Luciano Subirá - INTERPRETAÇÃO BÍBLICA | FD#4

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Luciano Subirá
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Video Transcript:
O assunto do vídeo de hoje é interpretação bíblica. Já falei nos vídeos anteriores da importância da doutrina, da Bíblia como regra de fé e prática, dos perigos das distorções doutrinárias e agora eu quero fechar um pouco esse entendimento com uma espécie de conclusão. OK, se a Bíblia é a regra, se ela determina, como se interpreta?
Como podemos ter a boa doutrina e não nos expormos aos perigos das falsas doutrinas? Então, eu quero começar lendo Neemias 8. 8, que diz assim: “Leram no livro, na Lei de Deus, claramente, dando explicações, de maneira que se entendesse o que se lia.
” Vou repetir: “Leram no livro, na Lei de Deus. ” As expressões traduzidas “claramente, dando explicações” são muito interessantes. Essa palavra traduzida “claramente” fala de “tornar distinto, de distinguir, de esclarecer” e a expressão “dando explicações” fala tanto de “entendimento” como também de “discernimento” e de “bom senso.
” Então vem a conclusão: “de maneira que se entendesse o que se lia. ” Algo que nós percebemos pela própria Escritura é que nós não apenas sabemos que a Escritura determina qual deve ser a nossa fé, qual deve ser a nossa conduta, qual deve ser a nossa prática, mas a mesma Escritura também mostra a importância de se entender aquilo que nós lemos. No Evangelho de Lucas 10.
25 a 28, nós vemos o seguinte diálogo entre Jesus e um certo homem: “E eis que certo homem, intérprete da Lei,” essa expressão “intérprete da Lei” também merece aqui a nossa atenção. Por quê? Eram pessoas que eram instruídas na Lei, estudiosos da Lei, muitos deles eram escribas, copistas da Lei, e tinham uma atenção tão detalhada, minuciosa da Lei que conseguiam expor e esclarecer de uma forma diferenciada.
Mas o texto diz: “E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? ” Então Jesus lhe perguntou: “Que está escrito na Lei? Como interpretas?
” Duas perguntas: O que está escrito e como você interpreta? “. .
. A isso ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. ” Então, Jesus lhe disse: “Respondeste corretamente; faze isso e viverás.
” Há momentos em que Jesus faz perguntas e, ao longo do vídeo, nós vamos abordar isso; e também ele traz explicações, demonstrando que a interpretação dos seus ouvintes sobre determinado texto estava equivocada. Ou seja, embora nós tenhamos na Bíblia a nossa regra de fé e prática, aquilo que determina o que cremos e a nossa conduta, obviamente se requer uma interpretação correta das Escrituras. E a pergunta a ser feita é: Como esse processo de interpretação funciona?
Antes de abordá-lo, eu quero trazer mais um exemplo bíblico. No livro de Atos 8, a Escritura nos relata a respeito de como o Espírito Santo orienta Filipe, que estava num avivamento na cidade de Samaria, a deixar a cidade de Samaria, a ir para o caminho que vinha de Jerusalém, e o Senhor ainda o orienta; um anjo do Senhor fala com Filipe, dizendo: “o caminho está deserto”, ou seja, não tem ninguém. Mas por mais estranha que fosse a orientação, Filipe obedeceu e foi.
A Bíblia diz que passou por aquele caminho onde Filipe estava lá de plantão, um etíope, um eunuco que era um alto oficial de Candace, que era a rainha dos etíopes. Ele estava voltando de Jerusalém, onde tinha ido adorar. E o verso 28 de Atos 8 diz que ele, “assentado no carro, vinha lendo o profeta Isaías.
” No verso 29, nós lemos que o Espírito Santo disse a Filipe: “Aproxima-te desse carro e acompanha-o. ” Então, no verso 30, nós lemos: “Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? ” Obviamente, a leitura bíblica é uma necessidade para todos nós, mas essa pergunta é muito importante: Compreendes o que vens lendo?
E ele respondeu: “Como poderei entender, se alguém não me explicar? ” E convidou Filipe a subir e sentar-se junto a ele. Em outras palavras: “Eu não posso entrar nesse lugar de entendimento sem ajuda de alguém que interprete, que me oriente, que explique.
