Autismo Nível 1 - 85 Sinais Sutis ou "Pink Flags" em Autistas

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Lygia Pereira - Autismo Feminino
Neste vídeo vamos conversar sobre 85 sinais sutis ou traços não clássicos do autismo feminino e níve...
Video Transcript:
Pergunta: você já ouviu falar sobre "pink flags" ou "bandeiras cor-de-rosa"? Pois é, esse é o nosso assunto de hoje, e o termo foi cunhado pela Dra. Suzane Dov e sua equipe. Eles publicaram um artigo em 2022. O artigo se chama "Um roteiro para identificar o transtorno do espectro do autismo: reconhecendo e avaliando as características que devem levantar as bandeiras rosa ou pink flags para orientar o diagnóstico diferencial e preciso do autismo". Em inglês, eles costumam usar muito o termo "red flag" para indicar sinais de alerta, sinais de risco, inclusive dentro do espectro autista também.
Então, nós usamos esse termo como forma de sinalizar os traços clássicos. Agora, essa expressão "bandeira cor-de-rosa" é muito simbólica, muito emblemática, porque além de mostrar que os sinais de alerta podem não ser tão óbvios, né? Porque o rosa é menos gritante do que o vermelho, ainda tem essa conotação de cor-de-rosa que está ligada à cor mais feminina, né? Costuma ser associada ao universo feminino. Nós sabemos que a apresentação mais sutil não é exclusiva para meninas e mulheres, mas sim, elas são as mais negligenciadas nesse processo de rastreio e diagnóstico. Inclusive, se fala sobre a geração
perdida, a geração invisível. Então, eu não estou fazendo apologia aqui ao sexismo, obviamente. Inclusive, a nossa comunidade recebe muito bem tanto os rapazes quanto pessoas de outros gêneros, e aqui nós realmente, né, vocês acolhem muito bem quem chega, quem participa das discussões. Mas é interessante conhecer, sim, essa lista, essa lista de traços menos óbvios, menos clássicos ou mais sutis do autismo. Então, vamos lá: a nossa listinha de 85 itens. O primeiro é gostar de estudar, gostar de falar de determinados tópicos muito específicos, que podem ser psicologia, Cavaleiros do Zodíaco, Minecraft (um jogo, né, do computador/videogame),
histórias dos sapatos, história dos perfumes, unicórnios, maquiagem... E às vezes, os interesses nem são tão diferentes dos interesses das pessoas da mesma idade, mas a intensidade, a frequência e o gosto, né, a repetição, às vezes é muito mais intensa do que acontece em outras pessoas, né, do que o interesse especial, as coleções que outras pessoas fazem. Às vezes, a criança ou adolescente perde até o sono, né? Não consegue sair daquela ideia fixa, daquele gosto. O segundo sinal é ter a marcha errante. Hoje em dia, temos mais adolescentes e adultos, e eles me contam às vezes
que durante a infância caminhavam longas distâncias sem ter um lugar para ir, né? Um objetivo, um ponto específico para chegar. Eles queriam caminhar. Alguns falam: "Ah, eu deveria ter sido carteiro porque eu gostava muito de andar", ou então, ficavam andando em círculos no pátio da escola, na quadra. O terceiro ponto é caminhar nas pontas dos pés. Isso parece um traço óbvio, mas às vezes, a criança parece que está brincando ou está fugindo daquela sensação da textura ou da temperatura do piso. Então, é interessante observar. Quarto sinal: bater a cabeça quando está chateada ou frustrada. Então,
os pais ficam muito assustados quando a criança não sabe expressar, mesmo que ela tenha linguagem, tenha fala, né, e tenha vocabulário, às vezes rico para a sua idade. Quando tem uma frustração muito grande, ela simplesmente explode, fica muito chateada e começa a se bater, mesmo, bater a cabeça na parede ou no chão. É um sinal que a gente observa e, às vezes, não é tão óbvio para as pessoas que possa ser um sinal de autismo. Quinto sinal: balançar muito as pernas. Isso parece bastante a hiperatividade física, hiperatividade motora. Nós observamos bastante em pessoas com TDAH.
Inclusive, os estudos mostram que as meninas tendem a ter, quando têm autismo e TDAH, muitas vezes só o TDAH é diagnosticado. Mas além da pessoa autista poder ter disfunção executiva, esse agito motor, essa tensão física, às vezes é muito frequente, e nós vamos observar que ficam batucando ou balançando muito as pernas. O sexto ponto: torcer as mãos, bater as mãos, que também não é incomum em crianças pequenas, mesmo crianças típicas. Mas às vezes, a pessoa vai levando até a fase mais adulta essa tendência a movimentar muito as mãos. Tem cliente, né, aluno que até perde
os digitais de tanto que pressiona um dedo contra o outro. O sétimo ponto, né, sétimo traço não óbvio é ter maneirismos sutis com os dedos, principalmente ao falar ou quando precisa completar uma tarefa, fazer uma prova. Aí que vão aparecer os maneirismos, né? O movimento com a mão fica muito assim, então, são traços que a gente pode observar. E, obviamente, se fecha os critérios, né? O critério A que fala sobre a dificuldade de interação social e o critério B que vai falar sobre comportamentos repetitivos e restritivos, é que nós vamos pensar em um transtorno do
espectro autista. Também é importante, né? É imprescindível haver prejuízos na ausência de suporte ou acomodação para se falarem em um diagnóstico. Mas esses traços sutis servem para que a gente fique atento e se aprofunde no rastreio, naquela avaliação que nós estamos fazendo. Oitavo ponto: gostar de descer rampas e escorregadores de forma repetida. Às vezes, os pais não entendem: "Ah, mas só gosta daquele brinquedo e só quer ficar descendo escorregador, não deixa mais ninguém brincar naquele, né, no parquinho", ou fecha e tranca a porta do parque e só ela quer brincar daquele jeito. Nono sinal: amar
montanhas russas. Algumas pessoas autistas têm aversão a essas emoções fortes, mas algumas buscam as sensações. Então, é uma tendência da hiporreatividade, né? Quando a pessoa é hipoativa, talvez ela busque sensações mais fortes. E o décimo sinal: querer girar também repetidas vezes. Às vezes, a pessoa gira no próprio eixo, fica balançando, também balançando na cadeira do escritório ou num balanço, né, quando é criança, e faz isso por muito tempo, fica na rede. Aí, balança, balança, balança e não vai brincar, não vai desenhar, né? Fazer outras coisas com as outras crianças. O 11º sinal é adorar brincar
com água; e, claro, todo mundo gosta: criança ama piscina, ama chuveiro, né? Às vezes, quer brincar com a mangueira, chuveirinho, né? Mas, às vezes, a criança faz uma brincadeira um pouco mais repetitiva, mais ritualizada. Então, é importante observar. O 12º sinal é gostar muito de comidas picantes ou de comidas crocantes, porque também é uma busca sensorial. Às vezes, a criança não consegue comer se não tiver uma crocância ali no alimento, como uma castanha, batata frita, às vezes, né? Para que ela consiga se alimentar de forma adequada. E essa busca também, às vezes, vem pela pimenta.
