[Música] Samara estava sentada no sofá da sala, os olhos fixos na televisão que transmitia um popular programa de namoro. As luzes coloridas do estúdio refletiam em seu rosto, mas não conseguiam iluminar a tristeza que sentia por dentro. Ela suspirou ao ver mais um casal se formando, baseado apenas na aparência física.
"Por que eles sempre escolhem as mais bonitas? ", ela murmurou para si mesma. "Será que ninguém se importa com o que está por dentro?
" Sentindo o peso da solidão, ela se levantou lentamente e caminhou até a cozinha. Abriu o freezer e pegou um pote de sorvete de chocolate. "Talvez isso ajude a melhorar meu humor", pensou, pegando uma colher grande.
De volta ao sofá, ela começou a saborear o sorvete quando uma propaganda apareceu na tela. Uma música suave tocava ao fundo enquanto casais felizes sorriam uns para os outros. "Você está cansado de ser julgado pela aparência?
" dizia uma voz calma e convidativa. "Conheça o amor da sua vida pelo seu interior e não pelo exterior. Apresentamos o Conexão Verdadeira, o aplicativo de namoro que valoriza quem você realmente é.
" Samara parou de comer e prestou atenção à propaganda, que continuava: "Converse com alguém por duas semanas sem saber a aparência física dela. Depois disso, se ambos quiserem, vocês poderão trocar fotos e contatos. Descubra a magia de se conectar de coração para coração.
" Ela ficou pensativa, mexendo a colher dentro do pote. "Talvez essa seja a minha chance", sussurrou. "Posso conquistar alguém pelo que sou e não pela minha aparência.
" Determinada, pegou seu celular e procurou pelo aplicativo. Após alguns minutos, o Conexão Verdadeira estava instalado. Ela começou o cadastro, preenchendo seu nome, telefone e selecionando uma foto.
Uma mensagem apareceu: "Sua foto só será visível após duas semanas de conversa, se você e a outra pessoa desejarem. " Na descrição, ela escreveu: "Sou uma mulher jovem que adora viajar, ama a praia, é apaixonada por animais, aprecia bons restaurantes e é engenheira. " Ela sorriu levemente, sabendo que não tinha mentido totalmente.
"Bem, talvez eu não viaje tanto assim e faz tempo que não vou à praia", admitiu para si mesma. "Mas quem sabe isso mude em breve. " Nos dias seguintes, Samara começou a conversar com alguns homens.
Apesar de ser inteligente e articulada, ela se sentia insegura quando o assunto era paquera, até que uma nova mensagem surgiu: "Olá, Samara! Vi que você também é engenheira. Em que área você atua?
" assinava Samuel. Ela respondeu animadamente: "Oi, Samuel! Trabalho com engenharia ambiental.
E você? " "Que coincidência! Eu também sou engenheiro ambiental", ele escreveu.
"Gosto muito de projetos que envolvem sustentabilidade. " Os olhos de Samara brilharam. "Eu também!
Recentemente participei de um projeto de recuperação de áreas degradadas. " "Que incrível! Podemos trocar algumas experiências.
Você gosta de viajar para conhecer projetos em outros lugares? " Ela hesitou por um momento, mas decidiu ser positiva. "Sim, adoro viajar e conhecer novas iniciativas.
É inspirador ver como diferentes comunidades lidam com questões ambientais. " Samuel respondeu rapidamente: "Exatamente! No ano passado, visitei um projeto de energia solar no Nordeste.
Foi uma experiência fantástica. " Samara sentiu-se entusiasmada. "Sempre quis conhecer projetos assim.
A energia renovável é o futuro. " A conversa fluía naturalmente. Eles passaram horas trocando ideias sobre sustentabilidade, projetos inovadores e seus sonhos profissionais.
No dia seguinte, Samuel iniciou a conversa: "Bom dia, Samara! Como está? " "Bom dia, Samuel!
Estou bem, e você? " "Estou ótimo! Estava pensando: você mencionou que ama a praia.
Qual é a sua favorita? " Ela sorriu ao lembrar das lembranças de infância. "Gosto muito da Praia do Rosa.
As águas são lindas e a natureza ao redor é deslumbrante. " "Não acredito! É minha praia preferida também!
" ele exclamou. "Adoro surfar lá. Você surfa?
" "Que legal! Sempre quis aprender, mas nunca tive coragem", admitiu Samara. "Posso te ensinar algum dia", sugeriu Samuel.
"É uma sensação de liberdade incrível. " Ela corou, mesmo sabendo que ele não a via. "Eu adoraria!
Quem sabe em breve? " Continuaram conversando sobre suas aventuras na praia, os pores do sol que apreciavam e a tranquilidade que o mar lhes proporcionava. Em outra noite, Samuel perguntou: "Você mencionou que aprecia bons restaurantes.
Qual é o seu tipo de culinária favorito? " Samara pensou por um momento. "Amo comida italiana: massas, risotos, tudo com muito queijo.
" Ele respondeu entusiasmado: "Somos dois! Tem um restaurante italiano aqui na cidade que é fantástico. Já foi no Bela Pasta?
" "Já ouvi falar, mas nunca tive a oportunidade de ir", disse ela. "Precisamos remediar isso", escreveu Samuel. "Talvez possamos ir juntos algum dia.
" Ela sentiu o coração acelerar. "Seria ótimo! " Os dias passaram rapidamente.
As conversas se tornaram mais pessoais. Compartilharam histórias de infância, falaram sobre suas famílias e até mesmo sobre seus medos e inseguranças. "Você tem animais de estimação?
" perguntou Samuel certa vez. "Sim, tenho um gato chamado Milo. E você?
" "Tenho uma cachorra chamada Luna. Ela é minha companheira de aventuras", respondeu ele. "Que fofo!
Sempre quis ter um cachorro, mas moro em apartamento e acho que não seria justo com ele. " "Entendo, mas quem sabe no futuro, com mais espaço, você possa ter um. " Em uma tarde chuvosa, Samuel escreveu: "Dias como hoje me deixam reflexivo.
Gosto de ouvir música e relaxar. E você? " "Também adoro!
Minha banda favorita é Coldplay. Suas músicas me acalmam", compartilhou Samara. "Não acredito!
