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Rádio Novelo
Um alerta: este episódio trata de um tema sensível relacionado à gravidez. Depois de algumas semana...
Video Transcript:
novelo Ráo novelo novelo tá começando o rádio novelo apresenta eu sou a Branca [Música] Viana existe uma certa Mística em torno do dia 29 de Fevereiro né Tem gente que considera ele um dia de sorte e tem gente que considera ele um dia meio estranho tem gente que se sente especial por ter nascido nessa data e até faz aquelas piadinhas dizendo que só envelhece a cada quatro anos mas tem gente que se sente meio perdida como se tivesse sido esquecida para fora do calendário tem gente que nasce no dia 29 de Fevereiro e aí quando
não é ano bxo comemora no dia 28 outras pessoas preferem comemorar no dia 1eo de Março sei lá para não queimar largada talvez eu também já ouvi falar de gente que celebra bem na virada de um dia pro outro e de gente que segue uma estratégia assim se nasceu no dia 29 antes do meio-dia comemora no dia 28 se nasceu depois do meio-dia comemora no primeiro de março e pronto aliás se hoje é o seu aniversário parabéns eu acho que no fim das contas o que esse dia tem de diferente é que ele é o
único que existe e ao mesmo tempo não existe a gente até fez um teste aqui no nosso calendário do Google a gente criou um compromisso recorrente um evento que se repete todo mês sempre no dia 29 nesse ano o compromisso aparece lá bonitinho todo santo mês e a gente achou que quando pulasse pro ano que vem 2025 que o compromisso de 29 de Fevereiro ia ser passado automaticamente ou pro dia 28 ou pro dia primeo de Março mas não nada o compromisso simplesmente some ele cai num vazio se fosse uma coisa importante você teria esquecido
afinal falha sua por ter marcado um compromisso num dia que não existe pelo menos não naquele ano e não na maioria dos anos quem diria que uma estratégia criada para ajustar a maneira que a gente organiza a vida humana na terra quem diria que isso ia gerar tanta Crise existencial o episódio dessa semana traz uma história que acontece muito mais do que no dia 29 de Fevereiro mas assim como essa data esse tipo de história muitas vezes cai no vazio porque tem a ver com uma situação e com um sentimento que também não são muito
bem acolhidos nos costumes e nas regras que a gente criou enquanto sociedade quem conta é a b marães e um aviso essa história trata de um tema sensível relacionado à gravidez vou te ser sincera o meu desejo seria da gente conversar sobre tudo o que a que aconteceu mas eu queria também te perguntar sobre o que que você topa falar se você topa Bia eu acho que quando quando eu decidi fazer um filme sobre esse momento que foi o momento mais triste que eu tive foi porque eu entendi que é algo que acontece muito e
que ninguém poucas pessoas conseguem falar sobre isso então eu topo falar sobre o que você achar importante aqui entendendo que essa minha fala é para ser abraço em pessoas né tipo tem deve ter muita gente que rádio novelo que passou por isso e que se sente muito sozinha como eu me senti quando eu passei para você então quando que começa essa história e como Nossa essa história começa acho quando eu nasci quando eu tava no útero da minha mãe talvez por muito tempo desde o começo da vida adulta a Elisa se perguntava se ela queria
ou não ser mãe tinha hora que a resposta pendia um pouco mais pro sim e tinha hora que pendia mais pro não eu gosto muito da minha vida da da Liberdade que eu tenho com o meu tempo né A Elisa é a Elisa capai ela é documentarista e vive viajando de um canto pro outro mergulhando de cabeça em projetos que duram meses anos os trabalhos dela falam muito de conflitos sociais de gênero talvez você conheça o documentário espero tua revolta que ela lançou em 2019 sobre o movimento de ocupação das escolas em São Paulo ou
talvez você tenha assistido a série que ela dirigiu sobre a Elise Matsunaga que saiu em 2021 na Netflix Mas voltando para aquela pergunta que ia e voltava dentro da cabeça da Elisa enfim eu fui pensando até que chegou um momento que eu falei cara eu acho que é meio desperdiço eu passar por essa existência e não provar essa Grande Aventura que é maternidade aí a resposta pendeu pro sim e ficou eu tava morando junto com o namorado que eu acho uma pessoa maravilhosa que que seria um um bom pai alguém que tem o que ensinar
com as coisas da vida que eu achava que eu acho muito bonito e aí a gente começou a conversar sobre isso E aí eu fui me chegando perto dos 40 eu falei [ __ ] tô chegando vamos lá que dona se quer ter filho biológico tira esse di agora né isso aconteceu 4 anos atrás eu conversei com o João ele não era o momento dele mas ele falou se chegou a sua hora vamos embora foi um ano especialmente complexo para toda a humanidade diria eu que foi o ano 2020 Esse é o João Pina ele
é português como você deve ter percebido e assim como a Elisa Ele trabalha documentando a vida e as questões políticas e imag Só que no caso dele são imagens paradas ele é foto do comentarista e PR mim foi um ano hiper complexo porque o meu pai tinha acabado de falecer meu pai morreu em fevereiro de 2020 e portanto obviamente eu estava neste processo de de luto mas já tínhamos começado uma conversa de eventualmente começarmos a tentar era por volta de março abril de 2020 os primeiros meses da pandemia quando a ela e o João comearam
a tentar engravidar irmã tava grávida tava grávida do meu primeiro sobrinho e eu lembro que todo dia ela ficava E aí já fez o teste já tá GR tá grávida vão ser os priminhos gêmeos eu não conseguia fazer o teste que eu falei cara eu quero continuar com a sensação de que eu tô grávida se eu fizer o teste eu não tiver grávida vou ficar chateada então deixa ir viver nesse momento curtindo essa possível gravidez mas não não era só uma possível gravidez no começo de maio ela fez o teste e deu positivo eu fiquei