O 13º sinal é buscar espelhos, luzes fortes. Tem criança, pessoa autista, que tem aversão a pisca-pisca e outras que vão ser alucinadas, vão buscar esse tipo de sensação. O 14º ponto é preferência por roupa justa. Da mesma forma, algumas crianças não toleram, né? Etiqueta, enquanto outras vão preferir ficar contidas. Tem até a máquina do abraço que a doutora Temple Grandin criou, que era usada, né? No ambiente de fazenda para confortar os animais, e hoje em dia tem sido usada também para pessoas autistas, para acalmar, para ajudar a autorregulação. Então, as crianças, mesmo pessoas adultas, podem
preferir roupas mais justas. Eu, quando era pequena, pedia à minha mãe, né? Toda roupa tinha que ter um cinto, porque o cinto me dava, evitava que a roupa ficasse me encostando de forma imprevisível. Então, eu queria ficar mais contida. O 15º ponto é gostar de abraços também apertados, cobertores muito pesados. Às vezes, a pessoa quer uma mochila, e a mochila está sempre carregada de objetos. Os pais não entendem por que está carregando para lá e para cá aqueles cadernos pesados de 20 matérias, se a criança pode deixar na escola, se o adolescente também, né? Pode
deixar em casa, não precisa daquilo tudo. Mas é uma busca sensorial e, às vezes, isso traz uma sensação de conforto, o peso. O 16º sinal é gostar de andar descalço. Também, às vezes, a textura do chão frio traz uma sensação de paz. Outras pessoas também falam que é uma maneira de aterragem. Tem estudiosos, né? Nos Estados Unidos, por exemplo, que observaram que algumas crianças fugiam da sala. Lá, as escolas são quase que plastificadas, né? O piso é de um material impermeável, e as crianças ficavam muito aflitas. Eles observavam que o cabelo ficava até em pé,
assim, com energia eletrostática, e eles tinham que pisar na grama. Então, quando eles fugiam, era para ficar perto de uma árvore, com os pezinhos no chão, com pezinho na grama. Então, a gente precisa ficar atento a esse detalhe também. O 17º ponto é ficar passando a mão ou esfregando demais o cabelo. Isso, a gente às vezes observa em meninas. Então, fica o tempo inteiro passando a mão no cabelo, e muitas meninas têm, realmente, né? Essa mania ou a tendência a ficar passando a mão nos cabelos, assim. Só que, quando a gente faz perguntas que são
um pouquinho mais desconcertantes ou que, né? Não têm a resposta imediata, às vezes ela fica aflita, porque nós estamos aguardando a resposta. Então, diante dessa expectativa, às vezes aparece uma tendência assim, às vezes puxa muito o cabelo, esfrega muito, e é um ponto. Isso está no nosso consultório; a gente já imagina, né? Que tenha um motivo. É claro que a gente vai investigar, mas se está em casa ou na escola, se você é o profissional, então é um sinal de alerta. O 18º sinal é ser pouco responsiva aos estímulos sensoriais. Então, às vezes, os pais
falam que chamam a pessoa e ela não responde. Parece que fica muito concentrada, e, né? O bebê pode mamar em qualquer pessoa, ou qualquer pessoa pode cuidar daquele bebê que ele não vai perceber, não vai chorar, não vai reclamar. Então, esse é um ponto também de atenção. O 19º sinal é ter tolerância muito alta à dor, principalmente, eh, quando tem lesões assim, mais leves: rala o joelho, tem hematomas, bate no móvel. E aí a pessoa nem percebe. Às vezes, no consultório, também percebo que a pessoa chega roxa e ela nem percebeu que estava machucada. Aí,
quando eu pergunto, a pessoa vai rememorar e se lembra que ficou pressionando demais a, né? A perna numa escada ou que esqueceu, deixou um instrumento por muito tempo, né? Muito pressionado na perna e nem percebe. Às vezes, tem lesões fortes mesmo, né? Tem até a síndrome do estudante, que é aquele que fica com o cotovelo em cima da mesa e vai pressionando ali, e acaba tendo uma inflamação da bursa, né? E acaba inchando, ficando com o cotovelo muito grande. E isso acontece porque a pessoa não percebe que está lesionando. O 20º ponto é ser hipersensível.
Isso aparece muito, que é a pessoa que vai reclamar muito do barulho, do, eh, dos sons em geral, das luzes, texturas da comida. E é muito sensível a tudo, sensível à socialização também. Então, o 21º ponto também fala sobre isso: é ser muito exigente com a comida; aí tem que ter o ritual, ou tem que ter aquela comida específica, com a temperatura específica, montada no prato de forma muito particular. O 22º ponto é não gostar de alimentos com textura macia. Então, muitas crianças autistas odeiam cremes, odeiam catupiry, coisas, né? Que agradam muito outras pessoas. Talvez
o autista realmente rejeite. Eu estou falando aqui muito de criança, porque, mesmo quando é um adulto que nós estamos avaliando, nós, como é um transtorno do neurodesenvolvimento, o autismo, precisamos fazer essa retrospectiva e fazer perguntas sobre a fase de desenvolvimento, sobre a infância e adolescência, por exemplo. Então, o 23º ponto vai... Ser não gostar de comida misturada é um outro ponto. Então, às vezes não gosta de comida macia, também não gosta que um alimento toque no outro. Tem esse rigor, né? Um preciosíssimo ali, inclusive na hora de se alimentar. 24º ponto: é recusar alimentos quentes
ou alimentos gelados. E aí a pessoa insiste em comer tudo à temperatura ambiente. Tem que esperar o sorvete derreter para tomar o sorvete, tem que esperar a sopa esfriar. Às vezes vai colocar a sopinha, um caldo que todo mundo gosta de tomar quentinho, chocolate quente, vai colocar na geladeira para chegar àquela temperatura média, ali, temperatura ambiente. 25º ponto: é não gostar de etiquetas nas roupas. Isso parece óbvio, mas às vezes também não é. Porque se a pessoa tem hipossensibilidade, ela vai deixar aquela etiqueta machucar, ou às vezes uma parte do sapato está machucando. Ela não
vai se queixar, ou às vezes por causa da hipersensibilidade, ela vai ficar o tempo inteiro se coçando e está ali incomodada. Só que, às vezes, por alexia também, ou dificuldade de expressar o desconforto, expressar verbalmente, ela não vai falar. Então, por isso às vezes é um ponto sutil. 26º ponto: odiar lavar os cabelos, odiar cortar também os cabelos. Então, tanto pelo ambiente de salão, que às vezes é aversivo, quanto a água caindo na cabeça e no rosto, também gera muito incômodo. E além disso, o barulho de cortar o cabelo, às vezes irrita muita pessoa autista.