” E nesse momento ele convida Filipe. O verso 32, eu vou ler até o 35, diz assim: “Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como ovelha ao matadouro; e, como um cordeiro mudo perante o seu tosquiador, assim ele não abriu a sua boca. Na sua humilhação, lhe negaram a justiça; quem lhe poderá descrever a geração?
Porque da terra a sua vida é tirada”, uma referência a Isaías 53. 7 e 8. Então, no verso 34, nós lemos de Atos 8: “Então, o eunuco disse a Filipe: Peço-te que me expliques a quem se refere o profeta.
Fala de si mesmo ou de algum outro? ” Então, que o profeta estava falando e comunicando algo da parte de Deus aquele etíope sabia. No entanto, quando aquele eunuco pergunta a Filipe: “De quem ele está falando?
”, ele está dizendo: “Eu acredito no que está aqui. Eu acredito que o que está aqui vem de Deus. Eu só preciso entender exatamente a que isso se refere.
” E eu acho muito interessante que o verso 35 diz assim: “Então, Filipe explicou” e o texto continua e diz: “e começando por essa passagem da Escritura,” não usou só essa, “anunciou-lhe a Jesus. ” Ou seja, ele toma esse texto como um ponto de partida, mas ele vai usar outros textos das Escrituras para explicar esse texto da Escritura. Por que ele vai usar outros textos para trazer a explicação?
Aqui nós temos uma regra importantíssima. Eu sou grato a Deus porque nasci e cresci num lar cristão, mas não só num lar cristão. Meu pai era um estudioso dedicado das Escrituras.
Eu gosto de dizer que ele era um amante das Escrituras, da Palavra de Deus. E eu, desde garoto, ouvia meu pai dizendo: “A Bíblia explica a própria Bíblia. ” Então, nós precisamos entender que a capacidade de entender e interpretar a Bíblia procede da própria Bíblia.
São as informações da Bíblia que nos ajudam a entender a própria Bíblia e a esclarecer a Bíblia. Mas eu gostaria de estabelecer, porque isso é uma afirmação importante, mas acaba sendo uma regra não só genérica como subjetiva. Eu gostaria de estabelecer alguns padrões que vão nos ajudar.
E o. . .
Primeiro deles, o primeiro princípio, é que a gente possa considerar o todo. E, quando eu falo de considerar o todo, é importante que se tenha em mente o que eu gosto de classificar como a macrovisão, a visão completa. Por exemplo, no Evangelho de Mateus, no capítulo quatro, quando a Bíblia nos relata que Jesus estava no deserto, sendo tentado pelo diabo, então logo o diabo faz a primeira proposta para que Jesus transforme as pedras em pães.
A Escritura nos mostra que Jesus respondeu: “Está escrito. ” Jesus se posiciona em cima da Palavra. Novamente vem a próxima tentação.
O diabo o coloca sobre o pináculo do templo e diz: “Se você é o Filho de Deus, atira-te abaixo. ” Só que agora ele entra com um versículo: “Está escrito. ” Tipo assim: “Você quer falar de Bíblia?
Vamos para a Bíblia: Aos seus anjos dará ordem a teu respeito para que te guardem. ” E aqui nós temos uma citação do Salmo 91, no verso 11 e o 12: “E eles te sustentarão nas suas mãos para não tropeçares nalguma pedra. ” Agora olhe a resposta de Jesus, e aqui nós temos algo importantíssimo, fundamental.
Respondeu-lhe Jesus: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus. ” Com essa expressão “também está escrito”, nós entendemos a maneira como Jesus se posiciona. Jesus está dizendo: “Ei, você está citando, diabo, um texto da Escritura, mas outra parte da Escritura não concorda com essa aplicação que você está fazendo.
” Basicamente, Jesus estava dizendo: “Reconheço uma promessa de proteção e atividade angelical para me ajudar a experimentar a proteção que Deus disponibiliza. No entanto, isso não significa brincar com Deus, não significa tentar a Deus. Significa que nós temos nossos limites, nós temos nossas responsabilidades, devemos respeitá-los e, enquanto fazemos isso, confiar que o Senhor colocou uma proteção, mas com a qual não se brinca.
