gente grande de verdade sabe que é pequeno e por isso cresce gente muito pequena acho que já é grande é a única maneira dela crescer é se ela diminuir a outra pessoa [Música] Paulo Freire não sei se sabe hein é o brasileiro com maior número de títulos e doutorado ao nariz causa de toda a história do Brasil o Brasil tem 516 anos e Paulo Freire tem o maior número de títulos doutorado da história desse país Aliás ele sozinho tem mais títulos doutorado que os dois brasileiros que vem depois dele juntos E olha que quem vê
depois ele é bom demais porque depois de Paulo Freire o brasileiro mais honrado é o mineiro de Montes Claros antropólogo Senador Professor um homem deveria que faz uma falta imensa quando jovem ajudou os irmãos a criar o Parque do Xingu isso é amor ajudou o baiano afundaram na Universidade de Brasília ajudou o gaúcho a propor a ideia e escola de perigo integral no Rio de Janeiro o homem amoroso interessante mas meus fracassos são minhas vitórias detestaria estar no lugar de quem me venceu Ai que frase forte e para o político mais ainda fracassei tudo que
tentei mas meus fracassos são minhas vitórias detestaria estar no lugar de quem me venceu depois de nós beber o brasileiro mais honrado com título doutorado é o carioca que vive em São Paulo aliás somos vizinhos de bairro foi professor da uspi foi presidente da república Professor Fernando Henrique Cardoso os três primeiros brasileiros mais honrados na história são professores aliás Paulo Freire era advogado muita gente acha que ele era pedagogo mas ele era advogado O que significa que alguns advogados ainda tem salvação Paulo Freire quando morreu em 1997 já houveram recebido atenção 36 títulos de doutorado
no nariz causa por raiva ainda recebeu mais cinco pós morte é o brasileiro mais honesto e era um homem atenção absolutamente humilde voltado para a diferença jamais subserviente há uma diferença entre humildade e subserviência uma pessoa subserviente aquela que se dobra que se humilha que se enfraquece uma pessoa humilde é aquela que sabe que não sabe tudo aquela que sabe que não é única que sabe aquela que sabe que a outra pessoa sabe que ela não sabe aquela que sabe que ela é outra pessoa saberão muita coisa juntas aquela que sabe que ela é outra
pessoa nunca saberão tudo que pode ser sabido foi Claro humildade Paulo Fernando humilde mas não era subserviente tanto não era que ficou 15 anos no dia 15 anos de 1964 até 1979 em nome de uma ideia de que educação não é para domesticar mas para humanizar que a tarefa da Leitura não é humilhar mas engrandecer que a tarefa da convivência não é desumanizar mas ao contrário elevado a aliás Olha que coisa olha aqui na minha mão se você puder Paulo Freire atenção por que que eu disse olha aqui na minha mão se você puder porque
cada vez mais nós temos entre nós pessoas que não enxergam Com os Olhos enxergam com os dedos ou com os ouvidos mas nós temos gente entrando nós que não houve com os ouvidos ouve com os olhos mas nós temos gente que é diferente mas não é desigual Quando eu digo olha aqui na minha mão eu tô esquecendo que pode ter aqui nesse lugar gente que não enxerga com os olhos e que não deixa de ser Helô gente porque enxerga de outro modo aliás eu às vezes dei aula na Suécia e a primeira vez que eu
fui a Suécia porque tinha ido no final de semana primeira eu tava de folga e eu decidi que eu ia sair porque de repente eu entrei num lugar para tomar um café tinha uma pessoa cega ali com uma bengala e um cão guia Entrei numa livraria tinha duas pessoas surdas dialogando na linguagem sueca é claro de sinais tinha cadeirante gente com andador eu pensei nossa como tem gente com alguma deficiência na Suécia na segunda-feira eu falei deve ser por causa da segunda guerra na segunda-feira foi para universidade e resolvi olhar os dados estatísticos pois bem
