Bem vindos à Floresta Negra. Eu não sei se você já teve a sensação de que as inteligências artificiais estão transformando a internet. Parece que cada vez mais todo o conteúdo é feito por I.
A. S. E o conteúdo orgânico feito por humanos está virando quase um deserto quando comparado ao conteúdo gerado por máquinas.
Mas para entender o impacto que isso vai ter na internet e até mesmo na humanidade eu preciso jogar Detective com vocês. É, Detective. Como assim você não sabe o que é Detective?
Se você está assistindo esse vídeo direto de outro planeta, eu vou explicar. Detetive é um jogo de tabuleiro bem famoso. Independente da marca, da versão ou até do nome, a lógica é sempre a mesma.
O objetivo é desvendar um crime, e o vencedor é aquele que primeiro descobrir o autor, o local e a arma utilizada no delito. Só que hoje nós vamos jogar uma versão diferente com as regras invertidas do Detetive original. Primeiro, porque diferente do jogo original, nós não estamos falando de algo que já aconteceu, mas de algo que ainda pode acontecer.
E segundo, porque já se sabe quem é o criminoso, ou no nosso caso, a ameaça. E na verdade o que a gente vai descobrir não é a identidade do criminoso, mas sim da vítima, o local do crime e a arma do crime. E para começar o nosso jogo, a gente vai atrás da cena do crime.
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Tá precisando de um presente de Natal pra você mesmo ou pra alguém? É só clicar no link da descrição ou do comentário fixado. Tá, brincadeira não à parte, o fato é que isso aqui tá cada vez mais vazio, gelado e hostil.
E eu não tô falando do seu relacionamento, eu estou falando da internet. Mas essa também é uma boa definição para descrever adequadamente o universo. Eu não estou exagerando quando eu digo que a web está se transformando mais e mais em uma mini representação da vida no espaço.
Ou melhor, da falta dela. Para e pensa comigo. Tanto a internet quanto o cosmos são cheios de coisas brilhantes chamando a nossa atenção.
A gente é incapaz de acompanhar a velocidade com que ambos se expandem e quando finalmente acreditamos em encontrar um sinal de vida a gente acaba ficando no vácuo mesmo. Aquele espaço público em que a gente meio que se acostumou a achar gente de todos os tipos em sites, fóruns, blogs, chats e mais tarde nas redes sociais está cada vez mais agitado, só que ao mesmo tempo está virando um grande vazio de atividade genuinamente humana. E aí surge a primeira pergunta, para onde foram as pessoas?
A resposta mais sincera é que está todo mundo se escondendo. Os robôs e a inteligência artificial estão de certa forma encurralando os seres humanos. Eles são como os predadores em uma floresta.
Uma floresta negra, se você preferir chamar assim. Originalmente a hipótese da floresta negra é uma das ideias que tendam a explicar o porquê dos seres humanos ainda não terem encontrado vida fora da Terra, mesmo que as estimativas apontem para a existência de 300 milhões de planetas potencialmente habitáveis no universo. O motivo para esse contato nunca ter acontecido, segundo a Floresta Negra, é que civilizações extraterrestres estariam em silêncio para passagens percebidas, e assim elas conseguiriam manter a sobrevivência da própria espécie.
O silêncio é uma estratégia de sobrevivência, porque ser encontrado pode significar ser encontrado por uma espécie mais poderosa que pode te destruir. Então só as civilizações silenciosas que escapam dessa seleção natural cósmica. A floresta negra é justamente esse cenário em que a vida inteligente se esconde de outra vida inteligente, como se todos fossem caçadores em uma floresta negra, com armas nas mãos prontas para atirar em qualquer coisa que se mova.
E se você ficou interessado e quer ter crises essenciais e talvez não dormir hoje de noite, eu já fiz um vídeo sobre isso, você pode clicar aqui e acabar nesse vídeo. E isso é importante porque agora nós vamos transportar esse mesmo raciocínio para a internet. Em 2016, o tráfego anual da internet mundial, sim, da internet inteira, ultrapassou pela primeira vez a marca inacreditável e inimaginável de um zetabyte, que é a mesma coisa que um cestilhão, um 1 seguido de 21 zeros.
A nossa mente é incapaz de conceber um número desse tamanho. Mas para tentar entender a dimensão dessa monstruosidade, a gente pode fazer a seguinte comparação. Um cestilhão é aproximadamente a quantidade de grãos de areia no planeta Terra.
Só que isso foi em 2016. Desde então esse número disparou. Para 2024, a estimativa é que a internet produza 147 zettabytes.
Considerando que o maior drive do mundo suporta até cerca de 100 terabytes, seriam necessários 147 bilhões desses SSDs para guardar tudo isso. A quantidade de bytes de informação na internet está se aproximando da quantidade de estrelas do universo. A internet é equivalente a um universo inteiro de informação.
