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Video Transcript:
Boa tarde a todos! Sejam muito bem-vindos para mais um Caravelas Podcast. Hoje, eu tenho a honra de receber o professor Carlos Nugu. Antes de começarmos a nossa conversa, os nossos patrocinadores. Hoje estamos com uma promoção. Ah, não fixa Nisse! Então, você que não sabe inglês, faça logo o curso Bway de inglês, do amigo Jonas Bressan, próximo à E. Hoje nós temos aqui 54% de promoção na Suma Teológica, hein? Então, não perca a oportunidade de comprar essa obra excepcional. Temos o nosso amigo Bruno, lá de Santa Catarina, que vende vinhos. Se você quiser comprar bons
vinhos a um bom preço, é lá na Florence Vinhos. Ah, hoje também temos a nossa oferta da Domus Aurea, casa de ouro dos livros católicos. Eles têm excelentes edições. Eu ia trazer um, mas infelizmente não deu, porque eu tive que vir de metrô. Mas eles têm livros excelentes, então não perca a oportunidade de dar uma olhada no trabalho deles. Nossa Editora Caravela lançou dois livros sobre a Revolução Francesa e teremos novos lançamentos no futuro. Também relançamos as inscrições para a Escola Caravelas de História, né? Muito bem! Então, muito obrigado, Professor Car. É uma honra recebê-lo
aqui. Seu nome eu já conheço há muito tempo. Agora, pessoalmente, é a primeira vez que nos conhecemos, né? Agradeço eu então. E hoje, então, vamos falar das provas da existência de Deus, que é uma coisa que eu tenho notado até mesmo com pessoas que estudam Filosofia. Não vou ficar falando nomes, porque é chato. Estudam Filosofia e lógica e dizem que as provas não são admissíveis. Dizem que não provam nada. Na realidade, é uma... nem lembro mais o termo que eu já ouvi. Não foi bem enrolação, lembrei que é um reducionismo ou petição de princípio. E
então, é justamente para enfrentar esses problemas, né, e sanar a dúvida de quem se interessa pelo tema que nós vamos conversar sobre isso. Se o senhor quiser se apresentar também para quem ainda não conhece. Eu acho que a maioria, todo mundo já conhece, mas fique à vontade. Não precisa? Então tá bom, preciso muito obrigado. Então vamos direto lá. É possível provar a existência de Deus ou é tudo uma petição de princípio? Sim, é plenamente possível. Mas eu gostaria, se fosse possível, de fazer uma breve apresentação da coisa em geral antes de tudo. A doutrina de
Santo Tomás, que está plasmada mais perfeitamente na Suma, é algo interligado. Ela é um sistema, tá certo? Do qual não se pode recortar uma parte. A Suma Teológica se divide em três partes: a primeira das quais trata de Deus em si, e Deus como princípio de tudo; a segunda parte trata de Deus como fim último de todas as coisas; e a terceira trata de Cristo como caminho para este fim. Mas é tudo interligado. Eu vou tentar dar um exemplo para que se entenda perfeitamente isso. Há um outro livro dele que eu traduzi, aliás, chamado Compêndio
de Teologia. Foi publicado já pela Editora Concreta e vai ser por outra agora. As principais obras dele, especialmente a Suma Teológica, são certos sorites. O que é sorites? Sorites é um silogismo ininterrupto. O que é um silogismo? Vou dar um exemplo aqui banal: todo animal é mortal, mas todo cisne é animal, logo todo cisne é mortal. Pois bem, temos que todo animal é mortal como a primeira premissa, a segunda premissa é que todo cisne é animal, e a conclusão que se tira disso é apodítica, é prova, é demonstração. A conclusão no sorites vai ser a
primeira premissa do próximo silogismo, e isso ininterruptamente até o final. Por isso é que a Suma Teológica é algo íntegro, né? Você não pode recortar. Você vai desde o Tratado de Deus Uno, que é um tratado antes metafísico que teológico, passa para o Tratado de Deus Trino, e depois das coisas, saindo de Deus, né, depois das coisas indo para Deus como causa final. E aí entra tudo relativo à ética, à política e à economia. Tudo isso interliga a doutrina de Cristo Rei, assumida pelo magistério da Igreja, e no final Cristo como o caminho: "Eu sou
o caminho, a verdade e a vida." Bom, então nada se pode recortar. Se você quer manter a integridade do tomismo, a segunda coisa é que hoje as pessoas estão acostumadas a entender prova científica de modo falso. As pessoas estão acostumadas a entender prova como algo laboratorial, né? Algo que se possa medir, algo que se possa calcular, algo que possa ser... Na verdade, não há provas em Santo Tomás, há demonstrações. Demonstração... Isso eu vou falar para responder diretamente à sua pergunta: a demonstração é apodítica. Ela é, e ponto. Não há porque não ser; só pode deixar
de ser verdadeira por duas razões: ou pela má construção do raciocínio — coisa de que Santo Tomás, irmão gêmeo de Aristóteles, era incapaz — ou por erro de premissa falsa. Por exemplo, na mesma Suma, nós temos várias vezes ele falando da incorruptibilidade dos astros. Isso é uma premissa falsa que vai gerar uma conclusão não necessariamente falsa, mas muitas vezes falsa. Bom, então é preciso entender o que é demonstração. Se não se entende o que é demonstração, não se entendem as provas de Santo Tomás. E a demonstração é isso que eu disse: todo animal é mortal.
Agora, vamos vir com uma premissa particular: todo cisne é animal, e a conclusão: todo cisne é mortal. Tá certo? Isto não há como discutir. A única chance disto não ser demonstração é que... A premissa fosse falsa que premissa: todo animal é mortal ou todo cisne é animal. O que é impossível é evidente; bem, as cinco vias caem nisto, mas, para entendê-lo, é preciso retornar a uma coisa: as perguntas sobre se Deus é evidente. Quais são as correntes de opinião quanto a Deus? Em jogo, são seis. Seis. Temos a de mais nada: o tradicionalismo. Não o
tradicionalismo no sentido moderno, mas o tradicionalismo condenado pelo Vaticano II. Esse tradicionalismo não vê a natureza humana como capaz de conhecer a Deus. Por quê? Porque, assim, um pouco como Lutero, acredita que a natureza humana se corrompeu completamente. A razão é que só sabemos que Deus existe pela transmissão de uma Revelação primitiva feita a Adão e Eva que teria chegado a nossos dias. Isso foi condenado pelo Vaticano II. Além do mais, o que nós vemos não é a continuidade de certa tradição, mas a deformação dessa tradição, o que você vê na mitologia grega, egípcia e
em todas as demais. A outra corrente é o ontologismo. Este é, por exemplo, Malebranche, ou Berkeley, ou Luis Lavelle. Para eles, nós temos uma visão quase que intuitiva de Deus, imediata, e conhecemos tudo mais a partir de Deus, como se tivéssemos na bem-aventurança. A outra corrente é o agnosticismo. O agnosticismo, embora não descreia necessariamente de Deus, não vê nexos causais entre Deus e as criaturas, de modo que possamos, pelas criaturas, chegar a Deus. Isso é o que dizia São Paulo: as coisas invisíveis se tornaram visíveis pelas coisas criadas. Bem, e finalmente, o ateísmo, no campo
mais radicalmente oposto, que é a negação completa de Deus. Não, ou seja, não há Deus e ponto final. No campo católico, há três correntes. Eu disse que aqui são seis, mas são sete. A primeira corrente é a de São João Damasceno, que é seguida, um pouco, por exemplo, no século XX, por Gargula Gange. Essa corrente diz que a ideia de Deus está inscrita em nós, em nossa alma. Por quê? Porque todos desejamos a felicidade; ora, a felicidade é Deus, logo, temos a Deus escrito na nossa alma. A outra é de Santo Anselmo, que é a
chamada prova ontológica, mas esse nome foi dado por Kant e é um nome impróprio; deveria ser a prova ideológica, ou algo assim. O que é o seguinte: Deus é o que de maior podemos pensar; mas se Deus existe na nossa mente como tal e na realidade, ele é exatamente este maior que nós pensamos. Não seria tal se ele não existisse na realidade. Logo, Deus existe. E finalmente, a corrente iniciada por São Tomás, de fundo aristotélico, com pitadas de platonismo, que diz que Deus não é evidente; ele é evidente em si, mas não para nós, assim
como o Sol é o maximamente luminoso e, no entanto, o morcego não pode olhá-lo. Então, embora Deus seja o maximamente evidente em si, para nós, não o é. Mas, ao contrário do que dizem alguns, pode-se provar sua existência; pode-se provar que ele existe e, ademais, conhecer algo da sua quididade ou essência. Conhecer a Deus por essência só na outra vida, não é possível; só para os que se salvam, etc. Bem, então, é possível provar. Qual é a demonstração mais propriamente científica? É aquela que vai da causa para o efeito. Você, conhecendo a causa, chega ao
efeito. Isso se chama demonstração "propter quid", ou seja, pela causa você vai... Essa é a demonstração mais propriamente científica. Mas há outro tipo de demonstração que se chama demonstração "quia", ou pelo efeito. Você, conhecendo o efeito, chega não à essência da causa, mas chega à sua existência. Conhecendo o efeito, você chega à sua existência. É esta a maneira como se pode provar a Deus, que ele existe. Outra coisa é descobrir os chamados atributos divinos; isso é assunto adiante. Por ora, trata-se apenas de reconhecer que ele existe, e isso se pode demonstrar pela demonstração "quia", ou
pelos efeitos. No silogismo que demonstra a existência de Deus, nós substituímos a causa justa pelo efeito, desde que esse efeito nos seja mais conhecido que a causa — e de fato o é. Está certo? Ou seja, a criação, o universo, é mais conhecido de nós que Deus. Então, podemos partir dele para alcançar que Deus existe, que, em linguagem técnica, Deus é. Então, estas são as cinco vias à demonstração de que Deus é, e ele parte de cinco princípios evidentes aos sentidos. Nós vamos ver aí um a um: um é o movimento, outro a causa eficiente,
outra a questão do necessário e do possível, a outra dos graus dos entes e, finalmente, a ordem ao fim de entes não inteligentes, que é o governo do mundo. Então, você parte de coisas assim. Como na primeira, nós vemos que algumas coisas se movem. Ora, isso é evidente ao nosso sentido. Nós vemos, pronto, se move. Ele parte desse mínimo, desse mínimo apreensível pelos sentidos e depois se vai elevando. Então, é desta maneira que se pode provar a existência. Quanto aos outros atributos que podemos conhecer: Deus é infinito, Deus é ingenerado. Então, esta parte do conhecimento
de certos atributos de Deus é a parte negativa, chamada apofática: você não diz o que Deus é, diz como ele não é. Está certo? Ele não é... Você vai acendendo até saber que Deus é o sumo bem, a suma verdade, é a suma... isso é suma... aquilo. Está certo? Até ter uma como que definição descritiva, não essencial, porque a essência só na outra vida, como que descritiva, ao dizer que Deus é o próprio ser subsistente por si mesmo, assim como o verde que saísse de uma superfície. Seria o verde subsistente por si mesmo; então, é
isto: esta é a maneira de demonstrar a existência de Deus por demonstração cuja que não é a mais propriamente científica, sem todavia deixar de ser científica. Ela o é, embora com caráter diminuído com respeito à demonstração propter quid, aquela que vai dar causa para o efeito, mas é suficiente para provar, obviamente, suficiente, perfeitamente suficiente para provar. Agora, como que os gregos antigos viram essa questão? Aristóteles, muito boa pergunta. E, como diz Santo Tomás na Suma contra os Gentios, não é na sua Teológica. Ele diz que, embora a descoberta da existência de Deus e de alguns
de seus atributos nos seja possível alcançar pela razão, pela própria razão, o fato é que, como somos, temos as sequelas do pecado. Só muito tempo depois, e ainda assim com muitos erros, é que as pessoas alcançariam a Deus, e isso é insuficiente para sua salvação. Portanto, embora em si a questão da existência de Deus não seja uma questão de fé, é um preâmbulo da fé, um preâmbulo metafísico. Deus, em sua bondade, faz com que as pessoas que não têm condições de alcançar demonstrativamente a Deus acreditem em Deus por fé e, com isso, se possam salvar.