muito muito emocional muito feliz assim né e é muito interessante assim como acho que tem um lugar que o filho nasce naquele momento né naquele momento você fala cara tá dentro de mim tô fabricando um ser humano e aí você começa a sonhar com quem vai ser essa pessoa né passamos a sonhar muito em começamos a dar um nome que era como há aí no Brasil há a história de que todos os portugueses el se chamam Manuel ou se chamam Joaquim eh nós na brincadeira começamos a chamar ao ao feto maninho a manuelzinho o Manoelzinho
começou a fazer parte dos planos deles como ia ficar a rotina deles com bebê e depois uma criança onde eles iam morar qual ia ser a carinha dele e o jeito como será que ia tá a pandemia e o Brasil e Portugal quando ele nascesse e assim como a maioria das pessoas que estão esperando um bebê eles começaram a registrar esse período de espera não com aqueles ensaios de fotos super produzidos ou com aqueles vídeos da Família descobrindo o sexo do bebê eles comearam a registrar tudo isso do jeito deles do jeito como eles estão
acostumados a olhar e capturar o mundo pelo cotidiano pap então eu comei a montar o tripé e eu ia fazendo minha vida normal assim tipo eu esquecia que a câmera tava ali vida de casal grávido no Apocalipse que tem de imagem de eu comendo arrotando e dormindo é tipo assim aquela coisa de grávida Eu ficava imaginando moment que eu ia guardar aquilo algum dia quando meu filho fosse grande a gente ia falar ol lá sua mãe arrotando e dormindo aqui e a gente ia falar dá para acreditar você tava dha barriga sei lá era uma
coisa num registro caseiro de igual tem álbum álbum de foto que a gente faz álbum de foto no meio desse álbum de recordações tem a Elisa passando café num dia normal tem o João trabalhando no computador ou meendo em negativos de fotos ele fazendo graça pra câmera ela lendo no celular as notícias sobre a pandemia as mortes o governo bolsonaro e tem muitas cenas da Elisa descobrindo aquele corpo novo dela ela dança na sala Se olha no espelho e passa a mão na barriga que já estava crescendo naqueles primeiros meses de [Música] gravidez eu eu
sempre achei muito lindo mulher grávida assim né tipo é muita é o lugar da deusa né do lugar da da vida e a E aí tinha um lado que eu me sentia muito plena assim dentro de mim eu lembro daqueles sonos muito tipo eu comia e dormia Era um negócio muito de escutar meu próprio corpo que era muito gostoso mas meu corpo sempre me deu sinais de que algo não não estava bem e eu nunca sabia se era medo ou se era intuição né se era apenas ele reagindo a biologicamente ali que tava tudo certo
ou se tinha indício de algum problema e no no início da gestação eu comecei a ter sangramento e eu conversei com a ginecologista ela falou olha é super normal ter sangramento eu tinha eu tinha alguns miomas e os miomas estavam crescendo muito por conta do estrogênio que sobe na gravidez ela falou nesse caso especialmente com mi é muito normal a maioria das gestações não tem problema que tem sangramento não tem problema é só ter um pouco de paciência agora usar progesterona porque aí a progesterona dá uma dá Uma segurada nisso era só ter paciência e
progesterona não tinha com que se preocupar e a gravidez começou a se desenvolver de uma forma médica que parecia muito perfeita né Tava crescendo dentro do tamanho tava o coraçãozinho batendo a Elisa sempre gostou de sonhos de pensar neles entender como eles funcionam e a gravidez é um momento em que os sonhos e os pesadelos ficam ainda mais intensos em parte por causa das inseguranças que batem na porta e outra parte por causa dos hormônios que estão em ebulição e um dia ela teve um sonho que mexeu muito com ela e aí eu tive um
sonho que eu entrava no mar era um mar muito lindo tinha um cara brincando com uma criancinha e aquela loucura de sonho porque a a criancinha eraa só uma cabeça mas no sonho era normal né e eu pegava essa esse menininho e a gente e a gente brincava assim no mar de eu jogar jogar ele para cima e pegar embaixo da água e aí ficava gostosa brincadeira eu deixava ele ele tava a gente ficava se olhando e rindo muito assim e aí quando eu quando eu fui segurar ele embaixo d' água essa cabeça escorregou da
minha mão e aí Abriu como se fosse um ult uma imagem de ultrassom assim ficou fez um abismo no mar e a cabeça caiu no nesse Abismo de ultrassom e eu acordei muito assustada no álbum de recordações comum a incertezas e os medos geralmente ficam de fora nas fotos só tem os momentos felizes o lado bonito dessa espera mas no álbum da Elisa e do João cabia tudo isso mas por que tu choras tem motivo maioria das vezes só D uma vontade de chorar acho tem medo também né de saber se o bichinho tá saudável
não saudável mas claro que está saudável claro que está saudável porque no na ecografia tem batimento cardíaco tem o tamanho que devia ter [ __ ] é muito doido de saber que tem uma vida dentro de mim e que eu não tenho controle nenhum disso que é óbvio que que a maternidade é isso também acho que uma preparação mental pro pro que é mas é não sei o primeiro trimestre é um dos períodos mais difíceis e delicados da gestação se por um lado ainda não tem o desconforto da barriga grandona e a ansiedade dos preparativos