É um ponto a ser observado. 27º ponto: recusar-se a usar jeans, sapatos muito justos, sapatos de determinada forma, chinelos, às vezes jaqueta. Também são roupas com tecido, às vezes um pouco mais firme e que restringem os movimentos. A criança às vezes rejeita e quer ficar andando descalça, não usa. Só usa moletom porque é mais confortável, e usa roupas também um pouco de lã, que também são mais fofinhas. 28º ponto: resistir a mudar de roupa, mesmo que precise. Então, a pessoa tem aquele padrão de roupa que ela escolheu e vai usar para todos os ambientes, parece
uniforme. Os pais falam assim: "Nossa, mas parece que só tem essa roupa", porque está usando há anos. A gente fica até sem saber se sai da coleção, se a loja não vende mais o que a gente vai fazer. Tem que ficar estocando esse tipo de roupa porque só veste assim, essa cor, esse padrão, esse tecido. 29º ponto: é não alterar o vestuário conforme as estações. Então, a pessoa vai para a escola, está muito gelado e está de camiseta. Se gosta muito do moletom, que é o que chama mais atenção, mesmo no verão. Está aquela moça
com o moletom. Muitas vezes usa para esconder também caracteres primários, né? Sexuais. Quando as mamas começam a crescer, a menina pode ficar constrangida e usar. E às vezes é uma dificuldade, uma inflexibilidade mesmo, e quer manter aquele padrão de roupa. 30º ponto: não gostar ou ficar muito incomodada com ruídos altos, alarmes, incêndio, alarme de incêndio, né? Sirene. E aí a pessoa fica extremamente incomodada. Então, claro, todo mundo fica um pouco, mas às vezes a pessoa perde a cor, né? Fica pálida quando entra no lugar onde tem um barulho. Então, se leva um susto com esses
apitos. 31º ponto: cobrir os ouvidos quando alguém liga o liquidificador, quando alguém liga o aspirador de pó. Então, realmente são ruídos incômodos para todas as pessoas, mas às vezes a criança não tolera. E mesmo quando não é esperado aquilo, né? Aí ela vai ficar muito incomodada e vai manifestar isso cobrindo os ouvidos. 32º ponto: não gostar de toques suaves, nem de carinho leve. E isso não é à toa, porque quando o toque é muito leve, os receptores podem confundir esse estímulo e realmente o cérebro interpretar como dor. E em pessoas autistas, né, a gente sabe
que às vezes os filtros sensoriais e tal, os CDB, às vezes têm alterações, e aí a pessoa acaba interpretando de forma incorreta esses estímulos. Então, por isso, gostam às vezes de abraço apertado e de um toque mais firme. 33º ponto: fazer uma abertura social adequada, mas ficar muito aflita se as pessoas se aproximam demais fisicamente. Então, às vezes a pessoa autista vai até conversar bem, tem um bom vocabulário, tem boas ideias, é criativa, divertida, mas quando a pessoa vai se aproximando, ela não consegue raciocinar, não consegue responder e, às vezes, se retira do ambiente sem
avisar, sem informar o que vai fazer. Então esse é um outro ponto de alerta. 34º ponto: a dificuldade de se ajustar a novos professores ou professores substitutos, ou a dificuldade de retornar à escola, né? Na volta às aulas, às vezes a criança fica muito desconcertada, constrangida, não sabe como vai encontrar os amigos, perde o sono na semana antes de voltar às aulas. Enquanto todo mundo está feliz, todo mundo quer conversar, encontrar os amigos, contar o que fez nas férias, mostrar, né, o que ganhou no Natal. E, enfim, muitas crianças neurotípicas costumam se divertir nesse momento,
e para as crianças autistas realmente pode ser extremamente estressante. 35º ponto: ficar muito ansiosa ou estressada com mudanças de atividades. E claro, pela inflexibilidade mental, os autistas tendem realmente a querer manter a rotina. Só que, quando a criança, né, conversa bem, está animada e interage de certa forma bem ali com a família, às vezes os pais estranham quando ela fica muito ansiosa se alguém desmarcou uma atividade ou se marcou, sem avisar, né? Uma consulta médica, por exemplo. E aí também a pessoa vai ficar muito aflita. E, muitas vezes, o raciocínio vai para um transtorno de
ansiedade, para outras questões, o estresse, assim, mais ligado mesmo só à ansiedade. E na verdade a gente percebe, às vezes, que tem esse fundo do transtorno do... Neurodesenvolvimento: 36º. As mudanças de atividades preferenciais e não preferenciais podem ser muito difíceis. Então, é aquela criança que está brincando, e aí tem que haver uma negociação muito grande na hora de parar aquela brincadeira para ir tomar banho ou para se preparar para dormir. A criança até entende, às vezes ela fala: "Ah, é só mais um minutinho", mas fica enrolando, e a gente percebe que tem uma aflição muito
grande ali, porque ela não concluiu a brincadeira. Aliás, o sétimo ponto é justamente esse: ter a necessidade de completar, de concluir as coisas, seja um programa de TV, um jogo, uma planilha, né? Então, é claro que, principalmente para a criança, é algo um pouco difícil e precisa ser negociado. Mas, para a criança autista, realmente pode ser inegociável e pode ser muito aflitivo, muito estressante e muito angustiante parar qualquer coisa no meio, mesmo sabendo que ela pode continuar o filme depois que a Netflix marca ali o pontinho certo do filme que ela está assistindo. Enfim, esse
é outro ponto. 38º. Precisar muito de amor, precisar de mais cuidado, de um carinho especial, tanto na hora de adormecer quanto na hora de acordar. Os pais me contam, às vezes, falam: "Mas eu, com 15 anos, eu com 16 anos, eu já trabalhava, já acordava sozinha, eu tinha o meu despertador, eu tinha responsabilidade", e ela não tem responsabilidade. O pai tem que acordar ou eu tenho que ir lá e passar a mão no cabelinho. Também não pode acordar com susto; não, tem que sentar do lado, esperar com calma, abrir os olhinhos, mandar um beijinho e
acordar com calma para que ela se levante. Às vezes, as pessoas, principalmente quem é muito produtivo, fica extremamente angustiado de ver o filho assim e acha que é uma preguiça. Fala: "Eu não criei para ser assim, não sei por que meu filho é assim." Estou falando aqui, às vezes, de meninas, mas mais uma vez, esses sinais sutis podem ser do autismo mais nuançado, mais... não a gente não fala leve, né? Mas do nível 1, com apresentação um pouco atípica. 39º. O sinal é ter preferências por um determinado assento de carro ou ter um prato favorito,
