O JAMES WEBB provou que o BIG BANG está ERRADO?

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Ciência Todo Dia
Você já ouviu falar da teoria do Big Bang e do incrível telescópio espacial James Webb? Como as imag...
Video Transcript:
De onde nós viemos? Até onde nós sabemos, tudo começou com uma singularidade no meio do nada que se expandiu. A ideia mais popular que nós temos disso é de uma espécie de explosão, um boom.
E aí, a partir desse boom, em um intervalo de tempo tão pequeno que nós nem conseguimos conceber, surgiu o nosso universo. Tudo o que nós conhecemos hoje começou no mesmo instante. O espaço, o tempo, as quatro forças da natureza, as partículas e os elementos leves como hidrogênio.
E depois de centenas de milhões de anos, ainda como uma consequência desse boom, surgiram as primeiras estrelas e galáxias. Mas alguns bilhões de anos se passaram e nós estamos em um planeta orbitando uma estrela que habita uma galáxia. É isso aí, a história do universo em menos de um minuto.
Essa é uma forma bem simplificada de falar sobre um dos modelos de como o universo evoluiu até ele ficar como ele está hoje, que é a teoria do Big Bang. Mas se nós quisermos responder à pergunta que eu fiz no começo do vídeo, de onde nós viemos, então eu tenho algumas notícias para te dar. A teoria do Big Bang é o modelo favorito da comunidade científica para responder essa pergunta.
E o motivo para ele ser favorito é simples. Observações concordam com modelos teóricos previstos pelo Big Bang. Mas a coisa não é tão simples e direta quanto está aparecendo.
Os modelos e observações fazem parte de uma área da ciência chamada de cosmologia, que é uma área que tenta entender a origem e evolução do universo. Só que a cosmologia lida com um desafio bem complexo. Nós temos apenas um universo para estudar.
Na ciência, para provar um modelo, nós precisamos de observações, e essas observações são feitas através de experimentos que são repetidos várias vezes, ou observando algum fenômeno que se repete. Já para a cosmologia, a coisa complica, porque é impossível simplesmente criar um universo em laboratório para testar cada modelo cosmológico. E também nós não temos como observar um outro universo para ver se algo muda de um para outro.
E por isso a cosmologia depende de observações do passado de um único universo, que é o nosso. E isso torna necessário fazer observações do nosso universo em diferentes estágios, desde quando ele era muito jovem até os dias de hoje. E para isso nós precisamos de dados cada vez melhores, porque é só assim que nós vamos conseguir os detalhes da cronologia desde o momento do Big Bang.
E nós só podemos fazer isso usando tecnologias avançadas, como telescópios cada vez mais sensíveis que alcançam regiões cada vez mais distantes, na casa de bilhões de anos-luz daqui. Ano-luz é uma medida curiosa, porque ela é uma medida de distância, mas ao mesmo tempo ela nos dá uma noção de tempo. Quando nós falamos que algo está a bilhões de anos longe de distância, isso também significa que o que nós estamos vendo é a luz que foi emitida há bilhões de anos no passado.
E é exatamente por isso que nós precisamos de telescópios mais potentes, porque com eles nós enxergamos mais longe e, como consequência, nós enxergamos melhor o passado. E um exemplo é a construção e lançamento do telescópio Hubble nos anos 90. A principal missão do telescópio Hubble era observar regiões mais distantes para estimar a taxa de expansão do universo.
O Hubble foi o responsável por algumas das imagens mais lindas da história da humanidade. Mas foi só na nossa década atual que a cosmologia conseguiu dar um passo além com o telescópio espacial James Webb. O James Webb foi pensado como um telescópio revolucionário com o objetivo de responder perguntas como quando as primeiras estrelas se formaram?
Como as galáxias surgiram? Como que buracos negros supermassivos nasceram? E para isso, James Webb tinha que observar um passado do universo que nunca tinha sido observado antes.