” Quando Ele rebate na hora: “Também está escrito”, Jesus nos mostra claramente que a maneira de entender, a maneira de aplicar, não só de explicar, mas de aplicar as Escrituras, depende do quê? Do todo das Escrituras. Será que nós estamos nos posicionando em cima de determinado texto, tentando fazer com que ele diga alguma coisa que não concorda, por exemplo, com o resto das Escrituras?
Normalmente é assim que as distorções doutrinárias começam. Normalmente é assim que não apenas heresias começam, mas que seitas se formam. Normalmente elas não se criam totalmente alheias à Palavra de Deus, e sim com distorções da Palavra de Deus.
Mas a gente só considera distorção quando olha o todo, porque, normalmente, naquilo que eles defendem, eles estão pegando textos ou fora de contexto ou em desacordo com o seu todo e dando uma interpretação diferente daquilo que o todo da Escritura permite. É por isso que nós precisamos entender quando Jesus afirma: “Errais por não conhecerem a Escritura e nem o poder de Deus. ” Mas, quando Jesus rebate isso, naquele momento, eles estavam citando, inclusive, parte da Escritura.
Eles estavam fazendo um jogo em cima de um determinado texto, sem levar em conta outro. É num momento como esse que você vai ver um posicionamento claro da parte de Jesus para colocar as coisas em ordem a partir de qual posicionamento? De um entendimento completo de qual é a declaração da Palavra de Deus sobre determinado assunto.
Em Mateus 22, nós podemos destacar aqui dos versos 23 ao 33 um episódio envolvendo a discussão de Jesus com os saduceus, que nos mostra a importância do todo. O texto diz assim: “Naquele dia, aproximaram-se dele alguns saduceus, que dizem não haver ressurreição, e lhe perguntaram: Mestre, Moisés disse: Se alguém morrer, não tendo filhos, seu irmão casará com a viúva e suscitará descendência ao falecido. ” Isso, inquestionavelmente, era parte da Lei, ou seja, eles estavam citando as Escrituras.
Isso está em Deuteronômio 25. 5. O texto diz: “Ora, havia entre nós sete irmãos.
” Agora, eles continuam o argumento e vão criar uma aplicação fictícia em cima de um texto que é real. “. .
. Ora, havia entre nós sete irmãos. O primeiro, tendo casado, morreu e, não tendo descendência, deixou sua mulher a seu irmão; o mesmo sucedeu com o segundo, com o terceiro, até o sétimo; depois de todos eles, morreu também a mulher.
Portanto, na ressurreição, de qual dos sete será ela esposa? Porque todos a desposaram. ” Respondeu-lhes Jesus: “Errais, não conhecendo as Escrituras e nem o poder de Deus.
Porque, na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu. E, quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos.
” Bom, aqui nós vemos que Jesus está citando textos das Escrituras, como, por exemplo, Êxodo 3. 6, quando o Senhor se revela a Moisés na sarça, mas acho interessante Jesus usar justamente a expressão: “Não tendes lido? ” Ele vai dizer: “Vocês querem falar da Escritura?
Vamos continuar falando da Escritura. Vocês estão pegando uma parte da Escritura. Agora vou apresentar outra.
Se em outra parte da Escritura, Deus está dizendo que Ele é o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, o Deus de Jacó, e Ele não é Deus de mortos, mas de vivos, isso significa o quê? Que esses que morreram vão ressuscitar. ” Qual foi a conclusão?
O verso 33 diz: “Ouvindo isto, as multidões se maravilhavam da sua doutrina. ” Não apenas por causa da acuracidade, da exatidão, da lógica e da capacidade de silenciar seus oponentes, mas de abrir o entendimento para mostrar que, mesmo que talvez não esteja ao alcance dos olhos de alguns, a Escritura tem resposta para tudo aquilo que a própria Escritura propõe. Eu gosto de dizer que, quando estamos diante de qualquer aparente, e destaco aqui o “aparente”, entre aspas, aparente contradição, o que nós temos é um desafio de interpretação.
E, para interpretar, precisamos do quê? Do restante das Escrituras. Então, eu volto na declaração de que precisamos considerar o todo.
E essa ideia de considerar o todo tem outros exemplos bíblicos. Mas, em primeiro lugar, eu gostaria de citar que, em Isaías 28. 13, a Bíblia diz: “Assim a palavra do Senhor lhe será regra sobre regra, regra e mais regra.