ter um objeto de estimação. Às vezes, um talher sem o qual a criança não come; ela precisa daquele prato, daquele garfinho, da faca, do copo especial. Então, é interessante observar. 40º. Não ter muito jeito para brincar de faz de contas. Brincadeiras simbólicas podem ter uma baixa qualidade. Às vezes, a criança sabe contar histórias, ela sabe todos os nomes de dinossauros, ela sabe detalhes da mitologia grega, mas brincar de faz de conta é um grande desafio. Então, sabe falar de coisas objetivas, mas não sabe fantasiar e ainda fica quebrando a fantasia dos outros, né? Se aparece
uma amiguinha com as asas de fadas, eu sou uma fada? "Não, você é uma pessoa com uma máscara de mentira, fingindo ser uma fada." E, então, fala do Papai Noel: "Papai Noel não existe, né? Coelhinho da Páscoa, tampouco; são os nossos pais quem compram", porque não sabem entrar na brincadeira. 41º. Brincar sozinho, mas não saber entrar no mundo imaginário dos outros. Então, às vezes, a criança realmente tem um mundo imaginário muito rico, mas, quando chega outra criança e mostra que ela também tem uma bolha, um mundo imaginário diferente, aí dá um choque. Nessa criança autista,
vai querer que o outro entre no mundo dela. Às vezes, também não quer, e, quando percebe que esse mundo do outro é diferente, às vezes a pessoa se retrai e evita o contato. Mesmo em muitos casos, nós percebemos que a criança autista vai brincar sozinha, enquanto os coleguinhas brincam com a mãe ou com o pai dessa criança. 42º. Usar o mesmo cenário repetidamente para as suas brincadeiras. Então, muitas crianças criam também um ambiente; às vezes é o mundinho da Barbie, ali, ou do unicórnio, do pônei, e tem aquele ambiente que ela criou e brinca sempre
naquele mesmo lugar e, às vezes, fica até irritada se alguém limpa, se varre o quarto, se tira algum bloquinho daquele lugar do ambiente. 43º. Preferir a companhia dos pais nas brincadeiras. Às vezes, a criança fica fazendo tudo, né? Assim, então, se pendura, se balança e tudo; ela vai mostrar para os pais e não vai ter contato com as outras crianças que estão ali na areia, na brincadeira, né? No parque, então, vai ficar em contato mais com os próprios pais, mesmo tendo muitas crianças à sua volta. 44º. Brincar com crianças da mesma idade, mas ser muito
diretivo, querer comandar tudo, exigir que as brincadeiras sigam um protocolo imutável, preciosista. Então, aquela criança que dirige tudo e, para os meninos, às vezes, isso é bem sutil. Então, por isso, eles não vão chamar atenção, né? Nesse traço sutil do autismo, pode não chamar atenção, e com as meninas é o contrário; isso chama muita atenção, só que é interpretado como outra coisa. É interpretado como, como uma malcriação: a menina é mandona, não tem educação, quer se impor e não sabe compartilhar. E aí vai ser mal visto esse comportamento que, muitas vezes, poderia ser até positivo,
né? Um comportamento de liderança. 45º. Dificuldade para compreender e expressar sentimentos, expressar emoções, também, que é o que se chama de alexitimia: a dificuldade de expressar verbalmente, de ter contato, às vezes, também reconhecer os próprios sentimentos e falar sobre eles, nomear seus sentimentos. E, se a gente não nomeia, se a gente não reconhece, como vamos ter um comportamento compatível, né? Para resolver, para solucionar, para alterar, né? Ter uma dinâmica emocional. Inteligência emocional, então, muitas vezes, a pessoa... Por isso que a pessoa... Fica ruminando tanto alguns assuntos porque não sabe compreender o que ela está sentindo.
A alexia também pode aparecer como a dificuldade de falar ou de perceber as necessidades fisiológicas. Então, há a dificuldade com a interocepção, e aí vai aparecer também a dificuldade de perceber se a bexiga está cheia, se a pessoa está sentindo fome ou se está sentindo sede. São realmente sinais que, às vezes, a pessoa não associa ao autismo. A dificuldade em interpretar os sinais do ambiente, por exemplo, porque as pessoas estão rindo ou estão muito silenciosas numa sala de aula. Às vezes, aconteceu algo constrangedor: a professora falou algo que não deveria, ou um coleguinha soltou uma
piada que não deveria e todo mundo fica em silêncio. Pensa: "Ai, meu Deus, que estranho, que vergonha". E a pessoa autista, criança, adolescente ou adulto, simplesmente "boia", perde a piada e não consegue compreender o que está acontecendo naquele ambiente. Gravitar em torno de adultos ou de crianças mais novas pode ser mais fácil para a pessoa autista. Por exemplo, uma criança autista pode ficar com pessoas adultas porque vão compreender melhor o seu jeito de falar e suas atipicidades, não vão criticar tanto, ou ficar com crianças mais novas, porque às vezes os interesses são mais infantilizados. E
aqui não é uma crítica; às vezes a criança é mais sensível, mais doce, mais ingênua. Então, ali com outras crianças mais novas, ela vai ficar mais à vontade. Isso acontece muito também na adolescência, em que a dinâmica social muda. As meninas neurotípicas vão falar mais de garotos, vão mudar o jeito de se vestir, vão falar mais de maquiagem. A menina autista, às vezes, ainda está no mundo imaginário, está lendo Harry Potter, muito envolvida ali com o mundo da fantasia, com o mundo mais infantil. Às vezes, o que é ótimo; eu acho maravilhoso! Então, ela pode
ficar mais à vontade com outras pessoas, às vezes, crianças mais jovens. Dificuldade para se acalmar ou para ser consolada acontece também frequentemente. Parece um conflito social muito pequeno, ou uma dificuldade de escolher com qual roupa a menina vai a uma festa de 15 anos, ou o que ela deve falar para uma amiga que a criticou, e ela chora copiosamente, difícil de ser consolada. Às vezes, os pais falam: "Eu não consegui lidar". Então, vamos ver o que você consegue fazer por nós. A gente precisa acolher essa pessoa, e às vezes o que ela precisa é só
dessa ajuda na integração das ideias. Só os pais e outros cuidadores sabem qual é o gatilho do sofrimento da criança. É outro detalhe porque, pela história e por outras crises, às vezes, os pais vão saber, por exemplo, que a criança ficou muito frustrada porque chegou à festa e esperava entregar o presente, mas tinha uma caixa onde os presentes ficavam. Então, ela não pode cumprir aquele ritual que estava previsto e que ela tinha planejado. Ela comprou o presente, queria entregar na mão da amiga, mas tinha uma caixa ali na recepção, e a amiga não sabe o
