a Europa Está cansada de tanto turista e diversos países estão tomando medidas para frear o chamado over turismo turismo de massa até locais em que a economia depende diretamente do setor turístico Estão revoltados com as consequências Indiretas do Turismo de massa você pode estar pensando ah os residentes estão só incomodados com aglomerações em diversos pontos das cidades onde moram Talvez algumas pessoas até pem assim mesmo mas o que tem gerado muitos protestos em cidades europeias vai muito além disso como encontrar um modelo de turismo que não esgote os limites de uma cidade está no ar
o DW revista o podcast semanal da redação brasileira da DW com sede em Bon na Alemanha eu sou Fernanda zolini e no episódio de hoje a gente vai falar sobre as consequências do Turismo de de massa o que algumas cidades europeias têm feito para frear o que alguns consideram como invasão de turistas e quais os caminhos para um turismo mais sustentável para todos eu converso com Bruno Manhães turismólogo e professor especialista em filosofia com mestrado em turismo internacional na universidade de las Palmas de Gran canária na [Música] Espanha imagine um local com cerca de dois
milhões de habitantes e que este local tenha recebido 16 milhões de turistas em um ano esse lugar existe eu tô falando das Ilhas Canárias um arquipélago espanhol localizado próximo à costa Africana e os dados são de 2023 ano no qual esses mesmos 16 milhões de turistas gastaram no total 20 bilhões de euros as Ilhas Canárias o turismo é responsável por quase 40% da produção Econômica total e gera muitos empregos mas é também lá onde moradores têm saído às ruas para protestar contra o turismo de massa eles afirmam que nada da riqueza permanece no local apenas
as consequências negativas entre elas escassez de moradias aluguéis impagáveis baixos salários aumento do lixo e da poluição falta de água Bruno primeiro Obrigada por participar do DW revista como você profissional da área do Turismo como começaria essa conversa sobre algo que a gente consome tanto mas muitas vezes sem pensar nas consequências pra população local bom primeiro Eu que agradeço viu o convite aí a e a possibilidade de participar turismo de forma organizada ele é muito novo ele nasce depois da segunda revolução da primeira revolução industrial então a gente ainda tá aprendendo a lidar com a
indústria né querendo ou não o deslocamento é muito antigo é ancestral mas a indústria que dá conta desse deslocamento ele é muito recente por um viés o turismo é um fenômeno social Mas por outro viés ele também é uma indústria né uma indústria econômica e que gera impactos então é esse o ponto de análise eu diria a gente não pode nem demonizar o turismo e nem endeusar o turismo porque se numa ponta ele tá conectado com a nossa razão de ser na outra ponta a gente teve que pensar numa indústria que deve desse cabo né
de de desse conta desses deslocamentos pelo mundo na França eles divulgaram eh eu tava lendo aqui no Lemon que eles colocaram aqui eh da Aliança Frances que eles têm né de turismo colocaram aqui ó reunimos as empresas do setor para melhor regular os fluxos turísticos porque as autoridades locais enfrentam um aumento enorme né dos números de visitantes E aí eles colocaram assim que o próprio setor apontou para uma conscientização tardia desse turismo excessivo Então demorou muito para entender que o excesso de gente nos lugares pode ter prejuízos permanentes E aí a França se diz condenada
e eu achei essa palavra fortíssima ao over tourism ou seja ele a gente tá pagando um preço principalmente a Europa né de anos e anos e anos de divulgação massiva de mídia e hoje tá no Imaginário coletivo que viajar pra Europa é a melhor coisa do mundo então eu diria que é uma consequência desse hiperconsumo e dessa ansiedade de ganhar dinheiro com turismo e acredito que é aí que entre o turismo de massa como você definiria esse termo turismo de massa na verdade ele é caracterizado pela falta de diferenciação do produto turístico em si essencialmente
turismo de massa ele é um produto feito fabricado em série basicamente então é fordista mesmo é tudo igual tudo altamente padronizado não tem diferenciação e ele atende a o nível intermediário da sociedade então que bom que ele existe porque a gente populariza as viagens e como o viajar é uma coisa muito Nossa aquele que não podia viajar hoje Pode viajar né então turismo de massa garante muita coisa boa também garante renda fluxo ocupação na baixa temporada então ele é bom de né assim de uma perspectiva Mas é claro que por outra ele vai gerar esses