E eu estou falando coisa de apenas algumas centenas de milhões de anos depois do Big Bang. E eu sei, eu sei, você deve estar achando que isso ainda é muito tempo e eu ter usado apenas pra falar de milhões de anos parece ser um erro. Mas não se esqueçam que nós estamos falando do universo.
E ele tem uma idade estimada em 13,7 bilhões de anos. Centenas de milhões de anos é um piscar de olhos quando nós falamos de universo. E além disso, existe um outro motivo para esse período ser de interesse dos pesquisadores.
Dentro da cosmologia, esse tempo bate exatamente com a época em que nós esperamos que tenha acontecido o surgimento das primeiras estrelas e galáxias. E por isso, toda a ideia por trás do James Webb era empolgante desde o começo, justamente para responder essas perguntas. E até agora, o James Webb já trouxe diversos resultados durante esses poucos anos em que ele está nativa.
E um desses resultados aconteceu logo nas primeiras observações, em julho de 2022. Mais especificamente, a primeira imagem de campo profundo do James Webb. Alguns astrônomos começaram a perceber um problema logo nessa primeira imagem.
Algo que não era esperado pela nossa teoria. As galáxias eram muito maiores do que nós esperávamos que elas seriam. Isso cria um problema porque no nosso modelo mais aceito de evolução de galáxias, não haveria tempo para elas ferem chegadas até aqueles tamanhos.
Então, ao mesmo tempo que isso levantou um ponto de interrogação para os astrônomos, não demorou muito tempo para outras pessoas começarem a afirmar que a teoria do Big Bang estava errada. Se as galáxias não tiveram tempo para ficar tão grandes assim, considerando que o universo era jovem, então o universo deve ser bem mais velho do que nós achávamos. Logo, a teoria do Big Bang deveria estar errada.
E essa foi basicamente a linha de raciocínio que muitos fizeram que acabou viralizando na internet. Não é raro até hoje você encontrar pessoas afirmando que o James Webb provou que o Big Bang não aconteceu. Mas será mesmo que foi isso que aconteceu?
Será que o James Webb provou que o Big Bang não aconteceu? Ou será que existe uma explicação melhor para esses resultados que de fato deixaram astrônomos com problema nas mãos? Spoiler!
Talvez algumas coisas da astronomia vão mudar completamente, mas não do jeito que você está pensando agora. Ah, e se você está assistindo esse vídeo, você gosta de ciência. E se você gosta de ciência, você provavelmente gostaria de vestir o universo.
Essas camisetas que eu uso nos vídeos estão com 15% de desconto na Luz se você usar o cupom CIENCIA TODO DIA. É só clicar no link aqui da descrição. Agora de volta ao vídeo.
Pra começar, a teoria do Big Bang é mais um nome popular que acabou pegando, tipo partícula de Deus. Na realidade, a teoria do Big Bang está associada com um modelo matemático chamado Lambda-CDM. Nós podemos traduzir Lambda-CDM da seguinte maneira.
Lambda é a letra grega e ela representa a constante cosmológica. E CDM é a abreviação para Cold Dark Matter, ou matéria escura fria em português. A constante cosmológica é um parâmetro que está relacionado com a expansão do universo.
E lembre-se que a expansão do universo tem uma relação com energia escura. Então, calcular a constante cosmológica, muitas vezes, está associado ao estudo da energia escura. A constante está presente nas equações da relatividade geral de Einstein.
E essas equações são usadas para descrever como o espaço-tempo se comporta, inclusive a sua expansão. E eu sei que sempre que nós falamos dessas equações, nós falamos sobre distorção do espaço-tempo como buracos negros. Mas a importância dessas equações vai muito além, inclusive para descrever o universo como um todo.
Essas equações não são exatamente simples e elas apresentam alguns parâmetros, entre eles a constante cosmológica. Originalmente ela foi introduzida pelo próprio Albert Einstein para contrabalancear o efeito da gravidade nas equações, mas ele descartou essa ideia alguns anos depois, assumindo que a constante estava errada e não faria sentido colocar ela ali. E no final do século passado veio a prova de que o universo não só está se expandindo, como ele se expande de maneira acelerada.
