Socialismo, raça e classe - ABC DO SOCIALISMO #09

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Tempero Drag
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Video Transcript:
Oi galera perigosa da classe  trabalhadora. Não tô dando ideia sempre tô Hoje a gente chegou no vídeo nove da nossa  série O ABC do Socialismo, baseado nesse livro da Jacobina em parceria com a Autonomia  Literária, livro de mesmo título. E o vídeo de hoje é para debater um dos últimos capítulos. 
Ah, só para contar a gente vai até o 10 nessa série depois a gente vai começar uma outra série  chamada. Por que o Marx tinha razão? O nosso capítulo de hoje se chama.
Enquanto ao racismo,  os socialistas não se importam só com classe? Ele foi escrito pela Keenga Yamahtta Taylor que é uma  pesquisadora ativista e militante estadunidense. Ela é professora de estudos afro-americanos  na Northwestern University e ela tem se dedicado a uma produção é profícua desde que  o movimento Black Lives Matter acontece nos Estados Unidos interligando as opressões de  raça às opressões do capitalismo mostrando como não há uma sem a outra.
Então vamos dar início ao  nosso vídeo 9. Você assistiu os outros? Porque se eu descobri que você tá assistindo 9  sem ter assistido o 8, 7, o 6, o 5, 4, 3, o 2, e o 1 Para eu te jogar uma praga e uma maldição Escucha las palabras de las brujas, los secretos escondidos en la noche.
Que você vai para sempre ficar preso num país  onde a alternativa mais à esquerda é votar no Alckmin, numa cidade amaldiçoado onde a alternativa mais  à esquerda é votar na Marta Suplici golpista que abraçou Michel Temer, votou pela PEC do teto  da Mmorte, que ajudou como Senadora congelar os gastos públicos do estado no povo brasileiro,  que apoiou o golpe da Dilma Rousseff mandou flor para a Janaína Pascoal e agora é de esquerda. É um  dois. Bom, ameaças e maldições feitas a gente vai começar voltando para essa indagação do título  do vídeo que é o seguinte, os socialistas eles se preocupam com o racismo?
E aí meu anjo assim né  não força barra. Ao longo da nossa série a gente tem indicado uma profusão de autores e autoras,  negros e negras, Marxistas que se preocupam muito com essa questão inclusive deixa eu indicar para  vocês o Mulheres Negras e Marxismo da editora Iscra que foi organizada pelas nossas camaradas  Letícia Parks amo você mana, Odete Assis e Carolina Cacau Isso para além da Angela Davis, do Sankara,  isso para além do Fanon, isso para além da Lélia Gonzalez, do Clóvis Moura, uma série de autores  que a gente sempre recomenda aqui, que estão focados em pensar como a sociedade capitalista é  reforça a ideia de raça como sendo um distintivo entre trabalhadores para poder oprimir ainda mais  alguns deles. No vídeo de hoje e também no capítulo do livro esse é o foco central da discussão. 
Aliás quando eu tava preparando o roteiro desse vídeo eu me lembrei de uma frase do Steve Biko  que era um militante político contra o aparthaid na África do Sul ele morre aos 30 anos de idade  né resultado dessa perseguição que o regime de minoria branca na África do Sul fazia ao grupo  político dele e ele dizia o seguinte. O racismo e o capitalismo são duas faces da mesma moeda. Agora  o que será que o Biko quer dizer com isso?
Ainda sobre isso né, sobre como o capitalismo na sua  fase primeira de expansão, a sua fase de acumulação primitiva quando as burguesias europeias começam  a conquistar e dominar territórios ao redor do planeta e escravizar as populações locais. Eu  recomendei no último vídeo essa videoaula da Virgínia Fontes na TV Boitempo sobre essa fase  do Capital, também já disse para vocês em outro vídeo como a noção de raça vem daí, a palavra  raça para ser usada para falar sobre seres humanos começa nesse momento. Até então a gente  falava de raça de cavalo, raça de cachorro.
