MEU MARIDO PEDIU O DIVÓRCIO PARA VIVER UMA AVENTURA COM A NOSSA VIZINHA DE 20 ANOS. ANTES DE...

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Caminho das Histórias
Meu marido pediu o divórcio para viver com a vizinha de 20 anos. Antes de partir, ele disse: "Isso s...
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Eu sempre achei que conhecia Rogério. Vinte e três anos de casamento deveriam ser suficientes para entender alguém, não é? Mas, naquela quarta-feira, quando ele entrou em casa com um envelope pardo nas mãos e um olhar que eu nunca tinha visto antes, percebi que talvez eu não o conhecesse tão bem quanto pensava.
"Beatriz, precisamos conversar", ele disse, sua voz mais fria do que o habitual. Larguei o livro que estava lendo e me ajeitei no sofá. — Claro, o que foi?
Ele se sentou na poltrona em frente a mim, colocando o envelope sobre a mesa de centro. — Quero o divórcio. As palavras pairaram no ar por alguns segundos antes que eu pudesse processá-las completamente.
— Como assim, divórcio? Do que você está falando, Rogério? — Exatamente o que você ouviu.
Não quero mais este casamento, acabou para mim. Senti meu coração acelerar, uma mistura de choque e incredulidade tomando conta de mim. — Mas por quê?
O que aconteceu? Rogério suspirou, passando a mão pelos cabelos grisalhos. — Conheci outra pessoa.
Alguém que me faz sentir vivo de novo. A realidade começou a se infiltrar lentamente. — Quem é ela?
— Silvia. Ele respondeu sem hesitar. — A vizinha.
Meu estômago afundou. Silvia, a jovem de 20 anos que se mudara para a casa ao lado há alguns meses. Eu a via ocasionalmente, sempre sorridente e cheia de energia.
Nunca imaginei que ela pudesse ser uma ameaça ao meu casamento. — Você está me trocando por uma garota que poderia ser sua filha? — perguntei, a voz trêmula.
Rogério se levantou, caminhando até a janela. — Não é só isso, Beatriz. Silvia é uma mulher de verdade, não como você, uma velha enrugada que já não serve para nada.
Suas palavras me atingiram como um tapa. Quarenta e cinco anos não me faziam velha, muito menos inútil, mas ali estava meu marido, o homem com quem eu compartilhara metade da minha vida, me reduzindo a nada mais que uma casca vazia. — Como você pode dizer isso?
— sussurrei, as lágrimas ameaçando cair. Ele se virou para mim, seus olhos frios e distantes. — É, olhe para você, Beatriz.
Quando foi a última vez que se arrumou, que fez algo empolgante? Silvia me faz sentir jovem de novo, me dá um propósito. Cada palavra era como uma faca se enterrando em meu peito.
Anos de dedicação, de construir uma vida juntos, reduzidos a nada em questão de minutos. — E os nossos filhos? — perguntei, tentando encontrar algum fio de razão naquela loucura.
Rogério deu de ombros. — Eles são adolescentes agora, têm suas próprias vidas, não precisam mais de nós. Olhei para o envelope na mesa.
— São os papéis? — Sim — assentiu. — Já conversei com um advogado.
É melhor resolvermos isso o mais rápido possível. Naquele momento, algo se quebrou dentro de mim. Não era apenas o meu coração partido pela traição, mas uma mudança fundamental em quem eu era.
A Beatriz que existia até aquele instante, a esposa dedicada e compreensiva, morreu ali mesmo, dando lugar a uma nova versão de mim, que eu ainda não conhecia. — Tudo bem — disse, minha voz surpreendentemente firme. — Eu assino.
Rogério pareceu surpreso com minha rápida concordância. — Você não vai lutar pelo nosso casamento? Levantei-me, pegando o envelope.
— Você já tomou a decisão, não é? Vou ler os papéis e assinar. Caminhei em direção ao nosso quarto.
Não, agora era apenas meu quarto. Antes de sair da sala, me virei para ele uma última vez. — Só uma coisa, Rogério.
Não pense que isso acabou. Você pode achar que sou velha e inútil agora, mas vou te mostrar do que sou capaz. Fechei a porta atrás de mim, deixando Rogério sozinho com seus pensamentos.
Sentada na beirada da cama, abri e comecei a ler os documentos do divórcio. Cada palavra me lembrava da humilhação que acabara de sofrer, mas também acendia uma chama de determinação dentro de mim. Eu poderia ter gritado, chorado ou implorado para que Rogério reconsiderasse, mas algo me dizia que aquele não era o caminho.
Não! Eu faria algo diferente, algo que nem Rogério, nem Silvia, nem ninguém naquela cidade esperaria de mim. Nos dias que se seguiram, mantive uma calma que surpreendeu a todos.
Assinei os papéis do divórcio sem fazer alarde, dividi os bens de forma justa e até ajudei Rogério a empacotar suas coisas. Meus filhos, Lucas e Mariana, ficaram chocados com a notícia, mas eu os tranquilizei, dizendo que estava tudo bem. — Mãe, tem certeza de que não quer que a gente fique com você?
— Mariana perguntou durante uma ligação. — Não precisa, querida. Estou bem, de verdade — respondi, surpreendendo a mim mesma com a sinceridade em minha voz.
À medida que a notícia se espalhava pela vizinhança, percebi os olhares de pena, os sussurros atrás das cortinas. Todos esperavam ver a pobre Beatriz desmoronar, talvez se trancar em casa e definhar de tristeza, mas eu não daria esse gosto a ninguém, especialmente não a Rogério. Comecei a planejar minha vingança.
Não seria algo rápido ou violento; seria um processo lento e calculado que faria Rogério perceber, dia após dia, o erro que havia cometido. O primeiro passo foi mudar minha aparência. Não de forma drástica, mas o suficiente para que as pessoas notassem.
