[Música] amigos Este é mais um programa do projeto perfil no dia 16 de Maio de 88 nesta série que iniciamos a pouco estamos desenhando o perfil do pensamento negro brasileiro hoje vamos ouvir sobre a vida e sobre as lutas de uma das mais importantes militantes do movimento negro desse país a antropóloga professora escritora lélia González estamos aqui em sua casa em companhia do nosso querido amigo Januário Garcia e da Ana Bia eu como ex aluno da dona lélia também da primeira geração de alunos Desde o tempo em que ela lecionava filosofia no colégio de aplicação
da então Universidade do Estado da Guanabara tivemos então um contato em que nós começamos a viver e a ver este mundo e este país ambos muito jovens porque ela é aquela época estava se formando no curso da Universidade do Estado da Guanabara a partir daí fomos trilhando os nossos caminhos e felizmente continuando as nossas lutas coisa que fez com que pudéssemos hoje estar aqui juntos para falarmos a respeito disto deste país deste mundo e fundamentalmente da luta do negro lélia uma parte é a única prática que tem esse programa é a seguinte a primeira pergunta
não é uma pergunta você dá aí para o pessoal início da tua vida infância primeiros estudos irmãos etc e depois a pergunta as perguntas correm frouxas a vontade dos entrevistadores e a vontade da entrevistada com a palavra lélia bom eu nasci em Minas Gerais fui a última a penúltimo de uma família de 18 filhos mas na verdade eu só o conjunto de irmãos né que eu conheci nós éramos 13 é minha mãe Segura que me marcou profundamente era uma índia analfabeta mas que se identificava como Negra meu pai velho Ferroviário jesuísca que deixou Então a
tradição na família né de nós nos voltarmos tempo para as causas né os trabalhadores evidentemente porque nós vivemos isso na prática porque o romance familiar né usando uma linguagem bacteriana quer dizer romance é familiar que eu ouvi né Sempre colocava o seguinte né terminar da escola primário malandro Vamos trabalhar né porque a família é grande e a gente precisa sobreviver e nesse contexto Então eu fui a única que realmente é ultrapassei a escola primária agora estou correndo evidentemente em função de um outro um outro fato dentro da família me recordo ainda era muito pequena é
em Belo Horizonte os meus irmãos adultos né jogavam futebol e tal e um deles é que jogava no Atlético Mineiro foi convidado foi trazido para o Flamengo foi jogado no Flamengo e na medida em que ele se deu bem então ele chamou ele trouxe a família toda para cá e ela já é de Almeida e foi uma pessoa também que me marcou profundamente também em termos da minha própria formação é porque isso depois se eu fui saber depois fazendo análise etc que eu fui dos circuitos Ligando Os circuitos Na verdade o meu pai simbólico foi
o Jaime né porque veja os meus companheiros de Infância né além do meu irmão mais novo era um sobrinho né e os meus sobrinhos tinham pais e mães e o meu pai já era cabelos brancos etc era bem mais velho que a minha mãe e a minha mãe não era bastante jovem com relação a ele e não é mãe né também importante dizer isso mas eu inconscientemente eu escolhi dentre os meus irmãos mais velhas também mais velhos aquela figura que seria efetivamente o meu pai e foi o Jaime quer dizer e eu percebi que no
interior da família eu fiz realmente o mesmo percurso que ele fez mas ele foi tão modelo para mim foi a figura tão importante né que me marcou tão profundamente que eu acabei reproduzindo o percurso dele família porque ele ultrapassou a chamada barreira da cor via futebol que havia comum quer ver a que havia permitido dentro da sociedade brasileira né quer dizer para o negro é sair dentro daquele estado de proletário né em que a maioria vive ele tem ele tem o caminho do futebol ou da música compositor Patati Patatá isso daí o pessoal permite claro
que o meu caminho foi via escola né os livros eram livros emprestados pelas colegas então ia estudar na casa das colegas etc né enfim até chegar a universidade eu fiz a escola primária primeiro na Manoel Cícero ali na Praça Santos Dumont É porque quando nós viemos o Jaime alugou uma casa ali no Leblon uma vila que hoje não existe mais e depois ele mandou construir uma casa no subúrbio de Ricardo Albuquerque foi onde eu terminei meu curso primário e depois o ginásio eu fiz na na rivadávia Correia e o científico no Pedro Segundo E então
entrei para UERJ no curso de História né que o primeiro fiz história e depois eu fiz filosofia Mas alguma coisa Ou começou a se dar conta dos problemas que vivem ainda hoje os teus irmãos é excelente a tua pergunta Antônio Carlos pelo seguinte porque é de um modo geral né quando a gente via estudo havia qualquer coisa ultrapassa esta esse cinturão né de força né que prende a comunidade Negra né nos nas camadas mais oprimidas e exploradas da sociedade ocorre um fenômeno muito sério e que caracteriza muito bem o racismo que que perpassa a chamada
América Latina não gosta desse nome de América Latina que eu acho que a gente é muito mais outra coisa do que Latina a gelatina que fala português fala espanhol então né Mas as nossas culturas aqui na chamada América Latina não tem muito a ver com Portugal e Espanha no certo sentido tem mais outros não mas enfim o que você percebe é a chamada ideologia do branqueamento né que é um que é uma das formas mais sofisticadas do racismo Ai meu Deus o racismo sexual não tem a sutileza do racismo latino-americano Esse é muito mais justamente
em função ai meu ver da experiência histórica aí você tem que buscar uma coisa lá para trás é em termos do próprio surgimento de Portugal e Espanha enquanto países modernos né a gente sabe que desde o século precisamente 711 né descer os mouros invadem a península ibérica né e ocupa e ocupam oficialmente Até 1.492 quando cai o reino de Granada e uma das coisas que a história esconde história oficial não diz né é que Justamente a grande luta da reconquista ou seja dos invadidos lutando contra Os Invasores a história oficial conta que foi uma luta
de caráter religioso porque Os Invasores eram muçulmanos mas na verdade essa luta ela tem um outro caráter também ela tem um caráter racial porque os mouros que invadem a península ibérica em 711 eram em sua maioria negros a maioria das tropas eras era constituída por mouros havia apenas 300 árabes né e inclusive as duas últimas grandes dinastias né Mouras na Espanha a dos Alvorada e a dos alunos vieram da África ocidental e ela ficou ocidental todo mundo sabe que é mesmo e a meu ver quer dizer Portugal e Espanha que se constituíram né enquanto países