Como será que essa palavra do reino animal passa a  ser usada na Ciência Política, na filosofia, na economia sobre isso. O Achille Mbembe em Crítica da Razão  Negra nos diz o seguinte, a noção de raça permitia representar as humanidades não europeias como se  houvessem sido tocadas por um ser inferior. Elas seriam portanto o reflexo depauperado do homem  ideal de quem estariam separadas por um intervalo de tempo intransponível, uma diferença praticamente  insuperável.
Quem estuda filosofia ocidental percebe isso. Qual é a ideia do Kant pros negros?  Acabar com eles.
Qual é a ideia do Hegel pros negros? De que eles seriam um povo inferior que  não teria história. A chave começa a mudar no seu Carlinho, já vou chegar no velho.
Mas quero  continuar no Crítica da Razão Negra do Mbembe. O negro não existe como tal ele é constantemente produzido,  produzi-lo é gerar um vínculo social de sujeição e um corpo de extração isso é, um corpo inteiramente  exposto à vontade de um senhor e do qual nos esforçamos para obter o máximo de rendimento. Ora eu não precisava me remeter a autores intelectuais é do Século XX e do século XXI.
Como eu disse para  vocês a chave começa a mudar no seu Carlinhos, no capítulo 5 do Capital o seu Carlinho diz uma  coisa e eu já disse isso aqui para vocês em outros vídeos, que é o seguinte. É o negro é só  o negro, é em condições específicas de opressão social em condições específicas de produção da  vida material que ele se torna o negro que a gente conhece um negro histórico tendo sido escravizado.  Do que que eu tô falando meus anjos e minhas anjos é o seguinte, dentro da perspectiva marxista não  existe uma condição que venha do além.
A gente não pensa em certas categorias como ontológicas né  elas dão início ao ser social. a negritude é uma dessas características né. É não é a cor de pele  que produz o racismo, é o racismo que produz a cor de pele.
Veja se me entende, é através de um sistema  de exploração que vai precisar encontrar justifica que a ideia de negro aparece antes do sistema  colonial de opressão era impossível chegar em África e dizer para aquela multitude de povos  vocês são negros, porque eles se separam por cultura, religião, geografia, localização, é ritos,  crenças, línguas, e a ideia de que o que o separa é a cor da pele não existe. É através de uma outra  perspectiva de dominação, é através de um sistema de produção que vai depender da mão de obra  escravizada que esse negro aparece como oposto do branco que a condição da negritude é o que forma  esse sujeito porque não é a negritude é um modo de produção que produz a negritude. No capítulo do ABC  a autora vai se dedicar a mostrar como o movimento socialistas nos Estados Unidos se dedicaram  historicamente nas lutas de emancipação do povo negro, inclusive mostrando como um movimento  antirracista que não seja anticapitalista não chega em lugar nenhum.
Aqui no Brasil o Douglas  Barros maravilhoso meu professor, ele escreveu um artigo pra Jacobina sobre isso, sobre os limites do  movimento antirracista liberal que não vai na raiz das coisas. Então agora vamos de surra de Karl  Markson existem inúmeras passagens ao longo da obra do velho, em que ele vai se deter sobre isso  sobre como a produção de uma classe que divida a classe trabalhadora, então trabalhadores brancos  e trabalhadores negros, trabalhadores ingleses e irlandeses é uma ferramenta que a classe dominante  usa para que a classe dominada não se una nas suas opressões. Se a gente fosse mais unida o mundo  seria outro.
Primeira citação, a escravidão direta é um pivô da indústria burguesa tanto quanto o  maquinário, o crédito, etc. Sem a escravidão você não tem algodão. Ora eram pessoas escravizadas  em sistema de plantation no sul dos Estados Unidos que produziam grosso de algodão que vai ser  mandado pras indústrias de tecido na Europa.
Continuando as palavras do velho. Sem algodão você  não tem a indústria moderna é a escravidão que deu às colônias o seu valor. Lembra que na teoria  marxista, o valor é produzido pelo trabalho.
Ai achamos uma grande colônia. Mas são vocês que  vão lá catar o ouro? São vocês que vão lá plantar o algodão?
