Alice me pediu para falar sobre as diferenças entre o autismo e o TDAH. Então, vamos lá, estou aqui para isso, para a gente conversar um pouquinho. Você já percebeu que eu uso muito as palavras "neurodivergente" e "neurodivergência" para me referir a pessoas autistas e disléxicas?
Preste atenção, porque, nesses e em alguns outros diagnósticos também, o desenvolvimento neurológico é atípico, é divergente da média. No autismo, por exemplo, as amígdalas de uma criança de 8 aninhos já podem ter o tamanho das amígdalas de um adulto. E aqui não estou falando da vida da garganta, não, tá?
Eu estou falando de uma estrutura no sistema límbico, responsável principalmente por detectar ameaças. Então, imagine. .
. É por isso que a criança com autismo tende a ser muito mais sensível aos movimentos e a outros estímulos sensoriais. Ela não consegue controlar isso, então pode ficar mais enjoada quando anda de carro, pode se assustar mais quando as pessoas se aproximam dela, mesmo que não seja com a intenção de assustar.
Ela fica mais sensível. Ok, mas às vezes as pessoas com TDAH também relatam essa hiperreatividade aos estímulos. Então, outras pessoas me questionam aqui se essas características do autismo não são as mesmas do Transtorno de Déficit de Atenção e não são.
Apenas vocês que percebem essas semelhanças; na verdade, os cientistas holandeses acreditam que o TDAH e o autismo sejam apresentações diferentes da mesma condição. Eu vou deixar o link aqui do PubMed com o artigo no primeiro comentário e na descrição também, o artigo de 2012, mas desde então tem sido bastante discutido, e vale a pena conferir. O que a equipe percebeu foi que o autismo sempre traz os sinais.
Agora, cinquenta por cento das pessoas. . .
não sei se posso dizer "só cinquenta por cento" das pessoas com TDAH é que vão apresentar os sinais do autismo, mas os estudos dessa equipe holandesa não são conclusivos. Aliás, temos uma discussão infinita sobre a ligação. Somente no futuro é que a gente vai saber; as cenas dos próximos capítulos.
Porque são muitas linhas de raciocínio. Tem a genética até estudos de neuroimagem, também, cheios de interpretações diferentes. Realmente é um tema que tem sido muito estudado, mas para que a gente possa falar a mesma linguagem do DSM, por exemplo, é preciso conhecer as diferenças oficiais entre o autismo e o TDAH.
Eu vou resumir aqui para vocês os critérios diagnósticos. No caso do autismo, basicamente, nós vamos ter dois critérios diagnósticos. O critério A vai se referir às dificuldades de linguagem e de comunicação, e às dificuldades persistentes na comunicação e na interação social.
Então, aqui, nós vamos observar os problemas de linguagem, é claro, a dificuldade de expressar as próprias ideias, a expressão facial, a expressão corporal, tudo que possa afetar o relacionamento da pessoa com a família dela e com os amigos também. Então, no consultório, ou mesmo em casa, os pais devem observar se a criança tem sorriso social, se ela consegue manifestar as suas próprias emoções e se as expressões faciais são coerentes com o que ela está pensando, se ela faz contato visual natural. E só lembrando aqui que algumas pessoas vão aprender a imitar esses comportamentos; inclusive, nós temos um vídeo no canal só sobre camuflagem, vou deixar aqui nos cards para vocês.
Mas a questão aqui é a seguinte: o fato da pessoa olhar nos nossos olhos, olhar nos olhos do profissional, do médico que está atendendo, não pode fazer com que ele descarte o diagnóstico imediatamente. E, por outro lado, nem tudo é autismo. Então, não é porque nós temos algumas das características que nós vamos insistir no diagnóstico para ser TEA, para ser Transtorno do Espectro Autista.
Os sintomas devem ocorrer desde a infância e precisam ser um transtorno de verdade, um transtorno na vida do indivíduo. O próprio nome já diz: é um transtorno do espectro autista. Agora, o segundo critério, o critério B, vai falar sobre padrões restritos e repetitivos de comportamento, de interesses ou de atividades.
Então, aqui, o que nós vamos observar? Os profissionais vão avaliar se a pessoa tem problemas com alterações de rotina, se ela quer fazer tudo do mesmo jeito, sempre. Se ela fica muito irritada por causa de manias, se ela tem restrições alimentares, se gosta dos mesmos objetos, se assiste sempre aos mesmos filmes, aos mesmos desenhos animados, se desenha sempre sobre os mesmos temas, se faz movimentos repetitivos.
. . e por aí vai.
Mas, resumindo, no autismo, as pessoas geralmente vão ter dificuldades para interagir e, principalmente, na flexibilização da rotina. Agora, no TDAH, os critérios diagnósticos são cinco. O primeiro critério, critério A, se divide em três aspectos que, na verdade, resumem a maior parte da história, que são a hiperatividade, a desatenção e a impulsividade persistentes.
Os critérios B, C e D vão avaliar a persistência do problema ao longo da vida da pessoa e, basicamente, se eles já se manifestam desde a infância. É importante saber se a criança já esquece os objetos, por exemplo, onde ela passa, se ela esquece compromissos, se as tarefas escolares. .
