Vocês me pediram para falar sobre as formas de cuidar do nosso cérebro divergente, e hoje, então, nós vamos conversar sobre a Spy, que em bom português é a teoria da colher. Para explicar essa teoria, antes eu tenho que contar a história sobre essa metáfora. Em um belo dia, uma moça chamada Cristine Miserandino estava em um evento e ela quis explicar para sua amiga como era viver com lúpus.
Ela sempre ouvia algo sobre a doença dela, mas dessa vez quis explicar de uma maneira diferente. Então, ela pegou as colheres que estavam disponíveis perto da mesa delas e disse à amiga que cada colher representava uma unidade de energia. As pessoas saudáveis têm uma cota praticamente ilimitada de energia, ou pelo menos elas não precisam ficar pensando o tempo inteiro no seu gasto energético diário.
Já a Cristine, que tem lúpus, ela tem, vamos supor, 12 colheres, 12 unidades de energia. Assim que ela acorda, por exemplo, ela gasta uma colher para escovar os dentes, duas colheres para tomar banho, três colheres para arrumar a casa ou para estudar. Antes do meio-dia, talvez ela já tenha utilizado seis, metade das suas 12 colheres.
Ou seja, ela sempre precisava administrar suas atividades com inteligência e saber como usar sua energia ao longo do dia. A Cristine publicou essa história no blog dela em um texto intitulado "Mas você nem parece que é doente". Pronto, muita gente se identificou com essa teoria, com essa metáfora, porque existem várias alterações de saúde física ou de saúde psíquica, alterações cognitivas, que não são perceptíveis aos olhos, como a neurodivergência, e também podem vir com essa sensibilidade maior.
Assim, as pessoas com TDAH, por exemplo, tendem a ficar esgotadas quando precisam se concentrar muito nos estudos. Os autistas podem se cansar demais com a socialização e entrar numa espécie de ressaca depois de reuniões ou eventos sociais, ou mesmo do trabalho. As pessoas altamente sensíveis também podem sentir que têm menos colheres do que a maioria das pessoas e que acabam sem reserva energética antes do dia terminar.
Na semana passada, por exemplo, uma mãe estava me contando que o filho chega da escola tão cansado que ele não dá conta de se alimentar; ele não quer participar do jantar com a família e só quer dormir nessa hora. Aliás, essa tendência de trocar as refeições por sono é superfrequente nas pessoas altamente sensíveis, e é por isso que a gente emagrece em períodos de estresse, mas não precisa ser assim. Então, o que fazer se esse é o seu caso, se você é sensível e nota que tem uma quantidade menor de colheres ou uma quantidade limitada para usar durante o seu dia?
Bom, uma alternativa vai ser usar sua reserva de manhã. Então, se você se forçar um pouquinho, é claro que você vai conseguir ficar mais tempo acordado, e aí você vai conseguir produzir mais. Mas essa escolha tem um custo.
Provavelmente você vai acordar com menos energia no outro dia, talvez tenha que dormir mais e perca as horas do seu dia num período em que você estiver forçando esse motor. Os sintomas do estresse também podem aparecer mais fortes, e você vai notar um agito físico, talvez taquicardia, e agito mental também. As pessoas podem ficar mais caladas e entrar num shutdown, enquanto outras podem ficar mais reativas, mais impacientes.
Nas crianças isso é muito claro; os pais até falam que o filho está "chatinho" porque ele está com sono. Para restaurar energia física e cognitiva, dormir realmente é um excelente recurso. Pois bem, e se você não quiser gastar as suas colheres de manhã, o que eu acho uma ideia muito inteligente?
Mas quais são as outras opções? Eu vou aqui resumir as nossas possibilidades em dois caminhos simples. O primeiro vai ser saber administrar bem a sua reserva de energia diária, a reserva de energia de hoje.
O segundo é saber cuidar da sua usina natural de energia. A administração da energia é uma função executiva maravilhosa, só que as crianças ainda não conseguem fazer isso sozinhas, e nós temos que ajudá-las, principalmente quando a sensibilidade da criança é nítida. Ela já manifesta claramente esse cansaço.
