Comentar é o livro do Eclesiástico, porque amanhã, quarta-feira de cinzas, nós já começamos o tempo da Quaresma, que tem toda uma outra construção de textos bíblicos. Mas esse texto do Eclesiástico tem uma dupla divisão. Em primeiro lugar, ele mostra a importância de viver segundo a vontade de Deus como algo muito superior aos sacrifícios ou a qualquer coisa que nós possamos apresentar a Deus.
Aquela que guarda a lei faz muitas oferendas; aquele que cumpre os preceitos oferece um sacrifício salutar; aquele que mostra ação de graças oferece flor de farinha; e o que pratica beneficência oferece um sacrifício de louvor. O que agrada ao Senhor é afastar-se do mal, e o que o aplaca é deixar a injustiça. Essa primeira parte, o culto a Deus na nossa mudança interior, é algo que é característico das Sagradas Escrituras.
Ou seja, não basta apresentar a Deus coisas, dar a Deus objetos ou exterioridades, ou tentar agradar o Senhor com um culto meramente; se eu não transformar o meu coração ou se eu não deixar Deus transformar meu coração, melhor dizendo, eu vou pro inferno. Isso não tem valor nenhum no que tange à minha salvação pessoal. Um pouco mais abaixo, ele diz: "Deus é um Deus [música] retribuído Sete Vezes Mais.
Não tentes corrompê-lo com presentes, ele não os aceita nem com fés em sacrifício injusto; porque o Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas. " Ou seja, se nós tentássemos viver a religião cristã como aqueles cultos antigos em que os homens cultuavam os deuses, mas sem a necessidade de se converterem, sem a necessidade de se transformarem, sem uma exigência moral concreta, Deus não aceitaria o nosso sacrifício. Ele não se deixa subornar, ele vê o coração.
Essa é uma verdadeira novidade na história das religiões, porque aqueles cultos aos vários deuses da antiguidade, que de certo modo perduram até hoje nas religiões de tipo animista etc. , focavam tudo num ritual, num sacrifício, numa oferenda, numa entrega. Mas a vida não importa tanto; o que importa é o que você dá pra [música] divindade.
Então, vem a Divina Revelação e diz: "Não, o sacrifício exterior nada vale sem o sacrifício interior. Não adianta sacrificar a Deus um objeto se eu não sacrifico a minha vontade. Se eu não me molhar diamante pela obediência à sua palavra.
" Ora, só que isso não significa que nós não devamos fazer a Deus ofertas e sacrifícios. O sacrifício exterior requer o sacrifício interior, mas o sacrifício interior não é verdadeiro sacrifício se ele não se manifesta também exteriormente, e isso vale para todas as virtudes. Por exemplo, no que diz respeito à fé, São Paulo diz: "Se confessares com o teu coração que Jesus é o Senhor e com a tua boca confessares, se crês com o seu coração que Jesus é o Senhor e com tua boca confessares que ele ressuscitou dos mortos, será salvo.
" Ou seja, é necessário o ato exterior também. E aí nós lemos a continuação: "Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, porque tudo isso se faz em virtude do sacrifício do justo. " Enriqueça o altar, o seu perfume sobe ao Altíssimo.
A oblação do justo é aceitável e sua memória não cairá no esquecimento. Honra ao Senhor com coração generoso e não regate as primícias que apresentares. Ou seja, pare de pichinchar!
Entrega todas as tuas ofertas com semblante sereno e com alegria. Consagra o teu dízimo, dá a Deus segundo a doação que ele te fez e com generosidade, conforme as tuas posses, pois ele é um Deus retribuído. Esses versículos são importantes para que nós nos lembremos, como diz São Tomás de Aquino no seu comentário sobre a virtude da religião na Suma Teológica, que os dízimos e as ofertas são atos de culto.