É a primeira coisa do credo, né? Crer em Deus Pai e assim se salva, né? Pois bem, foi isso que houve entre os gregos. Os gregos, os pré-socráticos, os chamados físicos, acreditavam que Deus fosse corpo, água, fogo, ar ou as quatro raízes de todas as coisas, que se tornariam os quatro elementos: água, terra, fogo, ar, ou apeiron, ou Indefinido. Ou seja, houve várias opiniões, todas mais ou menos tendo a Deus como corpóreo. Veja bem, só para antes de continuar aqui, para responder mais perfeitamente a isso, voltemos àquilo de São João da Maceno. Nós temos Deus
inscrito na alma, não temos? Temos a felicidade inscrita; não há homem que não queira ser feliz. Mesmo aquele que se suicida considera que o suicídio é o caminho para a felicidade dele. É impossível que o homem, para si mesmo, deseje a infelicidade. Ora, nós sabemos que Deus e a felicidade são a mesma coisa; identificam-se. Mas isto não é conhecer a Deus, porque é a mesma coisa que ver Pedro ao longe. Você só vê que vem um homem; você não sabe que é Pedro. E assim você sabe que quer ser feliz, só não sabe que a
felicidade é Deus. Dito isso, para responder a essa questão quanto a Santo Anselmo, nada pode ser maior que aquilo que nós pensamos. Como diz Santo Tomás, você pode pensar em Deus como a maior coisa que possa existir, não acreditar nele. Você pode pensar em unicórnio, e o unicórnio não existe. Isso não é prova. Bom, então voltamos lá. Exatamente o que ele diz: veja, os primeiros filósofos julgaram que Deus fosse corpo, matéria, algo sensível, até que Anaxágoras descobriu algo fenomenal chamado nous. Nous, em grego, quer dizer mente, intelecto, inteligência. E ele descobre que a ordem do
mundo — não a criação do mundo, a ordem do mundo — só pode ter sido feita por um nous. Era a primeira ideia de Deus, separada do mais brutal, do corpóreo. Ele foi mestre de Sócrates, e Sócrates deu a primeira demonstração da existência de Deus. É pouca gente que sabe, Santo Tomás não a conhecia, está no livro de Xenofonte e ditos e feitos, orações de Sócrates. Quem quiser procurar lá, é muito parecida com a quinta via de Santo Tomás. Bem, depois vem Platão, e aí mistura um pouco, porque eles têm influência órfica, pitagórica, um pouco
disso. Ele, claro, em outros pontos, é admirável; mas aqui ele implicou certo retrocesso com relação a Sócrates. Quem vai retomar esse fio da meada, que começa com Anaxágoras, passa por Sócrates, é Aristóteles, que vai pela primeira vez, assim, claramente, falar de um Deus único. Está certo? Quando ele fala de outros deuses, é como no Antigo Testamento: são anjos, são substâncias separadas, porque ele acreditava que o universo fosse composto de 55 esferas celestes concêntricas, tendo a Terra no centro como imóvel. E cada uma dessas esferas celestes, e compostas por sua vez dos corpos celestes, eram movidas
por anjos. Então esses são os outros deuses; ele chamava de arcontes. Não me lembro, mas eram o que nós chamamos de anjos. Mas tinham uma função apenas física, lógica, né? Somente isso. Bom, mas ele não alcançou o central. O que é o central? É que Deus criou tudo de nada. Veja, mostra-se assim como o maior dos filósofos gregos, levou muito tempo de sua vida e chegou a Deus com defeito. Está certo? Por isso é que Deus, logo de imediato, na Antiga Revelação, no Antigo Testamento, como no Novo, dá também a si mesmo, dá-se a si
mesmo como matéria de fé. Então, é isso: quem melhor chegou foi Aristóteles. Deus, como se mostra na Suma Teológica, ele é o princípio de tudo; ou seja, ele é a causa eficiente de tudo. Ele é também a causa paradigmática ou exemplar por tudo quanto existe, desde as espécies até os indivíduos, corresponde a dele, assim como a catedral corresponde à ideia de um arquiteto. Está certo? E é também a causa final, porque a causa do universo é a bondade de Deus. Está certo? Aristóteles chegou a duas causas: a eficiente e a final, mas não à paradigmática;
não chegou a isso, então chegou com defeito. Como se diz? Eh, foi Aristóteles quem fundou a metafísica. Porque estão tratando de metafísica, não de teologia. Eh, fundou, mas a metafísica não saiu da infância; foi preciso esperar séculos e séculos até chegarmos a Santo Tomás, que retoma Aristóteles e conclui o que ele não concluiu a partir de seus próprios princípios, e ainda põe como um domo, uma cúpula, no edifício aristotélico com a doutrina platônica da participação, tá? E vai, eh, fundar uma metafísica completamente nova, que posteriormente seria assumida pelo magistério da igreja, em particular pelas 24
teses tomistas, né, aprovadas por Bento X, eh, encomendadas por São Pio X e aprovadas por Bento X. Aquilo é como a canonização da metafísica de Santo Tomás, né? Né? Tá, então os filósofos gregos eram isso. Mas eles deram grandes saltos, né? Nenhum outro povo na face da Terra, antes de Cristo, foi capaz de fazer o que eles fizeram. E, se se pensar teologicamente nos gregos, eles estão profetizados por Noé, que profetizou eh que seu filho mais novo, Jafé, eh, habitaria nas tendas de Sem. De Sem surgiria o judaísmo, semitas, né? Semitas, enquanto de Jafé vêm
os jônios, são javani, jônios, os gregos, tá? Então, isso! E veja, a imagem vai habitar nas tendas de Sem. Exatamente a filosofia grega foi habitar na Igreja Católica. Na igreja, exatamente! Isso é uma belíssima profecia, né? Muito. Então, é de supor que esses homens tenham tido graças habituais ou extraordinárias. Para ser o que for, não estou falando que se salvaram ou não se salvaram. Quem sou eu para...? Nenhum de nós pode saber. Mas, eh, eles tiveram graças para conseguir coisas; eles reaprenderam a pensar. Eles reaprenderam a pensar, enquanto os outros povos não passavam de rebentos
de filosofia, né? Você vê, no hinduísmo tem certos rebentos; no Egito, certos rebentos; entre os caldeus, mas não passa de rebentos. Enquanto na Grécia floresceu mesmo, né? Houve uma floração filosófica, metafísica, que depois de Aristóteles, porém, entra em declínio. Aí você vem com uma série de escolas: dos estóicos, já materialistas, né? Depois vêm os epicuristas, os cépticos, os niilistas. E aí vemos uma decadência que só vai reerguer-se um pouco já no século VI com o neoplatonismo de Plotino. Mas veja, é a última tentativa pagã de negar a doutrina cristã da criação; é a última. Depois
dela, não mais. Tá certo? Eu respondi-lhe, respondeu perfeitamente. E Santo Agostinho, frente às provas, ele não deu prova, não deu prova, não fez nenhum comentário a respeito de tentar demonstração, nada. Não, eh, vejam que parece que Santo Agostinho não teve contato com as obras, com a metafísica de Aristóteles, só com a sua lógica, as suas obras, o Corpus Lógico, né? As obras lógicas. E ele não, ele não avançou nenhuma prova, tá? Ele era muito platônico, e Platão não dá nenhuma prova da existência de Deus, a não ser que você considere que aquelas ideias, o mundo
das ideias de Platão, né, tivesse por ápice a Deus, que era a ideia do Uno. Bem, você pode considerar, mas ao mesmo tempo ele falava no demiurgo. O demiurgo era aquele que plasmava o mundo olhando para as ideias, então é inferior às ideias, né? Eh, realmente, metafisicamente falando, a grande contribuição de Santo Agostinho é quanto ao mal, ao mal. Mal provando que ele não existe, né? É, é, ele não é algo; é ausência de um bem, né? E isso São Tomás tomou e elaborou lá, mas não conta a Deus. E mais que isso, sabe, Marcelo?
A Suma Teológica é o ápice da própria obra de Santo Tomás. Quem lê a "Contra Gentios", a prova da existência de Deus ali é fraca, é titubeante, sabe? Ele ainda hesita. Quando ele chega à Suma Teológica, ele entrega uma coisa enxuta, seca, de difícil assimilação para os modernos, porque os modernos, nós os modernos, né? Houve uma solução de continuidade na maneira de pensar, né? Isso não, não muito recentemente, desde o século X, desde Guilherme de Ockham com o nominalismo, houve uma ruptura com o modo de pensar mais científico. Tanto que, hoje, existe uma dicotomia: filosofia
versus ciências. Isso jamais passaria pela cabeça de Santo Tomás e de Aristóteles. Filosofia e ciência são a mesma coisa! A mesma coisa! Física, eh, cosmologia, química, biologia, são ramos da filosofia, né? Eh, mas nós desaprendemos a pensar, e esse é um fato corriqueiro. Não é culpa de ninguém; particularmente, nós somos mal educados, né? Somos mal formados artisticamente, somos mal formados. Vivemos no mundo do feio; o feio nos oprime. E, também, o modo de raciocinar que se transformou em algo assim. A ciência é o matemático, né? Não que não possa haver matemática na física, pode, claro!
Porque, como se trata de coisas físicas, elas são quantificáveis. Mas daí a reduzir tudo a isso, não dá, né? Não dá, né? Então, as pessoas hoje negam a coisa porque não a captam. São incapazes de captar. E veja, eu não estou falando aqui do alto da minha torre de marfim, não é isso. Eu fui até 48 anos, então sei bem o que é! Eu participei desse erro, né? Então, eh, todos nós somos um pouquinho filhos do tempo em que vivemos. Sem dúvida nenhuma. Bom, vamos à primeira prova, então: prova do movimento. Alguns a negam, né?
