[Professora] Agora sim que está testando [Voz de fundo] Ligou? [Voz de fundo] Estala os dedos [Dedos estalando] Então, sou a professora Juliana Bastos Marques, e agora nós vamos ter a Sushi dando aula para vocês sobre fontes da Antiguidade Oriental, beleza? Então, bora! Cadê o "stop"? [Música de introdução] Olá a todos, eu sou a Juliana Bastos Marques professora de História Antiga da UNIRIO a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, e estamos agora na aula dois E eu falei para vocês, pra quem viu a aula anterior Aliás, como assim você não viu a aula anterior?
[Gatas miando] As gatas até brigam para ver a aula anterior Na aula anterior, eu apresentei o curso para vocês e falei que falaria sobre pré-história Só que aí, eu estava preparando o material para essa aula E pensei assim: "Não, para tudo! Antes de falar sobre pré-história Eu preciso falar sobre outras coisas mais importantes, talvez a mais importante do curso Que é o seguinte: Eu quero discutir hoje as fontes que usamos para estudar a Antiguidade Oriental, Mesopotâmia e Egito Elas têm vários problemas, e varias questões que surgem a partir delas e essas questões são fundamentais para
a gente discutir o que vem pela frente E para a gente entender porque que a gente estuda Antiguidade Oriental dessa forma, e não de outra Eu falei para vocês que queria falar sobre a diferença entre pré-história e história Isso aí o pessoal aprende na escola "A pré-história é antes surgimento da escrita" A história começa quando o homem Eu, enquanto mulher, não tenho nada a ver com isso acho muito esquisito esse negócio Nada garante que uma mulher também estivesse escrevendo na época Enfim, a gente não sabe quem escrevia. A humanidade é um pouco melhor, né? A
humanidade, ou a Suméria, começou a usar a escrita para produzir documentos que são a nossa base para delimitar a diferença entre história e pré-história Bom, essa definição é muito a cara da ideia da história científica do Séc XIX sobre o que é história Dado que hoje em dia a gente vai pensar que história não é apenas um documento escrito mas que a palavra documento significa todo e qualquer tipo de registro do passado feito a partir da memória, um objeto é um documento, um relato oral é um documento Expandimos a ideia do que significa documento para
além do documento escrito. O que em arqueologia vai se chamar de cultura material, vou falar muito sobre isso hoje Agora se você pensa no documento como: a história surge com o documento escrito você pensa, como no Século XIX, numa ideia de "progresso" no sentido de que o documento surge na Suméria, porque a escrita surge lá e outros povos começam a adotar a escrita, e finalmente podemos estudá-los porque estudamos os documentos escritos, então esses povos "progridem" nessa tecnologia o que tem a ver com a ideia de civilização que eu estava criticando na aula passada a civilização
escrita, onde povos que não usam a escrita não são civilizados... Bom, o conhecimento oral também é muito importante Essa ideia, tem a ver com um conceito muito importante no séc. XIX que vira e mexe a gente cai nele, chamado Teleologia Não confundir com Teologia! Teleologia, que significa: Telos, que em grego é: fim, finalidade Então, significa que a história caminha para um determinado sentido É a ideia, por exemplo, do avanço tecnológico que o mundo é como é porque tudo aconteceu para que fosse assim sendo que quem estava no passado, não pensou assim: "Eu vou inventar a
escrita, porque logo vão inventar um computador" Não! Assim como nós vivemos hoje, e imaginamos o mundo daqui a 20, 50, 100 não sei se vai ter, mas se tiver 200 anos e que vai ser completamente diferente daquilo que a gente imagina Ou seja, essa ideia de que a história tem um sentido e que a gente domina esse sentido E que o passado dominava o mesmo sentido que a gente domina hoje em dia É uma ideia que hoje a gente vê que não faz muito sentido Então, por isso que eu to dizendo que o documento escrito
e essa divisão entre pré-história e história não vai fazer muito sentido para pensarmos em Antiguidade Oriental Não só isso, não é o objetivo dessa aula mas, por exemplo: Povos do continente americano antes da chegada dos europeus Não têm história, portanto não são tão importante quanto povos que têm história Isso é muito perverso, não é para chegar a esse ponto, quero ressaltar isso! Sendo assim, eu vou me perguntar, pensando primeiro na pré-história Como vou estudar sem ter um documento escrito, ou em regiões que não têm esse documento Eu falei para vocês de cultura material, e a
aula de hoje tem muitos princípios da arqueologia que são muito importantes, não só para esse período. Gente, façam arqueologia sobre o mundo de hoje, o nosso mundo Aula passada dei o exemplo do copo d'agua aliás, um segundo... Mas, é isso, cultura material não são só os outros nós também temos cultura material e precisamos estudar e pensar a nossa cultura material, porque ela não é óbvia Como nós podemos pensar também, depois que você tem um documento escrito a relação entre esse documento, e do mundo que o circunda que é o mundo da cultura material que produz
o documento escrito Ou seja, existe uma relação entre eles, e eu vou pegar um livro É um texto de Platão, mas isso é um objeto o livro, o documento escrito que exite dentro, também é um objeto Eu quero falar agora para vocês sobre os tipos de suporte de documentos escritos antes que a gente pense nos documentos não-escritos, ou seja, cultura material para a antiguidade, em especial, teremos muitos suportes característicos Em primeiro lugar, queria apresentar o pergaminho O pergaminho, na verdade, a gente nem sabe se era muito usado no período que vamos falar Porque não se
tem registro, mas não significa que não tenha existido ele pode ter se decomposto, pois, por exemplo, o pergaminho era feito de pele de animais então a pele do animal era tratada de certa forma, raspada e vira a superfície como vocês podem imaginar, dá muito trabalho, portanto, é caro e restrito ao um grupo seleto Esse pergaminho que estou mostrando faz parte de uma coleção chamada papiro mas não é papiro, é papiro Oxirrincos Oxirrincos era o nome do lugar em que essa coleção foi achada e era um lixão que tinha documentos muito importantes dos sécs. I ao
