Nesse momento, onde quer que esteja, você está girando junto com o planeta a uma velocidade de  centenas de metros por segundo.  Mas e se o planeta começasse a frear, até que o mundo parasse totalmente de girar?  A rotação da Terra em seu próprio eixo é o motivo para termos dia e noite nas 24 horas que leva  para dar uma volta completa. 
Só que ela não rotaciona de forma igual em todos os lugares.  Na linha do Equador, a velocidade  é de mais de 460 m/s.  Quanto mais próximo dos pólos,  mais devagar o planeta fica. 
Seja no pólo norte ou pólo sul,  a velocidade de rotação é praticamente zero.  Milhões de anos atrás, a Terra levava apenas 22 horas para girar em seu eixo.  E a cada século, nossos dias ficaram  2 milissegundos mais longos. 
Se essa desaceleração se intensificasse e o planeta parasse completamente em um ano, você precisaria se acostumar com uma dose diária de catástrofe.  Os primeiros sinais dessa grande desaceleração seriam mudanças radicais no clima.  Isso acontece porque a rotação da Terra desperta a força inercial de Coriolis. 
O ar do hemisfério norte  se desloca para a direita, enquanto no hemisfério sul  se desloca para a esquerda.  Isso também significa que  o ar quente se afasta dos pólos.  Mas à medida que o planeta desacelerasse, os ventos quentes do equador começariam a se deslocar para a parte de cima e de baixo do globo. 
Ao mesmo tempo, o ar frio dos pólos voltaria para a linha do equador.  Essas mudanças nos padrões dos ventos traria consequências desastrosas.  Elas gerariam chuvas torrenciais e elevariam a temperatura ao redor do mundo. 
Sua casa no campo poderia ficar cercada por um deserto sem fim.  E terras cultiváveis surgiriam onde antes havia tundra congelada.  Essas alterações desestabilizariam ecossistemas ao redor do mundo. 
Plantas e animais morreriam por não conseguirem se adaptar.  Por outro lado, os furacões  teriam seus dias contados.  Eles são formados a partir da força inercial de Coriolis e, sem ela, eles simplesmente deixariam de existir. 
As mudanças no mundo  não parariam por aí.  Nosso planeta diminuiria a rotação, mas isso não quer dizer que o chão continuaria no mesmo lugar.  A Terra é como uma cebola,  feita de camadas. 
A crosta, o manto e o núcleo.  E conforme essa cebola que chamamos de casa diminuísse sua velocidade, essas camadas talvez não acompanhassem o mesmo ritmo.  Isso causaria uma  fricção intensa entre elas, o que é sempre sinal de tremores e lava. 
Essa desaceleração de um ano causaria inúmeros terremotos e erupções vulcânicas.  Suécia, Arábia Saudita e outras regiões que não estão acostumadas a esses desastres naturais saberiam  o que é passar por isso.  Mas se sobrevivesse a esse período  cheio de tremores e calor, você acabaria vivendo em um planeta onde abalos sísmicos  seriam coisa do passado. 
E o oceano seria onde você veria as mudanças mais impressionantes.  Veja bem, aqueles globos terrestres da sua escola te enganaram.  A Terra não é uma esfera perfeita,  ela é dilatada no equador. 
Isso é causado pela força centrífuga, resultado de, adivinhe, a rotação do planeta.  A Terra é espremida e o diâmetro equatorial fica 43 km maior do que o raio polar.  Conforme a Terra desacelerasse, esse inchaço no meio dela diminuiria. 
A água dos oceanos se afastaria do equador e escorreria para os pólos.  Se você vivesse perto da praia, perceberia a faixa litorânea recuando, um sinal claro de que algo está errado.  Espero que você não tenha uma casa de praia no hemisfério norte. 
Canadá, Estados Unidos e Groenlândia seriam engolidos pelo grande mar azul, assim como regiões no norte  da Sibéria, Ásia e Europa.  Foi mal.  As coisas seriam bem  mais tranquilas no sul. 
Novos pedaços de terra surgiriam conforme os oceanos se deslocassem para os pólos.  A África se uniria a Madagascar.  Austrália e Nova Guiné e, por fim, Indonésia, também fariam essa transição. 
Quando o ano terminasse e a Terra parasse de vez, a região equatorial estaria completamente seca.  Um megacontinente surgiria, com um pedaço de terra tão gigante que daria a volta ao mundo,  separando o oceano em dois.  Vamos chamá-lo de o Anel. 
Não, não esse Anel.  Esse literalmente abalaria mais as estruturas.  Com essa extensão territorial descomunal, você conseguiria caminhar por toda a faixa do equador a pé. 
Agências de turismo lucrariam com o megacontinente, oferecendo pacotes de caminhadas e trilhas pela circunferência do nosso planeta.  Esqueça o Everest.  Se conseguisse essa proeza, você poderia se vangloriar de ter conquistado O Anel. 
É claro que você não seria a única pessoa disposta a percorrer essa jornada.  Quanto mais lentamente a Terra girasse, mais longos seriam o dia e a noite.  E assim que a rotação  parasse completamente, um dia na Terra duraria seis meses. 
Durante esses ciclos de meio ano, o planeta passaria por flutuações extremas de temperatura, de congelantes -55ºC  a escaldantes 55ºC.  Sem mencionar o colapso  total de nosso ciclo circadiano.  Seis meses de escuridão nos levariam  a um pico de deformidades ósseas e problemas dentários, graças à falta global de vitamina D natural. 
Haveria também um aumento de transtornos afetivos sazonais, com sintomas como perda de vigor, excesso de sonolência e sentimentos de desesperança.  Viajar pelo Anel significaria tanto ficar dentro de um ponto climático agradável quanto partir em uma aventura.  E a gravidade não te ajudaria. 
Com a Terra desacelerando, você perceberia uma dificuldade em se movimentar por aí.  Você não pareceria mais pesado, mas a balança do seu banheiro discordaria de você.  É que a rotação da Terra  gera uma força centrífuga, anulando boa parte da gravidade. 
A falta de rotação significa que você vivenciaria a força gravitacional com toda a sua potência.  Por isso a sensação de  ter ganhado uns quilos a mais.  Uma hora ou outra as coisas piorariam. 
O campo magnético do planeta, gerado parcialmente pela rotação, desapareceria e nos deixaria expostos aos danos da radiação solar.  A civilização viveria lidando  com falta de serviços vitais e danos irreparáveis na rede elétrica, conexão de internet e sistemas de navegação.  Mas se a Terra parasse  de girar da noite para o dia, um celular defeituoso seria  o menor dos seus problemas. 
Você e todos os pedacinhos do planeta estariam em apuros.  Mas isso é uma história  para outro "E se? ".