Mas, antes ainda, se você ainda me permite, uma explicação sobre o que eu chamo de tomismo fóssil, fossilizado. O que é esse tomismo? É aquele que julga que Santo Tomás, desde seu primeiro livro, já tinha a doutrina completa, tá? E não, não fez senão dar continuidade. E junto a isso, que ele seria inerrante. Ambas as coisas são falsas, ambas as coisas, né? Ele progrediu da influência de Cícero e de Boécio por uma doutrina particularmente própria, tá certo? Na Suma Teológica. E cometeu erros. O inerrante só o escritor sagrado, só o ag geógrafo, né? Eh, e
infalível só o Papa em certas condições, eh? Nenhum Doutor, por maior que seja, o maior deles, é Santo Tomás, é inerrante, e ele tem, ele tem capacidade de errar; e ele tem erros, erros não de silogismo; ele não comete sofismas ou falácias, mas ele tem erros sim de premissa falsa. Por quê? A ciência de sua época não era limitada, é, não tinha instrumentos e tal, né? E todos consideravam, todos, não era só Santo Tomás, todos consideravam que os astros eram incorruptíveis, até que Galileu Galilei, por causa de uma luneta lá, descobriu a mancha lunar. Pronto,
tá descoberta a corruptibilidade. Houve o problema do mal-entendido da Imaculada Conceição. Isso sim, mas não foi só Santo Tomás; Bernardo de Cler, que é considerado o doutor Mariano, chegou a escrever ao Papa pedindo que proibisse a festa da Imaculada Conceição. Olha, veja só: são Santo Alberto Magno, São Boaventura, outro doutor Mariano, né? Também não acreditava. Então, erraram. Todos erraram. Por quê? Porque eles julgavam que a animação do embrião humano era na oitava semana, mais ou menos, para o homem, e na 12ª para a mulher. Só então é que Deus infundia a alma. Ora, como é
que ela poderia, Nossa Senhora, ser concebida imaculadamente se não tinha alma humana? Não dá; é contraditório. Então, eles negaram. Por quê? Porque hoje nós sabemos. Eu gosto muito de um livro do Padre Luís Carlos Lod, chamado "A Alma do Embrião Humano". Eu tenho mil divergências com ele e tal, mas esse livro é um primor, né? Ele demonstra cabalmente que a infusão da alma humana tem de ser feita no mesmo momento em que se forma o zigoto, que é a junção dos gametas. Primeiro, o óvulo é fertilizado pelo espermatozoide, e depois a junção dos gametas, e
o zigoto constituído é exatamente a infusão, o que o permite. Tá, mas como é que dizia um? Sabia disso tudo? Não tinha, né? Não tinha. Então, nós não podemos mitificar Santo Tomás; isso em vez de ilustrá-lo, deslustra. Sabe por quê? Mostra um espírito meio dissimulado, meio de... né? E, então, há que reconhecer que ele tem erros. Pois bem, três coisas, ou quatro, nas próprias provas da existência de Deus têm de ser reajustadas, tá? Se é que nós queremos ter um tomismo não fossilizado, mas um tomismo vivo, tá, atual. Então, a primeira prova, que ele considera
a mais evidente, e é a mais evidente, parte do movimento. Ora, todos nós, pelos sentidos, vemos que há coisas que se movem, tá certo? Coisas que se movem, mas o que é mover-se? Mover-se é partir da potência para o ato a quem se destina. Então, um corpo que esteja presente aqui, tá? Ele tá, ele agora ele é em ato, ele está em repouso, tá? Mas ele tem potência para se mover, então ele se move. Mas se move por quê? Para ir a algum lugar, tá certo? Assim, os animais se movem graças à memória, porque sabem
que ali tem a fêmea ou têm o alimento, né? Os animais se movem e, assim, também tudo. Mover-se é passar da potência ao ato a que se destina. Mas ninguém, ninguém, nada pode mover-se a si mesmo; nada pode nem estar em potência e em ato ao mesmo tempo e pelo mesmo aspecto. Por exemplo, tome-se uma bola de bilhar, de sinuca, sinuca, tá? Se ela está parada, ela está em repouso, em ato. Se ela se movimenta, ela vai estar em movimento, em ato e em repouso, em potência, porque ela vai voltar a estar em potência, tá
certo? Pois bem, para que algo seja levado da potência ao ato, é preciso que o faça outro que esteja em ato. Outro, e não é difícil ver que é o taco da sinuca o que faz a bola mover-se, tá certo? Então, a bola está inicialmente parada, tá? Ela está em ato, em repouso, e está em potência e movimento em potência só, né? Vem o taco, né, faz com que ela passe a estar em ato, em movimento, e em potência e repouso, ela vai estar em repouso quando cair na caçapa da sinuca. Cai na caçapa, ela
fica em repouso, tá certo? Mas veja que foi preciso o taco para empurrá-la. Bom, mas como eu disse, tudo o que se move é movido por outro, tá? Mesmo no nosso caso dos animais, porque aparentemente nós nos movemos a nós mesmos. Não, mas é uma parte nossa que move a outra. A alma, através da potência locomotriz, é que nos move através da potência, tá? Então, é uma parte nossa que move outra parte, tá? Pois bem, se nós remontamos, não se move o intermediário e sem um intermediário movido não se move o último. Logo, é preciso
um primeiro motor imóvel, tá? Que nem sequer tem uma parte que se mova e outra que é movida, totalmente imóvel. E isto é o que conhecemos pelo nome de Deus. Vejam. E, no caso da sinuca, temos a bola que é movida pela sinuca, pelo taco, e o taco é movido por quê? Por nossa mão. E nossa mão é movida por quê? Por nossa alma. E nossa alma é movida por quê? Primeiro motor imóvel, eh? Na nossa inteligência nós temos três potências intelectuais. Uma é a vontade, não entra ao caso. Outra é o chamado intelecto agente,
que é uma potência ativa, e outra, o intelecto possível, que é uma potência passiva, tá? Essa potência passiva é a que pensa. Mas, mas, para que ela pense, ela tem de ser levada ao ato pelo intelecto agente, assim como a mão leva o taco ao ato e o taco leva a bola ao ato. Pois bem, a potência do intelecto agente move a ato o intelecto possível, que é o que... Pensa, mas o que é que move o intelecto? A gente é Deus, como chamava. Como dizia um grande tomista, Santiago Ramírez, da Universidade de Salamanca, século
XX, ele chamava isso de instinto divino. Todas as potências ativas são movidas por Deus; elas são movidas por Deus. Então, as potências passivas são as que realizam seu ato. Este é o esquema geral. Mas Santo Tomás, nas vias, ele só fala de coisas evidentes aos sentidos. Está certo, evidentes aos sentidos. Ele fala de bastão, que é próximo do taco de sinuca. Então, nesta primeira parte, não há equívoco algum, só entender o seguinte: movimento. As pessoas entendem como movimento local, e isso não é só local. O movimento pode ser o local, mas pode ser o movimento
de crescimento e de diminuição, por exemplo. Nós crescemos de embrião à flor da idade e depois vamos descrescendo. Nós vamos à praia, ou vamos ao sol, e a nossa pele branca fica vermelha, uma alteração e existe um movimento local. Então, são vários movimentos. Isto é que está contemplado nesta via, não é só o movimento local. É que o movimento local é o mais fácil de entender, é o mais óbvio e, na verdade, metafisicamente considerado, é o primeiro, é o básico, é o movimento básico. Mas nós temos movimento na nossa alma, até os anjos também têm
movimento, mas ele não trata nas vias nem da alma nem dos anjos. Por quê? Porque não são evidentes aos sentidos. E ainda vai ter que percorrer um caminho na própria Suma para chegar a demonstrar a imortalidade da alma e a espiritualidade dos anjos. Com uma diferença, se me permite. Os anjos, para os antigos, incluindo Santo Tomás, Aristóteles e Platão, podiam ser conhecidos por demonstração, pois pelos efeitos. Porque eles achavam que eles é que moviam os astros, as esferas celestes. Hoje nós sabemos que não é isso. Então, nós só sabemos da existência dos anjos por fé.
Mas não assim da imortalidade da alma humana. Nós sabemos por certa indução que fazemos por experiência própria. Nós temos a experiência própria de nossa própria alma. Então não se estranhe que nessas cinco vias ele só fale de coisas elementares, como o bastão, o fogo. Eu vou falar aqui do fogo direitinho daqui a pouco, que é uma das coisas que há que corrigir no texto de Santo Tomás, tá perfeito. Então vamos à segunda, que é a prova da causalidade eficiente, né? Hum... uma coisa que a primeira também não deixa de ser, causalidade eficiente. Se eu movo
o corpo, eu sou uma causa eficiente da moção do corpo, mas ele está pensando nessas causas eficientes na segunda via, sobretudo da geração. Está certo? Da geração. Ora, para que nasça um novo animal, é preciso que haja o concurso do sêmen, da semente e do óvulo, do ovo. Está certo? Assim vamos. Nós vemos que nada se faz a si mesmo. Só um homem complicado como aquele Stephen Hawking, se lembra dele? Esclerose lateral, buraco negro e outras coisas. Ele afirmou uma coisa impressionante: que o mundo, os católicos têm sim razão, o mundo veio de nada, mas
só que veio por si mesmo. Isso entre um desenho animado de Walt Disney não há muita diferença, né? Você imagina o nada puxando-se a si mesmo para ser algo. Então, como é que uma pessoa inteligente faz raciocínio desse? Pois alguém disse certa feita que é mais doente da alma que do corpo. Porque realmente havia ali pertinência no ateísmo. Não é possível que um homem inteligente não entenda coisas básicas, que nada pode vir do nada por si mesmo, assim como nada pode gerar-se a si mesmo. Claro, mas hoje o mundo está tão louco. Aliás, que um
famoso filósofo, tão gabado nos meios mais conservadores brasileiros, como Luiz Lavelli, diz que Deus é causa sui. Deus é causa de si. Impossível! Nada pode ser causa de si. Deus é incausado; tudo mais é causado. Então, nós temos uma série de causas eficientes. Isso foi gerado por esse, que foi gerado por esse, que foi gerado por esse. Mas se você remontar ao infinito, o que vai acontecer? Que nós não teremos um primeiro gerante, um primeiro gerador. Se não há o primeiro gerador, não haverá o intermediário. E se não há o intermediário, nada será gerado. E
mais, essas causas intermediárias podem ser várias ou até infinitas, porque não dá para entrar nisso hoje aqui. Mas, como disse Santo Tomás, não é absurda a ideia de que o universo tivesse existido desde sempre. Nós sabemos que não é assim, por fé. No princípio, Deus criou o céu e a terra. Então, é no princípio! Não é infinito, não é infinito! Mas ele disse que ele prova... eu tenho até um escrito sobre isso, que é de alta complexidade. Então, poderia ser infinitos. Ainda assim, é preciso um primeiro gerante. Mas se tem o primeiro gerante, como é
que ele seria? Assim, por exemplo... é uma pergunta. Era o que eu queria. Porque Deus é o primeiro dessas séries todas, mas estando acima da série, não como semelhante à primeira, no mesmo nível; ele está acima. A doutrina dos perenialistas, que tem o Wolf Smith como um de seus expoentes, chega a afirmar, Smith, que Deus é tanto imanente como transcendente. Isso é uma meia-verdade, porque é verdade, mas com uma coisa que ele não diz: ele é muito mais transcendente. Que imante! Ele não é, ele não, ele não está. Ele não está na série em si.
Ele, estando acima da série, pode gerar uma série infinita porque ele mesmo é infinito. E lembre-se que a eternidade, o infinito, não é no tempo, não é no tempo, fora do tempo. Seja hoje, eu acabei de dizer isso, né? Diz a Bíblia: "No princípio, Deus." Princípio deve entender-se duplamente: princípio antes de tudo. É Cristo mesmo. Tudo foi feito nele, e tal. Evangelho de São João. E, no princípio, é no tempo, mas veja, é no tempo para nós; para ele, é na eternidade. Entende? E a eternidade engloba presente, passado e futuro, razão por quê? Por não
implicar tempo, ela pode ser o primeiro de uma série infinita. Isso é de alta complexidade, eu bem o sei. Está bem adiante das provas da existência de Deus, mas eu deixo aqui registrado. Está certo? Mas então, isto é semelhantemente à primeira via: você não pode remontar indefinidamente sem ter um primeiro, porque sem o primeiro não há um intermediário, se não há o intermediário não há o último, e se não há o último, não há nada. É quatro, três, e a terceira também vai nessa linha. Três das cinco vias são nesse sentido: se não há um
primeiro, não há o segundo. Você fala causa das causas não causadas, né? Exatamente: causa causam, causa das causas em causar incausada. Exatamente. Aliás, Santo Agostinho dizia que Cícero, o orador romano, se tinha salvado, porque na hora da morte, parece que disse: "causa causarum, miserere mei". Eu também ouvi essa história, é verdade? Eu não sei se é verdade. Não que Santo Agostinho disse, disse sim, agora não se sabe se realmente... Não se sabe. Ele teria dito também: "Morra eu na pátria que tantas vezes salvei", e terminou com isso. Cortaram-lhe a cabeça. Mas é interessante. Bom, é