VI d.C Ou seja, era na época - para nós é um ouro completo Esse pedaço de pergaminho eu queria mostrar é como se fosse um couro mais fino e eles usavam para escrever, esse texto está em latim, não é nosso período mas é um dos textos mais antigos que foram encontrados de repente havia mais antigo, mas não encontramos ou foram destruídos O segundo exemplo é o papiro, que evidentemente é típico do Egito porque é uma planta, uma espécie de junco ou bambu e cresce especialmente nas margens do delta do Nilo Como você pode ver nessa
imagem, do lado ele está trançado e pode-se ver as fibras por isso, dá para ver a diferença entre o papiro e o pergaminho que é uma coisa continua, como uma pele esse papiro, especialmente, eu peguei como exemplo porque ele é muito legal foi descoberto em 2015, e foi uma revolução nos estudos das grandes pirâmides É um papiro que não foi encontrado em Gizé mas sim, na costa do Mar Vermelho e Golfo Pérsico Mas está referenciando os trabalhadores da Pirâmide de Quéops, quarta dinastia Portanto, falando sobre recursos para esses trabalhadores Ou seja, uma coisa que jamais
se imaginou que fossem conseguir encontrar E encontraram, e agora o pessoal tá maluco com esse papiro Madeira: nossa é muito difícil achar madeira que não tenha se decomposto na antiguidade muita coisa era feita de madeira Esse exemplo de madeira foi encontrado no Egito e ele é da 18a dinastia ele é um poema, que é conhecido como: as palavras de eu vou ter que olhar na cola porque o nome é inacreditável Khakheperresoneb Essa madeira era revestida, por um negócio que vamos chamar de gesso mas não era o gesso branco que se põe na parede era uma
espécie que se bota na madeira para poder trabalhar em pintura e em madeira, não exatamente o mesmo tipo de gesso mas é uma técnica que se pega a madeira põe algo em cima para poder escrever não da para escrever direto em cima da madeira Os romanos, por exemplo, usavam cera e teoricamente era para você raspar a cera e usar de novo, como um caderno sustentável E outro tipo de material usado pelos documentos escritos que é, realmente, muito utilizado principalmente na Mesopotâmia, é a argila para as tabuletinhas da Escrita Cuneiforme Essa foto que estou mostrando para
vocês, eu tirei no Museu de Pérgamo, em Berlim mostrando como seria, algum conjunto de tabuletas que foram encontradas é claro que elas não foram encontradas dessa forma, é só para mostrar muitas tabuletas foram encontradas dentro de vasos, e, as vezes, são bem pequenas o negócio da argila é que era barata, fácil de fazer, relativamente fácil de transportar tudo bem que ela pode quebrar, mas é só transportar com cuidado e a argila, também, era reutilizável, era sustentável, com muita facilidade às vezes você encontra documentos, e nós temos uma série de documentos mesopotâmicos que são, na verdade,
muito banais que não eram para durar. Alguns sim, outros não O que acontece é que essa argila muitas vezes, quando você faz... Eu não sei se as crianças fazem aquela aula de cinzeiro Ninguém mais faz isso, eu fazia quando era pequena Aula de cinzeiro de argila, pra levar pra mãe Espero que não façam mais isso, mas eu fazia Minha mãe usava o cinzeiro, achava lindo, até que ele quebrou Por que que ele quebrou? Porque eu não cozinhei no forno de alta temperatura Que é o que se faz para a argila virar uma coisa resistênte E
não quebrar e se decompor depois de 5000 anos. Por que essas não se decompuseram? Muitas delas, a maior parte Os casos que a gente tem de tabuletas preservadas são por causa de, por exemplo, de incêndios. O exercíto inimigo vêm, saqueia, incendeia a cidade, incendeia determinado depósito. O que a gente chama de arquivo, onde tinha uma série de tabuletas feitas de argila, não necessariamente cozidas. E o incêndio cozinhou a argila, e por isso ela está preservada até nós hoje. Acontece muito para a história da Mesopotâmia. O que acontece com todos esses exemplos de documentos escritos? Especialmente
para a Mesopotâmia e o Egito, trata-se de um conjunto de documentos extremamente desigual. Ele pode ser muito abundante, se conhecem milhares e milhares de tabuletinhas cuniformes Como essas que mostrei para vocês. Tem catálogos, e muitas estão sendo transcritas e publicadas ainda. Existem muitos papiros, muitos micro fragmentos de papiros que ainda estão sendo estudados. E que serão descobertos mais ainda. Enfim, tem muita coisa. Só que, é muito fragmentado. Falei para vocês, por exemplo, do papiro de Oxirrinco, do conjunto dos papiros de Oxirrinco. Um muito conhecido, por exemplo, são os Manuscritos do Mar Morto. Então você tem
esses conjuntos muito grandes, porém muito espaçados entre si. Tanto geograficamente quanto temporalmente. Imagine uma linha do tempo. Imagina geograficamente a Mesopotâmia. Então, você tem pontos em que foram escavados sítoos arqueológicos em que foram encontrados esses materiais que são de períodos muito distintos entre si. Estamos falando de 3000 anos, por aí. 3000 anos até o fim do nosso curso, é muita coisa. E de lugares completamente diferentes entre si. E de conjuntos de documentos diferentes entre si. Às vezes você tem um conjunto de documentos administrativos, contábeis... Então, imagina. Vamos fazer uma analogia com o mundo de hoje,
vamos fazer de conta que daqui a 5000 mil anos Vou dar um exemplo abstrato, tá? O pessoal vai querer entender a sociedade brasileira a partir dos documentos escritos Então, vai encontrar algo assim: sabe quando você anda na rua e encontra uma caçamba cheia de papelada velha que alguém jogou fora? E tem um monte na caçamba, caiu um monte no chão, no meio do esgoto. É papelada, você passa e fala "É papelada.". Imagina que esse conjunto de papelada, que é, sei lá, a empresa jogou fora, alguém da família morreu e jogaram fora as coisas Esse tipo
de coisa, lixo né? Esse conjunto é um conjunto valiosíssimo para entender... a sociedade brasileira no século XXI. Isso vai falar muito sobre as pessoas que produzieram esses documentos na cidade do Rio de Janeiro, em 2020, no bairro, vamos supor um bairro... Leblon! O Leblon é representativo da sociedade brasileira? É mais ou menos esse tipo de problema que a gente tem para esses conjuntos de documentação antiga. Imagine que você tem um conjunto muito concentrado, muito detalhado internamente, mas... o que que ele diz sobre a sociedade como um todo? E não os problemas específicos que ele apresenta.
