O hambúrguer MAIS CARO do MUNDO

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Ciência Todo Dia
Se você achou estranho um hambúrguer custar 8.000 reais, você também acha estranho um lápis custar m...
Video Transcript:
Esse hambúrguer custou R$ 25,90. E ele vem. .
. com batata e bebida! Eu tenho que gravar um vídeo agora mesmo.
Mas quanto você acha que esse  mesmo hambúrguer custaria se você tivesse que fazer  todos os ingredientes do zero? Eu vou dar resposta já já, mas eu já adianto que seria o  hambúrguer mais caro da história. Mas o motivo de ele ser tão  caro é mais interessante.
E a resposta. . .
é porque ninguém sabe fazer  um lápis do zero. Isso! Um lápis!
Lápis são coisas tão comuns à  nossa sociedade, mas que também escondem uma profundidade de conhecimento. Mas em  que mundo que um lápis e um hambúrguer podem ter algo em comum? No mundo do Milton Friedman,  vencedor do Nobel de Economia em 1976.
Ele foi um dos responsáveis por popularizar  a noção de que nenhuma pessoa viva no mundo inteiro sabe como fazer um lápis do zero. Eu vou falar isso em voz alta mais uma  vez porque é uma afirmação bem forte. Nenhuma pessoa viva no mundo inteiro  hoje sabe como fazer um lápis do zero.
E isso pega muita gente de surpresa. Porque se nós fizermos uma  simplificação bem grosseira, um lápis é um bastão fino de grafite  envolvido por um canudo de madeira. E isso parece simples, mas só parece.
Porque fabricar um lápis é uma  operação extremamente complicada. Por exemplo, a madeira que geralmente  é usada para fabricar um lápis vem de um pinheiro da espécie  Pinus caribe-hondurensis. Digamos que você até possa  cultivar alguns desses pinheiros.
Várias empresas do ramo fazem isso. Ainda assim, você terá que esperar  20 anos a partir do plantio para conseguir derrubar as  árvores para processar a madeira. Ou seja, se você precisar do lápis com urgência, alguém vai ter que fornecer a matéria-prima.
E esse alguém geralmente é uma empresa, que vai precisar de vários equipamentos, incluindo motosserras. Se a motosserra for movida a gasolina, você sabe extrair e refinar petróleo? E se ela for elétrica, você entende como fazer uma bateria?
E ainda falta um ingrediente, a grafite. E sim, eu também fiquei surpreso  quando descobri que é a grafite. Ou grafite se refere ao estilo  de desenho no papel ou parede.
Enfim, uma pequena curiosidade linguística. A grafite é extraída de alguma  mina em alguma outra parte do mundo com escavadeiras compradas  de alguma outra empresa. E depois ela é moída em uma máquina  produzida por outra empresa.
E enfim misturada a argila. E nós ainda vamos precisar  de tinta pra pintar o lápis e cola pra fixar a madeira em torno da grafite. Ah, e como errar é humano, nós também vamos precisar  de uma borracha na ponta.
Eu espero que tenha espaço para plantar  a seringueira no quintal da sua casa. Mas a borracha não pode ficar flutuando, então nós vamos usar latão  para prendê-la no lápis. E como serviço a ser lembrado, nós  também precisamos da prensa metálica para estampar a nossa marca na superfície.
E é pensando em todo esse processo  que eu afirmo com segurança que é mesmo inviável fazer tudo por conta própria. A maneira mais eficiente de fazer  esse simples, mais complexo lápis chegar às mãos do cliente de maneira acessível e barata é dividindo essa cadeia de  produção entre vários participantes especializados. O que significa que no  fim das contas cada lápis é o resultado da interação e cooperação de milhares,  se não milhões de pessoas em todo o mundo.
Agora vamos voltar ao hambúrguer. Quanto você acha que esse mesmo  hambúrguer que custou 25 reais e 90 centavos custaria se a gente  precisasse fazer todos os ingredientes do zero. Foi exatamente  isso que o youtuber americano fez e o hambúrguer dele custou por  volta de oito mil reais.
Isso porque ele precisou transformar a  água do oceano em sal, fazer o próprio queijo do zero e obviamente criar os animais  que depois seriam usados para a carne. Ele provavelmente provou o hambúrguer  mais caro já feito na história. Mas espera, se é tão caro assim  fazer todos os ingredientes do zero, como é que um hambúrguer custa menos de 30 reais  na minha cidade?
A resposta é especialização. Você não precisa pagar mil reais em um  lápis ou oito mil reais em um hambúrguer, porque existem pessoas que se especializaram  em apenas uma das muitas partes da cadeia de produção dos objetos e das coisas  que nós convivemos diariamente. Quem que foi?