Coldplay é minha banda favorita também! Fui ao show deles no último ano. " "Que incrível!
Eu não pude ir; assisti pela televisão. Foi emocionante. " "Na próxima vez, temos que ir juntos", propôs Samuel.
"Combinado", respondeu ela, com um sorriso no rosto. As duas semanas estavam quase no fim. Samara sentia um misto de ansiedade e expectativa.
"Será que Samuel gostaria dela ao ver sua foto? E se ele a rejeitasse por causa de sua aparência? " Na última noite antes da liberação das fotos, Samuel escreveu: "Samara, essas duas semanas foram incríveis.
Sinto que te conheço há anos. " "Também sinto o mesmo, Samuel. Nossas conversas são o ponto alto dos meus dias.
" "Gostaria muito de te conhecer pessoalmente", disse ele. Ela, independente de qualquer coisa, respirou fundo. Eu também, mas preciso confessar que estou um pouco nervosa.
— Não precisa ficar. O que importa é quem você é, e eu já gosto muito de você — assegurou Samuel. As palavras dele a confortaram.
— Obrigada por dizer isso, significa muito para mim. No dia seguinte, o aplicativo notificou: "Parabéns! Você completou duas semanas de conversa.
O botão para trocar fotos e contatos está disponível. " Samara olhou para a tela, seu coração batendo acelerado. — Chegou a hora — pensou.
Samuel enviou uma mensagem, pronto para dar o próximo passo. Ela respondeu: — Sim, vamos lá! Eles clicaram no botão ao mesmo tempo; as fotos apareceram.
Samara não conseguia desviar os olhos da tela do celular. A foto de Samuel acabara de aparecer no aplicativo, e ela ficou instantaneamente impressionada. Ele tinha cabelos castanhos claros que caíam levemente sobre a testa, olhos verdes que brilhavam com uma vivacidade contagiante e um sorriso que poderia iluminar qualquer ambiente.
Sua pele bronzeada denunciava horas passadas sob o sol, provavelmente surfando nas ondas que ele tanto amava. O corpo atlético era resultado de anos dedicados ao esporte e a um estilo de vida saudável. — Ele é um príncipe — pensou Samara, sentindo o coração acelerar enquanto ainda contemplava a foto.
Uma nova mensagem de Samuel surgiu na tela: — Você é linda, — dizia a mensagem, seguida de um emoji sorridente. Samara sentiu um misto de alegria e culpa inundar seu peito. Dois dias antes, ela havia trocado a foto no aplicativo; em vez de sua própria imagem, ela colocou a foto de sua irmã gêmea, Camila.
Ao contrário de Samara, Camila era atlética, praticava CrossFit, corria todas as manhãs e mantinha uma alimentação regrada. A foto mostrava Camila sorrindo à beira da praia, refletindo saúde e confiança. Samara respirou fundo e respondeu timidamente: — Obrigada!
Você também é muito bonito. As palavras pareciam insuficientes, mas era o melhor que conseguia no momento. Samuel rapidamente respondeu: — Adoraria te ver pessoalmente.
Que tal marcarmos um encontro? O convite fez o coração de Samara disparar. — Seria ótimo!
— digitou, tentando esconder a insegurança que a consumia. Eles continuaram conversando por mais alguns minutos, discutindo possíveis locais para se encontrarem. Samuel sugeriu um café próximo à praia, um lugar descontraído onde poderiam conversar mais.
— Então está combinado, sábado às 15 horas? — perguntou ele. — Combinado!
— respondeu Samara, adicionando um emoji de coração. Após encerrar a conversa, Samara colocou o celular de lado e tentou processar o que havia acabado de acontecer. A excitação inicial deu lugar à preocupação.
— O que eu fiz? — sussurrou para si mesma. Ela sabia que não podia ir ao encontro fingindo ser Camila.
— Ele vai perceber na hora que não sou eu na foto. Aquela noite foi longa. Samara rolou na cama, incapaz de dormir; pensamentos tumultuados invadiam sua mente.
— Eu não posso continuar com essa mentira, mas também não quero perdê-lo. O que eu faço? — As horas passavam e a angústia só aumentava.
Na manhã seguinte, com olheiras marcando seu rosto, ela decidiu ligar para Camila. Pegou o telefone e discou o número da irmã. Após alguns toques, Camila atendeu com a voz animada de sempre: — Oi, mana!
Como você está? — Oi, Camila! Estou aqui bem.
E você? — respondeu Samara, tentando soar casual. — Tudo ótimo!
Acabei de voltar da academia, hoje o treino foi puxado! — disse Camila, rindo. Samara sorriu levemente.
— Você e seu CrossFit. . .
Não sei como consegue! — Ah, você sabe que eu adoro! Mas me conta, o que anda fazendo?
Samara hesitou por um momento. — Na verdade, eu queria falar com você sobre uma coisa. Camila percebeu o tom sério na voz da irmã.
— Claro, o que houve? Está tudo bem? — É que eu conheci um cara, — começou Samara, sentindo as bochechas corarem mesmo estando sozinha.
— Nós nos conhecemos através de um aplicativo de namoro. — Que ótimo, Samara! Fico feliz por você!
— exclamou Camila, genuinamente. — Mas tem um problema, — continuou Samara. — Eu usei a sua foto no aplicativo.
Houve um silêncio do outro lado da linha. — Você o quê? — perguntou Camila, surpresa.
— Eu sei, foi errado, mas eu estava insegura e achei que nunca conseguiria chamar a atenção dele sendo eu mesma, — confessou Samara, a voz embargada. — Samara, isso é loucura! Você não pode enganar um homem dessa forma, — repreendeu Camila.
— Além do mais, você é linda do jeito que é! — Não é assim que me sinto, — disse Samara, com tristeza. — Faz anos que não tenho um encontro, e com o Samuel, eu sinto algo diferente!
Temos tanto em comum. . .
Camila suspirou. — Eu entendo que você esteja se sentindo assim, mas mentir não é a solução. — Eu sei, — admitiu Samara.
— Mas agora ele quer me encontrar e eu não sei o que fazer. — Você precisa contar a verdade para ele, — aconselhou Camila. — Eu tenho medo de que ele não queira mais falar comigo, — disse Samara, quase chorando.