E essa aceleração seria causada por um efeito repulsivo, oposto à gravidade. Da mesma forma que Einstein pensava no início do século passado, quando ele usou a constante cosmológica. E com isso, os astrônomos introduziram novamente a constante nas equações.
E é daí que veio aquela piada de que mesmo quando Einstein erra, ele acerta. Já a parte de matéria escura fria do nome se relaciona com matéria escura. Nesse modelo, a matéria escura é não-colisional, com velocidades baixas.
Ou, se você preferir em fisiquês, algo frio. O modelo Lambda-CDM já conseguiu prever de forma correta diversas descobertas. Alguns exemplos são a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, a quantidade de elementos como hidrogênio e hélio, e a própria aceleração da expansão do universo.
Além disso, a distribuição de galáxias no universo, que nós chamamos de estrutura de larga escala, também já era prevista por esse modelo. Então é por isso que o Lambda CDM é um dos modelos favoritos entre cosmólogos e astrônomos. Ele tem uma bagagem de previsões bem-sucedidas e cada vez é testado com observações mais e mais detalhadas.
Por causa disso, o Lambda CDM é o modelo preferido para conseguir explicar a origem e evolução do universo. Mas qual tipo de evolução que o modelo prevê? Vamos supor que eu te mostre um balão que já está um pouco cheio e eu continue a encher.
Você observa ele se expandir e se você imaginar o passado dele, você assume que em um dado momento no passado ele estava vazio. Você nem precisa ter visto ele vazio para tirar essa conclusão. Quando você observa ele se enchendo e se expandindo, você automaticamente rebobina na sua cabeça e chega nessa conclusão.
Para o lambda CDM, o universo seria como um balão. Se nós estamos vendo ele se expandir e nós sabemos que no passado o universo era menor, então nós podemos assumir que em um dado ponto ele era tão pequeno, mas tão pequeno que era apenas uma singularidade. Um ponto no meio do nada.
E desse ponto teria começado toda a expansão que nós vemos até hoje. Essa é a famosa explosão que levou o nome de Big Bang. Nesses primeiros momentos após o Big Bang, o universo era quente o suficiente para que tudo estivesse na forma de plasma.
Plasma é um estado da matéria em que as temperaturas são altas o suficiente para ionizar os elementos. Pouca gente sabe, mas o universo teve duas acelerações e a primeira delas aconteceu nesses primeiros momentos e levou ao nome de inflação. Na inflação o universo foi do tamanho de uma laranja até o tamanho de uma galáxia em um período entre 10 elevado a menos 32 e 10 elevado a menos 33 segundos.
Se você estivesse vendo o universo nessa época, você nem conseguiria perceber o momento em que ele deixou de ter o tamanho de uma laranja e virou do tamanho de uma galáxia, pra você isso teria sido instantâneo. Esse é o nível da inflação. E após a inflação, o universo continuou se expandindo e com isso ele foi se esfriando e deixando de ter temperaturas tão altas a ponto de ionizar os elementos.
Dessa forma, dos primeiros minutos até os primeiros 300 mil anos, os átomos se formaram. A princípio hidrogênio neutro foi formado, e depois átomos de hélio. As primeiras moléculas que eram compostas principalmente de hidrogênio e ou hélio, como hidrogênio molecular, também começaram a se formar nessa época.
E entre 300 e 400 mil anos depois, nós entramos na Era das Trevas. Não existia exatamente uma fonte de luz. Isso porque a maior parte dos elementos e moléculas já estavam na sua forma neutra, então não tinha algum fenômeno produzindo fótons.
O universo era escuro. Mas conforme ele foi atingindo seus primeiros milhões de anos, aí nós esperamos que estrelas tivessem começado a se formar. Elas se formariam pelo colapso de nuvens frias de hidrogênio molecular.