que ela levou. Só saberia em outro dia. Então quer dizer quebrou o planejamento dela e isso, às vezes, aflige muito a criança. Só os pais vão saber que essa foi a frustração, porque a criança estava com um bico, estava muito frustrada e chateada naquela festinha. Histórico de dificuldades em manter amizades é frequente. Os autistas às vezes não sabem por que não conseguem manter as amizades ou não sabem por que as pessoas se afastam. Não conseguem perceber por que os relacionamentos terminam. E aí, quando a gente vai perceber, quando a gente vai conversar, muitas vezes não
houve um investimento. A interpretação é de que, se nós somos amigos, somos amigos para sempre, independentemente do que houver, do que a gente fizer. Independente se eu te ligo todos os dias, se não passou um ano e eu não te liguei. Se nós éramos amigos no ano passado, nós continuamos amigos esse ano, e às vezes para as outras pessoas não é assim. Precisa de um cultivo, precisa manter os laços. Usar perguntas roteirizadas. A pessoa faz uma lista de perguntas, porque aí ela vai saber como manter uma conversa, mas as perguntas são sempre as mesmas, ou
às vezes são perguntas fora do contexto, anacrônicas. São perguntas que parecem fazer a pessoa parecer muito formal ou mais velha do que realmente é, e a gente percebe que tem o roteiro, tem o escrito. Copiar frases de abertura social de outras pessoas, por exemplo, fazer sempre o mesmo conjunto de perguntas quando conhece alguém. Então, a pessoa vai seguir aquele script: "O que você gosta de fazer? Você teve um final de semana agradável?". E às vezes, a resposta leva para um outro caminho da conversa, mas como a pessoa autista está firme naquele propósito de fazer sua
listinha de perguntas, ela vai ficar parecendo um entrevistador e, inclusive, alguns ganham o apelido de "Ana Maria Braga" ou "Oprah" porque fazem muitas perguntas assim, perguntas mais "cazadas". Ter um discurso pedante e excessivamente formal, por exemplo, parecendo uma pequena professora, porque usa palavras difíceis. É o que eu disse: às vezes, usa palavras anacrônicas, assim, com inglês muito formal, e aqui no português também. Ela usa direitinho as preposições e os pronomes e, às vezes, usa palavras muito rebuscadas, palavras longas para a sua idade. É interessante, gosto muito de explicar, às vezes mostrar o que sabe. Não
é para parecer pedante, mas às vezes é só porque é aquele o hiperfoco dela e ela vai compartilhar as ideias. Pode falar por muito tempo, não deixando os outros também. Compartilhar os seus pensamentos, mais uma vez, isso pode parecer um pouco egoísta. A ecolalia imediata de conteúdo, por exemplo: a pessoa vai responder ao comentário. Outra, né? Por exemplo, uma pergunta falou assim: "Ah, você gosta de sorvete?" Aí a criança, né, o adolescente, às vezes vai responder: "Só sorvete." Isso é mais comum em crianças. É uma palilalia, que é o repetir o finalzinho ali da frase,
e aí a conversa não vai para lado nenhum, né? Porque a criança só fica respondendo. E, às vezes, a gente precisa flexibilizar e cuidar, né? Falando, o audiologo trabalha isso muito bem, mas é um sinal sutil, uma "pink flag", que às vezes não é percebida, né? Passa abaixo do radar das pessoas, mesmo de profissionais experientes, quando se trata do rastreio de autismo, com alterações sutis na qualidade vocal. Então, a pessoa pode ter o vocabulário rico, pode ter o verbo alto, pode saber se comunicar, né, relativamente bem, ter boa qualidade na linguagem, mas ali a entonação
é um pouquinho diferente, é atípica. Então, não consegue modular direitinho a voz, às vezes fica mais metálica, estridente. As pessoas vão falar que parece um robô quando está falando. Prosódia atípica, por exemplo, tende a ser muito monótona e não manifestar a emoção enquanto está falando. Às vezes, pode ser também muito exagerada e manifestar muita emoção, ser mais efusiva. Às vezes usa o sarcasmo com muita frequência, porque, principalmente quando a pessoa aprende o que é sarcasmo, o que é ironia, o que é figura de linguagem, talvez ela queira usar muito. E, como essa uma dificuldade, né,
de captar as pistas sociais, sempre que ela capta, ela vai mostrar que compreendeu, que entendeu as sutilezas no discurso do outro. E isso pode parecer um deboche, pode também parecer uma maldade na conversa, né? Pode parecer que ela queira ferir o outro e, na verdade, não é. É falar muito alto ou falar muito baixo para aquele contexto social. Então, falar muito baixo geralmente é mais aceito, né, como sinal de autismo, mas falar muito alto nem sempre as pessoas vão associar mais a TDAH e outras questões. Ter atraso de linguagem e estagnação das habilidades. Então, quando
isso acontece ali nos primeiros anos, ah, os pais, hoje em dia já, né, os pais, os profissionais, eles já têm uma ação maior sobre isso e, claro, vão pensar em autismo. Mas o que a gente observa é que a criança vem se desenvolvendo, né? A menina vai à aula, tira notas boas. Quando chega à adolescência, tem tanta mudança física e tanta mudança na dinâmica social, são tantas as expectativas para que ela se torne uma mulher e expectativas de como deve se comportar, o que deve dizer e expectativas sobre as suas respostas, que, às vezes, ela
tem um bloqueio e os pais percebem, né, que tinha tantas habilidades, tinha tanto potencial, mas não está realizando esse potencial. E isso aflige bastante, mas nem sempre é associado ao autismo. Conduzir os outros pela mão para mostrar o que deseja. Mais uma vez, se é uma criança que está levando, né, o adulto pela mão e, eh, quer mostrar algo. Esse é o sinal, está até nas nossas escalas de rastreio, mas às vezes isso se mantém e, em meninas principalmente, as pessoas não estranham. Acham que é uma brincadeira, acham que ela é muito doce, e que
