esse lenço xadrez É talvez o único registro material da vida de Mary Franklin uma mulher negra escravizada do Sul dos Estados Unidos para a família que doou o lenço ao museu ele era uma lembrança familiar da mulher que mesmo depois de livre continuou servindo aos seus antigos donos mas para Mary ele foi um símbolo da sua identidade e da luta contra um sistema escravista que procurava controlar o seu corpo e a sua mente e silenciar a sua voz meu nome é Pauline kisser eu sou historiadora da indumentária e recriadora histórica e você está no canal
da modista do [Música] Desterro Olá moister tudo bem com vocês aí desse lado se você tá caindo de para-quedas E você tá chegando no canal agora e esse é o seu primeiro vídeo seja muito bem-vindo nesse nesse canal a gente fala de história da moda com enfoque social e cultural procurando estudar o que as roupas significavam para as pessoas em outras épocas e superando a ideia de que história da Moda é só decorar o que gente rica usava em cada época e a gente faz isso com uma pesquisa histórica séria usando Fontes da época e
os estudos que são desenvolvidos nas universidades e nos museus tudo para trazer para você um conteúdo histórico gratuito de qualidade em língua portuguesa sem sensacionalismo e sem informações tiradas do embora eu já tenha falado muito rapidamente sobre a história dos turbantes no vídeo sobre as amarrações da década de 1940 a verdade é que pelo menos pra gente aqui na América não dá para falar de turbante sem tocar no tema da escravidão africana existem poucas coisas que nós aqui no Brasil associamos tanto a identidade Negra como os turbantes em especial os turbantes brancos dos cultos afro-brasileiros
apesar de turbante Muito provavelmente ter chegado à através das redes de Comércio e da Conquista árabe no norte do continente a verdade é que ele assumiu uma identidade própria na África com estampas cores e tipos de trançado que identificavam e identificam diferentes regiões e etnias e que não necessariamente são os mesmos que existiam no século XVI ou no XIX antes de a África ser fatiada como uma pizza entre as potências europeias e eu preciso explicar que a exploração e a colonização do continente africano possui fases diferentes ela não é igual ao longo de toda a
história do contato com a Europa pelo menos no início O que predominavam eram pequenas cidades litorâneas pequenas fortificações na real cidades fortificadas como o castelo de São Jorge da mina no atual território de Gana que Foi estabelecido pelos portugueses em acordo com os poderes locais essas cidades fortificadas que os portugueses chamavam de feitorias atuavam como centros de comércio que recebiam mercadorias da Europa EUR e da Ásia e trocavam por mercadorias africanas de interesse dos europeus sendo que uma das mercadorias mais valorizadas eram as pessoas escravizadas esse comércio Infame começou com os europeus trocando principalmente tecidos
pelos prisioneiros oriundos das Guerras internas do continente só que logo os europeus começaram a incentivar essas guerras e a vender armas de fogo para os reinos locais para aumentar a oferta de escravizados disponíveis e eles próprios não terem que ir pro interior do continente buscar esses prisioneiros à medida em que a demanda por mão de obra escravizada aqui na América aumentava lá na África as guerras não eram mais o suficiente para abastecer os navios Negreiros então começaram a rolar expedições de captura chefiadas por europeus por Comerciantes locais e pelos filhos que os europeus tinham com
as mulheres locais os navios Negreiros ficavam dias e dias nos portos africanos sendo carregados de escravizados e de mercadorias e o modo como era realizado esse sequestro fazia com que as diversas etnias africanas acabassem sendo misturadas nos navios e aqui nos mercados de escravizados da América inclusive isso era uma estratégia de dominação porque evitava que os escravizados conseguissem se comunicar e pudessem organizar rebeliões e também era uma maneira de apagar os vínculos culturais e a identidade dessas pessoas e tornar mais fácil vergar o espírito delas com o peso da dominação Colonial mas houve resistência muita
resistência em todas as áreas da América onde houve escravidão não só africana mas a indígena também só que nem todo enfrentamento da dominação Colonial era necessariamente através de rebeliões violentas e de Fugas aqueles que não podiam apelar para isso resistiam de outras formas inclusive se apropriando daquilo que os colonizadores impunham para eles como símbolo de inferioridade que foi exatamente o que aconteceu com o tinon um tipo de lenço ou turbante geralmente de xadrez usado por mulheres negras na região do Caribe e no sul dos Estados Unidos e enquanto a gente se prepara para conhecer melhor
essa história já sente seu dedinho nesse botão de like se inscreve aqui no canal ativa as notificações e vem comigo pra gente conhecer um pouco mais sobre a história da indumentária das populações negras no continente americano hoje o Caribe é muito conhecido pelas imagens de praias paradisíacas com águas cristalinas e Areia Branca mas foram essas mesmas praias que viram navios espan franceses e britânicos vomitarem em suas Areias milhares de Africanos escravizados a partir dos anos 1530 o destino da maioria deles eram as fazendas que cultivavam os produtos tropicais tão cobiçados pelos europeus principalmente a cana