Não são né, aquela galera Branca bunda  mole europeia não trabalhava, ela explorava alguém que trabalhava para ela. Produzia genocídio e  escravização de povos indígenas, genocídio e escravização de populações africanas. Voltando pro  velho Marx, são as colônias que criar o comércio mundial e é o comércio Mundial que é pré-condição  pra indústria de larga escala capitalista, assim a escravidão é uma categoria Econômica da maior  importância.
Outra citação do velho Marx sobre isso, a descoberta de Ouro e Prata na América, a  extirpação, escravização e sepultamento em Minas da população aborigene o início da Conquista e do  saque da das Índias orientais a transformação da África em um viveiro para a caça comercial de  peles negras, sinalizaram a Rosia Aurora da era da produção capitalista. Veja você tá me entendendo. Não há capitalismo sem essa fase primeira que visa distinguir a humanidade né nas palavras do Ailton  Krenak.
Num clube vip de seres humanos e e no lixão que pode ser sacrificado, subjulgar, etc. Quando o  seu Carlinho tá olhando para os Estados Unidos olha o que ele diz sobre raça. Nos Estados Unidos  todo o movimento operário independente ficou paralisado durante o tempo em que a escravidão  desfigurou uma parte da república, o trabalho de pele branca não pode se emancipar onde o trabalho  de pele negra é marcado a ferro.
Por que que o Marx tá falando que é impossível emancipar o  trabalhador Branco se o trabalhador negro não for emancipado? Porque essas duas identidades elas  fazem parte de uma mesma classe, de uma classe trabalhadora. Enquanto essa classe trabalhadora  não se emancipa não tem como mudar a estrutura de exploração social ainda o velho Marx  e ainda sobre raça, agora na Inglaterra.
Cada centro comercial e industrial da Inglaterra  possui uma classe trabalhadora dividida em dois campos hostis, proletários ingleses e proletários  irlandeses. O trabalhador inglês comum odeia o irlandês como um competidor que rebaixa o  seu padrão de vida, em relação ao trabalhador irlandês ele sente a si mesmo como um membro  da nação dominante. E então transforma a si mesmo em uma ferramenta da aristocracia  e dos capitalistas, do seu país contra a Irlanda.
Esse antagonismo é mantido Vivo  artificialmente e intensificado pela imprensa, pelo púpito, pelos tabloides. Em resumo  por todos os meios que estão à disposição das classes dominantes. Esse antagonismo é o segredo  da impotência da classe trabalhadora inglesa apesar da sua organização, é o segredo pelo qual  o capitalista mantém o seu poder e aquela classe, a capitalista, está totalmente ciente disso.
É a  doutrina que o mercado e a Democracia vão juntos são inseparáveis, isto é uma praga. Sabe quando a  gente fala, dividir para governar, é essa ideia que o Marx está colocando no século XIX sobre  ao produzir uma noção de raça o Irlandês, Ruivo, brutalizado, inferiorizado, já falamos aqui várias  vezes no canal sobre isso. E o que acontece é que o seio da classe trabalhadora se cinde e ao invés  de unir dois movimentos você tem eles lutando em separado, inclusive lutando contra si.
O mesmo vai  acontecer no Brasil quando uma classe trabalhadora branca pauperizada olha pra classe negra trabalhadora pauperizada como seu outro, não como seu semelhante, não como tendo a mesma luta como condição de  existência mas como um subalterno ainda assim. Lá no início do vídeo quando eu cito para você  o Douglas e digo dos limites de um movimento emancipatório que é liberal e não radical que não  vai na raiz é o problema com o movimento LGBT que não tá amparado em pensar classe, um movimento  feminista que é liberal. O que acontece é que esses movimentos eles delegam as opressões né a gente já  falou muito sobre isso também aqui no canal que é pensar o seguinte, um feminismo Branco europeu que  lutava pela sua emancipação de outro do homem de subalterno ao homem, esse movimento feminista  quando alcançar pequenos lugares no mercado de trabalho quando começar a ter salário, quando  começar a ser emancipado do trabalho doméstico como violência, vai entregar esse trabalho  doméstico a outras mulheres.