Cortei meus cabelos, adotei um estilo mais moderno de se vestir e comecei a frequentar a academia local, não para impressionar ninguém, mas para me sentir bem comigo mesma. Enquanto isso, observava de longe o desenrolar do relacionamento entre Rogério e Silvia. Eles pareciam felizes, exibindo sua paixão para todos verem, mas eu sabia que aquilo não duraria.
Rogério era um homem de hábitos e Silvia, jovem demais para entender as complexidades de um relacionamento maduro. Numa tarde de sábado, enquanto regava as plantas do jardim, vi Silvia saindo apressada de casa, os olhos vermelhos. Rogério a seguiu, tentando acalmá-la.
— Você disse que ia me levar para jantar! — ela gritou, não se importando com quem pudesse ouvir. — Eu sei, mas surgiu um compromisso de trabalho.
Podemos ir amanhã — Rogério tentou argumentar. — Sempre tem algo mais importante, não é? — Silvia retrucou.
Antes de entrar em seu carro e partir, fingi não ter visto nada, mas internamente sorri. As rachaduras já começavam a aparecer no relacionamento deles e eu nem precisara fazer nada. Nas semanas seguintes, intensifiquei meu plano, comecei a sair mais, a me envolver em atividades da comunidade, fiz novas amizades, ri alto em público.
Queria que Rogério me visse vivendo bem sem ele, mas não de forma ostensiva. Era um jogo sutil de aparências e percepções. Uma noite, enquanto voltava de uma aula de dança, algo que sempre quis fazer mas Rogério nunca apoiou, encontrei-o parado na calçada em frente à minha casa.
— Oi, Beatriz — ele disse, parecendo desconfortável. — Você está diferente. Sorri, não deixando transparecer o turbilhão de emoções que sua presença ainda provocava em mim.
— Obrigada. A vida continua, não é mesmo? Ele assentiu, desviando o olhar.
— Sim, claro. Eu só queria ver como você estava. — Estou ótimo — respondi, pegando as chaves na bolsa.
— E você? Como vão as coisas com Silvia? Rogério hesitou por um momento.
— Bem. . .
Bem. . .
Tudo ótimo, mas eu podia ver em seus olhos que as coisas não estavam tão bem assim. A empolgação inicial estava dando lugar à realidade de um relacionamento com uma mulher muito mais jovem. — Que bom — disse, abrindo a porta de casa.
— Boa noite, Rogério. Fechei a porta atrás de mim, deixando-o ali parado na calçada. Através da janela, vi quando ele finalmente se virou para ir embora, os ombros caídos, a postura bem diferente daquela de um homem vivendo um grande amor.
Naquela noite, deitada em minha cama, refleti sobre o caminho que estava trilhando. Parte de mim ainda amava Rogério, mas outra parte, uma parte que crescia a cada dia, queria vê-lo sofrer. Como eu havia, não por vingança mesquinha, mas para que ele entendesse o valor do que havia jogado fora.
Os meses passaram e minha transformação continuou, não apenas externa, mas interna também. Redescobri paixões antigas, explorei novos interesses, voltei a pintar, algo que havia abandonado há anos. Minha casa, antes um santuário de lembranças do casamento, tornou-se um reflexo da minha nova identidade.
Enquanto isso, os rumores sobre problemas no paraíso de Rogério e Silvia se intensificavam. Os vizinhos me viam com mais frequência, suas vozes ecoando pelos jardins. Quando Silvia apareceu, nervosa, Beatriz, posso falar com você?
— ela perguntou, sua voz tremendo ligeiramente. A senti curiosa sobre o que ela poderia querer. — Claro, Silvia.
O que houve? Ela hesitou, brincando com a barra da blusa. — É sobre Rogério.
Eu acho que cometi um erro. Mantive minha expressão neutra, esperando que ela continuasse. — Ele não é quem eu pensava que fosse.
Está sempre reclamando, dizendo que sou imatura. Acho que. .
. acho que ele sente sua falta. Por um momento, senti uma pontada de satisfação, mas logo me lembrei de que Silvia era apenas uma jovem que havia sido seduzida por um homem mais velho.
Ela também era uma vítima, de certa forma. — Silvia — disse suavemente —, relacionamentos são complicados. Rogério tem seus próprios demônios para enfrentar.
Não se culpe por isso. Ela me olhou surpresa com minha reação. — Você não me odeia?
Balancei a cabeça. — Não. A vida é curta demais para odiar alguém.
Além disso, você me fez um favor, mesmo sem saber. Silvia franziu a testa, confusa. — Como assim?
— Você me libertou — respondi simplesmente. — Agora, se me dá licença, tenho algumas coisas para fazer. Voltei para dentro de casa, deixando Silvia ali, refletindo sobre nossa conversa.
Sabia que era apenas questão de tempo até que seu relacionamento com Rogério chegasse ao fim e, quando isso acontecesse, eu estaria pronta, não para recebê-lo de volta, mas para mostrar a ele exatamente o que havia perdido. A vingança que eu planejara não era sobre humilhação ou retaliação, mas sobre crescimento e autovalorização. Rogério havia me chamado de velha e inútil, mas eu provaria o contrário, não para ele, mas para mim mesma.
Porque, no fim das contas, a melhor vingança não é fazer o outro sofrer, mas viver bem e feliz, apesar da dor que nos causaram. Enquanto a noite caía sobre nossa pequena cidade do interior, eu me sentia mais forte e determinada do que nunca. O jogo estava apenas começando e eu tinha todas as cartas na manga.
No dia seguinte, as ruas ainda estavam praticamente desertas, com apenas alguns poucos madrugadores iniciando suas rotinas diárias. O ar fresco da manhã trazia consigo o aroma de café recém passado vindo das casas vizinhas, misturado ao perfume das flores dos jardins bem cuidados. Enquanto caminhava, observava as casas ao meu redor, todas tão semelhantes, com suas fachadas bem pintadas e jardins impecáveis.