independentes etc com as suas características específicas surgem no decorrer dessa luta contra os mouros né E aqui e tiveram uma experiência muito longa No que diz respeito às Relações raciais tá muito mais que a Inglaterra do que qualquer coisa embora os mouros tinham chegado por lá também né porque quando você pega nomes como Mori Moraes entre nós né Morales Mauro tudo isso quer dizer moro né a gente sabe disso né Sem falar das Profundas influências que eles tiveram Mas de qualquer forma Portugal e Espanha se estabelecem Como é sociedade profundamente hierarquicas e estratificadas racialmente quer
dizer as sociedades é suas herdeiras aqui do lado de cá no hemisfério americano ocidental vão reproduzir este modo de articulação das relações sociais Então não é só no Brasil mas você vai ver isso em qualquer país da chamada América Latina você vai ter um contínuo de cor as pessoas são classificadas pela cor que vai desde o preto o preto preto no caso do Brasil um preto preto é o branco passando por milhares de denominações que de certo da forma pontariam para uma subida na escala social a gente vai ver isso a Colômbia do Panamá no
peru na Bolívia e fora a mesma coisa Quer dizer então a própria hierarquia racial é sustenta o grupo branco como grupo dominante quer dizer eu tô falando no sentido é cultural mesmo né e o que se irradia a partir daí evidentemente o grupo branco como sendo a classe dominante ele ele detém os meios de comunicação ele tem todos os aparelhos ideológicos né é possíveis e passa para os grupos dominados né que são racialmente diferentes culturalmente etnicamente distintos né passa a sua própria ideologia que é da afirmação de um eurocentrismo e a afirmação da superioridade da
raça branca com relação a qualquer outra no caso da América Latina fundamentalmente com relação a índios e negros e e quem acende nessa escala Como foi o meu caso passa por um processo de lavagem cerebral né em que você vai esquecendo as suas origens tá até o momento em que a vida te dá uma porrada na cara aí você acorda e vê pera aí Mas a gente sempre sabe né depois depois de estudar psicanálise depois de fazer parte ter sido balaqueliano assim de quatro postado a gente sabe E o Lacan diz né que o próprio
o educando o educando perdão o analisando ele quem sabe do seu problema o analista só ajuda a pontuar então acontece o seguinte no meu caso específico eu passei por um processo de branqueamento muito grande na medida em quanto na escola primária não enquanto na escola secundária não quer dizer na no ginásio né questão estudei no ginásio público né havia muitas meninas negras juntos nessa época era uma escola feminina muitas meninas negras mas quando eu já chego no Pedro II a coisa mudou de figura né que é um fenômeno que se repete até hoje na sociedade
brasileira que a gente sabe que as crianças negras né Elas não aguentam esse sistema educacional que tá aí né tanto por razões econômicas por razões Ah agora às vezes econômicos nessa terra atraente né porque até merenda não sei o que etc mas do ponto de vista da da filosofia da política educacional e das práticas educacionais não dá para aguentar não porque o processo é sempre de de massacre né e destilamento da identidade e eu passei por Isso quer dizer quando eu cheguei a universidade né eu já tava enfraquecida já tava embranquecida quer dizer era uma
jabuticaba assim de quatro costas mas no movimento negro a gente chama de jabuticaba ou Queria olhar o lugar pretinho por fora branco por dentro mais um caroço que não dá para mulher quer dizer e quando eu cheguei na universidade foi mais terrível ainda né eu era uma ilha Negra cercada de brancos por todos os lados né você imagina né mas de qualquer forma e a coisa tão séria essa ideologia do branqueamento é tão sério eu sei porque vai vivenciar profundamente que eu cheguei um ponto que eu não gostava de música A Popular samba essas coisas
nada comigo gostava de música aí no dia chamada música do dia né e a música clássica dos europeus como nós temos a nossa música clássica também mas negros temos a nossa música clássica né os europeus querem pôr a música clássica deles como você anda mal dá licença eu gosto muito mas nós também temos uma música clássica Mas de qualquer forma eu vim inclusive isso através da análise que a minha escolha da filosofia tinha a ver com esse branqueamento porque filosofia É o quê É o supra-sumo do pensamento ocidental né depois eu fui descobrir que a
filosofia não é o supressor do pensamento ocidental mas que os filósofos que os filósofos gregos né a beberam-se sem dizer a fonte na em Todo pensamento filosófico egípcio que é medo às vezes eu fui saber muito pouco tempo voar esse no outro dia tava falando esse respeito sim e é importante a gente constatar isso porque Inclusive a minha pesquisa vem desenvolvendo nesse sentido e resgatar essa essa história nossa e você constata então quer dizer aqueles eles gregos que eu achava tão divinos e maravilhosos homens né estavam acima do bem do mal por causa do seu
saber quer dizer a minha escolha da filosofia passou pelo branqueamento sem sombra de dúvida hoje eu não tenho dúvida A esse respeito mas de qualquer forma ela foi importante né eu tive a oportunidade de alunos com você né aquela turma toda né e bom e foi justamente eu era muito bom aluno etc e tal enfim né e acabei sendo convidada para lecionar na universidade mas foi aí nesse momento e você conheceu né é quando é eu acabei me casando como homem branco daí o violão González e foi justamente esse casamento é que foi a porrada
que eu levei no sentido de voltar né A minha própria comunidade e de me dedicar a ela de Enfim estava casando você sabe da minha história com Luiz Carlos é muito difícil para mim ainda hoje falar sobre isso mas de qualquer forma foi ele teve um papel muito importante porque no momento veja só esse é um dos aspectos fundamentais também com relação a mulher negra Neste País quando nós nos casamos ele estava brigado com a família etc e nos casamos lá em casa na segunda-feira aquela bagunça de diversidade o juiz que nos casou era pai
de um colega enfim aquela Zorra né aquela coisa gostosa né e enfim e eu que fiz com que ele retornasse as boas relações com a família O interessante é que eles me trataram muito bem de início porque eles pensavam que nós não estávamos casados né que eu era era um caso né E sempre aquela velha coisa que pinta na cabeça né dos racistas né desse país né das famílias racistas desse país mas isso aí é um caso aí coisa de mocidade amanhã ele se casa com uma moça de boa família e nessa linguagem é uma
das coisas fundamentais ao meu ver é o resgate dessa linguagem racista né que perpassa né inclusive as falas mais progressistas né quando ninguém fala nos tempos negros da ditadura Mas você tá vendo que é uma linguagem racista Ai ninguém quer ter diversão mas na verdade é racismo Mas enfim denegrir a imagem quer dizer só essas coisas que você vai resgatar tanto você tá vendo né enfim judiar judiar que tem que desrespeito aos judeus né uma judiação quer dizer se você resgata as coisas por aí e uma dessas características né da da do pensamento racista brasileiro