no Brasil tem 27% a mais de pessoas com alguma deficiência do que na Suécia por que que eu encontrava com eles lá porque eles saem porque eles saem eles vão à escola eles vão ao cinema eles vão ao bar eles vão à igreja porque a estrutura montada para que a pessoa que é diferente não seja tratada de forma desigual só agora que nós estamos trazendo para a escola regular as pessoas que tem alguma diferença é difícil para nós não tão acostumado ainda na escola para nós era mais fácil Se as instituições especializadas cuidasse sozinha a
criança com Down né cega surda a questão é que isso é o exílio de quem é diferente é claro que é difícil ninguém aqui quem é professor da professora aqui sabe que é para nós é uma encrenca uma criança em sala de aula que seja surda ou cego é o que tem a paralisia cerebral Porque nós não estamos ainda formados vamos ter que fazer isso mas olha só no Brasil o diferente é invisibilizado lá na Suécia ele aparecia aliás eu nunca tinha feito palestra só para sexo fui fazer uns dez anos na cidade de São
Paulo existe lá o Centro Cultural São Paulo e lá tem a Sociedade Amigos da biblioteca Braile e eu fui lá na palestra era um 400 cegos no auditório nunca tinha falado só para cega primeiro que eu tive uma encrenca não conseguia fazer a palestra direito porque enquanto eu falava ninguém olhava para mim e aqui a gente vai controlando auditório pelo olhar a sala pelo olhar metade dele estava virado com a cabeça para cá outra metade para cá Claro estava virado para cá gente só terceira eu comecei a fazer bobagem Afonso no meio né dá aula
eu disse assim vejam bem que é vício de linguagem uma hora eu fiz uma bobagem você não faz ideia gente Lembra daquela cena do filme ET do vô das bicicletas aí um cego bem na frente fala assim professor a gente não viu a cena a gente é sério aí é que eu fiz a bobagem foi aí eu disse faleceu você me desculpe não peça desculpas Descreva a cena a gente é cego a gente não é tonto Atenção atenção ele não tava me ofendendo ele tava me ensinando não tem a pena de mim aprenda a chegar
perto de mim não tem a pena de mim porque eu não enxergo como você eu não ando como você eu não raciocínio como você eu não ouço como você a minha orientação sexual não é a mesma que a tua a minha religião é outra meu modo de vida não coincide com o teu não esqueça que eu sou um humano Isto é não tem a pena de mim que quando ele disse você me desculpe quase que assim desculpe se você é cego Descreva a cena Olha que coisa interessante por isso olha aqui na minha mão se
você puder Paulo Freire era um homem tão grande que ele sabia que era pequeno para poder crescer gente grande de verdade sabe que é pequeno e por isso cresce gente muito pequena acha que já é grande e único modo dela crescer a sala baixar outra pessoa Diga de novo gente grande de verdade sabe que é pequeno e por isso cresce gente muito pequena acho que já é grande é a única maneira dela crescer é se ela diminuir a outra pessoa o mundo do amor pela vida e pelo outro e por si mesmo exige que a
gente se saiba pequeno para poder crescer quem entra nós achar que grande já é o suficiente pequeno Continuará e o que que me engrandece a leitura quando eu me aproximo dos territórios que eu não sei dos lugares que eu não vi das culturas que eu te conheço só da alegria que é a nossa capacidade de uma vida que viva é claro que a primeira percepção de amor que você tem no meu entender é a ideia de amor fraterno afinal de contas a palavra humano em princípio não ele tem singular embora humana esteja no singular ela
é plural é que ela não tem o s ao final a ideia de humano é sempre plural e um dia eu lia logo foi lançado no ano 2000 um livro do Milton ratum chamado dois irmãos né e eles livram tratam de Libanês eu sou casado com uma libanesa né portanto me interessei né pela obra e ali naquela leitura de dois irmãos eu me lembrei de algo especial que é talvez a ideia mais forte que nós temos de ter em relação ao ponto de partida da reflexão sobre o amor a leitura e as diferenças que é