Era como se nossa cidade fosse uma bolha isolada do resto do mundo, um lugar onde todos se conheciam, onde os segredos eram guardados por trás de sorrisos educados e acenos cordiais. Passei pela casa de Rogério e Silvia, agora o epicentro das fofocas locais. As cortinas ainda estavam fechadas, mas eu podia imaginar a cena lá dentro: Rogério, provavelmente resmungando sobre como Silvia deixava a casa bagunçada; Silvia, por sua vez, irritada com a insistência dele em manter tudo em ordem obsessiva.
Continuei meu caminho, cumprimentando os vizinhos que começavam a sair para trabalhar. Seus olhares ainda carregavam uma mistura de pena e curiosidade, mas eu os ignorava com um sorriso sereno. Pouco sabiam eles que, por trás daquela fachada de tranquilidade, eu estava tramando minha vingança silenciosa.
Ao retornar para casa, encontrei uma carta na caixa do correio. Era de Mariana, minha filha. Abri enquanto preparava meu café da manhã.
— Querida mãe, espero que esteja bem. Lucas e eu estamos preocupados com você. Sabemos que a separação foi difícil, mas queremos que saiba que estamos aqui para o que precisar.
Que tal nos visitarmos em BR? Seria bom ter você por perto. Com amor, Mariana.
Suspirei, dobrando cuidadosamente meus filhos. Eles eram preocupados com meu bem-estar, mas não precisavam se inquietar. Estou lidando tudo, minha maneira.
Naquela tarde, decidi fazer uma limpeza em meu guarda-roupa. Enquanto separava as roupas que não usava mais, encontrei uma caixa empoeirada no fundo do armário. Dentro dela, fotos antigas de Rogério e eu, lembranças de tempos mais felizes.
Peguei uma foto em particular, tirada em nossa lua de mel; éramos tão jovens, tão cheios de esperança e amor. Olhei para o rosto de Rogério na imagem, seus olhos brilhantes de adoração. Onde estava aquele homem agora?
Um ruído vindo da rua me tirou de meus pensamentos. Olhei pela janela e vi Rogério saindo de casa, aparentemente frustrado. Ele entrou em seu carro e partiu em alta velocidade.
Momentos depois, Silvia saiu, os olhos vermelhos e inchados. Observei enquanto ela caminhava até o jardim, sentando-se em um banco e escondendo o rosto nas mãos. Por um instante, senti uma pontada de empatia.
Ela era jovem, inexperiente. Provavelmente estava descobrindo que a realidade de um relacionamento com um homem mais velho não era tão glamorosa quanto imaginara. Voltei minha atenção para a caixa de fotos, peguei cada uma delas, relembrando os momentos que representavam.
Então, com uma calma que me surpreendeu, comecei a rasgá-las uma a uma, não por raiva ou ressentimento, mas como um ato de libertação; aquelas memórias não me definiam mais. Quando terminei, o que restou foi apenas uma pilha de pedaços de papel. Juntei tudo e joguei no lixo; era hora de criar novas memórias, desta vez centradas em mim mesma.
Na manhã seguinte, acordei com uma ideia: por que não transformar meu antigo ateliê, há tanto tempo abandonado, em um espaço de trabalho novamente? O dia foi dedicado a limpar, organizar, preparando tudo para voltar a pintar. Enquanto trabalhava, ouvi mais uma discussão vinda da casa ao lado.
As vozes de Rogério e Silvia ecoavam pela vizinhança. "Você não entende nada! ", gritava Rogério.
"É muito imatura para compreender as responsabilidades de um adulto! " "E você é um velho rabugento! ", retrucava Silvia.
Achei que seria divertido, mas você só sabe reclamar. A cabeça voltou ao meu trabalho; aquele relacionamento estava fadado ao fracasso desde o início. Era apenas uma questão de tempo até que ambos percebessem isso.
À medida que os dias passavam, mergulhei de cabeça em minha arte, pintava por horas a fio, deixando que as cores expressassem tudo o que eu sentia: raiva, tristeza, esperança, determinação — tudo ia para a tela. Uma tarde, enquanto pintava, ouvi uma batida suave na porta. Era Silvia, parecendo abatida e nervosa.
"Beatriz", ela começou, hesitante, "eu. . .
eu queria me desculpar por tudo. " Coloquei meu pincel de lado e a encarei, esperando que continuasse. "Eu fui tão tola", ela prosseguiu, as lágrimas começando a se formar em seus olhos.
"Achei que Rogério era diferente, especial, mas ele. . .
ele não é nada do que eu pensava. " Senti lentamente: "Às vezes, Silvia, as pessoas não são quem pensamos que são, ou talvez sejam exatamente quem são e nós é que criamos uma imagem idealizada delas. " Ela me olhou, surpresa com minha resposta.
"Você não me odeia, não? " Respondi sinceramente: "Você é jovem, cometeu um erro, acontece. O importante é aprender com isso.
" Silvia enxugou as lágrimas, parecendo um pouco mais leve. "Obrigada, Beatriz. Eu acho que vou terminar com ele, voltar para a casa dos meus pais por um tempo.
" "Faça o que achar melhor para você", aconselhei, "e lembre-se: você tem toda uma vida pela frente; não deixe que este episódio a defina. " Depois que Silvia saiu, voltei para minha pintura, mas agora as cores pareciam mais vibrantes, mais vivas. Percebi que ao oferecer compreensão a Silvia, eu também estava me libertando de mais um peso.
Os dias seguintes trouxeram mais mudanças. Silvia partiu, como havia dito que faria. Rogério, por sua vez, parecia um homem derrotado.
Eu o via ocasionalmente, caminhando cabisbaixo pela rua, evitando olhar para nossa antiga casa. Uma manhã, enquanto regava as plantas do jardim, Rogério se aproximou. Parecia ter envelhecido.
