Já houve uma época em que fumar era considerado um ato glamoroso. Grandes atores e atrizes eram ícones de uma era que associava o fumo a um charme irresistível e a um estilo único. O cigarro reinava não apenas nos cinemas, mas também nas campanhas publicitárias.
Comerciais de televisão mostravam pessoas bonitas e felizes fumando em festas sofisticadas, praias ensolaradas e até mesmo em consultas médicas. Os anúncios traziam slogans que prometiam liberdade, virilidade, e saúde! Marcas como Marlboro, com seu icônico “Marlboro Man”, vendiam mais do que cigarros – vendiam um “estilo de vida”.
Mas, como um espelho que reflete uma verdade distorcida, essas campanhas ocultavam uma realidade muito diferente. Enquanto as luzes das câmeras criavam uma ilusão de elegância e charme, os efeitos devastadores do tabagismo começavam a emergir dos diagnósticos médicos. Mas o que aconteceu nos últimos 70 anos pra que a realidade fosse revelada e o cigarro se tornasse um objeto de repúdio por tantas pessoas?
E a indústria de cigarros, quebraram ou continuaram a entrar na mente dos jovens? O tabaco originou-se nas Américas há cerca de 8. 000 anos e era usado por indígenas em rituais.
Os europeus o descobriram em 1492, quando Colombo chegou à São Salvador e seus marinheiros observaram os nativos “bebendo” a fumaça das folhas. Rodrigo de Jerez, da tripulação de Colombo, foi o primeiro europeu a fumar, mas foi preso pela Inquisição, chegando na Espanha, sob a alegação de que “apenas o Diabo poderia soprar fumaça de sua boca e nariz”. Nos séculos seguintes, o uso do tabaco espalhou-se pela Europa, Ásia e África, tornando-se uma mercadoria valiosa e usada também para tratar enxaquecas.
Mas "Os cigarros atingiram o auge de sua popularidade durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. As empresas de tabaco enviaram milhões de maços de cigarros para os soldados nas linhas de frente, criando centenas de milhares de consumidores fiéis e viciados no processo”. O governo distribuía os maços para os soldados durante a guerra, porque isso os ajudava a relaxar e aliviava um pouco do estresse, já que estavam todos passando por muitas dificuldades e privações naquele momento.
Depois do fim das guerras, o consumo do cigarro continuou a aumentar e a indústria seguiu buscando novas formas de aumentar suas vendas. Nessa fase o cinema desempenhou um papel crucial, transformando o hábito de fumar em algo glamouroso e sofisticado. As estrelas de Hollywood nessa época eram frequentemente mostradas na tela com cigarros, criando uma associação entre fumo e sofisticação, que rapidamente capturou o imaginário das pessoas.
A imagem do fumante elegante e rebelde tornou-se icônica no cinema clássico, perpetuando essa ideia. Estrelas como Humphrey Bogart, Greta Garbo, Audrey Hepburn e James Dean, tornaram-se símbolos dessa era, frequentemente retratados com um cigarro ou cigarrilha em mãos, contribuindo pra percepção de que fumar era sinônimo de sofisticação. Filmes como “Bonequinha de Luxo” e “Juventude Transviada” são exemplos emblemáticos de como o cigarro era totalmente ligado à imagem de seus protagonistas.
Segundo o site “o joio e o trigo”: “Na chamada Era de Ouro da sétima arte, final da década de 1920 até meados dos anos 1950, atores e atrizes receberam quantias milionárias das empresas de tabaco para fumar nos filmes”. Já nas décadas de 50 e 60, a indústria do tabaco passou a usar estratégias publicitárias extremamente criativas e polêmicas para promover seus produtos. Uma das mais famosas foi a criação do “homem Marlboro”.
Inicialmente o cigarro Marlboro tinha como principais consumidores o público feminino. Só que, pra ampliar seu mercado e conquistar o público masculino, que consome mais cigarros, a campanha retratava cowboys estilosos e independentes, projetando uma imagem de virilidade que atraiu bastante os homens jovens. O “homem Marlboro” foi desenhado pra ser o arquétipo da masculinidade.
Além disso, campanhas publicitárias mostravam frequentemente a preferência de médicos por marcas específicas de cigarros, como o cigarro Camel, uma estratégia que, hoje, seria considerada absurda. Já os anúncios veiculados durante eventos esportivos de grande audiência, como a Fórmula 1, reforçavam a ideia de que fumar estava associado a uma vida emocionante e cheia de adrenalina. O marketing de “estilo de vida”, que é usado pra criar uma conexão emocional com os consumidores através da associação da marca a um estilo de vida, foi usado incansavelmente pela indústria do tabaco pra aumentar seu crescimento.
[BREVE PAUSA] Até meados da década de 80, fumar era algo tão comum que se podia acender um cigarro em praticamente qualquer lugar – restaurantes, escritórios, e até dentro de um avião. Mas, já no fim dessa década, a prática de fumar em qualquer lugar começou a ser questionada e, eventualmente, até combatida. E como essa transição ocorreu?