nunca desrespeito a exploração sexual da mulher negra quer dizer é concubinagem né Essa palavra de criação combinado Sacanagem com o combinado com mulher negra pode agora casamento não e no dia que eles descobriram que nós estávamos legalmente casados papelzinho tudo isso aí Eu Virei prostituta e foi uma campanha violentíssima e de baixo nível contra mim mas baixíssimos nível mesmo né quer dizer eu virei a negra suja etc e o Luiz Carlos foi muito importante na minha vida justamente pelo seguinte porque ele rompeu com a família ficou do meu lado e começou a questionar a minha
falta de identidade comigo mesmo isso daí foi por isso eu tenho muito orgulho de trazer o nome dele eu nunca troquei o meu nome né podia estar com meu nome de solteira Lelé de Almeida Mas é uma homenagem que eu presto a esse homem branco tão sofrido tão que você sabe muito bem e eu me emociona muito quando eu falo dele que foi essa pessoa que demonstrou uma solidariedade extraordinária a nível de casamento e por outro lado dentro desta solidariedade ele foi a pessoa a primeira pessoa a me questionar com relação ao meu próprio branqueamento
Você se lembra que você vai peruca aquelas coisas eu queria ter uma lente a postura dos movimentos feministas em relação à questão racial a postura bom é uma postura que caracteriza praticamente Todo pensamento e todas as práticas né políticas neste continente nesse hemisfério né da Europa no sentido de ter uma postura do que eu chamo de racismo por omissão as esquerdas da América da chamada América Latina e o feminismo também entra nessa história na medida de que ainda estão dentro da ideologia da hierarquização da ideologia da estratificação racial quer dizer o olhar feminista olhar das
pessoas de esquerda com relação ao negro é sempre um olhar de cima para baixo né quer dizer nós somos os inferiores eles não prestaram atenção no discurso do Agostinho Neto não é um desconhecimento encantador né dessas coisas então o que a gente vai perceber é que é interessante você perceber aqui um segmento né que também é muito Oprimido no interior de uma sociedade como a nossa e que de repente né reproduz as práticas racistas tá e a me ouvir E esse racismo né que é caracteriza o racismo da América Latina eu chamo racismo por denegação
né Aí eu uso uma categoria do pensamento lacraniano né é que quando você nega determinada coisa está justamente afirmando né E no caso da chamada América Latina os termos que nós vamos ouvir são miscigenação né integração democracia racial etc que é um modo de você chutar para escanteio a questão racial e o feminismo nesse sentido é tão eurocêntrico quanto um pensamento de esquerda e as práticas também né e da direita evidentemente nesse sentido fica todo mundo mesmo barco né que é uma contradição muito grande Ai meu Deus a nossa luta tem sido muito grande enquanto
nós estamos dentro do movimento feminista né e eu me recordo é de um encontro que eu pertenço mulheres por um desenvolvimento alternativo em desenho passado nós tivemos um encontro Regional para América Latina e ela faz agora interessante que essa representante da Bolívia era Branca né então foi por aí que eu comecei a discussão que eu fui lá para isso mesmo para colocar com muita violência a questão a questão da dimensão racial no movimento feminista e felizmente né Foi tão intenso persistência enche o saco embora a expressão seja maciça do pessoal né exatamente o tempo inteiro
é com essa questão da dimensão racial e elas finalmente acabaram vencendo né inclusive em julho próximo vai sair um número da revista Isis internacional que é uma revista do feminismo e que é específico a respeito do mudar e lá será um artigo meu cujo título é por um feminismo afro latino-americano e no Brasil a coisa é pior ainda sabe eu percebo que a nível de exterior são poucas as companheiras do movimento de mulheres que são efetivamente solidárias e que compreendem né a situação da mulher negra tem um ou dois anos se eu não me engano
lá em São Paulo em São Sebastião Ubatuba e que o pessoal da corte ficou todo do lado de fora né que inclusive tem um dos problemas né do movimento social e aí é o problema da parte da lização né quer dizer você entrar numa partido político e foi muito interessante porque a coisa tem dois aspectos né que foi mulher e o negro pobre né que conseguiu um ônibus aqui a dura as penas né E que foi para lá e não deixar entrar porque disseram que essas mulheres negras eram eram enviadas do Leonel Brizola quer dizer
eu acho engraçadíssimo e isso articulado como postura racista né quer dizer as mulheres negras e pobres não não participaram né desse desse encontro feminista latino-americano aqui no Brasil Benedita eu pertencemos esse conselho você consegue nada da dimensão racial é colocado quer dizer já enche o saco sabe quer dizer reproduzam aí a ideologia dominante né porque realmente agora esse ano sim Como é o centenário da abolição da escravatura que a nossa então sim houve uma produção de a respeito da questão da mulher mas até então sempre foi um silêncio muito grande são poucas as companheiras brancas
agora Essas são de fé que quando se juntam aí não tem são poucas mas elas valem o meu tipo o que significa dizer que no teu entendimento do movimento negro você não descarta a participação dos brancos não de forma nenhuma não inclusive né Tá aí o presidente né do Instituto de Pesquisa das culturas negras né o Januário nós temos lá no PSN vários sócios brancos agora evidentemente que não vamos É permitir que os brancos chega de paternalismo essa história desse país né se caracteriza por isso né E como nós também e temos movimento de mulheres
permitir que homem nenhum venha nos dar as estratégias a serem desenvolvidas nós é que temos que descobrir e nem branco no movimento de negro também né mas aproveitando a expressão quer dizer é por ela pela nossa autonomia que nós estamos e os nossos erros somos nós que temos que ver para podermos acertar nesse sentido eu acho que a autonomia do movimento social demora importância fundamentalmente autonomia do movimento negro e do movimento de mulheres agora eu gostaria só de dizer que para nós mulheres né a gente fica mais ou menos no meio do caminho entre dois
movimentos né movimento negro e o movimento de mulheres porque no movimento negro já não a nossa contradição também está presente hã a gente percebe que é um profundo sexismo Por parte dos nossos companheiros e movimento eu tô aqui sentado tô pensando o seguinte um lado e para o outro é uma pergunta que eu quero fazer ela é o seguinte o negro desde que chegou aqui nesse país ele sempre se colocou em oposição ao sistema ele sempre esteve à esquerda do sistema a medida em que ele sempre foi excluído desse sistema e no decorrer desses quatro