a narrativa inicial do livro do Gênesis livro do Gênesis esse que inspira a tradição Cristã e a tradição islâmica que influencia o ocidente também na sua concepção quando ao relato ali no Capítulo 134 do livro do Gênesis da história de dois irmãos esses dois irmãos caem Abel eles praticam a primeira cena de fratricídio de fratricídio que é uma possibilidade humana não é uma obrigatoriedade Mas é uma possibilidade e claro que esses dois irmãos Eles foram retomados na sua concepção por um dos nossos maiores pensadores que foi Machado de Assis mas já de Assis no livro
Memórias Póstumas de Brás Cubas tem uma frase apavorante porque verdadeira escreveu uma chave de Assis ninguém Confie na felicidade presente a nela uma gota da babá de Caim ó que frase forte ninguém confia ou ninguém se Fini na felicidade presente a nela uma gota da baba de Caim e o que é a baba de Caim é o resquício do fratricídio a recusa as diferenças a ruptura da ideia de humanidade a não aceitação da condição da vida como Fraternidade partilhada ela é sim ainda o resquício da baba de Caim o relato do assassinato de Abel por
seu irmão não é nada mais do que ausência do amor que ali se afasta um dia Leonardo do bofe Frei Beto e eu decidimos conversar um pouco sobre felicidade e fizemos um livro da Editora Vozes chamado felicidade foi simbora Aliás o título é uma brincadeira Como saber qual o Luciene Rodrigues que compôs uma música chamada felicidade cuja primeira verso é uma em que ele diz felicidade foi simbora mas o nosso livro nós colocamos um ponto de interrogação e a felicidade foi simbora o Lupicínio Rodrigues que ao compor a música nos provocou a pensar algo que
é felicidade pois bem a ideia de felicidade ela tem que ser marcada pela percepção de fraternidade e A fraternidade ela exigir a capacidade acolhida de acolhimento Isto é olhar o outro como outro e não como estranho e talvez a questão mais forte para esta fli ela já esteja mesmo no livro do Gênesis quando Abel após ter sido assassinado por seu irmão aliás para nos lembrar do que deve ser lembrado e Caim desaparece e a divindade vai atrás dele e faz a ele a grande Pergunta da vida que é Onde está teu irmão Onde está teu
irmão e Caim responde sei lá por acaso terei eu algo a ver com uma vida do meu irmão por acaso serei ao guarda do meu irmão tenho eu que tomar conta da vida do outro Claro isso é amor o amor é a capacidade de cuidar-se e de cuidar cuidar de si cuidar do outro cuidar da natureza cuidar da convivência a ausência de amor é a recusa a capacidade de cuidar e não por acaso os lusitanos usam a expressão pensar também como sinônimo de cuidado pensar uma ferida pensar uma dor e é claro que as leitura
ela é uma das maneiras de pensar né no sentido de corar e também de refletir das nossas dores aí grande questão que Leonardo bofe várias vezes responde nos seus livros onde está teu irmão a grande Teresa de calcutáceos colocado agora como santa pelos tólicos ela tem uma frase com ela eu concluo que eu acho inesquecível ela disse um dia difícil é amar o próximo amar quem tá longe é fácil difícil é amar o próximo ter pena de alguém que lá no Sudão foi atingido pelo ebola ficar triste porque alguém na Nigéria foi assassinado pelo bocararam
se entristecer porque alguém note do Iraque foi executado pelo Estado islâmico é moleza duro é amar o próximo que é o que tá na tua cidade na tua casa na tua praça e nesse sentido amor leitura e diferenças nos coloca uma questão Onde está teu irmão que eu acho que é das leituras talvez aquela que carrega a percepção de uma amorosidade intensa que foi exatamente a relação dele com Beatriz você que me desafia nas datas essa semana foi aniversário de morte agora quarta-feira ele morreu exatamente no dia 14 de setembro de 132 1 e é