muito bom. Agora, contingência. Eu não gosto de chamar de contingência, ele chama de possíveis, ou seja, dos possíveis. Esta prova é, ao mesmo tempo, para mim, pelo menos a mim, quando saí do ateísmo e tal, foi a que mais me pegou. Ah, foi essa. Foi essa. Mas é preciso entendê-la perfeitamente, pois o que ele diz é o seguinte: nós vemos que as coisas, que há coisas que um dia não foram, não existiram, e um dia deixam de existir, tá certo? E é tudo que nós vemos assim. Assim não há nada. Nós mesmos, né? Só a
nossa alma, mas nós não estamos na alma ainda; ainda estamos pelo que é captável pelos sentidos. Bom, e nada do que deixa de existir pode ter deixado de não ser um dia, tá certo? De não ter existido. Né? Ora, se tudo quanto existiu um dia não foi, é porque nada foi, nada existiu, o que é evidentemente absurdo, porque nós vimos que algo existe. Coisa existe, é lógico! Não é isso? Então é preciso que haja algum ente que não seja possível, senão que seja necessário. Mas aí o necessário pode ser necessário quanto ao fim. Por exemplo,
a nossa alma. A nossa alma não foi, mas nunca deixará de ser, né? Nossa alma é eterna, é eterna, nunca vai morrer. Mas veja, ele não está tratando ainda das coisas espirituais; ele está tratando das coisas materiais. Então, é preciso que haja algum ente que não seja só possível, senão que seja necessário e seja a causa dos entes possíveis, tá certo? E, no entanto, se este ente necessário tiver sua necessidade causada por outro, nós acabamos remontando ao infinito também, infinito de novo. Então, é preciso parar em alguém que seja necessário e que seja incausado, que
não tenha causa, e este é Deus. Essa é simples, me parece a mais cabal. Ah, é assim que eu a entendo. Eu resumi, enxuguei para ficar claro, mas muitos interpretam que há ali uma escala. Os entes possíveis, tá? Os que nascem e morrem, os entes que não fenecem, mas que são gerados, a alma por exemplo, e finalmente Deus, que é ing gerado e não perece. Bom, então pergunte-se: se é assim, não pode ser a alma nem os anjos, porque ele não está tratando ainda das coisas espirituais. Então, só pode ser uma coisa. Que coisa é
essa? Os astros? Que para eles foram criados, que para São Tomás foram criados e eram imperecíveis, tá certo? Imperecíveis por uma razão complexa que não vem ao caso aqui. Bom, eu não acho que seja isso, mas se o for, você tem duas saídas: ou pula tranquilamente para Deus, sem menor problema. Você não precisa. A palavra "algum" está em latim, tá? Algum que seja a causa dos entes possíveis. Ótimo, é Deus, tá certo? Você não precisa passar por uma escala intermediária. Se você quiser passar por uma escala intermediária, nesta altura não pode invocar os anjos, que
só conhecemos por fé, nem a alma humana, já que ainda não chegamos nessa altura. Tá certo? Então, você só tem uma saída: é que se diz necessário não somente aquilo que não perece, aquilo que não acaba. É necessário, por exemplo, que o animal morra. Isso é uma necessidade. É necessário que o homem seja racional. Essa é a causa formal e é necessária quanto ao fim, ex suposição. Por exemplo, que o oxigênio exista para que haja vida na Terra, tá certo? Então você pode colocar isso. Olha, são coisas necessárias. É um ente necessário, ex suposição, com
relação ao fim. Qual é o fim? A vida na Terra. Então, ele é necessário para isso. Mas a causa dessa necessidade, o oxigênio, não se dá a si mesmo, senão que recebe de outros. Não podemos remontar o infinito; temos que parar em um que seja absolutamente necessário, encausado, que não tenha necessidade de causa alheia. Essa é a prova perfeita, e essa é a correção que eu fiz em livro. Essa correção está porque o editor da Loyola, que lançou a Suma Teológica Loyola, é o Frei Josafá, e disse que não; que eram os anjos. Não pode
ser os anjos, não pode ser os anjos porque os anjos não entram nessa consideração. Estão longe dos anjos na Suma Teológica. Como eu disse, a Suma Teológica acha que é um sorites, né? A conclusão de uma questão passa a premissa da outra questão e assim sucessivamente. Então, é preciso ordem. Como dizia Aristóteles, o próprio do sábio é ordenar, né? Você tem de ordenar. E aí, se não tiver, se fosse o anjo, estaria desordenado, desordenado completamente, coisa que é incapaz de Santo Tomás. Ele tinha esses erros porque acreditava nos corpos incorruptíveis celestes e tal, mas era
um erro de todo mundo. Todo mundo acreditava nisso, errou nisso; todo mundo errou, tá? Então, essa para mim é a mais importante, mas eu simplesmente anularia esse intermediário e pularia de entes possíveis para os entes. Eu sei que chama-se contingência. Tá certo? Você não incorreu em nenhum absurdo porque todos os tomistas falam nisso. Eu prefiro possibilidade; eu vejo certa diferença entre contingência e possibilidade, perfeito. Agora, a perfeição é essa: é resultado de duas coisas. Primeiro, do levar por Santo Tomás à conclusão de algumas premissas de Aristóteles e da teoria da participação de Platão. É aqui
que entra Platão. Platão, aqui que entra Platão, e isso estava, afinal, aó foi discípulo de Platão, então ele trazia isso em germe. Bom, aqui nós necessitamos de uma correção um pouquinho mais firme, tá? Por dizer que, assim, nós vemos entre as coisas que nós vemos coisas mais ou menos boas, mais ou menos nobres, mais ou menos belas, tá? Mais ou menos entes, tá? Porque, de fato, ente é aquilo que é, né? As pessoas chamam ser. O melhor é chamar ente. Como dizia, aliás, Slit, né, naquela aula que eu referia aqui antes. Mas, enfim, então nós
vemos que os entes, bom, ser cão é ser mais que uma pedra, obviamente. Então, há diferença de entidade: ser cão é ser mais que uma pedra. Então, nós vemos que os entes têm mais ou menos bondade, mais ou menos verdade, mais ou menos beleza, mais ou menos nobreza, mais ou menos ser. Tá certo? Certo. Pois bem, tudo em todo processo em que há o mais e o menos é preciso haver um máximo para que este máximo seja a causa mesma do mais e do menos na série de entes. Uma pessoa que tem bondade, é necessário
que exista bondade antes. É preciso alguém com a máxima bondade. Qual é o exemplo que dá Santo Tomás? É um exemplo que se dá do fogo, porque para eles, para todo mundo antigo, o fogo era maximamente quente e, mais que isso, era a causa de todo quente. Hoje sabemos que não é assim. Então, ele diz: assim como o mais ou menos quente será mais ou menos quente na medida em que mais ou menos se aproxime do máximo quente que é o fogo. Mas nós podemos acertar isso. A transmissão do calor, hoje sabemos que se faz
por três vias: uma é pela condução, e o resultado é o equilíbrio térmico. Dois corpos transmitem calor um ao outro e acabam igual na mesma coisa. Tem a convecção, que é o que se dá na água fervendo; água fervendo é que há uma troca de água fria com água quente, tá? E temos aqui que pode ser usada, aqui, que é a transmissão de calor por irradiação, é o que faz o sol. Mas o sol, com relação à Terra, é mais complicado porque há concausas, tá? Para que a Terra possa assimilar esse calor. Desde o eixo
da Terra, ele é ligeiramente inclinado, porque senão seria torrado pelo sol, né? Então, há várias concausas, mas pode-se pensar em uma casa, um ambiente, com uma fogueira. Tá certo? A casa tá menos 2 graus, e a fogueira vai tornando cada cômodo da casa mais ou menos quente, tá certo? Por irradiação. E com a vantagem seguinte: nenhum desses mais ou menos quentes será tão quente quanto a fogueira. E é exatamente isso. Ou seja, Deus é o maximamente bom, é o maximamente verdadeiro, é o maximamente nobre, é o maximamente belo e é o maximamente ente. Já dizia
Aristóteles: aquele ente que seja maximamente verdadeiro é também o maximamente ente. Pois bem, este é o que nós chamamos Deus, tá? São os graus do ser com participação, assim como na transmissão de calor por irradiação. Né? É a temperatura que esquenta nos vários cômodos por participação na fogueira, né? Tá certo. Certo, é mais ou menos isso. Fazendo esta precisãozinha, você escapa à caducidade da doutrina científica antiga, né? E acerta tudo perfeitamente, sem sair da atenção, sem sair do visível ao nosso sentido, né? O calor, tá? A quentura, calor, hoje é considerado uma energia, né? É
uma energia. Para os antigos, não era assim, né? É uma energia que é transmitida, que cada corpo tem temperatura, tá? Mas não necessariamente a temperatura quente é resultante do fogo, como eles criam. Sim, sim, eles achavam que tudo vinha do fogo, tudo vinha do fogo, né? Mas, fazendo essa pequena adaptação, você num sistema fechado, uma casa com seus cômodos, tendo transmissão de calor por irradiação, pronto! Você resolve o assunto, resolve o problema, sem maiores dilemas, né? É muito bela, é... eh, talvez. A via que mais como é que eu vou dizer que mais seja tomista,
apesar de ser aristotélico, platônica, interessante. Embora a terceira é que me tem: eu gosto mais dessa. Essa eu sempre achei muito interessante. Todo mundo, só eu que gosto daquela talvez por uma memória afetiva. Eu fui convertido, me convenci de que o ateísmo não era possível. E aquela que me pegou, né? Aquela me pegou mesmo. Aí depois eu fui vendo os probleminhas, tendo de adaptar. Mas essa é belíssima. Essa é belíssima, é de uma beleza. Essa é muito bonita, muito, é muito... Boom! E assim, Santo Tomás, como eu digo, é uma síntese. Como dizia Garrigou-Lagrange, síntese
tomista. Mas é uma síntese muito superior às partes que a constituem; muito superior, mas muito, né? Vai além de Aristóteles, assim, né? Corrige Platão. Ele não negava nada, mas ele sempre consertava as coisas, né? Então, por isso é que ele podia adaptar-se, pegar tudo. Mas também, quando ele ficava zangado, ele rompia, né? Ele ficou zangado com os averroístas da unidade do intelecto contra os averroístas. Ele deixa de chamar Averróis de “o comentador” para chamar de “o corruptor” e estava furioso, porque estava ameaçando a fé, né? Quando ameaçava a fé, era um santo, né? É um
santo. Aí ele chama o Cardeal Barbante, que era o seu opositor, e em vez de falar com esses jovenzinhos aí que não conhecem nada na faculdade, vem discutir com... Chamou pra briga, né? Esse era Santo Tomás. Santo Tomás era santinho, assim, pacífico. Mas ele também sabia ser irônico. No opúsculo "Da eternidade do mundo", contra Murmurante, ele lança farpas irônicas de uma ironia finíssima contra São Pedro Damião, contra o conterrâneo e contemporâneo dele, São Boaventura. Até contra São Boaventura, sim. João Peça, contemporâneo dele, ele lança umas ironias, assim. Vai ver que era isso que, depois, nas
atas de canonização, Frei Reginaldo de Piperno, que era o seu sócio frater, né? Ele morava na mesma cela, era filho espiritual dele, era copista... Bom, e ele disse, né? A última confissão ele fez comigo, e era a confissão de um menino de cinco anos. Deve ser alguma coisa assim, né? É muito curioso. Agora, a última, então, o governo do mundo, é essa a que precisa de mais correção; mais correção. Há uma corrente tomista chamada o tomismo analítico, tá? Eu não... Aliás, antes que eu esqueça, uma pergunta para fazer: como é que o senhor analisa o
neotomismo, hein? Fala: uns são contra, outros a favor, uns dizem que os neotomistas contaminam... É, é, é... Esse debate tá mal colocado, tá mal colocado. Eu já ouvi, claro. Tá mal colocado. Eu tenho um texto lançado em livro chamado "As grandezas e as misérias do neotomismo", tá? Porque é disso que se trata: tem grandezas e misérias. Mas o que houve? Eu posso traçar uma históriazinha à vontade. Bom, São Tomás chegou com uma doutrina absolutamente inovadora. Não pense que era a continuidade de Santo Agostinho; não era. É inovadora. Ele, aliás, usava-se às vezes de terminologia boiana,
aveniana, agostiniana porque ele tinha medo de ser censurado pela autoridade eclesiástica, que era atuante, proibira Aristóteles, depois liberara. Bom, enfim, mas era uma novidade. E ele era de fato muito mais inteligente que todos os tomistas, sem dúvida. Bom, apenas ele morre, há um grupo de tomistas, mas intelectualmente muito inferior, né? Por exemplo, Egídio Romano, que na querela do Papa e do Felipe o Belo, estava com a posição correta, mas defendida de má maneira. O kifo acaba favorecendo o adversário e outros, né? Eram valentes, etc. Na defesa, Tomim, por outro lado, formou-se uma frente única contra
Santo Tomás. O papa de então era João 21, o antigo Pedro Hispano, um português, lógico, nominalista, vandaleta, tá? E era um acerbo inimigo de Santo Tomás. O bispo de Paris, Estevão Tampier, né? Tampier era adversário de Santo Tomás, assim, radical. Ora, juntaram-se eles, mais os franciscanos, tá? Parte dos mesmos dominicanos, dos beneditinos, dos censes. Houve uma frente única contra ele. A consequência disso foi a condenação de várias teses dele por Estevão Tampier, enquanto o Papa João 21 permaneceu calado, tá? Um silêncio. Não gostaria de interpretar temerariamente, mas calou-se. Embora vários mensageiros fossem até ele e
