enraizado numa tradição de 2000 anos e naquele que nós consideramos ser o próprio Deus que é Cristo. Então a única coisa a fazer é dizer: "Ah, como não dá para se livrar desse fardo, você tem que neutralizá-lo em formas de dessacralização. E por isso você precisa criar filmes para isso, papas conclave, você precisa dessacralizar, neutralizar e implodir e profanar. Por isso Scraton diz que a arte contemporânea enormemente profanadora, porque ela se volta pro sagrado com desdém, a fim de implodo, a fim de neutralizá-lo, porque é grave demais falar de um
santo levando a sério a castidade. Não, não, castidade não. rieza, porque não sabe mais se quer formular o que é a pureza, o pudor, o recato, a castidade, o casamento. Esse capítulo do do Futon Shin é absolutamente extraordinário sobre a pureza. É impressionante porque como ele é muito muito brilhante, muito talentoso, ele consegue dialeticamente mostrar como se perdeu a capacidade sequer de formular o que é a pureza. A gente não tem nem mais roupa para ser puro. Tem nem roupa. Como é que eu faço? Como é que eu me visto? Que roupa não foi feita
para ser para ser devaçada. Que roupa não foi feita para marcar o corpo da mulher? É difícil encontrá-la. A roupa foi feita por alguém que quer o apelo sexual. Ah, não, mas eu não quero. Tudo bem. Você tá vestindo alguém que quis fazer nesses termos. O contraste que vem esboçando implicitamente entre o amor que venera e o desdém que dessa é semelhante ao contraste entre gosto e vício. Os amantes da beleza voltam a sua atenção para fora, buscando um sentido e uma ordem que dê razão às suas vidas. Quando eu li o meu resumo do
livro do Josepho, eu falei da celebração do sentido da vida, da comemoração, da gratidão, da admiração, da afirmação do mundo. A postura que adotam diante daquilo que amam encontra-se embuída de juízo e discriminação. Além disso, é a luz desse objeto que eles se avaliam, buscando equipar-se a sua ordem em suas vigorosas relações de afinidade. Me permitam mais uma citação deste belo livro do Roger Scrotton e aí eu passo pra parte final. E antes das 4 da tarde, realmente nós não [Risadas] antes da missa das 8 a gente não a arte tal qual encontra-se no limear
do transcendental. No limear do transcendental. Falando mais uma coisa do Bené. O Bené tinha o hábito de escutar música lírica, sobretudo com um grupo de amigos. E eu fui lá algumas vezes eu dormi, eu e ela lembra vez que eu dormi, colocar lá uma ópera de 4 horas, eu dormi quando eu tava com a Laíse, quando eu tu acordaste, estava dormindo também, tá? 4 horas de ópera não dá. tava acostumado, mas o que eu percebi, eu descrevo naquele ensaio o Encantado, que tá numa crise da cultura e ordem do amor, é que aqueles ato ali
era um ato sagrado, era um ato de contemplação. Depois os quatetos de Bethoven, por exemplo, a gente escutou, a gente escutou muito bar, ópera realmente eu não alcanço ainda, não, realmente não tenho alcance para ópera, mas puxa, a gente escutou Schubert, a gente escutou bar, a gente escrutava sinfonias, né? E era realmente uma forma de contemplar a beleza e o sagrado. Era o cultivo humanista da beleza. Tudo acabava e a gente ficava minutos. Eu falei: "Que que eu tenho que fazer agora?" Eu era um moleque, né? Eu ficava calado ouvindo todo mundo parado, ouvindo silêncio.