do parto por outro é a fase mais essencial do desenvolvimento do feto só Abrindo um parênteses aqui em teoria na linguagem médica o feto só vira bebê Depois que nasce e feto é a palavra mais adequada quando a gente tá falando por exemplo de uma gravidez indesejada e da de fazer um aborto mas quando a gravidez é desejada a gente muitas vezes usa a palavra bebê mesmo antes do feto chegar no mundo né justamente por causa daquilo que a Elisa e o João falaram de que esse serzinho já começa a existir nos planos e nos
sonhos da família e é por isso que em alguns momentos dessa história eu vou usar a palavra bebê para falar do manuelzinho bom eu tava falando da delicadeza do primeiro trimestre a cada dia os órgãos os tecidos a cabecinha e os membros do feto vão ganhando a forma que eles devem ter só que numa escala bem pequenininha tudo isso enquanto a mãe tá ali cheia de enjoo de sono de cansaço e de medo porque essa também é a fase em que mais coisas podem dar errado e que a chance de um aborto espontâneo é maior
na passagem do primeiro pro segundo trimestre por volta das 12 ou 13 semanas de gestação os médicos geralmente fazem um ultrassom morfológico para ver se tá tudo indo bem se a estrutura do bebê tá se desenvolvendo como deveria e se existem pistas de uma possível síndrome cromossômica como a síndrome de Down e a vontade da Elisa era de dormir e só acordar quando essa fase toda tivesse passado tipo dormir acordar já tá de 14 poder [Música] curtir mas enquanto isso tinha um monte de coisa acontecendo fora do corpo dela ela e o João tinham decidido
se mudar para Portugal mudar de país é sempre difícil mas mudar de país grávida com pandemia rolando e fronteira fechando era mais difícil ainda o João foi na frente e um dia antes da Elisa pegar o voo dela ela foi fazer o ultrassom morfológico E aí afastou qualquer sintoma qualquer síndrome eu fiquei muito relaxada o médico só falou ah por conta dos miomas eu não tô conseguindo ver direito A cabecinha dele tá muito pequenininha quando chegar nas 14 semanas faz isso o médico falou para ela fazer outro ultrassom dali aá um tempinho em Portugal mesmo
aí completou cheguei no quarto mês aí foi aquele momento que você avisa pro chefe né que começa que eu comecei a abrir a história a Elisa contou pro chefe dela que ela estava grávida e no dia seguinte ela foi fazer mais um ultrassom o João teve que ficar esperando do lado de fora por causa dos Protocolos de covid E era uma uma médica e uma assistente e ela e aí começou a ficar longo ultrassom sabe e ela só olhava e falava ai Coitadinho do bebê com esse mioma tão grande tá exprimido aí eu falei ela
na quarta vez que ela repetiu eu falei gente comecei a ficar muito angustiada com aquilo ela começou a ficar muito em silêncio c xixá com o assistente Aí perguntou se eu morava perto que que eu ia fazer amanhã no dia seguinte era o último horário assim de outra som e aí eu comecei a falei que que tá acontecendo ela falou não não não tô conseguindo ver direito eu falei o que que tá acontecendo ela é a cabecinha aí eu pronto aí eu desmontei a chorar [Música] elha naquele sonho que a Elisa teve ela estava no
mar e brincava de jogar para cima e pegar de volta a cabeça de um menininho até que uma hora a cabeça escapava das mãos dela caí na escuridão de um abismo um abismo que parecia um ultrassom agora ela estava ali numa sala de ultom ouvindo a médica dizer que podia ter algo de errado com a cabecinha do bebê mas falaram que ainda não dava para fechar um laudo outros médicos precisavam olhar o exame para ter certeza quando ela saiu da sala e encontrou o João ela Nem precisou falar nada tava nos olhos dela e lembro
muito muito bem da Elisa a sair e claro já lavada em lágrimas em saber que que havia um problema mas que não se sabia em definitiva o que é que era e portanto era preciso voltar no dia seguinte e eu lembro que essa noite eu liguei enfim cheguei e liguei para minha mãe aquela coisa que muito forte né como nessa hora vem uma conexão aí do da Maternidade mesmo a gente desmontou junto e desmontei com João e eu lembro de dormir tipo meio que sei lá eu sou agnóstica mas Nessas horas a gente todo mundo
vira crente né tipo E aí eu comecei a rezar de tipo falar por favor que seja zero ou 100% não me venha com um 70% de chance de sabe uma coisa que me colocaria numa situação de esolha assim e no dia seguinte no primeiro horário a gente tinha esse ultrassom que foi uma cena que se fosse num filme eu ia achar que é exagerado porque tinham três médicos a gente negociou do João poder entrar no final para escutar o que que era enquanto eu tava deitada eles tinha tinha aquele aparelho na minha barriga eles olhavam
pra TV e parecia que eu aquele corpo que tava ali deitado não tinha nenhuma conexão com aquela imagem que tava sendo vista né E eles ficaram discutindo entre eles não me dirigiam uma palavra eram rudes assim no tratamento quando João entrou eles sentaram colocaram o João no lugar que eles ficavam de costas para mim falavam para ele os médicos confirmaram aquele medo que tava pairando no ar eles falaram que de fato tinha algo de errado com a cabecinha do bebê era uma má formação chamada encefalocele que é quando a estrutura do crânio não fecha da
maneira como deveria E aí uma parte do tecido do cérebro pode vazar por esse buraquinho fora da cabeça dependendo de onde e como tá esse buraquinho e de qual parte do cérebro vai ser afetada as consequências são maiores ou menores no caso daquele feto do bebê da eliz do João o buraquinho estava na parte da frente na testa um pouco acima do nariz essa parte da frente do cérebro realmente vazam as coisas que não podem as partes do cérebro que não permitem a vida né as partes que não permitem a vida o Manoelzinho que já
