A raiz do Dharma é sua mente. Domine-a e você estará praticando o Dharma. Praticar o Dharma é domar sua mente, e quando você a domesticar, então você estará livre!
Você deve buscar sua mente e cuidar dela. Não deixe que a mente seja arrastada pelos pensamentos que surgirem. Corte as elaborações e conceituações da mente e deixe-a relaxar em seu estado natural.
Deixe a mente simplesmente estar em seu corpo e permita que o relaxamento penetre a mente. Como é esse estado de relaxamento? É como a experiência de uma pessoa que acabou de terminar um trabalho bastante exaustivo.
Depois de trabalhar dura e longamente para cumprir sua missão, quando finalmente acaba, ela experimenta uma satisfação plena de felicidade e contenta-se em simplesmente descansar. Muito naturalmente, a sua mente chega a um estado de calma e permanecerá relaxada por um tempo, sem ser aprisionada em seu padrão habitual de pensamentos descontrolados e inconcebíveis. Então, seguindo esse exemplo, você deve tentar observar e proteger a mente, mesmo em meio a todo tipo de pensamentos turbulentos.
Deixe a mente em seu próprio estado natural e relaxe. Observe Sua Mente. Dudjom Rinpoche.
Mantenha o corpo imóvel e silencie a fala. Não pense se deve ou não fazer isto ou aquilo. Basta estabelecer a mente em um estado de relaxamento e tranquilidade, sem correr atrás de objetos e nem pensamentos descontrolados e loucos.
Em vez disso, permaneça em um estado vividamente aberto e vazio, brilhantemente claro e profundamente relaxado. Esse estado de conforto é uma indicação de que a mente chegou a sua limpidez inerente e de que simplesmente se estabelecerá nessa lucidez. Mas ela não permanecerá assim por muito tempo.
Algo irá acontecer. Surgirá um pensamento. Quando esse surgimento ocorrer, deixe a consciência reconhecê-la no mesmo instante.
Não ache que algo está errado, apenas reconheça esse surgimento assim que ocorrer. E apenas deixe tudo como está, com reconhecimento. Se a mente for apenas deixada em seu próprio estado natural, ela se pacificará e o surgimento de pensamentos naturalmente diminuirão, na medida em que você permita que se autoliberem.
São como ondas no oceano – elas retornam naturalmente de volta ao oceano, e este é de fato o único lugar para o qual elas podem ir. O mesmo se dá com a nossa mente. Quando a partir de um estado de quietude ocorre um movimento, se o deixarmos simplesmente seguir seu próprio curso natural, ele será liberado por si só.
A mente será naturalmente pacificada e se tornará límpida por si só. É assim que se deve fazer esta prática. Mas se em vez disso você pensar “ai, agora este pensamento surgiu.
Isso não deve estar certo! ” e ficar tentando parar o pensamento, isso será apenas mais pensamento. Praticar assim aumentará mais a sua própria confusão, pois a mente continuará seguindo mais objetos.
Portanto, não pratique dessa forma. Quando a mente está repousando naturalmente e à vontade em seu próprio estado inalterado, isso é chamado de quietude meditativa. Se a partir desse estado de quietude surgir um pensamento, isso é chamado de movimento, e aquilo que sabe quando a mente está em quietude e reconhece qualquer movimento é a consciência.
Embora centenas ou milhares de explicações sejam dadas, há apenas uma coisa a ser entendida - Conheça a única coisa que libera tudo - a própria consciência, sua verdadeira natureza. Quando surge um pensamento, traz consigo outro, e depois outro, numa sequência sem fim. É essa corrente que nos enganou desde tempos imemoriais e, se não a quebrarmos, ela continuará a nos enganar no futuro.
Repousar no reconhecimento, sem seguir os pensamentos é conhecido como o calmo permanecer, porque dispersa ou pacifica o poder dos pensamentos e permite que você se mantenha na natureza de bem-aventurança da sua própria mente. Quando você se familiarizar um pouco com essa prática, pode ser que você experiencie um estado de êxtase ou de bem-aventurança física e mental, ou, se estiver meditando durante a noite, pode ser que experiencie um estado de clareza, como se o dia tivesse amanhecido. Experiências como essas podem ocorrer, e são sinais de que você está cultivando a paz e a calma.
Não há nenhum problema em considerar essas experiências como positivas, mas seria um erro apegar-se a elas. Se você simplesmente permitir que ocorram, sem qualquer apego, elas servirão de apoio à sua prática e não causarão nenhum dano. Assim, se qualquer experiência de felicidade ou de clareza ocorrer, não há necessidade de se agarrar a elas com apego, e tampouco de suprimi-las.
Simplesmente permita que se dissolvam naturalmente. Você também pode ter o que é conhecido como uma experiência de “ausência de pensamento”. Este é um estado obscurecido, cansado e sonolento, em que não se tem consciência de coisa alguma.
Você não está completamente adormecido, mas está cansado. Essa experiência de ausência de pensamento é de fato um aspecto do calmo permanecer, mas não há pensamentos surgindo e a clareza inerente da mente não está presente. Isso é porque você deslizou para dentro de alaya – a base de tudo – e você precisará se dar conta e despertar.
Para se afastar desse estado, endireite o corpo, exale o ar estagnado e concentre sua atenção no espaço à sua frente. Porém, se ao invés disso, você permanecer nesse embotamento, sua meditação será ineficaz e você nunca avançará. Se você permanecer nesse estado estagnado, não evoluirá, é uma falha na meditação e deve ser eliminada assim que ocorrer.
Portanto, sempre que esse revés surgir, limpe-o novamente e novamente. É importante estar o mais atento possível e permanecer o mais vigilante possível. Aguçar a consciência é também muito importante.
Praticar dessa maneira é o caminho para desenvolver o calmo permanecer. Em equilíbrio meditativo, permitimos que a mente se estabeleça calmamente em sua própria natureza, como o oceano que não é perturbado pelo vento. Então, quando um pensamento surgir como uma expressão da energia da mente e ocorrer uma alteração, esse surgimento ocorre na própria mente.
A distração mental é apenas uma movimentação ou uma mudança que ocorre dentro da mente. Quaisquer que sejam os pensamentos turbulentos que surgirem, se você permitir que a mente se estabeleça em sua própria natureza, eles se pacificarão, assim como as ondas retornam naturalmente ao mar. É assim que deve praticar em sua meditação.
No período pós-meditação, que inclui comer, dormir, passear, descansar, e assim por diante, você não deve se atirar a essas atividades como um coelho assustado. No momento em que a sua meditação terminar, levante-se lentamente e, a seguir, se precisar sair de casa, caminhe com o corpo relaxado e com mente à vontade. Se você for capaz de manter a consciência do momento presente, sem perdê- lo durante todo o período pós-meditação, você obterá estabilidade em sua meditação rapidamente.
Portanto você deve tentar sustentar essa consciência e não perdê-la. Ao longo de todas as suas atividades diárias – caminhar, descansar, comer ou dormir – seu corpo deve estar relaxado. Sua fala também deve ser calma, com o mínimo de palavras possível e ainda assim disciplinadas, prazerosas ao ouvido e agradáveis à mente.
Se agir dessa maneira, todas as suas atividades diárias estarão de acordo com os ensinamentos e, o mais importante, sua mente estará em harmonia com o Dharma.