E essas estrelas seriam a primeira fonte de luz que o universo veria em muito tempo. E depois estruturas maiores, como galáxias, também começaram a se formar. No final da Era das Trevas, por volta de um bilhão de anos depois do Big Bang, inicia a Era das Estrelas, que é a era em que nós vivemos até hoje no universo.
Como o próprio nome sugere, é uma era dominada pela formação estelar. Mas eu quero voltar um pouco mais nessa história, porque o nosso foco aqui é justamente a Era das Trevas. Eu preciso ressaltar que existem observações que concordam com essa descrição que eu acabei de fazer da evolução do universo.
E o modelo matemático está inserido no Lambda CDM. Mas talvez a maior fonte de problemas aqui é justamente a era das trevas. O primeiro problema surge porque nós estamos falando de uma época muito antiga do universo, que até pouco tempo nós não tínhamos nem tecnologia suficiente para observar.
O segundo problema surge porque parece que muitas das perguntas em aberto da astronomia dependem justamente do que estava acontecendo nessa época. Duas delas sendo como foi a formação das primeiras estrelas e como surgiram as primeiras galáxias. A formação de uma galáxia é uma incógnita dentro da astronomia.
Diversos modelos tentaram explicar como ela aconteceu, mas a falta de observações deixava todos esses modelos com um ponto de interrogação no final. Elas se formaram através de um modelo hierárquico, onde estruturas menores foram se juntando formando a galáxia, ou através de um modelo monolítico, onde a galáxia se formou de uma vez logo depois do colapso de uma nuvem de gás grotesca. Foi o buraco negro supermassivo que foi puxando matéria e formando pequenos blocos de estrelas, ou a galáxia já era formada e aí o buraco negro só foi empurrado até lá através de algum, sei lá, empurro gravitacional.
Essa é tipo a versão astronômica da pergunta de quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Quem veio primeiro, o buraco negro ou a galáxia? O próprio telescópio Hubble foi usado numa tentativa de observar essa época no universo.
Mas quando o Hubble observou galáxias antigas, ele encontrou galáxias pequenas e não muito massivas. Essas galáxias concordavam melhor com o modelo hierárquico de formação de galáxias. Só que o Hubble não era um telescópio focado para observar regiões muito distantes.
Ele não foi construído com esse intuito. Então não tinha como saber se o que eles estavam observando era realmente uma prova de que o modelo hierárquico era o correto. Por isso era preciso um novo telescópio que tivesse tecnologia o suficiente para enxergar o mais longe possível, com o objetivo de observar essas primeiras galáxias, as primeiras estrelas, para finalmente pôr um ponto final na discussão de como as galáxias se formaram.
E aí nasceu a ideia do Telescópio Espacial James Webb. James Webb Space Telescope, ou Telescópio Espacial James Webb, é considerado como o sucessor do telescópio Hubble. Mas é importante deixar claro que eles possuem diferenças entre si, e objetivos diferentes.
Então essa frase não é muito correta. A primeira diferença é que o James Webb observa em comprimentos de onda no infravermelho. Já o Hubble observa no óptico e apenas uma pequena região do infravermelho.
Outra diferença é que o James Webb foi criado com o objetivo de observar a primeira luz do Universo, que é justamente esse período na Era das Trevas, entre 100 até 400 milhões de anos depois do Big Bang. O Hubble tinha como objetivo medir a taxa de expansão do Universo, observando diferentes épocas do nosso Universo. O James Webb tem cerca de 6 vezes mais área de captura de luz do que o telescópio Hubble.
E isso faz com que ele tenha mais sensibilidade e maior qualidade. Porque capturando mais fótons, mais detalhes são capturados dos objetos que estão sendo observados. Mas com certeza o grande diferencial é o intervalo de luz que o James Webb observa.
E esse intervalo possibilita enxergar ainda mais longe do que qualquer osciloscópio. Sendo mais específico, o James Webb observa nos comprimentos de onda entre 600 até 28. 500 nanômetros.