dissessem: "Não, Estevão Tampier tá exagerando", tal, mas não resultou em nada. Ele morreu, aliás, de uma forma estranha: o teto da casa caiu sobre ele, e foi preciso esperar João 22, tá? Para que retirasse a condenação e o canonizar. Foi esse Papa que disse que mais vale ler um livro durante um ano de Santo Tomás que de todos os outros doutores juntos. Bom, e ele tinha alguns problemas também, esse Papa. Ele foi o mesmo que condenou João. Não foi o Guilherme de Ockham? Vários, ele condenou vários. Ele foi o último a defender a doutrina de
Bonifácio VIII até Leão XII. Tá? Houve um intervalo aí de seis séculos, mas não é o nosso caso. Então, mas ao contrário do que muitos creem, o impacto daquela condenação foi violento. É mais ou menos quando você é detratar em letras de manchete, garrafas no jornal, e depois te dá um direito de resposta pequenininho, uma letra de bula de remédio, né? É mais ou menos isso. Então nunca, nunca, nunca mais o tomismo foi majoritário na universidade. Nunca mais, nunca mais. Isso é... Vamos chegar ao neotomismo, tá? No século X, surge um grande tomista, Capro, e
no século X, o nosso Cardeal Caetano, tá? Que é uma glória da Igreja, né? Eh, as teses dele influíram muito sobre o Concílio de Trento. Bem, mas eles eram minoria, tá certo? Imagine, por exemplo, um país... Sitiado pelo inimigo, o inimigo vai tomar o país inteiro. O que faz o país? Dá um pedaço de seu território; dá os anéis para não perder os dedos. Tá certo, era mais ou menos o que os tomistas faziam, mesmo que sem sabê-lo. Não era, mas todos eles não entenderam o eixo em torno do qual gira toda a doutrina de
Santo Tomás, a saber: a distinção real entre essência e ser ou ato de ser. Tá, essa é a doutrina central que vai culminar na distinção entre ente por participação, as criaturas, e ente por essência, que é Deus. Só Deus é o próprio ser. Bom, chega aquele domingo, domingo Banes, que era uma autoridade dessa segunda escolástica de Salamanca, né? Ele que tanto lutou para defender a doutrina da predestinação tomista contra Luí de Molina; ele foi um paladino da doutrina da predestinação. Ele afirma expressamente: "para mim, essa distinção é de razão, não é real." Tá, nenhum deles
entendeu nada disso. E aí, ainda incorri no erro de achar que o Santo Tomás Jov, que era definitivo, quando não era. Ele progrediu e algumas coisas da juventude dele devem ser descartadas, ele mesmo sabia disso. O próprio Santo Tomás. Bom, isso se veio perpetuando, é o que o Padre Cornélio Fabro, no século XX, chamaria de inflexões do tomismo. Tá certo? Os desvios do tomismo. Bom, a coisa chegou, sobretudo na França, a um ponto horroroso, né, em que o tomismo estava esquecido praticamente. Né, predominava na França o amor à lag, né? O século de Luí XIV
era o renascimento francês, que é um pouco tardio, né? Bom, até que Leão XIII disse: "não vamos voltar ao tomismo." Tá certo? Então ele lança, ele emite a encíclica "Eterni Patris" e nesta encíclica, é muito engraçado, porque ele primeiro é diplomático. Nessa encíclica, a Igreja tem dois luminares: um é Santo Tomás, e outro é São Boaventura. Mas depois manda estudar só Santo Tomás, não fala mais de Boaventura e tinha de compor com os franciscanos, né? Bom, mas o fato é que, sinceramente, muitos se fizeram tomistas, mesmo jesuítas, sabe? Atenderam. E, sobretudo, depois, quando no documento
"Doutor Angélico", de São Pio X, ele obriga ainda mais e diz: "não é só a filosofia, a teologia de Santo Tomás, e os institutos e universidades que não cumprirem com isso vão perder o direito de dar diplomas." Então, foi duro. Aí, tá? À primeira vista, parece que se estava voltando à doutrina prima original de Santo Tomás. E então surge esse momento decisivo, que são as 24 teses tomistas. Ora, muitos participaram dela. Alguém, um tomista que teve certa influência sobre elas foi o Eduard Igo. Igo, né? Teve certa influência e eu li o texto latino e
estava lá a distinção real em latim entre essência e ser ou ato de ser, não entre essência e ser. Aí fui ler a tradução do Pró Edo francês, estava lá a distinção real entre essência e existência. Pronto, não entendeu. Ele chamava em latim com nome correto, sem entender o conteúdo, porque a existência não é a mesma coisa que o ser. O existir decorre do ato de ser que Deus nos dá. Tá bom? E isso se foi perpetuando, ou seja, aqueles velhos erros continuaram, continuaram no próprio neotomismo. Além de que é falso acreditar que os papas
foram obedecidos. Isso é falso, é falso acreditar! Não foram! Dentro das universidades, muitos se mascaravam de tomistas e tal. Bom, mas o fato é que até meados do século, quando surgem dois grandes nomes... Eu tô demorando, não? Temos tempo. Dois grandes nomes: um, Santiago Ramírez, né? Que na política não é tomista, e na metafísica também não é, mas na lógica e na ética ele resgata a doutrina. Ele, na ética, porque desde os jesuítas, de um jesuíta chamado Assar, tá? Incluindo Santa Afonso Maria de Ligório, né? Nós caímos na teologia moral, no casuísmo, né? Na casuística
e a consciência. A consciência, aquela teologia moral enorme que o Cente Dom Bosco lançou sobre de Santo Tomás... Primeiro tratado, tratado da consciência, segundo tratado da lei. Isso é grandemente kantiano, ele não sabia, mas ele estava influído por Kant e seu imperativo categórico, né? Engraçado que eu sempre tive muita divergência com Olavo de Carvalho, mas era a única coisa com que eu concordava com ele: era isso que ele dizia que a teologia moral de Santo Afonso tem algo de racionalista e tem mesmo. Tá certo? Porque o certo é começar a doutrina ética pelo bem da
beatitude, o fim último. Você deve viver virtuosamente para ser feliz. Tá certo? O fim é o mais importante. Bom, então ele resgata a lógica e resgata a ética de Santo Tomás. Perfeito. E surge um grande nome, o maior metafísico talvez depois de Santo Tomás até o século XX, que foi o padre Cornélio Fabro. Ele volta à essência da física de São Tomás. É o primeiro passo sensacional, né? Ele volta à distinção real entre essência e ser. Faz tudo, são livros primorosos. Mas, sabe-se lá porque cargas d'água, ele era meio eclético, entendeu? E ele acabou tornando-se
um voluntarista e seguidor de Kierkegaard. É realmente um metafísico de mão cheia, né? Um grande metafísico. Bom, depois com o Concílio Vaticano II, o tomismo caiu em esquecimento. Os papas pós-conciliares elogiam Santo Tomás como homem, como estudioso, mas não sua doutrina exatamente. E agora é que há todo um esforço, do qual eu participo, tá? De voltar, porque é o que eu sempre digo: agora nós estamos marginalizados. Quando você está marginalizado, você não tem o que conceder, né? Tá certo? Você está marginalizado, você não tem o que perder. Eu sempre brinco: Marx dizia: "proletários do mundo
unidos!" E vocês não têm... Nada que perder serão seus grilhões! Eu também entendi: não tem nada que perder, então eu não preciso conceder. Eu não estou disputando cargo na universidade, não estou nada, né? Sou um marginal e posso dizer o que quero. Então há certo benefício nessa marginalidade. Você pode voltar mais. Então, é isso: há esses altos e baixos do neotomismo. Então, nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Terra é muito bom, mas de qualquer forma o senhor considera o Cornélio o principal de todos? Metafisicamente, sim, ele era uma inteligência privilegiada, impressionante, mas já
padecia do contágio de certo... ele convivia com Heidegger, anos com Guardini, e ele vai cedendo, né, entendeu? É... é um problema. Ele realmente se desvirtuou completamente. Ele já, na sua última obra, diz: “Eu sei que o que eu estou dizendo aqui não é tomista.” Entendeu? Curioso! É uma pena porque, depois de São Tomás, para mim, até o século XX... século XX é outra coisa. Até o século XX foi o maior dos metafísicos depois de Santo Tomás. Olha, não é pouco isso, não! Hã, não é pouco, não é pouco mesmo, né? Há alguns... eh, Fabri no
Brasil, pessoal da faculdade de filosofia da Universidade Católica de Petrópolis, tem professores fabianos ali. Eu só não sei se eles são fabrianos até o ponto bom ou se continuaram; é, isso eu não sei. Mas há fabrianos por aí que... o que o senhor comenta antes da última prova do João de São Tomás? Pois é, o João de São Tomás era um gigante também, um gigante! Ele tinha uma capacidade de produção impressionante, mas rateia. Ele sofre grande influência do cardeal Caetano. Eu tenho um texto lançado chamado "Tomismo do Cardeal Caetano", onde eu explico o tomismo, e
ele é muito influente sobre Santo Tomás. João de Santo Tomás, bom, antes de tudo, só um mero registro: parece que era um grande padre, sabe? Um grande sacerdote. Então, isso já nos leva a vê-lo com olhos mais simpáticos, apesar dos erros, né? Porque parece que era um homem boníssimo, assim, uma alma imaculada. Na lógica, ele erra completamente. Por que na lógica ele erra? Eu, ah, agora se me permite a auto-divulgação, eu vou lançar um livro chamado "Do Verbo Mental ao Verbo Escrito", que é um livro de 800 páginas e, entre outras coisas, falo muito de
João de São Tomás e tal. Bem, e então, na lógica ele derrapa. Ele e o cardeal Caetano, e muitos tomistas acreditavam que certa obra, eh, que eu creio que fosse de Hervé de São Victor, que era do século X ou XV, fosse de Santo Tomás. E não é! Hum, então eles erraram por sua reverência, não crítica, né? Reverência à crítica. Bom, na metafísica, ele não se destaca. Mas ele tem um destaque porque as ciências naturais são, como se chama, um todo universal de partes subjetivas, tá? E a principal dessas ciências é a física geral, tá
certo? Física geral... eh, depois vem a cosmologia, o que hoje se chama de física, depois a química, depois a biologia e a psicologia. Aí você fecha as ciências naturais. Então, ele escreveu um longo tratado da natureza, filosofia da natureza, que era de física geral, e é um primor! É um primor! A editora Contra Erros vai agora lançar essa física geral e influenciou muito sobre o padre Álvaro Caldeirão, que é um engenheiro nuclear. Ele, antes de ser sacerdote, era um engenheiro nuclear. Esse para esse... para essa atualização da coisa. E ele, em seu livro "La Naturaleza
y sus Causas", segue o roteiro de João de São Tomás divergindo aqui e ali, o que é normal. Mas, eh, segue. Então, neste ponto, ele é grande. Então, com todos esses homens, nós temos que matizar, entendeu? Aliás, conosco também. Ou seja, temos de ser matizados sempre. Porque nós temos grandezas e misérias. Ninguém é perfeito. Santo Tomás era um caso um pouquinho especial, né? Deus disse: "Vou, esse é o cara", né? Como se diz, é... ele, né? Ele foi... ele não tinha nenhuma tentação, não só sexual, como não tinha alimentícia, beber nada. Tinham de obrigá-lo a
comer; senão, ele não comia, né? Era... ele não tinha nada. Ele era uma máquina de pensar! Eu sempre brinco: eu posso estar escrevendo um livro, mas se passa um bife a cebolado aqui, eu vou me dispersar, né? Mas ele não era isso, né? Ele era... ele não conversava com ninguém. Era uma máquina pensante, foi feito por Deus para isso, né? É claro. E não podemos almejar, tá? Então, nós temos mais misérias, muito mais misérias do que todos eles. Então é preciso... e essa coisa, né? É preciso... outros já foram um pouquinho piores. Jacques Maritain já
foi mais deformador do que aprofundador. Coisa boa, por exemplo, o livro dele de lógica "Menor", a ordem dos conceitos e tal, é um bom livro! É um bom livro! E em algumas partes desse meu livro de lógica, que é mais completo que o dele, eu me baseio nele. Então, devemos ser equilibrados nisso, claro, né? E divergir no que tem de divergir e usar, porque senão a vida fica impossível, né? Fica... fica impossível! Perfeito! Vamos agora então à última prova: o governo do mundo. Então, bom, nós vemos... bom, antes de tudo, nós sabemos que ordenar alguma
coisa a um fim só pode ser feito por uma inteligência, tá certo? O que não é inteligente não pode ordenar nada a um fim. O próprio do sábio é ordenar, dizia Aristóteles. Muito bem, nós vemos que entes que não têm inteligência se ordenam a um fim fazendo sempre o mesmo ou quase sempre o mesmo, tá certo? E isso não só os animais... As pedras, tá? É como se elas tivessem uma inteligência interna que as movesse a fazer certas coisas, né? Eh, ora, se assim fosse, se elas não tivessem finalidades, o universo seria um caos que
se autodestruiria. Então, tudo no universo é ecológico. Em que sentido? É um ecossistema, tá certo? E todas as coisas têm certeza que contribuem para o fim último, que é a unidade do universo. Tá, mas como quem não tem inteligência não pode dar-se a si mesmo um fim, não pode ordenar-se por si mesmo a um fim, então é preciso que sejam instrumentos de algum ente inteligente que as ordene a seus fins. E este ente inteligente que ordena as coisas não inteligentes a seus fins é o que chamamos de Deus. Eh, pois bem, há um problema aí.