Eu pegar esse conjunto de documentos da caçamba do lixão lá no Leblon... e explicar o Brasil De algumas coisas talvez dê certo, mas outras coisas talvez não. Especialmente daqui a 5000 mil anos. Outra questão também quando a gente pensa sobre documentos escritos do mundo antigo, da antiguidade oriental... é o problema da especialização. A gente tem, sei lá, 15 línguas diferentes entre si. 7, por aí, sistemas de escrita diferentes entre si. Então, quem é especialista em assiriologia... e estuda a escrita cuneiforme do período da Síria, 700, 800 anos a.C. Tem um nível de especialização muito diferente
do egiptólogo que vai estudar o Novo Império, os papiros do Novo Império, os papiros helenísticos, que estão escritos em demótico. Diferente, por exemplo, do sumeriólogo, que vai estudar os textos em sumério ou acádico. Algumas línguas que a gente conhece tem um conjunto muito pequeno de documentos escritos, em relação a outras línguas que tinham mais, por exemplo, o hitita. Sabemos que o império hitita foi muito importante por determinado período, só que uma boa parte, a maior parte da correspondência diplomática dos hititas, que é o tipo de coisa que a gente tem que foi encontrado no Egíto,
está escrito em cuneiforme, com uma língua que não é o hitita. Uma língua franca, da escrita diplomática nesse período. Então, pensando nessa diversidade, os estudiosos vão se especializar em uma ou duas línguas e alfabetos, e esses sistemas de escrita. Para entender o todo, você realmente tem que sair um pouco da especialidade e pensar num quadro muito diverso de línguas e de sistemas de escrita. Também tem outro problema. A gente sabe que, não só as cidades, que tinham uma cultura letrada, escrita Elas tinham relacionamentos muito importantes com grupos na periferia desses territórios Grupos nômades ou semi-nômades,
que não vão ter uma cultura escrita, mas que têm um contato muito importante com essas sociedades de cultura escrita E que determinam boa parte da cultura material, da economia e desse própria cultura que a gente vê na escrita desse lugar Só que essas sociedades não tem escrita, e aí? Elas não existem porque não tem cultura escrita? O nosso conhecimento sobre o mundo mesopotâmico, tende a aumentar porque nós tendemos a ter um conjunto cada vez maior de sítios arqueológicos escavados, estudados, publicados e de estudos. Porém, também, esse mundo é frágil, e essas evidências materiais, inclusive as
evidências materiais que são escritas, também são frágeis. Esse é o palácio de Zimri-Lim, em Mari. Esse teto que tem aí é uma espécie de cobertura que os arqueólogos colocaram para proteger o lugar de "intempéries", apesar que lá não chove muito, mas enfim, para proteger o lugar e proteger o acesso também. Então, são as paredes do palácio. No caso do palácio do Zimri-Lim, e muitos palácios mesopotâmicos, fora daquela casca bonita que o pessoal levou para o museu na Europa O palácio não era feito de alvenaria, o palácio não era feito de concreto. Ele era feito de
barro. Ele é muito fácil de destruir, fora dessa camada principal, que foi o que aconteceu aqui. [voz de fundo] Não dá para dizer que é uma espécie de concreto? Não, é barro. É terra com água, seco no sol. Essa foto posterior, bem mais recente, a cobertura foi arrancada. E depois, enfim, o Estado Islâmico, enfim, está do jeito que está agora. Ou seja, quando você escava e deixa exposto um sítio arqueológico, ele tende a se destruir. Porque ele está em expxosição em relação ao ar, à poluição, que dá um problema muito sério. Em relação ao vandalismo,
em relação ao roubo de artefatos que talvez estejam ali. Isso é muito comum no Iraque. Aconteceu muito, o Estado Islâmico ganhou dinheiro roubando artefatos de sítios arqueológicos e vendendo no mercado ilegal. Falei para voês sobre o mercado ilegal na aula passada. Eu vou enumerar, então, três tipos de campos para as fontes da antiguidade oriental. Eu já falei um tanto sobre arqueologia, vou falar mais no final. Mas antes, eu queria falar sobre a filologia e a linguística, que são muito características no estudo da antiguidade oriental, especialmente no século XIX. Mas não só, hoje em dia também.