Eu sou vegetariano. E em geral, especialização reduz custos. Mas ela também cria alguns cenários  que em primeiro olhar parecem absurdos.
Como essa imagem aqui que  viralizou há algum tempo. Isso é um pote de peras que  foram cultivadas na Argentina, embaladas na Tailândia e  consumidas nos Estados Unidos. Isso fica ainda mais bizarro  se nós colocarmos em um mapa e vermos a distância que as peras  andaram até chegar no consumidor final.
Mas, discussões à parte, isso é um  reflexo de uma das características mais interessantes que a civilização humana tem. Cooperação e especialização. E eu digo mais, essas características  provavelmente foram as responsáveis por nos trazer até onde nós estamos hoje.
Para entender o real significado disso, nós  precisamos voltar alguns milhares de anos. Para uma época em que a humanidade vivia uma  constante luta pela própria sobrevivência. Essa era a realidade dos seres humanos  antes da descoberta da agricultura, uma organização social que hoje nós  chamamos de caçadores e coletores.
Como o próprio nome sugere, humanos  vivendo nessa época conseguiam a sua subsistência caçando animais ou  coletando plantas e frutas comestíveis. E mesmo esse tipo de sociedade primitiva  já era altamente dependente da colaboração. Se os membros de uma comunidade humana não  se ajudassem, eles passariam fome no inverno.
Inclusive existem evidências de que a colaboração  foi um fator chave para os seres humanos não serem extintos na última era do gelo. Uma das desvantagens dessas sociedades caçadoras  e coletoras era a disponibilidade de comida. Elas frequentemente precisavam mudar de lugar  para acompanhar as estações e o movimento dos animais.
E por caçar e coletar apenas  o necessário para sobreviver, muitas vezes pensando apenas no dia a dia, essas sociedades não só eram bem vulneráveis a  escassez de comida, como também nunca cresciam em número de indivíduos. Mesmo com muita colaboração, esse foi um  período em que a humanidade esteve praticamente congelada no tempo. As ferramentas eram simples, quase nenhuma  habitação era permanente e muito pouco avanço tecnológico social ocorreu.
Ainda assim, essa foi a organização que prevaleceu  por 90% da história da humanidade até hoje. E só mudou com a chegada da agricultura. Ela foi a responsável por transformar uma  humanidade que consistia principalmente de pequenos grupos espalhados, em uma humanidade  capaz de estabelecer cidades com milhares de pessoas, construir pirâmides,  criar impérios e chegar na lua.
Isso porque, com uma produção consistente de  comida através da agricultura e domesticação de animais, a humanidade conseguiu  pela primeira vez armazenar comida em excesso para sobreviver às épocas de escassez. E como menos pessoas precisavam  estar focadas na produção de comida, a especialização de tarefas começou. Agora a humanidade possuía construtores,  artesãos, soldados e até inventores.
As primeiras cidades surgiram e floresceram.  Grandes projetos começaram a ser construídos. Estradas foram criadas e funcionavam  como a espinha dorsal de uma civilização que negociava as produções excedentes  de suas cidades através do comércio.
Logo, a especialização não era mais restrita  apenas às pessoas de uma mesma cidade. Cidades inteiras puderam se dedicar às suas  produções e negociar umas com as outras. E depois de mais alguns milhares de anos, nós chegamos à humanidade atual, altamente  dependente de cooperação e especialização.
Inclusive, isso vai ser bem rápido, nós dependemos tanto de especialização que existem  incontáveis oportunidades esperando por você. A Alura é pra você que quer subir um nível e  melhorar suas habilidades como profissional de tecnologia, criar um networking ou um portfólio  que facilite a inserção no mercado de trabalho, ter acesso a uma vasta gama de conhecimento e  ainda por cima, poder estudar de forma flexível e de acordo com seus horários. E tudo isso sai muito barato.
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Isso e quanto tempo falta pra ele sair do  computador pra eu poder jogar Age of Empires 2. E nós até podemos entender, em um  certo nível, como cada peça funciona, mas o que o exemplo do lápis e do  hambúrguer deixam assustadoramente claro é como nós chegamos em um ponto em  que construímos coisas tão específicas que NINGUÉM vivo no planeta consegue  fazer a maioria das coisas sozinho. E isso não só é verdade para objetos físicos e de tecnologia como para a própria ciência.