"Beatriz", ele começou, sua voz rouca, "eu. . .
eu cometi um erro. " Continuei regando minhas plantas, sem encará-lo diretamente. "Sim, você cometeu", eu pensei.
"Pensei que seria diferente com Silvia, que me sentiria jovem novamente, mas foi tudo uma ilusão. " Finalmente, me virei para olhá-lo. "E o que você quer que eu faça com essa informação, Rogério?
" Ele pareceu desconcertado com minha resposta direta. "Eu. .
. eu não sei. Acho que queria que você soubesse que me arrependo.
" "Seu arrependimento é problema seu", respondi calmamente. "Eu segui em frente; sugiro que você faça o mesmo. " Rogério ficou ali parado por alguns momentos, como se esperasse que eu dissesse mais alguma coisa.
Quando percebeu que eu não o faria, deu meia-volta e se afastou lentamente. Observei-o partir, sentindo uma estranha mistura de emoções. Não havia alegria em ver Rogério derrotado, mas também não havia mais dor.
Era como se um capítulo de minha vida tivesse finalmente se encerrado. Voltei para dentro de casa, para meu ateliê. Ali, cercada por minhas pinturas, eu me sentia verdadeiramente em paz.
Cada quadro representava uma etapa da minha jornada de autodescoberta e cura. Peguei um novo canvas em branco e comecei a pintar. As cores fluíam livremente, criando formas e padrões que representavam meu novo eu: forte, resiliente, completa por si só.
Enquanto trabalhava, percebi que minha verdadeira vingança não estava em fazer Rogério sofrer ou em vê-lo fracassar; estava em minha própria transformação, em minha capacidade de superar a dor e emergir mais forte. A pequena cidade do interior, que antes parecia sufocante, agora era apenas o pano de fundo para minha história de renascimento. As fofocas e olhares curiosos já não me incomodavam.
Eu havia encontrado meu próprio caminho, minha própria força. À medida que o sol se punha, lançando uma luz dourada através da janela do ateliê, dei os toques finais em minha nova pintura: era um autorretrato, não realista, mas simbólico. Nele, eu me via como realmente era: uma mulher de meia-idade, sim, mas cheia de vida, de cor, de possibilidades.
Um passo atrás para admirar meu trabalho. Ali estava eu, Beatriz, não mais definida por meu casamento ou pela traição de Rogério, mas por minhas próprias escolhas e minha própria força. O telefone tocou, tirando-me de meus pensamentos.
Era Mariana, minha mãe. — Tudo bem? — perguntou ela.
— Recebeu minha carta? — Sim, querida — respondi, com um sorriso genuíno em minha voz. — Recebi sim e sabe de uma coisa?
Acho que vou aceitar seu convite. Que tal eu ir visitá-los no próximo fim de semana? Acordei cedo na sexta-feira, o dia de minha viagem para visitar Mariana e Lucas.
Enquanto arrumava minha mala, ouvi o som familiar do caminhão de mudança chegando à rua. Olhei pela janela e vi Rogério supervisionando os homens que carregavam seus móveis. Voltei à minha tarefa, decidida a não deixar que a partida de Rogério afetasse meus planos.
Terminei de fazer as malas e as coloquei no carro. Antes de sair, dei uma última olhada em meu ateliê, sorrindo para as pinturas que agora decoravam as paredes. No caminho para a rodoviária, passei por Rogério.
Nossos olhares se cruzaram brevemente; ele parecia querer dizer algo, mas eu apenas acenei educadamente e segui meu caminho. Não havia mais nada a ser dito entre nós. A viagem de ônibus foi tranquila, dando-me tempo para refletir sobre os últimos meses.
Cada quilômetro que me afastava de minha cidade parecia me aproximar mais de mim mesma. Mariana me esperava na rodoviária, seu rosto iluminando-se ao me ver. — Mãe!
— ela exclamou, abraçando-me forte. — Que bom que você veio! Retribuí o abraço, sentindo o calor do amor de minha filha.
— É bom estar aqui, querida. No caminho para o apartamento de Mariana, ela me bombardeou com perguntas sobre como eu estava, como as coisas estavam na cidade, se eu precisava de alguma coisa. Respondi a tudo com calma, assegurando-a de que estava bem.
— Você parece diferente, mãe — comentou Mariana enquanto estacionava o carro. — Mas leve — talvez — sorri. — Talvez eu esteja, filha.
Talvez eu esteja. O fim de semana com meus filhos foi revigorante. Lucas se juntou a nós no sábado e passamos o dia conversando, rindo e colocando as histórias em dia.
Conte a ele sobre minhas pinturas, sobre como havia retomado minha paixão pela arte. — Isso é ótimo, mãe! — exclamou Lucas.
— Sempre adorei suas pinturas quando era criança. Mariana sentiu, concordando. — Lembra quando você pintava nossos rostos nas paredes do nosso quarto?
Era mágico! Ri, lembrando-me daqueles tempos. — Quem sabe eu não faça isso de novo?
Pintar meus filhos adultos agora? No domingo à tarde, enquanto tomávamos café na varanda do apartamento de Mariana, Lucas tocou no assunto que eu sabia que eventualmente surgiria. — E o papai?
Você tem falado com ele? Tomei um gole de café antes de responder. — Não muito.
Ele está se mudando, na verdade. Vi o caminhão de mudança quando estava saindo de casa. Mariana e Lucas trocaram olhares preocupados.
— Mãe — começou Mariana, hesitante — você tem certeza de que está lidando bem com tudo isso? Não queremos que você fique sozinha naquela casa, remoendo o passado. Coloquei minha xícara na mesa e olhei para meus filhos.
— Crianças, eu agradeço a preocupação de vocês, mas quero que entendam uma coisa: eu não estou sozinha. Estou comigo mesma, e isso é mais do que suficiente. Eles pareceram surpresos com minha resposta.