E esses comprimentos se encaixam na região do espectro chamada de infravermelho. Você pode estar se perguntando, por que observar no infravermelho? Por que não no ótico ou até em comprimentos mais energéticos, tipo raio-x ou ultravioleta?
O que faria sentido se nós pensarmos que estamos falando de objetos com emissão bastante energética. A razão é o efeito Doppler. Esse é o mesmo efeito que faz a frequência de uma ambulância mudar dependendo da velocidade com que ela se aproxima e se afasta.
No universo também existe um efeito semelhante que recebe o nome de efeito Doppler cosmológico. Quando uma galáxia ou estrela distante emite fótons, eles vão viajar pelo tecido do espaço-tempo até serem absorvidos por algo. Enquanto eles viajam, o universo está se expandindo e o comprimento de onda do fóton é esticado junto.
Para facilitar, imagina como se o fóton fosse uma mola. Conforme a mola se move, ela vai sendo esticada junto com o espaço-tempo, que funciona como uma mola elástica sendo puxada. E por causa desse efeito, se esse fóton foi emitido em um comprimento de onda pequeno, ele vai ser esticado, originando um comprimento de onda maior.
Quanto mais distante a fonte está de nós, mais o efeito Doppler cosmológico vai fazer o fóton sofrer. E nós até podemos calcular a distância em que o fóton foi emitido usando essa equação. Z é chamado de redshift, e ele quantifica o quão esticado o comprimento foi.
E dele você consegue obter a distância até a fonte. No caso dessas primeiras galáxias, os fótons viajaram por tempo suficiente para serem desviados a comprimentos de onda que ficam no infravermelho. E por isso que nós precisamos usar ferramentas que observam no infravermelho.
Senão a gente não consegue ver essa época. E nós também precisamos de ferramentas que sejam sensíveis porque nós estamos falando de objetos muito, mas muito longe. Então são poucos os fótons que chegam até nós.
E é essa grande revolução do James Webb em comparação com os outros telescópios, a capacidade de observar nesses comprimentos de onda e ter uma área coletora maior. O James Webb foi lançado no foguete Ariane 5 no dia 25 de dezembro em 2021, e acho que esse provavelmente foi o marco mais importante na astronomia nesse século até agora. Seis meses depois do lançamento, o James Webb já havia registrado suas primeiras imagens, que foram divulgadas em julho de 2022.
Ao todo, quatro imagens e um espectro foram divulgados pela NASA numa live que aconteceu no dia 12 de julho. Mas no dia anterior, a Casa Branca já tinha divulgado a primeira imagem de campo profundo do James Webb. Não demorou muito tempo para que astronomos caíssem em cima das primeiras imagens para analisar exaustivamente, e logo eles encontraram galáxias que quebravam o recorde de objetos mais distantes observados.
Na primeira foto, um dos vários artigos publicados que ficou conhecido como Panic at the Disks, eu acho que eu sei qual é o tipo de música favorita dos autores, foi um dos primeiros a fazer isso, ele até encontrou alguma dessas galáxias. Outros autores e grupos também chegaram a conclusões semelhantes, mas como nem tudo é perfeito, logo um problema surgiu. Quando eles calcularam a massa dessas galáxias, eles perceberam que elas eram muito maiores e mais massivas do que o esperado pela teoria.
E elas tinham estruturas mais complexas do que era esperado para galáxias tão jovens, que em teoria tinham acabado de se formar. Elas já possuíam tamanho, massa e estrutura de galáxias que são muito mais velhas. Elas deveriam ser pequenas, elas deveriam ser pouco massivas, elas também deveriam ser desestruturadas, como o Hubble tinha deixado a impressão.
O problema é, se elas se formam lentamente com estruturas pequenas se juntando em bilhões de anos, como que elas já eram grandes com o universo sendo tão jovem. O universo nem tinha chegado a um bilhão de anos, então não tinha tempo para essas estruturas frangentes se formarem. Em resumo, as galáxias eram muito mais avançadas segundo o nosso conhecimento de evolução de galáxias.
