Uma das piores sensações que existe é a de incapacidade de mudar algo. Foi assim que muitas pessoas se sentiram quando leram as notícias sobre um asteroide que estava em rota de colisão com a Terra. Ao longo de poucos dias, o asteroide 2024 YR4 passou de desconhecido para manchete nos maiores jornais do mundo.
Até o momento em que esse vídeo foi feito, ele chegou a um ápice de 3,1% de chances de colidir com a Terra. Mas antes que o pânico tome conta de você, Para isso, a gente precisa ter uma conversa séria sobre asteroides e o porquê de a descoberta do 2024 YR4 ser uma das melhores notícias da história. O Ciencia Todo Dia não é um incentivo ao uso de asteroides.
Asteroides são pedaços pequenos de rocha que, assim como a Terra, estão em órbita do Sol. Quando eu falo pequenos, eu estou comparando com o tamanho de planetas. Mas asteroides podem vir em diversos tamanhos.
O que exterminou os dinossauros tinha 10 quilômetros de diâmetro. E a todo momento existem incontáveis asteroides na nossa vizinhança cósmica. Isso que você está vendo na tela são só os que a gente conhece.
E vários deles colidem com a Terra todos os anos. Mas a maior parte é pequena demais para causar muitos danos. E aqui vale explicar a diferença entre asteroides, meteoros e meteoritos, porque eles não são a mesma coisa.
Um asteroide é uma rocha orbitando o Sol. E um meteorito é um pequeno pedaço de asteroide que se separou por algum tipo de impacto. Esses dois termos fazem referência aos corpos enquanto eles estão no espaço.
Os meteoros são as rochas que entram na atmosfera da Terra, e o termo meteoro faz referência ao raio de luz e fumaça que um objeto cruza na atmosfera deixa para trás. Ou seja, meteoro é uma descrição da aparência do objeto cruzando a nossa atmosfera, e asteroide é uma referência ao que o objeto é de fato. E este herói você coloca na academia.
Voltando ao que é importante, a grande maior parte dos asteroides não representa perigo para humanos, mas alguns representam. E a principal categoria de asteroides perigosos são os chamados objetos próximos à Terra, ou NEOs, do inglês Near Earth Object. E atualmente existem mais de 37 mil desses catalogados em órbitas relativamente próximas do nosso planeta.
Se algum asteroide ou cometa colidir com a Terra, provavelmente vai ser um desses. E dependendo do tamanho do objeto, o impacto pode causar danos. Asteroides com mais de 20 metros de diâmetro já costumam ter energia o suficiente para causar dano caso eles explodam perto do chão.
Foi um asteroide com cerca de 50 metros que nós imaginamos ter sido a causa do evento Tunguska, em que 80 milhões de árvores foram niveladas em uma zona remota da Rússia. Isso é uma área maior do que a cidade de São Paulo. Mas até um asteroide de Tunguska não era grande o suficiente para chegar no chão e foi desintegrado na atmosfera.
São apenas asteroides excessivamente grandes, geralmente com mais de 100 metros, que costumam sobreviver à nossa atmosfera. Um asteroide desses tem a capacidade de nivelar as maiores cidades do planeta com a mesma energia do que a maior bomba já explodida pela humanidade, que foi a bomba de Saar. O impacto de asteroides a partir de 1 km podem causar efeitos regionais e até globais, como tsunamis, ferremotos ou a mudança na temperatura do planeta.
Os danos de algo desse tamanho seriam catastróficos, mas não a ponto de causar uma extinção da humanidade. Para isso, precisamos ir para o tipo de asteroide que matou os dinossauros, com cerca de 10 km de tamanho. Asteroides com esse tamanho representam uma ameaça existencial para a humanidade.
E aqui vem uma boa notícia. Nas últimas décadas, diversos projetos catalogaram milhares de asteroides próximos à Terra. E quanto maior o asteroide, mais fácil é de achar.
Isso ajuda a tranquilizar um pouco, porque é provável que nós já saibamos de praticamente todos os asteroides que poderiam representar riscos existenciais para a humanidade. E nenhum deles está vindo na nossa direção. Obrigado, Bruce Willis.
Inclusive, o número de novos asteroides identificados está diminuindo a cada ano. Isso indica que nós encontramos a maior parte de todos os asteroides que podem representar perigo para a Terra. E é aqui que entra o mais novo asteroide dessa lista, o 2024 YR4.
No dia 29 de janeiro de 2025, a Rede Internacional de Alerta de Asteroides divulgou um alerta de impacto para 2032. foi divulgado, o 2024 YR4 tinha 1,3% de chance de colidir com o nosso planeta. Essa é a mesma chance de tirar a cara seis vezes seguidas jogando uma moeda.