— Eu redescobri quem sou — continuei. — Estou pintando de novo, fazendo coisas que me dão prazer. A traição de seu pai foi dolorosa, sim, mas também foi um despertar.
Eu não sou apenas a ex-mulher de Rogério. Sou Beatriz, sou artista, sou mãe, sou mulher e estou bem assim. Lucas sorriu, seus olhos brilhando de orgulho.
— Uau, mãe! Você está incrível! Mariana pegou minha mão, apertando-a gentilmente.
— Desculpe se parecemos superprotetores. É que, bem. .
. Você sempre foi tão dedicada ao papai, ao casamento. Ficamos preocupados.
— Eu sei, querida — respondi, retribuindo o aperto de mão, e agradeço por isso. — Mas podem ficar tranquilos, estou em frente do meu jeito. O restante da tarde foi passado em conversas mais leves, fazendo planos para futuras visitas e discutindo a possibilidade de expormos minhas pinturas em uma galeria local.
Na manhã seguinte, enquanto me preparava para voltar para casa, Mariana me ajudava a arrumar minhas coisas. — Mãe — ela disse, dobrando uma blusa —, sabe o que eu mais admiro em você? Sua força.
Depois de tudo o que aconteceu, você não se deixou abater. Está se reinventando. Sorri, tocada pelas palavras de minha filha.
— Obrigada, querida. Às vezes a vida nos força a mudar. O segredo é abraçar essa mudança.
No caminho de volta para casa, observei a paisagem pela janela do ônibus. As cidades passavam, cada uma com suas próprias histórias, suas próprias Beatrizes. Cheguei em casa no final da tarde.
A rua estava quieta e a ausência do carro de Rogério na garagem ao lado era um lembrete silencioso das mudanças em minha vida. Entrei, deixando minha mala no corredor de entrada. Fui direto para o ateliê, onde o cheiro de tinta e a visão das obras me deram as boas-vindas.
Peguei um pincel, molhei na tinta e comecei a trabalhar em uma nova tela. Enquanto pintava, refleti sobre minha jornada até ali: a dor da traição, a humilhação das palavras de Rogério, o choque da separação. Tudo isso agora parecia distante, como se tivesse acontecido com outra pessoa.
Não que eu tivesse esquecido ou perdoado completamente, mas havia transformado essa experiência em algo produtivo, em arte, em crescimento pessoal. O som da campainha me tirou de meus pensamentos. Limpei as mãos e fui atender.
Para minha surpresa, era Silvia. — Oi, Beatriz — ela disse, parecendo nervosa. — Desculpe incomodar, eu vim buscar algumas coisas que deixei na casa de Rogério, mas ele não está.
Você sabe onde posso encontrá-lo? Olhei para ela por um momento, notando como parecia mais jovem e vulnerável do que nunca. — Rogério se mudou, Silvia.
Achei que você soubesse. Seus olhos se arregalaram em surpresa. — Mudou?
Mas para onde? Dei de ombros. — Não sei, ele não me disse.
Eu não perguntei. Silvia ficou ali parada, parecendo perdida. Senti uma pontada de compaixão por ela.
"Olha," disse suavemente, "por que você não entra um pouco? Podemos tomar um café e conversar, se quiser. " Ela hesitou por um momento, mas então assentiu.
Seguindo para dentro, enquanto preparava o café, Silvia olhava ao redor, seus olhos pousando nas pinturas nas paredes. "Uau, Beatriz! " ela exclamou.
"Essas pinturas são suas? São incríveis! " Sorri, entregando-lhe uma xícara de café.
"Sim, são minhas. Voltei a pintar recentemente. " Sentamos à mesa da cozinha, um silêncio confortável se instalando entre nós.
"Sabe," Silvia começou, após alguns goles de café, "eu queria te pedir desculpa, de verdade. Eu fui tão tola, tão egoísta. " Levantei a mão, interrompendo-a gentilmente.
"Silvia, não precisa se desculpar. O que aconteceu, aconteceu; não guardo rancor de você. " Ela me olhou, seus olhos cheios de lágrimas não derramadas.
"Como você pode ser tão compreensiva? Eu ajudei a destruir seu casamento. " Suspirei, colocando minha xícara na mesa.
"Meu casamento já estava destruído muito antes de você aparecer, Silvia. Eu só não queria admitir. Você e Rogério foram apenas o catalisador para uma mudança que já era necessária em minha vida.
" Silvia ficou em silêncio por um momento, absorvendo minhas palavras. Ainda assim, ela disse: "Por fim, eu sinto muito por tudo. " Aceitei suas desculpas e perguntei: "E como você está agora?
" Ela deu um pequeno sorriso triste. "Voltei para a casa dos meus pais. Estou pensando em voltar a estudar, talvez fazer faculdade.
Acho que preciso descobrir quem eu sou. " "Sabe," respondi, sorrindo de volta, "sei exatamente o que você quer dizer. " Conversamos por mais algum tempo, Silvia me contando sobre seus planos e eu compartilhando um pouco sobre minha redescoberta da pintura.
Quando ela finalmente se levantou para ir embora, parecia mais leve, como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. "Obrigada, Beatriz," ela disse na porta. "Por tudo, você é uma pessoa incrível.
" Depois que Silvia partiu, voltei para meu ateliê e olhei para a tela em que estava trabalhando antes da interrupção. De repente, tive uma ideia. Peguei um novo canvas e comecei a esboçar.
Horas se passaram enquanto eu trabalhava, as cores fluindo do pincel para a tela. Quando finalmente dei um passo atrás para avaliar meu trabalho, sorri. Ali na tela estava uma representação abstrata de três mulheres: eu, Silvia e Mariana.