de açúcar e o tabaco e mais tarde já nos anos 1700 o algodão que tornaria possível a Inglaterra passar pela Revolução Industrial aliás nos anos 1700 uma das preocupações fundamentais dos governos coloniais na região do Caribe era controlar a missena e marcar claramente Quem era considerado branco e quem era considerado negro dentro daquela sociedade o tipo de preocupação típica de um pensamento colonialista e os Viajantes da época reproduziam isso nos seus escritos como Barão de vinen descrevendo que era revoltante a quantidade de amantes negras mestiças e indígenas em Santo Domingo atual hai e que a
única ambição dessas mulheres era embrutecer seduzir o colonizador branco que tadinho do homem branco né gente ele não tinha privilégios de cor de classe de gênero ele não tinha uma posição de poder dentro dessa sociedade ele claramente era só uma vítima em defesa das mulheres negras sedutoras que queriam se apoderar do corpo e da alma do homem branco apesar de no geral os Viajantes serem muito cruéis na hora de descrever as mulheres negras no século XVI e XIX eles acabaram documentando pra gente algumas coisas bastante relevantes como os escritos de mck moro que contém nada
menos do que 128 desenhos ilustrando as diferentes combinações raciais possíveis de se encontrar na Martinica com diferentes graus de concentração de sangue negro Essa obsessão com identificar as pessoas pelo grau de Negritude vinha do fato de que a escravidão Colonial era transmitida pelo ventre materno Ou seja a criança herdava sempre a condição da mãe no momento do Nascimento assim os filhos de uma mulher escravizada já nasciam escravizados e pertenciam automaticamente ao dono dela que podia dispor dessa criança como bem entendesse e numa sociedade marcada por todo tipo de violência estupros contra mulheres negras eram algo
tolerado que dava origem a crianas com diferentes características físicas para evitar que houvesse a mínima chance de uma mulher negra de pele mais clara ser confundida com uma branca os governos coloniais começaram a baixar uma série de determinações legais que procuravam controlar o que essas mulheres vestiam uma das leis de 1786 referente às colônias espanholas é chamada de lei do Lenço ou Lei do tinon e ela obrigava todas as mulheres não brancas a usar um lenço para cobrir a cabeça em toda a região do Caribe e também no sul dos Estados Unidos esse lenço também
era conhecido como madras o que nos dá duas informações muito importantes sobre ele que provavelmente ele já era usado na África onde os tecidos indianos da cidade de madras eram trocados pelos escravizados desde os anos 1600 e que ele era xadrez exatamente como o lenço da Mary Franklin no começo desse vídeo só que a lei dizia que as mulheres negras tinham que usar o lenço a lei nunca estabeleceu exatamente como é que elas tinham que fazer a amarração dele na cabeça através das descrições dos Viajantes de pinturas e de registros criminais a gente sabe que
lenços xadrez com amarrações mais simples e sem volume eram usados principalmente pelas mulheres escravizadas enquanto que as mulheres negras Livres usavam turbantes volumosos com AM ações elaboradas que refletiam diretamente a riqueza delas e o seu prestígio naquela pequena sociedade inclusive aquele escroto do Mô que eu citei antes descreve isso absolutamente horrorizado dizendo que era um absurdo que isso fosse permitido pelas autoridades e que as negras Livres chegavam a usar 10 lenços para dar volume na cabeça o que claramente é um exagero Colonial porque existem registros de turbantes sendo trançados com um tecido referido como pano
da Guiné possivelmente um tecido africano mesmo que chegava na América nos navios de comercio que vinham da África e que provavelmente tem algum parentesco com o pano da costa que era usado aqui no Brasil e que hoje faz parte da indumentária ritual do Candomblé Mas essa não é a única aproximação possível entre as roupas das mulheres negras do período colonial no Caribe e aqui no Brasil o próprio mot segue descrevendo absolutamente chocado como as mulheres negras de Santo Domingo combinavam seus tinhs com argolas douradas nas orelhas vários colares de miçangas de vidro e de ouro
anéis de ouro e que o uso dessas peças estava ligada à posição delas dentro do seu grupo social mas aí você deve estar do outro lado se perguntando e com toda a razão como é que essas mulheres negras tinham acesso a esse tipo de coisa assim como no Brasil era comum que as mulheres negras se envolvessem de alguma forma com atividades comerciais e isso era uma prática Tradicional em muitas regiões da África quando escravizadas elas montavam bancas e mercados Vendendo as mercadorias dos seus senhores como tecidos e grãos mas mas também frequentemente atuavam como vendedoras