Olha como minha como minha babá é Fitness, Ó lá ela ela vai fazendo  um cardiozinho enquanto ela leva a Manuela, gente. Não há portanto emancipação de mulheres brancas  quando mulheres negras continuam cuidando de criança, lavando o banheiro, fazendo comida lavando  roupa e passando roupa. A condição mulher não foi extinta, ela foi delegada a um outro grupo, quando  eu digo condição eu tô fazendo um paralelo com a ideia de negro você entende que não é a cor da  pele que produz o racismo mas é um sistema de opressão que produz esse sujeito com cor de pele.
A  mesma coisa acontece com sexo, é gênero que produz o sexo é um sistema de dominação e opressão que  vai produzir o lugar de trabalho a ser sentenciado a alguns corpos indesejáveis. Quando mulheres  brancas se emancipam dessa categoria de mulher como trabalho sexual, trabalho doméstico, trabalho  de cuidado elas relegam esse trabalho a uma nova categoria de mulheres racicalizadas. Para isso você  pode ler o capítulo um de Mulheres Raça e Classe da Brava Angela Davis, quando ela explica é que  essa ideia de mulher não existia pra mulher negra escravizada na hora de plantar algodão, na hora  de colher algodão, na hora de trabalhar de sol a sol, na hora de carregar pegar saca em caminhão  ela vai fazer o mesmo trabalho do homem.
A ideia mulher só vai aparecer na hora da violência  sex*al, ainda sobre o limite né do movimento liberal de emancipação a gente pode pensar, o Dr  Martin Luther King quando a gente pensa ali a metade do século e essa eclosão de movimentos  sociais que estão acontecendo pelo mundo nos Estados Unidos a luta de pessoas racializadas  tá sendo encabeçada, pode-se dizer por duas figuras que seriam o Malcolm X e o Martin Luther  King. O Martin Luther King que começa né como moderado, é com um discurso religioso de  emancipação, é como um cristão Democrata. Ele termina sua vida socialista, declaradamente  socialista.
E ele vai ser ass*ssinado quando ele vira socialista. Em 1968 o ano que o Martin  Luther King é ass*ssinado, ele havia ido para Memphis apoiar e organizar uma greve de trabalhadores do saneamento.  Tá entendendo como a classe dominante não tolera que a gente se indague sobre a raiz estrutural  das opressões, enquanto os movimentos de oprimidos clamam por mais travestis no topo, mais negras  no topo, mais pessoas com deficiência no topo.
Yes, yes queen! Ele não representa nenhuma ameaça, é só quando a  gente começa a perguntar por que tem tão pouco topo e tanta base que a gente começa a oferecer  alguma ameaça ao sistema. E o sistema começa a nos ameaçar ainda mais.
O capitalismo é uma espécie  de coda nodal que reagrupa e reorganiza todas as opressões que vieram antes dele, opressões raciais  em um sistema racista, opressões patriarcais em um sistema machista, opressões contra a divergência  sexual em um sistema heterossexista e cisgênero Lutar contra esses inimigos sem perceber que a  sua origem é a mesma e que o capital as amarra e as reconfigura é não conseguir enfrentar o mal  pela raiz. Quero terminar com as palavras da autora, a luta de classes muda as ideias e os preconceitos  das pessoas e forja novos laços de solidariedade na classe, lutas da classe trabalhadora tendem  desempenhado um papel central na conquista de vários corpos oprimidos na luta contra um opressor  em comum. Que a gente seja capaz de identificar de onde vem nossas opressões e fazer alianças nas  nossas diferenças para derrubar aquilo que nos torna diferentes entre nós mesmos.
Que a gente  possa ser humanamente diferente mas socialmente igual. É isso ficamos por aqui e a gente se vê mês  que vem pro último vídeo da série. Tá achando ruim?
Se organiza politicamente porque aí nunca acaba,  a gente luta até a vitória.
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