Três gerações, três histórias diferentes, mas todas conectadas por um fio invisível de compreensão e crescimento. Olhei pela janela e percebi que a noite havia caído. As luzes das casas vizinhas brilhavam suavemente, cada uma contando suas próprias histórias de amor, perda e renovação.
Naquele momento, senti uma profunda sensação de paz. Eu havia superado não apenas a traição de Rogério, mas também meus próprios medos e inseguranças. Havia me reconectado com minha paixão, com meus filhos e até mesmo encontrado um inesperado entendimento com Silvia.
O caminho à frente ainda era longo e eu sabia que haveria mais desafios, mas agora eu estava pronta para enfrentá-los, não como a esposa traída de Rogério, mas como Beatriz: artista, mãe, mulher. Peguei meu celular e tirei uma foto da nova pintura, enviando-a para Mariana e Lucas com uma simples mensagem: "O novo e o antigo, o passado e o futuro, tudo em uma tela. Amo vocês!
" Na manhã seguinte, acordei com uma sensação de propósito renovado. Enquanto preparava meu café, decidi que era hora de dar o próximo passo em minha jornada artística. Peguei o telefone e liguei para um antigo amigo, Carlos, que era dono de uma pequena galeria de arte na cidade vizinha.
"Beatriz! Que surpresa agradável! " exclamou Carlos ao atender.
"Como você está? " "Estou bem, Carlos. Na verdade, estou melhor do que estive em anos," respondi.
"Escute, você ainda tem aquele espaço na sua galeria para artistas locais? " "Claro que sim! Por quê?
" "Não me diga que você voltou a pintar," ri suavemente. "Exatamente isso! Tenho uma coleção de novas obras e gostaria de saber se você estaria interessado em dar uma olhada.
" "Absolutamente! Que tal você vir até aqui amanhã? Podemos conversar sobre uma possível exposição.
" Combinamos os detalhes e, ao desligar, senti uma mistura de excitação e nervosismo. Era um grande passo expor minhas obras publicamente depois de tantos anos. Passei o resto do dia selecionando as pinturas que levaria para mostrar a Carlos.
Cada tela representava uma parte da minha jornada de autodescoberta e cura. Havia paisagens vibrantes, retratos abstratos e composições que misturavam cores e formas de maneiras surpreendentes. No dia seguinte, carreguei cuidadosamente as telas em meu carro e dirigi até a galeria de Carlos.
Ao entrar, fui recebida pelo aroma familiar de tinta e madeira que sempre associei a espaços artísticos. Carlos me abraçou calorosamente. "Beatriz, que bom te ver!
Vamos, mostre-me o que você trouxe. " Comecei a desembalar minhas obras, explicando o significado por trás de cada uma delas. Carlos ouvia atentamente, seus olhos brilhando de entusiasmo.
"Isso é incrível," ele disse quando terminei. "Sua técnica sempre foi boa, mas agora há uma profundidade emocional aqui que é verdadeiramente tocante. " Senti meu rosto corar com o elogio.
"Obrigada, Carlos. Significa muito ouvir isso de você. " Ele sorriu, colocando a mão em meu ombro.
"Não me agradeça ainda. Quero fazer mais do que apenas elogiar, Beatriz. Gostaria de organizar uma exposição com suas obras aqui na galeria.
O que você acha? " Fiquei sem palavras por um momento, a realidade da oferta me atingindo. "Eu.
. . eu adoraria, Carlos, mas tem certeza?
Faz tanto tempo desde que expus algo! " "Absoluta certeza," ele afirmou. "Sua arte merece ser vista.
O que você acha de fazermos a abertura daqui a um mês? " Senti uma onda de empolgação me percorrer. "Um mês parece perfeito!
" Passamos as próximas horas discutindo detalhes da exposição, escolhendo as obras que seriam exibidas e planejando o layout da galeria. Quando saí de lá, era fim de tarde e eu me sentia como se estivesse flutuando no caminho de volta para casa. Para comprar alguns suprimentos, Eno empurrava meu carrinho pelos corredores.
Ouvi uma voz familiar me chamando. — Beatriz, é você? Mesmo virei-me e vi Helena, uma antiga amiga que não encontrava há anos.
Ela parecia surpresa, mas feliz em me ver. — Helena, quanto tempo! — exclamei, abraçando-a.
— Nossa, você está ótima! — ela disse, me observando. — Ouvi sobre.
. . bem, você sabe.
. . mas olhe só para você, está radiante!
Sorri, agradecendo. — As coisas mudaram muito, Helena, mas para melhor, acredite. Conversamos por alguns minutos e acabei contando a ela sobre a exposição que estava por vir.
Helena ficou entusiasmada. — Isso é maravilhoso, Beatriz! Mal posso esperar para ver suas obras.
Sabe, sempre achei um desperdício você ter largado a pintura depois de se casar. Suas palavras me fizeram refletir sobre quanto tempo eu havia passado longe da minha paixão. — Você tem razão, mas agora estou de volta e não pretendo sair tão cedo.
Nos despedimos com a promessa de nos vermos na abertura da exposição. Voltei para casa com o coração leve, ansiosa para começar os preparativos para o grande dia. As semanas seguintes foram um turbilhão de atividade.
Pintei novas obras para complementar a coleção, trabalhei com Carlos nos detalhes da exposição e até dei algumas entrevistas para jornais locais interessados na história da artista que estava retornando. Após uma tarde, enquanto trabalhava em meu ateliê, ouvi uma batida na porta. Era Lucas, meu filho, que havia vindo me fazer uma surpresa.
— Oi, mãe! — ele disse, me abraçando. — Vim ver como estão os preparativos para a grande noite.
Mostrei a ele as novas pinturas em que estava trabalhando, explicando meus planos para a exposição. Lucas ouviu atentamente, seus olhos brilhando de orgulho. — Sabe, mãe — ele disse depois de um tempo —, eu sempre soube que você era talentosa, mas isso.