séculos e meio surgiram vários expoentes negros para área acadêmica vários pensadores negros como até hoje na contemporaneidade isso também ocorre agora dentro de uma análise histórica a pergunta que eu faço é o seguinte porque que este segmento que podemos chamar assim intelectual ele nunca esteve mais articulado com a base com a base de luta com a base hoje no caso o movimento negro nós sabemos que hoje nós temos vários grandes expoentes do pensamento negro no Brasil mas por um outro lado o movimento negro em si esses expoentes não estão integrados junto conosco quer dizer as
formigas aí da luta numa numa proposta né de juntar elaborar estratégias táticas e desenvolvimento dessa luta o porquê que há um hiato entre os pensadores e a base negra de luta eu vejo Eu acho que eu vi uma mudança nessa análise que está fazendo a mudança histórica aí a me ouvir tá e justamente pelo seguinte nós nós temos já é alguns pensadores negros que eu chamaria de intelectuais orgânicos com relação à comunidade Negra a gente pode pegar até no passado quando você pega por exemplo é um escritor como Lima Barreto né ele joga a questão
da opressão da comunidade Negra Nos romance nele Tem uma coisa assim meu Deus do céu né emocionante tocante né chora quando é aquilo etc né E mesmo hoje é por exemplo eu tive há poucos a poucas semanas atrás eu tive em Santa Catarina né Eu fiz uma conferência na universidade em seguida fui falar com a comunidade Negra numa escola de samba e eu percebi que o pessoal tá tentando resgatar por exemplo uma figura com uma de Cruz de Souza né que o pessoal ataca assim porque o cara era simboliza não sei o que então ele
era Branco era um jabuticaba né mas na verdade quando você começa a ler a vida do cara o cara sofreu para burro inclusive o cara casado ele se casou com uma mulher negra pobre como ele né embora ele tenha sido criado por Branco etc e tal né Ele tentou deixar alguma coisa na na na obra dele no trabalho dele nas lutas dele que apontasse né para essa sua sua ligação com a comunidade o Joel Rufino mesmo se refere ao cruzada análise que faz da da sua obra mais como ela tendo aquele Impressionismo e aquela sensualidade
que são características os dois aspectos da melhor tradição do pensamento nele exatamente né e acontece o seguinte eu acho que claro que o Machado de Assis ele não dá né Aí não dá ele era ele era Branco né mas enfim mas a gente vai perceber que os pensadores a respeito da questão Negra sempre foram brancos né Hoje é que nós estamos percebendo que está se formando estão se formando quadros né de intelectuais negros que pensam a questão dele né porque você veja quem é que falou sobre nós né nessa perspectiva de Relações raciais no Brasil
etc né Quem começou foi aquele esquecimento ativo né aquele baiano lá aquele moleque baiano que era o nome dele escreveu não Rodrigues que que olhou a comunidade mesmo que encarou a comunidade Negra Como olhar branco né mas você tem ao lado dele e que é pouco e que foi devidamente marginalizado pelas pela academia você tem um anel querendo que era um homem da comunidade que escreveu sobre a comunidade que nunca se desligou dela agora ele foi devidamente marginalizado né agora o que eu vejo hoje é que esses esses que você chamou de Pensador de negros
Eles são muito ligados né a questão em pensar né estas Relações raciais nas nossa sociedade articulados eu vejo uma certa articulação Sim é claro que alguns se distanciam né E aí ainda ainda são os modos né de olhar segundo uma perspectiva eurocêntrica de quem intelectual tem que ficar afastado né apesar do grande né que o intelectual tem que ser aquela figura que fica distanciada do povo que o povo não entende né e eu acho que de certa forma mas temos que reverter isto né porque quem pensa o movimento negro Existem os intelectuais formados pela Universidade
etc mas ao me ouvir existem aqueles que pensam o movimento negro sempre da universidade Eu acho que isso aí nós temos que reverter né porque pensar não é reproduzir não é reproduzir fórmulas acadêmicas né que não são impengidos né E que a gente tem que reproduzir não né É uma coisa muito mais profunda então eu diria para você que hoje você é um Pensador para me ouvir entende dessa questão quer dizer não é medida que você tá aí você tá numa luta que você tá numa prática etc e por outro lado e matéria de distanciamento
por exemplo eu percebo que o próprio movimento negro até um determinado momentos teve distanciado das bases da comunidade Negra né pelo menos na década de 70 né a gente percebia muito esse tipo de questionamento Como chegar à comunidade quer dizer um olhar era meu ver também branco tá que o tinha medo de chegar junto da comunidade quer subir o morro a conversar com o pessoal Transar fazer acontecer agora eu acho que hoje não quer dizer nossos intelectuais negros né que estamos pensando junto com os outros pensadores né estamos juntos sim eu acho que estamos né
quer dizer a nossa prática eu acho que é importante que tem que ser colocado é que a nossa prática é uma prática que exige realmente é Exige uma existe um tempo danado quer dizer de repente não dá para você numa reunião do movimento negro porque você tá lindo um texto que vai ser fundamental para esse próprio movimento né no sentido do movimento é desenvolver as suas estratégias e aprofundar né A questão a grande contradição que existe na sociedade brasileira é porque a me ouvir eu acho que a questão da militância né a gente tem que
pensar ele vai ficar com a sua pergunta é fundamental por isso porque ela coloca em jogo né o repensar da questão da militância nós do movimento negro mas nós herdamos né dos militantes de esquerda né esse tipo de prática a gente acha que militar isso aí para a Rua fazer junto não sei o quê tudo bem mas há níveis formas eu acho que a militância Ela é muito forte né ela tem diferentes níveis quer dizer eu me considero absolutamente familitante do movimento negro você me considero mesmo porque Inclusive eu cresci foi dentro né eu devo
esse movimento quer dizer o meu amadurecimento político intelectual né e o movimento começou a do Brasil mas que tá por aí né quer dizer quando você e você sabe disso né você tem tido esses contatos também mas quando a gente está em contato com com o pessoal do movimento negro por exemplo é de alguns países né da chamada América Latina dos Estados Unidos e mesmo da África que não podemos esquecer a luta né na África do Sul né a gente percebe que que é uma troca de experiências muito grande a gente vê que o nosso
