Será que a Ucrânia está mais perto da paz, mesmo que temporária? As negociações de um cessar-fogo continuam. Donald Trump tem tido conversas tanto com Volodymyr Zelensky quanto com Vladimir Putin.
E diz que está a caminho de alinhar as demandas tanto da Ucrânia quanto da Rússia. Mas pra se alcançar uma paz duradoura, será preciso conciliar complexos interesses dos três líderes - incluindo os do próprio Trump. Eu sou Julia Braun da BBC News Brasil e neste vídeo detalho 3 pontos cruciais – e complexos – em jogo nas discussões de cessar-fogo na Ucrânia.
O primeiro tem a ver com território. Depois de três anos de guerra, a Rússia controla hoje 20% da Ucrânia. Interromper os combates significaria, pra Moscou, interromper avanços recentes importantes do seu Exército no leste da Ucrânia.
O Exército de Putin também avançou fortemente na região russa de Kursk, que havia sido ocupada pela Ucrânia em 2024. Putin afirmou, depois de conversar com Trump e seu enviado, que concorda com a ideia de um cessar-fogo. Mas não acatou os termos propostos até o momento em que eu gravo este vídeo.
E também impôs suas próprias pré-condições, que eu vou detalhar já, já. Do lado ucraniano, Volodymyr Zelensky havia concordado com uma proposta americana de cessar-fogo pleno feita na Arábia Saudita. E recentemente disse que as conversas recentes com Trump haviam sido “francas” e “positivas”.
Mas acatar isso pode significar, na prática, ter de abdicar de um princípio fundamental para o governo ucraniano desde o início da guerra: o de que não haveria trégua enquanto soldados russos ocupassem território reconhecido como ucraniano. O temor principal da Ucrânia é de que qualquer pausa na guerra sirva apenas pra Rússia acumular forças pra um novo ataque, ainda mais forte. O que nos leva ao segundo ponto: a segurança de longo prazo da Ucrânia.
Uma das principais demandas de Zelensky é de que os Estados Unidos deem algum tipo de garantia de que protegeriam a Ucrânia no caso de uma nova investida militar russa. Zelensky tentou, sem sucesso, incluir essas garantias nas negociações, ainda em curso, envolvendo a exploração americana das reservas minerais ucranianas. A relutância dos Estados Unidos em dar essa proteção foi, inclusive, um dos temas em discussão naquela explosiva reunião entre Trump e Zelensky na Casa Branca.
Essa reunião já entrou pra história como um dos acontecimentos mais surpreendentes no Salão Oval. Isso porque não é nada comum que líderes de países que em tese são aliados subam o tom dessa forma publicamente. E isso nos leva ao ponto três deste vídeo: as demonstrações de força de cada lado.
Tanto Putin quanto Zelensky querem sair da mesa de negociação podendo se dizer vitoriosos. Começando por Putin, que depois de conversar com Donald Trump lançou suas próprias pré-condições pra aceitar um acordo. Ele exige que o Ocidente interrompa a ajuda militar e o compartilhamento de informações de inteligência com Kiev.
Algo que, pros analistas, seria praticamente uma garantia de derrota da Ucrânia na guerra – e algo com que Zelensky e o restante da Europa dificilmente concordarão. Dentro da Rússia, a longa conversa telefônica entre Putin e Trump foi vista como uma vitória diplomática pro lado de Moscou. Tem também os interesses de Trump em jogo.
Lembrando que de, desde o começo da guerra, os Estados Unidos sob Joe Biden foram aliados incondicionais da Ucrânia, dando ajuda militar e financeira crucial pro país enfrentar a Rússia. Mas, depois da posse de Trump, isso mudou completamente. O presidente tem se aproximado mais de Putin – que inclusive acenou com a possibilidade de uma colaboração entre Estados Unidos e Rússia em projetos de mineração.
Enquanto isso, Trump tem cobrado a Ucrânia com muito mais dureza. Ele chegou a suspender temporariamente a ajuda militar pra Kiev. E ele não só quer explorar as riquezas minerais ucranianas, em troca da ajuda militar concedida pelos Estados Unidos até agora - como anunciou também o interesse em tomar posse de usinas nucleares do país.
O motivo seria garantir a segurança dessas usinas. Aliás, um ponto contencioso recente foi o anúncio de que, mesmo sem um cessar-fogo, Moscou deixaria de bombardear a infraestrutura de energia da Ucrânia por 30 dias. Mas isso durou muito pouco.
Pra concluir, Volodymyr Zelensky se viu forçado a pedir desculpas a Trump depois da tensa reunião na Casa Branca e tem adotado um tom mais conciliatório com Washington desde então. Mas ele tem a difícil tarefa de preservar o território e as riquezas da Ucrânia no meio dos interesses de duas superpotências. Zelensky tem também se voltado mais pra Europa em busca de apoio financeiro e militar.
Bom, os desdobramentos dessas negociações continuam a mudar dia a dia. E novas conversas envolvendo os três lados estão previstas pra acontecer. A gente segue acompanhando, então fique de olho em bbcbrasil.
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