Tá, agora eu volto ao tomismo analítico. Eh, eu acho os tomistas analíticos, bizantinos, alexandrinos, cheios de distinções, sutilezas, mas nessa eu confesso que me convenceram. Porque é o seguinte: ele diz assim, eh, São Tomás diz que os entes sem inteligência não podem buscar seu fim. Eh, por si mesmos, têm de ter um ente inteligente que os conduza a tal. Então, dizem os tomistas analíticos: "Então pode ser que várias inteligências, uma se ocupe dos animais, outra... bom, bom comentar." Então, você teria que acrescentar o que Santo Tomás vai fazer adiante na mesma Suma, que é a
ordem do universo. Se cada um fosse ordenado por uma inteligência, teria um fim que não seria conexo com o fim das outras. Logo, é preciso uma inteligência que ordene tudo a seu fim para que tudo seja conexo e atinja o fim último do universo, que é sua própria ordem. Eu faria este acréscimo na esteira, não é meu, não é invenção minha, mas eu, desta vez, eu dei o braço a torcer e parece que os analistas, os tomistas analíticos nisso têm razão. Tá, precisa desse complemento para não ficar um buraco. Tá, mas feito esse complemento, tá
aí. E as... O interessante é que todas as cinco vias, se vocês notaram bem, se é que eu fui capaz de passá-las bem, elas se conectam entre si. Elas são interligadas, são harmônicas, né? São harmônicas, né? Por isso, não... Esse Cornélio Fabro, que eu chamei de "o grande metafísico," ele era meio ousado. Então, inventou 30 provas, sei lá, exagerando. Mas exagero; você pode reduzir todas elas a essas cinco, entendeu? Tranquilamente. Então, elas são autossuficientes, tá? Agora, não se pense que se explicou tudo, não se explicou nada. Só se constatou que existe algo que é o
primeiro motor imóvel, a primeira causa eficiente, o ente necessário, incausado, que não tem de outro sua causa, a causa de sua necessidade, o maximamente ente e o governante do mundo. Tá certo. Pronto, com isso aqui você fecha a coisa e diz: existe Deus. O resto está por explicar, e o que é o desdobramento da Suma exatamente a explicação progressiva das coisas que estão virtualmente nas cinco vias. Entende? Eh, eh, o padre Santiago Ramirez disse: "Parece que o texto de Santo Tomás parece uma demonstração matemática, de tão precisa que é." Sabe? Tão precisa que é. Por
isso é que dá certa dor quando você tem de mexer um pouco ali, porque caducou, né? Você... Nossa! Você tem de ter uma capacidade de reordenar a coisa sem ferir essa naturalidade, essa espontaneidade quase matemática com que ele demonstra tudo e como ele liga uma questão com a outra. Tá? É uma coisa impressionante. A Suma Teológica não é só que Santo Tomás é o maior; a Suma Teológica é inigualável, inigualável, inigualável. Ele diz que eh... é para iniciantes, mais ou menos. Ninguém entendeu muito bem, porque ele era muito inteligente; ele achava que aquilo era para
iniciantes, mas nós podemos entendê-lo também de outra maneira: todo teólogo é um iniciante até que tenha a visão beatífica. Então, você sempre aprende mais com Santo Tomás, porque Santo Tomás é, como eu gosto de dizer, a antessala da visão beatífica, né? E como disse, pudor... É a terra vista do céu, né? É o céu visto da terra, perdão. Então, é isso, né? Ótimo, temos perguntas. Então, vamos lá. Vamos lá, professor. Primeira: por que o senhor não gosta do Olavo de Carvalho? Fale mais. Ó, eu gosto muito; ele não gostava de mim, mas eu gosto muito.
Fala, fala mais sobre esse tema e explique: não é divergência doutrinal. Divergência é doutrinal? Seguia uma corrente que não é a minha. É... explique por que um católico não deveria acompanhá-lo. Ah, bom, isso é coisa para o padre dizer, né? Eh, o problema dele é que ele tinha uma doutrina que eu chamo de perenialismo mitigado, tá? Que não é a doutrina de Santo Tomás, não é. E, ah, como disse ainda Pio XI, a doutrina de Santo Tomás é a única que a Igreja fez sua. Pronto, isso me basta, né? O papa disse, tá dito, dito
está. E a doutrina... ele nega as provas da existência de Deus, do Olavo de Carvalho. Ele nega, em um livro, eu me dediquei a responder a ele só quanto a isso, quanto à terceira via, né? Ele nega cinco ou nega uma delas, assim. Ele diz que nenhuma delas é demonstrativa, tá? Esse argumento... ou não dá. É porque isso precisaria também... Ah, tá, tá certo, na filosofia dele, a doutrina dele era a doutrina da presença, né? Você só conhece por presença, por experiência, né? Ele não admitia senão como um artifício lógico as demonstrações, né? Tá certo?
Então, isso leva, né? Na verdade, a doutrina dele, antes de ser apodítica verdadeira, ela é dialética. Ele mesmo dizia: "Quando eu disser uma coisa, não pense que é definitivo, daqui a pouco vou dizer outra, vou dizer outra." Vou dizer. Outra, bom, isso é a circularidade que impede a ciência. Tá, então é isso; essa é a divergência que eu tenho com ele, né? Mas isso foi, claro, porque nós brigamos a vida inteira enquanto ele foi vivo. Não, não tô dizendo nenhuma novidade. Mais uma: as eleições de São Paulo estão pegando fogo. Acha que um católico deveria...
o seu voto, novamente? Tenho a menor ideia, tenho a menor ideia. Eu não conheço, aqui eu já tô com 72 anos, não preciso votar, então eu escapo por esta, entendeu? Eu não prefiro... se dedicar a Santo Tomás, pra me dedicar a Santo Tomás. Eu já não voto, então não sei. Eu só sei que é uma eleição com cadeiradas, socos e coisas que... tá, é o que eu sei. Mais uma: é MVF 1998. Qual a opinião do professor não? Não gu sobre o Professor Orlando Fedeli? Fedeli, desculpa, perdão. É, Orlando Fedeli. E eu atritamos, mas a
última coisa que eu tenho é que eu jantei com ele no Rio de Janeiro, discutimos ali mesmo, mas nos abraçamos. Então, ah, que bom! E ele era, pra mim, um grande historiador; dos maiores, né? Mas, a meu ver, não era um metafísico como era o Chilit, né? Entendeu? Chilit ia além dele, mas era um grande... e ele trouxe muita gente pra fé. Isso é um fato, um exemplo disso. Eu sei disso, mas é um fato inegável. Nunca neguei nada disso. Agora, tínhamos nossas rusgas, né? Claro, tá, mas não como eu tinha com Olavo; era diferente.
Com Olavo era diferente, num nível diferente. É, mais uma pergunta aqui da Dominos, est da missão da Fraternidade São Pio X em Ribeirão Preto. Sim, está dizendo: comente sobre o tomismo do padre Caldeirão. Ah, é... pra mim, vejam que eu disse que só em meados do século XX, com Santiago Ramirez na lógica e na ética, e com Cornélio Fabro na metafísica, é que se começou a retornar ao tomismo mais pristino, né? Pois bem, depois murchou o tomismo com o Vaticano I, e no século XX surge alguém que, pra mim, foi de uma importância fundamental, que
foi o Padre Álvaro Calderón, OP. Olha, é da Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Ele é o reitor, o reitor do seminário de La Reja, né? E, pra mim, embora todos me atirem pedras, é o maior tomista de todos os tempos. Assim como eu disse que, depois de Santo Tomás, o Padre Cornélio Fabro era o maior metafísico, hoje eu digo que o Padre Caldeirão é maior que ele, tá, com a vantagem de ser um mestre nas ciências naturais, né? Aliás, eu ando angustiado porque ele, todo ano, lança um livro. Já tem dois anos que ele não
lança. Eu fico: ou vai sair um, né? Mas, e sobretudo nas ciências naturais, na cosmologia, na Física Geral. Sou muitíssimo influenciado por ele. E mais uma coisa: é a doutrina política, tá? Porque a doutrina política de Santo Tomás se interrompe longamente e só renasce no século X com o Cardeal Pio P, que foi um Cardeal instituído por Leão XI, e também com Leão XIII. Ele, na Imortal, fala que o Estado deve estar ordenado à Igreja, assim como o corpo à alma no composto humano. Isso é puro Santo Tomás, tá? Mas, eh, São Pio X é
profundamente influenciado pelo Cardeal Pio P; e aquele lema dele, “Instaurar tudo em Cristo”, restaurar, é na verdade do Cardeal Pio P. Depois mantém a mesma linha o Pio XI com a Quas Primas, que é, como o próprio Caldeirão diz, a Carta Magna da Cristandade, embora já não houvesse Cristandade nenhuma, mas é a Carta Magna. Depois, no final da década de 60, surge um leigo chamado Jan, fundador do movimento LCIT Católico, né? Que lançou um livro chamado “Para que Ele reine”, e teve todo o apoio de Pio XII e Dom Lefebvre na época de Pio XII.
Depois, novamente, né? Morre a doutrina e vai renascer com o Padre Caldeirão, com vários livros dele, sobretudo “El Reino de Dios”, tá? O Reino de Deus... eu não sei se já foi traduzido ao português, mas como quer que seja, tem disponível; ele já lançou dois tomos, são cinco tomos, salvo engano. Então, pra mim, ele é um mestre, é o maior dos tomistas, tá? Eh, eu aprendi muito com ele. Comecei a aprender com ele quando eu comecei a traduzir os livros dele. Então, eu tive muito contato, e aí... contato pessoal ou não, contato por e-mail, né?
Por e-mail, por e-mail. Aí eu notei que meu tomismo era caótico; era um tomismo autodidata... é a miragem do autodidatismo, né? E eu passei cinco anos... o Olavo de Cavalho me acusava de papagaio dele, né? Eu... mas era mesmo! Durante cinco anos eu fui um discípulo disciplinado; eu não dizia nada, eu sempre dizia o que dizia o padre. Aí depois eu comecei a dar voo, já tenho dez livros lançados e tal... mas ele é meu mestre mais imediato, depois de Santo Tomás, obviamente, né? Porque ele tem uma cabeça ordenada ao modo mesmo de Santo Tomás.