Camila ficou em silêncio por alguns instantes. Ela queria vê-la feliz. — E o que você espera que eu faça?
— perguntou. — Finalmente, eu queria. .
. Eu queria que você fosse ao encontro no meu lugar, fingindo ser eu, — revelou Samara, sentindo o peso de suas palavras. — Você só pode estar brincando!
— exclamou Camila. — Isso é uma péssima ideia! — Por favor, Camila!
É só esse encontro! Enquanto isso, eu vou me esforçar para emagrecer e ficar mais saudável. Quando eu estiver pronta, eu mesma vou encontrá-lo!
— implorou Samara. — Samara, não funciona assim! Você não pode construir uma relação baseada em mentiras, — argumentou Camila.
— Eu sei que parece loucura, mas ele não mora perto. Não vamos nos encontrar com frequência; esse tempo seria suficiente para eu me transformar! — insistiu Samara.
— Isso não é justo, nem com ele, nem com você, — disse Camila. — E se ele se apaixonar por mim achando que sou você? Como você vai lidar com isso depois?
— Eu não sei, — admitiu Samara, as lágrimas começando a rolar pelo rosto. — Eu só não quero perdê-lo antes mesmo de tentar. Camila sentiu o coração apertar ao ouvir o choro da irmã.
Irmã, mana, eu entendo que seja difícil, mas precisamos pensar com calma, por favor. Camila, só dessa vez eu prometo que vou dar um jeito nisso, suplicou Samara. Camila respirou fundo.
— Eu realmente não sei se isso é uma boa ideia, Prada. Com você, eu também estou preocupada comigo mesma — disse Samara, enxugando as lágrimas. — Mas eu sinto que essa é minha única chance.
Deixe-me pensar. — Ok, preciso refletir sobre tudo isso — disse Camila. — Claro, obrigada por me ouvir — respondeu Samara, tentando soar esperançosa.
— Eu vou ter que desligar agora, mas te dou uma resposta até à noite — finalizou Camila. — Está bem. Obrigada, mana, você é a melhor — disse Samara, com um leve sorriso.
— Cuide-se, Samara. Até mais tarde — despediu-se Camila, antes de encerrar a ligação. Samara colocou o telefone de lado e suspirou profundamente.
A espera pela resposta de Camila seria angustiante, mas ela não via outra saída. Levantou-se e foi até a cozinha, preparando uma xícara de chá para tentar acalmar os nervos. Enquanto observava a água ferver, sua mente estava a mil.
Pensava em Samuel, em como as conversas com ele a faziam sentir-se viva. Lembrou-se das risadas compartilhadas, dos sonhos em comum, das paixões pela praia e pela engenharia ambiental. — Será que estou fazendo a coisa certa?
— questionou-se em voz alta. O dia passou lentamente. Samara tentou se distrair assistindo a filmes, lendo livros, mas nada conseguia afastar a ansiedade.
Olhava para o celular a cada cinco minutos, na esperança de uma mensagem de Camila. Quando o sol começou a se pôr, o telefone finalmente tocou. — Era Camila.
Com o coração acelerado, Samara atendeu. — Oi, Camila. — Oi, Samara — respondeu a irmã, com a voz séria.
— Então, pensou no que conversamos? — perguntou Samara, apreensiva. — Sim, pensei bastante — disse Camila.
— E quero que você me escute com atenção. — Claro, estou ouvindo — respondeu Samara, segurando a respiração. Camila respirou fundo ao telefone.
— Samara, eu aceito — disse, finalmente. — Você aceita mesmo? — perguntou Samara, quase não acreditando.
— Sim, mas tenho meus motivos — explicou Camila. — Primeiro, quero ver você feliz. Segundo, espero que isso a incentive a emagrecer e cuidar da sua saúde.
Você está com pressão alta e pré-diabética, Samara. Isso é sério. E, terceiro, farei isso por no máximo três meses.
Samara pulou de alegria. — Obrigada, Camila! Você é a melhor irmã do mundo!
— Não se esqueça do nosso acordo — alertou Camila. — Quero ver você se esforçando de verdade. — Pode deixar!
Já comecei a dieta e tudo — garantiu Samara. Nos dias que se seguiram, Samara continuou conversando com Samuel pelo aplicativo. — Mal posso esperar para te encontrar — escreveu ele, numa noite.
— Eu também estou ansiosa — respondeu Samara, sentindo uma pontada de culpa. Finalmente, o dia do encontro chegou. Camila estava se arrumando quando Samara entrou no quarto.
— Uau, você está incrível! — elogiou Samara. — Obrigada!
Lembre-se, estou me passando por você, então preciso estar à altura — brincou Camila. — Você vai se sair bem! Só não esqueça de não mencionar nada que eu não saiba, para não nos confundirmos depois — aconselhou Samara.
— Pode deixar. Boa sorte para mim! — disse Camila, pegando a bolsa.
No café à beira, Samuel já esperava. Ele se levantou ao ver Camila se aproximando. — Samara!
— perguntou, com um sorriso. — Oi, Samuel — respondeu ela, tentando parecer natural. — É um prazer finalmente te conhecer pessoalmente — disse ele, puxando a cadeira para ela se sentar.
— O prazer é meu — respondeu Camila. Eles fizeram os pedidos e começaram a conversar. — Então, você realmente adora viajar?
— perguntou Samuel. — Sim, adoro conhecer novos lugares — disse Camila, lembrando-se do que Samara havia escrito no perfil. — Qual foi o último lugar que visitou?
— insistiu ele. Camila pensou rápido. — Fui para Florianópolis recentemente.
As praias lá são maravilhosas. — Concordo! Já surfei muito por lá — comentou Samuel, animado.
— Você realmente ama surfar, não é? — observou Camila. — É minha paixão.
Mas me conte mais sobre você: além de viajar e amar a praia, o que mais gosta de fazer? — perguntou ele. — Bem, eu adoro animais e gosto de experimentar novos restaurantes — disse ela.
— Tem algum restaurante favorito? — Sim, o Bela Pasta. A comida italiana de lá é incrível!