No caso da filologia, portanto, o estudo das línguas. De volta a primazia do documento escrito. falei para vocês na aula passada, sobre os dois exemplos de estudo das línguas da antiguidade oriental que foram, em primeiro lugar, a deficração da escrita hieroglífica, do egípicio. Uma coisa é a língua egípicia, outra é a escrita usada pela língua egípicia. Assim como, por exemplo, uma coisa é o português, outra coisa é o sistema alfabético que é usado para o português e outras línguas. É mais fácil pensar assim. Embora a escrita hieroglífica fosse usada só para o egípicio. Mas eu
quero dizer que uma coisa é o sistema de escrita, e a outra é a língua falada, que é fixada no sistema de escrita. Thomas Young teve a grande sacada de perceber que a escríta hieroglífica não era necessariamente ideográfica. ou seja, escrita em ideogramas, elementos de representação de ideias. Você tem a escrita ideográfica, a escrita silábica e a escrita fonética. A escrita fonética é por som, que é aquela que a gente usa. A escrita silábica por sílabas, por exemplo o japonês ou chinês. Apesar de que o japonês e o chinês também têm ideogramas, então você pode
usar sistemas diferentes, ideias diferentes de representação no mesmo sistema de escrita. E se achava que a escrita hieroglífica era ideográfica então você tem o desenho do falcãozinho, que significa um falcãozinho. Não necessariamente. A ideia de Thomas Young foi perceber que esse falcão signficava um som, era fonética. Parecia muitas vezes ideográfica, mas era fonética. Só que ele não levou até o final, por isso, então que o grande nome da decifração dos hieróglifos é o Champollion, porque ele levou a ideia até o final e comparou outros textos que ele conhecia com o texto da Pedra de Roseta,
também Assim como Thomas Young, Champollion pegou a ideia dos cartuchos com os nomes dos Faraós que sabiam que na época eram gregos, que eram da Dinastia ptolemaica e, portanto, eles sabiam o nome desses Faraós em grego a ideia de que esses nomes em grego estariam representados foneticamente e não ideograficamente. foi um chute, porque eles sabiam os fonemas por exemplo: Ptolomeu, Cleópatra, Berenice e ai, foram fazendo as comparações até chegar no vocabulário Enfim, estou colocando de maneira simplificada. Têm alguns materiais muito interessantes na internet que explicam isso com detalhes. Inclusive, essa imagem dos cartuchos de Ptolomeu
e Berenice que eu vou deixar depois na descrição, o vídeo do pessoal que conta essa história direito É muito interessante! Outra história interessante, é a da decrifração da escrita cuneiforme. Super importante para o estudo da Mesopotâmia. que aconteceu a partir da expedição do Sir Henry Rawlinson, em 1835 até um lugar chamado Behistun, que fica no Irã. Esse é o nome hoje. Essa foto mostra o que a gente chama hoje de Inscrição de Behistun que é uma Inscrição de Dario I, aquele da guerra contra os gregos que está no Heródoto Ele fez uma Inscrição contando os
seus grandes feitos e está numa pedra, que eu peguei a foto de propósito para vocês verem que para chegar até a Inscrição que está em cima, tem que dar uma de alpinista subir um tanto, e chegar lá no alto, um negócio enorme, lá em cima. Mas quem que ia ler essas Inscrições? Os deuses! Por isso é gigantesco e está numa pedra lá em cima, não é para qualquer pessoa passar na frente. A ideia era uma Inscrição votiva para os deuses. e que o Sir Henry Rawlinson, foi - não só ele, mas ele foi o principal
que foi, e pegou papel manteiga e fez a cópia e ele percebeu que esse texto, que era um só, estava em três línguas, uma das quais ele conhecia No caso, eram os três escritos na escrita cuneiforme mas as línguas eram diferentes Um era o Persa antigo, o outro era o Elamita, e o outro era o babilônco O sistema das cunhas era mais ou menos o mesmo, mas o conjunto de cunhas usados para determinado som mudava de acordo com essas escritas. Então, ele foi fazendo mais ou menos igual porque ele conhecia o persa antigo, que na
verdade não é tão diferente do persa atual, em termos da língua. que é conhecido como farsi, que é a língua do Irã atual. Passando daí para o persa antigo, foram chutando até casarem as ideias e chegando à decifração do cuneiforme antigo. Então, o sistema de escrita cuneiforme é o mesmo mas temporalmente falando ele vai mudando aí que aparecem três sistemas diferentes na Inscrição de Behistun E o terceiro exemplo, evidentemente, de escrita utilizada na antiguidade que vamos ver é o alfabeto. Criado pelos fenícios no primeiro milênio a.C bem posterior a todos os outros sistemas Na parte
mais a esquerda têm os símbolos fenícios, depois mais para o meio tem o grego arcaico depois o grego clássico, depois o latim você tem um sistema a partir... Qual é a grande graça do alfabeto? é um sistema eminentemente fonético, muito simplificado em que um som, um fonema, é representado por um caracter apenas então, você vai juntando isso, para nós parece óbvio, mas não é um sistema óbvio de maneira alguma A ideia da escrita, também não é óbvia ela surge a partir de uma ideia muito diferente da nossa ideia de registrar ações e ideias Basicamente, já
adiantando surge com a contabilidade surge com a Matemática depois a gente fala sobre isso Desse conjunto de textos, especificamente, os egípcios e os mesopotâmicos, e não só dei o exemplo do fenício a maior parte desses textos são textos de registros oficiais isso é importante, são os textos contábeis, administrativos, jurídicos, religiosos os textos religiosos, por exemplo, não só eles, vão ter um problema que é assim: se tiver um hino a algum deus, sacrifício, ou festival, ou algum outro tema que chamaremos de religioso mas a gente não sabe muito bem dizer o que significava isso porque o
texto não explica o que significava isso um texto simbólico religioso, não vai explicar, em detalhes, o que é religião porque as pessoas que têm contato com o texto já sabem pense hoje em dia, imagine que vários conceitos religiosos que não estão no texto ou um texto religioso qualquer você não precisa explicar, um conjunto de símbolos, de uma missa ou de um culto, por exemplo porque as pessoas que frequentam entendem muitos conceitos que não estão no texto que ta ali isso acontece, por exemplo, com os textos religiosos do mundo mesopotâmico ou egípcio ai vai ter, por