impactos que você comentou para mim o pior deles é a gentrificação né que esse é um termo que a gente usa muito que é os locais né os residentes precisam abandonar as áreas centrais e ocupar as áreas periféricas por conta do bum imobiliário da especulação imobiliária eh ele vai gerar outros problemas sociais por exemplo que de drogas a questão de prostituição e os baixos salários a degradação do meio ambiente Então imagina que turismo de massa a gente tá falando de milhões de pessoas mas aí se eu reduzo eu vou elitizar o turismo então é para
poucos ou é para todo mundo qual é a fórmula intermediária disso tudo né apesar de turismo ser uma atividade fundamental para diversas cidades há a necessidade de regras antes da gente partir para possíveis soluções eu que queria explicar um pouco a questão da crise Imobiliária o que acontece é que diversos investidores preferem colocar casas e apartamentos disponíveis apenas para aluguéis de temporada em plataformas virtuais como o airbnb também é muito frequente em Ilhas europeias estrangeiros com poder aquisitivo com uma segunda Residência no local aí o que acontece a oferta de imóveis disponíveis para residentes diminui
drasticamente e como a oferta é baixa e a procura é alta os aluguéis aumentam e algumas pessoas simplesmente não conseguem encontrar um lugar para morar que se encaixe na sua renda e aí vem a questão da renda no caso das Ilhas Canárias por exemplo os moradores Geralmente só conseguem empregos de baixa qualificação em hotéis e complexos de apartamentos o desemprego é alto por lá de acordo com o sindicato comissões obreiras um em cada três habitantes das ilhas está em risco de pobreza em mallorca que faz parte das ilhas Baleares também na Espanha os preços dos
aluguéis convencionais vem subindo vertiginosamente em Palma capital de mallorca praticamente não existe ofertas por menos de 900€ e isso com o salário médio bruto de 1.600 € a regulamentação desse setor dos aluguéis de temporada é assunto em outros países também Portugal Itália Alemanha Holanda em Amsterdã por exemplo se o proprietário de uma casa quiser alugar a sua residência para temporada é preciso de uma autorização da cidade e ela só pode ser ada para terceiros por no máximo 30 dias por ano para mais que isso eu preciso de outra autorização Amsterdam Aliás já em 2018 retirou
o famoso letreiro Aim Amsterdam da frente do hikes Museum por atrair muita gente para um espaço limitado a cidade holandesa é um caso à parte porque também tenta coibir o chamado turismo de farra de festa agora quem consumir bebida alcoólica em determinados espaços públicos ou fumar maconha no bairro da luz vermelha pode levar multa Além disso uma lei determinou que bordéis de vitrines bares e pubs do famoso bairro devem fechar 2 horas mais cedo Barcelona dubrovnik e Veneza por exemplo estipularam um limite Diário de navios que podem atracar no porto também em Veneza há uma
taxa de entrada de 5€ para turistas que não vão pernoitar na cidade na ilha italiana de prótio que tem apenas 4 km qu de área turistas não podem mais entrar com seus próprios veículos Bruno exemplos não faltam né nem dá para falar todos aqui mas medidas como essas não significam que as cidades europeias desejem que nenhum turista Coloque os pés nelas né É na verdade assim essas medidas elas são meio drásticas e elas são meio emergenciais mas elas são paliativas né em última instância a gente vai começar a taxar algumas coisas que eram gratuitas limitar
a quantidade de pessoas enfim você só pode ficar no mínimo de cinco eh per noites né ou cinco eh di áreas aqui então existem essas medidas mas elas não são corretivas né Elas são paliativas e tem até alguns lugares aí que estão proibindo até selfie já né porque as pessoas demoram muito tempo até encontrar o ângulo perfeito e aí atrasa toda a fila enfim parece um um absurdo né mas isso existe porque você multiplica isso por 10 milhões de pessoas a gente tem um um caos um colapso na verdade né a gente chama isso de
população flutuante né se são 2 milhões de habitantes com 20 milhões ou tr 1 milhões de pessoas chegando as os residentes só conseguem enxergar os pontos negativos do Turismo e é natural que eles rechem né é natural que eles não queiram mais porque os benefícios ficaram menores os prejuízos estão maiores que os benefícios então eles não vêm mais vantagem o problema na verdade não tá no turismo né exatamente mas tá nessa nesse desrespeito que a gente tem em relação à capacidade de carga que já deve ter sido desenhada para esses destinos né capacidade de carga
nada mais é do que a quantidade de pessoas que determinado destino turístico pode receber sem que haja prejuízo permanente tanto né na Esfera ecológica na Esfera cultural na Esfera Econômica então quando se trata de uma ilha por exemplo eu acho que essa capacidade de carga ela é medida com mais facilidade Então os problemas ficam mais evidentes porque o território é menor e ele é mais limitado e quando se trata por exemplo de uma Espanha Continental ou de um enfim do continente a gente pede um pouco dessa conta de quem entra e quem sai é preciso