— respondeu Camila, lembrando-se da conversa anterior. — Não acredito! É meu restaurante preferido também!
— exclamou ele. A conversa fluiu facilmente. Camila estava surpresa com o quão agradável Samuel era.
— Ele é ainda mais incrível pessoalmente — pensou. Após algumas horas, Samuel olhou para o relógio. — Nossa, o tempo voou!
Nem percebi — concordou Camila, sorrindo. Samuel se inclinou um pouco na direção dela. — Posso confessar algo?
— — Claro — disse ela, curiosa. — Sinto que temos uma conexão especial. Você é diferente de todas as pessoas que conheci — disse ele, olhando nos olhos dela.
Samara sentiu o rosto esquentar. — Eu também estou gostando muito de te conhecer — ele se aproximou lentamente, como se fosse beijá-la. Camila, num impulso, desviou o rosto.
— Desculpe — disse ela. Samuel recuou imediatamente. — Não, desculpe, eu fui precipitado.
— Está tudo bem. É só que prefiro ir devagar — explicou Camila. — Eu entendo e respeito isso.
Na verdade, admiro você ainda mais por ser assim — afirmou ele. — Obrigada por compreender — disse ela, aliviada. Levantararam-se e caminharam juntos até a saída.
— Posso te acompanhar até em casa? — ofereceu Samuel. — Não precisa, vou pegar um táxi daqui mesmo — respondeu Camila.
— Então, até logo! — Samara despediu-se. Camila quase o corrigiu, por um instante prestes a dizer "meu nome é Camila", mas lembrou-se a tempo.
— Até logo, Samuel — disse, sorrindo. Ao chegar em casa, Camila ligou imediatamente para Samara. — E então, como foi?
— perguntou a irmã, ansiosamente. — Foi ótimo! Ele é realmente encantador.
— Vocês conversaram sobre tantas coisas em comum que foi fácil manter o papo! — contou Camila. — Que bom!
Fico tão feliz! — exclamou Samara. — Obrigada por fazer isso por mim.
— Não precisa agradecer, mas lembre-se do nosso acordo. Como está indo a dieta? — perguntou Camila.
— Já perdi 2 kg — disse Samara, orgulhosa. — Estou me alimentando melhor e comecei a caminhar. — Fico muito feliz por você, mana!
Continue assim — incentivou Camila. — Logo estarei tão magra quanto você e poderei me encontrar com ele pessoalmente — disse Samara. "Esperançosa, tenho certeza de que sim", respondeu Camila, embora uma sensação estranha a incomodasse.
Mais tarde, deitada em sua cama, Camila relembrou cada momento do encontro: o sorriso de Samuel, seu jeito gentil, as conversas profundas. Sem perceber, ela estava sorrindo para si mesma. "Não posso me sentir assim", sussurrou.
"Ele é o pretendente da minha irmã. " Virou-se na cama, tentando afastar os pensamentos. "Preciso me manter focada, isso é pelo bem da Samara.
" Na manhã seguinte, enquanto fazia sua corrida matinal, Camila não conseguia tirar Samuel da cabeça. "Isso não é bom", pensou. Decidiu ligar para uma amiga para se distrair.
"Oi, Ana! Quer tomar um café hoje? " convidou.
"Claro! Vamos nos encontrar às 16 horas", sugeriu Ana. "Perfeito!
Nos vemos lá", confirmou Camila. Durante o encontro com Ana, Camila tentou se concentrar na conversa, mas Ana percebeu que algo a incomodava. "Está tudo bem, Camila?
Você parece distante. " "Ah, está tudo bem, só algumas coisas na cabeça. " "Desabafa se precisar conversar, sabe que estou aqui", ofereceu a amiga.
"Obrigada, Ana! Eu aprecio muito", respondeu Camila, sorrindo. Enquanto isso, Samara estava determinada em sua nova rotina.
"Hoje vou à academia", decidiu. Entrou em contato com um personal trainer e marcou uma avaliação. "Quero fazer isso por mim", disse a si mesma, "e também para poder encontrar Samuel sem medo.
" Os dias passaram, e Samuel continuou enviando mensagens. "O que devo responder? " "Diga que podemos marcar no próximo fim de semana", sugeriu Samara.
"Até lá talvez eu tenha perdido mais peso. " "Samara, não acho que seja uma boa ideia adiar muito, ele pode estranhar", alertou Camila. "Tem razão.
Então vá você mais uma vez, por favor", pediu Samara. Camila hesitou. "Tudo bem, mas lembre-se de que temos um compromisso.
" "Eu sei", estendeu Samara. Samuel levou Camila a um parque. "Pensei que poderíamos fazer um piquenique", disse ele.
"Que ideia ótima! " respondeu Camila, genuinamente feliz. Eles passaram a tarde conversando, rindo e compartilhando histórias.
Samuel contou sobre sua família, seus sonhos e ambições. Camila sentia-se cada vez mais conectada a ele. "Você é incrível, Samara!
Sinto que posso ser eu mesmo ao seu lado", confessou Samuel. Camila sentiu o coração apertar. "Você também me faz sentir especial.
" Quando se despediram, Samuel segurou a mão dela. "Posso te ver de novo em breve? " "Claro", respondeu ela, tentando ignorar a confusão em seus sentimentos.
Em casa, Camila decidiu que precisava conversar com Samara. "Precisamos encontrar uma solução, não posso continuar me passando por você", disse firmemente. "Mas por quê?
Algo aconteceu? " perguntou Samara, preocupada. "Eu acho que estou começando a ter sentimentos por ele", admitiu Camila.
Quando Camila admitiu que estava desenvolvendo sentimentos por Samuel, Samara sentiu seu mundo desabar. O telefone escorregou de suas mãos e ela ficou olhando fixamente para a parede, incapaz de processar o que havia acabado de ouvir. As lágrimas começaram a rolar silenciosamente por seu rosto.
"Não pode ser", sussurrou para si mesma, sentindo uma dor aguda no peito. Ela desligou o telefone sem dizer mais nada, incapaz de continuar a conversa com a irmã. A sensação de traição e culpa a consumia.
Camila, do outro lado da linha, percebeu que a ligação havia sido encerrada. Preocupada, tentou ligar de volta. "Samara, por favor, atende!