É difícil, mas não é impossível. Além dessa chance de impacto, o asteroide tem algo entre 40 e 90 metros de comprimento, o que automaticamente promoveu o 2024 YR4 para um asteroide atingiu nível 3 na escala de Turim, que representa o quão perigoso um asteroide é combinando a chance de impacto e o dano causado caso esse impacto realmente ocorra. Nível 3 é o menor nível de alerta que requer algum tipo de atenção, que inicialmente é apenas um monitoramento para determinar melhor qual é a trajetória do asteroide.
Mas logo depois da descoberta, a chance de impacto aumentou para mais de 3%, o que é um recorde? E para você entender melhor, 3% é a mesma chance de jogar a cara cinco vezes seguidas numa moeda. Só que desde então, a chance caiu e chegou de novo em 1,5%.
E então, em 0,2%. Mas só acha estranho a chance ter subido rapidamente e depois diminuído ainda mais rápido quem não entende o que ela realmente significa. E é isso que eu vou explicar agora.
Quando pensamos em órbitas, nós costumamos representá-las como linhas finas ao redor do Sol. Mas essa forma de representar a trajetória de um asteroide ignora que nós não temos certeza de como ele está se movendo. Existem erros associados às medidas da posição de um asteroide.
Então, o que nós sabemos é, na verdade, uma faixa de possíveis posições futuras dele, baseado nas medidas limitadas que nós temos. Ou seja, se nós desenharmos as possíveis posições do asteroide 2024 YR4, esse desenho visto de cima vai parecer uma faixa ampla ao invés de uma linha fina. Essa faixa é um conjunto de todas as órbitas possíveis, dadas as informações atuais que nós temos sobre o asteroide.
E a razão pela qual esse asteroide merece atenção é que no dia 22 de dezembro de 2032, a Terra vai estar dentro da faixa de possíveis trajetórias do asteroide. Mais precisamente, o caminho que a Terra vai percorrer nesse dia cruza pouco mais de 0,2% dos locais onde o asteroide vai estar no mesmo dia. Então existe essa chance de a Terra e do asteroide estarem no mesmo lugar ao mesmo tempo, o que é um jeito muito impactante de falar colisão.
Ou seja, a Terra não está exatamente no caminho do asteroide, mas sim dentro da barra de erro das possíveis trajetórias dele, o que explica por que a probabilidade de impacto subiu e depois caiu. Inicialmente a chance de impacto era de pouco mais de 1%, ou seja, o caminho da Terra pintava só 1% dos caminhos que o asteroide poderia percorrer. Ao obter mais dados sobre ele, essa faixa de caminhos diminuiu de tamanho e a Terra continuou dentro da faixa, só que agora ocupando mais espaço, ou seja, a chance de impacto subiu para 3%.
Isso é esperado. Conforme refinamos as nossas medidas de posição de um asteroide, a chance de impacto tende a subir, até que rapidamente a Terra sai da faixa de impacto. Então, na prática, a probabilidade de impacto tende a subir gradualmente até despencar para zero mais rápido do que ela subiu.
E é isso que aconteceu com esse asteroide. Mas um dia isso não vai acontecer. Vai chegar um dia em que a chance vai subir, subir, subir, e vai ficar cada vez mais claro que um asteroide vai colidir com a Terra.
Talvez não seja hoje e nem em 2032, mas um dia, com toda certeza, um asteroide vai colidir com o nosso planeta de novo. Quando esse dia chegar, o que nós podemos fazer? O primeiro passo para lidar com o possível impacto de asteroide é descobrir se ele vai de fato bater na Terra.
Parece meio óbvio falando em voz alta. E usando o 2024 YR4 como exemplo, quando que nós vamos ter certeza se ele vai ou não atingir a Terra? A resposta é que depende.
No cenário ideal, talvez algum observatório de asteroides detectou esse asteroide sem querer da última vez que ele passou perto de nós em 2020. E se esse for o caso, talvez essa observação possa nos dar uma resposta clara ainda esse ano da chance de colisão. Caso contrário, nós vamos ter que esperar a próxima aproximação dele com a Terra em 2028 para termos uma chance de observá-lo direito.
E é essa observação que vai determinar se nós vamos ter uma colisão ou não. Então vamos supor que 2025 chegue ao fim de forma inconclusiva e o 2024 YR4 continue alto na escala de Turim. E nós não temos dados retrospectivos para descartar uma colisão.
Esse é o ponto em que nós devemos começar a nos preocupar. Ou melhor, nos ocupar em pensar em possíveis planos para lidar com a colisão. E o primeiro fator importante é que mesmo que o asteroide caia na Terra, isso não significa que o impacto vai causar danos significativos.
Apenas 3% da superfície do nosso planeta é habitada por seres humanos. E a porcentagem desses 3%, que tem densidade alta de habitação, é ainda menor. E, inclusive, nós já temos uma ideia das regiões na qual o asteroide pode cair.
