Como Cuba quase levou EUA e União Soviética à guerra

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BBC News Brasil
Em 22 de outubro de 1962, o presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy, comunicou ao mundo que a...
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A noite de 22 de outubro de 1962 foi uma das mais tensas do século passado Naquele dia, o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, fez o seguinte pronunciamento: Essa ilha era Cuba, e os mísseis a que Kennedy se referia eram nucleares Em plena Guerra Fria, parecia mais próxima do que nunca uma guerra atômica entre as duas grandes potências da época – Estados Unidos e União Soviética Cubanos, soviéticos e americanos se prepararam para um confronto nuclear que por alguns dias pareceu inevitável Eu sou Camilla Veras Mota da BBC News Brasil e neste vídeo vou explicar o
que foi a crise dos mísseis de Cuba – e como ela quase teve consequências trágicas Primeiro, o contexto histórico Estados Unidos e União Soviética foram cruciais na vitória dos Aliados contra o fascismo na Segunda Guerra Mundial Encerrado o conflito, em 1945, os dois países vão se colocando em polos opostos da geopolítica do pós-guerra Os Estados Unidos e seu modelo capitalista e a União Soviética com o comunismo Essa disputa toma forma concreta em várias frentes Uma delas foi a corrida armamentista e o desenvolvimento de programas de armas nucleares Em 1962, os Estados Unidos já tinham posicionado
mísseis na Turquia, perto do então território soviético, o que deixou Moscou em alerta É aqui que os olhos se voltam a Cuba, que fica a apenas 160 quilômetros de distância dos Estados Unidos Três anos antes, a revolução socialista de Fidel Castro tinha triunfado na ilha, fazendo ruir a relação diplomática com os Estados Unidos O novo governo cubano precisava de dinheiro e proteção, daí a aproximação com a União Soviética e a nacionalização de indústrias que interessavam aos americanos Washington viu isso como uma ameaça à sua influência no Hemisfério Ocidental E responde tentando enfraquecer Fidel, impondo um
forte embargo econômico e financiando grupos armados contrarrevolucionários Em 1961, um grupo de exilados cubanos treinados pela CIA, o serviço secreto americano, invadiu Cuba A operação foi um grande fracasso, e começaram preparativos para uma invasão mais ampla Entra em cena a figura de Nikita Khrushchev, o então líder soviético, para ajudar Cuba a se defender Em segredo, cubanos e soviéticos começaram a instalar mísseis nucleares na ilha Mas o segredo durou até o 14 de outubro de 1962 Naquele dia, um avião espião americano sobrevoou Cuba e fez centenas de fotos Pelas imagens, a CIA identificou a preparação de
componentes de mísseis balísticos de médio alcance em San Cristóbal, no oeste de Cuba E mais voos de reconhecimento encontraram cenários semelhantes em outras localizações Dois dias depois, o presidente John Kennedy foi informado e reuniu um grupo de conselheiros conhecido como Comitê Executivo do Conselho de Segurança Nacional, Excomm em inglês, para definir uma resposta estratégica Foram levantadas três opções: aproximar-se de Fidel e Khrushchev, efetuar um bloqueio naval que impedisse a chegada de barcos soviéticos com armamentos ou simplesmente atacar Kennedy escolheu implementar o bloqueio e negociar uma solução Isso foi uma semana antes de o mundo tomar
conhecimento do imbróglio Kennedy fez um pronunciamento sobre a gravidade da situação Ele escolheu as palavras com cuidado porque qualquer erro de interpretação poderia levar a uma catástrofe Por isso, quando anunciou que imporia um bloqueio naval a Cuba, referiu-se à medida como uma “rígida quarentena”, em vez de um bloqueio, que poderia ser enxergado como um ato de guerra Ele advertiu, contudo, que qualquer ataque contra um país do hemisfério Ocidental seria retaliado pelos Estados Unidos Em paralelo, Kennedy mandou uma carta a Khrushchev. Afirmou que não permitiria a entrada de mais armas em Cuba e pediu que as
