NA COLÔNIA PENAL, DE FRANZ KAFKA (#123)

Você sabia que o Arquipélago de Fernando de Noronha que hoje faz parte de Pernambuco grande destino turístico já serviu por mais de 200 anos como colônia penal quem vai lá até hoje pode visitar as ruínas do lugar eu tô falando isso porque o livro que eu li nessa semana se passa justamente numa dessas colônias penais tropicais e podia até mesmo ser Fernando de Noronha quando a gente Para para pensar porque o autor não especifica o certo qual é o lugar A história se chama na colônia penal e foi escrita por Fran Kafka em 1914 mas

como tudo que ele escreveu continua sendo assustadoramente [Música] atual e essa edição que eu tenho aqui ela é da companhia das letras a tradução é do Modesto caroni que é uma grande autoridade em cafca no Brasil provavelmente a maior ela não tem só na colônia penal Ela também tem o conto O veredito que também é muito interessante mas eu não vou falar sobre ele no vídeo de hoje a história de na colônia penal é a seguinte um belo dia chega na colônia um explorador estrangeiro ele vem fazer uma visita e ele pode ser da Inglaterra

da França da Bélgica não interessa o que importa é que ele é considerado um gringo muito importante tanto é que ele é prontamente convidado pelas autoridades locais para observar o aparelho que é o orgulho do lugar um sofisticado aparelho de tortura e de execução da pena de morte Pois é se alguém algum dia te disse que le Kafka era tão leve e relaxante quanto um passeio no parque sinto lhe informar que você foi enganado na colônia penal é uma leitura tão perturbadora quanto outras obras muito mais famosas do Kafka que são a metamorfose inclusive esse

daqui eu tenho uma resenha aqui no canal que foi muito marcante para mim uma resenha da qual eu não me esqueço e também o processo que é um outro livro pelo qual eu passei ao longo da faculdade Tive uma experiência bem ruim estou querendo reler o livro para ver se eu consigo fazer as pazes com esse livro porque o texto do cfca é muito tenso é muito labiríntico é muito angustiante sempre e uma coisa que eles costumam ter em comum o Kafka era muito bom nisso são as frases de abertura Super marcantes isso a gente

costuma chamar como técnica narrativa de incipit uma palavra Latina que quer dizer essa frase de abertura Olha só como é impressionante por exemplo a frase de abertura do metamorfose quando certa manhã Gregor Sansa acordou de sonhos tranquilos encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso legal né agora olha só a abertura do processo alguém certamente havia caluniado Jose k Pois uma manhã Ele foi detido sem ter feito mal algum você conseguiu perceber que em apenas uma frase o Kafka consegue apresentar os personagens principais e os conflitos que eles vão viver a abertura do na colônia

penal não é é assim tão famoso e tão marcante mas também é bem eficiente nesse sentido olha só é um aparelho singular disse o oficial ao explorador percorrendo com um olhar até certo ponto de admiração o aparelho que ele no entanto conhecia bem só com essa frase já dá para entender o sentimento que talvez seja o mais presente o mais importante dessa pequena história a devoção a paixão o respeito que esse velho oficial sente pelo aparelho que executa as penas de morte naquela colônia penal agora uma coisa que a gente precisa entender é que uma

colônia penal não é como uma prisão qualquer para entender o que é isso você tem que lembrar de prisões reais como a famosa prisão de alcatras nos Estados Unidos ou então a gente pode até ir pela ficção pensar na prisão de asaban da série Harry Potter colônias penais são ilh ou lugares extremamente afastados isolad Simos onde se construíam prisões por dois motivos primeiro para dificultar a fuga né porque se o cara tá numa ilha ele pode até fugir da prisão mas aí ele vai para onde ele só tem água e também para tirar da frente

das pessoas aqueles elementos considerados indesejáveis na sociedade e em torno dessas prisões existia toda uma pequena estrutura social e especialmente militar porque para uma coisa dessas funcionar você precisa de soldados guardas de maneira geral comandantes e toda uma hierarquia militar um monte de regras particulares de cada prisão que na verdade o resto da sociedade não sabia que existia e não estava nem um pouco interessado em descobrir não havia isso existe até hoje com relação às nossas prisões brasileiras comuns não havia o menor interesse da sociedade em saber o que aconteciam nas colônias penais o que

as pessoas queriam era que os criminosos saíssem da frente delas o que acontecer com eles realmente muito pouca gente estava se importando e antigamente então na época em que se passa a história não existia internet não existia Facebook não existia nada você simplesmente via uma pessoa sendo presa sendo mandada pra colônia penal e olha Nunca Mais era como se ela não existisse mais por isso quando aquele explorador estrangeiro chega no lugar ele não está na verdade nem um pouco interessado em ver como é que funciona aquela colônia penal muito menos em descobrir como funciona o