O que mudou na consciência da população? Já na década de 70 os malefícios do cigarro começaram a ser alvo de debates nas assembleias mundiais de saúde. E em 1987, foi estabelecido o dia mundial sem tabaco com o intuito de chamar a atenção do mundo pros efeitos nocivos do cigarro na saúde humana.
Estudos começaram a demonstrar a relação de doenças pulmonares com o fumo passivo. De acordo com o site BMJ Journals: “Dois estudos publicados em 1980 mostraram que o fumo passivo expôs significativamente os não fumantes às partículas de tabaco e reduziu sua função pulmonar. ” Alguns países começaram a implementar restrições de fumar em ambientes fechados.
Ainda segundo o site BMJ Journals: “Em 1975, Arizona, Connecticut e Minnesota implementaram as primeiras políticas nos EUA que exigiam que alguns locais públicos fossem livres de fumo. ” Essas políticas foram implementadas porque, em pouco tempo, houve um aumento significativo na conscientização dos efeitos danosos do fumo passivo. E as pesquisas mostram que, de fato, há uma forte correlação entre a inalação da fumaça do cigarro, mesmo que o fumante não seja você, e o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão.
“Quando o fumo passivo contamina o ar, especialmente em espaços fechados, é inalado por todos, expondo tanto fumantes e não fumantes aos seus efeitos nocivos. Ele causa câncer de pulmão em não fumantes e aumenta o risco de doença coronariana. ” Por isso, gradualmente, estabelecimentos como bares e restaurantes passaram a delimitar áreas destinadas à fumantes.
Além disso, muitos países começaram a, simplesmente, proibir as pessoas de fumarem em locais fechados. Aqui no Brasil, políticas destinadas a reduzir o tabagismo também foram implementadas. Em 1986 surgiu o Programa Nacional de Combate ao Fumo, que até hoje lidera campanhas de conscientização e combate ao cigarro.
Em 90, foi instituído o primeiro tributo direcionado exclusivamente aos cigarros, e nesse mesmo ano, o primeiro imposto específico sobre os cigarros entrou em vigor. No ano de 2001, os rótulos de aviso de danos à saúde começaram a ser incluídos nas embalagens de cigarros e nos anúncios impressos. Mas essas advertências visuais se tornaram mais diretas, apresentando imagens reais e chocantes dos danos causados pelo cigarro em 2003.
E, com tudo isso, a redução do número de fumantes no Brasil pôde ser percebida. Em 2022 o Hospital Vera Cruz divulgou: "Segundo o Instituto Nacional de Câncer, órgão vinculado ao Ministério da Saúde, o número de fumantes no Brasil despencou nos últimos anos. Em 1989, 34,8% da população acima de 18 anos era fumante, conforme a Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição.
Esse número caiu para 12,6% em 2009, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde. ” E em 2014, uma medida mais rigorosa e polêmica de combate ao uso do cigarro, que passou a valer no Brasil. A Lei Antifumo proibiu as pessoas de fumarem em ambientes fechados, tanto públicos quanto privados.
A norma que entrou em vigor extinguiu os fumódromos, mas pra ser sincero, quanto a isso eu não vi muita mudança. Em alguns casos o fumante até ganhou um espaço melhor do que o insuportável fumódromo. Muitos gostaram da medida por se tratar de algo positivo, afinal pra quem não gosta de cigarro o cheiro incomoda, e no fim todos acabaram se adaptando de uma maneira ou outra.
Mas o Brasil já se mantém em um lugar de destaque no cenário mundial, em termos de combate aos efeitos do cigarro desde 2015. Porém, dados de 2022 indicam que a prevalência de fumantes entre jovens de 13 a 17 anos era de 6,8%, com um leve aumento em relação a 2015. Sem falar que, durante a pandemia, o aumento do consumo de cigarro por aqui cresceu 34%, segundo dados da Fiocruz, pelos aumentos da ansiedade e do estresse que tomaram conta da sociedade nesse período, e que também são os grandes vilões na hora de tentar largar o cigarro.
Pra muita gente, acender um cigarro é como apertar um botão de alívio imediato, É aquela pausa que parece mágica, uma espécie de válvula de escape que ajuda a manter a sanidade em momentos difíceis. Quando você dá uma tragada em um cigarro, a nicotina chega ao cérebro em cerca de 20 segundos. Isso desencadeia a liberação de substâncias que proporcionam sensações de prazer, bem-estar, relaxamento e uma diminuição da ansiedade.
Esses efeitos prazerosos, que duram um período muito curto, acabam tornando o ato de fumar atraente pra quem está passando por problemas. Mas o peso das campanhas de conscientização sobre os danos do tabaco, o alto custo dos cigarros por causa dos impostos e as limitações de lugares onde se pode fumar tendem a fazer com que grande parte das pessoas que ainda fumam estejam empenhadas em deixar esse hábito pra trás. Só que essa diminuição no número de fumantes tá inclusive criando outro grande problema, uma verdadeira ironia do destino.