" exclamou, mas todas as suas tentativas caíram na caixa postal. Samara caminhou lentamente até o sofá e se deixou cair, cobrindo o rosto com as mãos. "O que eu fiz?
", choramingou. "Como pude deixar isso acontecer? " A imagem de Samuel e Camila juntos não saía de sua mente.
A culpa pela mentira e o medo de perder Samuel a atormentavam. "Eu não posso mais manter essa situação", decidiu, enxugando as lágrimas. Determinada, pegou o celular e abriu a conversa com Samuel.
Com os dedos trêmulos, digitou: "Oi, Samuel, podemos nos encontrar amanhã? " Minutos depois, o telefone vibrou com a resposta dele. "Claro, Samara.
Aconteceu alguma coisa? Você parece preocupada. " Ela respirou fundo antes de responder: "Preciso conversar com você pessoalmente.
É importante. " Samuel estranhou a urgência. "Tudo bem, nos encontramos onde e a que horas?
" "Pode ser no restaurante perto do parque, às 20 horas", sugeriu ela. "Combinado, estarei lá", confirmou ele. Samara soltou o ar que nem percebera que estava prendendo.
"É agora ou nunca", pensou. Naquela noite, o sono não veio. Ela rolou na cama, encarando o teto.
"Como vou contar a verdade? E se ele me odiar? ", questionava-se.
As horas se arrastaram até o amanhecer. No dia seguinte, Samuel enviou outra mensagem: "Espero que esteja tudo bem. Nos vemos à noite.
" "Até lá", respondeu ela, lacônica. O dia passou em um borrão. Samara mal tocou na comida e não conseguiu se concentrar no trabalho.
"Preciso ser forte", repetia para si mesma. Às 19:30, ela chegou ao restaurante, escolheu uma mesa discreta no canto e pediu um copo de água. Suas mãos estavam suadas e o coração batia acelerado.
Às 19:55, uma forte explosão sacudiu o restaurante. Os copos tremeram nas mesas e um murmúrio de preocupação percorreu o lugar. "O que foi isso?
", perguntou um garçom. Olhando em direção à rua, Samara se levantou rapidamente e correu para fora. Uma cena caótica se apresentava diante dela: dois carros haviam colidido violentamente no cruzamento em frente ao restaurante.
Entre a fumaça e os destroços, ela reconheceu o carro de Samuel. "Não, Samuel! " gritou, correndo em direção ao veículo.
Ele estava inconsciente, com um corte profundo na testa. "Samuel, acorde, por favor! " implorou, batendo de leve em seu rosto.
Outras pessoas se aproximaram para ajudar. "Precisamos tirá-lo daqui antes que o carro pegue fogo", alertou um homem. Com cuidado, conseguiram retirá-lo do veículo e o deitaram na calçada.
"Alguém já chamou a ambulância? ", perguntou uma mulher. "Já estão a caminho", respondeu alguém na multidão.
Samara segurava a mão dele firmemente. "Fique comigo, Samuel, você vai ficar bem", sussurrava, lutando contra as lágrimas. A ambulância chegou rapidamente e os paramédicos começaram a atendê-lo.
"Você é parente? ", perguntou um deles a Samara. "Eu sou uma amiga, estávamos nos encontrando aqui", explicou.
Ela, com a voz trêmula, disse: "Ele vai ser levado ao Hospital Central. Pode nos acompanhar, se quiser", informou o paramédico. "Sim, eu vou", afirmou ela sem hesitar.
No hospital, após alguns exames, um médico aproximou-se. "Ele sofreu uma concussão leve e algumas escoriações, mas está estável. Deve acordar em algumas horas", disse, aliviando Samara que suspirou: "Graças a Deus", sentindo um peso sair de seus ombros.
"Posso vê-lo? " perguntou Samara. "Ele está em observação agora.
Assim que for possível, avisaremos", assegurou o médico. Sentada no corredor, Samara sentia a culpa a corroer: "Se eu não tivesse marcado esse encontro, isso não teria acontecido", pensava. As lágrimas voltaram a escorrer.
"Tudo é minha culpa. " Enquanto afundava em seus pensamentos, ouviu passos apressados ecoando pelo corredor. Um homem alto, com feições semelhantes às de Samuel, apareceu visivelmente aflito.
"Onde está meu irmão? " gritou, dirigindo-se à recepção. "Senhor, por favor, mantenha a calma.
Seu irmão está sendo atendido e está estável", informou a enfermeira. "Preciso vê-lo", insistiu ele. "Por aqui, por favor," disse ela, conduzindo-o.
Samara observou a cena com atenção. "Deve ser o irmão dele", deduziu. "Ele nunca mencionou que tinha um irmão.
" Após alguns minutos, o homem retornou ao corredor. Seus olhos encontraram os de Samara. "Você estava com ele?
" perguntou, aproximando-se. "Sim, na verdade estávamos nos encontrando no restaurante quando o acidente aconteceu," explicou ela. "Você é Samara?
" perguntou ele, um pouco mais calmo. "Sou, sim. Como sabe meu nome?
" indagou, surpresa. Ele sorriu levemente. "Samuel fala muito de você.
" "Desculpe, onde estão meus modos? Sou Igor, irmão mais velho dele. Muito prazer.
" "Igor," respondeu ela, estendendo a mão. "O prazer é meu. Os médicos me disseram que você ajudou meu irmão no acidente.
Não sei como agradecer", disse ele. "Sinceramente, não precisa agradecer. Fiz o que qualquer um faria", disse Samara modestamente.
Eles se sentaram em um banco próximo. "Samuel nunca mencionou que tinha um irmão", comentou ela. "Ah, isso não me surpreende.
Ele é meio reservado sobre a família", admitiu Igor. "Entendo. Vocês são próximos?
" perguntou ela. "Sim, apesar de nossas diferenças. Eu trabalho viajando e nem sempre estou por perto", explicou ele.
"Deve ser difícil", observou Samara. "Às vezes é. Mas e você, como conheceu meu irmão?
" quis saber Igor. "Nós nos conhecemos através de um aplicativo de namoro. Temos conversado há algum tempo," revelou ela.
"Ah, então é você, a famosa Samara! " exclamou ele, com um sorriso. "Famosa?