é muito delicada, que é meiga e tal, e não associam isso a uma dificuldade de verbalizar o que ela sente ou de fazer ter reciprocidade sócioemocional, compartilhar os seus interesses de forma verbal ali, né, com a comunicação. É o repertório gestual limitado e, às vezes, a pessoa vai perceber que ela tem um gestual limitado e vai querer ampliar. Só que os gestos não vêm de forma espontânea, mesmo que a pessoa treine. Às vezes, ah, nós vamos observar que é um pouco exagerado ou aparecem determinados contextos apenas. Então, quando a pessoa vai apresentar o trabalho, ela
usa os gestos; quando vai dar uma aula, ela usa gestos. Acabou, pronto. Aí congela e perde a expressão facial. Também, se estiver estressada, ainda mais. Aí o repertório vai a zero. Fazer contato visual variável ou intermitente ou mal modulado. Muitas vezes, a gente está fazendo entrevista e a pessoa está olhando para baixo. Eventualmente, ela olha, e principalmente se a gente fala algo que chama atenção, aí ela vai olhar, né, vai fazer o contato visual. Mas, senão, quando está contando histórias, está olhando para o lado, tem um contato intermitente, e muitas vezes o autista mesmo verbaliza
que não entende porque isso é necessário: fazer esse contato visual. Às vezes se sente invadido, às vezes não consegue raciocinar. Então, fala: "Se eu precisar responder algo, se eu precisar pensar, refletir, eu não posso fazer o contato visual, porque isso me distrai." Então, às vezes a própria pessoa tem essa percepção, consegue verbalizar, e às vezes isso é inconsciente mesmo e faz parte também do repertório das expressões faciais da comunicação não verbal. Não respeitar os limites habituais do espaço pessoal das outras pessoas. Então, como eu disse, às vezes o autista vai se sentir invadido pelo outro,
né? Que é preservar o seu espaço pessoal e, em alguns casos, a pessoa autista pode não perceber que existe esse espaço pessoal do outro. Então, ela vai invadir esse círculo. E aí a gente precisa ensinar, né? Um braço de distância. Ensinar que, dependendo da intimidade, pode estar mais próximo e, dependendo se não conhece o outro, precisa preservar esse espaço e não invadir, né, aquele espaço alheio, respeitar o outro. Ter expressões faciais monótonas ou inadequadas. Muitas vezes, as pessoas autistas falam que são... Vistas como muito sérias, como "ah,ã", assim emburradas, brabas, como eles dizem no Sul,
que, né, porque não manifestam as emoções, principalmente as boas emoções, e aí ficam com cara de paisagem. Isso acontece em outras condições também, mas quando isso vem desde a infância, aí nós vamos, sim, pensar em um transtorno do neurodesenvolvimento. Fazer muitas caretas sem saber, a Emily do “Amor no Espectro”, agora na segunda temporada americana, ela faz muito assim, né? Parece que está cheirando o lábio, cheirando a boca, e isso é super frequente e é uma mania. Mas a pessoa, às vezes, tem a careta de fechar os olhos, franzir a testa, e, né, se algumas têm
a expressão muito monótona e mais congelada, os outros podem ter expressões muito exageradas. Dificuldade em manter uma conversa fluida, porque às vezes falta pergunta, falta assunto; a pessoa não sabe o que responder, então ficam silêncios constrangedores. A pessoa não sabe conversar, né, de forma espontânea. Só entende as emoções dos outros se forem claramente demonstradas, ou se forem claramente expressas verbalmente, descritas. Aí a pessoa vai manifestar a empatia. Senão, às vezes as mães contam que estão chorando ou que estão muito nervosas, e a criança está pedindo para colocar “Peppa Pig” ou pedindo um brinquedo; não percebem
a emoção das outras pessoas, né? Mas se os pais disserem: "Ah, filho, estou chateada. Ah, filha, agora no meu momento estou cansada, estou com sono", a criança vai compreender. Passividade diante do desconforto social: então, às vezes, a menina está na sala de aula, outras crianças estão brincando, se divertindo, e ela não sabe como interagir. Ela está desconfortável, mas fica ali plantada, né? Às vezes a menina adolescente me fala, né: "Ah, eu fico, eu não sei como agir, mas eu gosto de ficar ali no ambiente, pelo menos ver." E aí, quando tem algum prazer, tudo bem,
né? Mas às vezes ela tem um desconforto imenso ou vai a um lugar e percebe que não é bem-vinda, ou que as pessoas estão fazendo bullying, ela não sabe se retirar. Aí é mais difícil, né? E a gente sabe que tem um risco grande, um risco inclusive de sofrer abuso sexual, e é terrível, porque essa passividade pode causar graves prejuízos. Parecer ríspida, mais uma vez: às vezes a face é de braveza, e ela diz que não, que não está brava, que não está constrangida ou que não está séria. Mas às vezes os outros vão interpretar
os gestos, a fala, o sarcasmo, o jeito como ríspido, muito objetivo, deseducado. Parecer agressiva ou inoportuna ao abordar outra pessoa na interação social: então tem aquele protocolo que as pessoas aprendem espontaneamente, que é primeiro você chega no ambiente, sorri, pergunta se o outro está bem, e aí vai entrar no assunto. E às vezes ela simplesmente quer comprar um objeto que é uma informação e vai direto ao ponto. Então essa pessoa pode parecer inoportuna, mas talvez ninguém pense em autismo. Essa que é a questão. Estamos falando aqui sobre as "pink flags", então não são as "red
flags", que são óbvias, né? Quando a pessoa aparece fazendo estereotipias na frente dos outros, aí, claro, vão perceber que é um autista, vão ter mais paciência, vão ter mais respeito, vão compreender, né, do que se trata. Mas se a pessoa chega ali direta e se ela, né, está se comportando de forma mais ou menos neurotípica, então, né, ninguém vai pensar nisso. E às vezes, em casa mesmo ou na escola, as pessoas não vão fazer essa interpretação. Ser ignorada pelos colegas, principalmente devido a uma apresentação também mais passiva: então se ela não participa, se não mostra
interesse pelas atividades, talvez não seja convidada para as festas de aniversário, para os grupinhos, para o time, né, no esporte, no time de vôlei, por exemplo. E aí parece que ela é ignorada, mas os outros colegas, né, os colegas neurotípicos, vão imaginar que ela nem queira participar porque tem essa postura passiva. Então, se não mostra interesse, é porque não quer, então nós também não vamos convidar. Às vezes a pessoa até é esquecida ali naquele ambiente. Dificuldade em ler as nuances dos relacionamentos entre pares: por exemplo, a pessoa sofre bullying ou relata ter sofrido bullying, né?