exemplo, no Egito cultos iniciáticos e o iniciado passa por um determinado período que é secreto, e só iniciados vão saber então, não temos a menor ideia por isso que é um mistério, mistérios da antiguidade Por que é um mistério? É um mistério para nós, as pessoas que estavam lá sabiam só que elas não produziram documentos que explicavam o que significava Então, documentos administrativos e jurídicos terão uma série de pressupostos que não estão escritos Mas que eram conhecidos pela sociedade que os usavam, liam e produziam o que significa que nossos documentos, também podem ser um mistério
para quem não conhece o nosso mundo como um todo eu falo sobre o passado, mas isso se aplica a nós também e pra quem nos vê de fora, espacialmente ou temporalmente, o mundo não acabou com a gente então eu acho que tem um futuro que vai nos estudar e que não necessariamente entende o porquê a gente fazia as coisas que fazíamos Outro tipo de documento, também, é o que vamos chamar de literário épicos, poemas, os documentos egípcios, por exemplo, vão ter o que chamamos de instruções de como viver, instrução de determinado rei não que ele
estivesse de fato dando uma instrução, era simbólico e também temos as correspondências privadas que se mantiveram por questões fortuitas tipo a história da caçamba, que alguém jogou fora e acabou se preservando às vezes acontece de encontrar algumas correspondências privadas que falam um pouco sobre o cotidiano ou o mundo privado dessas pessoas Temos também outro tipo de texto interessante no mundo mesopotâmico, que são as listas de sinônimos listas utilizadas pelos escribas para praticar... imagine, essa imagem é uma lista de sinônimos da Biblioteca de Assurbanipal o escriba tinha que aprender a ser escriba, e no curso eles
faziam essas listas o que isso vai dizer sobre a sociedade mesopotâmica? vai falar um pouco sobre como funcionava a formação do escriba mas o conteúdo em si são muitas palavras, o que pode ser importante para a filologia eu estou trazendo um monte de coisas para vocês para vocês não se fixarem inteiramente nelas o que vocês têm que fixar com esse mundo de material que estou trazendo? coisas muito simples: a ideia de se questionar é só fazer as perguntas "O que é isso? Quem produziu? Pra quem? Por que?" Oi Sushi, ela pode aparecer no vídeo? Essa
é a Sushi Eu tenho quatro gatas gente, elas vão aparecer nos vídeos só não pisar aqui Sushi Sushi [Risadas] Essas perguntas podem parecer muito simples, mas elas são fundamentais e elas não são simples de jeito nenhum o importante é a gente saber fazê-las e tentar achar respostas, algumas a gente pode achar até mais de uma resposta, ou até não achar resposta nenhuma mas o importante é fazer perguntas sobre esses documentos são perguntas que a gente pode fazer sobre quaisquer documentos, inclusive os nossos o que acontece é que a história que a gente conta só é
possível por causa desse conjunto de documentos que a gente tem ou não tem o que falta é o que a gente não tem se você pegar um livro tipo "História do Egito" aí você vai aprender a história do Egito aí você pega o livro, no final você aprendeu sobre o que é a história do Egito? você fechou o livro, você aprendeu o que é a história do Egito? Não! Você aprendeu uma série de conclusões que os historiadores podem ter chegado aliás, um livro sobre a história do Egito pode falar coisas diferentes de outro livro um
mais antigo, um mais novo um de uma abordagem, ou de outra não se trata de uma visão só Nossa, isso é muito importante! E aquilo que está no livro é baseado no conjunto de documentos. Então assim, sabe-se muito sobre a morte no Egito. Uma boa parte desse livro sobre a história do Egito vai falar dos rituais de morte. A morte no Egito era mais importante necessariamente do que a morte em outros lugares? Antes de você dizer sim, pense. Eu sei mais sobre a morte no Egito porque existe um conjunto gigantescamente maior de documentos escritos sobre
a morte no Egito, por exemplo, múmias, do que em outros lugares. E isso por várias razões, uma delas é que está no deserto. Você tem o valor simbólico, que é super importante no Egito mas porque os mortos eram enterrados no deserto, a areia, a secura, preservaram esses documentos de uma maneira que não preservaram em outros lugares. É uma das principais razões de porque a gente fala tanto sobre morte no Egito. Ausências também são importantes. Falei para vocês no começo da aula do problema da madeira, do problema do pergaminho, tecido, objetos que não se mantêm durante
o tempo, porque são destruídos por causa de uma série de coisas, porque são destruídos deliberadamente, ou são destruídos com a ação do tempo em um determinado lugar. As ausências são tão importantes, quanto as presenças dos documentos que nós temos. O começo do curso de Mesopotâmia, eu sou falar sobre o surgimento da escrita na Sibéria, porque a gente têm várias tabuletinhas contábeis. E aí você chega lá para frente, depois do Hamurábi, aquele lá do código de Hamurábi, o período cassita. A gente conhece muito pouco sobre o período cassita. Não é que ele não tinha nada, ele
não tem nada para nós, a gente não achou muita coisa. A gente sabe que o império hitita é importantíssimo, que o outro império embaixo, Mitani, a gente sabe pouquíssimo sobre. Mitani aparece o tempo inteiro na correspondência diplomática. A gente sabe, por exemplo, de um monte de reis de Mitani, porque eles estão lá, então se eu fizesse você pegar o livro de Mesopotâmia o capítulo que fala de Mitani, de repente, vai ter um monte de lista de rei. Aí meu Deus, eu vou ter que decorar o nome desses reis? Não! Está lá a lista de nomes