" repetiu ela, confusa. "Sim, ele fala de você o tempo todo. Diz que nunca conheceu alguém com quem tivesse tanta conexão", contou Igor.
Samara sentiu um nó na garganta. "É mesmo? " disse, tentando esconder a mistura de emoções.
"Sim, ele parecia realmente feliz", afirmou Igor. "Fico feliz em ouvir isso", respondeu ela, embora a culpa a atingisse novamente. Um silêncio confortável se instalou entre eles.
Igor olhou para ela com gentileza. "Você está bem? Parece preocupada.
" "Estou só um pouco abalada com tudo isso", admitiu. "Entendo. Se serve de consolo, acho que ele vai ficar muito feliz em te ver quando acordar", disse Igor, encorajando-a.
Samara desviou o olhar. "Na verdade, acho que devo ir," disse abruptamente, levantando-se. "Mas por que você não quer esperar por ele?
" perguntou Igor, surpreso. "Eu tenho algumas coisas para resolver, mas agradeço sua companhia," disse ela, tentando sorrir. "Claro, mas deixe-me ao menos te acompanhar até a saída", ofereceu ele.
"Não precisa, mas obrigada", respondeu Samara, já caminhando pelo corredor. "Samara! " chamou Igor.
Ela parou e se virou. "Obrigado novamente por tudo. E, por favor, não suma.
Tenho certeza de que Samuel vai querer falar com você. " Ela apenas assentiu e apressou o passo. Ao sair do hospital, o ar fresco da noite a envolveu.
Samara respirou fundo, tentando clarear a mente. "O que vou fazer agora? " perguntou-se em voz alta, caminhando sem rumo pelas ruas.
A realidade da situação a atingiu com força total. "Quando Samuel acordar, Igor vai contar a ele que me encontrou. Ele vai saber que sou uma fraude," pensou, sentindo o desespero crescer.
Pegou o celular e viu várias chamadas perdidas de Camila. "Não posso lidar com isso agora," decidiu, guardando o aparelho. Samara sabia que precisava tomar uma decisão.
"Não posso continuar mentindo. Preciso contar a verdade, mas como? " Reflitindo, sentou-se em um banco na praça.
Próximo a ela, as luzes da cidade brilhavam, mas ela se sentia na escuridão de seus pensamentos. "Talvez seja melhor desaparecer, deixar que ele me esqueça," considerou, mas a ideia de perder Samuel era insuportável. Levantando-se, tomou uma decisão: "Vou enfrentar as consequências dos meus atos.
Preciso ser honesta, pelo menos uma vez. " Determinou. O coração batia acelerado, e cada toque que ecoava do outro lado parecia uma eternidade.
Finalmente, a voz familiar de sua irmã atendeu. "Alô? " "Samara?
" disse Camila, com um tom de preocupação na voz. "Camila, sou eu," respondeu Samara, a voz falhando. "Precisamos conversar.
" "Você está bem? Sua voz parece estranha," observou Camila, ficando mais alerta. "Houve um acidente," disse Samara rapidamente.
"Samuel sofreu um acidente de carro. Estou no hospital agora. " "O quê!
? Meu Deus! Ele está bem?
" perguntou Camila, a ansiedade evidente. "Ele está estável, mas ainda não acordou. Eu.
. . eu precisava te contar," explicou Samara, sentindo as lágrimas voltarem.
"Estou indo para aí agora mesmo! " afirmou Camila, decisivamente. "Me espere, estou a caminho.
" Samara desligou o telefone, sentindo um alívio momentâneo por ter compartilhado a notícia com a irmã. Pouco tempo depois, Camila chegou ao hospital, ofegante e com os olhos cheios de preocupação. "Samara!
" exclamou ela, aproximando-se rapidamente. "Onde ele está? Como ele está?
" "Ele ainda está inconsciente, mas os médicos disseram que vai ficar bem," respondeu Samara, abraçando a irmã. Camila respirou fundo, tentando se acalmar. "E você?
Como você está? " "Estou confusa. Há algo mais que preciso te contar", disse Samara, olhando para o chão.
Antes que pudesse, elas foram interrompidas por uma voz masculina: "Com licença," disse Igor, aproximando-se delas com uma expressão perplexa. "Desculpe, mas vocês são gêmeas? " Camila e Samara trocaram olhares antes de responderem em uníssono: "Sim, somos.
" "Ah, isso explica muita coisa! " — Coisa, disse Igor coçando a nuca. — Eu sou Igor, irmão do Samuel.
Prazer em conhecê-lo. Igor disse Camila, estendendo a mão. — O prazer é meu, respondeu ele, apertando a mão dela.
Mas estou um pouco confuso. Samara sentiu o peso da culpa aumentar. — Igor, podemos conversar em particular?
— pediu ela, a voz quase num sussurro. — Claro, — concordou ele, olhando de relance para Camila antes de seguir Samara para fora do hospital. Camila observou os dois se afastarem e decidiu ir ver como Samuel estava.
— Espero que tudo se resolva — pensou, caminhando em direção ao quarto dele. Lado de fora, Samara e Igor encontraram um banco no jardim do hospital. As luzes suaves iluminavam o local, dando um ar tranquilo à noite.
— Igor, eu preciso ser honesta com você, — começou Samara, lutando para conter as lágrimas. — Eu menti para o seu irmão. Igor franziu a testa, mas manteve-se em silêncio, encorajando-a a continuar.
— A mulher que ele conheceu não era eu. Quer dizer, as conversas eram comigo, mas quando ele a encontrou era minha irmã, Camila, — confessou, sentindo a vergonha a consumir. — Espera, você está dizendo que Samuel saiu com a sua irmã pensando que era você?
— perguntou Igor, tentando processar a informação. — Sim, — confirmou Samara, lágrimas escorrendo pelo rosto. — Eu estava insegura sobre minha aparência e pedi para Camila ir no meu lugar.
Eu não queria machucá-lo, mas também não queria perdê-lo. Igor suspirou profundamente, passando a mão pelo cabelo. — Samara, isso é uma situação complicada.
