Não sei se do Eclesiástico e Jesus Ben Sirac diz: “Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos; uma língua afável multiplica as saudações. ” É o tema do domínio não apenas da língua, mas da cólera, da raiva. O que acontece com um homem insensato?
Ele se deixa levar pelo seu sentimento de indignação e, ao invés de ter uma palavra amena, ele reage de maneira descontrolada. E aí começam as alfinetadas, as patadas, as indiretas; depois, as diretas, até que chega-se ao xingamento, e do xingamento se passa ao ódio e à guerra declarada. Nós temos que ser sábios.
O sábio, ele, se [Música] controla; ele sabe apaziguar uma situação. Como é triste uma pessoa ignorante. Uma pessoa ignorante é assim: quando uma palavra entra na sua sensibilidade, ela perde o controle.
Então, por exemplo, uma vez me contaram de um médico que estava explicando para a família o problema de uma menina que tinha uma doença, e aí ele utilizou uma palavra que foi mal colocada. Aquilo virou uma briga. Por quê?
O homem ignorante não tem a boa vontade de tentar entender positivamente o que o outro diz. Quando uma palavra entra atravessada, ele já reage com agressividade, e a situação, que talvez não fosse tão grave, se agrava; e se for grave, ela se tornará ainda mais grave. Nós deveríamos ser pessoas de paz, que jogam água na fervura, que procuram levar entendimento entre as pessoas e que são capazes de criar pontes e de ajudar a que as pessoas se entendam.
Às vezes, eu fico um pouco escandalizado com a capacidade que as pessoas têm de fazerem o exato contrário disso. Então, por exemplo, elas vão destruir a fama de alguém, propositalmente, intrometendo-se em situações que não são de sua conta. É horrível isso, porque não é apenas fofoca; ainda que o mexerico seja uma coisa horrorosa, é algo pior do que isso.
Demonstra uma perversidade, uma atitude de querer, de fato, criar contenda onde não existe. Então, o autor nos ensina a tomar muito cuidado com o que nós dizemos. Procuremos sempre acalmar os ânimos, sempre apaziguar as situações, sempre pacificar os conflitos, porque todos saem ganhando.
Ele diz: “Sejam numerosos os que te saúdam, mas teus conselheiros um entre mil. ” Isso é de uma sabedoria imorredoura. E ele continua: “Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação e não te apegues em confiar nele, porque há amigo de ocasião que não persevera no dia da aflição.
” As pessoas se esquecem disso: o amigo de ocasião. Então, quando você está bem, quando as coisas estão indo excelentemente, algumas pessoas se aproximarão. Nem sempre são oportunistas; muitas vezes, são apenas pessoas que, vendo-nos bem, são traídas.
São amigos de ocasião, mas não são amigos verdadeiros, porque os amigos verdadeiros são amigos em todas as circunstâncias, mas especialmente na provação. Os jovens, por exemplo, não entendem isso; eles acham que seus colegas de escola são amigos, que a sua turminha é feita de amigos. Eles precisam tomar muita rasteira, precisam ser muito, muito desiludidos, passar por muitas decepções para entender que amizade é algo que se constrói com muita atenção.
É difícil encontrar um amigo. Amigo que passa para inimizade, que revela as desavenças para te envergonhar, é o amigo que muda de lado; aquela pessoa que, por alguma razão, a máscara cai, e quando ele percebe isso, vai para o lado oposto e começa a tentar te envergonhar, a te destruir. Isso é muito frequente.
O número de pessoas que existem na sociedade, com certos transtornos nos quais elas não sentem empatia e, portanto, não têm nenhum sentimento de culpa e que passam do amor ao ódio em um instante, é muito grande. Nós precisamos nos acautelar. Às vezes, nós sofremos muito para aprender isso.
Amigos que são companheiros de mesa e que não perseveram no dia da necessidade são os amigos de bar, são os amigos de diversões que não são amigos verdadeiros. Quando fores bem-sucedido, ele será como teu igual e, sem cerimônia, dará ordens a teus criados. Vão entrando.
São aquelas pessoas que entram sem pedir licença, que se aproximam, vão chegando; daqui a pouco já estão dentro da sua casa, daqui a pouco já se sentem da família. Mas, se fores humilhado, ele estará contra ti e se esconderá da tua presença. Nós somos humilhados não apenas pelas dificuldades que acontecem, mas pelos nossos próprios erros.
Um amigo é alguém que é capaz de estar comigo mesmo quando eu erro, que é capaz de me compreender, é capaz de me dar o ombro para eu chorar, é capaz de olhar para mim e dizer: “Olha, tudo bem, você errou, mas eu te entendo. Você fez com uma boa intenção. Eu tentei te prevenir, mas não deu certo; você estava muito cego.