de reis de Mitani, porque é o tipo de documento que a gente tem. E a gente não sabe muita coisa sobre a vida cotidiana de Mitani. A história que a gente estuda é sempre um recorte, e no caso da Antiguidade, os recortes ás vezes são tão loucos que a gente realmente tem que parar para pensar por que a gente está estudando o que a gente está estudando. Uma coisa fundamental, falando sobre documento escrito: O documento escrito é produzido oficialmente, mas não só ele é escrito por pessoas que dominam a escrita. Agora, o nível de alfabetização
dessas sociedades era extremamente restrito. Aliás, o nível de alfabetização da sociedade brasileira, de 80 anos atrás era profundamente restrito em relação ao que é hoje. Uma quantidade minúscula de pessoas de uma determinada sociedade que têm o domínio da escrita, que possuem os materiais dessa escrita, e os meios de circulação dessa escrita. Então a escrita, os documentos escritos, tratam de uma porção desse tamanhozinho daquela sociedade que estamos estudando. Ela tira por exemplo, a nossa habilidade de entender mais sobre o universo de mulheres, outro grupo, escravos, tribos periféricas dessa sociedade, como eu já falei para vocês. Uma
imensa quantidade de grupos, no qual a gente sabe pouco ou praticamente nada. porque esses grupos, por uma razão ou outra, não produziram documentos escritos e muitas vezes nesses documentos materiais que eles produziram não está escrito, por exemplo, em um vaso que ele foi feito por uma mulher, sobre tal circunstância muito raramente pode-se levantar uma tese sobre quem produziu determinado objeto mas não está escrito no objeto, essas hipóteses são pouco conclusivas vale a pena pensar nelas, mas elas são pouco conclusivas eu falei pra vocês que não trago respostas, mas as perguntas são importantes A segunda categoria
de documentos do mundo antigo que eu quero falar é uma categoria que não trabalhamos muito em história mas que foi muito importante, também, no século XIX que é o estudo da linguística No século XVIII, como eu falei para vocês na aula passada, os europeus começaram a entrar no Oriente Médio, contatos comerciais e diplomáticos, indo até a Índia, especialmente os britânicos porque a Índia foi fundamental para o Império Britânico então no século XVIII, os ingleses começam a perceber semelhanças entre o latim e o grego, que eles conheciam e o sânscrito, que é uma língua antiga indiana
a Índia tem milhares de línguas, mas o sânscrito é a língua dos textos védicos que são muito importantes para a história da Índia e para a religião Levaram para a Europa esses textos e perceberam que tinha muita coisa parecida em termos de vocabulário e sintaxe se por acaso você não lembra o que é sintaxe porque achava a matéria chata na escola sintaxe é, por exemplo, a ordem das palavras na frase sujeito, verbo, objeto... quando se vai estudar linguística isso é fundamental, pois línguas diferentes têm sistemas diferentes se você tem essas semelhanças, significa que elas vêm
de uma origem comum isso é o princípio que começaram a deduzir a partir disso - talvez você ja tenha visto esse mapa, que é uma espécie de árvore geneológica das línguas Esse mapa está em português, então você pode ver do lado direito a segunda coluna que está cheia de línguas, a primeira sendo português - tanto o português, quanto as outras vêm do latim - essa árvore é bastante simplificada, existem outras mais complexas tudo isso é baseado nessa dedução comparativa entre línguas conhecidas Esse cara é o August Schleicher, um alemão em 1861 propôs, portanto, a ideia
de que existia uma língua originária que ele chamou de Proto-indo-europeu, de onde surgiram as línguas que levaram às de hoje que, portanto, nas de hoje temos essas semelhanças logo, você pensa retroativamente aí ele começou, e os linguístas ainda estudam isso bom, ele era alemão, então, o termo alemão ainda é usado e está no mapa, e é Urheimat Urheimat significa terra natal ou terra de origem Qual seria a terra de origem desse povo? Isso está baseado numa ideia do século XIX, que vamos chamar de difusionismo Por exemplo, um povo falava uma língua tal e o outro
falava uma língua diferente só que depois os documentos produzidos por um povo tinham a língua do outro portanto, vão concluir que um povo dominou o outro e mandaram usar o sistema da língua do vencedor e se deu a expansão de um povo que teoricamente veio de algum lugar - que lugar é esse? Esses nomes nas bolinhas, são os nomes dos autores que propuseram as diferentes localizações desse povo ai talvez no Cáucaso, nesse que está em azul ou no norte da Europa o mais recente é esse que está em verde na Anatólia, que é o Colin
Renfrew Então quando você for ver esse quadro comparativo, no indiano antigo, a palavra é "mata", em persa antigo é "matar" em irlândes antigo é "mathir", isso é mãe "mater" em latim Se o indiano antigo, o búlgaro antigo, o grego antigo, o latino, o alemão moderno e o português têm a mesma origem, essa origem veio de algum lugar e essa ideia de uma origem única para diferentes povos ela não vem só da linguística comparada, ela vem de outro lugar que foi considerado fundamental, por esses estudiosos no final do século XVII e no século XIX Esse quadro
aqui se chama " A redenção de Cam" foi pintado em 1885, pelo Modesto Brocos Gomez e está no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro É uma mulher negra em pé, com a mão agradecendo a Deus a filha dela está sentada, o marido da filha ao lado e a neta sentada no colo agora note: a mãe é negra, a filha tem a pele mais clara e o bebê, por causa do pai, é branco A Redenção de Cam, e de onde saiu isso? é o branqueamento é da história de Noé, da Bíblia, de Gênesis
Noé teve seus três filhos Jafé, Sem e Cam Isidoro de Sevilha, no século VII, vai dizer quer Jafé é o antepassado dos europeus Sem, já diz o nome, é o antepassado dos semitas, os judeus, os árabes e Cam, se você olhar na bíblia tem a história da maldição de Cam Noé estava dormindo, nu, e Cam chegou, vendo que o pai estava nu e Cam, segundo a etimologia dos estudiosos, é um termo que vai originar as ideias de nego, escravo olha que loucura mas tem esse tipo de estudo, que vai levar isso a sério daí a