interessante porque o grande Dante o grande Dante ele ao escrever a comédia depois chamada de Divina Comédia ele produziu ali um momento especial que é Logo no início quando ele antes até né de encontrar Virgílio que vai levá-lo pelos passeios pelo submundo Dante começa dizendo né mesmo dele caminho de nossa vida no meio do caminho da minha vida Isto é eu comecei a pensar sobre o que é minha vida o que é minha convivência o que significa aquilo que em mim está e é interessante porque essa primeira frase no meio do caminho da minha vida
Dante tinha por volta de 35 anos quando produziu a obra ele pensava sobre o que deveria ser a vida dele curiosamente um dia Olavo Bilac fez um poema chamado no meio do caminho né da minha vida que o grande o estupendo Carlos Drummond de Andrade resolveu tripudiar dizendo no meio do caminho tinha uma pedra é interessante porque esse ataque Modernista a concepção de Bilac em uma certa medida ele traduz algo que eu acho que vale Nós pensamos porque quando Drummond diz no meio do caminho tinha uma pedra obviamente que ele tá falando daquilo que é
a presença de um obstáculo e eu acho que nós temos um obstáculo muito forte de partilhada que é o egoísmo na convivência interessante como sabem né Dante escreveu no italiano daquele momento em italiano Eu sou filho de italiano em italiano há uma expressão que eu aprecio que existe também no espanhol mas que no português no inglês no Alemão no francês não tem lugar que para mim é a maior representação do que é acolhida da diferença porque em português em francês e inglês em alemão a gente diz assim nós e eles nós e eles e no
sol italiano espanhol dizem noiadre ou no caso em espanhol nossos outros eu acho que Inclusive a concepção de nosso troço de nós três ela é muito mais forte do que a ideia de ter uma primeira pessoa do plural no singular porque a ruptura do amor e da diferença se dá quando eu escrevo a primeira pessoa do plural no singular Isto é nós e eles nós e eles nós Acabamos de participar de uma comemoração belíssima que é uma olimpíada mas uma olimpíada não fala que está indo em curso mas anterior ela é uma das contradições da
humanidade porque a gente fala do Espírito Olímpico dos Arcos que se unem mas primeiro para celebrar a paz precisamos de milhares de soldados para celebrar a paz precisamos de tanques na rua para garantir que a gente fica em paz na hora de comemorar a paz se nós nos matamos o reciprocamente para comemorar a paz cada país faz algo que eu acho estranho que é para mim uma das recusas a ideia né de vida coletiva que é o Hino Nacional claro que eu gosto do nosso hino aprecio outros também mas a existência dos hinos nacionais ela
é um indicador ainda de limitação amorosa Nossa se você observa cada hino nacional quase sempre ele fala de fratricídio cada um deles diz pega esfola arranca e enfia a espada no outro até o fim [Música] exceto nosso que diz se precisar o filho teu não foge à luta mas se precisar verás que o filho teu não foge à luta se precisar é interessante porque pode parecer tolo mas a existência de hinos nacionais sem negar o gostoso que a ideia de comemorar a nacionalidade um dia eu desde como sonho um dia nós não vamos ter hinos
nacionais não porque eles não tenham beleza mas porque eles são no determinado momento da história humana o indicador de separação e não disjunção olha que interessante E aí ensinar os alunos questão da diversidade Religiosa e eu dava eles um exemplo Afonso que era o seguinte por exemplo 2 de novembro que uma parte dos cristãos comemores especialmente católicos Como um Dia de Finados seus mortos você tem por exemplo um cristão na beira do túmulo com um macho de flores para homenagear a pessoa que ele quer Honrar de repente no túmulo ao lado vem chegando um budista
trazendo umas tigelinhas com comida e coloca em cima do túmulo o Cristão nada fala porque ele é educado mas ele pensa por dentro ué que hora que o defunto vai sair para comer essa comida na mesma hora que saiu de fonte sair para cheirar as flores na hora que o teu defunto levantar do túmulo para cheirar as flores o outro sai para comer a comida interessante olhar o outro como menos em vez de olhar como diferente olhar o outro como inferior e não como um outro por isso volto eu tenho uma pedra no meio do