Tudo bem, vai passar, estamos juntos. ” Não existe amigo neutro. Aquele que, quando você está em uma luta com um crocodilo, diz: “Não, não vou me meter, porque eu sou neutro.
” Bom, essa neutralidade é fingida, porque você vai ser devorado pelo crocodilo. É evidente. Ele só não faz uma torcida organizada para o crocodilo porque é hipócrita, mas amigo mesmo não é neutro, ele tem lado e é o teu.
Ele te defende, ele te ajuda, ele fica contente com as tuas conquistas. Ele quer o bem para você. Não é difícil perceber que alguém não quer o nosso bem; basta observar.
E é por isso que o autor diz: “Afasta-te dos teus inimigos e toma cuidado com os amigos. ” Ou seja, seja mais atencioso. Se uma pessoa é próxima de você, ela chega com a colegagem de quem se faz amigo, etc.
Só que você vai percebendo nos detalhes que, na verdade, ele tem inveja de você; ele está disputando, está copiando para entrar numa competição ou ele não quer te ajudar porque tem algo nele que faz com que ele não queira ser obscurecido. Pelo seu brilho, então, ele tem que se manter distante; tem que estar numa posição opaca. E aí, quando você chega e diz alguma coisa boa que está acontecendo com você, por detrás um sorriso amarelo, você percebe o olhar de decepção.
Ou, quando você conta um sofrimento, por detrás da cara de sério, você nota o sorriso nos olhos. O que o autor está dizendo é: você tem que ser atento, porque você tem que ter responsabilidade com a sua vida, responsabilidade com a sua família, com a sua história. Você não pode abrir os segredos da sua casa para qualquer um; você não pode ser alguém que sai por aí, contando a primeira pessoa que aparece, aquilo que te acontece.
Você tem que ter discernimento; você tem que proteger a si e aos outros. Um amigo fiel é poderosa proteção; quem o encontrou, encontrou um tesouro. Ou seja, é uma coisa muito rara.
Você tem poucos amigos no mundo, não tem muitos. Não existe isso: alguém que vai se comprometer com a sua vida, que vai ser uma espécie de alter ego. Não, você não vai encontrar muitos: não são pouquíssimos, talvez se contem na palma de uma mão.
Um amigo fiel, a ele não há nada que se compare; é um bem. Um amigo fiel é um bálsamo de vida. Claro, porque um amigo fiel é alguém que você sabe que pode dizer as piores coisas, que ele não vai mudar o olhar que ele tem por você.
Ele vai te compreender e, por isso, você abre a sua alma e sabe que não será julgado. Um amigo fiel é alguém que vê que você fez uma besteira e ele pode te ajudar a reparar. Ele não vai poupar esforços; ele vai cumprir tua causa como se fosse dele e vai te dar alívio.
Quem é que faz isso? Essas pessoas é que são amigas. Mas ele diz algo muito bonito e que nós devemos conservar em nosso coração: um amigo fiel é um bálsamo de vida, é um tesouro.
É difícil de encontrar, mas os que temem o Senhor vão encontrá-lo; é uma promessa. Se você respeita a Deus, se você tem reverência por Deus, se você é alguém que procura conhecer a vontade dele, se você é alguém que sonda o Senhor para descobrir os seus ensinos, se você é alguém que busca a sabedoria, Deus vai semear verdadeiros amigos ao teu lado. É Ele quem faz isso.
Quem teme o Senhor conduz bem a sua amizade; como Ele é, tal será o seu amigo. De fato, é uma promessa que enche o nosso coração e que, ao mesmo tempo, nos coloca diante de um realismo radical: amigos mesmos nós encontraremos muito poucos e, por isso, precisamos valorizá-los como nosso maior tesouro. Que o Senhor nos luz para valorizarmos os nossos tesouros; os nossos tesouros são os nossos segredos mais íntimos, aqueles que somente um amigo verdadeiro pode conhecer.
Amenidades, palavras amenas, palavras bondosas, atitude pacificadora. Queremos bem a todos; não semeamos inimizade, não criamos guerra, não apostamos em nenhum tipo de contenda. Mas amigos mesmos são os poucos que Deus nos deu; que nós tenhamos essa compreensão, queridos irmãos.
Então, nós vamos começar a escutar apenas quem verdadeiramente quer o nosso bem e o bem da nossa casa. Sejam muitas as tuas saudações, mas o teu conselheiro é um entre mil. Não escute o primeiro que chegar dizendo qualquer coisa.
Teu conselheiro tem que ser um entre mil; seja seletivo, porque é assim que o Senhor nos garante que nós teremos êxito em nossos caminhos e nos preservamos de desnecessárias decepções.