problema é efetivamente comum e eu vejo militância aí né quer dizer no momento que a gente tá discutindo no momento que a gente tá numa numa aula que você esteja dando a gente tem que tá fazendo militar num texto que você esteja escrevendo dos Estados Unidos a mulher fica quieta e assante que acabou de escrever um livro chamado afro sempre onde ele diz que nós não podemos continuar de uma linguagem racista e linguagem que esse pensamento né então é importante que a gente a gente se esforce né entrega a vida mesmo no sentido de tentar
reverter todas essa situação bom outra pergunta que eu gostaria de colocar para você é o seguinte o prêmio Nobel de Literatura nigeriano Russo Inca ele deu entrevista interessante no jornal do Brasil falando tudo sobre toda essa questão racial e a fé até até fez uma colocação importante como começou o Centenário na abolição no Brasil a medida em que as tropas militares cerquearam os direitos civis dos negros de nós negros em fazemos a nossa marcha e ele faz uma crítica bastante salgada né bastante Ocre a sociedade americana né mostrando a sociedade americana como a decadência desse
desse momento né e ele me chamou atenção sobre aquela música We Are the World a medida em que esta música foi feita por negros como é que você vê essa relação né a medida em que o negro americano chega e ele disse que nós somos o mundo como é que você fez é uma crítica muito bem colocada e que por coincidência eu fiquei muito feliz ao ler esse artigo porque eu também estava acabando de chegar dos Estados Unidos eu vim justamente no dia 11 para Nossa marcha que foi impedida devidamente bloqueada pelo exército brasileiro 24
horas Duque de Caxias né e pela polícia militar e eu vinha de um encontro né de um encontro de mulheres de mulheres negras né que era promovido pelo Center onde encontro internacional de mulheres negras e a minha apresentação estava baseada baseou-se num conceito que eu estou desenvolvendo ainda que é o conceito de amefricanidade e justamente tentando resgatar uma experiência histórica comum vivida pelos negros de todo o continente americano e que é muito semelhante muito semelhante porque a sociedade são as mesmas última instância Você pode ter uma diferença de tempo né a nível de consciência a
nível de um chamado desenvolvimento sócio-econômico etc mas agora por que que eu partir para esse conceito aí né de americano que a minha proposta é de que os negros de toda de todo o hemisfério americano né América do Sul Central insular do Norte é passem a se auto denominar améfricanos e Exatamente porque eu estava refletindo é numa reprodução inconsciente Por parte dos negros dos Estados Unidos uma reprodução inconsciente da própria postura imperialista dos Estados Unidos na medida em que os Estados Unidos se afirmam como sendo a América e os negros de lá passaram a se
chamar afro-americanos quer dizer afro-americanos ou africanos e e passou a denominar a África não sei o quê Ah meu Deus não só reproduz né o imperialismo cultural político ideológico dos Estados Unidos e por outro lado porque é eles há uma hierarquia uma hierarquia Então se estabelece entre os negros os diferentes países deste imenso continente chamada América quer dizer no nível no primeiro nível né estariam os africanos americanos que são aqueles Estados Unidos e digamos no último estariam os índios né de da República Dominicana como nós sabemos da República Dominicana o que eu lembro de lá
não se autonomia nele a pessoa doente eles são índios tá inclusive isso é oficial né dos documentos índio Ísis uma loucura né quer dizer e os pobres dos negros lá de da República Dominicana que nem sabem que são nervos não saberiam que são africanos Dominicana uma confusão de linguagem né que reflete uma confusão de pensamento então foi muito interessante que primeiro deu uma entrevista na rádio negra de Nova York na w l a e b onde eu coloquei essa questão e o locutor o cara muito treinadíssimo em entrevistas ele pediu para que eu explicasse o
que era isso né E quando eu falei do imperialismo né dos Estados Unidos etc e tal ele disse sai delícia olha eu aceito porque eu não aguento essa confusão africano Caribe Aff quem é isso vai ficar aquilo quer dizer um cara que nem tá por dentro da história mas que percebeu né A não só uma proposta de unidade uma proposta muito mais democrática né quer dizer é a proposta de que a americanos somos nós Os descendentes dos africanos urgentemente trazidos né como eu disse o presidente Sarney né me deixaram da África para o Brasil é
financiados pelo tráfico negreiro e você diga que eu não aguento todos recebidos [Música] e Arte clube de Salvador e quer dizer não só dos africanos se foram escravizados quer dizer americanos são os descendentes desses africanos escravizados e também Os descendentes daqueles africanos que chegaram à América muito antes do seu descobrimento bem entre aspas porque estavam Colombo porque basta nós fazermos uma análise da da cultura ou da civilização ou Meca que nós vamos ver que é aquilo ali era né aquelas aquelas esculturas aquelas cabeças enormes né é refletem e evidentemente que se tratavam de negros né
e os próprios ameríndios né originais daquela daquela região eles afirmavam né que é um determinado tempo da sua história chegar os homens muito altos e pretos etc mas porque os negros chegaram na América antes de Colombo né Nós temos o Ivan fazer aquilo demonstrando isso no seu livro de quem deforca-lobos Então veja é me parece que esta crítica que o sorinca faz ele é absolutamente é pertinente eu fiquei muito contente por isso que eu tava acabando de chegar de lá né E denunciei para eles mesmo ela é interessante é que a esquerda Negra fechou imediatamente
né quer dizer me telefonar ou disseram companheira é por aí mesmo sabe é uma postura muito mais uma muito mais democrática né e unitária agora eu vejo nisso uma necessidade também quando ele se chamam né de africana mérica né e o meu texto eu faço uma uma brincadeira né quer dizer isso aí que eu falei Afinal numéricas afro-americana Aí eu pergunto e como é que os africanos os verdadeiros africanos áfricanos o que que eles pensam disso porque efetivamente para nós negros aqui desse mistério Quando vamos lá a gente percebe que existe uma diferença né Há
uma história de vida né pelo continente pelos pelos pelos nossos irmãos do continente africano que é diferente da nossa e dou um exemplo há poucos em fevereiro estive na Nigéria e conseguir arranjar um tempinho para visitar o santuários né do nosso querido pela mulher e no caminho estavam Seguindo para para ele e fé né que é considerada é a cidade santa mesmo né dos dos yorubas né e eu perguntei eram dois dois duas pessoas dois homens na universidade que estávamos levando a mim e a Neuma guiar E então eu perguntei qual era a religião deles