Mas o que explica um aumento tão brusco desses números nos últimos 10 a 15 anos? Em grande parte, pela velocidade monstruosa com que cresce o conteúdo criado a partir de inteligência artificial. Um estudo da Amazon sugere que mais da metade de todo o conteúdo no metaverso já é composto por informação gerada ou traduzida por modelos de linguagem de larga escala, que em inglês são chamados pela sigla LLM.
Você provavelmente interage com uma LLM todo dia. O chat GPT é uma LLM. E como a gente já mostrou no vídeo da internet morta, clique aqui quando acabar esse vídeo, pesquisadores da Dinamarca projetaram que 99% da internet vai ser composta por IA até 2030.
Inclusive, esse é o momento perfeito para provar que você é humano e clicar em se inscrever aqui no canal. Além de dificultar a identificação do que é humano e o que é sintético, o grande problema é que grande parte desse volume colossal de dados vem de uma montanha de anúncios, ou conteúdo de baixa qualidade ou de material malicioso. Antigamente, na idade da pedra da internet, a gente usava a expressão navegar na web.
Só que hoje mais parece que a gente está nadando num mar de lixo. Lixo digital. E em meio a essas ameaças, toda a vida orgânica da internet, ou seja, nós mesmos, procura locais seguros para se proteger.
Ou melhor, para se esconder. Esse ensaio de uma designer, antropóloga e pesquisadora chamada Maggie Appleton avança sobre o conceito de floresta negra da internet publicado em 2019 por um rapaz chamado Yancy Strickler, que é o fundador da plataforma de financiamento coletivo Kickstarter. E no texto ela nos apresenta a Floresta Negra de Inteligência Artificial.
É ali que são as redes sociais mais populares como o Facebook, o Twitter, o Instagram e outros espaços públicos da internet que hoje são dominados por robôs, trolls e todo o tipo de automatização responsável por entupir a internet com conteúdo repetitivo e anúncios, além de raspar e captar todos os dados que encontram pela frente. E guarda bem essa informação porque ela vai ser muito importante no nosso jogo logo mais. Até mesmo as partes não públicas da internet estão começando a ser tomadas por inteligências artificiais.
Eu tenho certeza que na sua caixa de e-mails devem ter alguns e-mails de spam que foram escritos e gerados por inteligências artificiais generativas. E pra piorar a situação, a primeira coisa que você recebe ao abrir o WhatsApp é a oportunidade de conversar com a inteligência artificial do Meta, que inclusive tem um nome que não passa no teste da 5ª série aqui no Brasil. Meta?
Aí. Ainda existem espaços de refúgio das IAs em meio à internet. E essa é a chamada Cozy Web, ou Web Aconchegante em português.
E esse ambiente é composto por plataformas bem mais nichadas, que dependem da curadoria humana para funcionar. Aqui não importam as métricas, a otimização de páginas, as técnicas de SEO ou engajamento, porque esses ambientes não são indexados, ou seja, eles não são encontrados nem por buscadores como Google. São tipo as resistências em um mundo no meio de um apocalipse zumbi.
O único jeito de fugir das I. A. S.
é se esforçar para mantê-las longe de você. O problema disso é que a tal floresta negra da inteligência artificial, assim como o universo, segue se expandindo. E esse avanço tende a chatar cada vez mais esses espaços que já são exceção à regra.
Por exemplo, vamos pegar o serviço de streaming. Por mais que essas plataformas até possam usar a inteligência artificial para otimizar alguma função do aplicativo, é nesses ambientes em que humanos podem consumir filmes, séries e músicas estritamente produzidas por outros seres humanos. Quer dizer, estritamente é uma palavra muito forte, porque sim, a inteligência artificial também está invadindo esses espaços.
O Google desenvolveu uma ferramenta de pesquisa chamada Notebook LM, e ela funciona como uma assistente virtual para estudos e é capaz de converter grandes quantidades de conteúdo em explicações resumidas. E uma das funções que ela permite executar é transformar esse conteúdo em um podcast chamado Deep Dive. E esse podcast discute o assunto que você quiser.
E tudo isso com um casal de apresentadores que não existe. Eles são criados por inteligência artificial, mas eles contam com um nível de realismo que nenhum desavisado poderia questionar. E alguém já até usou a plataforma para criar vários episódios que estão no Spotify, em que eles trazem notícias e novidades do mundo da inteligência artificial.
Só que essa história não para em podcasts. Várias produtoras de filmes usam modelos de IA para prever o sucesso dos seus roteiros, baseado na história e atores contratados para cada papel. IA já tem um papel até em decidir quais filmes são feitos e quem faz eles.
E o que também é assustador é a forma como a IA generativa está impactando a própria ciência. Um estudo flagrou que pesquisadores passaram a usar o chat GPT depois de ele se tornar popular em textos de revisões científicas sobre a própria inteligência artificial. Tá aí quem vai fazer um Enem um exemplo perfeito de metalinguagem.
Meta. . .
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linguagem. A pesquisa constatou que em 2024, palavras como inovação, notável, louvável e outros termos passaram a aparecer numa frequência vequiginosamente maior do que a detectada nos anos anteriores. Só o termo meticuloso apareceu 34 vezes mais do que em 2023.