— Eu sei e sinto muito por isso. Não quero que ele sofra, mas não sei o que fazer, — disse ela, soluçando. Igor se aproximou e colocou uma mão reconfortante em seu ombro.
— Você deveria ter contado a verdade desde o início. — Eu sei, — admitiu ela, a voz embargada. — Mas agora não sei como consertar isso.
Ele a puxou para um abraço. — Calma, vai ficar tudo bem. Meu irmão é um cara compreensivo, mas você precisa ser honesta com ele.
Samara se permitiu relaxar por um momento nos braços de Igor. — Você acha que ele vai me perdoar? — Não posso garantir, mas é melhor enfrentar a situação do que prolongar a mentira, — aconselhou ele.
Ela assentiu lentamente. — Você tem razão, devemos contar a ele agora. Igor ponderou por um instante.
— Acho melhor esperar. Queremos causar mais. .
. — Entendo. Obrigada por me ouvir e não me julgar, — disse Samara, enxugando as lágrimas.
— Estamos todos tentando fazer o melhor aqui, — respondeu Igor com um sorriso suave. Eles retornaram ao interior do hospital. Camila veio ao encontro deles com um olhar aliviado.
Samara sentia um peso sair de seus ombros. Os dias seguintes foram uma mistura de ansiedade e silêncio. Samuel teve alta e voltou para casa.
Ele enviou mensagens para Samara, mas ela respondia com menos frequência, insegura sobre como proceder. Em uma tarde, Samuel comentou com Igor: — Não tenho ouvido muito da Samara ultimamente. Será que fiz algo de errado?
Igor olhou para o irmão, considerando suas palavras. — Tenho certeza de que não. Talvez ela esteja apenas ocupada ou passando por algo.
— Talvez eu devesse ir atrás dela, — sugeriu Samuel, preocupado. — Talvez seja melhor dar um pouco de espaço, — aconselhou Igor. — Às vezes, as pessoas precisam de tempo.
Samuel suspirou. — É que sinto que há algo errado. — Confie em mim, tudo vai se resolver, — disse Igor, colocando uma mão no ombro do irmão.
Dias depois, Samara finalmente tomou coragem e enviou uma mensagem para Samuel: — Podemos nos encontrar? Gostaria de conversar com você. Samuel leu a mensagem com um misto de alívio e preocupação.
— Claro, você quer vir aqui em casa? — respondeu ele. — Sim, pode ser às 19 horas.
Está bom? — sugeriu ela. — Perfeito, estarei te esperando, — confirmou ele.
Na noite marcada, Samara caminhou em direção à casa de Samuel. Cada passo parecia mais pesado que o anterior. Parada diante da porta, respirou fundo.
— Estou pronta para enfrentar as consequências, — disse a si mesma. Dentro da casa, Samuel arrumava a sala, ansioso pelo encontro. — Finalmente vou entender o que está acontecendo, — pensou.
Do lado de fora, Samara hesitou antes de tocar a campainha. Sua mente estava um turbilhão de pensamentos: e se ele me odiasse? E se nunca mais quisesse me ver?
questionava-se. Enquanto isso, Igor observava discretamente da janela do andar de cima. Ele sabia o quão difícil aquele momento seria para ambos.
— Espero que tudo termine bem, — refletiu. Finalmente, Samara criou coragem e pressionou a campainha. O som ecoou suavemente e ela ouviu passos se aproximando.
A porta se abriu, revelando Samuel com um sorriso acolhedor. Assim que a porta se abriu, Samuel esperava ver a mulher com quem vinha conversando há semanas. No entanto, ao encarar a figura diante dele, seu sorriso desapareceu lentamente.
— Quem é você? — perguntou ele, confuso. Samara engoliu em seco, sentindo o coração acelerar.
— Sou eu, Samuel. Sou a verdadeira Samara. Ele franziu a testa, ainda mais perplexo.
— Como assim "verdadeira Samara"? — Posso entrar? Precisamos conversar, — pediu ela, olhando para os lados nervosamente.
Samuel hesitou por um momento, mas deu um passo para o lado. — Claro, entre. Ela entrou lentamente, observando cada detalhe da casa.
Sentou-se no sofá enquanto ele permanecia de pé, os braços cruzados. — Então pode me explicar o que está acontecendo? — perguntou ele, tentando manter a calma.
Samara respirou fundo. — Eu preciso confessar algo: a pessoa que você conheceu era eu, era minha irmã gêmea, Camila. Ele arregalou os olhos e se sentou na poltrona oposta.
— Você está dizendo que não era você nos nossos encontros? — Sim, — respondeu ela, sentindo as lágrimas se formarem. — Era eu quem falava com você no aplicativo, mas não tive coragem de ir pessoalmente, então pedi para Camila ir no meu lugar.
— Por que você fez isso? — questionou ele, decepção na voz. — Olhe para mim, — disse ela, apontando para si mesma enquanto as lágrimas escorriam.
— Nenhum homem me deseja. Estou sozinha há tanto tempo. Samuel a observou em silêncio por alguns instantes.
— Você não precisava mentir para mim, — disse ele. — Finalmente, eu realmente gostava de você, da pessoa com quem conversava. Medo admitiu Samara, medo de que ao me ver você se afastasse.
Ele balançou a cabeça lentamente. Mentiras são algo que não suporto. Você me enganou desde o início, eu sei.
E sinto muito, disse ela, enxugando as lágrimas, mas precisava que você soubesse a verdade. Você envolveu sua irmã nisso, continuou ele, a voz ficando mais firme, e ela aceitou mentir também. — Sim, mas ela realmente gosta de você — disse Samara.
— Ela é linda e magra, e pensei que você poderia ser feliz com ela. Samuel levantou-se abruptamente, claramente irritado. — Não importa se ela é linda ou não, ela também é uma mentirosa!
Eu jamais teria um relacionamento com alguém assim! Percebendo que havia elevado a voz, ele respirou fundo, tentando se recompor. — Desculpe por gritar.
— Não, eu é que peço desculpas — disse Samara, levantando-se lentamente. — Nunca quis te machucar. Ele desviou o olhar, os olhos fixos no chão.
— Acho melhor você ir embora. Samara assentiu, sentindo o peso da rejeição. — Adeus, Samuel.