os dois responderam imediatamente que eram cristãos não continuou o papo né continuamos conversando etc quando eles perceberam quer dizer o meu respeito a minha Meu Encanto Enfim tudo isso por estar indo né a eleição aí um deles então revelou Olha mas eu acredito em Oxum porque eu não tomo banho quente né porque nós somos depois em seguida a O showbol que é a cidade de Oxum E então você percebe Isso quer dizer o colonialismo funcionou na cabeça do africano uma maneira diferente da massa porque para nós o Candomblé foi a resistência quer dizer esta religião
né que veio da África uma forma né de uma resistência extraordinária desse povo negro no Brasil na Jamaica em Cuba etc de manter a sua identidade e que aqui no Brasil foi oficialmente perseguido até 1946 exatamente justamente pelo que pelo que pelo que ele representa né quer dizer as comunidades de rede a gente vê uma estratégia assim incrível né que eu acho que essa estratégia de acomodação e de resistência que você vê quando você pega por exemplo o caso da Irmandade Nossa Senhora da boa morte na Bahia né é uma Irmandade peculiar só era só
é constituída por mulheres negras e é justamente desta Irmandade porque estratégicamente que que fez o escravo ele se adaptou às instituições do dominador agora nesse meio tempo justamente nessas nessas nessas nessas brincadeiras nesses folguedos ou nessas instituições como no caso das irmandas eles buscavam rememorizar né a sua própria história né é que a gente vai ver em determinados tipos de congadas né onde se canta aquelas embaixadas Rei rainha príncipe etc né que o olhar Branco boçal a este sim que é boçal né porque eles chamavam de boçais os africanos que que não sabiam falar português
vou só porque imperialista né porque racista né eles acharam que os negros estavam reproduzindo as estruturas monarcas da Europa né quando nós sabemos que as monarquias africanas são muito mais antigas basta a gente pegar a monarquia do dos Reis de axante muito mais antiga do que a monarquia da Inglaterra do que essas monarquias todas são muito mais recentes Mas enfim são diferentes porque são mais democráticas né porque quando o rei estava tendo uma postura antipovo ele era ele era obrigado a tomar uma segunda história mas enfim é a gente percebe quer dizer por esse pequeno
fato que eu tô contando aí quer dizer o pessoal tem vergonha de dizer que acredita nos orixás aqui a crença nos orixás foi um modo a articulação né da tradição dos orixás dentro das Comunidades guerreiros foi uma das formas mais incríveis de resistência que nós tivemos no Brasil né Isso sem falar evidentemente nos quilombos sem falar as revoltas é urbanas como no caso dos Malês etc mas me parece que houve uma resistência mais silenciosa e menos Vista né que teve um papel fundamental na nossa história e inclusive aí eu resgato de novo o papel da
mulher negra porque ela enquanto uma empresa ou seja aquela que que quer amamentar e que educava que socializava a criança Branca eu acho que ela teve um papel fundamental na medida em que exercendo a função materna porque a mulher branca não podia exercer uma fábrica de filhos agora né o bom né o hino era que a Escrava que amamentasse a criança agora sabe o que está acontecendo de novo em Nova York agora a alta classe média né os iaps né eles contratam empregadas negras babás negras vindas do Caribe né quer dizer jamaicanas enfim haitianas etc
para tomar conta das suas crianças quer dizer coisas se reproduz né de uma forma incrível Mas de qualquer forma esta mulher negra anônima esta mãe preta né não é por acaso que os brancos gostam tanto dela os brancos mais racistas adoram né a figura de uma empresa porque porque foi ela quem socializou as crianças brancas e neste processo é importante colocar as histórias Claro socializar Veja a mulher em todas as culturas ela tem esse papel né Ela é a socializadora da criança ela que introduz a criança na ordem da cultura daquela sociedade né e a
Ordem da cultura é o quê é referenciar-se com os antepassados é claro que ela não conhecia os antepassados e os seus próprios antepassados e nessas histórias aí ela passa né todo mundo ela passa para o inconsciente cultural brasileiro uma Negritude que a gente nem sabe que existe e por outro lado e a prova mais patente disso a me ouvir é o fato de que no Brasil ela africanizou né o português falado no Brasil quer dizer vejam que nós não temos o mesmo sotaque por exemplo do presidente Mário Soares duelas brasileiras José Lourenço exatamente pelo amor
de Deus mas vejam que ela africanizou esse português aqui por isso eu defendo até aqui no Brasil nós não falamos português nós falamos português nós negros brancos não sei o quê Por causa Exatamente porque essa esta Musicalidade esta rítmica que o português falado no Brasil tem de português de Portugal não tem foi trazido pela pelos falares africanos e fundamentalmente pelo quimbundo né que é a língua falada em Angola e do Sul design também né aquela região ali dos quimbondos que eles vieram para cá inúmeros assim elevadíssimos né e as mulheres eram então as almas né
das Crianças brancas então com seus sotaque africana eu escravo ele tinha várias obrigações uma delas a entender o idioma do senhor a outra a religião tá e a outra cena obediente quer dizer nessa debaixo dessa Tríplice opressão aí fazia as suas as suas estratégias de sobrevivência de acomodação e de resistência e me parece que é uma empresa nesse sentido é um troco extraordinário por isso que a gente né esse ritmo essa Musicalidade do português falado no Brasil nós devemos aos africanos essa tua tese da América africanidade é América Ela me parece interessante por uma razão
quando a gente observa o pensamento Progressista basicamente o pensamento de esquerda dos outros países da América dita Latina todas essas pessoas inclusive pessoas que não estão engajadas Assim nenhum movimento objetivamente político etc se referem aos americanos como americanos do Norte você escuta isso no Panamá na Bolívia no peru no Brasil não no Brasil mesmo os pensadores disso os mais a esquerda se referem simplesmente aos americanos como lidando ou lhe construindo o poder em cima do nome dentro da sua postura imperialista de serem serem América afinal de contas nós somos da América isso é justamente quer
dizer ela ela ela me parece contundente Justamente por isso que a gente é obrigado a repensar né De novo é a linguagem como uma forma revolucionária também né já dizia Cabral né que o cultural é político né quer dizer nós temos que me parece que temos que repensar isso daí Quer dizer eu acho que os anelídeos estão aí e usar me africanos estão aí agora eu acho que por outro lado vocês Branco vocês são latindo É verdade eu fiz uma brincadeira A esse respeito com o meu pai e meu pai era um sujeito branco de