caminho o preconceito a exclusão a vítima ação claro que acima de tudo a tolice mental de quem se acha exclusivo eu cortei ela sou único no universo antes de eu ser o universo Não era como é quando eu deixar de ser ele não será assim mas eu não sou exclusivo Eu só sou o único como eu não há ninguém não sou Exclusivo em relação ao mundo e essa força cósmica que você lembra e que ontem nós tivemos eu não estava mas ela tá não Umas reflexões também sobre o Manuel de Barros e manda de Barros
um homem que faleceu já mas que com quase 100 anos de idade se ter 18 que você disse uma hora mandando de Barros disse quando alguém perguntava mas o senhor com 97 98 anos de idade ele dizia eu não tô indo em direção ao fim eu tô indo em direção às Origens Olha que força tenho raiva dele por que que não fui eu que escrevi isso a pessoas né Afonso que são de uma arrogância Brutal em relação aquilo que elas são aquilo que elas possuem melôr Fernandes Um dos nossos maiores pensadores que infelizmente morreram em
2012 melodia o importante é ter sem que o terço tenha o importante é ter sempre o terço tenha Isto é não seja possuído por aquilo que você possui não seja propriedade da tua propriedade não seja servo daquilo que você tem que ser Senhor e há pessoas que são marcadas por uma arrogância brutal que não reconhece o diferente como sendo apenas diferente eu gosto sempre de lembrar reconhecer as diferenças não significa elogiar as desigualdades homens e mulheres somos diferentes não somos desiguais brasileiros e Libaneses são diferentes não são desiguais brancos e negros são diferentes não são
desiguais surdos e ouvintes são diferentes não são desiguais é interessante é uma frase que eu não conheço a autoria se alguém souber até me diz eu vou levantar porque ela tem que ser representada que é uma frase que eu adoro adoro acho que maravilha que diz um homem só deve olhar outro homem de cima para baixo quando for para ajudá-lo a se levantar Olha que coisa forte um homem só deve olhar outro homem de cima para baixo quando for para ajudá-la ficar na mesma altura e essa ideia de mesma altura acho que é a leitura
ela nos ajuda quando nós somos capazes de ter acesso a livros poemas textos que provocam em nós um incômodo Isto é nos obriga a pensar de outro modo fazem com que a gente não se habitue com essa ideia da arrogância da petulância daquele que de modo algum imagina se construa ali a ideia de diferença sem que ela significa e desigualdade ah diferença é um dado biológico é um dado cultural é um dado histórico a igualdade é um componente ético é aquilo que o Leonardo chama de Ética do cuidado a necessidade de cuidar para que a
gente não apodreça A nossa condição a percepção da Esperança Afinal lembrando nosso Dante de novo lá no ato terceiro né da comédia na parte inicial do inferno a frase é clássico que é o inferno e essa vida pode ser um inferno e alguns dizem isso aqui tá um inferno às vezes falo da cidade da família da política do time que torcem já imaginou o que é o inferno tá lá no Dante é deixar fora qualquer Esperança laxante deixai fora qualquer Esperança você que entra e o que é a ausência de esperança é a incapacidade e
afeto afeto pelo outro afeto por si ser objeto de afeto afeto pelo mundo e nesse sentido é exatamente o exílio né da amorosidade a leitura às vezes nos faz tirar esse exílio e trazer de novo pro nosso território e é interessante porque a relação amorosa com os livros com a literatura com a leitura né ela vai se construindo no tempo e uma das coisas que a leitura mais me ofereceu na vida foi o contato com as diferenças afinal de contas eu nasci em Londrina no Norte do Paraná quando eu era criança não havia televisão na