estava tão Vivo nos planos da Elisa e do João tinha uma condição incompatível com a vida os médicos disseram que a Elisa provavelmente teria um aborto espontâneo Por volta do sétimo ou do oitavo mês de gestação ou que talvez o filho dela chegasse a nascer com vida mas que ele viveria só por alguns minutos Talvez algumas [Música] horas nem todo mundo concorda com o uso desse termo incompatível com a vida e existem vários debates sobre quais síndromes devem fazer parte desse guarda-chuva ou não algumas pessoas vão dizer que mesmo que um bebê viva só por
alguns minutos ou algumas horas que isso já seria suficiente pra gente dizer que ele teve uma vida fora do útero da mãe outras pessoas vão colocar o foco nos raros casos em que a criança sobrevive por mais tempo por anos até mesmo que esses anos se passem dentro de um hospital com ajuda de aparelhos eu respeito muito como cada pessoa vê essa situação né especialmente como cada mãe ou cada pai que recebem esse diagnóstico sentem isso o meu sentimento é que uma vida em que a pessoa não possa experimentar alegria não possa experimentar curiosidade não
é uma vida então assim naquele momento eu entendi que meu filho Jamais seria o que eu considero ser uma vida fora do meu útero né antes do laudo final a Elisa tinha rezado pedindo para não ter que passar por uma situação de encruzilhada dessas em que é preciso fazer uma escolha muito difícil e não dá nem para saber por onde começar o pedido deu certo porque depois de ouvir o diagnóstico dos médicos de conversar sobre as perspectivas da gestação e de pesquisar sobre esse assunto na internet ela tava segura de qual caminho tomar que eu
não achava justo com aquela pessoa que eu já amava tanto que eu desejava que existisse e colocá-la para fora da minha barriga com vida né entendendo que seria uma vida de nos nos poucos instantes que tivesse no mundo uma vida de tubos né uma vida de ser entubado para conseguir respirar ser entubado para conseguir comer ser entubado para evacuar a orientação dos próprios médicos era que a Elisa interrompesse a gravidez eu não tive dúvidas de que por amor a ele em primeir primeiro lugar e e por amor à vida né a vida como um todo
que não era Justo ele passar por esse sofrimento lá em Portugal o aborto é legalizado até a 10ma semana de gestação a Elisa já tava de 14 semanas mas o caso dela caía no que eles chamam de interrupção médica da gravidez que nada mais é do que a possibilidade de aborto PR os casos de doença grave ou de ma formação do feto a própria maternidade pública onde ela tava sendo atendida encaminhou todo o processo para ela conseguir fazer essa interrupção primeiro os exames dela tinham que passar pela avaliação de uma junta médica aí era esperar
o aval deles e marcar o procedimento esse trâmite durou cerca de duas semanas o que pode até não parecer muito no mundo das burocracias e das consultas médicas mas para quem tá esperando é sim muito e essas duas semanas foram um período muito muito muito longo e muito muito difícil cada dia contava como se fosse um ano nesse meio tempo era como se a Elisa tivesse e não tivesse grávida a barriga tava ali e eles estavam esperando a hora do Manoelzinho sair de dentro dela mas não do jeito como eles tinham sonhado e eu lembro
muito desse peso eu lembro muito desse peso em mim lembro-me sobretudo muito desse peso na na Elisa que tinha dentro dela uma um ser ou um projeto de um ser que sabia que não ia que não era compatível com a vida nem com uma vida digna e e prolongar isso por mais um dia era era de facto muito pesado eu senti realmente o tal do Abismo lá do sonho eu senti que eu caí dentro de um abismo que eu não entendia até onde que ele ir era muito escuro e eu falei não acredito que dá
para ficar tão triste por um feto de naquela naquele momento de 14 semanas eu achei muito desproporcional o que eu tava sentindo com o o que era eu fiquei muito me julgando por tá tão triste você a Elisa e o João não fossem um casal de documentaristas se eles fossem só um casal que teve a ideia de gravar a gravidez eles provavelmente teriam desistido do registro ali se eles tivessem documentando a gravidez de outro casal eles provavelmente teriam decidido desligar a câmera ali também mas para eles o mais natural era continuar o as pessoas tendencialmente
acham que o mal S acontece aos outros o mal as coisas que consideramos que sejam más e se é uma coisa que eu aprendi ou que eu tenho aprendido é que eu passo a vida contar histórias normalmente do mal e que as coisas não acontecem só aos outros Eu Tenho pensado muito em Porque que as pessoas aceitam que a gente registre elas na hora da dor sabe eu eu eu não deixaria nenhuma outra pessoa gravar a gente agora você tá processando tô tô nós dois trabalhamos observando a as vidas Alias muitas vezes observando a dor
alheia é a nossa forma de conseguir entender por que por que esses sentimentos existem Porque que a sociedade se organiza dessa forma eh como que o ser humano reage quando algumas coisas acontecem então a gente tava fazendo com a gente o que a gente faz com os outros era a nossa forma terapêutica de lidar com aquela com aquela situação que a gente estava vivendo era tipo não sei o que fazer grava não sei o que fazer fica olhando fic olhando até a gente entender se [Música] faz depois daquelas Du Semas Sem Fim chou hora de
a gestação ela um medico para induzir aborto e avisaram que ela I sentir as contrações e as dores como num trabal de parto mesmo e que quando a dor chegasse no nível muito intenso praticamente insuportável era a hora dela ir para hospital para terminar o procedimento nos vídeos a gente vê a eliz em casa na cama tentando achar alguma posição para aliviar a dor e o João ali do lado tentando confortar ela de algum jeito depois ela senta no chão do box com chuveiro ligado ela chora às vezes canta às vezes grita e também fala