” A Bíblia diz: “será preceito sobre preceito, preceito e mais preceito. ” Ou seja, o que nós precisamos entender é como se fosse um grande quebra-cabeça, com. .
. “Muitas peças espalhadas e nós precisamos não só juntá-las, mas precisamos usar todas as peças do quebra-cabeça. O Salmo 119.
160, na tradução brasileira, diz assim: ‘A soma das tuas palavras é a verdade, e cada uma das tuas justas ordenanças dura para sempre. ’ Por que a soma das tuas palavras é a verdade? Porque a verdade não pode ser um texto que se coloca sendo aplicado ou interpretado em contradição com o restante.
A verdade é o respaldo do todo. Então, nós precisamos levar isso em conta. Por quê?
Você nunca pode enfatizar um aspecto e ignorar outro enquanto está usando as Escrituras. Um outro exemplo que nós temos em Mateus 22, a partir do versículo 41, nós podemos ver o momento em que os fariseus, não os saduceus, agora os fariseus, a Bíblia diz assim: ‘Reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus: Que pensais vós do Cristo? De quem é filho?
’ Responderam-lhe eles: ‘De David. ’ A resposta deles é errada? Não; eles estão baseados em declarações da Bíblia.
É por isso que muitas vezes o próprio Jesus foi chamado de filho de Davi. ‘. .
. Replicou-lhe Jesus: Como, pois, Davi, pelo Espírito, chama-lhe Senhor, dizendo: Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés? ’ Aqui é uma citação do Salmo 110.
1, o texto do Antigo Testamento mais citado no Novo. ‘. .
. Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como é ele seu filho? ’ O texto diz: ‘E ninguém lhe podia responder palavra, nem ousou alguém, a partir daquele dia, fazer-lhe perguntas.
’ Agora observe: Jesus não está negando, de forma alguma, que o Cristo era filho de Davi, porque a Escritura dizia isso. Mas Jesus começa a chamar a atenção deles e diz: ‘Ei, vocês não estão enxergando algo além disso. ’ Ele não está usando outro texto para anular o primeiro, mas ele está usando outro texto para ampliar o entendimento do primeiro.
Então, o próprio Jesus veio da linhagem de Davi. Isso era fato bíblico incontestável. Mas Jesus está dizendo para eles: ‘Vocês estão esperando só um descendente que olhe para um patriarca dizendo: Este é superior e mais importante?
’ Não; o patriarca anteriormente, pelo Espírito de Deus, ou seja, profeticamente, o chama de Senhor. E Jesus está tentando abrir o entendimento deles de que Jesus não viria apenas como descendente de Davi, como se fosse um homem qualquer, mas alguém a quem o próprio Davi, antecipadamente pelo Espírito, chamou de Senhor. Esse é o momento em que Jesus está dizendo: ‘Vocês precisam enxergar mais do que a humanidade do Cristo.
Vocês precisam enxergar a divindade do Cristo. ’ Por quê? A identidade de Cristo não é formada por apenas uma declaração das Escrituras que diz que ele é filho de Davi, portanto humano, mas é formada pelo todo das Escrituras, inclusive afirmações do próprio Davi, que pelo Espírito Santo, o chama de Senhor, o coloca no patamar de divindade.
Então, onde está a verdade? Se falarmos: Jesus era homem, não é mentira, mas é a verdade completa? Não, porque ele era 100% homem, mas também era 100% Deus.
Isso é assunto de vídeos que virão ainda à frente na sequência e parte da doutrina que ensinamos. Mas a maneira como Jesus vai usando e lidando com as Escrituras — e Ele é o próprio Verbo, Ele é a Palavra encarnada — se a maneira que Jesus trabalhava para interpretar as Escrituras não pudesse ser levada em consideração, então nenhuma outra é que poderá. Eu já mencionei antes que todos os grupos heréticos e seitas normalmente se fundamentam no quê?
Na interpretação de textos isolados, não no seu todo. Então, nós precisamos entender, olhando a Escritura, que a própria revelação de Deus é progressiva. Ela vai sendo construída ao longo das Escrituras de forma progressiva.
Paulo, escrevendo aos Gálatas, explica que Deus pré-anunciou o evangelho a Abraão. A própria lei, que tinha caráter profético — e é algo muito importante a gente entender isso — Jesus se refere a ela dizendo o quê? ‘Examinais as Escrituras’, João 5.