ambulantes principalmente de comida e em alguns casos elas até mesmo tinham um tipo de participação mínima no lucro das vendas podendo ficar com uma parte simbólica do dinheiro arrecadado que muitas vezes era investido nessas peças porque elas não eram só uma questão de vaidade elas eram um investimento que podiam inclusive ser reconvertido em dinheiro para comprar liberdade no futuro e as mulheres negras Livres também tiravam do Comércio seu sustento inclusive comercializando produto que vinham da África O que significa que elas negociavam essas mercadorias direto com os navios europeus E à medida em que essas mulheres
acumulavam algum patrimônio suas roupas passavam a refletir isso embora elas fossem proibidas por lei de consumir os trajes europeus o que se vê é que essas mulheres criaram estilos próprios que expressavam sua individualidade suas raízes culturais e também seu pertencimento a uma comunidade Mas elas fizeram isso invertendo totalmente a lógica colonial e transformando algo que foi criado para dominá-las em um símbolo de identidade de orgulho da sua capacidade de ação e da sua resistência um símbolo tão forte e um ícone tão grande do que era viver nas colônias americanas que ele foi adotado até pelas
mulheres brancas você já deve ter ouvido essa história um milhão de vezes por aí que na fuga pro Brasil houve uma epidemia de piolhos no navio que trazia a Princesa Carlota Joaquina que ela e todas as suas damas tiveram que raspar os cabelos e passaram a usar turbantes paraa esconder a carequinha e que quando a corte desembarcou no Brasil o turbante rapidamente virou moda no Rio de Janeiro também só que o turbante que a Carlota Joaquim no usou em 1808 já era moda na Europa então não Era exatamente uma novidade agora como é que esse
turbante chegou na Europa é outra história o excomungado do morot descreve putaço como as mulheres brancas estavam adotando a moda do abre aspas lenço indiano no Caribe algo que a gente encontra registrado nas pinturas desse período embora as mulheres brancas e as que conseguiam passar por brancas preferissem usar turbantes claros e lisos Possivelmente para se diferenciar ainda mais das mulheres negras e uma parte um off que eu considero bastante curioso eu encontrei uma coisa parecida aqui no Brasil na região de Minas Gerais no século XVII que são esses registros do Carlos Julião um artista e
militar português que passou pelo Brasil Provavelmente na década de 1780 e a Leonora ssey que é uma cronista dos Estados Unidos que escreveu um relato sobre a revolução hatiana descreve que Poline Bonaparte irmã de Napoleão e casada com o general francês que foi enviado para conter a população negra que tinha se rebelado no Haiti frequentemente se vestia como uma abre aspas crioula com um vestido de muselina e um lenço madras na cabeça esse relato é de 1801 e é possível que ele se refira ao tipo de traje leve que o pintor Agostino brunias tanto representou
na as suas telas sobre a República Dominicana e que cai entre nós eram muito apropriados ao clima da América Central existe também uma discussão acalorada se a chemis la reine teria sido de alguma forma influenciada pelos trajes afro-caribenhos já que pintores como brunias eram muito populares na França desde os anos 1770 Mas isso é uma discussão em andamento é possível também que a apoline Bonaparte estivesse usando um lenço Nesse estilo já que a autora do relato descreve a peça como Hand Chief e não como tinon que era o nome usado para se referir aos lenços
que eram trançados como turbantes aliás os lenços foram caído em desuso no século XIX mesmo mas os tinon continuaram firmes e fortes como elemento da identidade das mulheres negras no Caribe e no sul dos Estados Unidos essas imagens que você tá vendo na tela são retratos pintados em nov Orleans nos anos 1830 e 1840 e Marie lavou a famosa e Infame rainha do vodu de Nova Orleans Muito provavelmente usava um deles mais recentemente com o avanço dos estudos sobre mulheres negras no período colonial o tinon foi redescoberto e voltou a ser usado como uma celebração
da identidade Negra feminina em 2014 A designer haitiana Paola Mat lançou uma marca de tinon feitos com tecidos sustentáveis a marca se chama Fan Jan que significa mulher forte na língua local no ensaio do musur al tinon a fotógrafa Juliana kumu produziu uma série de retratos de diferentes usos históricos de lenços e turbantes tendo como cenário o cemitério de Nova Orleans e os túmulos de grandes lideranças negras femininas e a Queen bay já apareceu com eles na era do Lemonade em 2016 justamente com esse discurso de revalorização da identidade negra no sul dos Estados Unidos
todas as referências dos textos que eu cito e dos que eu usei na pesquisa desse vídeo estão na descrição do vídeo mas se você curte o nosso trabalho você também pode ter acesso direto à minha biblioteca pessoal com todo esse material e ainda ajudar o canal a se manter com valores a partir de R 10 mensais você contribui para que a gente possa continuar produzindo conteúdo histórico de qualidade em língua portuguesa e de forma gratuita pro público brasileiro você pode se tornar membro aqui no clube de canais do próprio YouTube usando seu cartão de crédito
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