Silêncio. A gente consegue ficar 2 minutos calado. Consigo nem sem brincadeira. Eu acho que o pessoal ficava ali uns 15 minutos, todo mundo calado, todo mundo assim parado. Eu ficava olhando pro Bené, que que ele deve estar pensando? E nesse ensaio eu digo, o Bené, naquele momento começou a aparecer para mim um enigma, começou a aparecer um poema barroco que eu queria decifrar, porque ele era baixo, ele era pequeno, ele era encurvado, ele era envelhecido, barbas brancas. calmo, poucas palavras, silencioso. E quando eu lia o que ele escrevia, eu via que naquele interior havia um
mundo. Então, era incompatível o a forma e o conteúdo e o continente. E olha o que ele diz aqui. A arte aponta para além deste mundo de coisas acidentais e desconexas, na direção de uma esfera em que a vida humana é agraciada por uma lógica emocional que torna o sofrimento nobre e faz com que o amor valha a pena. Nesse momento o escrot estáando como cristão. Por a única filosofia, a única religião que afirma o amor sacrificial é o cristianismo e que dá sentido à vida independente do sofrimento. E o nome disso é cruz. E
por isso o objeto mais representado na arte cristã, claro que é a cruz. Nesse momento eu tô macaco velho já. Ah, filósofo da universidade, eu leio o livro, sei se ele é o cristão ou não, porque aqui nesse momento ele assina. Ele não se diz cristão no livro, embora ele seja o escenha sido um cristão, mas ele não é um apologeta tão tão evidente. Era anglicano, né, a igreja da da Inglaterra. Mas aqui ele demonstra que a arte verdadeira mostra esta verdade, não é abstrata, esta verdade concreta de um amor que dá a vida pelo
outro. Desse modo, ninguém que atente para a beleza carece do conceito, cheguei, minhas amigas, de redenção, uma de uma transcendência derradeira que conduz da desordem mortal a um reino das finalidades. Ele usa essa expressão cantiana aqui, reino das finalidades, para falar desse aspecto do espírito que é superior às contingências materiais e às relações de causa e efeito material. Ou seja, quando o espírito se põe e dá uma finalidade que não estava já inscrita na finalidade causal e material das coisas. E a gente perdoa esse cantismo aqui do Scratony, o platoniza e o Agostinisa e o
o torna mais tomista, digamos assim, porque se ele fosse, ele teria muito mais força na sua crítica da cultura, na minha opinião. Então, quando eu pego um autor como esse, eu o jogo no seio de uma filosofia que me parece muito mais robusta para explicar tudo isso. Numa época em que a fé está em declínio, a arte dá contínuo testemunho da fome espiritual e dos anseios imortais da nossa espécie. É por essa razão que a educação estética é mais importante hoje que em qualquer outro período da nossa história. Nas palavras de Wagner está reservada a
arte a função de salvar o núcleo religioso pelo reconhecimento das imagens míticas que a religião desejaria acreditadas e revelar, por meio da representação ideal de seu valor simbólico, a verdade que se esconde no interior delas, até mesmo para o incrédulo. Portanto, a presença real do sagrado é um dos dons mais sublimes da arte. E aqui eu não sei se o Scrutton, que aspeia presenças reais se refere ao livro do grande ensaísta Geor Steiner, que eu cito logo no começo do meu do meu livro, das presenças reais que nós notamos em toda a grande obra da
literatura e da arte. Por fim, eu gostaria de apresentar algumas imagens representativas do que a gente pode chamar de a redenção da arte paraense. Quando me propuseram este título, eu pensei que a preposição da nesta locução, a redenção da arquitetura paraense pode ter sentido de complemento nominal ou de adjunto adnominal. Se ela tiver o sentido de complemento nominal, a arquitetura será redimida. Ela é a ela tem a o dá dá a função de objeto da redenção. A arquitetura é redimida e nesse sentido a gente pode dizer que ela é preservada, restaurada, valorizada, protegida quando a
gente redime a arquitetura. Mas para que a gente faz isso? para ser redimido por ela. Redenção é a palavra central do cristianismo da partir de São Paulo, que fala da esse tema é técnico na teologia paulina. Se da for adjunto adnominal, ela terá a função de sujeito e do agente da redenção. Nesse caso, a arquitetura é redentora. Então, a gente redime a arquitetura, a gente salva a arquitetura para ser salvo por ela. Foi isso que eu pensei quando eu disse. E eu pensei, arquitetura para, o que me parece na arquitetura paraense redentor e o que