Elas não poderiam ter se formado em poucos milhões de anos. E foi aí que astrônomos perceberam que algo de errado não estava certo e a polêmica começou. Na época, a revista Nature convidou a astrofísica Allison Kirkpatrick da Universidade do Kansas para falar sobre as descobertas do James Webb.
E durante essa matéria, a astrofísica se referiu a essas descobertas com a seguinte frase. Nesse momento, eu estou acordado às três da manhã me perguntando se todo o trabalho que eu já fiz sai errado. Isso foi o suficiente para que algumas pessoas pegassem essa frase e usassem ela para justificar que o Big Bang era uma mentira.
Em poucos dias isso se espalhou pela internet e o título das matérias, em geral eram. James Webb prova que o Big Bang nunca existiu. E o argumento que todos esses artigos usam é o fato de que essas galáxias existirem naquela época não com um disco a idade do universo.
Pra eles o universo seria mais velho do que o esperado, então o Big Bang não poderia ter acontecido. E isso ficou tão famoso na internet que até hoje você vê pessoas que usam esse argumento sempre quando alguém fala do Big Bang. Mas será que foi isso mesmo que aconteceu?
Será que o James Webb provou que a teoria do Big Bang e tudo o que nós conhecemos sobre a evolução do universo está errada? A própria Kirkpatrick veio a público para dizer que a frase que ela usou na revista Nature não tinha nada a ver com o Big Bang. Ela mudou o próprio nome nas redes sociais afirmando que ela acreditava na teoria do Big Bang como a melhor para explicar a origem do universo.
Então qual é o motivo da frase dela e de onde veio todo esse caos? A verdade é que sim, as galáxias são mais massivas do que o esperado pela teoria. Então tem teorias que vão precisar ser revisadas.
Mas não é a teoria do Big Bang. Se você prestou atenção no vídeo, você deve ter percebido que o James Webb foi lançado com uma série de perguntas em aberto, e uma delas é sobre a formação de galáxias. Antes do James Webb, nenhum telescópio tinha tecnologia o suficiente para observar um passado tão distante do universo.
As poucas observações que existiam, vindas do Hubble, não tinham qualidade boa e era impossível afirmar alguma coisa sobre elas. Não era possível bater o martelo em uma das teorias de formação de galáxias com a tecnologia anterior à do James Webb. E por esse motivo essa questão era uma das missões do James Webb.
Pensa comigo, se ele foi construído e lançado com bilhões de dólares investidos, é porque essa pergunta ainda estava em aberto e precisava ser resolvida. Não fazia muito sentido lançar algo com uma pergunta que já foi respondida. E o que o James Webb encontrou foi justamente que a nossa ideia de formação de galáxias não estava correta.
O ponto que eu quero que você preste atenção aqui é o seguinte. A formação de galáxias sempre foi uma questão em aberto na astronomia. Não foi o James Webb que fez isso.
O fato de o James Webb ter mostrado que o que nós acreditávamos está errado só nos indica que nós precisamos rever modelos de formação de galáxias. E foi isso que a astrofísica Kirkpatrick quis dizer quando ela falou sobre tudo que ela aprendeu estava errado. Isso nem é algo tão surpreendente para os astrônomos que sempre tiveram suas dúvidas sobre o modelo de formação de galáxias.
O James Webb só mostrou com essas observações que nós precisamos repensar esses modelos. E é assim que a ciência sempre funcionou. A gente cria um modelo, testa com observações.
Se a observação não bater, a gente refaz o modelo. Isso não é algo novo, isso sempre aconteceu na ciência e sempre vai acontecer. Essa é a beleza do método científico.
Basicamente nós tínhamos algo com apenas uma vaga ideia de como funcionava, a formação de galáxias. E aí o James Webb veio e mostrou que não era bem assim como nós pensávamos. Se a teoria da formação de galáxias está errada, então a teoria do Big Bang também não pode estar?