com a barriga e diz pro Manuel que ele pode sair já no hospital depois de tudo a enfermeira perguntou se eles queriam ver o feto a Elisa Já tinha recebido conselho de que era melhor ver ele sim para ajudar a processar melhor tudo que aconteceu ela ainda estava meio dopada de remédio para dor quando recebeu ele na mão enrolado num paninho naquela hora Parecia que ela era única pessoa no mundo sentindo Aquela tristeza mas não era conforme a Elisa ia conversando com uma amiga aqui e outra ali ela foi ouvindo histórias que antes não chamavam
a atenção dela mas que estavam escondidas por toda parte e a eu fui entendendo assim que a meu redor muita gente tinha estado naquele Abismo sozinha ela soube de conhecidas dela ou de amigas de amigas que já tinham vivido situações parecidas mulheres que queriam muito ficar grávidas que comemoraram o teste positivo mil planos e sonhos e depois perderam o bebê ou que tiveram que interromper uma gestação que era desejada e ela lembrou de ter dito coisas no passado que ela Jamais diria agora para consolar essas mulheres coisas do tipo vai ficar tudo bem Daqui a
pouco se engravida de novo no fundo desse abismo que a Elisa agora estava conhecendo de perto ela deu de cara com um tipo de luto que não tem muito lugar no mundo é um luto por além que ninguém conheceu um luto que no geral não tem velório não tem enterro que não tem meus pêsames nem sinto muito um luto que muitas vezes fica entre quatro paredes que muita gente nem diz que viveu ou que tá vivendo o que tem um pouco a ver com aquele costume de Só contar paraas pessoas que você tá grávida depois
do terceiro mês né quando a gestação já tá mais garantida entre aspas Já que no primeiro trimestre o risco da perda é maior é como se antes disso não valesse a pena dar notícia a gente tá poupando quem de não contar sabe porque nessa hora a gente precisa de apoio eu acho que é muito importante falar desde sempre se é uma gravidez desejada sabe porque aí se der ruim você chega e fala lembra que eu tava grávida então não tô mais tô mal tô precisando tirar o dia hoje para ficar dormindo e chorando ou tô
precisando de um [Música] abraço a Elisa se identificava em muitos pontos com essas hist que ela foi ouvindo aqui e ali sobre pessoas que tinham cruzado com um diagnóstico de incompatibilidade com a vida e se viram caindo no mesmo abismo que ela mas tinha uma coisa que tornava a experiência dela muito diferente das outras pelo simples fato de que essas outras histórias tinham acontecido aqui no Brasil e a dela em Portugal lembra que os próprios médicos aconselharam a Elisa a interromper a gestação então aqui é a história poderia ter sido bem diferente no Brasil o
aborto só é permitido em caso de estupro de risco de morte para gestante ou de anencefalia que é Quando o feto não tem uma parte do cérebro ou da calota craniana esse também é um diagnóstico de incompatibilidade com a vida e é o único que a nossa lei aceita todas as outras síndromes e malformações tipo encefalocele do bebê da Elisa ficam de fora se a história da Elisa tivesse passado aqui no Brasil ela teria algumas opções se é que dá para chamar assim a primeira seria seguir com a gestação ou seja viver aquelas semanas e
depois meses com a barriga crescendo as pessoas perguntando sobre o bebê até acontecer um aborto espontâneo ou até o bebê nascer e aí viver alguns poucos minutos ou algumas horas para muitas famílias esse é o caminho que faz mais sentido mas para Eliza e pro João isso era imaginável a segunda opção seria entrar na justiça para tentar conseguir uma autorização para interromper a gravidez o que pode ser um caminho demorado difícil e incerto porque depois de mostrar os ultrassons o laudo psicológico da gestante de juntar estudos e precedentes que ajudem a apoiar essa decisão ela
ainda teria que ter a sorte de cair com juiz que fosse favorável ao caso dela e a terceira opção seria fazer um ab clandestino sem nenhuma garantia de segurança que é a solução que muitas mulheres encontram na falta de uma lei que defenda e proteja a vida delas eu agradeço por por est na hora errada no lugar certo né Mais ou menos esse é o sentimento se não fosse pelas coordenadas geográficas a história da Elisa poderia ter sido ainda mais dolorida do que ela foi como acaba sendo mesmo para muita gente eu senti muita raiva
do Sistema Brasileiro de pensar que se eu tivesse no Brasil e todas as nossas conterrâneas que estão no Brasil passando por aquela situação ou passando por qualquer situação e que não se imaginam capazes de serem mães e estão grávidas que seria impossível abortar de forma legal de forma [Música] empática a defendeu do aborto para todas as mulheres em todos os casos Mas agora ela estava enxergando tudo de um Novo Ângulo ela estava se vendo dentro da cena ela pensava que da mesma forma que ela decidiu interromper a gravidez por entender que esse era o melhor
caminho para ela e acima de tudo para aquele feto que estava na barriga dela da mesma forma todos os dias mulheres decidem fazer um aborto por entenderem que ter um filho naquele momento naquele contexto por qualquer motivo que seja não vai ser bom nem para elas nem para essas crianças que estariam por [Música] vir bem no momento em que eu estava descendo da maca com o meu grande suéter Verde caindo sobre as coxas o ginecologista me disse que com toda a certeza eu estava grávida a Annie hern que é uma escritora francesa escreveu esse livro