bases construídas até então fossem desmontadas e devolvidas à União Soviética O mundo se preparou então para o pior Os dias seguintes seriam vitais Em 24 de outubro, foi imposto o bloqueio naval para impedir a chegada das embarcações soviéticas que já estavam a caminho Khrushchev enxergou o bloqueio como, entre aspas, “ato de agressão” e disse que ordenaria que ele fosse desrespeitado pelos navios soviéticos Ao mesmo tempo, voos espiões americanos detectaram que os mísseis soviéticos em Cuba estavam quase prontos para operar Na ilha, Fidel Castro alertou o povo cubano para o risco de uma invasão e mobilizou
300 mil homens armados Tanta era a tensão que, pela primeira vez na história, os Estados Unidos declararam nível 2 no sistema de alerta DEFCON, sigla em inglês para defense readiness condition Esse é o nível mais alto antes de um confronto nuclear aberto A tarde de 26 de outubro trouxe mais um desdobramento John Scali, correspondente da emissora americana ABC, informou o governo americano que havia sido procurado por um agente soviético, que lhe fez uma proposta: os soviéticos removeriam os mísseis de Cuba sob a promessa de que os EUA se comprometessem publicamente a não invadir a ilha
Enquanto a Casa Branca avaliava a validade dessa proposta, Khrushchev enviou uma carta emotiva a Kennedy Nela, falava da tragédia que resultaria de um holocausto nuclear e propunha uma solução similar à recebida por Scali Essa mensagem chegou à noite, já madrugada do dia seguinte em Moscou Mas, quando os funcionários americanos voltaram a se reunir, a situação já tinha mudado novamente Khrushchev havia colocado novas exigências para a retirada dos mísseis de Cuba Ele queria que os Estados Unidos também removessem os mísseis que tinham posicionado na Turquia No meio da escalada, aconteceu um temido erro de cálculo: os
soviéticos derrubaram um avião de reconhecimento americano em Cuba, e o piloto morreu Os generais americanos recomendaram a Kennedy que atacasse imediatamente Tudo estava preparado Havia soldados suficientes e aviões prontos, inclusive com armamento nuclear Anos depois, ao relembrar o episódio, Robert McNamara, secretário de Defesa de Kennedy, admitiu que chegou a pensar que aquela tarde de 27 de outubro poderia ser a última da sua vida Mas faltava um personagem entrar em cena Llewellyn Thompson tinha sido embaixador na União Soviética e era muito experiente na negociação com representantes do país Ele recomendou a Kennedy que não só prometesse
a Khrushchev não invadir Cuba em troca da retirada dos mísseis, como também que retirasse os mísseis americanos da Turquia – mas em segredo, sem torná-lo público nem como parte da negociação A resposta chegou na manhã seguinte Khrushchev declarou publicamente que os mísseis soviéticos seriam desmontados e retirados nas semanas seguintes Foi o fim da crise Os armamentos americanos foram retirados da Turquia em abril de 1963 Tanto Kennedy quanto Khrushchev venderam o acordo a seus cidadãos como uma vitória diplomática Mas o governo cubano saiu ressentido Fidel Castro achou ruim que os mísseis soviéticos tivessem sido retirados sem
que ele fosse consultado e sem levar em conta seus interesses Para o líder cubano, as garantias de não agressão dos Estados Unidos eram insuficientes E mais tarde ele reconheceu que o episódio afetou as relações de Cuba com os soviéticos durante anos A crise também levou Washington e Moscou a estabelecerem uma linha telefônica direta, conhecida como “telefone vermelho”, para impedir que situações semelhantes se repetissem Mas nem Kennedy, nem Khrushchev chegaram a ver o fim da guerra fria O americano foi assassinado em 1963 e o soviético morreu em 1971, aos 77 anos Foi só em 1991, com
a dissolução da União Soviética, que o embate entre as duas potências acabou Com isso eu fico por aqui Obrigada e até a próxima
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