haver uma uma mudança dos dois lados né Bruno tanto na indústria do Turismo em si quanto na forma como nós Viajantes fazemos turismo tem a ver com que você citou no começo sobre o hiperconsumo também o hiperconsumo é esse ato de consumir desenfreadamente ou desesperadamente eh compulsivamente eu diria né de forma exagerada porque a gente entende que a nossa nosso encontro com a felicidade ele vai se dar por meio da aquisição desses objetos ou até por meio da aquisição desses serviços e o turismo é uma prestação de serviço então existe nesse imaginário a ideia de
que eu vou encontrar minha felicidade num outro lugar que não é o meu de residência né e a gente hiper consome vorazmente e aí cria-se essa ideia de que o turismo é predatório porque parece que pelo ato de consumir algo você já tá ali na crista da onda e na verdade você tem suas responsabilidades né quais são essas responsabilidades do turista enquanto consumidor de turismo né é uma mudança de comportamento que a gente precisa quem quer fazer turismo tradicional normalmente é um marinheiro de primeira viagem que ele tem aquela sensação de que ele nunca mais
vai voltar e de que ele tem que aproveitar o máximo Então ele tá muito na verticalidade da perdão na horizontalidade da coisa então Ele quer ficar no Raso dos lugares mas visitar o maior número de destinos possíveis que é isso que as redes sociais trazem né você só tem 15 dias o mais importante é tirar selfie e depois enfim você vai explorar ainda mais aquilo que já é explorado e eles não pensam na profundidade da experiência né na troca é simplesmente no registro na imagem e no status né esse é um um estilo de viajar
antigo mas conforme a gente vai ganhando experiência de viagem e vai ficando Talvez um Pouco Mais maduro no viajar a gente prefere mais a verticalidade Então são menos lugares mas com mais profundidade a gente prefere um mergulho mais Genuíno mas para mergulhar realmente né com com profundidade nesses lugares a gente precisa Inovar eu partiria dessa perspectiva Educacional para educar tanto o futuro profissional como o futuro turista né a viajar com direito e deveres mas também o trade né que precisa pensar um pouco menos no econômico e entender que o Ecológico o social e o cultural
também precisam ser preservados porque se ele perde o principal atrativo ele perdeu o negócio então não adianta explorar até O esgotamento porque isso não é inteligente então a gente tem por exemplo turismo criativo que é uma modalidade de turismo que vai buscar nas áreas mais periféricas e menos tradicionais onde não existem museus e grandes edificações construídas talentos locais por exemplo né que a gente pode chamar de anfitriões Então essas pessoas que trabalham nas indústrias criativas elas podem receber esses visitantes nas áreas não centrais para poder redistribuir melhor esse fluxo Né desde que essas pessoas também
se entendam como anfitriãs protetoras da própria cultura e que elas podem a partir da qualificação da mão de obra atender demanda turística então turismo criativo seria uma possibilidade turismo de experiência é uma outra possibilidade né quando você troca de Fato né uma troca genuína com as pessoas atividade simples na verdade né atividades até corriqueiras eh que fogem um pouco desse turismo estereotipado então a resposta estaria no planejamento turístico adequado e na qualificação da mão deobra porque a gente pode encontrar um meio do caminho a gente precisa diversificar a oferta turística e fugir dos cartões postais
usar tecnologia de repente para potencializar a sua experiência turística porque falando assim parece que só o residente é prejudicado mas o turista também tem uma experiência ruim né você ficar horas no trânsito acaba luz acaba energia acaba água então pensar na experiência psicológica do Viajante Porque tirar férias das suas férias não é turismo de verdade né a gente tá fazendo turismo para se engrandecer né para melhorar para conhecer o outro para deixar um pouco de você lá e carregar um pouco do outro consigo eu agradeço ao Bruno Manhães por essa muito pertinente e atual sobre
o turismo e gostaria de saber a sua opinião você concorda que as cidades deveriam tomar medidas contra o turismo de massa Dee seu coment n redes sociis da DW Brasil ou na enete do DW revista no Spotify a edição desta sem do DW revista fica por aqui o roteiro apresentação e edição técnica são minhas Fernanda zolini revisão final de Leila obrigada por acompanhar a gente e até a semana que vem h