cabelos lisos e tudo mais mas com o nariz igual ao teu ou seja com os lábios bem carnudos como diz o nosso querido com um lado dos ótimos para beijar tava me referindo aqui as vantagens ditas pelo Darcy Ribeiro dos das mulheres e homens negros sobre os homens e mulheres brancos me referindo a todo um problema anatômico até Anatomia da boca que é realmente aquela boca boa de beijar não é verdade mas me lembrava A esse respeito também sobre o processo de branqueamento que nós sofremos a lélia tem um livro que está ali que nós
estamos fofocalizando né sobre festas populares do Brasil e uma dessas festas evidentemente aqui para nós no Rio de Janeiro andar mais importante o carnaval lembra-me uma observação que fazia o Vinícius de Moraes ele disse assim olha eu não tenho culpa infelizmente vocês não podem me culpar porque todo o indivíduo tem problemas sérios de educação eu tive dois problemas sérios de educação um genético e outro de educação mesmo eu sou branco e Fluminense isso realmente não é coisa que devo apostar em nenhum dizer assim isso não é coisa que deve constar em um currículo mas eu
me considero um branco de alma preta de Alma Negra mas não vou as escolas de samba não escrevo letras para sambas enredo porque eu acho que a minha forma de expressão invadiria aquele aquele conjunto cultural de uma forma que eu considero prejudicial lélia Você concorda que o nosso carnaval tá branqueando o que eu vejo nessa história que efetivamente né acontece não só no Brasil mas por esse mundo aí fora há uma apropriação né Por parte das classes dominantes branca da cultura mesmo porque por exemplo isso aqui festas populares do Brasil na verdade seriam festas negras
do Brasil título real deveria ser esse né porque a grande criatividade a grande capacidade de transformação de reinterpretação de sempre quem tem quem tem apresentado né é o negro da nossa cultura agora na medida em que o próprio sistema capitalista né chega a todos os Recantos da sociedade evidentemente que ele chegou às escolas de samba e é por aí que se explica efetivamente esse branqueamento esta invasão de uma classe média etc poucas escolas a gente vê por exemplo caso uma Portela espanta né Portela e por outro lado veja você beija-flor que é uma que é
uma quer conservadora agora eu acho que é por causa da presença do João 30 o negro ainda é mantida ainda aparece nos carros etc mas o que se percebe é isso é vamos capitalismo que invadiu mesmo e na hora que invade quer dizer a escola de samba virou um produto cultural que é rentável Então pessoal chega e toma conta né quer dizer mas eu acredito nessa nessa capacidade né de reformulação de recreação da comunidade Negra sabe e nós temos um exemplo disso aí não sou no funk coisas que traz né tá aprontando né tá correndo
por fora das escolas de samba Tranquilo isso já há muito tempo né desde os anos 70 que a moçadinha tá correndo por fora da escola de samba tá quer dizer valeu valeu zumbi né valeu e nesse último carnaval retomada que havia L teve né me parece que nesse sentido foi fundamental né e a tomada de posição da Mangueira também né e da própria beija-flor que de repente também né quer dizer dentro da questão da escravidão da da Abolição mas negando essa Abolição também né passando por cima dela é assim que eu vejo a questão tá
Estamos correndo por fora Bia velha assim ao longo da minha formação acadêmica né É quase que em oposição ao que a gente tem vivido dentro do movimento negro eu tenho sentido a afirmação de uma verdade quer dizer claramente racista de que o negro não participa da sociedade do desenvolvimento das sociedades na medida em que a raça negra não tem uma antiguidade o que que você diz disso a começar Jesus nos últimos estudos arqueológicos etc e tal né confirmaram né o homem a humanidade surgiu na África e esse homem que surge na África ele migra ele
vai migrando ele vai para o norte né com o recuo das geleiras ele vai avançando inclusive chega a Europa chega ao sul da Rússia etc e por processo né segundo alguns especialistas né processos relativos ao meio ambiente ele vai se transformando né porque em determinadas regiões Na necessidade de melanina é por causa da incidência dos raios solares é mais é mais tangencial e invernos muito fortes etc primeiro lugar Isso quer dizer todos os brancos amarelos etc já era de negros tem o primeiro a humanidade Surgiu uma e em segundo lugar é que a grande mãe
civilizacional do acidente foi o Egito né Egito este que foi cuja civilização né é produto da criatividade do gênio criador de povos negros nós sabemos perfeitamente E aí tá o shake que iniciou esse tipo de trabalho e eu estou lendo agora um texto de um autor judeu chamado vernão que é cujo livro se chama ou apenas Negra né onde ele vai demonstrar tranquilamente que o processo isso já havia chamado atenção o processo de arianização da Grécia começa do século 18 para cá né famoso iluminismo essas coisas todas né quer dizer começam a embranquecer efetivamente a
Grécia e os Egito Também na medida que o Egito era o grande centro de de produção científica filosófica enfim né é que havia na antiguidade como nós temos hoje Europa como nós temos hoje nos Estados Unidos se quiser fazer um bom curso de qualquer coisa você de qualquer coisa você procura a universidades europeias etc e tal na antiguidade era o Egito hã e os próprios gregos né os contemporâneos dos egípcios afirmavam efetivamente né a Negritude do povo egípcio e os próprios gregos também afirmavam que eles eles foram colonizados né receberam enfim nesses contatos culturais vieram
sobretudo do Sul quer dizer do Egito e do oriente né quer dizer nunca do Norte na verdade né então é quando nós vemos por exemplo determinados conceitos que estão aí presentes na filosofia né e o James Joy James autor do livro chamado a herança roubada estou em Legacy ele prova por A mais B juntamente o jornal também se apoia nele para demonstrar que detalhes de Mileto Aristóteles todos aqueles conceitos da famosa da filosofia grega já estavam na teologia de mentes cujos papiros né estão no museu de Londres quem sabe ler o livro pode dizer isso
quer dizer isso então não dá né O que a gente percebe é que o racismo né institucionaliza de uma forma tal que ele recria né uma nova uma nova visão na antiguidade não foi por acaso que deram um tiro de canhão no nariz da Esfinge que o nariz decide era assim né mano quer dizer como diz o Chico tem todas as características quer dizer então nós vamos perceber que inclusive gente quer dizer o Egito foi tão modelo né que nós vamos constatar que a grande Deus a negra egípcia nem Isis é cujo culto se espalha