chamado o acontecimento você tá ouvindo aqui a versão em áudio dele lançada pela Editora supica em parceria com a editora fósforo Quem narra a história é a atriz Isabel Teixeira o livro fala de um capítulo da vida da própria an em 1963 ela tinha 23 anos de idade e descobriu que estava grávida de um cara que ela tinha conhecido poucos meses antes voltei a pé pra cidade universitária na agenda consta estou grávida que horror ouvir ou ler essa história em paralelo com a história da Elisa faz a gente enxergar duas trajetórias que não podiam ser
mais diferentes mas que se cruzam num ponto chave de um lado a gente tem uma mulher que queria ficar grávida que planejou ter um filho junto com o companheiro dela e que enrolava para fazer o teste de gravidez com medo de dar negativo do outro lado tem uma jovem uma estudante Universitária que não tinha nem condições nem desejo de ter um filho naquele momento peloo a última coisa que ela queria ouvir na vida era que aqueles enjoos que ela vinha sentindo eram na verdade uma gravidez recebi no dia seguinte parto de Senor [Música] annees previsto
para 8 de julho de 1964 vi o verão o sol rasi o documento enquanto uma se filmava na frente do espelho fazendo carinho na barriga e já começava a imaginar como ia ser aquele bebê a outra só conseguia pensar em como que ela ia resolver aquele problema tornou-se uma coisa sem forma que avançava dentro de mim e era preciso destruir a todo custo Elisa o b foi descobrir o diagnóstico de incompatibilidade com a vida e entender que a gravidez não ia seguir o curso esperado também era a única solução possível mas o b foi entender
dia após dia que nem a Lei nem os médicos iam est do lado dela Lembrando que isso aconteceu com ela nos anos 60 eu não tinha saída decidira agir sozinha a espera das duas até elas finalmente fazerem o procedimento pareceu não ter fim a Elisa recebeu os medicamentos necessários no momento recomendado ela foi um hospital uma espé de clínica clandestina que na verdade era uma senhora que introduziu uma sonda nela para provocar o aborto houve uma dor atroz ela dizia Pare de gritar querida e eu preciso fazer o meu trabalho as duas passaram pelas dores
pelas contrações até o feto sair e quando da Elisa saiu ela sentiu muita tristeza mas alívio também e quando o f da sau tamb ficou muito aliviada Mas por outro motivo eu me sentia salva só que ela tinha que se preocupar primeiro em não morrer e não ser deixada para morrer na verdade Depois do aborto ela tava no quarto dela no alojamento da Universidade junto com uma colega e aí ela começou a sangrar sem parar ela não queria de jeito nenhum que chamassem o médico mas não teve saída com a entrada em cena do médico
começa a segunda parte da noite de experiência pura da vida e da Morte ela se tornou exposição e julgamento eu implorava para que ele não me deixasse morrer olhe para mim Jure que nunca mais fará isso nunca por causa de seus olhos loucos acreditei que fosse capaz de me deixar morrer se eu não jurasse nesse ponto a trajetória da não parece com mas parece com a de tantas outras mulheres que tem que recorrer a um aborto inseguro e que quando precisam ir para um hospital por consequências do procedimento são tratadas como criminosas e claro que
isso sempre pesa mais PR as mulheres que no geral já não são tratadas como prioridade como as mulheres negras e as mulheres pobres ninguém me tratou como se eu fosse uma uma pecadora ninguém me apontou o dedo falando você vai matar seu filho né e ao contrário da maioria de todas as pessoas que eu conversei aqui no Brasil que tiveram que passar por isso né que tiveram que além da dor que que eu senti que a gente compartilha também tiveram também sofreram julgamentos e religiosos julgamentos Morais muitas vezes da própria classe médica pela escolha que
ela estavam tendo então se a Elisa tivesse morando no Brasil quando tudo aconteceu se ela tivesse feito um aborto clandestino por falta de opção talvez ela também tivesse tido que pedir para não morrer voltei PR casa porque depois que ela voltou do hospital ela começou a ter muita febre uma febre que não passava por nada eu entendi que tinha alguma coisa errada eu voltei pra pro hospital e eu tava com número de sepsemia Descobriram que por conta do Miu Amã que tinha crecido eu tinha placenta escondida atrás do do meu mioma e essa placenta tinha
apodrecido disseram que se ela não tivesse ido para hospital e se lá eles não tivessem descoberto rápido qual era o problema dela que ela podia ter perdido útero ou até morrido vamos supor que eu tivesse no Brasil e tivesse feito um aborto clandestino e tivesse acontecido essa mesma situação eu me questiono se eu teria tido coragem de chegar num hospital e contado que eu tivesse feito um aborto dava raiva na Elisa imaginar tudo isso primeiro o fato de existir esse luto que não tem lugar no mundo que tá em todo canto mas não pode ser
dito nem sentido que é consolado com calma que já já se engravida de novo em vez de sinto muito e segundo o fato das mulheres serem impedidas de decidir o que fazer com o próprio corpo o próprio feto a própria história e esse sentimento de raiva como um grito né de tipo o meu grito foi falar eu vou editar esse filme eu vou fazer esse filme e ele vai ser incômodo não tem como não ser um filme incômodo mais uma vez a decisão da Elisa foi de continuar filmando assim como a decisão da Ani foi
de continuar escrevendo eliminei a única culpa que senti a respeito desse acontecimento que ele tenha acontecido comigo e que eu não tenha feito nada dele eu entendi que tem um monte de mulher que esteve está e estará nesse lugar e eu sei que a gente vê imagens que a gente escutar história de pessoas que já estiveram nos nossos lugares de dor ameniza a nossa sensação de dor então foi tipo assim eu preciso fazer alguma merda com isso que eu tô sentindo e e o que eu posso o que eu me via na condições de fazer