Mesmo quando essa não era a intenção, porque a pessoa tem a dificuldade de ler mesmo as nuances, né? Ler que talvez aquele colega esteja manifestando que não quer ser o seu amigo, e mesmo assim a pessoa autista, né, a menina adolescente, está lá, atrás daquela turminha. Às vezes as meninas mais populares, né, garotas malvadas que debocham dos outros, que mostram nitidamente que são as mais populares e que excluem as outras pessoas, e sem perceber, talvez ela continue insistindo naquela amizade. E aí vai sofrer um bullying, e, né, às vezes não é exatamente intencional; os outros
nem querem, né? Porque percebem que é uma moça mais frágil; às vezes nem querem fazer o mal, mas vão excluir, falar: "Você não é da nossa panelinha." Passar por muitos mal-entendidos e constrangimentos relacionados à má interpretação dos sinais dos outros. Então aqui, mais ou menos a mesma coisa, mas eu fiz um vídeo, tem um vídeo aqui falando sobre cognição social, em que eu conto a história de um rapaz que queria uma namorada. E aí ele interpretou. Ele montou um plano de entrar no transporte público britânico e seguir uma moça, né, tocar o ombro de uma
moça que ele gostasse, achasse bonita, e chamá-la para sair, para ser a sua namorada. Simples assim. Deu errado. E aí no vídeo você pode ver as consequências; vou deixar no carro, nos cards aqui. Ter tido uma infância relativamente tranquila, mas ter sofrido rejeição na adolescência. A gente já conversou aqui sobre isso na infância. Às vezes, a menina tem mais motivação social, e aí ela vai estar mais próxima dos grupinhos das outras meninas, mas porque ela não sabe se integrar, não sabe participar das brincadeiras e das conversas de forma espontânea. Talvez os outros percebam essas atipicidades,
e tem estudos mostrando que, às vezes, isso é muito rápido; em questão de segundos, a pessoa neurotípica já faz a interpretação de que aquele, né, o seu interlocutor autista, tem as atipicidades e já tem comportamentos de rejeição. E por conta de tanta frustração social, de tantos erros e equívocos, né, gafes, às vezes a menina mesma perde essa vontade, né, perde a motivação social. E muitas vezes ela vai ser realmente rejeitada e vai receber, às vezes, que não consegue ter amizades ou não consegue namorar, né? Essa é uma queixa frequente: ser vista como infantilizada, mesmo na
fase adulta, e sem a intenção de ser assim, porque a autista simplesmente tem os seus gostos, tem as suas vontades, os seus interesses, e ela não vai pensar se são infantis ou se são de adultos; simplesmente está imersa naquele mundo. Mas quem está à sua volta vai observar que, às vezes, aquele comportamento não é compatível com o de a pessoa adulta que fala firme, que se impõe, que discute as coisas. Talvez elas estejam de uma forma mais passiva, mais mansinha, mais delicada, vestindo roupas com personagens de desenho animado, ainda indo a exposições, né, de anime.
Esses encontros estão tudo bem, que não é uma crítica, mas é um sinal que, às vezes, as pessoas vão levar como se fosse uma falta de motivação para ser adulto. E, na verdade, esse é o transtorno do neurodesenvolvimento, né? Então, é um atraso do desenvolvimento e que, às vezes, tem benefícios. O Einstein, inclusive, diz que as suas descobertas se devem justamente a isso, né? Essa habilidade de ter um olhar mais infantil para assuntos de adultos, então pode ser um superpoder. Ficar exausta após a aula ou após um dia normal de trabalho, o que é normal,
que é natural para outras pessoas, enfrentar o transporte público, fazer uma compra no supermercado, pode ser extremamente exaustivo, angustiante, estressante para a pessoa autista. E aí ela vai precisar ficar em silêncio depois ou vai precisar dormir mais cedo, precisar dormir mais horas, porque isso acontece. E os pais, às vezes, se queixam de que a filha, por exemplo, não se senta à mesa com a família, porque chega da escola, né, se estuda à tarde, chega da escola extremamente cansada. Às vezes chega estressada e vai direto pro quarto, e os pais não admitem, aí forçam a menina
a, né, fazer a refeição com eles. E o que a gente geralmente recomenda é que deixe esse espaço de descompressão, de silêncio, antes de ter essa atividade social, né, e alimentação. A refeição, por quê? O estresse é orexígeno, quer dizer, ele tira a fome. Então, depois da descompressão, ela pode voltar a ter fome, depois de passar pelo período de estresse. Então, pode tomar um banho, pode ficar em silêncio, ouvir uma música, dançar, quando ela gosta. E aí, ela mesma talvez tenha essa vontade de compartilhar as experiências que teve na escola, mas obrigar geralmente não é
um bom caminho, ainda mais quando se trata de alimentação. Ter muita dificuldade para atender telefone, tem muita dificuldade para falar com outras pessoas de forma informal ou de fazer uma teleconferência, e ter prejuízos relacionados à saúde e às finanças, por exemplo, porque não consegue marcar a sua lídia de dentes, não consegue marcar o ginecologista, não consegue marcar o médico. Isso mais, né, na fase adulta, que nós vamos observar, porque enquanto a criança e adolescente, geralmente os pais marcam. E aí a pessoa não vai ter esse tipo de prejuízo. Desejar ter amigos ou relacionamentos afetivos, mas
não saber como, é o que nós temos visto, né, em todos os episódios, em todas as temporadas do "Amor no Espectro". Às vezes, a pessoa tem a vontade de ter um amor, de ter um namorado, né? Tem o Steve, dessa temporada americana, que é uma pessoa fantástica, culta, educada, amorosa, mas não consegue ter uma namorada porque não sabe como, não sabe onde procurar, não sabe como iniciar um relacionamento. E, às vezes, a outra pessoa é muito forte para ele, tem uma energia muito pesada, né? Então, precisa de ter uma companhia mais delicada, talvez menos sexualizada,
e, por vários motivos, às vezes é difícil cultivar relacionamentos afetivos. Monitorar os próprios movimentos, os gestos e as expressões faciais é outro sinal que a gente não percebe se a outra pessoa não disser. A camuflagem, né? Justamente essa tendência do mascaramento. Na verdade, essa estratégia de camuflagem que é de monitorar e de ajustar os nossos movimentos, os gestos, as expressões, de ajustar o nosso comportamento, a nossa fala, para que o outro não perceba as nossas atipicidades. Então, a camuflagem é um sinal que a gente não percebe, a gente intui, porque às vezes ela falha. E