Esse exemplo nos mostra que  qualquer tipo de avanço científico é impossível se alguém que se dedica a  uma determinada área do conhecimento desprezar descobertas e teorias anteriores ou tiver que validá-las do zero para só então  avançar além do que nós já sabíamos antes. Einstein não teria desenvolvido  a teoria moderna da gravidade sem Newton ter desenvolvido a  teoria clássica da gravidade. E Newton não teria feito o que fez sem os milênios de conhecimento acumulado da  humanidade que começou com uma sociedade caçadora e coletora.
O  que eu estou tentando dizer é que o progresso só é possível se nós  formarmos os trabalhos anteriores ao nosso como referencial, seja para  validá-los ou para refutá-los ou quem sabe até modificá-los. Se todos os cientistas  tivessem a necessidade de refazer todo o percurso de descobertas da ciência até  o presente, eles certamente não teriam sequer tempo de vida para validar todas  as descobertas promovidas através de milênios, muito menos para progredir  em qualquer campo de estudo. E é por isso que aquela  ideia de gênios é tão errada.
Para algumas pessoas existe essa ideia de  gênios, de que são pessoas que nascem de tempos em tempos para enxergar as coisas  de um jeito que ninguém viu antes. E isso não só é um erro como é  até nocivo para a própria ciência. E um dos melhores jeitos de compreender  isso é olhar para o trabalho de Einstein, provavelmente o físico mais famoso de todos os  tempos e que muitas pessoas consideram um gênio.
Traçando uma linha do tempo, Einstein estabelece  a teoria da relatividade rescrita em 1905. Mas tanto Einstein quanto  diversos outros autores que abordaram o assunto partiram de um ponto em comum, que foi a teoria de Maxwell, que formulou as  equações fundamentais do eletromagnetismo na década de 1870, provando que a luz era  apenas uma parte do espectro de ondas eletromagnéticas. Hertz comprovou a  teoria 24 anos depois, ao descobrir as ondas de rádio.
E também foi Hertz  quem sugeriu o estudo que indicou que a velocidade da luz era uma constante  absoluta da natureza, o famoso experimento de Michelson-Morley, que na verdade são  meia dúzia de experimentos no decorrer de uma década. E foi a teoria  de Maxwell e os resultados de Michelson-Morley que Einstein usou de base para a relatividade restrita. E inclusive as contas mais cruciais da sua  teoria já tinham sido feitas antes por outro físico, Hendrick Lorentz.
Einstein não foi o primeiro a fazer as contas  da relatividade restrita, mas ele foi o primeiro a entender o que essas contas realmente  significavam e criar uma teoria coerente com elas. E só depois nós chegamos à teoria da relatividade  geral, que concebeu a gravidade como a conhecemos. Ela foi o resultado de um trabalho  extremamente colaborativo.
Einstein passou uma década trocando cartas  com vários outros físicos para refinar suas ideias. Se Einstein tivesse se debruçado sobre o  assunto na década de 1870, ele provavelmente não optaria pelas conclusões do Maxwell,  porque elas eram muito recentes e estranhas para a época. Se Einstein tivesse se debruçado sobre  qualquer outro estudo disponível até então, e existiam vários, ele possivelmente teria seguido uma direção  completamente diferente da que ele seguiu e jamais desenvolveria a  relatividade que nós conhecemos.
Afinal, a partir da teoria da relatividade  foram concebidas outras teorias importantes. Por exemplo, a teoria do Big  Bang e a teoria das cordas. Einstein também fez contribuições  importantes para a física quântica, outra teoria física que ele não teria conseguido estudar da mesma forma se ele  tivesse nascido em outra época.
E junto com as contribuições  de inúmeros outros cientistas, as ideias de Einstein levaram ao  entendimento de semicondutores, que são a base dos computadores modernos. Sim, computadores, que eu me perguntava  como funcionavam quando eu era criança, são feitos em parte pelas ideias de Albert  Einstein e inúmeros outros cientistas. Isso quer dizer que o dispositivo por onde  você assistiu esse vídeo agora só existe porque Einstein, Maxwell, Marie Curie, Newton, Galileu,  Copérnico, Aristóteles e os seus ancestrais caçadores e coletores somaram esforços, mesmo  que indiretamente, durante milhares de anos.
E curiosamente, isso também  se aplica à teoria do lápis. é na verdade uma parábola criada por Leonard Reed, o autor do ensaio intitulado Eu Lápis, que foi publicado 22 anos antes, em 1958. Cada novo conhecimento ou avanço  que nós realizamos como humanidade é construído direta ou indiretamente  a partir do que já existia.
E é por isso que eu preciso repetir, colaboração é o único caminho certo  para avançar o conhecimento humano, ou fazer um lápis, ou até mesmo um hambúrguer delicioso que  custa bem menos do que R$ 8. 000. Muito obrigado e até a próxima.
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