. . isso é outro nível!
Estou tão feliz por você estar fazendo isso. Senti lágrimas se formando em meus olhos. — Obrigada, filho, isso significa muito para mim.
Lucas ficou por alguns dias me ajudando com os preparativos finais. Sua presença foi um lembrete constante de quanto apoio eu tinha, não apenas dele, mas de Mariana também, que ligava todos os dias para saber como as coisas estavam indo. Finalmente chegou o dia da abertura da exposição.
Vesti-me com cuidado, escolhendo um vestido que me fazia sentir confiante e elegante. Quando cheguei à galeria, fiquei surpresa ao ver uma pequena multidão já se formando do lado de fora. Carlos me recebeu na entrada, sorrindo amplamente.
— Está pronta para seu grande momento, Beatriz? Respirei fundo, sentindo uma mistura de nervosismo e excitação. — Mais do que pronta!
As portas se abriram e as pessoas começaram a entrar. Vi rostos familiares, amigos, vizinhos, até mesmo alguns antigos colegas de trabalho. Mariana e Lucas estavam lá, é claro, me abraçando e desejando boa sorte antes de começarem a circular pela galeria.
À medida que a noite avançava, fiquei impressionada com a reação às minhas obras. Pessoas que eu mal conhecia vinham me cumprimentar, elogiando a profundidade emocional e a técnica das pinturas. Críticos de arte locais faziam anotações, suas expressões sérias, mas aprovadoras.
Em um momento tranquilo, me afastei um pouco para observar a cena. Vi pessoas se reunindo em frente às minhas telas, discutindo animadamente, apontando para detalhes que haviam notado. Era surreal ver minha arte tocando tantas pessoas de maneiras diferentes.
De repente, notei uma figura familiar parada diante de uma das minhas pinturas mais pessoais, um autorretrato abstrato que representava minha jornada de superação. Era Rogério. Por um momento, fiquei paralisada, sem saber como reagir.
Mas então respirei fundo e caminhei até ele. — Oi, Rogério! — disse calmamente.
Ele se virou, parecendo surpreso. — Ao me ver. .
. Beatriz! Eu não esperava te encontrar aqui.
Não pude evitar um pequeno sorriso. — É a minha exposição. Seus olhos se arregalaram em compreensão.
— Sua exposição? Você. .
. você voltou a pintar? Assenti.
— Sim, voltei. E você, como está? Rogério pareceu desconfortável por um momento.
— Estou bem, eu acho. . .
morando na capital agora. Vim visitar alguns amigos e ouvi sobre esta exposição. Não sabia que era sua.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, o peso de nossa história pairando entre nós. — Suas pinturas são incríveis, Beatriz — ele disse finalmente. — Sempre soube que você tinha talento, mas isso.
. . isso é extraordinário!
— Obrigada! — respondi simplesmente. Rogério hesitou, como se quisesse dizer algo mais, mas antes que pudesse, Mariana apareceu ao meu lado.
— Mãe, têm uns críticos de arte querendo falar com você! — Oh, oi, pai! — ela disse, notando Rogério.
— Oi, filha — ele respondeu, parecendo ainda mais desconfortável. Virei-me para Mariana. — Diga a eles que já vou, querida.
Ela assentiu, lançando um último olhar curioso para Rogério antes de se afastar. — Bem — disse a Rogério —, tenho que ir. Foi interessante te ver aqui.
Ele assentiu. — Sim, foi. Parabéns pela exposição, Beatriz!
Você merece todo esse sucesso. Observei-o se afastar, misturando-se à multidão. Surpreendentemente, não senti raiva ou ressentimento ao vê-lo, apenas uma leve nostalgia por uma vida que já não era mais minha e uma profunda gratidão pelo caminho que me trouxe até aqui.
Voltei-me à atenção para a exposição, para as pessoas que estavam ali para celebrar minha arte e minha jornada. A noite continuou cheia de conversas animadas, elogios sinceros e até algumas vendas de quadros. Quando finalmente a última pessoa saiu e Carlos fechou as portas da galeria, permitiu-me um momento de pura alegria.
Eu havia feito isso: havia transformado minha dor em arte, minha perda em um novo começo. Lucas e Mariana me abraçaram, seus rostos radiantes de orgulho. — Você arrasou, mãe!
— exclamou Lucas. — Foi incrível! — concordou Mariana.
— Todos adoraram suas obras. — Obrigada! — disse, abraçando meus filhos novamente.
— Por tudo. Saímos da galeria juntos. A noite fresca nos recebendo, enquanto caminhávamos, percebi que esta não era apenas a abertura de uma exposição; era a abertura de um novo capítulo na minha vida, um capítulo cheio de possibilidades e promessas.
O sucesso da exposição foi apenas o começo. Nas semanas que se seguiram, recebi convites para participar de outras mostras. De arte dar palestras sobre meu processo criativo e até mesmo para lecionar em um curso de artes na universidade local.
Numa manhã de sábado, enquanto tomava meu café e lia as críticas positivas sobre minha exposição no jornal local, o telefone tocou. Era Carlos, meu amigo galerista. — Beatriz, tenho notícias incríveis!
— falou, mal contendo a empolgação. — Lembra daquele curador de São Paulo que veio à sua exposição? Sua obra é tão impressionante que ele quer se encontrar com você na próxima semana para discutir os detalhes.
O que me diz? — Digo que sim, claro que sim! — respondi, sentindo uma onda de excitação me percorrer.
Após desligar, fiquei sentada por um momento, absorvendo a notícia. Era mais do que eu jamais havia sonhado. Quando decidi voltar a pintar, peguei o telefone novamente e liguei para Mariana e Lucas, compartilhando a novidade com eles.
— Mãe, isso é fantástico! — Mariana gritou ao telefone. — Estou tão orgulhosa de você!