minha cidade a primeira vez que eu vi a televisão eu tinha 10 anos não é que não havia televisão na minha casa nós tinha TV né na minha cidade o cinema Era uma coisa rara por onde eu entrava no mundo daquilo que era diferente pela leitura por exemplo o primeiro livro que eu me lembro de ler e vir várias vezes foi Reinações de Narizinho do Monteiro Lobato em que eu pude mergulhar lá naquele reino das Águas Claras encontrar Emília Visconde de Sabugosa depois eu fui lendo outras coisas do Monteiro Lobato depois aconteceu comigo uma coisa
curiosa eu tinha seis para sete anos de idade e eu tive hepatite hepatite quando eu era criança a hepatite exigia que você ficasse de repouso absoluto por três meses sete anos de idade sem existir televisão na minha cidade deitado durante três meses sem poder sair da cama porque a medicação na época não era tão suficiente e você tinha que ficar 90 dias não podia levantar nem para tomar banho o que faria o menino Aos sete anos de idade hoje hoje Se tivesse ficar três meses parado televisão o dia todo internet twittando Claro e eu só
tinha uma saída como é que eu ocuparia a mente leitura e aí os vizinhos trouxeram para mim AOS 7 anos eu era recente Alfabetizado trouxeram gibis história em quadrinhos a questão é que em uma semana acabou que a vizinhança tinha era uma cidade pequena aí se começou a trazer livros infantis e aí eu comecei ela é mais coisa Monteiro Lobato mas depois de duas semanas não tinha mais livro suficiente e eu tinha o dia inteiro pela frente aí começaram a trazer para mim livros que tinham em casa dos dois os irmãos karamazov e Doutor evski
trouxeram Cervantes Isto é Dom Quixote trouxeram o vermelho e Negro do estandal e aos sete aninhos Mas fiquei com fundo de sensação sobre a diferença do que era por exemplo a alma russa é no irmão os cara mais uma vez que usa uma frase que você conhece uma hora um personagem de vida para o outro e diz se Deus não existe tudo é permitido Isto é para que ser bom para que ser honesto para que não sair cunhando pelo mundo se Deus não existe Isto é se não existe recompensa para Bondade e condenação para maldade
Por que ser bom a alma Russa tem isso aí eu fui ler Dom Quixote claro que eu achei que era só uma história de Aventura em que um Amém Dom Quixote no seu cavalo rocinante com ajudante chamado Sancho Pança que eu admiro até hoje tanto que eu ganhei dele e sua namorada chamada cunegundes maravilhoso encontrar alguém chamado cunegundes você fica na fila de Alto ver uns nomes muito interessantes e eu gosto muito de nomes diferentes porque é isso que faz com que eu cresça meu repertório se todo mundo tivesse o mesmo nome eu ia ficar
limitado no conhecimento Ainda bem que aparecem nomes diversos eu olhava aquilo e olha que interessante aos poucos eu criei uma paixão pelos Livros mas os livros que hoje pelos quais eu tenho amor eles me permitiram entender a diferença ler Mark Twain memórias fortes do hitlery Finn por exemplo para entender o que significava a dor da discriminação e do racismo do negro no sul dos Estados Unidos ou leram o livro chamado Asteca em que se fala dos mexicas o povo que existia onde hoje é o México que foi dominado pelos espanhóis ou ler o romance de
um estuprando Mineiro de Montes Claros o grande CRB errou um romance dele chamado Maíra em que ele fala de uma comunidade indígena ou ler sobre pessoas que perderam a família pessoas que perderam parte do corpo pessoas que nasceram sem a capacidade de ouvir outros com alguma dificuldade de locomoção outros com outra orientação sexual a literatura Isto é a leitura colocou para mim e coloca até hoje a necessidade de eu não ser arrogante de eu achar que eu sou a única forma válida de ser humano eu sou uma das formas de ser humano não sou a