na arquitetura paraense é digno de ser redimido, protegido, para que nos redima? E é claro que vocês sem fazer suspenso já sabem em quem eu em que eu estou pensando. Então eu eu destaquei aqui alguns marcos da arquitetura paraense, para não dizer que não falei das flores num evento de arquitetura, de patrimônio histórico também, que me parecem remanços de paz, de beleza e e capazes de de algum modo de que na minha opinião são como que oases no deserto urbano, nesse selva de pedras, né? Os locais que eu frequento constantemente e que me dão muita
paz. E para tornar esse exercício hermenêutico de interpretação e contemplação mais atual e real, eu me valido das fotos do meu amigo interlocutor João Pedro Toscano, que está aqui presente, cujas lentes são sensíveis e me suscitaram algumas reflexões que eu vou compartilhar com vocês. desincubido que estou da tarefa histórica e estética de explicar do ponto de vista histórico e estético, o que já foi dito pelas minhas honrosas predecessoras. O que nós temos aqui? A igreja de Santo Alexandre, o exterior, a fachada com o palácio episcopal aqui, o colégio de Santo Alexandre, visto debaixo com uma
poça de água que representa de algum modo o espelhamento de céu e terra. Aqui vocês vem o o reflexo do bicharra matar, que é um prédio abandonado e ao mesmo tempo um o reflexo da Santa Alexandre. Aqui eu me lembrei de imediato de Heráclito, de Éfeso, quando ele diz que o caminho para cima e para baixo é um só e o mesmo. Aqui está a ambiguidade do que sobe e do que desce. Ou seja, a gente pode olhar para baixo e ao mesmo tempo encontrar um caminho para cima. A poça de água também é o
abandono de um espaço público abandonado que se torna intransitável, né? Que não escoa a água. E a gente tem o céu, eh, como ela é tirada de baixo para cima, o fotógrafo, o artista nos remete ao céu, surum corda, a olhar para cima, como é o objetivo da arte sacra. E ao mesmo tempo a gente vê ao fundo um prédio abandonado. Por que esse prédio foi abandonado? Isso explica isso no documentário porque a beleza importa. Ele vai em alguns desses prédios que tem em todas as grandes cidades. Recentemente eu fui em Porto Alegre com o
meu amigo Mateus Bazo e a gente caminhando por ali, ele mostrando as igrejas e de repente um prédio abandonado, um um prédio desse no centro de Porto Alegre. Em qualquer centro vai ter um lugar abandonado desse, por perdeu a sua utilidade. E como não é belo, o que não é belo a gente abandona. É o que a Laíse fala no capítulo da ordem na casa. Quando uma casa não é bela, ela não é um lar. A gente não quer se demorar nela, que a gente não quer se aconchegar nela, a gente quer ir embora. Agora
põe uma florzinha. Então eu chego em casa, ela arruma uma sacada com uma florzinha, uma xícara de porcelana. De repente eu falo assim: "Amor, vamos sentar aqui um pouquinho". De repente a gente fica, namora, conversa. O que antes era um espaço vago se tornou um aconchego, né? Então aqui a gente tem esse contraste. Tipicamente [Música] pós-moderno aqui. O mesmo prédio agora numa foto colorida que me chamou atenção. Eu vou falar das luzes logo mais, porque Cristo é a luz que resplandece nas trevas, que veio para os que eram seus, mas os seus não o reconheceram.
Aqui a gente tem as luzes artificiais das janelas, mas a gente tem a luz natural de um azul de fim da tarde, extremamente belo. Então essa interação da luz artificial das janelas, da luminosidade do próprio branco da pintura com o branco da nuvem e o azul e também aqui um verde das árvores, me pareceu um uma composição muito bela também. Todas essas fotos. Isso aqui é um exercício prático e rápido de atividade artística e de interpretação a partir de um artista contemporâneo, de um fotógrafo atual, que provavelmente não pensou em nada disso, mas que me
causou contemplação. Eu me pus a contemplar de forma muito mais lenta do que eu estou fazendo agora pela carência do tempo. Depois posso passar essas fotos, se o autor eh autorizar, para que vocês tenham esse exercício de contemplação. O eu ten um bibliotecazinho, ten um escritóiozinho e uma vez entrou uma pessoa lá e falou: "Que que você fica fazendo aqui?" Aí eu falei: "Nada, ele deve ter olhado assim, deve não tem televisão, não tem telefone. Bem, tem o telefone, tem o celular, mas de só livro, livro, livro, livro. Que que você faz aqui? Eu contemplo,