Lucas foi igualmente entusiástico. — Uau, mãe! São Paulo, isso é grande!
Seus entusiasmos alimentaram o meu próprio, e passei o resto do dia em um estado de euforia contida, planejando o que precisaria fazer para preparar minhas obras para uma exposição maior. Na semana seguinte, me encontrei com o curador, um homem chamado Antônio, no café da cidade. Ele era apaixonado por arte e ficou impressionado com minha história.
— Sua jornada é fascinante, Beatriz! — ele disse, seus olhos brilhando de entusiasmo. — E suas obras.
. . elas capturam perfeitamente essa transformação!
É exatamente o tipo de arte que queremos expor. Discutimos os detalhes da exposição em São Paulo, que aconteceria em três meses. Seria uma amostra individual focada inteiramente em minhas obras.
A ideia me deixou igualmente emocionada e apreensiva. — Não se preocupe! — Antônio me assegurou, percebendo meu nervosismo.
— Sua arte falará por si mesma. Só preciso que você crie mais algumas peças para complementar a coleção. Aceitei o desafio com entusiasmo.
Nos meses que se seguiram, mergulhei de cabeça no trabalho. Meu ateliê se tornou meu santuário, onde passava horas explorando novas técnicas, experimentando com cores e deixando minhas emoções fluírem livremente na tela. Uma tarde, enquanto trabalhava em uma nova pintura, ouvi uma batida na porta.
Era Helena, minha amiga do supermercado. — Oi, Beatriz! Espero não estar interrompendo — ela disse, olhando curiosa para o ateliê.
— De forma alguma! — respondi, convidando-a a entrar. — O que te traz aqui?
Helena sorriu, um pouco tímida. — Bem, ouvi sobre sua exposição em São Paulo e queria te parabenizar pessoalmente. E, bem, também queria te pedir um favor.
Ergui uma sobrancelha, intrigada. — Que tipo de favor? — Você se lembra que eu sempre gostei de fotografia, não é?
Bem, fiquei inspirada pela sua história e decidi voltar a fotografar. Pensei: será que você poderia dar uma olhada no meu trabalho e dar algumas dicas? Sorri, tocada pelo pedido.
— Claro que sim, Helena! Adoraria ver suas fotos. Passamos a tarde olhando o portfólio de Helena, discutindo composição, luz e narrativa visual.
Percebi que, ao ajudá-la, eu também estava aprendendo, vendo a arte por uma nova perspectiva. Quando ela foi embora, voltei ao meu trabalho com um novo vigor. A interação com Helena me lembrou o quanto a arte pode conectar pessoas e inspirar mudanças.
Os dias passaram rapidamente, preenchidos com preparativos para a exposição, aulas de arte que comecei a dar na comunidade local e longas conversas com Mariana e Lucas sobre meus planos futuros. Finalmente, chegou o dia de partir para São Paulo. Mariana insistiu em me acompanhar, dizendo que não perderia a abertura da exposição por nada neste mundo.
A viagem de carro foi longa, mas agradável. Mariana e eu conversamos sobre tudo e nada, rindo de velhas histórias de família e fazendo planos para o futuro. — Sabe, mãe — Mariana disse em um momento de silêncio —, nunca te vi tão feliz e realizada como agora.
Olhei para minha filha, sentindo uma onda de amor e gratidão. — É porque nunca estive, querida. Estou vivendo a vida que sempre deveria ter vivido.
Chegamos a São Paulo na véspera da abertura da exposição. A galeria era impressionante, muito maior e mais sofisticada do que qualquer espaço onde eu já havia exposto antes. Antônio nos recebeu calorosamente, mostrando onde cada obra seria colocada.
Ver minhas pinturas naquele espaço grandioso me fez sentir uma mistura de orgulho e humildade. Na noite de abertura, o nervosismo que eu sentia foi rapidamente substituído por uma sensação de realização. A galeria estava lotada, cheia de críticos de arte, colecionadores e entusiastas.
Mariana ficou ao meu lado, sorrindo orgulhosa, enquanto eu conversava com os convidados, explicava o significado por trás das minhas obras e até negociava algumas vendas. Em um momento tranquilo, me afastei um pouco para observar a cena. Vi pessoas de todos os tipos interagindo com minhas pinturas, discutindo, apontando detalhes, sendo tocadas pela minha arte de maneiras que eu nunca poderia ter imaginado.
De repente, senti uma mão em meu ombro. Era Lucas, que havia feito uma surpresa aparecendo na exposição. — Lucas!
— exclamei, abraçando-o forte. — Não acredito que você veio! Ele sorriu, seus olhos brilhando de orgulho.
— Como eu poderia perder isso, mãe? É o seu grande momento! Olhei para meus dois filhos, agora lado a lado, e senti meu coração se encher de amor.
Apesar de tudo que havia acontecido, eu era incrivelmente abençoada. A noite continuou como um turbilhão de emoções e experiências. Quando finalmente chegou ao fim, estava exausta, mas profundamente satisfeita.
De volta ao hotel, sentei-me na cama, refletindo sobre a jornada que me trouxe até ali. Desde aquele dia em que Rogério pediu o divórcio, me chamando de velha inútil, até este momento de triunfo em uma galeria de arte renomada, percebi que a traição de Rogério, por mais dolorosa que tenha sido, foi, na verdade, um presente. Ela me forçou a redescobrir quem eu era, a despertar a artista que havia adormecido dentro de mim por tanto tempo.
Peguei meu celular e abri a galeria de fotos, passando por imagens da exposição que Mariana e Lucas. . .
Haviam tirado em cada uma delas, vi não apenas minhas pinturas, mas o reflexo da minha jornada, da minha transformação. Naquele momento, sentada sozinha em um quarto de hotel em São Paulo, eu, Beatriz, aos 45 anos, me senti mais viva e realizada do que jamais havia sido. Gostou do vídeo?
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