por toda a Grécia Roma e chega até a grã-bretanha né Nós vamos contratar que ela vai ser o modelo da figura feminina dentro do cristianismo porque que nós sabemos né que o cristianismo ele surge dentro de uma sociedade extremamente patriarcal mulher não tinha vez né E a gente não conhece nenhuma apóstola de Jesus Cristo a gente pensa os apóstolos as mulheres ficava só na periferia né agora os homens então o organismo teve que se defrontar com religiões onde a figura feminina era profundamente exaltada e tinha um espaço extraordinário nesse processo Então deixa eu colocar essa
baratinha que caiu demais então ocorre o seguinte é que houve necessidade da criação de uma figura feminina dentro do cristianismo para se contrapor era uma luta política de mercado né mas o que se constatou então é que eles foram buscar o modelo na deusa Negra todas essas imagens da Virgem Maria né quer dizer que nós temos ela com o filho no colo amamentando etc foram atirado dos modelos egípcios Porque as primeiras imagens que nós temos é de Isis amamentando horas com horas no colo etc e veja que a coisa é tão incrível que a gente
constata isso pela existência né de virgem de madonas negras na Europa na União Soviética nós vamos encontrar na religião Ortodoxa né na Polônia na França inclusive no Brasil que a Padroeira do Brasil não é por acaso eu acho que não é por acaso é bem pretinha né na verdade Na verdade são rastros né são não rastros mas elementos que nos nos remetem a antiga religião egípcia e é importante dizer que que as religiões ocidentais não se estruturaram eles reforma procisões tipo de tempo tudo isso foi beber água no Egito né quer dizer então me parece
que me parece não com certeza né Nós temos que pensar Para o Futuro parece que a grande tarefa Nossa neste final do século é justamente erradicar esse racismo que está presente inclusive uma ciência na Ciências Sociais nós sabemos disso né e nas outras ciências também porque tá provado que toda ciência ideológica né então partindo dessa base né que afirma uma superioridade do Branco né do homem branco né europeu ocidental mas estamos no processo num processo de demonstrar que efetivamente a o Egito teve um papel fundamental na formação desta humanidade do lado de cá ocidental e
esse Egito era negro e que não adianta mais né porque a comunidade Negra né cada vez mais está consciente disso nós temos uma player de intelectuais negros né que estão trabalhando nesse sentido é inclusive eu me sinto por exemplo nesse momento eu me sinto muito orgulhosa porque eu acabo de ser convidada para ser vice-presidente do Congresso Mundial de intelectuais negros que vai se realizar em 1990 na universidade Lincon na Filadélfia na verdade nem como uma universidade Negra né e eu me sinto assim honradíssima que são cinco vice-presidentes sendo profundamente honrada por exemplo de estar ao
lado né de intelectual de um pesquisador negro extraordinário como teu filho benga né que dirige o centro de investigação sobre a civilização bantu né quer dizer estamos trabalhando e a gente vai reverter esse processo sem sombra de dúvida porque hoje é mais do que nunca e a gente sabe que o raciocínio tem a formas distintas Mas percebemos no Brasil um fato de que aqueles brancos que sempre foram né os sujeitos e nós os objetos da pesquisa deles eles estão começando a ficar preocupados porque nós intelectuais negros Já começamos a nos defrontar com eles no próprio
Campo tá no próprio Campo da academia né e evidentemente claro que eles vão nos acusar como nos acusam né de racistas disso daquilo porque a gente tá mostrando que o rei tá nu e que a nossa proposta não é absolutamente de no sentido de negar dizer que nós é que somos superiores nós não é isso quer dizer que nós contribuímos de tal forma para o desenvolvimento da humanidade e nos surpreende essa postura racista portanto é desumana né É porque eles tiram a nossa humanidade mas eu acho né como diz o psiquiatra negra que eu estou
lendo né que o racismo ele faz ele é uma ideologia é típica do daquele cara que não é nem neurótico nem Psicótico mas é o psicopata é uma é uma é uma ideologia psicopática né que não dá a menor atenção para as questões de ética para as questões de humanidade etc e eu estou em pleno acordo com ele porque acredito que pro Século 21 né E a nossa luta se desenvolve nesse sentido espero que nós possamos já ter erradicado da face da terra essa coisa chamada racismo estas essas desigualdades socioeconômicas né que existem no mundo
porque afinal de contas brancos negros amarelos índios fazemos todos parte de uma mesma de um mesmo mundo e é importante que todos nos amamos no sentido de que no próximo certo estas diferenças estas desigualdades que estão em termos do racismo que parece que é a pior piorar desse mundo ocidental hoje as desigualdades econômicas sociais possam ter sido erradicadas do nosso planeta porque senão malandro não vamos ter jeito né porque esta esta cultura ocidental a sua grande marca a me ouvir é a de uma profunda agressividade não agressividade no bom sentido psicanalítico mas de agressão de
desrespeito né de não reconhecimento do outro enquanto diferente né E essa postura é uma postura evidentemente psicopática as fitas que trouxemos aí então chegando aos seus estertores Mas foi bom terminar essa sua entrevista com esta observação a respeito do racismo e mais do que isso a respeito da grande possibilidade que temos uma possibilidade concreta de erradicar esta mancha branca exatamente no século 21 eu te agradeço muito pela gentileza de nos ter recebido aqui e fico muito feliz que tenha sido com você a primeira participação da mulher neste volume que vamos preparar e neste conjunto de
vídeos que vamos preparar sobre o pensamento negro no Brasil Muito obrigado obrigada a vocês para vocês toda equipe toda aqui presente né Aos companheiros que vieram a participar da entrevista né e eu felicito muito vocês por essa iniciativa Porque isto é coincide né com a proposta do movimento negro a respeito deste ano em que as autoridades oficiais estão celebrando o centenário da Abolição que nós não estamos né E vocês estão demonstrando que vocês são solidários para nossa luta porque a nossa proposta de uma profunda reflexão crítica a respeito das desigualdades raciais a respeito da opressão
do negro a opressão e a exploração econômica do negro e as propriação da sua cultura dentro deste país que se afirma uma democracia racial felizmente no dia 11 né dada a presença do exército do Duque de Caxias e da Polícia Militar foi feita até uma proposta por parte de uma das nossas companheiras que o dia 11 de maio seja considerado o dia em que caiu a máscara da democracia racial do mito da democracia racial brasileira e eu sei que vocês estão conosco e eu agradeço também né me sinto muito feliz e muito fortalecida para continuar
na luta não é fácil [Música] [Aplausos] [Música]