. Se a desatenção e a impulsividade comprometem o desempenho dela em diferentes contextos ou se ainda comprometem. Porque quem tem TDAH quase sempre tem essas queixas não apenas na escola.
Isso parece, né? A desatenção, a hiperatividade e a impulsividade aparecem no trabalho, no lazer. Às vezes, ela só tem problemas; esquece os óculos, esquece passaporte e documentos importantes, guarda-chuva fica por onde ela passa, se não tiver chovendo, ela não existe, guarda-chuva.
Mas, além de tudo, a socialização também pode ser prejudicada. Mas aqui no TDAH é um pouco diferente: a ação social tende a ir mal por causa da impulsividade, porque a pessoa talvez seja mais briguinha, porque talvez ela se esqueça das datas importantes, ela esquece o aniversário dos amigos, queima comida, se atrasa para os compromissos ou se esquece mesmo dos. .
. Compromissos interrompem a fala dos outros, se distraem demais, e aí, ó amigo, percebe? Acho injusto, ou seja, essa pessoa exige mais paciência dos outros.
Para concluir, olha só: o critério fala justamente sobre o diagnóstico diferencial. Até 2013, o autismo excluía o TDAH. Agora, o DSM-5 já traz essa possibilidade dos dois diagnósticos coexistirem, mas vai excluir o TDAH se os sintomas de desatenção, de impulsividade e de hiperatividade só aparecem durante quadros esquizofrênicos ou surtos psicóticos, ou se são mais bem explicados por falta de nutrientes.
É importante verificar se não há falta de vitamina B12, vitamina D e magnésio. Portanto, é super importante corrigir esses nutrientes. A pessoa também pode parecer ter um TDAH se estiver vivendo um período de estresse intenso, estresse pós-traumático ou se tiver outros tipos de transtornos, como o transtorno de personalidade.
Então, aí estão os critérios oficiais dos dois diagnósticos. Para resumir, no autismo clássico, o que se espera ver são dificuldades relacionadas à linguagem e à comunicação, além de interesses muito limitantes e restritivos. Já no TDAH clássico, aquele de livro, nós vamos ver impulsividade, desatenção e hiperatividade.
Essa hiperatividade pode se manifestar tanto fisicamente quanto mentalmente; pode ser aquele agito mental que confunde as pessoas. E os dois diagnósticos são espectrais, cheios de nuances, e é aí que as confusões aparecem. Pois tanto pessoas com autismo quanto pessoas com TDAH podem se distrair com muitas viagens mentais.
Elas podem ter dificuldades para manter relacionamentos saudáveis e duradouros, além de se sentirem fisicamente cansativas. Também podem ser mais reativas e dizer "sim" ingenuamente, sem pensar em outras consequências. Elas podem não aproveitar algumas oportunidades por medo, reagindo de maneira desproporcional a estímulos do ambiente e tendo dificuldade para expressar seus próprios sentimentos, organizar as ideias, planejar projetos e, principalmente, iniciar tarefas.
Daí vem a procrastinação. E, aliás, esse é o nosso pânico, né? O pânico dos educadores, porque as tarefas de casa que enviamos geralmente acabam sendo um desafio.
Mas eu já sei disso e tenho as minhas estratégias de ensino; então, vou enxugar bem o conteúdo, deixar tudo muito dinâmico e divertido, e tem que dar certo. Eu aproveito o hiperfoco dos meus alunos nos temas que eles mais gostam para ensinar nas tarefas. Estou voltando aqui às similaridades.
Vocês viram que o diagnóstico realmente é um processo delicado, né? E nós ainda temos a dislexia, que, além daqueles equívocos clássicos observados durante a leitura e a escrita, geralmente traz confusões de estasções e agitação mental, além de agitação física. Outra coisa é que a pessoa pode simplesmente ter um temperamento mais pacato.
E, sem contar, que vinte por cento da população mundial é hipersensível. Tem um vídeo no canal só sobre esse assunto. Então, o que podemos tirar dessa nossa conversa de hoje é que nem tudo é autismo e nem tudo é TDAH.
É por isso que eu falo mais em neurodivergência e não em transtornos específicos. Eu sinto que ser neurodivergente é mais leve, é mais inclusivo. E tem outra questão: muita gente, com a abordagem certa, pode deixar esses quadros de lado, transformando a distinção em superfunção, quando incorporamos essas características peculiares à nossa identidade.
E as diferenças estão nas suas mãos. Então, agora quero saber qual é a sua opinião sobre esse assunto. Desejo um debate polêmico!
Vejo todos os comentários e participarei das discussões com vocês. E tem outro pedido: se você tiver médicos ou outros profissionais de referência, por favor, deixe aqui nos comentários, pois isso ajuda quem chega à comunidade. Muitas pessoas se queixam de que não foram bem atendidas ou simplesmente não encontraram médicos que atendem adultos, mas sabemos que eles existem por aí.
Então, vamos compartilhar esses nomes! Espero que essa conversa tenha sido útil aqui hoje. Muito obrigada e até breve!
Tchau tchau!