ideia da redenção de Cam, do escravo negro que se redime se tornando branco Portanto essa ideia de uma origem comum que vai espalhando os povos foi tanto pensada em termos linguísticos, científicos, como também em termos teológicos e as duas coisas batiam perfeitamente uma com a outra mas outras funções da filologia e da linguística vão ser importantes até hoje em dia, para se pensar coisas que não podemos responder a partir de documentos materiais e escritos por exemplo, sabe-se que a língua suméria é muito diferente da língua acádica que é usada na mesma época e é semítica
mas o sumério é uma língua que não tem nada a ver com nada, as raízes e a sintaxe são diferentes então é aquela ideia, que a gente sabe: os acádios dominam a Suméria, se os sumérios não são indo-europeus, de onde eles são? Quem eles são? essa é a famosa questão suméria, mas se trata de uma questão que tem a ver com o pressuposto de que um povo, uma etnia, uma nação equivalem a uma língua no final das contas esse tipo de questionamento vai ser importante para fazermos perguntas sobre mobilidade, assimilação cultural, o que eu quero
dizer com isso? povos dominados, povos dominantes e como culturas mudam e interagem entre si É uma questão muito complexa, mas todos esses elementos são baseados por exemplo, nos tipos de situação que as fontes dão para nós O terceiro ponto, já falei um pouco sobre e vou retomar, é a arqueologia Na aula passada eu falei sobre Pompéia, e o surgimento da arqueologia no século XVIII Quando você chega na segunda metade do século XIX, não tem a ver com arqueologia mas é super importante : Darwin, a origem das espécies [miado] O que acontece? Antes ainda de Darwin,
evidentemente os arqueólogos começaram a escavar e encontraram coisas sobre as civilizações antigas mas também, encontraram coisas bem mais antigas que isso. Fósseis de mamutes, fósseis de ossos gigantescos de animais que não existem mais hoje. E eles começaram a pensar: Gente, mas peraí isso aqui não está batendo com o Gênesis. Não é possível, tem alguma coisa errada. A idéia de evolução a partir do Darwinismo, tem a ver com a idéia de que na verdade, o Gênesis é uma explicação não necessariamente realista, mas metafórica do surgimento da humanidade. E a arqueologia vai trazer questões muito complexas sobre,
como que a gente interpreta a cultura material, - a arqueologia surge, como uma espécie de fornecedor de objetos para a história da arte - para se pensar, a partir do século XX, na arqueologia do cotidiano, aquela que não é tão incrível assim... O uso cotidiano, fala muito sobre uma sociedade, às vezes, se bobear, fala até muito mais do que um objeto de arte, porque ele tem um uso e uma circulação muito restrita na sociedade. Então essa arqueologia do cotidiano vai tentar entender um pouco daqueles silêncios que eu falei sobre a documentação escrita. Se a documentação
escrita não fala sobre o cotidiano, não fala das mulheres, não fala do mundo, daquele que você chama "dos bárbaros", não vai falar de todos os tipos de escravo, ou de qualquer pessoa que não fosse letrada. Está por trás daí a pergunta: Qual é a história que eu quero escrever? É a história dos grandes reis, ou a história do mundo cotidiano, fora dos grandes nomes, fora dos grandes eventos? Essa história é relevante? Para responder sim ou não, eu vou ter que pensar o quanto a história é relevante para mim. E aí eu estou pensando, em coisas
muito além das questões específicas sobre a Antiguidade Oriental, mas essas também, são muito importantes para todos nós. Também em arqueologia, eu queria falar sobre outro ponto. Não apenas a importância dos tipos de objetos, e da relação dos objetos entre si com o ambiente que eles são encontrados, que eles são utilizados, mas também da importância da arqueologia para a datação desses objetos e de todo o conjunto da sociedade que os produziu. Em arqueologia a gente tem dois tipos de datação: a relativa e a absoluta. É muito simples, a datação relativa, o que é mais antigo, e
o que é mais novo entre dois objetos? Esse objeto é mais antigo, esse é mais novo, esse veio antes, esse veio depois, é relativo. A datação absoluta é: esse objeto é de 2725 a.C. e esse objeto é de 1436 a.C., digamos. A arqueologia vai ajudar em muito, o conjunto de dados que a gente têm ao redor desses documentos produzidos, inclusive os próprios documentos escritos, muitas vezes não está lá escrita a data dele, ou às vezes, está escrito a data assim: quinto ano do rei tal. E aí você olha e fala assim: Hum, e daí? O
que significa para o meu calendário, o quinto ano do rei tal? Você vai estudar lá na Mesopotâmia, tem um negócio chamado "mound", ele é uma montanha artificial. Alguns "mounds" eram na verdade zigurates abandonados. Você vai achar que é só uma pequena montanha Só que não é, é uma ocupação que foi abandonada com o passar dos séculos, o passar dos milênios, e aquilo parece uma coisa natural, mas não é. A ocupação humana em um determinado lugar, essas pessoas não abandonam aquele lugar, ela é acumulativa. Portanto, você pode pensar naquilo que nós vamos chamar de estratigrafia, que
é o estudo dos estratos dessa ocupação. Ela é destrutiva. Se eu quiser chegar aqui embaixo, eu vou ter que destruir o que tem aqui em cima, até chegar aqui embaixo. A datação relativa tem a ver com essa idéia de que a estatigrafia, a princípio, teria o mais recente em cima e o mais antigo embaixo, mas não necessariamente isso acontece. Portanto, é um estudo altamente complexo, que eu como não sou arqueóloga, eu não faço! Portanto, eu só leio as conclusões dos meus colegas. E você também tem a datação absoluta. É aquela do carbono-14, por exemplo. O
que fez o cara desse gráfico? Ele pegou esses lados que ficam nessa região e furou lá, e tirou sedimentos debaixo dessas ocupações - porque são sedimentos orgânicos, portanto, a análise de carbono-14 que é baseada no caimento orgânico do carbono. Olha, eu não sei se é assim que funciona, meus colegas arqueólogos mandam para o laboratório, e outras pessoas fazem. E aí chega do laboratório os dados, que o cara vai comparar, sobre o caimento do carbono nesses sedimentos que ele irá analisar. E o que ele descobre? Aquilo que hoje parece deserto em 3.000 a.C. era um pântano.