Se isso acontece, os adultos precisam enxugar a agenda da criança, triar as atividades que são de fato relevantes e energizantes para o filho, para a filha ou para o aluno. E quando somos nós, os adultos que somos pessoas altamente sensíveis, vai ser a mesma coisa. Nós temos que escolher direitinho as atividades que fazem sentido na nossa vida.
Ontem, por exemplo, meu professor de psicologia social projetou um filme pra gente chamado "A Onda". O filme é muito interessante; eu já assisti, mas como sou sensível, me envolvo demais com a história. Então, eu senti que não seria um bom momento para rever todas aquelas cenas fortes à noite, antes de dormir.
Quando assisti esse filme pela primeira vez, tive que fazer uns três intervalos. Onde eu quero chegar com essa história? Nesse caso, a minha escolha foi estudar outro assunto no horário da aula, preservando a minha energia.
Essa é a vida da pessoa altamente sensível, cheia de escolhas baseadas nessa economia energética. Agora, eu disse que você também pode turbinar a sua usina fisiológica, não é verdade? Como?
Cuidando das suas mitocôndrias, cuidando do seu corpo. Eu vou falar dos cuidados básicos aqui e vou dividi-los em seis pilares: a boa alimentação, com gorduras boas de qualidade, fibras, proteínas limpas, pouco açúcar. Muita gente também fica exausta só porque não toma água.
Olha só, isso é sério! A desidratação mata, e as suas células não funcionam sem água. O segundo pilar é a qualidade do sono, porque o ciclo circadiano vai determinar a liberação dos seus hormônios, como cortisol e dopamina pela manhã, que vão elevar a sua motivação.
Então, é fundamental dormir bem. O terceiro pilar é tomar um pouco de sol ou, pelo menos, iluminar a retina nas primeiras horas da manhã, porque a luz natural vai informar o cérebro que é dia e que você precisa de mais energia, e isso realmente vai nos deixar mais alertas, né? E até evita os efeitos negativos da luz artificial, né, para o nosso ciclo circadiano.
Então, guarde isso: sol é vida e adiciona colheres de energia ao seu dia. O quarto pilar são os exercícios físicos. Parece contraditório gastar energia justamente quando você quer ter mais energia, pois é!
Mas o exercício físico, pensado de forma estratégica, vai deixar o corpo mais resiliente e ele ajuda também a irrigar melhor os seus neurônios, o seu cérebro, e tudo isso adiciona colheres de vitalidade à sua vida. O quinto passo, né? O quinto pilar vai ser saber escolher ambientes saudáveis de convívio.
Tem um estudo longitudinal conduzido pela Universidade de Harvard, chama-se Grand Study, e ele mostrou que o fator mais decisivo para prolongar a nossa vida é a afetividade. Então, pessoas que têm laços afetivos mais significativos tendem a viver mais e melhor, mesmo que esses laços sejam poucos, mais escassos, não tem problema. E o sexto pilar é a cereja do bolo, que é a suplementação de vitaminas, minerais ou hormônios, que pode mudar a realidade da pessoa.
Às vezes, a falta de energia pode ser, por exemplo, por um hipotiroidismo, então é fundamental corrigir esses parâmetros, né? Para que o metabolismo basal da pessoa não fique arrastado, lento. Enfim, o seu médico pode facilitar essa etapa para você.
Resumindo, não se sinta culpada ou culpado por selecionar essas atividades mais significativas para você. Alimente-se bem, nutra suas células, faça a higiene do sono direitinho, tire os eletrônicos do quarto à noite, ilumine a sua retina pela manhã, movimente o seu corpo, as suas articulações, para ganhar mais energia. Você pode até se movimentar enquanto toma o seu solzinho!
Esteja com as pessoas que elevem os seus pensamentos e, claro, depois de fazer o básico, aí você pode pensar em otimização das suas funções biológicas com alguns suplementos, por exemplo. Mas não adianta você tomar magnésio, vitamina C, B12, vitamina D, se você só toma 200 ml de água por dia; não dá! E para concluir, como diz Temple Grandin, o mundo precisa de todos os cérebros.
Então, eu espero que a teoria da colher seja útil para você cuidar bem dos seus neurônios espectrais. E se você gostou dessa teoria, por favor, curta o vídeo e compartilhe com seus amigos. Um grande abraço e até a próxima quinta-feira.
Tchau, tchau!