39, ‘porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas que testificam a respeito de mim. ’ ‘Elas’, Ele trata no plural. Nós precisamos entender que os muitos textos convergem em Cristo.
Na teologia, chamamos isso de convergência bíblica. O apóstolo Paulo, em Efésios 1, quando está falando a respeito de Cristo, ele diz que ‘Deus nos desvendou o mistério da sua vontade. ’ Com isso, ele está dizendo que a vontade estava lá na Escritura, mas ainda não plenamente revelada e isso seria desvendado depois.
Então, ele usa a expressão no verso 10: ‘de fazer convergir nele’, em Cristo, ‘na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra. ’ Por isso, chamamos de convergência bíblica. Tudo aponta na direção de Cristo.
Então, quando vamos falar a respeito do sacrifício de Jesus, de soteriologia, a doutrina da salvação, quando vamos falar de fundamentos da nossa fé, não dá para ignorar toda uma construção e uma preparação que vem sendo feita desde o Antigo Testamento. Por quê? É o todo das Escrituras que nos dá a capacidade, a percepção de interpretar devidamente tudo quanto está escrito.
Precisamos compreender, e eu quero destacar esse aspecto profético da Lei, por quê? Eu percebo muitos exageros. Pessoas que dizem: ‘Não, estamos hoje na Nova Aliança e o Velho Testamento não tem nenhuma serventia.
’ Toda a revelação do Novo Testamento foi construída em cima do Velho Testamento. Nós precisamos entender que, embora haja princípios que não se aplicam de forma literal, a leitura do Novo Testamento obviamente deixa claro que houve mudança de lei. Em Hebreus 7.
12, quando a Bíblia está falando da substituição do sacerdócio levítico na Antiga Aliança pelo sacerdócio de Cristo da Nova Aliança, diz: ‘Onde há mudança de sacerdócio, há mudança de lei. ’ Que houve mudança de lei. Fato.
Hebreus 8. 13 diz: ‘Quando ele diz Nova’, falando da Nova Aliança, ‘torna antiquada a primeira. Ora, tudo aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer.
’ Houve mudança de aliança? Sim. Houve mudança de lei?
Sim. Mas nós precisamos entender que essa própria mudança foi prevista e anunciada pela lei. Ou seja, mesmo enquanto a lei estava mudando, a lei estava se cumprindo, porque ela previu a mudança.
Isso também é algo muito importante para que nós possamos compreender a revelação progressiva ao longo das Escrituras. Agora, essa mudança de lei não era uma mudança de plano. Era o cumprimento do plano.
Jesus diz em Mateus 5. 17: ‘Não pensem que eu vim. .
. ” Revogar a lei e os profetas. Eu não vim para revogar; eu vim para cumprir.
” Durante muito tempo, eu entendi errado essa declaração de Jesus, e é mais um exemplo de interpretação bíblica. Eu pensava: “Bom, ele não veio revogar, ainda vem para cumprir? ” Eu achava que cumprir era obedecer.
Eu pensava: “Então, está tudo igual. ” Só que todo Novo Testamento sustenta que não está tudo igual, porque a lei de Moisés tinha prazo de validade. Gálatas 3.
19: “Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até que”, esse “até que” é o prazo de validade, “viesse o descendente a quem se fez a promessa. ” Jesus diz em Mateus 11.
13: “A lei e os profetas profetizaram até João. ” Aí, ele está falando de João Batista, seu precursor. E esse “até”, de novo, é o prazo de validade.
Então, eu ficava pensando: “Mas, se Jesus, além de não revogar, vem cumprir”, eu pensava que cumprir era obedecer, “ele está garantindo a continuidade. ” Aí nós temos contradição. Mas, como disse antes, a Bíblia não se contradiz, e qualquer aparente contradição é um desafio de interpretação.
Eu demorei anos para descobrir que a resposta estava literalmente debaixo do meu nariz. Onde? No versículo seguinte.
Se em Mateus 5. 17, Jesus diz: “Eu não vim para revogar, eu vim para cumprir”, no verso 18, que começa com a conjunção explicativa “porque”, é uma palavra de ligação entre o raciocínio que está sendo construído e a conclusão a que se chega, Jesus diz assim: “Porque em verdade lhes digo: não vai passar um i, um til da lei até que tudo se cumpra. ” Quando Jesus está falando: “até que tudo se cumpra”, o verbo “cumprir” ali é obedecer?