Aquela região onde ficava Ur, Uruk etc, naquela época, 3.000 a.C., aquilo era costa. Hoje em dia, fica muito para dentro. A costa do Iraque hoje, fica bem mais para baixo. To fazendo assim, porque é o mapa né. Aí a costa do Iraque está bem mais para baixo. Porque aquilo foram sedimentos. Isso não acontece só no Iraque, em vários outros lugares também. Com o passar do tempo vai sedimentando, tanto do rio etc. E aí a costa vai descendo, aqui no caso a do Iraque. Portanto, essa região aqui hoje em dia é muito mais desértica. A parte
úmida está lá embaixo, perto do mar, certo? Ess região que hoje é desértica - eu vou estar falando para vocês porque a irrigação que surge na Suméria é muito importante para o surgimento das cidades e ocupação. Da onde que eu tirei isso? Então, um dado como esse surge como elemento muito específico, mas um elemento muito importante para eu contar para vocês, na Suméria, aquilo que está no livro sobre o que é a história da Mesopotâmia, etc. Então assim, é um exemplo de como que gerar perguntas sobre as fontes é fundamental. Se você for ler um
texto sobre a história da Mesopotâmia, escrito no começo do século XX, as explicações que são utilizadas certamente serão diferentes, das explicações utilizadas hoje. Porque hoje nós temos um conjunto de dados muito diferentes, que vão contar uma história diferente da Mesopotâmia, em relação à história que se contava em 1910 ou 1920. A arqueologia é parcial. Ela vai pensar o objeto, a relação do objeto com o ambiente, a relação do objeto com a paisagem. O objeto, a cultura material. Agora, ela também é aleatória. Porque o objeto é aleatório. Por que eu tenho esse objeto, e não esse
objeto? Por que eu escavei e encontrei isso, e será quem tem outra coisa, em outro lugar que é tão ou mais importante ou contradiz o que tem aqui? Não sei, né, eu tenho um conjunto, um conjunto relativamente aleatório de conjuntos de objetos, de suas relações com os ambientes que as produziram. E a arqueologia é excludente. Excludente no seguinte sentido: Falei para vocês do "mound". O "mound" é lixo. O que a gente deixa para trás é lixo. Daqui a 500 anos, tudo que a gente produziu, tudo que tiver ao meu redor é lixo. Aquilo que foi
abandonado, é aquilo que a gente chama de lixo. Inclusive, por falar em lixo, uma grande sacada da arqueologia foi um estudo nos EUA sobre o lixo que as pessoas produziam em seus próprios ambientes, e tentar fazer um exercício de raciocínio, e tentar explicar essa sociedade a partir daquilo que eles encontravam no lixo. Não é óbvio, porque é um recorte, como é a vida das pessoas de acordo com o lixo que elas produzem. Uma pessoa que produz muito, uma pessoa que produz pouco, o que é que vai significar? A gente sabe o quê que significa porque
a gente conhece o resto da sociedade. Mas o descarte que essa sociedade produz, e que é o conjunto de objetos que ela deixa para trás, ele é parcial, excludente e aleatório. A princípio, aquilo que é mais recente tem mais, é mais fácil da gente encontrar, do que aquilo que é mais antigo. Momentos prósperos de sociedades produzem mais cultura material, do que momentos de crise. O mundo da cidade produz mais objetos, não quaisquer objetos, objetos que conseguem se preservar de uma maneira ou de outra, por causa do seu substrato, do tipo de coisa que ele é
feito, etc. A cidade produz mais objetos do que o campo. Eu consigo falar mais sobre o mundo da cidade, do que o do campo. Até porque é mais fácil estudar uma vida concentrada na cidade do que uma vida espalhada no campo. Materiais mais resistentes tendem a se preservar melhor, do que materiais menos resistentes. Só que essa dos materiais mais resistentes, às vezes tem um problema, por exemplo: ouro é um material mais resistente do que tecido. Só que ouro vale mais do que tecido. Então, o ouro tende a ser mais reaproveitado. Bronze, por exemplo. Objetos de
bronze que foram reforjados, e se tornaram outros objetos. A pedra de Roseta, quando ela foi encontrada ela fazia parte de um muro. Era uma inscrição oficial, durante o período Ptolemaico, depois virou lixo, porque o período Ptolemaico passou. Então eu quero pedir um favor para você. Durante todo o nosso curso, eu vou ficar falando sobre fontes, porque elas são as fontes do nosso material. Enfim, de onde a gente tira a história que a gente tira. E eu vou questionar essas fontes, com esse tipo de elemento de pensamento que eu estou questionando agora. Volte para esta aula!
Se você ficar confuso. volte para esta aula, e preste atenção não nas coisinhas específicas que eu falei, mas nas perguntas que a gente faz sobre elas. [música]