tal do aparelho que eles usam para aplicar a pena de morte só que o interesse dele começa a aumentar a partir do momento em que ele descobre informações realmente assustadoras sobre aquele cerimonial de utilização daquela máquina primeira coisa que ele descobre o sujeito que foi condenado à morte que está prestes a ser executado não teve nenhuma chance de se defender num processo judicial segunda coisa que ele descobre o sujeito está prestes a morrer e ele nem sequer foi informado de que a sentença dele era a pena de morte porque segundo os costumes do lugar aquela

não era uma informação assim tão importante de se dar para o condenado terceira coisa assustadora que ele descobre é que o tal do aparelho aquele aparelho que o oficial chama de singular de maneira tão devotada tão apaixonada ele faz muito mais do que simplesmente executar uma pessoa de uma maneira rápida como digamos uma guilhotina ele é um instrumento de tortura extremamente engenhoso cruel e insuportavelmente demorado que prolonga a execução de morte por 12 horas de inacreditável dor e suplício como se isso não fosse o bastante para deixar o nosso amigo explorador tão horrorizado quanto nós

leitores ficamos ao ler como é que funciona aquele aparelho ainda para piorar o oficial que está ali exibindo o funcionamento daquela máquina para o estrangeiro começa a pedir ajuda de dele para que o costume de utilizar aquela máquina não morresse nunca Afinal de contas já estava começando a acontecer dentro daquela colônia penal um certo movimento de modernização das estruturas e das execuções para que elas não fossem assim tão cruéis em outras palavras ele tá ali preocupado com o avanço daquele pessoal dos direitos humanos que começam a achar que aquilo é um método desumano de execução

da vida de criminoso e o conto assim prossegue com esse diálogo entre esses dois personagens e as coisas surpreendentes que vão se seguir desse diálogo de uma maneira simples um texto preciso primoroso muito bem traduzido o Modesto caroni não é o melhor tradutor de Kafka à toa e que nos deixa ao mesmo tempo horrorizados é claro e também constrangidos e também inebriados de prazer literário é muito gostoso ler um texto assim tão brilhantemente construído o próprio Professor caroni conta no final do texto no posfácio que na colônia penal representa um momento singular na literatura do

Kafka o Kafka morreu jovem e ele deixou poucas coisas textos muito curtos muito magros mas incrivelmente potentes esse conto representa o momento em que o Kafka direcionou a literatura dele para um conflito muito interessante e muito atual que é o conflito do indivíduo com contra um mundo dominado por instituições burocráticas irracionais cruéis e incompreensíveis é o homem contra a máquina das instituições esse mesmo tipo de conflito aparece de maneira muito mais intensa e sofisticada no processo e também em outro livro dele o castelo esse eu ainda não li mas eu sei assim como o processo

são livros muito mais difíceis na colônia penal por outro lado é muito mais fácil é muito leve você vai ler em poucos minutos ele é uma ótima pedida para você que sempre quis saber por é que você fala tanto desse tal de Fran cfca no mundo da literatura Por que que esse cara é tão cultuado essa é uma excelente porta de entrada eu vou como sempre deixar o link para você comprar o na colônia penal e o veredito no mesmo volume aqui dessa coleção da companhia das letras os links estão aqui embaixo na descrição do

vídeo comprando usando esses links você ajuda a financiar o canal tem mais um recado que eu gostaria de dar é que hoje sexta-feira hoje esse vídeo vai ao ar no dia 21 que é feriado de Tiradentes vai ao ar às 22:30 na TV Cultura um documentário sobre a lija Fagundes Teles uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX Eu também modestamente dei a minha contribuição eu apareço nesse documentário compartilhando a minha experiência como leitora e como grande fã da lija então se você também gosta dela é hoje às 22 12:30 na TV Cultura Ok

beijos para todo mundo você também pode se tornar padrinho do canal é só conhecer a nossa campanha no site padrim é muito legal porque é uma maneira de você que acredita nesse projeto ajudar a Que ele continue existindo por muitos e muitos anos porque você faz pequenas contribuições mensais mas não é o valor fixo é o valor que você decide você vê Quais são as suas possibilidades e Dependendo da forma como você contribui você recebe várias vantagens você entra para um clube vip que eu chamo do dos meus Imortais doler Anes de morrer e eu

dou várias vantagens pros meus Imortais e aliás queria mandar um beijão para eles e dizer para eles que eu vou fazer um sorteio o sorteio que eu prometi para eles só para eles eu vou fazer logo esses dias então é Para eles aguardarem um pouquinho beijos para todo mundo a gente se vê no próximo vídeo até [Música] lá h [Música]