Ela saiu da casa dele, fechando a porta suavemente atrás de si. Assim que chegou à rua, deixou as lágrimas caírem livremente. O caminho de volta para casa pareceu interminável.
Nos dias seguintes, Camila ficou ao lado da irmã. Entrou na casa e ficou chocada com o que viu: a sala estava desarrumada, embalagens de sorvete espalhadas pelo chão, e Samara estava jogada no sofá, assistindo à televisão sem realmente prestar atenção. — Samara, você não pode continuar assim — disse Camila, recolhendo as embalagens.
— Me deixe em paz — murmurou Samara, sem desviar o olhar da tela. — Estou preocupada com você — insistiu a irmã. — Você precisa se cuidar; sua saúde já não estava boa!
Samara suspirou, abraçando uma almofada. — Nada disso importa mais. — Claro que importa!
— exclamou Camila. — Você não pode se deixar abater assim. Vamos dar uma volta, pegar um ar fresco.
— Não quero — respondeu ela, fechando os olhos. Camila sentou-se ao lado dela. — Eu sei que está magoada, mas ficar assim só vai piorar as coisas.
— Você não entende! — sussurrou Samara. — Eu estraguei tudo, perdi a única chance de ser feliz.
Enquanto isso, na casa de Samuel, a situação não era muito diferente. Igor entrou na sala e encontrou o irmão deitado no sofá, barba por fazer e um olhar vazio. — Samuel, até quando vai ficar assim?
— perguntou Igor, sentando-se na beira do sofá. — Não sei — respondeu ele, sem emoção. — Não quero mais contato com ninguém.
Igor suspirou. — Você não pode se isolar desse jeito. O que aconteceu foi difícil, mas a vida.
. . Samuel virou-se para o irmão, os olhos marejados.
— Falta das conversas com Samara! Mesmo sem vê-la, eu nunca senti algo assim por ninguém! — Então, por que não tenta conversar com ela novamente?
— sugeriu Igor. — Talvez possam resolver as coisas. — Não consigo confiar nela — disse Samuel, balançando a cabeça.
— Todos cometemos erros — disse Igor. — Às vezes precisamos dar uma segunda chance. Samuel ficou em silêncio, perdido em seus pensamentos.
Dias depois, por coincidência do destino, Igor e Camila se encontraram em um café. — Camila! — chamou Igor, reconhecendo-a.
— Oi! — respondeu ela, surpresa. — Como você está?
— Estou bem, e você? — perguntou ele, sentando-se à mesa dela. — Preocupada com minha irmã — admitiu.
— E você, como está o Samuel? — Do mesmo jeito — suspirou Igor. — Parece que ambos estão sofrendo.
Camila concordou com a cabeça. — Gostaria de poder ajudar mais. — Talvez possamos fazer algo juntos — sugeriu Igor.
Os dois começaram a se encontrar com frequência, compartilhando atualizações sobre os irmãos e tentando encontrar uma forma de ajudá-los. Com o tempo, perceberam que tinham muito em comum. — Engraçado como nossas tentativas de ajudar os outros nos aproximaram — comentou Camila em um dos encontros.
— É verdade — sorriu Igor. — Gosto da sua companhia. — Também gosto da sua — disse ela, olhando nos olhos dele.
Não demorou muito para que a amizade se transformasse em algo mais. Em uma noite estrelada, Igor tomou coragem. — Camila, tenho pensado muito em nós dois — disse ele, segurando a mão dela.
— Eu também — confessou ela, sorrindo timidamente. — Gostaria de oficializar o que estamos sentindo — disse ele. — Quer namorar comigo?
Camila sorriu amplamente. — Sim, adoraria! Enquanto isso, Samuel continuava mergulhado em sua melancolia.
Igor tentou animá-lo. — Samuel, sei que está difícil, mas precisa seguir em frente — disse ele. — Fácil falar!
— retrucou Samuel. — Você parece estar feliz. Igor sorriu levemente.
— Na verdade, estou. Conheci alguém especial. — Ah, é?
Quem? — perguntou Samuel, levantando uma sobrancelha. — Camila — revelou Igor.
Samuel ficou surpreso. — A irmã de Samara? — Sim.
Temos nos encontrado e acabamos nos aproximando — explicou. — Fico feliz por você — disse Samuel, sinceramente. — Obrigado, e espero que você também encontre a felicidade.
— Espero que sim! — disse Igor. Samuel suspirou.
— Talvez seja a hora de eu tentar superar isso. Em um gesto inesperado, Samuel decidiu ligar para Samara. — Alô?
— atendeu ela, com a voz fraca. — Samara, é o Samuel — disse ele. Ela ficou em silêncio por um momento.
— O que deseja? — Gostaria de conversar — disse ele, se você estiver disposta. — Não sei se é uma boa ideia — respondeu ela, hesitante.
— Por favor — pediu ele. — Acho que devemos esclarecer as coisas. Samara respirou fundo.
— Tudo bem. Quando e onde? — Que tal amanhã no parque às 15?
— sugeriu ele. — Estarei lá — concordou ela. No dia seguinte, encontraram-se no parque.
Sentaram-se em um banco sob a sombra de uma árvore. — Obrigado por vir — disse Samuel. — De nada — respondeu ela, olhando para as mãos.
— Tenho pensado muito — começou ele — e percebi que, apesar da mentira, nossas conversas eram verdadeiras. Ela levantou o olhar, surpresa. — Eram sim.
Eu senti uma conexão real com você — continuou ele. — E gostaria de tentar recomeçar, mas desta vez sendo honestos um com o outro. Samara sentiu uma esperança surgir.
— Você realmente quer isso? — Quero dar uma chance a nós dois — afirmou ele. Ela sorriu timidamente.
— Eu adoraria. Os dois passaram a tarde conversando, conhecendo-se verdadeiramente. Decidiram deixar o passado para trás e construir algo novo.
Enquanto isso, Camila e Igor celebravam seu amor. — Quem diria que tudo isso nos levaria a encontrar um ao outro? — comentou ela.
"A vida tem caminhos misteriosos," respondeu Igor, abraçando-a. No final, todos encontraram seu caminho para a felicidade, aprendendo com os erros e valorizando a importância da sinceridade e do perdão.