Os dízimos e as ofertas apresentam a Deus como atos de adoração. Ou seja, eu apresento o meu dízimo a Deus porque eu reconheço que ele é o meu bem-feitor, o meu corpo, a minha alma, as minhas forças, as minhas potências; mas, sobretudo, ele me deu a sua palavra, ele me deu seus sacramentos, ele me deu a sua graça, coisas que eu recebo na igreja local, que é onde eu recebo a palavra que me alimenta, é onde eu recebo sacramentos que me sustentam, é onde a graça de Deus é compartilhada conosco. Ora, a resposta que nós damos à dádiva espiritual que Deus nos dá é justamente abrindo o nosso coração e as nossas mãos e entregando ao Senhor os nossos dízimos e ofertas como atos de homenagem a ele, de culto a ele.
Ou seja, quando eu coloco uma oferta no ofertório, eu não estou simplesmente dando uma esmola, tirando umas moedas do bolso e jogando ali. Não! Aquilo tem que ser a entrega do meu ser, tem que estar acompanhado de um verdadeiro sentido de oblação da nossa alma.
A mesma coisa com os dízimos. Quando São Tomás fala dos dízimos, ele diz o seguinte: no Velho Testamento, estava ordenado que os judeus deveriam dar 10% dos seus ganhos ao templo, como aparece no profeta Malaquias. Ele diz que, no Novo Testamento, como nós recebemos muito mais de Deus, nós deveríamos ser ainda mais generosos, sem medida.
Vejam que lição para nossa mesquinhez! O quanto nós temos que aprender a ofertar e a dizimar como um ato de fé. Eu estou plantando as minhas sementes na obra de Deus.
Algumas pessoas dizem assim: "Eu posso dar os meus dízimos e as minhas ofertas para uma instituição qualquer, para uma campanha de devotos da televisão, etc. " Ora, aonde você recebe os sacramentos e aonde você recebe a pregação e o ensino? É na sua igreja local.
Então, é com ela que você tem que contribuir. Se Deus te deu mais recursos, em que você possa contribuir mais ainda com outras igrejas, louvado seja Deus! Com outras obras de misericórdia, louvado seja Deus!
Mas. . .
Você não pode sonegar o seu culto ao Senhor, que é quando, [Música], você toma aquilo que o Senhor lhe deu e você lhe devolve com gratidão, com reconhecimento, com o espírito cheio de alegria. É assim que o cristão lida com dízimo, lida com ofertas. Ele entrega justamente porque ele recebe, e ele entrega com um ato de culto, com uma consagração.
O texto diz: "Consagra o teu dízimo. " Consagra! Quando você dá o seu dízimo, quando você devolve o seu dízimo, você está consagrando os seus rendimentos; ou seja, não é um ato qualquer.
Nós, católicos, às vezes somos muito negligentes em relação a isso e, lamentavelmente, nós temos uma atitude muito mesquinha em que nós tratamos Deus como se fosse um mendigo. Nós Lhe damos apenas as sobras. A melhor parte é para nós, mas isso também porque, graças a Deus, a nossa igreja não é um mercado, e o sacerdote não está aqui fazendo um leilão: "Quem dá mil?
Quem dá quinhentos? Quem dá trezentos? " Quem é que compra?
Isso não há leilão dentro das nossas igrejas. Espero em Deus que não haja, né? O mundo é muito grande, mas a gente espera que não exista isso.
Todavia, isso não pode ser uma ocasião em que nós deixemos de servir a Deus com os nossos bens. Queridos irmãos, sejamos generosos! A igreja necessita dos cristãos, necessita dos seus filhos.
Se essa oferta exterior for feita com um verdadeiro espírito de oblação, ela também será fonte de graças para todos nós, pois, como diz aqui a Palavra, Deus retribui sete vezes mais. Esses sete vezes mais não significam que você vai ficar rico, mas significam que nada lhe faltará, porque o Senhor é o seu Provedor. Que nós tenhamos generosidade, mas, sobretudo, que nós entendamos que nada disso é uma coisa meramente humana, mas é um culto com o qual nós engrandecemos, adoramos, reconhecemos e enaltecemos o nosso Deus.