Então, é isso, é uma grande coisa. Tem mais pergunta? Tem? Vamos lá. Professor, e o que o senhor acha da obra de Raimundo Lúlio? E insiste-se muito nisso? Eu digo: um nada. Nada em que criticando, não vale a pena ser lido! É um nada. Ele, quando morreu Santo Tomás, ele foi indicado para substituí-lo na Sorbonne, foi expulso pelos alunos, né? Foi expulso. Sua doutrina é um quase nada e se resume a reduzir tudo a uma ciência, tá? Coisa que também foi ambição de Lies, foi ambição do Mário Ferreira dos Santos e de outros, tá? Eh,
também, de certo modo, São... Boaventura, ele tem uma obra em que tenta reduzir tudo a teologia; é diferente de Lúlio, mas é um nada porque não vale a pena. Não vale a pena, é um núcleo doutrinal demasiado pequeno, demasiado falho para se perder tempo com ele. Eu, quando discuto, discuto com os escotistas. Dan Scot foi o último grande gênio da Escolástica, muito oposto ao tomismo, mas um gênio. Então, você, quando discute, tem que discutir em nível mais alto, não no nível mais baixo. Então é isso, mas eu sei que os lianos brasileiros me pressionam e
ficam criticando. Ele não quer, ele tem medo. Não tem medo nada, eu discuto com escotistas, né? Eu poderia dizer: "Lúlio, tornem-se escotistas, eu discuto com vocês." Bom, e o Márcio Ferreira dos Santos? Quais são as críticas? Ferreira dos Santos era um talento, tá? Um talento mesmo, muito prolífico, né? Eu, no meu livro de lógica, que vou lançar agora, me valho dele no seu comentário às categorias de Aristóteles, tá? Era um gênio, mas ele abraçou o perenialismo. Hum, tá certo, ele abraçou o perenialismo. A lógica dele é boa. Então, ele quis algo semelhante ao que quis
Lúlio: reduzir tudo à chamada filosofia concreta, tudo reduzido a uma só coisa. O que é impossível. As ciências são um todo potencial ou potestativo de partes potenciais. O que quero dizer com isso? Veja-se nossa alma. Nossa alma tem três partes: a vegetativa, que nós compartilhamos com os vegetais e os animais; a sensitiva, que nós compartilhamos com os animais; e a intelectiva, que é só a nossa. Então, qual é a parte propriamente humana? É a intelectiva. Qual é a parte propriamente filosófica? Metafísica. O resto vai diminuindo de importância. Tá certo? Então, não, não é possível reduzir
a uma só coisa. São coisas variadas cuja relação é análoga e que se encontra num todo potestativo, um todo de mais e menos. Tá certo? Mais e menos. Então, a biologia é menos que a ética; a ética é menos que a metafísica. E a metafísica é o que é próprio, assim como a nossa parte vegetativa é menos que a sensitiva, que é menos que a intelectual. Santo Tomás fazia uma distinção muito interessante. As duas partes, a sensitiva e a vegetativa, são do homem, mas humana é só a intelectiva. Ah, interessante. Tá certo? Então, você pode
fazer uma analogia de todas as partes potenciais da filosofia ou ciência, né? Todas são da filosofia, mas filosoficamente, só a metafísica. Portanto, para você ser um grande, tem de ser um metafísico. E a metafísica de Mário Ferreira dos Santos é a metafísica perenialista, assumidamente, né? Assumidamente que está nos antípodas do tomismo e da doutrina da Igreja. De onde ele tirou isso? Não sei, ele aderiu. Ele tinha algumas coisas, ele era politicamente anarquista. Que estranho, né? Estranho, mas era um talento. Você vê pela profusa obra dele, trata de tudo. Um talento desperdiçado, a meu ver, tá?
Mas muito mais que Raimundo Lúlio. Tá? Raimundo Lúlio dizem que era um homem assim, com uma vida boa, tá? Que ele corria risco de vida para converter judeus, muçulmanos e tal. Muitos hoje querem interpretar como um pré-eumenismo. Não é nada disso; ele ia conversar para converter, para converter mesmo, para converter, não para dialogar. Mas eu acho que a atitude dos estudantes parisienses foi muito correta. Alguma aí, professor? Para quem está começando agora, por onde devo começar a ler Santo Tomás? É difícil, difícil dizer. Eu, com o perdão da autorreferência, vou falar de cursos meus. Fique
à vontade. Eu tenho um curso gratuito, gratuito, na minha plataforma. O endereço está aí embaixo. Pelo que me disseram no comentário deste podcast, eh, chamado "A Ordem das Disciplinas." Tá? Então, pode-se fazer, é de graça, todo mundo faz. Tenho uma escola tomista que é um curso de cinco anos, são 267 aulas. Eu dou, eu passo por todas as disciplinas, todas elas. Venho da lógica, chego à física geral, à cosmologia, à química, à biologia, tudo até a metafísica e depois ainda completo com a teologia sagrada. E agora, eh, vou lançar... Era isso, quase me esquecia de
fazer propaganda. Eh, vou lançar dia 9 de outubro, eh, vai começar meu curso "A Suma Teológica," comentário à Suma Teológica, artigo a artigo. É um curso de quatro anos, previsão de quatro anos. Tá, que é feito para não iniciados, tá? Eu vou tentar exatamente explicar a soma para quem se considera em nível médio. Tá claro? Se nunca ouviu falar o que é filosofia, fica difícil, mas eh, quem tem nível médio pode fazê-lo, tá? E isso depois se transformará em algo mais ambicioso, mas o curso mesmo é um curso de quatro anos. Já as inscrições... não,
as inscrições estão abertas, mas há uma reserva de vagas. Você pode se inscrever lá e ficar à espera de dia 9 abrirem as inscrições. É isso que eu posso falar. Por quê? Porque Santo Tomás não escreveu? Santo Tomás teve três sabedorias. Posso falar disso? Pode. Uma sabedoria metafísica, a sabedoria teológica e a sabedoria dom do Espírito Santo. Ele teve as três coisas, tá? Claro que a sabedoria dom do Espírito Santo é a superior, é óbvio. A teológica, que está por trás dos véus da fé, eh, ele deixou sistematizada na Suma Teológica, mas a sabedoria metafísica
ele não a deixou sistematizada, tá diluída. Então, é, tá diluída por toda a sua obra. Ele a usa como um instrumento da teologia. Tá certo? Então, é difícil dizer por onde começar. Você tem de começar por um mestre atual, seja qual for, e seguir. Quando nós somos... Eh, criancinhas, ainda intelectualmente, nós temos que seguir um mestre, não tem jeito. Você seguiu o Fedel, né? Eu segui o Padre Caldeirão e assim vamos, né? Cada um segue um, segue um e vai, segue e vai embora e depois desenvolve. Depois tem vos próprios, mas é por... porque é
impossível dizer! Leia primeiro isso de São Tomás aqui, depois aqui, porque já pressupõe um nível de conhecimento que, de início, não se tem. Não se tem, né? Pergunta do Mateus Pereira: professor, o que o senhor não acha da obra do padre Certanjo Aretiano? Eu acho um tomista menor, acho um tomista de segundo escalão, tá? Não de primeiro, tá? Não de primeiro. Além do mais, ele tentou algo impossível, que é a síntese de Santo Tomás e Kant. É com Kant! Nossa! Não sab... assim como aquele padre Vaz, Padre Lima Vaz, que tentou aqui no Brasil, né?
Hein! Foi com Hegel! Ele era com Kant, exato, perfeito! Mas ele tem aquele livro dele de como estudar e tal; aquilo pode ter alguma utilidade. Aquele eu li, eu achei muito... pode ter uma utilidade, sem dúvida nenhuma, né? Fui eu que revisei a tradução e tal, conheço bem o livro. Aquele livro é bom, mas como tomista mesmo, ele é de segundo escalão. Ele não é do primeiro, né? No primeiro escalão você tem, isso no século XX, dentro do nomir, você tem Santiago Ramírez, Cornélio Fabro, Eduardo Igon, tem Garrigues Lagrange. Sem feit de Garrigues Lagrange, meio
assim. Por quê? Qual a crítica? Porque ele tem defeitos, né? Ele, por exemplo, reproduz a tese de São João da Propaganda, segundo a qual se pode provar a existência de Deus pelo desejo de felicidade do homem. Não pode, porque muita gente acha que sua felicidade está nos prazeres da carne, está no dinheiro, está no poder, está na ciência, né? Então, não é verdade isso. E, além do mais, ele toma certas coisas de Leibniz, como, por exemplo, o princípio da razão suficiente, que não é tomista, é de Leibniz, e que não tem muita justificativa. Então, ele
tem outros defeitos sim, mas ele tem também seu papel, né? O livro dele sobre a mãe de Deus é muito bom, sobre Nossa Senhora, é muito bom. Mas vamos pôr três níveis. Lá em cima estará Santiago Ramírez no século XX, né? Santiago Ramírez e Cornélio Fabro. Aí, depois vem Garrigues Lagrange e Gardio, e Dominique Gardé, que lançaram aqui a introdução dele. Garrigues, ele participou da escrita da Encíclica "Humani Generis", de Pio XII, parece que ele participou. Então, não é um "Zé Ninguém", não! Não é segundo escalão! E vem um terceiro escalão, J. Olivier, Marit. Enfim,
sete anos é um terceiro escalão, não vai fazer parte do Panteão. Certo, entendi, né? Professor, como responder às alegações dos istas, dentre eles o filho do Alá de Carvalho, que é perenialista, acerca da astrologia e Santo Tomás, como se ele fosse um defensor da astrologia ou como se tivesse uma astrologia compatível com a doutrina católica, astrologia horária, essas coisas assim? E alquimia e outras coisas. E como responder? Excelente pergunta. E como responder à alegação daqueles que dizem que vários santos, né? Inclusive, eles citam Beato Raimundo Lúlio, mas não só, como se houvesse uma astrologia lícita
ou uma alquimia lícita a ser praticada por católicos, e como se tivesse escritos de Santo Tomás sobre astrologia? Bom, sobre alquimia, há um livro de Santo Tomás, absolutamente apócrifo, não é dele, falsificação grosseira. Quanto à astrologia, eu recomendo que entrem no meu blog, Estudos Tomistas, e vejam lá. E procurem lá "astrologia", que dará resposta aos diversos concílios etc., que negaram a validade da astrologia. Depois, Santo Agostinho diz que, se o astrólogo acerta, é porque tem pacto com demônios, tá? E o que Santo Tomás diz? Exatamente isto que eu vou dizer. Eu traduzi o livro dele
sobre isso, tá? Está publicado sobre o juízo dos astros. Ele diz o seguinte: para o aristotelismo e para o tomismo, os astros influem decisivamente na terra, corporeamente falando, materialmente falando, tá? As formas animais, tudo derivava dos movimentos dos astros, etc. e tal. Então, o que ele diz? Então, pode ser que alguém, sob influência dos astros, tenha uma tendência a ser briguento ou a ser concupiscente. Mas, como nós temos uma alma espiritual dotada de livre arbítrio, nós podemos esquivar essa tendência e mudar o que se vê. Aliás, na prática, veja o caso de São Francisco de
Sales, que era violento. Ele chegou a ser duelista, né? E ele depois foi o santo da mansidão, né? Exatamente. As irmãs da ordem que ele fundou com Santa Joana de Chantal, quando viraram a mesa dele depois da morte dele, tinham rastros de unha, de unha que ele passava. Ele combateu a coisa e foi vitorioso, e, sobretudo, se você tem a graça, né? Com a graça, você pode tudo, né? Mas claro que tem que ter o esforço também. Bom, então é isso. E ele vai terminar dizendo que, se o astrólogo acerta quanto a coisas que dependem
do livre arbítrio do homem, é por pacto com o demônio. É interessante. Então, ponto. É diabólico, diabólico! Tá resolvido, né? Tá resolvido, né? Tá resolvido! É diabólico, não tem nenhuma relação entre astrologia e catolicismo. Claro que eles vão fazer um monte de abolições lá contra mim, mas o que eu posso fazer? Já faz há tanto tempo, farão mais um pouquinho. Professor, poderia falar um pouco do tomismo no Brasil? Ele teve um grande expoente. Que foi o padre Leite, né? Ele viveu, mas ele viveu na França, né? Ele foi o principal tomista brasileiro. Ele escreveu um
livro fundado no Cardeal Caetano sobre lógica, que é o uso da analogia em teologia dogmática. É um livro interessante, mas contém muitos erros. Ele tem uma coleção sobre a Igreja, calcada no ensinamento de Pio IX, “MIT Corporis”, né? Que é uma preciosidade. O padre Leite Penido não estava saindo. Padre Leite Penido foi um grande tomista reconhecido internacionalmente, né? Os outros não foram tão grandes, né? Você teve o fundador da PUC, como era? Alexandre Correia? Não, não, então. E o Alexandre Correia, quem é? Alexandre Correia, qual é o fundador da PUC? O padre... agora me deu
um branco. Leonel Franca, né? Eu tô ficando velho mesmo. Leonel Franca tem o Alexandre Correia, que estão abaixo do padre Leite Penido, né? O Alexandre Correia teve o esforço de traduzir pela primeira vez a uma pro português, né? A uma pro português. Eu tenho algumas críticas da tradução, mas é uma tradução. E é isso. Há muita gente que assistiu a aulas dele, tá? E eu tenho, assim, um grande carinho por ele, mas eu não conheço muito o que ele fez, tá? Agora, como nós conversávamos antes do podcast, o Fernando Schmittler, né? Que seria... morreu aos
40 anos de câncer no cérebro, seria, sem dúvida alguma, desde jovem ele demonstrou um talento; como eu disse, a filosofia mais propriamente dita é metafísica. Para você ser um grande filósofo precisa ser um grande metafísico, e ele era o único jovem que eu vi assim que tinha um alcance, assim, tipo Cornélio Fábio, porque ele era muito jovem, eh, quando já tinha uma coisa. Infelizmente, a morte veio; Deus é que sabe, né? Mas aqui no Brasil não se tem um tomismo muito vital. A Argentina, muito mais, muito mais! Padre... quem? Ah, sim, tem também o Daniel
Sherer, é verdade! Daniel Sherer que lançou dois livros espetaculares. Um é “A Raiz Anti-tomista da Modernidade Filosófica” e a “Metafísica da Revolução”, os princípios do liberalismo, algo assim. São dois livros espetaculares, tá? Tem o Daniel Sherer; esse é amigo e aluno, foi aluno e amigo, né? Esse sim, também, esse é outro que... ah, tem mais um. Eu tô ficando velho. É o Tiago Magalhães, que é amigo do Daniel Sherer e está se especializando no Ju naturalismo tomista. Ah, que bom! Tá. É um grande tomista também. Eu estava dando um curso sobre a doutrina social da
Igreja e empanquei em certa coisa, porque, de fato, os padres da Igreja negavam a propriedade privada. Negavam. Eles diziam... Santo Basílio, Santo Ambrósio... Santo Ambrósio dizia que a propriedade privada é uma usurpação, parece Rudon dizendo que a propriedade é uma... E aí isso foi até Santo Tomás. Por outro lado, o magistério da Igreja do século XX sempre defendeu a propriedade privada, e tal, dentro de certos limites, e tal, mas defendeu. Santo Tomás conseguiu equacionar a coisa porque ele juntou os padres com Aristóteles e ele mostrou o seguinte: no estado de Justiça original, Adão e Eva,
os bens eram comuns, não havia propriedade privada. Mas, dado o estado de queda, é impossível a sociedade sem a propriedade privada. Aí ele vai fazer uma demonstração aristotélica disso. E quem me chamou a atenção para isso foi esse jovem Tiago Magalhães. Ele escreveu um artigo e eu disse: puxa, descobri a pólvora, e eu não sabia! Estava na minha cara. Veja, veja o problema de nós estudarmos Santo Tomás sem ser Santo Tomás, né? Nós não somos, então algo nos escapa. Então é o esforço conjunto de vários que vai completando o edifício, vai soldando o edifício, né?