aí é quando surgem, por exemplo, até estereotipias ou um jeito diferente, atípico, um desconcerto. E aí a gente vai observar, através da camuflagem, aqueles traços autísticos. Eu sempre digo que se a camuflagem fosse excelente, ela não seria, né, tão estudada assim como um traço desadaptativo. Ela seria o desenvolvimento típico, desenvolvimento adaptativo, mas não geralmente, e principalmente quando é usada em excesso, ela vai trazer prejuízos, vai trazer cansaço e desconcerto, porque as máscaras caem e a pessoa acaba se sentindo constrangida. Ajustar a própria postura, o sorriso, o contato visual o tempo inteiro. Então, mais uma vez,
o mascaramento vem com esses dois componentes: de se monitorar e de ajustar o seu comportamento. Ter baixa percepção social, ser ingênua, cair demais nas armadilhas. Sociais caem em golpes em situações que são constrangedoras ou potencialmente traumáticas porque não perceberam sinais de risco. 81 Ser muito perfeccionista. Vários autistas me contam que, quando eram crianças, em vez de passar o corretivo ou rabiscar para apagar um erro, né? Um a algum erro de escrita, elas simplesmente tiravam a página do caderno e começavam tudo de novo. Então, chegavam em casa e passavam um caderno todo a limpo para ter
o caderno perfeito. 82 Ter alto padrão moral e ficar aflita com injustiças. Esse é um sinal também, uma Pink Flag, né? Um sinal que não é tão óbvio porque pode ser também maravilhoso, inclusive. Os pais me contam que: "Ah, minha filha tem que ser juíza, tem que ser advogada porque percebe qualquer sinal de injustiça e ela sai do seu lugar." Ela pode ter passividade para tudo, mas se ela percebia que alguém está sendo injustiçado ou maltratado, ela sai do seu lugar e vai lá defender. Tem pais que me contam também que a criança, quando via
um aluno que estava de castigo, ia lá e compartilhava a merenda ou levava um objeto de conforto. Então, nesses casos, às vezes aparece muita empatia e a vontade de desfazer essas injustiças. Às vezes, a pessoa não tem esse comportamento e aí o desconforto aparece. Esse alto padrão moral aparece com uma aflição muito grande e a pessoa, às vezes, perde o sono, fica realmente estressada com o noticiário. Às vezes, a recomendação é até deixar de assistir. 83 Se integrar ao grupo das meninas mais populares, mesmo que elas não tenham um comportamento admirável. Às vezes, os grupos
mais populares da escola são, às vezes, mais maldosos, são excludentes, são críticos e ela não admira essas características. Às vezes, tem até algum componente de desonestidade. São, né? Snobs. Não acolhem as pessoas mais frágeis. Mas, às vezes, para se integrar a um grupo, ela percebe que aquelas meninas têm amigas e talvez ela mude todo o comportamento, o jeito de se vestir, o cabelo, vai se maquiar. Isso é extremamente exaustivo, mas pode acontecer de forma inconsciente. E aí, quando cai a ficha, tem autistas que falam isso publicamente aqui no YouTube: que, quando perceberam que estavam naquele
núcleo e que isso ia contra os seus princípios, contra os seus valores, aí elas se deram conta e se retiraram espontaneamente. Mas, em muitos casos, isso não acontece. A pessoa está o tempo inteiro em conflito consigo mesma. Então, é outro ponto que talvez a gente nem saiba, né? Um sinal realmente muito sutil que só a pessoa, às vezes, consegue identificar. 84 Ficar confusa sobre a própria identidade de gênero ou parecer que pertence a um gênero à parte. Às vezes, as pessoas falam terceiro gênero e agora tem tantos, né? Tem essa fluidez sexual, tem tantos nomes
que talvez a pessoa se sinta mais pertencente a algum. Mas os relatos das autistas adultas, às vezes, são de que elas pensam de forma muito racional, como os garotos ou como os homens, ou como o marido. Querem vestir as roupas dos maridos e que, às vezes, têm essa necessidade de ser mãe, que têm um pensamento feminino também. E, às vezes, socialmente ela não consegue se identificar com nenhum mundo e aí ela cria um mundo à parte. Se isso acontece, está ótimo, mas às vezes a pessoa fica o tempo inteiro se questionando. Isso realmente é muito
desconfortável. Mas é interessante ver, né? Agora, os estudos falam que realmente as meninas autistas podem ter uma configuração cerebral mais semelhante à dos meninos neurotípicos, ou seja, esse jeito de pensar, às vezes, um pouco mais racional, mais masculino, digamos assim, pode aparecer. Tem outros estudos que mostram que, diante de um conflito social, as meninas autistas vão usar o cérebro de forma racional, como se estivessem resolvendo um problema matemático. Quer dizer, não espontâneo. E, às vezes, ligam essas regiões do cérebro que estão mais associadas ao planejamento, a questões mais racionais, mais objetivas mesmo. Por isso, às
vezes, elas são mal interpretadas, porque querem resolver questões que são mais emocionais ou afetivas de forma muito pragmática e às vezes podem parecer egoístas ou pouco sensíveis, frias, pedra de gelo, a Elsa do Frozen, enfim, são urso polar, são vários apelidos ou rótulos que elas podem ganhar. E, por último, 85 Ser vista como muito exótica ou muito diferente, ET de um outro mundo. E se ela estiver à vontade com isso, se ela, que eu digo, né? A pessoa se vê à vontade com isso, está tudo bem ser diferente. Muitas das minhas alunas, inclusive, observam, né?
Elas verbalizam que, quando percebem que podem ser diferentes, que elas não têm que ocultar, tamponar as suas próprias diferenças e que não precisam tentar ser perfeitinhas para que sejam aceitas, a vida fica muito mais leve, mais divertida. Elas mesmas observam as suas atipicidades e conseguem rir, fluir com a vida e esse é o objetivo. O objetivo aqui é ver nessas Pink Flags que não necessariamente são relacionadas ao universo feminino, são relacionadas a sinais. Talvez um pouco mais… vocês estão vendo aqui que nem sempre essa sutileza é tão leve assim, muitas vezes é bastante aparente, desconcertante
para algumas pessoas, mas ao mesmo tempo pode ser a oportunidade de se conhecer melhor, de ganhar novas habilidades, de solicitar algumas acomodações, por que não? E de se divertir com a vida e encontrar o seu próprio grupo, a sua própria tribo, como nós temos aqui na nossa comunidade. Então, se você gostou desse vídeo, por favor, curta, compartilhe com os seus amigos, compartilhe com outros profissionais, aproveite para comentar aqui como ficou a sua pontuação, se você tem muitas dessas características e se você levantou muitas Pink Flags ali, aqui, né? Durante essa avaliação que não… É um
teste formal, obviamente. Aqui é uma conversa sobre alguns possíveis, ah, alguns possíveis aspectos, né? Alguns traços, mais os do autismo. E se você marcou muitos pontos, talvez seja a hora de buscar uma ajuda, um suporte profissional, tanto para que você faça uma avaliação certinha, estruturada, oficial, e também para que você tenha o suporte adequado. Grande abraço e até breve! Tchau, tchau!
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