No Brasil, o consumo de tabaco diminuiu em 35% desde 2010, conforme relatado pela Organização Mundial da Saúde em 2024. O Brasil é considerado um dos líderes mundiais nesse aspecto, ao lado da Holanda. Mesmo assim, em 2020, o custo direto para o sistema de saúde atribuído ao tabagismo foi estimado em 50,28 bilhões de reais ou 0,7% do nosso PIB, representando um grande fardo para a economia.
Globalmente, o consumo de tabaco também está em declínio, com cerca de 1,25 bilhão de adultos fumantes em 2022, representando uma queda de 1 em cada 5 adultos, comparado a 1 em cada 3 em 2000. A OMS reporta que 150 países estão reduzindo o uso de tabaco, embora ainda haja desafios significativos, como a interferência da indústria do tabaco nas políticas de saúde pública. A queda vertiginosa dessa indústria no Brasil não reflete essa mesma decadência em todos os lugares do mundo.
Na Europa e no Sudeste Asiático, a queda no número de fumantes é bem menor, algo em torno de 26%. Ainda assim, a indústria do cigarro, atualmente, corresponde a apenas 20% do que já foi no passado. No entanto, a experimentação de cigarros eletrônicos tem crescido, especialmente entre os estudantes da rede de ensino privado.
Além disso o consumo de cigarros de palha e narguilé aumentou entre os jovens adultos o que sugere uma mudança nas preferências de consumo dentro do mercado de tabaco A virada do século XX para o XXI trouxe uma nova realidade, as políticas antifumo se tornaram mais rígidas e a sociedade começou a ver o cigarro com novos olhos. O declínio do cigarro era evidente, as imagens de sofisticação foram substituídas por avisos importantes nas embalagens, os anúncios foram banidos e fumar em locais públicos e privados se tornou proibido. Só que enquanto o número de fumantes de cigarros tradicionais caía, uma nova forma de consumir nicotina começou a ganhar força, principalmente entre os jovens: os vapes.
Os cigarros eletrônicos, ou Vapes, surgiram inicialmente como uma alternativa pra ajudar os fumantes a abandonar o cigarro tradicional. Mas a realidade se mostrou irônica e preocupante. Ao invés de serem uma ferramenta exclusiva pra ajudar a enfraquecer a dependência do cigarro, os vapes se tornaram uma moda entre os adolescentes e jovens adultos.
Com sabores atrativos, designs modernos e a percepção equivocada de serem menos prejudiciais à saúde, os Vapes conquistaram uma nova geração de usuários. Os fumantes de pen drive. E as pesquisas mais recentes mostram que o uso de vapes entre jovens está atingindo níveis alarmantes.
No site American Lung Association, “O cirurgião-geral dos EUA, Jerome Adams, emitiu um comunicado sobre a epidemia de cigarros eletrônicos entre os jovens. Isso foi em resposta ao aumento surpreendente do uso de cigarros eletrônicos entre os jovens - de 2017 a 2018. ” Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, houve um aumento significativo no uso de cigarros eletrônicos entre estudantes do ensino médio e fundamental nos últimos anos.
Isso se reflete também em outros países, incluindo o Brasil, onde o uso do vape por adolescentes cresce de forma preocupante, tendo crescido 4 vezes entre 2018 e 2022. Essa ironia, onde os esforços pra reduzir o tabagismo tradicional acabaram causando um aumento no uso dos cigarros eletrônicos, levanta questões importantes. Primeiro que como o vape não tem um cheiro tão forte e pesado como o de cigarro, eu mesmo vejo muitas pessoas em bares e restaurantes fumando meio escondido.
E, segundo o Ministério da Saúde, o fumante passivo de vape também sofre consequências, porém, por mais que a fumaça não seja tão densa e o cheiro tão forte, o uso dele dentro dos estabelecimentos meio que passa despercebido. Enquanto os mais velhos ainda lutam pra se livrar do vício do cigarro, a geração mais jovem está sendo seduzida por um novo formato de nicotina, muitas vezes sem saber dos riscos envolvidos. Sobre isso, a Organização Pan-Americana de Saúde divulgou que “embora seus efeitos de saúde a longo prazo não sejam totalmente conhecidos, já se sabe que eles liberam substâncias tóxicas que são cancerígenas ou aumentam o risco de doenças cardíacas e pulmonares”.
Ou seja, as estrelas de cinema dos anos 50 foram substituídos por funkeiros e influenciadores fumando seus pen drives nas redes sociais, criando toda uma legião de novos viciados. O ciclo se repete, então o que é preciso pra acabar com essa nova onda? Começar tudo de novo e repetir o que já foi feito com o cigarro nos anos 90 e 2000?
Deixa aqui nos comentários a tua opinião sobre isso. Agora, se quiser entender o que eu chamo de Algoritmo Humano e como você pode usá-lo pra levar um canal no YouTube de 0 a 100 mil inscritos, confere uma aula grátis no primeiro link da descrição, ou apontando a câmera do seu celular pro QR code que tá na tela antes que essa aula saia do ar. E pra entender melhor sobre toooda essa história de vape e fumar pen drive, os verdadeiros malefícios que isso vem causando inclusive as crianças, confere esse vídeo aqui que tá na tela.
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