Então tem sim, é verdade, o Daniel Sherer e o Tiago Magalhães. O Tiago Magalhães tá lançando agora artigos em revistas estrangeiras, etc. Então, são dois! Que bom! Ótimo! Tem também um outro sujeito chamado André Abdenur Sampaio, entendeu? Que é muito bom. Ele é lá do Pará, mas ele tá se especializando em coisas como perenialismo e tal, muito ao estilo, aliás, do próprio Fedeli, né, que centrou muito nisso para atacar muito essa área. Ele também é outra promessa. Eu tenho vários; na verdade, já passaram pela minha mão em termos de alunos de Santo Tomás, uns cinco
mil, seis mil alunos. Olha! Muita gente! É muita gente ativa, né? Alguns não aguentam, deixam, voltam, porque às vezes as ocupações da vida não permitem... permitem, às vezes, não, né? Mas eu não puxo muito, não. Mas enfim. Há sim, há jovens promissores, né? Eu não vou morrer tendo a perspectiva de um vazio, né? Entendeu? Vai ter uma continuação, embora eu repita: metafisicamente falando, era o Schmittler que tinha um alcance metafísico impressionante. Infelizmente, Deus não quis. Última pergunta. Tem ou encerramos? Temos sim, qual a opinião do professor sobre a refutação de Edimburgo sobre a filosofia aristotélica,
que segundo ele, o MRU refuta a filosofia aristotélica? Desculpa, eu não entendi. Ele tava falando do... Ah, porque eu tive uma discussão aqui com ele. Curto. O Hindenburg Melon. Ele disse que o movimento retilíneo uniforme refuta a física de Aristóteles. É refuta mesmo, mas refuta pelo lado errado, porque o problema é o seguinte: Aristóteles, como um gênio que era, pra ele, ele não sabia. Todo o universo, todo o espaço era composto de ar, tá certo? Tinha ar. E ele dizia que, mesmo que se lance um projétil, ele no ar, em movimento, ele não depende só
da... Impulsão: ele depende de uma concausa que, para ele, seria o ar; ou seja, o projétil como que surfar no ar. Isso é genial! E depois negaram, negaram e inventaram o movimento inicial perpétuo. Por si, Deus teria dado o primeiro peteleco e depois a coisa fica gir, gir, girando, girando. Ora, qual é o erro disso? Os corpos celestes, sabemos hoje, muito mais que Aristóteles e Santo Tomás, são corruptíveis, são feitos de matéria igualzinho à nossa aqui da Terra. Ora, a matéria é entrópica, como mostra a segunda lei da termodinâmica, tá? E como mostra, ah, a
física quântica. A mecânica quântica. E a matéria, ela é entrópica; ela tende à desagregação. Ora, sendo composta de matéria e tendentes à desagregação, como é que os corpos celestes vão manter esse movimento perpétuo por si mesmos? Isso é impossível! Então, é preciso haver outra concausa que não ar, porque hoje, pelos astronautas e tal, já sabemos que no espaço sideral não há ar. Então, é outra concausa. Quem o explica melhor é o padre Caldeirão, né? Mostrando que é o próprio espaço, como uma substância sem massa, não mássica, que geometricamente funciona como o ar funcionaria para Aristóteles:
como ondas do mar, que fazem com que, eh, quando o movimento tá assim, ele faz assim e vai se mantendo, porque a concausa mantém. Isso é parecido com o que o Einstein falou de deformação do espaço. Não, não, não! O Einstein, ele inventou o conceito de curvatura do espaço-tempo. Isso, isso. Bom, o tempo não se curva. Isso é um erro dele. Mas é possível que sim o espaço se curve. Mas ele caía em contradição. Por quê? Para ele, o espaço vazio era o vácuo. Bom, não pode ser o vácuo! Por que não pode? Porque o
espaço vazio tem propriedades lumínicas e eletromagnéticas, tá? E o nada não pode ter propriedades. Bom, então tem de ser uma substância. Então, não é um acidente, é uma substância. É uma substância, ou melhor, como diz Caldeirão, é parte da substância. Imagine um... ô perdão, um feto, tá? Ele, no início, é uma massa compacta. Depois vão se formando os órgãos internos e o próprio espaço. Tá vendo? O espaço é parte dos órgãos, é como se fosse uma rabeira dos órgãos, tá? Assim também o corpo celeste, sobretudo se se crê na teoria do Big Bang, de primeiro,
no ovo primitivo, né? Mas também com outras teorias. Então, o padre Caldeirão não nega o Big Bang. Ele aceita o Big Bang ou ele não comenta? Ele nega? Ele desconfia. Mas eu tendo mais a aceitar do que ele, tá? Eu sou muito influído pela opinião de Pio XII quanto ao Big Bang, né? Ele teve uma entrevista direta com Lemaitre, o padre Lemaitre, ah, o Jorge Lemaitre, e ele escreveu depois que parece que a física descobriu como foi construído o universo. Bom, mas seja como for, a ideia de Aristóteles é correta: precisa ter uma concausa. É
impossível que algo que seja entrópico se mantenha em movimento, né? E isso vai se dar tanto pelo espaço como pela gravitação. São as duas coisas. Eh, o padre Caldeirão chama muito bem a teologia da gravitação, tá? Eh, porque realmente a gravitação com movimento inercial. Mas as ondas do espaço são ondas geométricas, né? Tá? Eh, elas são elásticas. Eh, explica tudo isso. E o curioso é que quem acerta nisso, ele dá um tiro no alvo errado e acerta no alvo certo. É Descartes, que foi o único que disse que o espaço é uma substância. O único
que disse. Ele mirou em um lado, acertou no correto, né? E ele tem toda a razão: é uma substância. É uma substância que não é mássica, mas nós já vemos mil coisas que não são mássicas: a luz, o calor, o som. E existem, né? Então, há coisas que existem que não são mássicas. Mas eu estou à espera do livro do Caldeirão, onde ele vai tratar isso. Ele tratou isso num curso de física que ele não publicou; ele distribuiu só para os seus alunos. Mas eu tive a graça de obter um exemplar, que é um projeto
de um grande livro, um livro imenso sobre física, né? Eh, eu tô esperando, ah, muito. Mas eu tenho vários escritos já publicados sobre esse assunto, tá? Eh, influído por Caldeirão, mas às vezes com certas diferenças. Por exemplo, eu sou mais pelo Big Bang que ele, tal. Mas eu já publiquei, o que, uns três, três coisas sobre isso, né? E, sobretudo, o texto da necessidade da Física Geral aristotélico-tomista, onde eu mostro tudo. Aliás, o universo... sim, volando, eu me perdi um pouco. O universo, aquilo da curvatura do espaço, o universo é inteiro, é uma espécie de
buraco negro. O buraco negro suga tudo para si, suga tudo. O universo, quando você imagina, chega ao seu limite, você não chega. O espaço se curva e você volta ao centro dele. Isso quer dizer que o universo não é infinito, mas é imenso. E não tem figura, não tem figura! Porque se ele tivesse figura, qual é a figura desse copo? Tem uma figura, né? Tem uma figura! Ora, ela tem uma superfície e a superfície colide com algo. Com quê? Com ar, né? Superfície. Tá? Pois é, se o universo fosse uma figura, qualquer que fosse, ele
teria uma superfície e colidir com quê? Com nada! Não, nada, nada! Tá certo? Então, ele não tem figura. E pela curvatura do espaço, o que chega a seu limite não chega a seu limite; ele vai retornando, retornando, e por uma força gravitacional, entre outras coisas, ele volta ao centro. Ao centro. Aliás, não está resolvida a questão de qual é o centro do universo, né? Muita gente diz: "Ah, a Terra não é o centro do universo." Como é que você sabe? Você olhou lá de cima para ver, né? Se se considerar, absolutamente, não tem centro, porque
tudo se move. É, mas tem centro geométrico. Então, aquele corpo celeste que girar mais proximamente ao centro geométrico será o centro do universo. Pode ser a Terra, pode não ser. Não há nada que é o geocentrismo, que pressupõe que a Terra estaria imóvel, né? Isso aí, isso daí eu acho que é... eu não acho certo considerar a Terra móvel. Não, né? Não, ao contrário. A Terra tem duplo movimento: de translação e de rotação sobre seu próprio eixo. Rotação e translação em torno do Sol. Isso é inegável, né? Eu já dei provas matemáticas até disso, prova
pela viagem de avião pela linha do Equador. Você dá mil provas sobre isso, mas tem gente hoje que ainda insiste que a Terra é imóvel. Se me perdoem, eu não quero ser grosseiro nem nada, mas isso é lançar a fé aos carnos dos ímpios, tá certo? Há um site muito visitado, cheio de gente, de astrônomos que são ateus, mas é uma multidão. E eles... qual é o alvo? A religião. Por que defendem coisas absurdas como Terra plana e tal geocentrismo? Então, isso é lançar a fé aos carnos, porque isso não tem a menor importância. Pio
XII falou abertamente que a Terra gira, entendeu? Que a Terra é móvel. Como assim? Você não está ferindo nada do magistério. Eu também acho isso um erro, um erro primário, né? E prejudica a fé, porque nós ficamos parecendo aqueles fanáticos, entendeu? Obscurantistas. E com alguma razão eles dizem, porque quem defende essas coisas tá sendo obscurantista, né? Então, o certo é que a ciência moderna não é má pelo que descobre. Ela é má porque não sabe explicar o que descobre. Qual é o papel do tomismo? Abraçar suas descobertas e explicá-las corretamente. Como isso é um mundo
de coisas? Não pode ser obra de um homem, nem sequer de um gênio. Tem de ser de várias pessoas, né? Cada uma na sua área, para completar. Mas é isso: você não pode negar o evidente. Hoje nós temos uma evidência de que a Terra é circular, que a Terra se move. Você tem evidências, né? Você vê homens andando pelo espaço, você vê coisas que são oculares, né? Então, são evidentes por visão. Então, é um desserviço. É um desserviço à fé, na minha opinião. Não quero ser grosso com ninguém, grosseiro, mas é um desserviço. Essas pessoas
deveriam repensar isso, né? Tá ótimo! Então tá bom. Muito obrigado, professor Carlos. Agradeço aí, foi uma excelente... melhor, uma excelente aula. Agradeço a todos que nos acompanharam e a todos vocês aí, que estão nos bastidores. Muito obrigado, obrigado, professor.
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