eu contemplo. Eu passo 12, 14 horas aqui contemplando mesmo. Quando eu converso com um amigo, quando eu tenho uma uma aula, tô contemplando. Então eu passei a perder de vista. Há um tempo praticamente ilimitado. A eternidade visita o tempo quando a gente se perde nessa contemplação. E aí sim a nossa memória, a nossa imaginação, o nosso conhecimento, o conhecimento histórico dos jesuítas. de Marquejo Pombal que os expulsou do que poderia ter sido isto aqui, a primeira universidade na Amazônia e assim por diante. Eu casei nesta igreja, recentemente eu lancei um livro nesta igreja e palestrei
nessa igreja. Enfim, isso tudo a boa arte faz. Esta aqui é uma arte em outro ângulo em que o que era oscuro do João Pedro Toscano está mais evidente. Aqui o manto negro da noite já cobriu com o seu véu. Embora no fundo haja ainda um uma réstia de luz, tá? o que torna o crepúsculo e a aurora pelo mesmo aforisma de Heráclito, correspondentes, porque num determinado átimo o crepúsculo e a aurora se tocam e se correspondem. Digamos às 6, vamos colocar arredondadamente, 6 horas da tarde, 6 horas da manhã, se parecem. E aqui a
gente tem uma vista fron aqui a Igreja Santo Alexandre. Bem na frente está a Catedral da Sé, que é particularmente o meu local preferido de Belém. Quando eu me mudei de volta a Belém em 2012, eu frequentei por muito tempo eh a Catedral da Sé quando eu tinha uma missa diária do meio-dia, missa maravilhosa do meio-dia. Basílica de Nazaré. Aqui o João Pedro Toscano nos mostra mais uma vez o ângulo de baixo para cima. A noite negra, eu não sei se ele trabalhou para tornar, não, né? Totalmente escura aqui. Talvez seja até de madrugada ou
então tarde da noite, porque a gente percebe que não tem nenhuma iluminação lateral, né? E as luzes da artificiais da igreja demonstram exatamente essa resplandescência. Era isso que Santo Tomás chamava de claritas, de relusência, de resplandescência, de epifania. Ela é íntegra porque nada lhe falta. Ela é harmônica porque todas as suas partes são proporcionadas umas às outras. E ela é reluzente ou resplandescente. A gente tem a cruz aqui de Cristo brilhando nas trevas com anjo trombeteando a boa nova do evangelho. E Nossa Senhora, que é a matriz da encarnação, aqui presidindo essa fachada extraordinária. Extraordinária
essa foto, João. Essa aqui não é uma foto do João, não é uma foto tão artística, apenas porque eu queria e colocar também o interior de Santo Alexandre. é uma igreja com esse eh rebuscado, barroco belíssimo. É uma igreja também muito bela aqui. Ela tá, como vocês sabem, é clara, iluminada, mas ela é escura normalmente. A gente normalmente atende noite. Ela convida a uma introspecção, ela convida a oração. É uma igreja primorosa com uma via sacra lindíssima no museu de arte sacra. pertence ao nosso conjunto de do Museu de Arte Sacra. Aqui essa é do
João Pedro, mais uma vez da catedral que também é vista. Vejam que o ângulo que ele privilegia é sempre um ângulo de baixo para cima para nos fazer levantar o olhar. Ela é cruciforme, como eu disse, a gente vê Cristo, né, com a atitude de julgador. Me parece uma citação do Cristo, do juízo final do Michelângelo, lá no topo do altar. é ladeado por Pedro e Paulo, as colunas da igreja. Pedro com as chaves, Paulo com o dedo em rist e o livros. O a cena do Natal atrás. E por fim, para completar com os
interiores, a Basílica de Nazaré, que está passando pelo restauro neste momento e cuja beleza é enorme, extraordinária e também nos acalenta, nos consola, principalmente quando ela está no silêncio propício da oração. E os nossos olhares se podem perder. numa narrativa, isso lembra também a capela cistina, porque há também uma narrativa bíblica completa na basílica, sobretudo pelas mulheres figuras de Nossa Senhora, Eva, Sara, Raquel, Rebeca, Betabeia, Ana, Judite, Rute, Estter Susana numa num amálgama de mosaico, escultura, vitral, colunas, enfim, uma obra prima. Eh, se a gente tivesse olhos para ver, se a gente tivesse ouvidos para
ouvir, se a gente soubesse ler, lembram? A gente só sabe duas palavras da Elida. A gente não tem aqui os meios de leitura. Nós somos analfabetos diante desse templo e mesmo assim ele já impacta tanto. E claro que eu não tô pressupondo uma um conhecimento erudito préio para poder fluir de um bem cultural. Bem, a verdade ela resplandece, mas quando a gente aprende a lê-la a gente flui muito mais. Muito obrigado. [Aplausos]