era sonhar que a partir da minha dor outras mulheres se sentiriam acolhidas na própria dor a Elisa decidiu transformar essa história num filme num documentário diferente de todos os que ela já tinha feito porque agora ela ia est atrás da câmera mas na frente também eu senti que eu precisava que se eu não fosse capaz de me expor eu não poderia mais expor ninguém em junho de 2021 quase um ano depois da interrupção da gravidez a Elisa começou a assistir cada uma das muitas filmagens que ela e o João tinham feito naquele período e foi
muito maluco assim porque eh eu tava de fato assistindo a minha história e eu ia buscar editar literalmente a minha história né o meu trauma meu terapeuta ficou muito orgulhoso né falou isso aí vai editar sua história encarei a minha histria eu me encare sofrendo encarei na minha mão encarando era um trabalho de seleção e de edição que aav acostumada a fazer mas com registros da vida alheia com realidades distantes da dela e mais PR frente veio a ideia de trazer outras vozes documentário muito obrigada por receber expli um pouco o projeto para começar pode
podemos a Elisa foi atrás de mulheres e famílias que passaram pelo diagnóstico de incompatibilidade com a vida aqui no Brasil pessoas diferentes com crenças diferentes e que enfrentaram a situação de jeitos diferentes seja por opção ou justamente porque não tiveram opção em geral o filme se cria conflito entre as personagens e nesse filme tem muito conflito mas nunca é entre as personagens é das personagens contra a realidade contra o sistem em todo o processo da edição a gente trabalhou muito para assim não existe um julgamento do que é certo e do que é errado a
Elisa conversou com casais que entraram na justiça para conseguir autorização para um aborto legal conversou com mulheres que levaram a gestação até o fim com pais e mães que quiseram ver os filhos nascerem e ficar junto deles Nem que fosse por um tempinho no hospital e mulheres que tiveram que recorrer ao aborto clandestino para conseguir seguir o caminho que elas acreditavam ser o melhor para elas e PR os fetos que estavam na barriga delas mas essas ficaram de fora do documentário para evitar trazer problemas para elas e cada uma das histórias traz novas camadas sobre
maneiras de pensar a vida e a gravidez sobre violência médica sobre silêncios sobre julgamentos eu decidi interromper a minha gravidez Isabel e Danilo decidiram passar cada segundo com a filha deles no colo e cada um tem que ser respeitado eu acho e a única coisa que não é respeitada é a violência com a qual o estado e com a qual esse corpo médico nos trata eu nunca consegui ir em roda de luto conversar com essas mulheres durante a pesquisa acabou sendo a minha roda de luto porque eu escutava as histórias delas e me assistia nas
histórias delas Em alguns momentos eu dividia a a minha então foi um processo muito de cura para mim e para elas Eu sinto porque muitas também estavam contando pela primeira vez essas histórias o documentário ganhou o nome de incompatível com a vida em alguns momentos as histórias que estão ali andam em paralelo em outros elas se cruzam ou se distanciam ou vazam uma pra outra e o que que vocês fizeram como casal para se fortalecer porque é isso né Eu sinto que ou os casais fortalecem muito ou não seguram a onda juntos né posso posso
ser um pouquinho entrevistadora e perguntar uma coisa a você seu casamento acabou depois disso mas por isso ou já já vinha em vias de cara eu acho eh o que eu sinto é que foi por isso assim porque a gente conversava sobre maternidade né sobre ter filhos há um tempo e a gente engravidou um mês depois do pai dele morrer então ele tava vivendo um luto do pai quando Acho que ele tava ass milando veio a notícia que ele já não ia ser pai e quando passou tipo assim aquela primeira depressão ele falou cara eu
não eu não sei se eu vou querer ser pai e eu não quero destravar mais e eu com 41 anos sabe a Elisa e o João se separaram mais ou menos um ano depois da interrupção da gravidez feliz bichinho mas Eles continuam amigos meu filme nos ajudou muito a construir uma relação muito ah de muito amor de muito respeito entre nós assim em agosto de 2022 a elaa de passar lisb e convidou o João para assistir uma versão preliminar do documentário E aí a gente foi assistir junto o corte né porque eu queria sempre que
ele acompanhasse que ele se sentisse muito confortável em como ele aparece é Muita exposição né enfim eu já tinha visto um milhão de vezes aquele corte então acabei meio o corte tipo E aí que que achou né eu tava pronta PR para ir para esse lugar quase eufórico de também de um medo de Ai meu Deus será que ele gostou de como ele tá no filme Quando eu olho ele tava tipo chorando tava desmontado assim aí eu falei cara calma ele acabou de Reviver isso tudo né Isso foi muito forte porque ele contou como ao
ver os outros homens que estão no filme ele conseguiu eh se entender entender os próprios sentimentos de outra forma não mudou a forma como eu se sentia mas mudou a forma como eu acho que não estava sozinho a sentir isso e isso é muito bonito isso é muito bonito porque eu vejo outros homens a falarem das suas próprias experiências eu percebo ah Afinal isto não não sou só eu eh Há outras outras pessoas que que o sentem assim eh e isto nós homens não é que não estávamos a carregar um feto nem com as hormonas