Não, Ele está falando de cumprimento profético. Então, se no versículo 18, que é a explicação do 17, Ele não está falando de obediência, e sim de cumprimento profético, por que é que nós vamos deduzir que no versículo anterior, o 17, “Eu não vim revogar, vim cumprir”, seja obediência? É evidente que Cristo obedeceu à lei, mas Ele está dizendo: “Eu vim cumprir o que a lei profetiza, o que a lei anuncia de mim.
” A lei tinha caráter profético, e é por isso que ela tinha caráter temporário, tinha prazo de validade. Então Jesus está dizendo: “Não é revogação. Eu não vim meter o pé e descartar isso tudo.
Eu vim para cumprir tudo o que a lei anuncia. ” Então, por exemplo, quando você olha os sacrifícios de animais que eram feitos de forma literal no Antigo Testamento, mas quando você olha para o Novo, considera que isso já não mais está acontecendo, o que nós entendemos a partir dessa mudança? João Batista apresenta Jesus dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
” A partir do momento que Jesus se entrega e a Bíblia o chama de “nosso Cordeiro Pascal”, o Cordeiro conhecido antes da fundação do mundo, Jesus está cumprindo as figuras proféticas da lei. Todo ano, quando eles faziam sacrifícios pelos pecados, um animal inocente morria no lugar dos pecadores para que eles fossem inocentados. Aquilo era uma figura profética.
É por isso que Hebreus 10. 1 diz: “A lei não tem a imagem exata das coisas, e sim a sombra dos bens vindouros. ” Portanto, quando falamos de considerar o todo, há uma construção abrangente.
Não só de Antigo e Novo Testamento, não só de um tempo anterior, onde haveria mudança de lei, preparando, anunciando e explicando como as coisas seriam. É evidente que, quando chega o Novo Testamento, não temos mais sacrifícios literais. 1ª Pedro 2.
5 fala de sacrifícios espirituais. O livro de Hebreus fala de sacrifícios de louvor. Mas Jesus está dizendo: “Eu não vim revogar os sacrifícios, eu vim cumprir.
Eu sou o cumprimento deles. E a partir do momento que aquele teatro profético se cumpra em mim, ele não precisa ser continuado. ” Então, quando falamos aqui de observar o todo, nós precisamos entender a necessidade de compreender também a tipologia dentro do todo.
Eu gosto de dizer que o Antigo Testamento ilustra o Novo, enquanto o Novo, por sua vez, explica o Velho. Isso precisa ser entendido. A tipologia enriquece a doutrina bíblica.
Ela ressalta a inspiração, a autoria do Espírito Santo por trás da Palavra de Deus, ainda que os homens tenham contribuído para que ela chegasse até nós. A tipologia amplia o entendimento dos ensinos explícitos. Nunca concorre com eles, mas é parte do todo.
Podemos, ainda falando em nome do todo, destacar a importância de se observar contextos. Então, só recapitulando, em primeiro lugar, considerar o todo. Fiz um destaque aqui dentro da ideia do todo, de que considerar o todo envolve observar não só Antigo e Novo Testamento, mas inclusive as tipologias do Antigo Testamento, que eram sombras de bens vindouros.
Então, nós precisamos entender que tudo o que se concretizaria em Cristo, na Nova Aliança, no futuro, na época do Antigo Testamento, isso era uma previsão profética. Mas o que iria se concretizar projetava do futuro para o passado sombras. As sombras não eram entendidas porque eram projetadas por figuras desconhecidas, só sendo entendidas quando?
Quando aquilo que as projetava entrasse no campo de visão. Então, as pessoas veriam a similaridade daquilo que projetava sombra com a sombra e entenderiam: “Deus previu isso com clareza muito tempo antes. ” E, além de entendermos a tipologia, precisamos observar contextos.
Um velho ditado entre os cristãos, eu ouvia isso desde criança, dizia: “Texto sem contexto não passa de pretexto. ” Ter um contexto bíblico significa examinar o que estava sendo tratado quando a afirmação foi feita, a que ela se referia, a quem foi dito, por que foi dito, e olhar o pacote do texto. Porque é muito fácil você criar uma distorção e, às vezes, até tradutores da Bíblia podem apontar numa direção diferente do significado inicial se não considerarem o contexto.