única sou especial porque que nem que eu só eu mas não sou só eu que sou assim todo mundo é que nem que eu sou eu e nessa hora volta um passou que é necessário trazer à tona O que é a ideia de um amor é um afeto de cuidado recíproco que tem que se dar em relação a vida na sua totalidade muita gente hoje não gosta de falar sobre amor na suposição de que é uma coisa pequena banal toda é gente que já apodreceu a esperança é gente que já perdeu a capacidade de fazer
a vida vibrar interessante eu tenho um livro que saiu mais recentemente chamado porque Fazemos o que fazemos e sabe aqui algumas pessoas eu tenho um hábito quando eu volto agrafar algum livro meu eu sempre escrevo nele além do teu nome do meu mas virtude e nesse livro eu escrevo encantar porque Fazemos o que fazemos encantar porque encantar significa fazer a vida vibrar tive um colega na PUC São Paulo da Qual dos professor né na Universidade Católica de São Paulo um colega magnífico que já faleceu um homem das Letras chamado Flávio de Jorge o Flávio já
não há homem com a capacidade magnífica de especialidade em filologia e literatura greco-romana clássica e ele tinha uma vantagem adicional ele declamava em grego e em latim por exemplo ele pegava a Ilíada eu disse obras atribuição Melo e declamava em grego antigo uma coisa até curiosa ele ou o Fábio ele ensinou as filhas dele a declamar e a Lia da igreja as filhas dele com 9 10 anos de idade declamava Ilíada uma criança de 9 anos de idade que declama ele é da igreja é uma criança absolutamente chata no entanto ele conseguiu uma coisa maravilhosa
que elas não usassem aquela habilidade para humilhar mas usassem para encantar elas não declamavam para os outros para mostrar aos outros que elas sabiam algo que o outro não sabia elas declamavam para encantar para trazer beleza para mostrar o quanto que a partilha daquilo que Homero em tese produziu ela elevava a capacidade humana o Flávio de Jorge e eu fizemos os Afonso uma época em São Paulo no sábado à tarde das 16 às 18 horas uma coisa livre não fazia parte do currículo chamado sarau Líder filosófica as pessoas iam ele falava de literatura clássica grega
e eu de filosofia clássica grega Romana ficava lotado lotado de menino e menina de 18 20 anos de idade que vinha ali para ouvir falar disso pergunta O que levaria um ser humano em sã consciência Ah não sábado à tarde ficar duas horas ouvindo falar de literatura era uma única coisa abrir a cabeça impediram a pequena do reflexão aumentar o repertório de ideias deixar de ter uma vida banal fútil pequena superficial e um dia Flávio de Jorge ele estava declamando a Ilíada naquela sarau com aquela voz marcante de repente ele virou para um jovem de
20 e Poucos Anos e falou assim você já leu a Ilíada e o rapaz baixou a cabeça e fez aquela cara que a gente faz quando acho que tinha que ter feito alguma coisa e não fez e falou não eu não li pois eu sou Flávio começou a chorar chorou foi lá abraçou o menino falou assim eu te invejo muito Eu já Olha que coisa maravilhosa eu te invejo muito Eu já li Isto é você vai ter uma chance que é ter o inédito lendo Claro diria ele que eu vou aproveitar Se eu ler de
novo mas para você vai ser novo demais eu te vejo eu já li olha que coisa isso me lembra Clarice Lispector é um trecho de um poema em que ela disse aquilo que eu desconheço é minha melhor parte aquilo que eu desconheço é minha melhor parte Isto é dizendo de outro modo o melhor de mim é aquilo que eu ainda não sei o melhor de mim é aquilo que eu ainda não sei o que que é a leitura nos oferece aquilo que eu ainda não sei e que ajuda a proteger meu afeto meu cuidador Me
apresenta a diferença impede que eu seja arrogante dificulta pelo menos oferece Esperança esperança Nossa Adélia Prado aqui de Divinópolis terminam os seus textos dizendo eu sempre sonho que uma coisa gera nunca nada está morto o que parece que não parece vivo aduba o que parece estático espera Olha que põe uma forte essa ideia da diferença que chega às vezes só rateira às vezes devagar mas que chega para nós com a condição de permitir que a gente não seja arrogante [Música]