As órbitas do asteroide só cruzam com a Terra em torno do Equador. Nessa região aqui, para ser mais específico, que pega do norte da América do Sul, corta o Pacífico e centro da África até a Índia e o sul da Ásia. O cenário mais provável é que o impacto seja no oceano ou em uma região desabitada.
E, nesse cenário, tudo o que nós precisamos fazer é sentar e coletar dados. O segundo cenário mais provável é que ele vai cair em uma região pouco habitada, de baixa densidade populacional. E como nós vamos saber disso com 4 anos de antecedência, nós podemos criar um plano de evacuação das pessoas na mira do asteroide, tanto para minimizar a perda de vidas, quanto para dar tempo para que as pessoas possam reconstruir suas vidas em outro lugar.
Já o pior cenário possível, que tem uma chance de menos de 1 em 150 mil de se concretizar é o asteroide cair sobre uma cidade como Lagos na Nigéria ou sobre a Índia. Lagos tem 21 milhões de pessoas na sua região metropolitana e a Índia tem quase 1,5 bilhões de pessoas e várias cidades com milhões de habitantes no caminho do asteroide. Evacuar milhões de pessoas não é uma tarefa fácil, isso é um pesadelo logístico.
Se em 2028 esse cenário parecer provável, só vai restar uma opção, que é tentar desviar o asteroide da sua rota. E aqui mais uma boa notícia. Nós já fizemos isso uma vez em 2021 com a missão DART.
Nesse teste, uma sonda colidiu diretamente com o asteroide Dimorphos, que orbitava um outro asteroide maior chamado Didymos. Dimorphos tem 177 metros de comprimento. Ele é maior do que o asteroide 2024 YR4 e maior do que a maior parte dos asteroides que podem colidir com a Terra.
E essa missão foi considerada um sucesso tremendo. O impacto causado pela missão alterou a órbita do Dimorphos por 32 minutos, muito mais do que o esperado pela NASA. E o sucesso extremo é devido não só ao impacto da sonda, mas também pela ejeção de poeira que aconteceu depois do impacto.
A ejeção foi bem mais intensa do que o esperado e isso indica que colidir naves com asteroides é sim uma estratégia viável para mudar a trajetória desses asteroides. E inclusive seria sim uma estratégia adequada para desviar um asteroide como o 2024 YR4 caso isso fosse necessário. Mas talvez nós não vamos precisar ser tão radicais, especialmente porque nós sabemos a possibilidade de impacto com um ano de antecedência.
Em 2028 o asteroide 2024 YR4 vai se aproximar da Terra novamente, então seria possível lançar uma missão para interagir com ele nesse ano. No pior cenário, nós só precisamos alterar o tempo de órbita do asteroide por menos de 15 minutos por ano, o que dá menos de 3 segundos por dia. E um impacto seria capaz de realizar essa alteração de forma abrupta, mas talvez existam formas mais graduais de fazer isso.
Um fator que influencia como um asteroide se move ao redor do Sol é o seu albedo, que é a palavra chique para dizer quanta luz no Sol esse asteroide reflete. Isso é importante porque a luz do Sol também move o asteroide minimamente quando ela é refletida. Se nós mudarmos o albedo de um asteroide, ele lentamente vai mudar de órbita, que é possível fazer isso pintando ele de outra cor.
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Falando em tinta. . .
eu acho que pintou um clima. Ok, agora de volta ao vídeo falando sério. Jogar um monte de tinta no asteroide mudaria como o Sol empurra ele, e talvez desviasse a rota de colisão dele.
Mas entre pintar, bater ou só evacuar uma região, qual é a melhor opção? Isso vai depender de onde o impacto vai ocorrer e qual que é a composição do asteroide. E nós ainda não temos certeza disso para o 2024 YR4.
Mas mesmo que outro asteroide com nota alta na escala de Turing seja identificado cedo o suficiente, essas opções ainda vão ser possíveis. A grande chave para evitar o impacto de um asteroide é o que nós fizemos com o 2024 YR4, que é descobrir o perigo o mais cedo possível. É por esse motivo que eu disse no começo do vídeo que a descoberta do 2024 YR4 é uma boa notícia e talvez uma das melhores da história.
Nós já sabemos que nós somos capazes de desviar asteroides graças à missão DART. O verdadeiro perigo era encontrar um asteroide perigoso com tempo suficiente para planejar uma missão. E a descoberta do 2024 YR4 representa exatamente isso.
Nós podemos dizer que nós identificamos uma possível ameaça com tempo mais do que o suficiente para agir contra ela. Então não precisa perder sono com esse asteroide, porque, ao que tudo indica, a chance de colisão é baixa. E mesmo que o impacto seja certo, nós ainda temos o que fazer.
Eu acho que esse é o primeiro vídeo em muito tempo que o final faz a gente dormir tranquilo, ao invés de tirar o sono. Muito obrigado e até a próxima.