Por exemplo, no evangelho de Lucas, no capítulo 17, nós vemos Jesus falando a respeito de perdão, a quantidade de vezes que tinha que perdoar. Os apóstolos replicam para Ele na hora, no versículo 5: “Senhor, aumenta-nos a fé. ” Como quem diz: “Nós temos fé para ressuscitar mortos,” eles já estavam fazendo isso, “curar o cego, o paralítico, limpar o leproso, mas fé para esse tanto de perdão não temos.
” Eles estão pedindo: “Aumenta-nos a fé. Nós queremos andar nesse nível de fé. ” Jesus replica, no verso 6 de Lucas 17: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a.
. . Essa amoreira: "Arranca-te e transplanta-te no mar; e ela vos obedecerá.
" A NVI, a Nova Versão Internacional, que, particularmente, eu gosto muito dela como um todo, mas nesse texto, e ela não foi a única, ela foi muito infeliz, porque a tradução aparece assim: "Se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda. " A NVT, a Nova Versão Transformadora: "Se tivessem fé, ainda que tão pequena como um grão de mostarda. " Essas traduções que nós chamamos "por equivalência" e não "por literalidade", normalmente nos ajudam a entender um pouco mais, mas podem correr o risco de nos tirar do contexto.
Por quê? Você olha o original: Jesus nunca falou de tamanho do grão de mostarda. Quando ele fala do tamanho do grão, é em outro texto, para dizer que é a menor das sementes, mas se torna a maior das hortaliças.
Aqui, qual é o contexto? Eles estão dizendo: "Nós queremos mais fé"; estão pedindo: "Aumenta a nossa fé. " Jesus está dizendo: "Se vocês tiverem fé como um grão de mostarda, vocês vão ter resultados.
" Ué, se eles estão dizendo: "Aumenta a nossa fé" e Jesus está dizendo que uma fezinha do tamanhozinho de um grãozinho de mostarda resolve tudo, basicamente ele está dizendo: "Não tem necessidade de se preocupar com mais fé. " Mas, se isso fosse verdadeiro, por que Jesus, em outros momentos, confronta a fé pequena de alguns e elogia a fé grande de outros? Se não tem diferença entre fé pequena e fé grande e seus resultados, então por que Jesus corrigiu os que tinham fé pequena e elogiou os que tinham fé grande?
Se uma fezinha do tamanhozinho de um grão de mostarda resolve tudo, então ele está contradizendo o que falou antes. Se não resolve tudo, então não era isso que ele estava falando. Então é aí que nós precisamos observar o todo.
Jesus está dizendo: "Se vocês tiverem fé como uma semente. " Agora, esquece o tamanho: "Você planta aquilo que tem em você, usa o pouco que tem e você vai colher mais do que tinha quando plantou. " Jesus está dizendo: "A fé de vocês vai se desenvolver pelo exercício.
À medida que você usa, que você planta aquilo que tem, você vai colher mais fé. " E aí você entende que Jesus está respondendo exatamente a um pedido de aumentar a fé. Fé como semente é um princípio de multiplicar a fé, não de diminuir o tamanho dela.
Então, esse é um exemplo que nós precisamos levar em consideração quando falamos de observar o contexto. O contexto imediato da conversa e, depois, nós ampliamos para o todo. Para saber se fé pequena ou grande é exatamente do jeito que aquele texto parece dizer, nós precisamos ir para o todo.
Então, dessa forma, nós percebemos que a Bíblia explica a Bíblia e toda interpretação provém dela, considerando o todo, o que inclui Antigo e Novo Testamento e tipologias, e, ao mesmo tempo, observando com clareza o contexto das declarações. Dessa forma, podemos ir crescendo em entendimento, em compreensão, o que nunca temos de uma vez só. Quando Priscila e Áquila orientam Apolo com mais precisão a respeito do Caminho, significa que sempre tem algumas pessoas que já avançaram no entendimento e conseguem usar a própria Escritura para comprovar, por meio dela, riquezas de detalhes que talvez antes não foram percebidos.
Então, que Deus nos ajude a entender e a crescer nessa prática de uma interpretação correta, sadia e frutífera das Escrituras.
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