O aumento brusco no uso dessas palavras indica que muitos dos textos e artigos publicados nos últimos anos foram escritos meticulosamente poliás. Se até artigos científicos que passam por rígidos processos de revisão e correções e são sendo feitos parcial ou quem sabe até completamente por ferramentas de inteligência artificial, imagine o que pode acontecer com outras frentes que não são submetidas a olhar e são criteriosas. E além de se infiltrar na nossa ciência e cultura, a gente também já sabe que nos próximos anos a inteligência artificial vai ter consumido tudo o que os humanos já produziram na internet.
A estimativa é que por volta de 2028, todo o conteúdo humano disponível já vai ter sido usado para treinar inteligências artificiais generativas se o desenvolvimento dessas tecnologias continuar no ritmo de crescimento atual. Se a IA é assassina, a Floresta Negra da internet é o local do crime. E nós acabamos de encontrar a arma, dominação completa.
Em poucos anos a inteligência artificial vai dominar toda a produção de conteúdo online. Tudo que eu, você e toda a humanidade já escrevemos nas redes sociais, todos os vídeos que nós publicamos no YouTube, todas as nossas fotos, todas as nossas ilustrações, todos os avanços científicos da medicina e da física, tudo já vai ter sido assimilado por robôs. Isso porque a fome desses programas por dados aumenta de forma exponencial a cada nova versão.
A primeira geração do chart GPT usou 117 milhões de parâmetros. Na seguinte, 1 bilhão e meio. O GPT-3, 175 bilhões.
E a estimativa era que o GPT-4 fosse treinado com cerca de 1 trilhão de parâmetros. E isso vai levar o treinamento de IaaS até uma encruzilhada. IaaS dependem de dados para serem treinadas, e elas ficam mais poderosas com mais dados.
Então o que as empresas responsáveis pelas inteligências artificiais vão fazer quando o conteúdo para treinar elas acabar? E essa situação oferece dois caminhos. Ou as empresas por trás do chat GPT e similares vão ter que aceitar que elas bateram no teto sem a possibilidade de saltos tecnológicos que nós nos acostumamos a testemunhar nos últimos anos, ou elas vão ter de realmente alimentar as máquinas com conteúdo gerado pelas próprias inteligências artificiais.
Só que aí tem um problema. Segundo a ciência, e ao que a gente sabe hoje, essa segunda opção pode não prosperar tanto assim. Experimentos publicados na revista Nature em julho de 2024 mostram que modelos de inteligência artificial generativa não se dão bem quando tendem a apelar para o canibalismo.
Eles demonstraram que novas gerações treinadas a partir de bases de dados produzidas pelas antecessoras tendem a produzir mais erros do que as anteriores. No fim das contas, se alimentar de si mesma faz com que a IA fique cada vez mais burra. Os cientistas treinaram várias gerações de IAs com o conteúdo produzido pelo modelo anterior.
E depois eles inseriram o mesmo texto sobre arquitetura na Idade Média em cada uma delas para ver qual seria o nível da resposta do programa. Na primeira geração, o resultado foi esse aqui. Ele já tá um pouco esquisito, mas calma, olha o que aconteceu com a nona geração.
Na nona geração, a IA, que era supostamente para falar sobre a arquitetura medieval, respondeu sobre lebres, ou seja, ou a arquitetura medieval foi inteiramente planejada por lebres, ou as IAs não estão sabendo muito bem o que estão fazendo. E isso não acontece somente com texto, o resultado chama ainda mais atenção quando falamos de criação de imagens. Em outro estudo, pesquisadores pediram para diferentes gerações de I.
A. s construírem a representação de um homem hispânico idoso. Quanto mais envenenada por conteúdo sintético no treinamento, mais distorcidos foram os resultados.
Um outro estudo já afirma que com o crescimento de material sintético na web, vai ser inevitável a realidade em que os robôs vão ter que regurgitar o próprio conteúdo e se alimentarem daquilo que eles mesmos produzem, já que uma boa parcela da internet produzida por humanos vai ser, passo a passo, proporcionalmente cada vez menor. E no fim das contas, a conclusão é que o predomínio da inteligência artificial pode gerar um colapso. Mas não o colapso dos seres humanos, e sim da própria inteligência artificial.
E com isso, nós chegamos ao fim do jogo. E é hora de revelar a grande vítima do uso irrestrito de inteligências artificiais. Que talvez seja a própria inteligência artificial.
O que esse cenário aponta é que, ao contrário do que se imagina, inteligências artificiais generativas não vão necessariamente acabar com os seres humanos, e sim fazer com que o conhecimento produzido por nós, talvez seja uma fonte ainda mais importante de poder. Agora a questão é, a quem que esse poder vai servir? Muito obrigado e até a próxima.
Esse vídeo foi feito de maneira meticulosa. próxima. Esse vídeo foi feito de maneira meticulosa.