todas aos saltos n nem enfim portanto só posso imaginar o que é para uma mulher ver este filme uma mulher que tenha passado por algo parecido só consigo [Música] imaginar por um lado a Elisa tava orgulhosa e ansiosa para colocar esse filme no mundo por outro ela tava morrendo de medo Será que eu tô viajando eu tô pegando tipo eu chorando e gritando dentro do chuveiro e tô fazendo isso uma cena de um filme tipo eu vou morrer o filme esse essa imagem vai continuar e essa imagem que eu já teria esquecido ela vai começar
a fazer parte do imaginário imagético de pessoas que nem me conhecem fiquei muito tensa se eu tava viajando né eu tipo para que que eu fiz esse filme ao mesmo tempo eu falou Calma você sabe por que você fez esse filme mas era um diálogo tipo quando o documentário estreou em 2023 essas perguntas finalmente se aquietar na cabeça dela E aí quando o filme acabou veio um silêncio eu vi que as pessoas não se movimentavam quando eu levantei e olhei as pessoas estavam muito emocionadas e tinha como que se fosse um cortejo assim as pessoas
elas foram parando na lateral do cinema e eu fui passando no corredor e eu fui recebendo cada braço quase todas as entrevistadas e entrevistados do filme estavam lá na plateia foi uma coisa muito bonita porque por um lado eu sentia que era o funeral que eu não tive ou era funeral que a maioria daquelas mulheres que estavam ali na tela que a gente não teve que a gente estava tendo esse lugar simbólico né de de despedida então eu recebi Abraços de conforto de sinto muito de eu recebi abraços como diretora e eu dei abraços algumas
pessoas desconhecidas foram falar PR Elisa que sabiam de pessoas próximas que tinham vivido aquilo que agora elas entendiam melhor aquele luto outras pessoas foram falar que elas mesmas tinham passado por histórias parecidas e que nunca tinham contado para [Música] ninguém mais de 50 anos atrás em 71 343 mulheres francesas resolveram contar para alguém contar para todo mundo na verdade que em algum momento da vida delas elas tinham feito um aborto elas assinaram um Manifesto público declarando que elas assim como um milhão de francesas por ano naquela época tinham escolhido interromper uma gravidez as 343 mulheres
logo ganharam um apelido na imprensa Popular as 343 [ __ ] até hoje O Manifesto é conhecido assim mas ele não serviu Só para elas serem escrachadas em praça pública ele serviu para dar um pontapé na agenda Legislativa e ajudou a pavimentar a legalização do aborto na França em 1975 11 anos Depois do aborto da escritora anen nos anos 80 e de novo nos anos 90 dezenas de brasileiras também romperam o silêncio e falaram que elas também tinham tomado essa decisão entre elas tinha quem tivesse recebido um diagnóstico de incompatibilidade com a vida e tinha
quem simplesmente não quisesse ter filho naquele momento muitas vezes essas decisões e Essas mulheres são colocadas como sendo muito diferentes Quem queria ter um filho e não conseguiu e quem não queria ficar grávida e ficou mas todas essas são questões não de moral mas de saúde pública e todas elas sofrem com silêncio seja o silêncio do Medo seja o Sil se pretende caridoso decoroso mas que pode fazer doer ainda mais esse silêncio faz a gente pensar que esse tipo de coisa sempre acontece com o outro mas nunca com quem a gente ama e nunca com
a gente até a realidade vi bater na [Música] porta a Elisa tem 44 anos agora ela não conseguiu engravidar de novo ela aa acha que se ela não tivesse tomado aquela decisão lá atrás de começar aquela espécie de álbum de recordações de continuar apertando o hack mesmo quando a situação virou para um lado que ela não esperava de assistir e editar cenas da vida dela e depois de colocar o filme no mundo que talvez ela não tivesse conseguido processar essa história e que talvez ela não tivesse conseguido encarar aquele Abismo do jeito que ela conseguiu
fazer Essa foi a Bia Guimarães produtora Senor da Rádio novelo o documentário incompatível com a vida tá disponível na plataforma [Música] MB obrigada por escutar mais um episódio do rádio novela apresenta no post desse Episódio no nosso site tem imagem o link do livro da lá no site a gente também tem uma S chamada envie uma pauta caso você queira sugerir uma história pra gente contar aqui no podcast e se você quiser receber um lembrete no seu e-mail toda vez que tiver Episódio novo no ar e de quebra ainda ficar sabendo dos livros filmes e
afins que a nossa equipe anda curtindo aproveita assar Nossa você Episódios do rádio novela apresenta estão disponíveis nos principais aplicativos de áudio você pode seguir a gente no Spotify no Apple podcasts e no Amazon music na deer é só favoritar e também dá para se inscrever no Google podcasts no castbox e no canal da Rádio novelo no YouTube se você for recomendar ou comentar sobre algum episódio nosso nas redes sociais marca a gente o nosso perfil é @ rovelo tanto no Twitter como no Instagram o rádio novelo apresenta é um original da Rádio novelo a
gente tem o apoio da Open society foundations tem Episódio novo toda quinta-feira a direção criativa é da Paula escarpin e da flora tonson devau e a produção executiva É do Guilherme Alpendre a gerência executiva é da Marcela casaca e a gerência de produto é da Juliana yeger nossos produtores Sênior São o vctor Hugo brandal a Evely argenta a Bia Guimarães e a Sara zel as produtoras da nossa equipe são a Bárbara rubira a Natália Silva e a Júlia Matos a checagem desse Episódio foi feita pelo Bruno Lima nesse Episódio a gente usou música original de
Pedro nego e também da Blue dot a mixagem é do pipoca sound o desenvolvimento de produto e audiência é feito pela Bia Ribeiro o design das nossas peças é do Gustavo nascimento e a nossa administrativa e financeira é aain Nogueira obrigada e até a semana que [Música] vem
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