E você tem toda a razão em pensar sim, porque nós estamos falando de ciência. Afirmações devem sim ser questionadas e eu fico muito feliz que você tenha se feito essa pergunta. E eu quero te mostrar mais um lado incrível da ciência, o do porquê que existem modelos mais aceitos do que outros.
A primeira coisa é que o modelo do Big Bang é o que mais concorda com as observações que nós temos, mas isso não quer dizer que o martelo foi batido de uma vez por todas. A única coisa é que nada até agora conseguiu se mostrar um modelo melhor do que o Big Bang para explicar essas observações. Nem mesmo existe qualquer evidência forte o suficiente para provar que o Big Bang não aconteceu.
E aqui a gente entra naquela frase famosa do Carl Sagan. Alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias. Então, para falar que o Big Bang aconteceu ou não aconteceu, que é uma alegação extremamente extraordinária, nós precisamos ter evidências para confirmar isso.
Não basta apenas uma evidência. Nós precisamos ter várias que foram testadas diversas vezes por diferentes grupos usando diferentes técnicas. E a afirmação, o Big Bang aconteceu, entra justamente nesse ponto.
Ela tem uma série de observações com diferentes grupos em diferentes anos, com diferentes métodos que são sempre refeitos. E todas elas convergem para que a teoria do Big Bang seja a que explica melhor a origem do universo. A principal dessas observações é a radiação cósmica de fundo em micro-ondas, que é prevista pelo modelo Lambda-CDN.
E outras observações são as observações de temperatura e perturbações, que também são previstas pelo modelo. As próprias observações do Hubble e de outros telescópios que conseguem mapear a estrutura em larga escala também concordam com essa afirmação. Existe uma variedade de formas de calcular a taxa de expansão do universo e todas concordam com o modelo matemático que descreve o Big Bang.
Ou seja, existe uma série de observações de diferentes jeitos que foram refeitas diversas vezes que concordam com o Big Bang. Já o James Webb foca em apenas um jeito, que é o observado infravermelho. Então mesmo se ele tivesse provado algo contrário, ainda não seria o suficiente para ir contra todas essas outras observações.
Mas é importante deixar uma coisa extremamente clara. Os dados do James Webb não provaram nada contra o Big Bang. Eles só provaram algo errado contra a ideia de que nós tínhamos de formação de galáxias.
E é claro que existem alegações e experimentos que tentam mostrar que o modelo do Big Bang é errado. Só que esses experimentos não têm tantas evidências para servirem de apoio nessas alegações de que o Big Bang está errado. Pegando a própria teoria de formação de galáxias que nós tínhamos em mente, só existiam poucas evidências que eram imagens sem qualidade do Hubble.
Já o modelo do Big Bang possui muito mais evidências apoiando do que o modelo de formação de galáxias tinha. E eu acho que isso é um exemplo perfeito de como a ciência funciona e também de como notícias falsas se espalham facilmente pela internet. O James Webb está nos mostrando com mais detalhes o universo jovem pela primeira vez na história.
Ele vai nos responder perguntas que ainda não possuem respostas e até nos ajudar a criar modelos de coisas que nós nem fazíamos ideia da existência. E foi isso que ele fez. Ele nos deu observações de algo que nós nunca soubemos exatamente como funcionava, porque nós mal tínhamos observações.
A lição que fica aqui é a mesma que a nossa mãe nos dá. Não acredite em tudo o que você lê na internet e sempre busque referências confiáveis. Por exemplo, as desse vídeo estão sempre na descrição, como todo outro vídeo do Ciência Todo Dia.
Além disso, é um aprendizado válido para saber como a ciência é e que teorias não são simplesmente teorias com significado igual a gente usa no dia a dia. Teoria tem um peso dentro da ciência, e é algo que já foi testado com observações e possui evidências fortes a seu favor. Tenha sempre isso em mente quando você ler que algo desmentiu algum conceito ou uma teoria da ciência.
Mas acho que a lição mais importante desse vídeo é o que o Carl Sagan disse. Alegações extraordinárias requerem evidências extraordinárias. Muito obrigado e até a próxima.
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